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Fisiologia Respiratória

e Ventilação Mecânica
1. Estrutura e Função Pulmonar 4
Anatomia da Caixa Torácica 5
Músculos Inspiratórios 6
Músculos Expiratórios 8
Componentes da Caixa Torácica: Órgãos e Funções 8
Fisiologia da Caixa Torácica: Articulações
e Movimentos 9

2. Ventilação Pulmonar 12
Difusão dos Gases 14
Perfusão Pulmonar 14
Relação Ventilação/Perfusão 15
Transporte dos Gases 16
Ventilação Mecânica 16
Objetivos da Ventilação Mecânica 17
Recomendações e Indicações do Suporte Ventilatório 17
Métodos de Ventilação Mecânica 18

3. Ciclagem dos Ventiladores de Pressão Positiva 20


Ventilação Ciclada a Volume 21
Ventilação Controlada 21
Ventilação Assisto-Controlada 21
Ventilação Mandatória Intermitente (IMV, SIMV) 21
Ventilação Ciclada a Fluxo (Pressão de Suporte) 22
Ventilação com Relação Inversa 23
Hipercapnia Permissiva 23
Indicações da Ventilação Mecânica 23
Estratégia Inicial de Uso 24
Monitorização de Paciente Sob Ventilação Mecânica 25
Complicações Relacionadas à Ventilação Mecânica 26
Suporte Ventilatório não Invasivo 29
Desmame 33

4. Referências Bibliográficas 35

02
03
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

1. Estrutura e Função Pulmonar

Fonte: Revista Galileu1

O s pulmões, direito e esquerdo,


têm forma grosseiramente cô-
nica com um ápice, uma base e três
com a região do esquerdo chamada
língula (figura 01).

lados. Seu peso depende da quanti- Lobos pulmonares. Superior, Médio


dade de líquido presente, em média e Inferior à direita e Superior e Infe-
pesa 900 gramas na mulher e 1100 rior à esquerda
gramas no homem. O pulmão di-
reito é ligeiramente maior que o es-
querdo e é responsável por 55% da
função pulmonar total.
O pulmão direito apresenta
três lobos (superior, médio e infe-
rior) enquanto o pulmão esquerdo
apresenta apenas dois (superior e
inferior). Contudo, existe corres-
pondência do lobo médio direito

1 Retirado em https://revistagalileu.globo.com/

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Na cavidade torácica a pleura um ângulo mais agudo com a tra-


visceral é uma fina membrana de te- queia (figura 02)
cido conjuntivo-elástico que envolve
os pulmões e suas reentrâncias de Divisões da traqueia, brônquios
forma independente. A pleura parie- principais e lobares
tal reveste toda a cavidade torácica
em sua face interna. Em condições
normais uma quantidade mínima de
líquido, menos de 10 mililitros, está
presente entre estas duas membra-
nas. Este líquido é conhecido como
líquido pleural.
O líquido pleural é um ultrafil-
trado do plasma, secretado por lin-
fáticos da pleura parietal e absorvido
por linfáticos da pleural visceral. A
função principal do líquido pleural é
lubrificar as superfícies do pulmão
durante seu deslocamento nas fases Os brônquios fontes principais
inspiratória e expiratória. direito e esquerdo se dividem em
A traqueia é uma estrutura brônquios lobares e estes em seg-
formada por anéis cartilaginosos in- mentares. A dicotomia irregular se
completos em forma de “U”. Na sua segue em 23 gerações até os alvéo-
parte livre a cartilagem é substituída los.
por músculo liso. Seu epitélio é do
tipo cilíndrico ciliado com inúmeras Anatomia da Caixa Toráci-
glândulas na submucosa e vasos. ca
A traqueia se divide nos brôn-
quios fontes principais direito e es- O tórax é um arcabouço her-
querdo. O brônquio principal direito mético, expansível, não colapsável e
é mais curto com apenas 2,5 centí- em forma de cone, que armazena e
metros e de calibre mais grosso protege os órgãos intratorácicos e
quando comparado com o brônquio oferece apoio às extremidades supe-
fonte esquerdo, praticamente é uma riores.
continuação da traqueia. O brônquio A caixa torácica é composta
principal esquerdo é mais longo (5 por 12 pares de costelas arranjados
centímetros) e estreito, apresenta

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

por múltiplas cartilagens sobre o es- grupo - peitorais maior e menor, tra-
terno e as vértebras torácicas, junta- pézio e grande dorsal.
mente com as clavículas (figura 03). Os músculos respiratórios são
constituídos por fibras estriadas, as
12 pares de costelas e suas classifi- quais apresentam diferentes distri-
cações buições em cada músculo. Por exem-
plo, o diafragma apresenta aproxi-
madamente 55% de fibras do tipo I
vermelhas (resistentes à fadiga); e
45% de fibras estriadas tipo II bran-
cas (fatigáveis).
Esses músculos trabalham
vencendo cargas elásticas, que são
as forças de retração dos pulmões e
da caixa torácica, bem como as car-
Fonte: NETTER, Frank H. Atlas gas resistivas das vias aéreas. A par-
de Anatomia Humana. 2ed. Porto tir daí a VE pulmonar ocorre pela ge-
Alegre: Artmed, 2000.
ração de pressão negativa com o tó-
rax em expansão simultânea da
A caixa torácica é composta
caixa torácica, com uma excursão di-
pelos músculos peitoral maior e me-
afragmática em sentido caudal. Os
nor, subclávio, intercostais externos
músculos da respiração podem ser
e internos, músculo subcostal, mús-
classificados em duas categorias:
culo transverso do tórax e o músculo
músculos inspiratórios e expirató-
oco axilar também chamado de fossa
rios.
axilar.
Os ossos torácicos são cober-
Músculos Inspiratórios
tos por três grupos musculares, os
primários - diafragma, intercostais São músculos que participam
internos e externos - e os secundá- da fase inspiratória da respiração,
rios - esternocleidomastóideo, ser- eles podem ser principais ou acessó-
rátil posterior e elevadores costais - rios. Na tabela 1 serão listados os
para a respiração e aqueles que se músculos inspiratórios com sua
anexam aos membros superiores do classificação e suas respectivas fun-
corpo, classificado como terceiro ções.

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Músculos inspiratórios

MÚSCULOS CLASSIFICAÇÃO FUNÇÕES

É responsável por 70% do


volume inspirado;
quando o diafragma se
contrai, o conteúdo ab-
dominal é deslocado
para baixo e para frente,
aumentando o diâmetro
cefalocaudal do tórax,
movendo a caixa torácica
Diafragma Principais como uma “alça de
balde”; e a parte distal
das costelas é elevada e
gira para fora. Em re-
pouso, o deslocamento
do diafragma é de apro-
ximadamente 1cm, ao
passo que na inspiração
forçada pode chegar até
10cm.

Estabilizadores da caixa
torácica e desempe-
Intercostais externos Principais
nham papel importante
na postura.

Agem no esterno e no di-


afragma, atuando no tó-
Porção intercondral dos inter-
Principais rax inferior e no abdome,
costais internos
garantindo a integridade
da caixa torácica.
Quando se contraem,
elevam as costelas e o es-
Escalenos Principais terno, no movimento de-
nominado de “braço de
bomba”.

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Peitoral maior Acessórios -

Peitoral menor Acessórios -

Eretores da espinha Acessórios -

Serrátil anterior Acessórios Abduz a escápula.

Realiza flexão, inclinação


Esternocleidomastóideo Acessórios e rotação da cabeça; au-
xilia os escalenos

Músculos Expiratórios culatura por causa das propriedades


elásticas e complacentes do pulmão,
São músculos que participam acarretando em uma expiração pas-
da expiração forçada ou tosse, haja siva. Na tabela 2 serão listados os
vista que a expiração acontece nor- músculos expiratórios e suas respec-
malmente sem a utilização da mus- tivas funções.

Músculos expiratórios

MÚSCULOS FUNÇÃO

Reto abdominal; Empurrar a parede abdominal para dentro,


Oblíquo interno; aumentando a pressão intra-abdominal
Oblíquo externo;
Transverso do abdominal.

Porção interóssea dos intercostais Internos Neutraliza a retração elástica dos pulmões e
da caixa torácica.

Componentes da Caixa Torá- ções específicas, um garante o bom-


cica: Órgãos e Funções beamento do sangue por todo o cor-
po e o outro é o principal órgão do
A caixa torácica é uma impor- sistema respiratório. Para que haja o
tante estrutura corporal que tem funcionamento correto do orga-
como principal função proteger ór- nismo, o sistema cardiovascular e o
gãos vitais, como os pulmões e o co- sistema respiratório atuam de forma
ração. Os mesmos apresentam fun-

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interligada e trabalham em conjun- xam indiretamente ao esterno atra-


to. vés da cartilagem costal da 7ª coste-
Os pulmões são órgãos duplos la, enquanto a 11ª e a 12ª são chama-
localizados um de cada lado do tó- das flutuantes por não apresentam
rax, na região interior da cavidade fixações anteriores.
torácica. O coração fica apoiado so- A variação dos diâmetros
bre o diafragma, perto da linha mé- transversais das costelas verdadei-
dia da cavidade torácica, no medias- ras é explicada da seguinte maneira:
tino e cerca de 2/3 de massa cardía- quando o movimento do esterno
ca ficam à esquerda da linha média chega ao seu limite, a porção média
do corpo. Atua como uma bomba do corpo das costelas é elevada e,
contrátil propulsora de sangue, auto portanto, o ângulo condrocostal é
ajustável, capaz de proporcionar aberto, aumentando o diâmetro
pressão e sucção, atuando em con- transversal.
junto com uma imensa rede de vasos As costelas articulam-se com
sanguíneos para conduzir sangue a as vertebras, principalmente, em
todas as partes do corpo humano. duas áreas: corpos das vértebras e
processo transverso. Estas articula-
Fisiologia da Caixa Torácica: ções são chamadas articulações cos-
Articulações e Movimentos tovertebrais. O movimento dessa ar-
ticulação produz durante a inspira-
O tórax é constituído pelo es-
ção o aumento do diâmetro do tórax
terno, costelas, cartilagens costais e
e sua diminuição durante a expira-
vértebras torácicas. É limitado ante-
ção.
riormente pelo esterno, superior-
A articulação da cabeça das
mente pela clavícula e inferiormente
costelas é do tipo sinovial plana que
pelo diafragma. A cavidade torácica
se faz entre cabeça de uma costela tí-
serve para fixar a coluna vertebral
pica com as fóveas costais das mar-
posteriormente e faz a fixação do es-
gens contíguas das vértebras toráci-
terno na parte anterior, além de pro-
cas e seus discos intervertebrais. A
teger os órgãos internos.
segunda costela se articula com a
Há um total de 24 costelas, 12
primeira e com a segunda vértebra
em cada lado. As sete superiores são
torácica, a terceira costela se articula
chamadas verdadeiras, fixando-se
com a segunda e com terceira vérte-
diretamente no esterno, em sua par-
bra torácica e assim sucessivamente.
te anterior. Da 8ª à 10ª, são chama-
As exceções se encontram na pri-
das de falsas-costelas, porque se fi-
meira, décima, décima primeira e

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

décima segunda costela. Elas se arti- ferentes, portanto, quando se articu-


culam, cada uma, com uma única lam formam um ângulo denomi-
vértebra de mesmo número. Os liga- nado ângulo do esterno ou ângulo de
mentos presentes nessas articula- Louis. É uma anfiartrose do tipo sín-
ções são os ligamentos radiado e in- fise, pois possui fibrocartilagem
tra-articular. unindo os dois ossos.
A articulação entre o tubérculo Articulação xifoesternal: Entre
da costela e a fóvea costal do pro- o processo xifóide e o corpo do es-
cesso transverso de sua própria vér- terno, é uma articulação cartilagínea
tebra torácica denomina-se articula- que está normalmente ossificada
ção costotransversária. Os ligamen- por volta dos cinquenta anos de
tos presentes nessa articulação são: idade.
ligamento costotransversário supe- Articulações esternocostais:
rior; ligamento costotransversário são sinoviais (diartroses) planas,
posterior; ligamento do colo da cos- apresentando todas as característi-
tela e ligamento do tubérculo da cos- cas de uma articulação sinovial com
tela. uma exceção: a cartilagem da pri-
Articulações costocondrais são meira costela está diretamente uni-
as articulações entre as costelas e da ao esterno e se trata de uma sin-
suas cartilagens costais e são classi- condrose. Os ligamentos presentes
ficadas em anfiartrose do tipo sin- nessas articulações são: ligamentos
condrose. Articulações Intercon- esternocostais radiados, ligamento
drais são articulações sinoviais pla- esternocostal intra-articular e liga-
nas, possuem cavidade sinovial en- mento costoxifoideo.
volvida por cápsula articular refor-
çada lateralmente pelos ligamentos
intercondrais. Presente entre as
margens adjacentes da sexta cartila-
gem e sétima, sétima e oitava; e oita-
va e nona. A articulação entre a nona
costela e a décima é fibrosa.
Por último temos as articula-
ções do esterno, são elas:
Articulação manúbrioesternal:
o manúbrio e o corpo do esterno si-
tuam-se em planos ligeiramente di-

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2. Ventilação Pulmonar

Fonte: Linkedin2

A respiração tem por objetivo


fornecer oxigênio aos tecidos e
remover o dióxido de carbono. Con-
Os pulmões podem sofrer ex-
pansão e retração por duas manei-
ras: (1) pelos movimentos do dia-
siderando-se esta função, a respira- fragma para baixo e para cima, a fim
ção pode ser dividida em quatro de aumentar ou diminuir a altura da
eventos principais: (1) ventilação cavidade torácica, e (2) pela eleva-
pulmonar, que se refere a entrada e ção e abaixamento das costelas para
saída de ar entre a atmosfera e os al- aumentar e diminuir o diâmetro an-
véolos pulmonares, (2) difusão de teroposterior da cavidade torácica.
oxigênio e de dióxido de carbono en- A respiração normal é efetu-
tre os alvéolos e o sangue, (3) trans- ada quase inteiramente pelo primei-
porte de oxigênio e de dióxido de ro desses dois métodos, isto é, pelo
carbono no sangue e nos líquidos movimento do diafragma. Durante a
corporais, para e das células, e (4) inspiração, a contração do diafrag-
regulação da ventilação e de outros ma traciona as superfícies inferiores
aspectos da respiração. dos pulmões para baixo. A seguir,

2 Retirado em https://www.linkedin.com/pulse/ventila%C3%A7%C3%A3o-pulmonar-lucas-campos

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

durante a expiração, o diafragma rácica são conhecidos como múscu-


simplesmente se relaxa, e é a retra- los da expiração. Os músculos mais
ção elástica dos pulmões, da parede importantes que elevam a caixa to-
torácica e das estruturas abdominais rácica são os intercostais externos;
que comprime os pulmões. Durante entretanto, outros músculos que
a respiração intensa, as forças elásti- também participam do processo in-
cas não são ricas o suficiente para cluem: (1) os músculos esternodei-
causar a expiração rápida necessá- domastóides, que elevam o esterno;
ria, de modo que a força adicional (2) os serráteis anteriores, que ele-
necessária é obtida principalmente vam muitas das costelas; e (3) os es-
pela contração dos músculos abdo- calenos, que elevam as duas primei-
minais, que força o conteúdo abdo- ras costelas.
minal para cima, contra a parte infe- Os músculos que tracionam a
rior do diafragma. caixa torácica para baixo durante a
O segundo método para ex- expiração são: (1) os retos abdomi-
pandir os pulmões é efetuado pela nais, que têm o poderoso efeito de
elevação da caixa torácica. Esse pro- tracionar as costelas inferiores para
cesso determina a expansão dos pul- baixo, ao mesmo tempo que, junta-
mões, visto que, na posição natural mente com os outros músculos ab-
de repouso, as costelas estão volta- dominais, comprimem o conteúdo
das para baixo, permitindo ao ester- abdominal para cima, contra o dia-
no inclinar-se para trás, em direção fragma, e (2) os intercostais inter-
à coluna vertebral. Quando a caixa nos.
torácica é elevada, as costelas se pro- O pulmão é uma estrutura
jetam quase direta- mente para a elástica que sofre colapso à seme-
frente, de modo que o esterno tam- lhança de um balão e expele todo seu
bém passa a se mover para frente, ar pela traqueia toda vez que não
afastando-se da coluna; em conse- houver uma força para mantê-lo in-
quência, a espessura anteroposte- suflado. Além disso, não existe qual-
rior do tórax passa a ser cerca de quer inserção entre o pulmão e a pa-
20% maior durante a inspiração má- rede da caixa torácica, exceto no lo-
xima do que durante a expiração. cal em que é suspenso no hilo, do
Por conseguinte, os músculos que mediastino. Com efeito, o pulmão li-
elevam a caixa torácica são classifi- teralmente flutua na caixa torácica,
cados como músculos da inspiração, circundado por uma camada muito
enquanto os que abaixam a caixa to- delgada de líquido pleural, que lu-

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

brifica os movimentos dos pulmões de transferência desse gás (cada gás


no interior da cavidade. Além disso, tem um índice de solubilidade) ou
o bombeamento contínuo desse lí- seja, quão mais fácil e rápido esse
quido para os canais linfáticos man- gás se difunde.
tém leve sucção entre a superfície A difusão de um gás ocorre
visceral da pleura pulmonar e a su- quando existe movimento das molé-
perfície pleural parietal da cavidade culas de uma área na qual o gás
torácica. Os dois pulmões aderem à exerce uma elevada pressão parcial
parede torácica como se estivessem para outra de baixa pressão parcial.
colados, embora possam deslizar li- A difusão dos gases através da
vremente, quando bem lubrificados, membrana alvéolo-capilar fica na
à medida que o tórax se expande e se dependência da lei de Fick. Esta lei
retrai. estabelece que a velocidade de trans-
ferência de um gás através de uma
Difusão dos Gases membrana permeável ao gás é pro-
porcional à área desta membrana e
A hematose ocorre no ácino ao gradiente de pressão parcial deste
respiratório, que de forma simplifi- gás entre os lados. Estabelece tam-
cada, consta da difusão do O2 e CO2 bém que é inversamente proporcio-
pela barreira alvéolo-capilar, em nal à espessura desta membrana.
sentidos opostos. Essa hematose de-
pende de alguns fatores que estão Perfusão Pulmonar
descritos pela Lei de Fick: “a quanti-
dade de gás transferida através de A perfusão é a passagem do
uma barreira tecidual é proporcio- sangue pelo capilar pulmonar, car-
nal a sua área, a uma constante de reando o oxigênio para nutrição te-
difusão e à diferença de pressão par- cidual. Ela depende do débito cardí-
cial, e é inversamente proporcional à aco, da frequência cardíaca, do re-
espessura. A constante é proporcio- torno venoso e da resistência vascu-
nal à solubilidade do gás, mas inver- lar periférica. A ventilação pulmonar
samente proporcional à raiz qua- e a perfusão são desiguais nos pul-
drada de seu peso molecular.” mões. A ventilação depende das pos-
A difusão de um gás depende turas adotadas pelos indivíduos, de-
de quanto maior for a sua concentra- pende da ação da gravidade ou de
ção, quanto maior for a área do alvé- patologias pulmonares associadas,
olo e do capilar, da espessura da pa- que podem reduzir a capacidade da
rede alvéolo-capilar e da velocidade ventilação.

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Existe uma inter-relação dire- tilação alveolar. Assim, se a ventila-


ta entre a ventilação e a perfusão. O ção alveolar for anormalmente bai-
resultado da relação ventilação/per- xa, a PO2 alveolar cai (WEST, 1996).
fusão (V/Q) fisiológico é igual a 0,8. A PCO2 eleva-se, isto é conhe-
Em análises obtiveram que há uma cido como hipoventilação. As causas
relação melhor nas bases pulmona- de hipoventilação incluem drogas
res. Na prática, o desequilíbrio desta como a morfina e os barbitúricos,
relação gera uma hipoxemia no indi- que deprimem o estímulo central
víduo, em algumas situações como: para os músculos respiratórios, le-
efeito shunt e efeito espaço morto. O são da parede torácica ou paralisia
efeito shunt trata-se de um capilar dos músculos respiratórios, em uma
perfundido, mas sem ventilação pul- alta resistência.
monar, ou seja, há sangue em con- Em condições normais a dife-
tato com os alvéolos, mas por algum rença de PCO2 entre o gás alveolar e
motivo, o ar não está chegando aos o sangue capilar final resultando de
mesmos. A outra situação é o efeito difusão incompleta é imensuravel-
espaço morto, no qual o alvéolo está mente pequena, a diferença pode
sendo ventilado, mas não há perfu- torna-se maior quando uma mistura
são adequada no capilar alveolar. pobre em O2, é inspirada ou a bar-
reira sangue-gás é espessada.
Relação Ventilação/Perfusão Uma outra razão pela qual a
PCO2 do sangue arterial é menor do
O movimento de ar até a partir que aquele no gás alveolar é o san-
da interface sangue-gás, a difusão de gue desviado (shuntado). Shunt de-
gás através dela, e o movimento do signa o sangue que entra no sistema
sangue até e a partir da barreira. O arterial sem passar através de áreas
desequilíbrio entre a ventilação e a ventiladas do pulmão (WEST, 1996).
perfusão é responsável pela maioria Na relação ventilação-perfu-
das trocas gasosas defeituosas nas são, consideramos três causas de hi-
doenças pulmonares. poxemia: a hipoventilação, difusão e
O nível da PO2 alveolar é de- shunt. A concentração de O2, ou a
terminado por um balanço entre a melhor, a PO2, em qualquer unida-
velocidade de remoção do O2 pelo de pulmonar é determinada pela re-
sangue, que é ajustada pelas deman- lação entre a ventilação e o fluxo
das metabólicas dos tecidos e a velo- sanguíneo; e não apenas O2 mas
cidade de reposição do O2 pela ven- CO2 N2 e qualquer outro gás que es-

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

teja presente em condições de es- dissolvida em um líquido é direta-


tado constante. Esta é a razão pela mente proporcional a sua pressão
qual a relação ventilação-perfusão parcial, a determinada temperatura.
desempenha um papel chave na A quantidade dissolvida no plasma
troca gasosa pulmonar. de oxigênio é proporcional à pressão
parcial deste.
Transporte dos Gases
Ventilação Mecânica
O transporte de oxigênio dos
pulmões até os tecidos é simples, Antes, utilizada somente em
ocorrendo apenas de dois modos: procedimentos de emergência em
dissolvido no plasma ou ligado à he- reanimação ou em última instância
moglobina. O oxigênio é transporta- no tratamento do paciente crítico,
do pela hemoglobina, uma metalo- hoje a ventilação pulmonar mecâ-
proteína constituída de ferro, que nica é um método de suporte respi-
está presente nas hemácias (glóbu- ratório ao paciente, podendo ser uti-
los vermelhos). lizada até mesmo preventivamente
O oxigênio dentro dos alvéolos (VNI) porém, não constituindo uma
pulmonares difunde-se até os capi- terapia curativa.
lares sanguíneos penetrando nas he- Ventiladores de várias gera-
mácias, onde se liga com a hemoglo- ções ainda são utilizados nas UTIs
bina, sendo o gás carbônico jogado do Brasil. Desde ventiladores de 1ª
para fora. Este processo denomina- geração (como o consagrado Bird
se hematose. Mark-7) até os microprocessados de
O processo nos tecidos acon- 3ª geração. Modalidades foram de-
tece quando o gás oxigênio desliga- senvolvidas, e hoje temos em nossas
se das moléculas de hemoglobina mãos terapias menos agressivas ao
sendo difundido pelo líquido tissu- paciente e ao mesmo tempo mais
lar chegando até as células. As célu- eficientes.
las liberam o gás carbônico que re- Porém, o emprego da ventila-
age com a água formando o ácido ção mecânica implica riscos pró-
carbônico que logo é difundido no prios, devendo sua indicação ser
plasma do sangue. prudente e criteriosa, e sua aplica-
O oxigênio dissolvido no plas- ção cercada por cuidados específi-
ma obedece à lei de Henry que esta- cos.
belece que a concentração de um gás

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Objetivos da Ventilação Mecâ-  Utilizar a PEEP em situações


nica em que a redução na CRF pode
ser prejudicial (redução da
Objetivos Fisiológicos: PaO2, maior injúria pulmo-
nar), como na SARA e em pós-
 Manter ou modificar a troca
operatório com dor;
gasosa pulmonar;
 Reduzir o trabalho muscular
 Ventilação Alveolar (PaCO2 e
respiratório.
pH);
Objetivos Clínicos:
O suporte ventilatório tem
como objetivo intervir na ventilação  Reverter hipoxemia: aumen-
tando a ventilação alveolar,
alveolar. Em certas circunstâncias, o
aumentando o volume pulmo-
objetivo pode ser aumentar a venti- nar, diminuindo o consumo de
lação alveolar (hiperventilação para oxigênio e aumentando a ofer-
reduzir a pressão intracraniana) ou ta de oxigênio;
reduzir a ventilação alveolar de ma-  Reverter a acidose respiratória
neira controlada (hipercapnia per- aguda; C - Reduzir o descon-
missiva); porém, o objetivo usual- forto respiratório;
mente adotado é normalizar a venti-  Prevenir ou reverter atelecta-
sias;
lação alveolar.
 Reverter fadiga dos músculos
respiratórios;
 Oxigenação Arterial (PaO2,  Permitir sedação, anestesia ou
SaO2 e CaO2) uso de bloqueadores neuro-
musculares;
O objetivo é atingir e manter  Reduzir consumo de oxigênio
valores aceitáveis de oxigenação ar- sistêmico e miocárdico;
terial (PaO2 > 60 mmHg, SaO2 >  Reduzir pressão intracrania-
90%). A oferta de oxigênio aos teci- na; I - Estabilizar parede torá-
dos (D’O2) deve ser considerada, cica;
corrigindo fatores como o conteúdo
arterial de oxigênio (hemoglobina) e Recomendações e Indicações
o débito cardíaco. do Suporte Ventilatório
 Aumentar o volume pul-
Importância da conceituação
monar;
 Insuflação pulmonar inspira- mais ampla de insuficiência respira-
tória final; Visa prevenir ou tória (considerando a oxigenação te-
tratar atelectasia; cidual) para que o paciente seja
 Otimizar a Capacidade Resid- abordado amplamente.
ual Funcional (CRF);

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Na indicação, considerar a  Ventilação com pressão posi-


evolução das manifestações clínicas tiva intermitente, assistida e/
e da monitoração dos parâmetros fi- ou controlada, ciclada a vo-
siológicos. A ventilação mecânica lume ou pressão (IPPV);
 Ventilação a pressão contro-
deve ser precoce e essencialmente
lada (PCV);
baseada nas manifestações clínicas
 Ventilação mandatória inter-
do paciente. Os parâmetros conside- mitente sincronizada (SIMV);
rados de maior aplicabilidade e os  Ventilação com suporte pres-
indicadores da falência ventilatória sórico (PSV);
são PaO2, PaCO2, P(A-a)O2 e  Pressão positiva contínua nas
PaO2/FIO2. vias aéreas (CPAP);
Indicações da ventilação mecâ-  Associações: SIMV + PSV, PSV
nica: IRpA já estabelecida, decor- + CPAP, SIMV + CPAP.
rente de alterações da função pul-
Assim, temos como técnicas
monar: da mecânica ventilatória; da
essenciais de suporte ventilatório
troca gasosa.
aquelas que têm demonstrado me-
Profilática: Consequente às condi-
lhorar a condução das insuficiências
ções clínicas que podem potencial-
respiratórias, principalmente na
mente levar à insuficiência respira-
SARA, isto é, as técnicas de suporte
tória. Exemplo: pós-operatório.
ventilatório total ou parcial, com
Disfunção em outros órgãos e
respiradores de pressão positiva ci-
sistemas: Exemplo: choque, hiper-
clados a tempo, pressão, volume ou
tensão intracraniana.
fluxo, PEEP, CPAP, SIMV, suas as-
Métodos de Ventilação Mecâ- sociações, PCV, VAPSV (ventilação
nica com suporte pressórico e volume ga-
rantido).
Como métodos de ventilação Técnicas que ainda não se tor-
mecânica devemos entender todo e naram convencionais, mas tem se-
qualquer método de suporte ventila- guidores e indicações, também de-
tório capaz de prover, com o menor vem ser consideradas como recursos
dano e custo possível, a melhor ven- de suporte ventilatório. Entre elas
tilação e oxigenação capazes de su- estão a hipercapnia permissiva, a re-
prir a demanda do paciente. lação I:E invertida, a ventilação com
Os métodos de suporte venti- jatos de alta frequência e a ventila-
latório mais praticados na rotina as- ção com liberação de pressão em
sistencial e, por isso, considerados vias aéreas.
convencionais, são os seguintes:

18
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

3. Ciclagem dos Ventiladores de Pressão Positiva

Fonte: Fisioterapia3

S ão classificados em quatro mo-


dalidades de acordo com o tér-
mino da inspiração:
pois o fluxo desacelerado proporci-
ona uma pressão constante durante
a inspiração, reduzindo os riscos de
Ciclados a Tempo: A inspiração barotrauma. Isso possibilita aumen-
termina após um tempo inspiratório tar o tempo inspiratório, permitindo
predeterminado. A quantidade de inverter a relação I:E.
gás ofertada e a pressão das vias aé- Ciclados a Pressão: A inspiração
reas vão variar, a cada respiração, cessa quando é alcançada a pressão
dependendo das modificações da máxima predeterminada. Os volu-
mecânica pulmonar. São ventilado- mes oferecidos variarão de acordo
res também utilizados em domicílio. com as mudanças da mecânica pul-
A ventilação a pressão contro- monar. A ventilação-minuto não é
lada (PCV) é diferente neste modo, garantida.

3 Retirado em https://blogfisioterapia.com.br/

20
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Ciclados a Volume: A inspiração combinação, especialmente quando


termina após se completar um vo- associada à hipercapnia permissiva,
lume corrente predeterminado. é utilizada para a redução do volu-
Ciclados a Fluxo: A inspiração trauma em pacientes com SARA e,
termina quando determinado fluxo também, para a diminuição do baro-
é alcançado. A ventilação por pres- trauma em asmáticos difíceis de
são de suporte é um exemplo. Neste ventilar.
caso, uma pressão predeterminada
em via aérea é aplicada ao paciente, Ventilação Assisto-Controlada
o respirador cicla assim que o fluxo
inspiratório diminui e alcança um No modo assisto-controlado, o
percentual predeterminado de seu ventilador “percebe” o esforço inspi-
valor de pico (normalmente 25%). ratório do paciente e “responde” ofe-
recendo-lhe um volume corrente
Ventilação Ciclada a Volu- predeterminado. Esse esforço inspi-
me ratório deve ser o necessário para
vencer o limiar de sensibilidade da
Ventilação Controlada válvula de demanda do ventilador,
desencadeando, a partir daí a libera-
Na ventilação controlada, o ção do volume corrente. Assim, o pa-
volume-minuto é completamente ciente “trabalha” para ciclar o respi-
dependente da frequência e do vo- rador realizar a inspiração Na pre-
lume corrente do respirador. Ne- sença de auto-PEEP aumenta- se o
nhum esforço respiratório do paci- trabalho respiratório proporcional à
ente irá contribuir para o volume- quantidade de auto-PEEP presente.
minuto. Um modo controlado de back-up de
Entre suas indicações estão os frequência é necessário para preve-
pacientes que não conseguem reali- nir hipoventilação.
zar esforço respiratório (trauma-
tismo raquimedular, depressão do Ventilação Mandatória Inter-
SNC por drogas, bloqueio neuro- mitente (IMV, SIMV)
muscular). A combinação de ventila-
ção controlada e bloqueio neuro- Na ventilação mandatória in-
muscular possibilita a redução do termitente (IMV-SIMV), o grau de
consumo de oxigênio, sendo fre- suporte ventilatório é determinado
quentemente empregada em pacien- pela frequência do IMV. A intervalos
tes com SARA. Adicionalmente, esta

21
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

regulares, o respirador libera um vo- vula de demanda, uma pressão pre-


lume previamente determinado. Fo- determinada é mantida até que caia
ra destes ciclos, o paciente respira o fluxo inspiratório do paciente, ha-
espontaneamente através do cir- bitualmente 25% do seu valor má-
cuito do ventilador, portanto, com ximo. Tende a ser muito confortável,
frequência e volume corrente que uma vez que o paciente detém o con-
variarão de acordo com a necessida- trole sobre o ciclo respiratório. Pode
de e capacidade individuais. A SIMV ser adicionada ao suporte ventilató-
representa a sincronização com o rio total ou parcial (SIMV), vencen-
movimento inspiratório; essa modi- do a resistência do tubo e do circuito
ficação, entretanto, cria a necessi- durante a respiração espontânea.
dade de uma modalidade de “dispa- A resistência ao tubo endotra-
ro”, seja uma válvula de demanda ou queal é função do diâmetro do tubo
um mecanismo de flow-by. Ambas e do fluxo inspiratório. Valores su-
as situações aumentam o trabalho periores a 10 cmH2O podem ser ne-
respiratório. São vantagens do SIMV cessários para vencer esta resistên-
em relação à ventilação assisto-con- cia, particularmente naqueles tubos
trolada: de menor calibre (7 mm ou inferior)
 Melhor sincronismo com o ou em pacientes com DPOC. Sua
ventilador; aplicação possibilita o aumento do
 Menor necessidade de seda- volume corrente e a redução da fre-
ção; quência respiratória.
 Menor tendência a alcalose O suporte ventilatório total
respiratória;
exige altos valores de pressão de su-
 Menor pressão média de vias
aéreas, com redução dos riscos porte (27 ± 5 cmH2O). Valores bai-
de barotrauma e comprometi- xos aumentam o risco de colaba-
mento hemodinâmico, especi- mento alveolar. A monitorização
almente na vigência de PEEP; cuidadosa é necessária, uma vez que
 Manutenção da resistência nem volume corrente ou minuto são
muscular possibilitada pela garantidos por esta modalidade. A
respiração espontânea. PSV pode ser mal tolerada em paci-
entes com alta resistência de vias aé-
Ventilação Ciclada a Fluxo
reas. O seu uso em pacientes com
(Pressão de Suporte)
DPOC não diminui a auto-PEEP, a
Modalidade ciclada a fluxo, qual, por aumentar o trabalho respi-
em que, uma vez disparada pela vál- ratório, pode inviabilizar o uso de
PSV nestes pacientes.

22
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Assim como ocorre na ventila- vias aéreas inferiores (asma, bron-


ção A/C e SIMV, pode ocorrer assin- quiolite), não- responsivas ao modo
cronia durante o uso de PSV na mo- convencional de ventilação.
dalidade total de assistência ventila- Recomenda-se nas doenças
tória. No momento, a PSV não cons- pulmonares com diminuição da
titui uma modalidade adequada pa- complacência (SARA) que necessi-
ra a abordagem da insuficiência res- tam de PIP > 30 a 35 cmH2O e FIO2
piratória aguda, entretanto, esforços > 0,6.
têm sido feitos para contornar estes É contraindicada nos pacien-
problemas, para que a PSV possa ser tes com risco de hipertensão intra-
utilizada em maior escala no futuro craniana, nas arritmias cardíacas
(ventilação assistida proporcional e graves e na hipertensão arterial
PSV com volume garantido). grave. Os níveis aceitáveis do pH
PEEP define-se como sendo a sanguíneo devem situar-se acima de
manutenção da pressão alveolar 7,1.
acima da pressão atmosférica ao fi-
nal da expiração. Indicações da Ventilação Me-
cânica
Ventilação com Relação Inver-
sa Mudança do paradigma in ex-
tremis traduzida pela morte da mai-
Na faixa etária pediátrica, os oria, para situação atual, na qual o
estudos prospectivos, randomizados suporte ventilatório constitui em
e controlados não demostraram di- importante e indispensável método
minuição da morbidade e da morta- para a recuperação do paciente gra-
lidade com o uso da relação inversa. ve sendo utilizado inclusive de for-
Poderia ser utilizada nas con- ma preventiva.
dições caracterizadas por diminui- Parâmetros auxiliares para in-
ção da complacência (SARA), com dicação de ventilação mecânica.
hipoxemia refratária (SaO2 < 85%),
apesar do uso de FIO2 > 0,8 e PEEP
> 15 cmH2O.

Hipercapnia Permissiva

Recomenda-se hipercapnia
permissiva na obstrução grave das

23
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Este valor da FR não se aplica cessário basearmos o volume cor-


em pacientes pediátricos. rente em 5ml/Kg e em quadros de
pulmões mais estáveis poderemos
Estratégia Inicial de Uso chegar a volumes baseados em até
12ml/Kg. É prudente, além de calcu-
A modalidade inicial da venti- lar-se adequadamente o VC, evi-
lação mecânica deve ser preferenci- tando que a Pins ultrapasse 35cm
almente assitido-controlada. Os pa- H2O como padrão de segurança ini-
râmetros deverão ser ajustados ini- cial).
cialmente como protocolo a seguir: Fluxo inspiratório: 40-60l/min
FiO2: 100%. (Recomenda-se que no ou manter a relação I/E desejada
início do suporte ventilatório seja (Nos ciclos controlados, um fluxo
ofertado o valor máximo de concen- entre 40 e 60l/min geralmente é su-
tração de oxigênio, que posterior- ficiente, podendo chegar a níveis de
mente deverá ser adequado de acor- até 90l/min. A relação I:E adequada
do com o quadro do paciente, redu- (normal) é de 1:1,5 a 1:2 com tempo
zindo a FiO2 mais segura, em torno inspiratório de 0,8 a 1,2 s. Em paci-
de 50% objetivando uma concentra- entes obstrutivos recomenda-se
ção de O2 suficiente para manter uma relação I:E < 1:3. Em quadros
uma SpO2 > 90%.). de hipoxemia grave podemos usar
Frequência respiratória: 8 a esta relação invertida. Recomenda-
12irpm (o valor estabelecido após os se 3:1).
primeiros momentos de suporte PEEP: 5 cmH2O (Iniciando a venti-
ventilatório deverá estar de acordo lação com PEEP em torno de
com parâmetros como a PaCO2 e pH 5cmH2O, recomenda-se aumenta-la
desejados podendo variar e chegar a progressivamente objetivando man-
níveis de até 20 irpm. Porém deve- ter uma SpO2 satisfatória (>90%). A
se tomar cuidados para com o de- monitorização hemodinâmica é re-
senvolvimento de auto-PEEP em al- comendada após 15cmH2O.
tas frequências). Sensibilidade: 1 cmH2O (o con-
Volume corrente: 8 - 10ml / kg senso recomenda valores de 0,5 a
(valores baseados em 10ml/Kg ge- 2,0cmH2O. O valor estipulado aqui
ralmente são satisfatórios, porém é um valor médio e seguro, porém
variações de acordo com determina- pode ser ajustado de acordo com o
dos quadros são necessárias. Em quadro do paciente em questão.
SARA, por exemplo, não raro é ne- Existem ventiladores que oferecem

24
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

variações de até 10cmH20 de sensi- volume corrente e frequência respi-


bilidade de disparo.) ratória (volume-minuto - VE). VE1 x
Os ajustes posteriores depen- (PaCO2)1 = VE2 x (PaCO2)2.
derão das condições do paciente* A capnometria acoplada à cap-
nografia é uma técnica bastante útil,
Monitorização de Paciente devendo ser aplicada sempre que
Sob Ventilação Mecânica possível, especialmente em pacien-
tes neurológicos ou com hipercap-
Todos os pacientes necessitam nia. Recomenda-se que se disponha
de contínua monitorização da oxige- de, ao menos, um capnógrafo por
nação/saturação, o que é possível unidade de serviço.
através da oximetria de pulso. A obtenção dos dados de me-
A gasometria arterial com a cânica respiratória é extremamente
medida direta da PaO2 é o método- útil; para tanto, é preciso ventilar em
padrão de avaliação da oxigenação volume controlado, com fluxo cons-
sanguínea. Para sua melhor caracte- tante (forma de onda quadrada) e
rização, o dado mais simples e rá- com pausa inspiratória de pelo me-
pido consiste na relação PaO2/ nos dois segundos. Assim, é possível
FIO2. a obtenção dos valores de compla-
O número de gasometrias ne- cência e resistência do sistema res-
cessárias depende das condições de piratório. Recomenda-se sua medi-
cada paciente e das manipulações da em todo paciente sob ventilação
que forem feitas no respirador, não mecânica, desde que não se faça in-
existindo qualquer rotina recomen- dispensável a sedação adicional ape-
dada. Entretanto, opina-se que ao nas para este fim, no paciente está-
menos uma gasometria por dia deva vel, com perspectiva de descontinu-
ser realizada. ação da ventilação. Nos casos em
Quando o paciente estiver sob que a sedação adicional for impres-
FiO2 de 1,0, o cálculo de outros pa- cindível para estas medidas, a situa-
râmetros, como P(A-a)O2 e fração ção clínica e a experiência dos assis-
shunt (Q’s/Q’t), pode ser útil na ava- tentes devem determinar a proprie-
liação, não sendo, no entanto, reco- dade da sua realização, assim como
mendado como rotina. a sua periodicidade
Na avaliação da ventilação al- É recomendada a medida da
veolar, utiliza-se diretamente a auto-PEEP, principalmente nos pa-
PaCO2, obtida através da gasome- cientes obstrutivos (resistência de
tria arterial, associada aos dados de vias aéreas elevada).

25
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Pela quantidade de informa- piratória, podendo, além de afetar


ções obtidas com a análise das cur- outros órgãos, causar grande morbi-
vas de Pva, VT e VI’, sugere-se que se dade ou mortalidade. Os profissio-
usem monitores gráficos acoplados nais devem conhecer os aspectos
aos ventiladores. anatômicos fundamentais das estru-
Todo paciente sob VM deve ser turas envolvidas, a fisiologia de tais
submetido à radiografia de tórax di- estruturas e as alterações patológi-
ariamente. Assim, a ficha de avalia- cas.
ção dos pacientes submetidos à VM Entre as principais complica-
deve conter os seguintes dados, ções e intercorrências, destacam-se
quando uma gasometria for colhida, as seguintes:
para podermos otimizar ao máximo Diminuição do Débito Cardí-
a monitorização dos parâmetros res- aco: A ventilação mecânica sob
piratórios: pressão positiva aumenta a pressão
 FIO2; intratorácica média e, desta forma,
 Frequência respiratória; reduz o retorno venoso e a pré-carga
 Volume corrente; ventricular direita, principalmente
 Modo ventilatório; com a utilização da PEEP. A disten-
 Pico de pressão inspiratória; são pulmonar, pela ventilação mecâ-
 Pressão de platô; nica, associada ou não à PEEP, tam-
 PEEP e auto-PEEP; bém aumenta a resistência vascular
 Fluxo inspiratório; pulmonar (RVP). Ressalte-se que
 Hemoglobina;
ambos os efeitos diminuem o débito
 Gasometria.
cardíaco, principalmente em pacien-
tes hipovolêmicos.
Complicações Relacionadas à
Ventilação Mecânica Alcalose Respiratória Aguda: É
uma das ocorrências mais comuns.
A aplicação de suporte ventila- Pode prejudicar a perfusão cerebral,
tório mecânico requer alguns cuida- predispor à arritmia cardíaca, além
dos. Apesar dos benefícios, o mesmo de ser razão frequente para insu-
não é isento de complicações, as cesso do desmame. Comumente se-
quais, podem ser altamente lesivas cundária à dispneia, dor ou agitação,
ao indivíduo. a hiperventilação alveolar também
A instituição de ventilação me- pode resultar de uma regulagem ina-
cânica em qualquer paciente altera a dequada do ventilador e ser corri-
mecânica pulmonar e a função res-

26
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

gida por ajustes da frequência respi- contaminados por flora polimicrobi-


ratória, do volume corrente, de acor- ana, e que os bacilos Gram- negati-
do com as necessidades do paciente. vos eram geralmente os predomi-
Elevação da Pressão Intracra- nantes. O reconhecimento do pro-
niana: A ventilação com pressão blema, a implementação de rotinas
positiva na presença de pressão in- de troca e cuidados com os circuitos
tracraniana (PIC) elevada pode pre- e nebulizadores, além da adequada
judicar o fluxo sanguíneo cerebral, desinfecção de alto nível ou esterili-
principalmente quando se utilizam zação dos mesmos, diminuíram a in-
altos níveis de PEEP, devido à dimi- cidência de tal complicação.
nuição do retorno venoso do territó- A maioria dos ventiladores
rio cerebral e o consequente au- atuais de UTI utiliza umidificadores
mento da PIC. que não aerossolizam bactérias, ao
Meteorismo (Distensão Gástri- contrário dos nebulizadores. Entre-
ca Maciça): Pacientes sob ventila- tanto, os nebulizadores de pequeno
ção mecânica, principalmente aque- volume, utilizados para a adminis-
les com baixa complacência pulmão- tração de broncodilatadores ou ou-
tórax, podem desenvolver distensão tras medicações, podem ser fontes
gasosa gástrica e/ou intestinal. Isto, de infecção quando não são manuse-
presumivelmente, ocorre quando o ados, esterilizados ou trocados ade-
vazamento do gás ao redor do tubo quadamente.
endotraqueal ultrapassa a resistên- O condensado que se acumula
cia do esfíncter esofágico inferior. no circuito expiratório é contami-
Este problema pode ser resolvido ou nado por microrganismos das vias
aliviado pela introdução de uma respiratórias do paciente e, se não
sonda nasogástrica ou ajustando-se for manuseado adequadamente, po-
à pressão do balonete. de servir como fonte de infecção no-
Pneumonia: Uma epidemia de socomial. Outra importante fonte de
pneumonia nosocomial acompa- disseminação infecciosa, na unidade
nhou o surgimento da ventilação de terapia intensiva, são as mãos dos
mecânica. Pneumonia nosocomial médicos, enfermeiras e outras pes-
define-se por aquela que ocorre após soas da equipe de saúde; esta fonte
48 horas de hospitalização. Consta- pode ser bastante reduzida pelo há-
tou-se que esta situação se deveu bito de lavar as mãos e pela utiliza-
primariamente aos nebulizadores ção adequada de luvas.

27
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

Podemos classificar as pneu- Atelectasia: As causas de atelecta-


monias associadas a VM em: sia relacionadas à ventilação mecâ-
 Precoce (< 5 dias); nica estão associadas à intubação se-
 Por germes comunitários; letiva, presença de rolhas de secre-
 Por germes nosocomiais; ção no tubo traqueal ou nas vias aé-
 Tardia (> 5 dias); reas e hipoventilação alveolar.
Barotrauma: As situações como
Critérios mínimos para diag- pneumotórax, pneumomediastino e
nóstico: enfisema subcutâneo traduzem a si-
 Febre; tuação de ar extra- alveolar. A exis-
 Secreção purulenta; tência de pressões ou de volumes
 Leucocitose ou leucopenia; correntes muito elevados foi correla-
 Infiltrado pulmonar novo ou cionada ao barotrauma nos pacien-
progressivo ao RX de tórax.
tes em ventilação mecânica.
Métodos complementares de Fístula Broncopleural: O escape
diagnóstico: broncopleural persistente de ar, ou
fístula broncopleural (FBP), durante
 RX de tórax;
 Oximetria de pulso e hemo- a ventilação mecânica, pode ser con-
gasimetria arterial; sequente à ruptura alveolar espontâ-
 Hemocultura; nea ou à laceração direta da pleura
 Microbiologia do aspirado visceral. A colocação de um sistema
traqueal; de sucção conectado ao dreno de tó-
 Liquido pleural (se existir). rax aumenta o gradiente de pressão
através do sistema e pode prolongar
Diagnóstico para exclusão de o vazamento, principalmente se o
Pneumonia: pulmão não se expandir completa-
 Ausência de infiltrado pulmo- mente.
nar; É desconhecida a frequência
 Ausência de germes ou em nº de desenvolvimento de FBP como
insignificantes;
complicação direta da ventilação
 Outra possibilidade diagnósti-
ca que possa explicar a presen- mecânica. Um estudo demostrando
ça de infiltrado pulmonar; a heterogeneidade do padrão de
 Alterações anatomopatológi- comprometimento pulmonar na sín-
cas sem evidência de pneumo- drome da angústia respiratória do
nia. adulto (SARA) reforça a antiga no-

28
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

ção de que o barotrauma pode ser A SVNI diminui a necessidade


mais uma manifestação da doença de intubação e suas complicações
do que de seu tratamento, principal- associadas, como infecções nosoco-
mente quando ocorre tardiamente miais, e em situações específicas
na evolução da síndrome e quando (por exemplo, DPOC agudizado) é
existe sepse associada. capaz de reduzir a mortalidade. As-
Lesões de Pele e/ou Lábios sim, acreditamos que SVNI deva ser
(TOT, TNT e TQT): Estas ulcera- parte integrante da abordagem tera-
ções ocorrem devido ao modo de fi- pêutica inicial em pacientes com in-
xação do tubo, ao tipo de material suficiência respiratória aguda.
utilizado (esparadrapos) e à falta de Suporte ventilatório não-inva-
mobilização da cânula em intervalos sivo inclui o uso de ventilação com
de tempos regulares. pressão positiva (VPP), ventilação
Lesões Traqueais: Estas lesões com pressão negativa (VPN), leito
podem ser provocadas por fatores cinésico (rocking bed), cinta pneu-
como a alta pressão do cuff ou o tra- mática (Pneumobelt), marcapasso
cionamento dos TOT ou TQT. Pres- diafragmático (diaphragm pacing),
sões elevadas do balonete levam à respiração glossofaríngea e métodos
diminuição de atividade do epitélio não-invasivos usados na terapia de
ciliado, isquemia, necrose até fístu- higiene brônquica. Considerando as
las traqueais. características de abrangência deste
consenso, abordaremos, exclusiva-
Suporte Ventilatório não Inva- mente, os tópicos relacionados à
sivo VPP.
Aplicação na insuficiência res-
Suporte ventilatório não-inva-
piratória aguda:
sivo (SVNI) é caracterizado pela não
 Hipercapnia;
existência de via aérea artificial
 Agudização da DPOC;
(VAA) para realizar o suporte venti-  Asma;
latório. A ventilação é realizada atra-  Doenças neuromusculares;
vés de máscaras faciais ou nasais, ou  Alterações da caixa torácica
dispositivo semelhante, que funci- (traumas);
ona como interface paciente/venti-  Pós-extubação;
lador, em substituição às próteses  Agudização da fibrose cística;
endotraqueais. Tem como principais  Pacientes terminais que recu-
objetivos fornecer adequada troca sam a intubação;
gasosa e reduzir o trabalho da respi-  Hipoxêmia;
ração.

29
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

 Edema pulmonar cardiogê-  Relativa;


nico;  História recente de infarto do
 Lesão pulmonar aguda; miocárdio;
 Insuficiência respiratória pós-  Paciente não-cooperativo;
operatória;  Pós-operatório do trato diges-
 Insuficiência respiratória pós- tivo alto;
broncoscopia;  Obesidade mórbida;
 Desmame;  Má adaptação a máscara;
 Retirada precoce da prótese  Necessidade de sedação;
traqueal;  Necessidade de elevada FiO2.
 Doenças neuromusculares;
Considerar as seguintes condi-
 Distúrbios respiratórios do ções:
sono.
 Fratura facial
 Limitação de movimentos nas
Aplicação na insuficiência res-
articulações temporomandib-
piratória crônica: ulares
 Doenças neuromusculares;  Tubos nasogástricos;
 Distúrbios respiratórios do  Pelos faciais (barba e bigode);
sono;  Escape aéreo;
 Alterações de caixa torácica;  Inadequado pico de fluxo na
 Pacientes em programa de tosse (< 3 L/s);
transplante pulmonar;  Distúrbios da deglutição.
 DPOC.
Complicações:
Contraindicações:  Necrose facial;
 Insuficiência Respiratória ab-  Distensão abdominal (aerofa-
soluta; gia);
 Instabilidade hemodinâmica e  Aspiração do conteúdo
arritmias; gástrico;
 Angina instável;  Hipoxemia transitória;
 Necessidade de intubação  Ressecamento nasal, oral e de
para proteger vias aéreas. Alto conjuntiva;
risco de aspiração (por exem-  Barotrauma / Volutrauma.
plo, pacientes suscetíveis a
vômitos e que apresentarem
Estratégia inicial de uso:
importante distensão ab-
dominal);  Escolha de um ventilador que
 Trauma de face; atenda às necessidades do pa-
ciente;
 Pneumotórax não-tratado;

30
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

 Escolha da interface adequa- PEEP (Pressão Positiva ao Fi-


da; nal da Expiração): A pressão po-
 Explicar a técnica e suas van- sitiva ao final da expiração é defi-
tagens ao paciente; nida como sendo a manutenção da
 Fixar manualmente a máscara pressão alveolar acima da pressão
quando do início do método,
atmosférica, no final da expiração.
mantendo o ventilador em
modo assistido; Utilizam-se valores de PEEP varia-
 Ajustar pressão (habitualmen- dos, de 5 a 30cmH2O e praticamen-
te < 25 cmH2O de Ppico) e/ou te pode ser utilizado em qualquer
volume corrente (habitual- modalidade ventilatória. A PEEP
mente 8-10 ml/kg). mínima após intubação traqueal, ou
Ajuste da PEEP: PEEP fisiológica é de 5cmH2O e tem
 Menor PEEP que possibilite a função básica de impedir o colaba-
SatO2 > 92% e FIO2 < 60% mento alveolar. A seguir, a relação
(habitualmente < 10-15
cmH2O); dos possíveis benefícios da PEEP em
 DPOC 85% auto-PEEP (quan- diferentes condições.
do não disponível a medida da Síndrome do Desconforto Res-
auto-PEEP usar PEEP de 5 a 8 piratório Agudo (SARA) e Lesão Pul-
cmH2O); monar Aguda (LPA):
 PEEP mínima: 5 cmH2O.  Melhora da oxigenação.
 Diminuição da lesão pulmonar
Fixar a máscara de forma con- causada pelo ventilador.
fortável ao paciente, permitindo, se
necessário, vazamentos que não Doença Pulmonar Obstrutiva
comprometam a eficácia do modo Crônica (DPOC):
utilizado.  Diminuição do trabalho venti-
 Ajustar alarmes (pressão ins- latório imposto pela PEEP in-
piratória mínima e máxima, trínseca (Auto-PEEP). Objeti-
PEEP mínima, mínimo volu- vo: diminuir o trabalho venti-
me corrente e mínimo volume- latório imposto pela auto-
minuto); PEEP;
 Reavaliação constante na pri-  Valor de PEEP: 85% da auto-
meira hora; PEEP.
 Utilizar o maior tempo possí-
vel, principalmente nas pri- Asma:
meiras 24 horas.  Diminuição do trabalho venti-
latório imposto pela PEEP in-
trínseca;

31
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

 Diminuição da resistência das  Diminuição da força dos mús-


vias aéreas; culos inspiratórios.
 Diminuição do trabalho venti-
latório imposto pelo ventila- Obs: A realização destas manobras
dor Risco: piorar a hiperinsu- deve ser feita com cuidado, sendo
flação pulmonar. contraindicadas as situações de hi-
pertensão intracraniana, instabili-
A ventilação mecânica na
dade hemodinâmica ou fístula bron-
asma, na maioria das vezes, dar-se-á
copleural ativa.
por curtos períodos, estando o paci-
ente, parte destes períodos, sedado e
PEEP na SARA
até mesmo curarizado. Questiona-
mos a validade de se tentar comba-
Métodos para a escolha da
ter a auto-PEEP para diminuir o tra-
PEEP:
balho ventilatório, sob o risco de hi-
 Obtenção de PaO2 > 60
perinsuflação. Não recomendamos a
mmHg com uma FIO2 < 0,6;
utilização de PEEP acima de 5  Obtenção de shunt < 15%;
cmH2O (PEEP mínima após intuba-  Diminuição do espaço morto;
ção traqueal). Edema Agudo de Pul-  Curva pressão x volume;
mão Cardiogênico:  Curva PEEP x complacência;
 Diminuição do retorno veno-
so. Redução progressiva do valor
 Aumento da pressão intra-al- da PEEP, após recrutamento má-
veolar. ximo, avaliando-se a oximetria pul-
 Diminuição da pressão trans- so. O Consenso recomenda a realiza-
mural do ventrículo esquerdo,
ção curva pressão x volume (avali-
favorecendo seu desempenho.
ando-se a pressão de abertura pela
Efeitos Indesejáveis: relação PEEP x complacência).
 Diminuição do retorno veno- As curvas “P x V” e “PEEP x
so, podendo comprometer o complacência” podem ser realizadas
débito cardíaco, principal- nas fases inspiratória ou expiratória.
mente em situações de hipovo- Provavelmente são mais fidedignas
lemia. na parte expiratória, mas os dados
 Risco de hiperinsuflação em de literatura ainda são insuficientes.
situações de ajustes inade- Iniciar com PEEP = 10
quados da ventilação.
cmH2O, incrementos de 2 cmH2O a

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

cada 30 minutos, baseando-se na muscular, principalmente diafrag-


SaO2 e na PaO2/ FIO2. ma, nutrição, correção da doença de
Periodicidade das medidas: base, hemodinâmica, estabilidade
dependente da monitorização da da relação oferta/ demanda ventila-
PaO2/ FIO2 tória dentre outros parâmetros.

Desmame

É o processo relacionado à re-


tirada gradual do suporte ventilató-
rio mecânico que era proporcionado
ao paciente restabelecendo a sua
ventilação espontânea. O conceito
de transição gradual da ventilação
mecânica para a espontânea está
vinculado a técnicas ventilatórias
que permitem ao paciente progres-
siva readaptação à ventilação espon-
tânea em função da redução dos ci-
clos de ventilação assistida do venti-
lador artificial (p.ex. VCV – VCV/ A
– SIMV – PSV – TT – máscara fa-
cial). Recentes estudos mostraram
que, na maioria dos pacientes com
recuperação do evento agudo que
motivou a ventilação mecânica, o re-
torno gradual à ventilação espontâ-
nea é desnecessário e pode ser abre-
viado. Aproximadamente 60% a
70% dos pacientes criticamente en-
fermos e ventilados artificialmente
podem ser extubados após breve
teste de duas horas de ventilação es-
pontânea.
O protocolo de desmame deve
estar programado já no início da
VM. Atentar para o treinamento

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FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA E VENTILAÇÃO MECÂNICA

4. Referências Bibliográficas
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