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PROCESSO- TC-02469/07

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO


I
Poder legislativo Municipal. Câmara de Olho D'Agua. Prestação
de Contas Anual relativa ao exercício de 2006. Irregularidade.
Atendimento parcial às exigências da lRF. Representação ao
INSS.

RELATÓRIO:
Trata o presente processo da Prestação de Contas Anual da Câmara Municipal de Olho D'Aqua,
relativa ao exercício de 2006, sob a responsabilidade da Senhora Joana Sabino de Almeida, atuando
como gestora daquela Casa legislativa.
A Diretoria de Auditoria e Fiscalização - Departamento de Auditoria da Gestão Municipal I - Divisão de
Auditoria da Gestão Municipal I (DIAFIIDEAGM I/DIAGM I) deste Tribunal emitiu, com data de
27/02/2008, o Relatório de fls. 89-94, com base numa amostragem representativa da documentação
enviada a este TCE, cujas conclusões são resumidas a seguir:
1. A PCA foi apresentada no prazo legal e de acordo com a RN-TC-99/9i.
2. A lei Orçamentária Anual de 2006 - lOA nO005/05 de 28/12/2005 - estimou as transferências
e fixou as despesas em R$ 360.000,00.
3. As Receitas Orçamentárias efetivamente transferidas atingiram o valor de R$ 266.884,13 e as
Despesas Realizadas no exercício alcançaram o montante de R$ 260.170,32.
4. As Despesas totais do Poder legislativo Municipal representaram 7,80% das receitas tributárias
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e transferidas, atendendo ao artigo 29-A da CF/88 .
5. As Despesas totais com folha de pagamento do Poder legislativo atingiram 69,25% das
transferências recebidas, cumprindo o artigo 29-A, parágrafo primeiro, da Constituição
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Federal .
6. A despesa com pessoal do legislativo Municipal alcançou o montante de R$ 223.635,29,
representando 4,62% da RCl, abaixo do teto fixado pelo art. 20 da lRF (limite 6%).
7. Regularidade na remuneração dos senhores Vereadores",
Tendo em vista as irregularidades apontadas pela Auditoria, o Relator ordenou a notificação da
interessada respeitando, assim, os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório,
tendo a mesma trazido aos autos defesa acompanhada de documentos, conforme se verifica às fls.
99-109, cuja análise do Órgão de Instrução (fls. 111-112) destaca, com relação às obrigações
patronais não empenhadas e não recolhidas, que não foram comprovados os recolhimentos e que
não foi apresentado nenhum termo de parcelamento de débito junto ao INSS, concluindo pela
reminiscência das seguintes irregularidades:
Gestão Geral:
1. não empenhamento e não recolhimento das obrigações patronais devidas sobre as
remunerações pagas aos vereadores e aos servidores da Câmara.

Gestão Fiscal:
1. insuficiência financeira para saldar os compromissos de curto prazo, no valor de ~~)
54.552,42. •

1 Art. 1°. As prestações de contas de Prefeito e da Mesa de Câmara Municipal deverão ser entregues ao Tribunal de Contas em uma única via até
31 de março do exercício seguinte a que se referirem.
2Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não
poderá ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das transferências previstas no § 5" do art. 153 e nos
arts. 158 e 159, efetivamente realizado no exercício anterior:
I - oito por cento para Municipios com população de até cem mil habitantes;
3 § 1" A Cãmara Municipal não gastará mais de setenta por cento de sua receíta com folha de pagamento, incluído o gasto com o subsídio de
seus Vereadores.

4 a) em Municípios de até dez mil habitantes, o subsídio máximo dos Vereadores corresponderá a vinte por cento do subsídio dos Deputados
Estaduais;
VII - o total da despesa com a remuneração dos Vereadores não poderá ultrapassar o montante de cinco por cento da receita do Município;
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Chamado a se manifestar nos autos, o MPjTCE, em parecer às fls. 112-114, da lavra da ilustre
Procuradora Geral Ana Teresa Nóbrega, o Órgão Ministerial acompanhou o posicionamento do Órgão
de Instrução com referência à insuficiência financeira para saldar os compromissos de curto prazo,
pois a falha foi detectada no último exercício do mandato, todavia com relação aos recolhimentos
previdenciários afirmou:

No tocante à ausência de empenhamento e de recolhimento das


contribuições previdenciárias ao INSS, incidentes sobre os subsídios dos
Vereadores, vislumbra-se a existência de certidão positiva com efeito de
negativa, emitida pelo Ministério da Fazenda, fls. 109, comprovando o
parcelamento da dívida, fato este que autoriza a relevação da impropriedade
detectada. "
Ao final, o Parquet opinou pela declaração de atendimento parcial às exigências essenciais da LRF e
julgamento regular das contas da Cámara Municipal de Olho D'Água, exercício 2006.
O Relator recomendou o agendamento do processo para a presente sessão, com as devidas
notificações.

VOTO DO RELATOR
Quanto à insuficiência financeira para saldar os compromissos de curto prazo, no valor de R$
54.552,42, tal pratica contraria à LRF, porquanto é vedada a assunção de dívidas sem a devida con-
trapartida financeira, segundo preconiza o art. 42 da LRF:

Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últi-
mos dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa
que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parce-
las a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibili-
dade de caixa para este efeito.
Consoante se depreende no art. 42 da LRF, fica proibido ao gestor, nos seus últimos oito meses de
mandato, assumir uma obrigação de despesa que não possa ser paga até o final do ano e, se ficar
uma parte a ser paga no ano seguinte, obrigatoriamente, deverá ser deixado o dinheiro em caixa sufi-
ciente para pagar essas parcelas, o que não ocorreu no caso em tela.
No tocante ao não empenhamento e não recolhimento das obrigações patronais devidas sobre as
remunerações pagas aos vereadores e aos servidores da Cámara, ficou comprovado que a despesa
deveria ter sido empenhada no exercício de 2006 e não o foi, desobedecendo ao art. 35 da Lei
4.320/645, como também ficou comprovado que no citado exercício não foram feitos os devidos
recolhimentos, pois a interessada afirma em sua defesa escrita que " ... a Câmara Municipal de Olho
D'Agua protocolou junto ao Ministério da Fazenda pedido de Parcelamento dos compromissos
previdenciários referentes à competência de débitos entre 01/2005 a 1212006, materializado através
do LDC- LANÇAMENTO DE DÉBITO CONFESSADO DE 29.10.2007."
No que diz respeito a esta irregularidade, nas apreciações feitas por esta Corte, no exercício de 2004,
era relevada tendo em vista que a Lei n° 10.887, de 18 de junho de 2004, teve sua eficácia temporal
comprometida ao longo de todo exercício de 2004. No entanto, esta relevação, a partir do exercício
2005, não tem mais sentido dada à temporalidade integral da lei.
Por este norte, o Parecer Normativo PN-TC-52/2004 define a não retenção e/ou não recolhimento das
contribuições previdenciárias aos órgãos competentes (INSS ou órgão do regime próprio de
previdência, conforme o caso), devidas por empregado e empregador, incidentes sobre remunerações
pagas pelo Município como um dos motivos para emissão de Parecer Contrário à aprovação de
contas de gestores municipais, independentemente de imputação de débito ou multa, se couber, a
ocorrência de uma ou mais das irregularidades.
Destarte, em harmonia com o disposto no Parecer Normativo PN-TC- 52/2004 e na LRF, voto pel~?
(o):

5 Art. 35. Pertencem ao exercício financeiro:


I - as receitas nêle arrecadadas;
/I - as despesas nêle legalmente empenhadas.
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a) irregularidade da prestação de contas relativas ao exerCICIO de 2006, dado o não


cumprimento do que dispõe o Parecer Normativo PN- TC-52/2004;
b) atendimento parcial às exigências essenciais da LRF;
c) representação ao INSS acerca do não recolhimento das contribuições previdenciárias devidas
no exercício em análise.

DECISÃO DO TRIBUNAL PLENO:


Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, os Membros do TRIBUNAL DE CONTAS DO
ESTADO DA PARAIBA (TCE-Pb), à maioria, na sessão realizada nesta data, ACORDAM em:
I. JULGAR IRREGULAR a Prestação de Contas Anuais, relativa ao exercício de 2006, da
CÂMARA MUNICIPAL DE OLHO D'ÁGUA, sob a responsabilidade da Senhora Joana Sabino
de Almeida, atuando como Presidenta do Poder Legislativo;
11. considerar o ATENDIMENTO PARCIAL às exigências essenciais da LRF (LC nO 101/2000);

111. REPRESENTAR ao INSS acerca do não recolhimento das contribuições previdenciárias


devidas no exercício de 2006.

Publique-se, registre-se e cumpra-se.


TCE-Plenário Ministro João Agripino

--"--
de Jl 11 L

Conselheiro Fábio Túlio Filgueiras Nogueira


Relator

Fui presente,
f't~ , \~
I~ Terêsa Nóbrega ~
Procuradora Geral do Ministério Público junto ao TCE-Pb

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