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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

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P RO C ESSO T C - 01.497/06
PROCESSOANEXADO TC 03.182/04.
Administração direta municipal PRESTAÇÃO DE
CONTASANUAL da MESA da CÂMARA MUNICIPAL de
QUEIMADAS, correspondente ao exercicio de 2005.
Irregularidade; imputação de débito e aplicação de
multa; encaminhamento de cópia desta decisão para
juntada à prestação de contas do exercício de 2006, a
fim de subsidiar a análise do consumo de combustível,
naquele exercício; comunicação ao INSS acerca do não
recolhimento integral das contribuições patronais, para
adoção das providências cabíveis; remessa de cópia dos
autos à Procuradoria Geral de Justiça do Estado, para
efeito de apuração de eventuais atos de improbidade
administrativa e condutas delituosas.

1. RELATÓRIO
1.01. O órgão de instrução deste Tribunal, nos autos do PROCESSO TC-Ol.497/06,
analisou a PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAL, relativa ao exercício de 2005, de
responsabilidade da MESA da CÂMARA de VEREADORES do MUNICíPIO de
QUEIMADAS, sob a Presidência da Vereadora Sra. MARIA DO CARMO SOUZA e
emitiu o relatório de fls. 85 a 90, com as colocações a seguir resumidas:
1.1.01. Apresentação no prazo legal e de acordo com a RN-TC-99j97.
1.1.02. A Lei Orçamentária Anual do Município estimou os repasses ao Poder
Legislativo em R$625.617,00 e fixou as despesas em igual valor.
1.1.03. As transferências recebidas pela Câmara foram de R$602.711,37 e a
despesa executada no exercício somou R$602.670,57, resultando superávit
de R$40,80.
1.1.04. As receitas e despesas extra-orçamentárias totalizaram respectivamente
R$41.883,87 e R$41.924,67, representadas por depósito e consignações
diversas.
1.1.05. A despesa total do legislativo representou 8,02% da receita tributária e
transferências efetivadas no exercício anterior; dada à insignificância da
ultrapassagem de 0,02 ponto percentual do limite exigido (8,0%),
considera-se atendido o disposto no Art. 29-A1, inciso I da Constituição
Federal.

Constituicão Federal
1 Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos
com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das
transferências previstas no § 52 do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exercício anterior: (Incluído
pela Emenda Constitucional nO 25. de 2000).
I - oito por cento para Municípios com população de até cem mil habitante
Constitucional nO25. de 2000).
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PROCESSO TC - 01.497/06
1.1.06. Houve despesa sem licitação no valor de R$22.900,00, relativa a serviços
de assessoria contábil (R$14.440,00) e locação de veículo (R$8.500,00), o
correspondente a 11,79% do total da despesa orçamentária.
1.1.07. A despesa com pessoal da Câmara representou 3,0% da receita corrente
líquida do município, cumprindo o Art. 20, inciso Ill da Lei de
Responsabilidade Fiscal e correspondeu a 80,25% das transferências
recebidas, ultrapassando o limite (70%) disposto no Art. 29-A, § 1°, da
Constituição Federal.
1.1.08. O balanço financeiro não apresentou saldo para o exercício seguinte.
1.1.09. Normalidade da remuneração dos vereadores, exceto a do Vereador
Presidente que corresponde a 41,08% da remuneração do Deputado
Estadual (Presidente da Assembléia Legislativa), descumprido o limite
máximo (30%) disposto no art. 29, inciso VI alínea b da Constituição
Federal, o excesso totalizou R$16.838,88.
1.1.10. Os relatórios de gestão fiscal (RGF), relativos aos dois semestres foram
encaminhados a este Tribunal dentro do prazo legal, contendo todos os
demonstrativos previstos nas Portarias da Secretaria do Tesouro Nacional;
não houve comprovação da publicação dos mesmos; houve divergência na
informação quanto aos gastos com pessoal.
1.1.11. Foi escriturado como obrigação patronal, o total de R$21.357,27, todavia o
valor correto seria R$91.195,97, resultante do cálculo percentual (21%)
incidente sobre os vencimentos e vantagens fixas (R$434.266,51),
deixando portanto de ter sido repassado ao INSS, R$69.838,70.
1.02. Notificado, o interessado veio aos autos com defesa e documentos (fls. 96 a 108),
analisados pela Auditoria que entendeu; retificados para 75,47%, o percentual dos
gastos com a folha de pagamento e para 3,80%, o percentual das despesas não
licitadas; inalteradas as demais irregularidades.
1.03. Foram anexados aos presentes autos, os do processo TC - 05.251/07, referente à
denúncia formulada pelo vereador Raimundo Lopes de Farias quanto a supostas
irregularidades cometidas pela presidente da Câmara, referente ao biênio
2005/2006, tendo a Auditoria após realização de inspeção "in loco", no período de
29 a 31 de outubro de 2007 concluído, quanto ao exercício de 2005, pelo excesso
no consumo de combustível, no valor de R$13.088,53, despesas excessivas, no
valor de R$7.700,00 com locação do veículo Corsa Sedan placa MOE 1160 e
despesas desnecessárias com locação avulsa de veículos, no valor de R$1.480,00;
quanto à verba suplementar para reforma da Câmara Municipal, a matéria está
sendo apurada no Processo TC nO. 03.941/06.
1.04. Notificada acerca dos novos fatos apurados, a interessada não veio aos autos para
apresentar defesa.
1.05. O processo foi agendado para esta sessão com notificação da interessada e sem
parecer prévio do Ministério Público junto ao Tribunal.
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2.VOTO DO RELATOR
Quanto à não comprovação da publicação dos Relatórios de Gestão Fiscal, a
irregularidade contraria os Arts. 52 caput e 55, lU, "c", § 2°. da LRF; punível com multa
correspondente a 30% do valor da remuneração anual percebida pelo gestor, nos termos
do art. 5°. da Lei nO. 10.028/00,2. No entanto, a penalidade não será aplicada no
presente caso, em virtude de decisão desta Corte de Contas, consubstanciada no Parecer
Normativo PN - TC 12/2006 que uniformiza a interpretação e análise, pelo Tribunal, da
aplicação dessa multa a partir do exercício financeiro de 2006.
Quanto às despesas não licitadas no valor de R$22.000,00, R$14.400,00 se refere
à contratação de assessoria contábil. Considerando que este Tribunal tem acatado como
inexigibilidade de licitação serviços desta natureza, restou como despesa não licitada
R$8.500,00, referente à locação de veículo.
Quanto à denúncia acerca dos gastos com a reforma da Câmara Municipal, a
matéria foi analisada no Processo TC nO. 03.941/06, tendo este Tribunal, na sessão de 18
de março de 2008, a julgado improcedente.
A locação de veículo refere-se a um veículo Corsa Sedan placa MOE 1160, tendo sido
pago no exercício de 2005, R$12.600,00, referentes aos meses de maio a dezembro,
R$22.000,00 no exercício de 2006, perfazendo o total de R$34.500,00. A Auditoria
considerando que a despesa não foi licitada; considerando ainda, que no mês de maio
havia sido pago o valor de R$600,00 pela locação do veículo Corsa Sedan e a partir de
julho o valor passou para R$1.700,00, adotou como parâmetro o preço praticado no mês
de maio para cálculo do sobrepreço, no total de R$7.700,00.
Em pesquisa ao SAGRES3 (fls. 271), em uma amostra de 10 (dez) câmaras
municipais (fls. 254 a 263), verifica-se que os preços com locação de veículo no exercício
de 2005, dependendo do tipo de veículo, variaram entre R$1.200,00 a R$2.000,00, daí
não vislumbro sobrepreço na despesa ora questionada, todavia considerando o valor das
despesas realizadas no exercício seguinte é pertinente questionar o caráter anti-
econômico da despesa, tendo em vista que o total desembolsado (R$34.500,00) equivale
ao preço de um veículo similar novo. Além disso, o não procedimento Iicitatório da
despesa contribuiu para que não se efetivasse a escolha, pela Administração Pública, do
menor preço.
Quanto aos gastos de combustível, a Auditoria adotou como consumo aceitável
anual o valor de R$2.820,00 correspondente a 1.200 litros, considerando dias e meses de
utilização, bem como o deslocamento diário em km, apontando como excessivo o total de
R$13.088,53.

2 2 Art. SQConstitui infração administrativa contra as leis de finanças públicas:


I - deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legislativo e ao Tribunal de Contas o relatório de gestão fiscal, nos prazos e
condições estabelecidos em lei;
( ...)
§ lQA infração prevista neste artigo é punida com multa de trinta por cento dos vencimentos anuais do açenteque
lhe der causa, sendo o pagamento da multa de sua responsabilidade pessoal. '\
§ 2Q A infração a que se refere este artigo será processada e julgada pelo Tribunal de Contas a que competir a fisc llzação
contábil, financeira e orçamentária da pessoa jurídica de direito público envolvida.

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Este Tribunal tem se posicionado pela não imputação de débito desta natureza,
dada a ausência de parâmetros, entretanto consultando o SAGRES, um fato chama a
atenção: pesquisadas 08 (oito) câmaras de municípios, no exercício de 2005, do porte de
Queimadas e até maiores, a exemplo de Cajazeiras e Mamanguape, verifica-se que a
média destes gastos é de R$8.173,81, enquanto que os do Município de Queimadas
totalizaram R$15.908,53, correspondente a 7.206,57 litros de gasolina, conforme notas
fiscais anexadas aos autos (fls. 131 a 176).
Considerando 12 km rodados por litro para o veículo utilizado pela Câmara,
durante os 365 dias do ano, chega-se a um exorbitante total de 86.479 km, o que daria
7.207km por mês. Observe-se que o funcionamento da Câmara ocorreu no período de 10
de março a 31 de maio e 10 de agosto a 30 de outubro de 2005, ou seja, durante 06
(seis) meses. Desta forma, adotando-se como parâmetro a média verificada em outras
Câmaras de municípios de porte (coeficiente e população) do município de Queimadas,
entendo ter ocorrido excesso nestes gastos, no valor de R$8.701,96 (oito mil e setecentos
e um reais e noventa e seis centavos). Ressalta-se que no exercício de 2006 estes gastos
somaram R$18.858,29 e no exercício de 2007 alcançaram apenas R$7.596,88, ou seja,
houve redução de 59,72% em relação ao exercício de 2006 (fls. 271 A e 2718). E
oportuno registrar que por determinação do Presidente deste Tribunal, cópia da denúncia
que abrange também o exercício de 2006, foi anexada aos autos da Prestação de Contas
daquele exercício para apuração destes gastos.
Feitas estas verificações, remanesceram ao final da instrução as irregularidades a
seguir:
I. Quanto à Gestão Fiscal:
~ Não comprovação da publicação dos Relatórios de Gestão Fiscal (RGF).
~ Divergência entre as informações constantes do RGF e a Prestação de Contas.
11. Quanto à Gestão Geral:
~ Gasto anti-econômico na locação de veiculo, com agravante da ausência de
procedimento Iicitatório.
~ Consumo excessivo de combustível, no valor de R$8.701,96.
~ Pagamento em excesso (R$16.838,88) na remuneração da Presidente da Câmara,
em relação à remuneração do Deputado Estadual (Presidente da Assembléia
Legislativa), descumprido o limite máximo (30%) disposto no art. 29, inciso VI
alínea b4 da Constituição Federal.
~ Não repasse ao INSS de contribuições patronais, no valor de R$69.838,70.

4 Art. 29. o Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada
por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
...... VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a
subseqüente, observado o que dispõe esta Constituição, observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e
os seguintes limites máximos: (Redacão dada Dela Emenda Constitucional nO 25, de 2000)
a)
b} em Municípios de dez mil e um a cinqüenta mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores

co rrespon de" • trinta PO' cento do subsidio do. De•••• dos •••• duals; I~\\ l,', .~

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TRIBUNAL
I
DE CONTAS DO ESTADO
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~ Gastos com folha de pagamento, equivalente a 75,45% das transferências
recebidas, ultrapassando o limite (70%) disposto no Art. 29-A, § 105, da
Constituição Federal.
Pelo exposto, o Relator vota pela irregularidade da prestação de contas, exercício
de 2006, sob a responsabilidade da Vereadora MARIA DO CARMO SOUZA, imputando-lhe
o débito de R$25.540,84 (vinte e cinco mil, quinhentos e quarenta reais e oitenta e
quatro centavos), por gastos excessivos com combustível (R$8.701,96) e excesso de
remuneração (R$16.838,88); aplicação de multa à referida gestora no valor R$2.805,10
(dois mil, oitocentos e cinco reais e dez centavos) de acordo com o art. 56, inciso lI, da
Lei Complementar 18/93 e assinação do prazo de 60 (sessenta) dias para recolhimento
voluntário do débito e multa, sob pena de execução, desde logo recomendada;
comunicação ao Instituto Nacional do Seguro Social acerca do não recolhimento integral
no exercício de 2005, das contribuições patronais, para providências ao cargo daquela
entidade; encaminhamento de cópia desta decisão para juntada à prestação de contas do
exercício de 2006, a fim de subsidiar a análise do consumo de combustível, naquele
exercício; remessa de cópia dos autos à Procuradoria Geral de Justiça do Estado, para
efeito de apuração de eventuais atos de improbidade administrativa e condutas
delituosas.
3. DECISÃO DO TRIBUNAL
Vistos, relatados e discutidos os autos do PROCESSO
TC-Ol.497j06, os MEMBROSdo TRIBUNALDE CONTASDO ESTADODA
PARAÍBA (TCE-PB), à unanimidade, na sessão realizada nesta data,
ACORDAMem:
I. Julgar IRREGULAR a PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAL,
exercício de 2006, de responsabilidade da MESAda CÂMARA
DE VEREADORESdo MUNICÍPIO de QUEIMADAS, sob a
Presidência da Senhora MARIA DO CARMO SOUZA,
imputando-lhe o débito de R$25.540,84 (vinte e cinco mil,
quinhentos e quarenta reais e oitenta e quatro centavos),
por gastos excessivos com combustível (R$8.701,96) e
excesso de remuneração (R$16.838,88).

5 Art. 29-A da CF. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os
gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das
transferências previstas no § 52 do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exercício anterior: (Incluído
pela Emenda Constitucional nO 25, de 2000)
I- .
11 - .
III- .
IV - .
§ 12 A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de sua receita com folha de pagamento,
incluído o gasto com o subsídio de seus Vereadores. (Incluído pela Emenda Constitucional nO 25, de 2000).
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PROCESSO TC - 01.497/06

rr. Aplicar multa à referida vereadora, no valor de R$2.805,10


(dois mil, oitocentos e cinco reais e dez centavos) de acordo
com o art. 56, inciso rr, da Lei Complementar 18/93 -
LDTCE.
rrr. Assinar o prazo de 60 (sessenta) dias para recolhimento
voluntário do débito e multa imputados, sob pena de
execução, desde logo recomendada.
rI/. Determinar o encaminhamento de cópia desta decisão para
juntada à prestação de contas do exercício de 2006, a fim de
subsidiar a análise do consumo de combustível, naquele
exercício.
I/. Comunicar ao rnstituto Nacional do Seguro Social o não
recolhimento integral das contribuições patronais, no
exercício de 2005, para adoção das providências cabíveis.
vr. Determinar a remessa de cópia dos autos à Procuradoria
Geral de Justiça do Estado, para efeito de apuração de
eventuais atos de improbidade administrativa e condutas
delituosas.

Ana Terêsa Nóbrega


Procuradora Gera/ do Ministério Público jun o ao Tribunal

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