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Preservação de madeiras – sistema de classes de


MADEIRA
risco
arquitetura
e engenharia Brazolin, S., Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo e Associação Brasileira
de Preservadores de Madeiras, SP. E-mail: brazolin@ipt.br
Lana, E. L., Montana Química, S.A.
Monteiro, M. B. B., Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, SP.
nº 13 artigo 5 Lopez, G. A. C., Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, SP.
Pletz, E., Universidade Estadual de Londrina, PR. E-mail: pletz2000@yahoo.com

Resumo: No contexto da revisão da norma brasileira NBR 7190/97 – Estruturas de Madeiras, a


Associação Brasileira de Preservadores de Madeira – ABPM e o Instituto de Pesquisas
Tecnológicas de São Paulo – IPT propuseram a elaboração de uma norma sobre preservação
de madeiras para auxiliar produtores e usuários do setor de construção civil para aumentar a
durabilidade de sistemas construtivos de madeira. Este trabalho apresenta uma abordagem
sistemática sobre o assunto biodeterioração e tratamento preservativo de madeira denominada
Sistema de Classes de Risco. Este sistema relaciona diferentes condições de exposição de
produtos de madeira aos possíveis agentes biológicos (fungos, insetos xilófagos e perfuradores
marinhos), definindo-se para os diferentes riscos de biodeterioração o tratamento preservativo
(produto e processo) mais adequado.

Palavras-chave: classes de risco, madeiras, norma, preservação.

MADEIRA: arquitetura e engenharia, quadrimestral, maio a agosto, 2004, ISSN 1806-6097


1. Introdução

Preservação de madeiras é o conjunto de medidas preventivas e curativas para controle de


agentes biológicos (fungos e insetos xilófagos e perfuradores marinhos), físicos e químicos que
afetam as propriedades da madeira, adotadas no desenvolvimento e na manutenção dos
componentes de madeira no ambiente construído.

O propósito do Sistema de Classes de Risco é oferecer uma ferramenta simplificada para a


tomada de decisões quanto ao uso racional e inteligente da madeira na construção civil,
fornecendo uma abordagem sistêmica ao produtor e usuário que garanta maior durabilidade
das construções.

O sistema consiste no estabelecimento de 6 classes de risco baseadas nas condições de


exposição ou uso da madeira, na expectativa de desempenho do componente e nos possíveis
agentes biodeterioradores presentes. Este sistema conduz a uma reflexão sobre as medidas
que devem ser adotadas durante fase de elaboração de projeto de uma construção e auxilia na
definição do tratamento preservativo da madeira (produto e processo) em função da condição
de uso a que ela estará exposta.

Portanto, ao se utilizar madeira como material de engenharia na construção civil, as seguintes


etapas devem ser consideradas obrigatórias:

Elaboração do projeto com foco para diminuição dos processos de instalação e


desenvolvimento de organismos xilófagos.
Definição do nível de desempenho necessário para o componente ou estrutura de
madeira, tais como: vida útil, responsabilidade estrutural, garantias comerciais e legais,
entre outras.
Avaliação dos riscos biológicos aos quais a madeira será submetida durante a sua vida
útil – ataque de fungos e insetos xilófagos e perfuradores marinhos. Conceito de classe
de risco.
Determinação da necessidade de tratamento preservativo, em função da durabilidade
natural e tratabilidade do cerne e alburno das espécies botânicas que serão utilizadas.
Definição do(s) tratamento(s) preservativos, em função das seguintes escolhas:

• Espécie botânica que deve permitir este tratamento (tratabilidade).


• Umidade da madeira no momento do tratamento.
• Processo de aplicação do produto de preservação;
• Parâmetros de qualidade necessários: retenção e penetração do produto
preservativo na madeira;
• Produto preservativo que satisfaça à classe de risco determinada.

O processo de decisão está representado pelo esquema (fig. 1):

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PROJETO
(conceito)

Definição dos níveis de Avaliação dos riscos


desempenho necessários biológicos

Definição da Classe de Risco


não

Seleção da espécie de sim Substituição


madeira da espécie
de madeira?

Determinação da
Durabilidade Natural da
espécie selecionada

sim Durabilidade não


Natural
adequada?

Madeira
Tratamento preservativo sim suficientemente não
desnecessário impregnável ?
(Tratabilidade)

Escolha do método de
tratamento e do produto
preservativo
(Considerar: umidade da
madeira e parâmetros de
qualidade do tratamento –
retenção e penetração do
produto preservativo)

Figura 1 - Processo de decisão.

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2. Projeto e construção

A durabilidade das construções de madeira demanda uma abordagem sistêmica,


contemplando todas as fases de trabalho com a madeira. Essa durabilidade depende de uma
série de fatores, dentre os quais:

• características da espécie botânica,


• processo de produção da madeira (principalmente condições da secagem e do
tratamento preservativo com produtos químicos, se for o caso),
• projeto (tipo de construção, propriedades dos materiais especificados, vida útil
pretendida),
• detalhes dos elementos (forma e dimensão das peças, nível de proteção contra os
agentes nocivos),
• processo construtivo (condições de armazenamento, qualidade da mão de obra e
técnicas construtivas),
• condições de manutenção e de utilização,
• condições desejadas para o meio ambiente.

Portanto, para se abordar a questão da durabilidade deve-se, primeiramente, para a


construção analisada, identificar todas os fatores intervenientes em todas as fases de
processamento e utilização da madeira. Deste modo, será possível conferir durabilidade com
maior eficiência e menor custo global, entendendo como custo global não apenas os aspectos
financeiros, mas também sociais, humanos e ambientais. Em resumo, conferindo durabilidade
sob o enfoque da sustentabilidade.

A durabilidade das construções de madeira, enfocada pelo ângulo do projeto e da construção,


deve incluir projetistas e construtores no grupo dos seus responsáveis e obedecer aos
seguintes princípios:

• Diminuir a ação do sol através de medidas construtivas.


• Isolar a construção das fontes de umidade ou, minimamente, limitar a permanência da
água sobre a madeira.
• Limitar o uso de aberturas e furos por onde a água possa penetrar e infiltrar.
• Criar barreiras que impeçam a absorção de água por capilaridade.
• Usar madeiras com teores de umidade compatíveis com o meio em que serão aplicadas.
• Diminuir a variação do teor de umidade da madeira por meio da proteção de suas
superfícies. Durante a construção, o armazenamento deve ser tal que não ocorram
variações nos teores de umidade.
• Usar madeira que apresente durabilidade natural compatível com a classe de risco
requerida, ou que tenha recebido tratamento químico adequado.
• Utilizar peças de madeira cujas faces superiores sejam inclinadas.
• Criar pingadeiras naturais.
• Evitar o represamento e facilitar a drenagem da água.
• Elaborar medidas diferenciadas para locais que favorecem a condensação da água (por
exemplo, vidros em esquadrias de madeira.
• Facilitar a limpeza e a ventilação das peças de madeira.
• Dificultar a ocorrência de sujeira e lixo sobre a construção de madeira.
• Dimensionar adequadamente as peças de madeira para o alojamento dos elementos de
ligação evitando o aparecimento de fissuras, que são comprometedoras da vida útil.
• Proteger os topos das peças de madeira.
• Preferir as peças cujas dimensões transversais sejam as menores possíveis, porque os
problemas de secagem, que comprometem a durabilidade da madeira, crescem na
medida em que estas dimensões aumentam.
• Tratar contra a corrosão, quando necessário, os elementos metálicos em contato com a
madeira, dependendo da classe de riscos em que a construção estiver enquadrada. A
presença da água contribui para a corrosão. A possibilidade de ocorrência de corrosão

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galvânica e por tensão deve ser considerada. Locais destinados a armazenamento de
produtos químicos (sais, fertilizantes, etc.) oferecem particularmente riscos significativos
de corrosão.

Deve-se exigir, para cada classe de risco, um programa de manutenção, que considere as
particularidades de determinada situação, cotejando os fatores responsáveis pela vida útil da
construção. Além disso, deve-se atribuir usuários e aos responsáveis pelos programas de
manutenção, responsabilidade pela durabilidade, ampliando o espectro de participantes no
processo.

3. Sistema de classes de risco

Ao optar pelo uso da madeira em determinada situação é necessário, em primeiro lugar,


conhecer corretamente o seu emprego. Na etapa de projeto deve-se, na medida do possível,
conceber a obra de tal maneira que a umidade da madeira seja sempre a menor possível, a fim
de limitar os riscos de biodeterioração. A seguir, deve-se determinar a classe de riscos
biológicos a que a madeira será submetida.

Esta norma define seis classes de riscos biológicos que representam, nas condições
brasileiras, seis diferentes situações de exposição da madeira e de produtos derivados da
madeira, em serviço. O objetivo desta classificação é auxiliar na escolha das espécies
botânicas, dos produtos preservativos e dos métodos de tratamento mais adequados a cada
situação. A tab. 1 mostra as classes de risco propostas.

Tabela 1 – Classes de risco para uso da madeira na construção civil


CLASSE DE
CONDIÇÃO DE USO ORGANISMO XILÓFAGO
RISCO (CR)
Interior de construções, fora de contato com o solo,
fundações ou alvenaria, protegidos das intempéries, das Cupins-de-madeira-seca
1
fontes internas de umidade. Locais livres do acesso de Brocas-de-madeira
cupins-subterrâneos ou arborícolas.
Cupins-de-madeira-seca
Interior de construções, em contato com a alvenaria, sem
Brocas-de-madeira
2 contato com o solo ou fundações, protegidos das
Cupins-subterrâneos
intempéries e das fontes internas de umidade.
Cupins-arborícolas
Cupins-de-madeira-seca
Brocas-de-madeira
Interior de construções, fora de contato com o solo e
Cupins-subterrâneos
3 continuamente protegidos das intempéries, que podem,
Cupins-arborícolas
ocasionalmente, ser expostos a fontes de umidade.
Fungos emboloradores/manchadores
Fungos apodrecedores
Cupins-de-madeira-seca
Brocas-de-madeira
Uso exterior, fora de contato com o solo e sujeitos a Cupins-subterrâneos
4
intempéries. Cupins-arborícolas
Fungos emboloradores/manchadores
Fungos apodrecedores
Cupins-de-madeira-seca
Brocas-de-madeira
Contato com o solo, água doce e outras situações
Cupins-subterrâneos
5 favoráveis à deterioração, como engaste em concreto e
Cupins-arborícolas
alvenaria.
Fungos emboloradores/manchadores
Fungos apodrecedores
Perfuradores marinhos
6 Exposição à água salgada ou salobra. Fungos emboloradores/manchadores
Fungos apodrecedores

As tab. 2, 3, 4 e 5 relacionam as possíveis aplicações da madeira serrada, laminada, roliça e


painéis como material de engenharia para uso na construção civil com as classes de risco
prováveis. No caso dos painéis foram considerados apenas os seguintes produtos: painel

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aglomerado, painel de madeira compensada, MDF (“Medium Density Fiberboard”), HDF (“Hard
density fiberboard”) e OSB (“Oriented Strand Board”).

Tabela 2 – Madeira serrada


APLICAÇÃO CLASSE DE RISCO
Assoalho 2e3
Bandeira (porta e janela) 2, 3 e 4
Barrote 2e3
Batentes 2, 3, 4 e 5
Carretel/Bobinas 1, 2, 3 e 4
Cercas 4e5
Colunas 2, 3, 4, 5 e 6
Corrimão 2, 3 e 4
Cruzeta 4
Defensa 5e6
Deque 3e4
Dormente 5
Embalagens (não-descartáveis) 1, 2, 3 e 4
Escada 2, 3, 4 e 5
Estacas 5
Estrutura de telhado (*) 2, 3 e 4
Forro 2e3
Fundação 5e6
Guarda-corpo 2, 3 e 4
Guarda-roda, guarda-trilho 4e5
Guarnições 2, 3 e 4
Janela 1, 2, 3 e 4
Lambri 2e3
Montante 2e3
Móveis 1, 2, 3 e 4
Ornamentos 2, 3 e 4
Pérgola 4e5
Playground 4e5
Ponte/passarela (**) 4, 5 e 6
Porta 1,2 e 3
Parede (***) 2, 3 e 4
Rodapé 2, 3 e 4
Soleira 2, 3 e 4
Tabeira 4
Telhas (shingles) 4
Torre de resfriamento (****) 5
Viga 2, 3 e 4
Viga baldrame 5

Tabela 3 – Madeira laminada


APLICAÇÃO
CLASSE DE RISCO
Arco 2, 3 e 5
Coluna 2, 3, 4, 5 e 6
Ponte/passarela (**) 4, 5 e 6
Poste (energia e telefonia) 5
Viga 2, 3 e 4

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Tabela 4 – Madeira roliça

APLICAÇÃO CLASSE DE RISCO


Cerca 4e5
Coluna 2, 3, 4 e 5
Cruzeta 4
Defensa 5e6
Dormente 5
Estrutura de telhado (*) 2, 3 e 4
Fundação 5e6
Guarda-roda; guarda-trilho 4e5
Moirões/Lasca 5
Móveis 1, 2, 3, 4 e 5
Playground 4e5
Ponte/passarela (**) 4, 5 e 6
Poste (energia e telefonia) 5
Tabuleiro 4

Tabela 5 – Painéis de madeira

APLICAÇÃO CLASSE DE RISCO


Assoalho 2, 3, 4 e 5
Embalagens (não-descartáveis) 1, 2, 3, e 4
Móveis 1, 2, 3 e 4
Parede (***) 2, 3 e 4
Telha (shingles) 4
Telhado (subcobertura) 2e3
Viga-caixão 2, 3 e 4

Notas das tab. 2, 3, 4 e 5:


(*) cumeeira, frechal, ripa, terça, tesoura, tirante, travamento e/ou caibro.
(**) tabuleiro, fundação, peças estrutural, guarda-corpo e/ou corrimão.
(***) contraventamento, montante, revestimento (siding).
(***) parede divisória, colunas, vigas e/ou ripas do eliminador de respingos e do
enchimento.
3.1. Seleção da espécie da madeira

A escolha da(s) espécie(s) de madeira (s) para um determinado uso é uma das etapas mais
importantes a serem cumpridas. Para que haja um bom desempenho do material é necessário
definir os requisitos de qualidade da madeira, necessários ao uso pretendido (propriedades
físicas e mecânicas, durabilidade natural, tratabilidade com produtos preservativos, fixação
mecânica, etc.). Ao identificar a espécie de madeira, podemos buscar essas informações na
bibliografia.

As definições dadas a seguir norteiam os critérios essenciais para a escolha correta da espécie
de madeira para evitar sua biodeterioração:

3.1.1. Durabilidade natural do cerne

Diz-se da durabilidade intrínseca da espécie botânica de madeira, ou seja, de sua resistência


ao ataque de organismos xilófagos (insetos, fungos e perfuradores marinhos).

De modo geral, o conceito de durabilidade natural está sempre associado ao cerne da espécie
de madeira, na medida em que, na prática, o alburno de todas as espécies de madeira é
considerado não durável ou perecível.

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O tratamento preservativo faz-se necessário se a espécie escolhida não é naturalmente
durável para a classe de riscos biológicos considerada e/ou se a madeira contém porções de
alburno.

3.1.2. Tratabilidade

Quando o tratamento se faz necessário, a sua execução depende da tratabilidade


(impregnabilidade) da madeira, que, da mesma forma que a durabilidade natural, é uma
característica intrínseca da espécie botânica. Na medida em que a espécie proposta não é
suficientemente tratável ou impregnável, não é possível ter-se certeza quanto ao seu tempo de
vida útil. Mais vale, nestes casos, optar pela utilização de outra espécie, mais adequada.

3.2. Escolha do método de tratamento e do produto preservativo

As técnicas de preservação química consistem basicamente, em introduzir, através de


processos adequados, produtos químicos dentro da estrutura das madeiras, visando torná-la
tóxica aos organismos que a utilizam como fonte de alimentos. A escolha do processo e do
produto preservativo dependerá, principalmente, do tipo de madeira e das condições de
utilização das mesmas.

O valor de um tratamento preservativo depende da harmonização de cinco fatores:


- Da tratabilidade ou impregnabilidade da madeira, característica da essência escolhida.
- De sua umidade no momento do tratamento.
- Das características e possibilidade de emprego do produto preservativo de madeira.
- Do método de tratamento.
- Da retenção e penetração do produto preservativo na madeira.

3.2.1. Produtos preservativos

Os produtos preservativos são definidos como sendo substâncias ou formulações químicas, de


composição e características definidas, que devem apresentar as seguintes propriedades:

- Eficiência na prevenção ou controle de organismos xilófagos;


- Segurança em relação ao homem e ao meio ambiente;
- Permanência na madeira (não deve perder-se na madeira por decomposição,
evaporação, lixiviação, exsudação ou outros);
- Não corrosivo;
- De custo acessível (competitivo);
- Disponível no mercado;
- Não deve alterar as propriedades físicas e mecânicas da madeira.

Outras características, além das mencionadas, poderão ser essenciais, o que poderá ser
determinado pelas particularidades de uso da madeira.

A seleção adequada de um produto preservativo é a primeira condição para conferir proteção a


uma madeira de baixa durabilidade natural. Os preservativos de madeira podem ser agrupados
em três categorias: Oleosos: produtos essencialmente representados pelos derivados do
alcatrão de hulha; Oleossolúveis: produtos contendo misturas complexas de agentes fungicidas
e/ou inseticidas, a base de compostos de natureza orgânica e/ou organometálica e os
Hidrossolúveis: produtos contendo misturas mais ou menos complexas de sais metálicos.
Alguns autores reúnem os preservativos oleosos com os oleossolúveis numa categoria. A
importância de tal critério é meramente didática, pois as modernas técnicas de produção de
emulsões tiram muito do valor desse critério estabelecido com base na natureza química do
solvente utilizado como veículo.

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Deve-se considerar a busca de produtos preservativos de menor impacto ao meio ambiente e à
higiene e segurança, a disponibilidade de produtos no mercado brasileiro, os aspectos
estéticos (alteração de cor da madeira, por exemplo), aceitação de acabamento, e a
necessidade de monitoramento contínuo.

Nesta norma, foram citados apenas os princípios ativos registrados devidamente no


IBAMA/ANVISA para uso como preservativo de madeira e tratamento preventivo superficial,
sob pressão e para adição à cola de painéis. Estas informações foram encaminhadas em
07/07/2003, pelo IBAMA.

3.2.2. Métodos de tratamento

Igualmente importante é a seleção do método de aplicação. Produto algum poderá conferir


proteção satisfatória à madeira se não for corretamente aplicado. Dependendo da classe de
risco à qual o componente de madeira estará sujeito na edificação, a aplicação dos produtos
preservativos poderá ser efetuada com base nos seguintes processos: sem pressão, isto é,
impregnação superficial da madeira, ou com pressão, isto é, impregnação profunda da
madeira, por aplicação do preservativo em autoclave, disponível em usinas de preservação de
madeiras.

Os processos sem pressão, ou superficiais, caraterizam-se por não utilizarem pressão externa
para forçar a penetração do preservativo na madeira, portanto, proporcionam baixa retenção e
penetração do produto preservativo na madeira. A impregnação é baseada nos princípios da
difusão e/ ou da capilaridade, os quais proporcionam uma penetração do preservativo quase
que superficial, na maioria das vezes. Como efeito, conferem à madeira uma proteção limitada
contra os organismos xilófagos, sendo recomendados para a preservação de peças que
estarão sujeitas a baixos riscos de deterioração biológica (Classes de Risco 1, 2 e 3,
principalmente).

Essas considerações referem-se ao uso de produtos preservativos oleosos, oleossolúveis ou


emulsionáveis aplicados às madeiras secas (teor de umidade abaixo de 30% na base seca),
pelos processos de aspersão, imersão e pincelamento; e preservativos hidrossolúveis com
propriedades difusíveis, aplicados às madeiras úmidas (acima de 30%) por estes processos. O
pré-tratamento de toras e madeira recém-serrada para controle de fungos emboloradores e
manchadores de madeira durante período de secagem natural e os tratamentos curativos de
peças de madeira atacadas por organismos xilófagos requerem definições e condições de
serviço especiais de uso e, portanto, não foram inseridos nesta norma de Classe de Risco.

Os processos de impregnação que utilizam pressões efetivas para forçar a penetração do


preservativo são os mais eficientes para a preservação da madeira. Eles promovem a
distribuição e penetração mais uniforme do produto preservativo em todas partes permeáveis
da madeira. com teor de umidade abaixo do ponto de saturação das fibras (~30%), além de
favorecer o controle da quantidade de preservativo absorvido (nível de retenção) para uma
proteção ampla da madeira, mesmo em condições de alto risco de deterioração biológica.
Estes processos são realizados em instalações industriais, denominadas usinas de
preservação de madeiras. De um modo geral, pode-se dividir os processos sob pressão em
duas categorias: Célula Cheia e Célula Vazia.

3.2.2.1. Retenção e penetração do produto preservativo

Os principais parâmetros de qualidade para a madeira preservada são a penetração e a


retenção do preservativo absorvido no processo de tratamento.

A penetração é definida como sendo a profundidade alcançada pelo preservativo ou pelo(s)


seu(s) ingrediente(s) ativo(s) na madeira, expressa em milímetros (mm). Já a retenção é a
quantidade do preservativo ou do seu(s) ingrediente(s) ativo(s), contida de maneira uniforme

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num determinado volume da madeira, expressa em quilogramas de ingrediente ativo por metro
cúbico de madeira tratável (kg/ m³).

A especificação de um tratamento preservativo, baseado nas classes de risco, deve requerer


penetração e retenção adequadas que dependem do método de tratamento escolhido. As
normas técnicas e a experiência do fabricante podem relacionar estes parâmetros de qualidade
do tratamento, considerando minimamente:

• quanto maior a responsabilidade estrutural do componente de madeira, maior deverá ser


a retenção e penetração do produto preservativo;
• uma maior vida útil está normalmente associada a uma maior retenção e penetração do
produto;
• algumas classes de risco, por exemplo a CR 5, incluem uma gama grande de condições
de exposição (moirões, torres de resfriamento....), portanto, diferentes retenções e
penetrações podem ser selecionadas;
• para uma mesma classe de risco, diferenças de micro e macroclima entre regiões, podem
exigir maiores retenções e penetrações;
• a economia em manutenção e a acessibilidade para reparos ou substituições de um
componente podem exigir maiores retenções e penetrações;
• o controle de qualidade de toda a madeira preservada deverá ser realizado para garantir
os principais parâmetros de qualidade: penetração e a retenção do preservativo absorvido
no processo de tratamento.

As tab. 6, 7, 8, e 9 apresentam as combinações entre os produtos preservativos e os processos


de impregnação preconizados para a preservação da madeira em função das Classes de Risco
de deterioração biológica.

Tabela 6 – Classes de risco 1 e 2


RETENÇÃO
MÉTODO DE NATUREZA DO PRESERVATIVO
APLICAÇÃO MÍNIMA PENETRAÇÃO
TRATAMENTO PRESERVATIVO (Inseticida) 3
kg/m (i.a.)
Clorpirifós
Pincelamento
Cipermetrina
(d)
Deltametrina
Clorpirifós
Lindane
Imersão (d)
Cipermetrina Superficial
Madeira Deltametrina Não disponível
serrada, Clorpirifós (b)
Aspersão (d)
roliça, Deltametrina
laminada e Deltametrina
Injeção (d)
Painéis Cipermetrina
Imersão
Não disponível
Prolongada / Inseticida CCB
(a) (b)
Difusão (a) (d) resistente a
perdas por CCA - C 4,0 kg/m3
100 % do alburno e
evaporação CCB 6,5 kg/m3 (g)
Sob pressão porção permeável
Óleo creosoto do cerne
130 kg/m3
(e) (f)
Lindane 0,2 (b) (c)
Cipermetrina 0,1 (b) (c)
Deltametrina 0,02 (b) (c)
Adição à cola Heptacloro
Painéis Incorporado à cola
(d) Clorpirifós
Não disponível
Endossulflan
(b)
Fipronil
Ciflutrin

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Tabela 7 – Classes de risco 3 e 4 (h)
PRESERVATIVO RETENÇÃO
MÉTODO DE NATUREZA DO
APLICAÇÃO MÍNIMA PENETRAÇÃO
TRATAMENTO PRESERVATIVO Inseticida Fungicida 3
kg/m (i.a.)
Clorpirifós
Pincelamento Tribromofenol
Cipermetrina
(d) (h) IPBC
Deltametrina
Clorpirifós
Imersão (d) Lindane Tribromofenol
(h) Cipermetrina IPBC Superficial
Não
Deltametrina
Inseticida e disponível
Madeira Aspersão (d) Clorpirifós
fungicida pouco Tribromofenol (b)
serrada, (h) Deltametrina
ou não lixiviável e
roliça, Deltametrina
Injeção (d) (h) resistente a -
laminada e Cipermetrina
perdas por
Painéis Imersão evaporação Não disponível
Prolongada / CCB
(a) (b)
Difusão (a) (d)
CCA - C 4,0 kg/m3 100 % do
6,5 kg/m3 alburno e
Sob pressão CCB (g) porção
permeável do
Óleo creosoto (e) (f) 130 kg/m3
cerne
Lindane 0,2 (b) (c)
Cipermetrina 0,1 (b) (c)
Deltametrina 0,02 (b) (c)
Inseticida
Adição à cola resistente a Heptacloro Incorporado à
Painéis -
(d) (h) perdas por Clorpirifós cola
evaporação Não
Endossulflan disponível
Fipronil (b)

Ciflutrin

Tabela 8 – Classe de risco 5


RETENÇÃO
MÉTODO DE NATUREZA DO
APLICAÇÃO PRESERVATIVO MÍNIMA PENETRAÇÃO
TRATAMENTO PRESERVATIVO 3
kg/m (i.a.)
CCA - C 6,5 kg/m3
inseticida e
Madeira 9,6 kg/m3 (g) 100 % do
fungicida não CCB (j)
serrada, roliça, 13,6 kg/m3 (i) alburno e
lixiviável e
Sob pressão laminada e porção
resistente a
Painel Óleo creosoto 130 kg/m3 permeável do
perdas por
compensado (e) (f) (k) 160 kg/m3 (g) cerne
evaporação
192 kg/m3 (i)

Tabela 9 – Classe de risco 6


RETENÇÃO
MÉTODO DE NATUREZA DO
APLICAÇÃO PRESERVATIVO MÍNIMA PENETRAÇÃO
TRATAMENTO PRESERVATIVO 3
kg/m (i.a.)
inseticida e CCA 40,0 kg/m3
Madeira 100 % do
Sob pressão fungicida não 400,0 kg/m3
serrada, Óleo creosoto alburno e
lixiviável e ou “refusal”
Madeira roliça e porção
Sob pressão resistente a CCA e 24 kg/m3
Painel permeável do
tratamento
compensado
perdas por 320 kg/m3 cerne
evaporação Óleo creosoto
duplo (l) ou “refusal”

Notas das tabelas 6, 7, 8 e 9:

a) O processo de imersão prolongada com produtos preservativos hidrossolúveis com


propriedades difusíveis devem ser aplicados às madeiras úmidas/verdes (acima de 30%). A
penetração e retenção do produto na madeira dependem de fatores, tais como:

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permeabilidade, espécie e umidade da madeira, natureza e concentração do produto
preservativo, tempo de imersão, temperatura ambiente entre outros.
b) Ensaios de eficiência do produto preservativo devem ser exigidos dos fabricantes.
c) Produtos preservativos e valores de retenção sugeridos pela Associação Brasileira de
Preservadores de Madeira – ABPM para o Programa Nacional de Qualidade da Madeira –
PNQM da ABIMCI.
d) Em locais de ocorrência de cupins-subterrâneos e/ou cupins arborícolas (Classe de Risco
2), recomenda-se a adoção de medidas complementares de controle, tais como, tratamento
do solo, iscas, reaplicação periódica, quando pertinente, e/ou monitoramento continuado.
e) Não recomendado para uso em interior de residências
f) Para evitar o problema de exsudação do creosoto da madeira tratada, sugere-se tratamento
com retenção máxima de 200 kg/m3 ou uso do conceito/produto creosoto limpo (Fernandes
& Solé, 1992).
g) Componentes estruturais de difícil manutenção, reparo ou substituição e críticos para o
desempenho e segurança do sistema construtivo. Ex. cruzetas, postes, colunas entre
outras.
h) Para a Classe de Risco 4, os tratamentos superficiais (pincelamento, imersão, aspersão,
injeção e adição à cola) só podem ser adotado em estruturas com rápida drenagem
superficial. Além disso, torna-se necessário o uso de produto preservativo com ação
inseticida, fungicida e resinas hidrorrepelentes na formulação e/ou a aplicação de um
acabamento apropriado para madeira, como “stains”, para minimizar a lixiviação e
evaporação do produto preservativo.
i) Componentes estruturais críticos, como estacas de fundações totalmente ou parcialmente
enterrados no solo ou em contato com água doce, utilizados em locais de clima severo e
ambiente com alto potencial de biodeterioração por fungos e insetos xilófagos.
j) O produto preservativo CCB não é recomendado para madeira em contato com água doce.
k) A norma NBR 9840/1986 – Moirões de madeira preservada para cercas, estabelece a
retenção mínima de 100 kg/m3.
l) O método de duplo-tratamento com os produtos preservativos CCA e creosoto deve ser
adotado em regiões de ocorrência de Sphaeroma terebrans e Limnoria tripunctata e na
ausência de informações sobre estes organismos xilófagos no local de uso da madeira.

4. Precauções gerais

• Adotar a classe de risco mais agressiva quando diferentes partes de um mesmo


componente apresentam diferentes classes de risco.
• Situações em que um componente fora de contato com o solo for submetido a intenso
umedecimento, considerar uma situação equivalente ao contato com o solo ou água
doce.
• Componentes inacessíveis quando em serviço ou quando sua falha apresente
conseqüências sérias, é aconselhável considerar o uso de madeira de alta durabilidade
natural ou um tratamento preservativo que proporcione maior retenção e penetração do
produto preservativo na madeira.
• A diferente durabilidade natural e tratabilidade do alburno e cerne devem ser sempre
consideradas.
• Se o risco de lixiviação do produto preservativo existe, considerar a proteção dos
componentes durante construção e/ou transporte.
• Fatores como manuseio das peças tratadas, práticas durante a construção, integridade
de acabamentos ou compatibilidade do produto preservativo com o acabamento, podem
afetar o desempenho da madeira preservada.

5. Bibliografia consultada

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Processing and Treatment Standard.

MADEIRA: arquitetura e engenharia, quadrimestral, maio a agosto, 2004, ISSN 1806-6097


American Wood Preservers’ Association (2002). AWPA U1-02 – Use Category System: User
Specification for Treated Wood.

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Preservada.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986). NBR 9480 – Mourões de Madeira


Preservada para Cercas.

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Preservado para Redes de Distribuição de Energia Elétrica.

Australian/New Zealand Standard (2002). AS/NZS 1604.3 – Specification for preservative


treatment. Part 3: Plywood.

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Definition of hazard classes of biological attack – Part 3. Aplication to wood-based palnels.

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against biological attack. – Part 1. Classification of hazard classes.

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against biological attack. – Part 2. Guide to the aplication of hazard classes to solid wood.

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Centre Technique du Bois et de l' Ameublement - CTBA. Paris, França. out/1989 - jul/1990. 87
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Part 1.1 – General Rules and Rules for Building. Bruxelas, Belgica.

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Henriksen, K. (1997) Guidelines for Wood Protection by Design and Chemical Wood Protection
of Timber Bridges. Nordic Timber Council. Estocolmo, Suécia.

Kropf , F.W. – Durabilidade e Detalhes de Projeto - O resultado de 15 anos de Contínua


Implementação – Madeira Arquitetura e Engenharia – ano 1- número 1- 2000

Lelis, A. T. (2001). Biodeterioração de Madeiras em Edificações. São Paulo. Instituto de


Pesquisas Tecnológicas. Publicação IPT 2686. 54 p.

Lepage, E. S. (1986). Manual de Preservação de Madeiras. Volumes I e II. São Paulo. Instituto
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de São Paulo. Publicação IPT 1637

Nunes, L. M. R.; Souza, P. P. (1995) – Timber engeneering - STEP1- Durability – Preservative


Treatment – lecture A15.

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