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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS 

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA 
CONTEMPORÂNEA DO BRASIL ­ CPDOC 
CURSO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM BENS 
CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS 

CINEMA NA ROÇA: CAMINHOS E DESCAMINHOS DE UMA 
EXPERIÊNCIA CULTURAL EM MUNICÍPIOS FLUMINENSES 

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e 
Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC para a obtenção do 
grau de Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais. 

MARCELO ANTUNES FERREIRA 

Rio de Janeiro, setembro de 2007


2
Resumo 

O trabalho a seguir compreende a análise da descrição do projeto Cinema na 
Roça,  que  foi  desenvolvido  para  realizar  exibições  gratuitas  de  filmes  em 
localidades  do  interior  do  estado  do  Rio  de  Jeneiro,  desprovidas  de  cinemas  e 
videolocadoras. 
O projeto foi inciado em agosto de 2005 e o presente estudo está pautado na 
observação  dos  acontecimentos  ao  longo  da  realização  das  sessões  mais 
significativas para o projeto.


Abstract 

The  following  work  represents  the  analisys  of  Cinema  na  Roça  project’s 
description. It was developed to produce free films exhibitions in small towns of the 
state of Rio de Janeiro. 
The project was started in the beginning of 2005 and this study is based on 
the facts observation along the most significant sessions.


Ao  meu  querido  tio  Ademar  Luciano 
Ferreira,  que  há  mais  de  trinta  anos 
realizava sessões de cinema no interior de 
Minas Gerais.


Agradecimentos 

Essa  dissertação  somente se  tornou possível  porque,  ao  longo  dos  cinco  anos  que 
separam a idéia de iniciar o Cinema na Roça e o dia de hoje, várias pessoas doaram 
um  pouco  de  suas  vidas,  estendendo  a  mão  a  um  sonhador.  São  tantas  que  temo 
pecar por falta de zelo ao relacioná­las. 

Aos  amigos  Demian  Asensi,  Fernanda  e  Marcos  Alexandre  Forte,  Paulo  Gustavo 
Mangueira e Vagner Pontes, por aceitarem o convite para dar o pontapé inicial do 
projeto. 

À  Adriana  Stoppelli  e  ao  Daniel  de  Almeida  e  Brito  pelas  horas  em  que  me 
aguentaram falando, sem parar, dessa idéia de levar o cinema para lá e para cá. 

Ao  Luiz  Claudio  Pinto  Anjos,  que  sempre  esteve  presente.  Foi  o  braço  forte  e 
incansável que inúmeras vezes ajudou na realização das sessões. 

À Ester Farinha que apostou na idéia e ajudou a transformá­la em realidade. 

À minha mãe Anajô pelo apoio incondicional e pela constante torcida. Ao meu pai 
Athus pela paciência, mesmo nos dias mais difíceis. 

Ao Marcos Martinelli, amigo e sócio, que esteve presente em todos os momentos, 
dividindo  tristezas  e  alegrias,  sem  o  qual  metade  desse  trabalho  não  teria 
acontecido. 

Apesar  de  eu  não  ficar  à  altura das  inúmeras  sugestões  de  enriquecimento  a  esse 
trabalho,  agradeço  imensamente  as  sugestões  das  professoras  Ilana  Strozenberg  e 
Mônica Kornis, por ocasião da qualificação do projeto dessa dissertação. 

À minha orientadora Verena Alberti pelo esmero, pela atenção, pela paciência, pela 
enorme ajuda e, acima de tudo, pelos momentos de reflexão que me proporcionou 
com seus questionamentos.


Sumár io 

Intr odução.............................................................................................. 8 
Capítulo 1 – O pr ojeto inicial .............................................................. 12 
1.1 ­ O que era idéia .............................................................................................12 
1.2 ­ Como surgiu.................................................................................................13 
1.4 ­ Pressupostos.................................................................................................17 
Capítulo 2 – Uma descr ição do projeto............................................... 23 
2.1  Silva Jardim..............................................................................................24 
2.2  São José do Vale do Rio Preto...................................................................53 
2.3  Sumidouro ................................................................................................59 
2.4  Santa Maria Madalena ..............................................................................69 
2.4  Casimiro de Abreu ....................................................................................79 
2.5  Trajano de Moraes ....................................................................................88 
Capítulo 3 ­ As tr ansfor mações do pr ojeto......................................... 97 
3.1.  O critério IDH...........................................................................................98 
3.2.  O critério videolocadoras e cinemas ..........................................................99 
3.3.  Cinema e entretenimento.........................................................................101 
3.4.  Locais de exibição ..................................................................................103 
3.5.  Acervo de filmes .....................................................................................105 
3.6.  O nome do projeto ..................................................................................108 
3.7.  Desmembramento do Cinema na Roça....................................................109 
3.7.1.  Cinema Social .................................................................................110 
3.7.2.  Cinema na Escola ............................................................................111 
3.8.  A característica comercial .......................................................................112 
Consider ações Finais ......................................................................... 116 
Anexo .................................................................................................. 125 
Refer ências Bibliogr áficas ................................................................. 148


Intr odução 

Cerca de trinta anos se passaram e, um dia, ele, literalmente, acorda para a 

vida. Cercado de dúvidas e incertezas, levanta­se da cama, caminha até a varanda, 

dá uma boa olhada no mar azul à sua frente e mais uma pergunta lhe vem à mente. 

Qual o significado da vida sem uma causa? 

Só mais uma inquietação! Recobra os sentidos, volta­se ao mundo, toma um 

banho, resfria a cabeça,  veste­se e parte ao trabalho. Dia após dia sua vida segue, 

assim  como  a da  maioria  dos brasileiros, porém sente  que um  sentido  mais  digno 

ainda lhe falta. 

Aquela manhã poderia ser apenas o início de mais um dia de inquietações. 

Ao chegar ao trabalho tudo está transfigurado. Paredes perdem o colorido, ganham 

tonalidade  cinza  opaco  repletas  de  musgo,  fétidas,  desgastas,  repulsivas, 

amargurantes;  fisionomias  não  reconhece  mais,  deformadas,  inexpressivas,  vazias; 

vozes  não  têm  mais  sentido,  comunicação  interrompida,  excludentes,  palavras 

desconexas,  idioma  desconhecido,  entendimento  perdido.  O  bom­dia, 

definitivamente, vira adeus e chega a hora de partir. 

Diferente  do  que parecia,  este  não  era  apenas  mais  um  dia  na  vida  de  um 

José, um Manoel, um Joaquim, ou qualquer outro cidadão. Definitivamente sua vida 

estava  mudada.  Aquilo  que  o  constituiu  assumiria  seu  passado  e  agora  surgia  a 

necessidade  de  reinventar  sua  própria  história.  O  primeiro  passo  fora  dado.  E  os 

seguintes, como seriam? 

De  volta  à  mesma  varanda  que  o  confortara  em  momentos  de  angústia, 

passava pela  agrura de reiventar­se. O mesmo mar, a mesma  varanda, porém, não


mais o mesmo indivíduo diante de uma grande questão. E agora, o que fazer para 

mudar? 

Neste  cenário  nasce  a  vontade  de  juntar  coisas  prazerosas  às  úteis,  porém 

uma  solução  repousava  tranquila  à  espera  do  angustiado.  Revendo  seus  prazeres 

percebeu a importância da imagem em sua vida e das emoções que viveu assistindo 

a  filmes.  Eis  que,  de  repente,  como  uma  inspiração  divina,  surgiu  a  hipótese  de 

dividir estes sentimentos. Entretanto, qual o sentido disso? 

Esse,  que  o  texto  acima  apresenta,  poderia  ser  qualquer  um,  porém  me 

apodero da situação e apresento esta parte da minha  história, com o compromisso 

de  tornar  público  meu  comprometimento  direto  com  o  conteúdo  exposto  nesse 

trabalho. 

Destas inquietações surgiu o que é hoje o projeto Cinema na Roça, o qual é 

parte de mim, assim como sou parte dele. Nasceu da necessidade de contribuir para 

que o mundo  seja um  lugar  mais  equânime  e,  resguardadas  as limitações,  este  foi 

um dos primeiros passos neste sentido. 

O  que  é o  Cinema  na  Roça?  Imagine­se desbravando  localidades  remotas, 

muitas vezes desprovidas de energia elétrica, de equipamentos culturais, de escolas, 

de  serviço  médico  etc.  e,  ao  encontrá­las,  convidar  os  moradores,  montar  um 

cinema  ao  ar  livre  e  proporcionar­lhes  a  experiência,  aparentemente  simples  aos 

citadinos  das  metrópoles  e  inusitada  aos  municípios  do  interior,  de  assistir 

gratuitamente a um filme. 

Com o presente trabalho pretendo analisar a relação entre o projeto Cinema 

na  Roça  e  seu  público.  Através  da  construção  dessa  dissertação  pretendo 

compreender  qual  é  o  significado  atribuído  pelo  espectador  para  a  experiência  de 

assirtir a filmes nas proximidades da sua casa.


Na busca por essa resposta pretendo apoiar­me nas refleões estimuladas pela 

leitura de alguns autores que serão apresentados nas páginas seguintes. No entanto, 

vale  ressaltar,  nesse  momento,  duas  dicas  de  Cliffort  Geertz,  em  A  interpretação 

das culturas. A primeira delas  é estar atento ao contexto e não  se deixar envolver 

pela  armadilha  de  tentar  extrair  do  todo  apenas  os  aspectos  aparentemente 

interessantes.  A  priorização  de  algumas  propriedades  do  que  é  pesquisado,  sob  a 

alegação de que essas são apenas as partes que interessam à pesquisa, pode levá­la à 

surperficialidade. 

A outra dica importante é estar atendo ao fluxo dos comportamentos, pois, 

segundo Geertz, é “através do fluxo do comportamento – ou, mais precisamente, da 

ação social – que as formas culturais encontram articulação”. 1 

Nesse  contexto  entendo  que  a  falta  de  coerência  no  desenrolar  da  estória 

“não  pode  ser  o  principal  teste  de  validade  de  uma  descrição  cultural” 2  e  o 

entendimento dessas questões é importante para pontuar a dificuldade que encontrei 

ao distanciar­me  do  meu objeto de estudo  e para reconhecer  as  minhas  limitações 

durante a confecção do presente trabalho. 

O  Cinema  na  Roça,  ao  ser  concebido, possuía uma  proposta  muito ousada 

que, ao longo do tempo, foi se adequando às suas limitações. A tentativa  idealista 

de estimular a transformação social através desse equipamento cultural foi extinta. 

Atualmente o projeto visa suprir a demanda por entretenimento nessas localidades. 

A  transformação  do  Cinema  na  Roça  não  seguiu  uma  trajetória  linear, 

forçando­o  a  ser  modificado  algumas  vezes  até  que  assumisse  seu  papel  atual. 

Durante esse processo de transformação, várias questões foram se formando e para 

algumas ainda  não  foram  encontradas  respostas.  A  dissertação  que  se  apresenta  a 


GEERTZ, Clifford. 1989, p. 12 

GEERTZ, Clifford., 1989, p. 13

10 
seguir  pretende  preencher  algumas  dessas  lacunas,  como,  por  exemplo:  o  que 

realmente  significa  essa  experiência  para  as  pessoas  que  têm  a  oportunidade  rara, 

quiçá única, de vivenciar a experiência de assistir a um filme ao ar livre com uma 

estrutura  semelhante  à  de  um  cinema?  Será  que  a  experiência  tem  alguma 

relevância  para  essas  pessoas?  Se  tem,  qual?  Será  que  a  vivência  se  traduz  em 

utilidade para essas pessoas? 

Outro ponto  importante é  entender  o  sentido do Cinema  na  Roça.  A partir 

das reflexões geradas por essa dissertação, pretendo enfrentar o desafio de realizar 

uma avaliação da importância do projeto para decidir por sua continuidade ou sua 

interrupção. 

A  presente  dissertação  se  propõe  a  explorar  essas  questões,  observando  o 

comportamento do espectador e dos habitantes das localidades que de alguma forma 

contribuíram para a realização das sessões. Para alcançar esse objetivo revisitarei as 

anotações do meu caderno de campo, com o intuito de construir uma descrição do 

Cinema  na  Roça,  abordando  desde  a  sua  concepção  até  as  transformações  que 

sofreu ao londo tempo para, a partir de então, estabelecer as reflexões.

11 
Capítulo 1 – O pr ojeto inicial 

1.1 ­ O que era idéia 

O  Cinema  na  Roça  foi concebido  em  2002 para ser  um  projeto  voluntário 

que  realiza  exibições  gratuitas  de  filmes  nacionais,  em  propriedades  privadas  de 

localidades  desprovidas  de  cinemas  e  videolocadoras  dos  20  municípios  que 

reúnem os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH’s 3 ) do estado do 

Rio  de  Janeiro  e  que  distem  pelo  menos  80  km  da  capital.  Possui  característica 

itinerante,  se  configura  pelo  uso  doméstico  da  imagem  –  principalmente  pela 

gratuitade das sessões e por serem realizadas em locais privados – e conta com uma 

estrutura montada a partir de um veículo de médio porte, no qual é fixada a tela e 

acomodados os  equipamentos  necessários  para  as  projeções.  As  sessões  deveriam 

ser realizadas ao ar livre, sempre à noite e, inicialmente, eu pretendia percorrer os 

municípios em um ano, em uma viagem ininterrupta e com exibições diárias. 

Seu  principal  objetivo  era  estimular  a  população  desses  municípios  – 

principalmente  os  jovens  –  para  a  discussão  sobre  questões  sociais  brasileiras, 

explorando a experiência vivida pelos personagens dos filmes, através da criação de 

debates  ao  término  de  cada  sessão.  Outro  objetivo  era  tornar  esse  equipamento 

cultural 4  acessível  e  difundir  produções  cinematográficas  brasileiras  nessas 

comunidades.  O  terceiro  objetivo  era  promover  o  intercâmbio  cultural  entre  as 


IDH  –  Índice  de  Desenvolvimento  Humano.  Denominação  dada  ao  indicador  criado  pelo 
economista  paquistanês  Mahbub  ul  Haq  e  utilizado  pelo  PNUD/ONU  para  mensurar  o  nível  de 
desenvolvimento humano mundial. Consultado em http://www.pnud.org.br/idh/ em 07/07/2007. 

“Equipamento  cultural”  é  a  designação  dada  pelo  IBGE  ao  aparato  e/ou  infra­estrutura 
disponibilizadora  de  acesso  às  atividades  culturais.  O  estudo  do  IBGE  sobre  o  qual  se  apóia  este 
trabalho  avalia  17  tipos  distintos  de  equipamentos  culturais:  bibliotecas  públicas,  estádios  ou 
ginásios,  clubes  e  associações  recreativas,  videolocadoras,  lojas  de  discos,  CDs  e  fitas,  bandas  de 
música,  livrarias,  rádio  FM,  provedor  de  internet,  rádio  AM,  unidades  de  ensino  superior,  teatros, 
museus, cinemas, geradora de TV, shopping center  e orquestra. Ver MUNIC 2001, p. 138.

12 
realidades  rural 5  e  urbana,  através  de  filmes  que  tinham  a  desigualdade  social 

brasileira  ou  a  dicotomia  campo  versus  cidade  como  pano  de  fundo  ou  em  suas 

temáticas centrais. 

Um quarto objetivo visava resolver uma necessidade de registrar o Cinema 

na Roça através de imagens e viabilizar uma parceria com o projeto Cinemaneiro 6  – 

que  é  um  projeto  social  que  atua  na  formação  profissional  de  jovens  de 

comunidades  carentes  para  as  profissões  ligadas  à  produção  cinematográfica  –  e, 

com  isso,  preparar  material  suficiente  para  a  realização  de  uma  exposição 

fotográfica e videográfica ao final do primeiro ano do projeto. 

1.2 ­ Como sur giu 

Sempre gostei de assistir a filmes e de usá­los para estimular debates sobre 

os  temas  que  apresentavam.  Sendo  assim,  a  idéia  do  Cinema  na  Roça  –  não com 

esse  nome  e  formato  –  surgiu  em  algum  momento  entre  os  anos  de 1999  e 2002, 

quando  eu  era  gerente  de  treinamento  de  uma  empresa  de  telecomunicações  e 

residia em Macaé. 

Devido  à  minha  admiração  pelo  cinema  e  à  precariedade  da  única  sala 

existente  no  município  àquela  época,  comecei  a  convidar  alguns  amigos  para  as 

sessões de cinema que organizava em minha casa. Paralelamente às sessões, surgiu 

minha  inquietação,  associada  à  dos  amigos  Demian  Asensi  e  Vagner  Pontes,  em 

relação  à  necessidade  de  contribuirmos  para  o  desenvolvimento  social  da  cidade. 

Estimulado  por  essa  inquietação  comecei  a  me  envolver  com  atividades 

assistenciais no município – como a distribuição de alimentos à população de rua e 

Para esse trabalho seguimos o mesmo critério utilizado na classificação das populações urbana e 
rural. Ver PNAD ­ Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2003, p.16. 

Para mais detalhes ver www.cinemaneiro.com.br.

13 
a  associação  ao  Amigos  da  Escola 7  –  e,  procurando  somar  mais  efetivamente  e 

através  de  uma  atividade  prazerosa,  comecei  a  pensar  uma  proposta  que  me 

permitisse estimular a discussão sobre questões sociais com a comunidade. 

Durante  alguns  meses,  Demian  e  eu  chegamos  a  considerar  a  idéia  de 

criarmos  um  grupo  de  palhaços  para  alcançarmos  o  objetivo  proposto  acima.  No 

entanto, após tomar conhecimento da carência de oferta de equipamentos culturais 

no Brasil  e  da  ausência do  cinema  em  92%  dos municípios  brasileiros  através  do 

estudo  das  informações  apresentadas  na  Pesquisa  de  Informações  Básicas 

Municipais  de  2001  publicada  pelo  Instituto  Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística 

(IBGE),  doravante  denominda  MUNIC  2001,  procurei  –  através  do  cinema  – 

encontrar uma forma de sensibilizar as pessoas para a discussão que eu propunha. 

Vislumbrava a possibilidade de valer­me do que seria uma novidade para estimular 

a discussão de temas que eu julgava pertinentes. 

Outro fator importante para o surgimento do Cinema na Roça foi o prazer de 

viajar e, entre esses mesmos três anos, tive a oportunidade de percorrer 25.000 km 

pelo Brasil,  visitando preferencialmente  cidades de até 20.000 habitantes. Durante 

essas viagens percebi o fascínio dos jovens com a vida nas metrópoles e o interesse 

pela emigração  em  direção  aos  grandes  centros urbanos.  A partir dessa percepção 

julguei importante procurar dissuadi­los dessa decisão, estimulá­los a repensarem a 

possibilidade  de  permancerem  em  suas  localidades  e  conscientizá­los  das 

dificuldades de colocação no mercado de trabalho dos grandes centros. 

Em  2002, quando  saí  de  Macaé  e  voltei  a  morar  no  Rio  de  Janeiro,  havia 

apenas uma idéia, e foi nesse ano que, na comunhão de três coisas que me geravam 

prazer – realizar sessões  de  cinema,  assistir  aos  filmes  e  viajar  –  com uma quarta 



Amigos da Escola  é  um  projeto  que tem  o  objetivo de  contribuir com  o  fortalecimento da  escola 
pública de educação básica por meio do trabalho voluntário e da ação solidária. Para mais detalhes 
ver: http://amigosdaescola.globo.com/

14 
que julgava importante – promover discussões sobre uma realidade social brasileira, 

surgiu a idéia de projetar filmes para pessoas que não tivessem acesso ao cinema. 

1.3 ­ Cr itérios de definição do projeto 

Uma  vez  concebida  a  idéia  de  levar  o  cinema  para  as  pessoas  que  não 

tivessem  acesso  ao  equipamento  cultural,  era  necessário  responder  a  algumas 

questões.  A  primeira  delas  era  saber  a  quem  levar  o  cinema  e,  como  um  dos 

pressupostos era levar o cinema a quem não tivesse acesso, eu precisava descobrir 

onde viviam essas pessoas. Considerando os dados da MUNIC 2001  – a presença 

de cinemas em apenas 8% do total de 5.560 municípios no Brasil –, haveria 5.115 

possibilidades,  e  eu  precisava  estabelecer  um  recorte  para  a  atuação  da  iniciativa 

que viria a ser criada. 

A  segunda  questão  –  diretamente  ligada  à  primeira  –  era  encontrar  uma 

justificativa  para  priorizar  uma  localidade  em  detrimento  de  outra,  visto  que  a 

carência  de  cinemas  atingia  quase  todo  o  país.  Para  restringir  o  foco  de  atuação, 

decidi  direcionar  a  iniciativa  aos  municípios  que  não  possuíssem  videolocadoras, 

fazendo com que esse número caísse para 64% dos municípios brasileiros 8 . Porém, 

mais  à  frente  percebi  que  essa  restrição  ainda  mantinha  o  espectro  de  municípios 

muito  grande.  Resolvi  então  aliar  ao  critério  de  inexistência  de  videolocadoras  o 

quesito  de baixo  desenvolvimento  humano, pois  o  fato  gerador da  iniciativa  era  a 

vontade  de  participação  no  desenvolvimento  social  e  concluí  que,  ao  pautar  a 

decisão no IDH, atenderia a esse anseio. 


Ver Munic 2001.

15 
A terceira a ser respondida era como levar a estrutura de cinema para essas 

localidades,  visto  que  grande  parte  das  elencadas  se  situava  em  locais  de  difícil 

acesso  e/ou  com poucos  recursos. Para atender  a essa  demanda, a  idéia  inicial  foi 

criar uma pequena estrutura que pudesse ser transportada facilmente. 

Outro  ponto  importante  foi  a  localização  geográfica  das  localidades 

contempladas. Estipulei um raio mínimo de 80 Km de distância em relação à cidade 

do  Rio  de  Janeiro,  com  a  intenção  de  retirar  do  foco  do  projeto  municípios  que, 

mesmo tendo um baixo IDH, estivessem mais  claramente sob a área de influência 

da metrópole do estado. 

Assim, os municípios escolhidos para o Cinema na Roça foram Varre­Sai, São 

Francisco  de  Itabapoana,  Cardoso  Moreira,  Laje  do  Muriaé,  Sumidouro,  Duas 

Barras,  São  José de  Ubá,  São José  do  Vale  do  Rio  Preto,  São João da  Barra,  São 

Sebastião do Alto, Trajano de Moraes, Italva, Porciúncula, Silva Jardim, Quissamã, 

Miracema,  Cambuci,  Bom  Jardim,  Santa  Maria  Madalena  e  Natividade. Mas  vale 

ressaltar  que,  como  o  período  escolhido  para  a  análise  do  IDH  foi  compreendido 

entre  1991  e  2000,  o  município  de  Quissamã,  apesar  de  estar  contemplado  pelo 

Cinema na Roça, destoa dos demais face ao crescimento econômico atual. 

Inicialmente o nome Cinema na Roça foi escolhido por causa da caraterística 

rural  das  comunidades  que  seriam  contempladas  pelo  projeto,  que  baseiam  sua 

economia na atividade agrícola e pelo motivo de eu identificar a palavra roça como 

uma forma carinhosa de me referir à zona rural.

16 
1.4 – Pr essupostos 

a)  Distribuição dos equipamentos culturais 

Eu  acreditava  que  a  forma  desigual  de  distribuição  dos  equipamentos 

culturais  brasileiros era um dificultador para o desenvolvimento social ordenado e, 

ao  longo  do  tempo,  encontrei  respaldo  para  essa  crença  a  partir  da  leitura  do 

Relatório do Desenvolvimento Humano 2004, publicação do Programa das Nações 

Unidas  para  o  Desenvolvimento  (PNUD),  que  aponta  a  importância  da  liberdade 

cultural  para  o  desenvolvimento  humano  e  a  relevânvia  do  cinema  no  cenário 

econômico como importante difusor cultural mundial. 

Segundo o relatório, devemos entender liberdade cultural como a capacidade 

que  todas  as  pessoas  devem  ter  de  perceber  a  sua  identidade,  escolher  a  maneira 

pela  qual  querem  viver  e  decidir  quem  desejam  ser,  sem  perder  o  respeito  dos 

outros e seus direitos por essas escolhas. 9 

Eu  considerava  também  que  o  predomínio  da  difusão  de  filmes  norte­ 

americanos era um fator de inibição da liberdade cultural. Somente no ano de 2000, 

os EUA geraram excedentes da ordem de 8,1 mil milhões de dólares  no comércio 

de  audiovisual  com  a  União  Européia.  Em  2003,  na  indústria  cinematográfica,  as 

produções norte­americanas representavam cerca de 85% das audiências de cinemas 

de todo o mundo 10 . 


Ver PNUD, 2004, p.1. 
10 
Mishra, Pankaj. 2003. “Hurray for Bollywood.” The New York 
Times. In PNUD, 2004, p.86.

17 
Sendo  assim,  concluí  que,  uma  vez  que  desenvolvimento  cultural  e 

socioeconômico  estão  atrelados,  ao  difundir  o  cinema  nacional,  com  temas 

nacionais, estaria difundindo a cultura brasileira e, consequentemente, contribuindo 

para o processo de desenvolvimento social. 

b)  A relação entre baixo IDH e ausência de cinema 

A escolha dos municípios para a exibição dos filmes seguiu o critério do IDH 

devido  à  relação  direta  entre  o  baixo  Índice  de  Desenvolvimento  Humano  e  a 

ausência de equipamentos culturais. De acordo com os dados da MUNIC 2001, “a 

distribuição  dos  equipamentos  culturais  pelo  País  segue  a  lógica  de  ocupação 

desigual do território e expressa as suas desigualdades socioeconômicas” 11 , fazendo 

com que os municípios mais populosos e com melhores condições de renda – entre 

outros  –  apresentem  a  mais  ampla  infraestrutura  de  atividades  culturais.  Ao  me 

deparar  com  esses  dados,  considerei  a  possibilidade  de  direcionar  o  projeto  aos 

estados  do  Maranhão  e  do  Piauí,  devido  à  concentração  dos  baixos  IDHs  desses 

estados  entre  os  20  menores  índices  do  país.  Porém,  além  das  limitações 

orçamentárias,  verifiquei  que  o  Rio  de  Janeiro  reunia  localidades  com  o  mesmo 

nível  de  carência  e  que  permanecer  no  estado  viabilizaria  o  início  e  atenderia  aos 

propósitos do projeto. 

c)  Direito constitucional 

11 
Ver MUNIC 2001. p 151.

18 
Além  dos  motivos  elencados  acima,  há  o direito  constitucional  do  cidadão 

brasileiro, pois a Constituição Federal de 1988, na seção II, artigo 215, prevê que é 

dever do Estado garantir a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às 

fontes de cultura nacional, devendo apoiar e incentivar a valorização e a difusão das 

manifestações  culturais. 12  Mas,  apesar  do  previsto  na  Constituição  Federal,  a 

realidade é bastante diferente. Como podemos comprovar a partir das informações 

contidas  na  MUNIC  2001,  há  uma  grande  disparidade  na  distribuição  dos 

equipamentos  culturais,  com  grande  concentração  de  cinemas  nas  cidades 

litorâneas.  Rio  de  Janeiro,  Ceará  e  Pernambuco  aparecem  como  estados  que 

constituem uma exceção e “apresentam maior infra­estrutura do que a esperada” 13 , 

enquanto  Tocantins  tem  a  “quantidade  de  equipamentos  não  condizente  com  o 

indicador de renda avaliado” 14  na pesquisa. 

d)  A migração em direção aos grandes centros 

Durante  as  minhas  viagens  pelo  Brasil  –  conforme  mencionei  acima  – 

percebi a predisposição dos jovens para abandonarem suas cidades com destino aos 

grandes centros, e a principal justificativa que encontrei para a emigração foi a falta 

de  oportunidades  de  trabalho.  Porém,  ao  comparar  a  justificativa  com  dados 

apresentados por Marcio Pochmann 15  em seu artigo “A exclusão social no Brasil e 

no  mundo”  (Pochmann,  2004),  em  que  apresenta  um  “crescimento  médio  anual 

12 
Para mais detalhes ver http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm 
13 
Ver Munic 2001. p 151. 
14 
Idem. 
15 
O  autor  é  professor  livre­docente  do  Instituto  de Economia  e  pesquisador  do  Centro  de  Estudos 
Sindicais  e  de  Economia  do  Trabalho  da  Universidade  Estadual  de  Campinas.  Até  2004  foi 
secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade do Município de São Paulo.

19 
pífio” da renda per capita  no Brasil entre os anos 1980 e 2000 e o movimento de 

metropolização  da  probreza,  percebi  que  essa  vontade  poderia  significar  um 

equívoco  devido  a  suas  baixas  qualificações  profissionais.  Ao  contrário  da 

percepção dos jovens nessas localidades, Marcio Pochmann aponta ainda nesse seu 

artigo  que  os  grandes  centros,  apesar  de  ainda  representarem  um  destino  do 

movimento migratório, “assumiram o papel mais recente de centros de desemprego, 

poluição, enchentes e violência” 16 . 

1.5 ­ Operacionalização do projeto 

No ano de 2003, o projeto Cinema na Roça estava praticamente concebido. 

Faltava­lhe,  entretanto,  a  parte  que  descobri  posteriormente  ser  a  mais  difícil:  a 

captação de recursos. 

Nesse período, o terceiro setor – que é considerado como uma organização 

da  sociedade  civil  em  setor  da  economia  não  governamental  e  não  lucrativo 17  – 

vivia um momento de euforia com a possibilidade de estabelecimento de termos de 

parceria, que são como contratos de prestação de serviços, porém para fins sociais, 

firmados entre o poder público e entidades sem fins lucrativos – e por conseguinte 

com  o  aporte  de  montantes  do  erário  para  atividades  desenvolvidas  por 

organizações dessa natureza. 

Aliando o idealismo  da proposta do Cinema  na Roça com minha ilusão de 

que torná­lo um projeto de uma entidade sem fins lucrativos traria maior respaldo 

para a iniciativa e encurtaria algumas etapas  no processo de captação de recursos, 

16 
Ver POCHMANN. p. 161. 
17 
Ver Rede de Informações para oTerceiro Setor. www.rits.org.br

20 
motivei um grupo de cinco amigos e fundamos uma organização não governamental 

(ONG) chamada Associação Civil Conhecimento Solidário, doravante denominada 

Conhesol.  Porém,  os  planos  iniciais  não  se  confirmaram,  pois,  para  o 

estabelecimento dos termos de parceria se fazia necessário o cumprimento de uma 

série  de  exigências  –  sendo  a  principal  adquirir  o  título  de  Organização  da 

Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) –, que demandavam tempo e recursos 

de que não dispúnhamos. 

Outro  ponto  importante  a  ser  ressaltado  era  a  própria  fundação  da  ONG, 

pois seu  processo  fora  iniciado  ao  revés.  Normalmente  uma  ONG  é  fundada para 

concatenar ações  em andamento ou idéias que atendam a uma determinada causa. 

No  nosso  caso,  imagináramos  que  a  Conhesol  serviria  apenas  para  atender  as 

necessidades  burocráticas.  Cinco  pessoas  viabilizaram  a  fundação  da  Conhesol, 

porém, conforme acordado durante o processo de fundação da ONG, além de mim 

apenas o Marcos Martinelli participou das exibições. 

Em  2006,  já  descrente  dos  benefícios  que  a  Conhesol  poderia  nos 

proporcionar, devido à morosidade do processo de obtenção do título, à burocracia 

muito extensa e ao fato de não termos tempo suficiente e nem recursos financeiros 

necessários  para  cumprir  todas  as  exigências  para  o  pleito  ao  título  de  OSCIP, 

resolvi  reunir  as  minhas  atividades  profissionais  às  sociais  e,  juntamente  com  o 

Paulo  Gustavo  Moraes  Mangueira,  um  dos  fundadores  da  ONG,  constituímos  a 

Brasil Social, uma empresa privada que tem o objetivo de desenvolver e financiar 

projetos sociais. 

Com  a  fundação  da  Brasil  Social,  paralisamos  as  atividades  da  Conhesol, 

transferimos para a empresa algumas atividades realizadas pela ONG e o Cinema na 

Roça  passou  a  ser  o  principal  projeto  financiado.  Além  disso,  deixou  de  ser

21 
realizado apenas voluntarimente e, depois de incorporado ao portifólio de atividades 

da  Brasil  Social,  passou  a  ser  oferecido  comercialmente  para  as  prefeituras  e 

empresas interessadas em vincular suas marcas ao projeto.

22 
Capítulo 2 – Uma descr ição do projeto 

O  que  inicialmente  parecia  ser  uma  idéia  simples  não  transcorreu  dessa 

forma. O primeiro comentário que retirei do meu caderno de campo dizia: “começar 

o projeto é mais difícil do que se imagina”. Foram três anos entre o advento da idéia 

e a primeira projeção do Cinema  na  Roça, que ocorreu em julho de 2005. Entre a 

data  da  primeira  exibição  e  o  presente  momento  foram  realizadas  43  sessões, 

reunindo, em média, 60 espectadores cada vez. No total foram percorridos em torno 

de 7.000 Km pelo do estado do Rio de Janeiro – o que equivale à distância de quase 

toda a costa brasileira. 

As  projeções  foram  realizadas  nas  localidades  de  Aldeia  Velha,  Gaviões, 

Cesário Alvim, Mato Alto, Bananeiras, Cambucaes e Lagoa de Juturnaíba, em Silva 

Jardim, e nas localidades de Soledade I, Soledade II, Soledade III, Porteira Verde e 

Campinas, em Sumidouro. Em São José do Vale do Rio Preto exibimos em Pouso 

Alegre e participamos da Calçada da Cultura, um evento público semanal que reúne 

diversas manifestações culturais. Em Santa Maria Madalena realizamos sessões em 

Sossego do Imbé, Triunfo e em Ribeirão Santíssimo. No município de Trajano de 

Moraes,  as  sessões  foram  em  Ponte  de  Zinco,  Dr.  Elias  ou Monte Café,  Tirol,  na 

Tapera e na sede do município. Já em Casimiro de Abreu foram em Palmital, Rio 

Dourado e Professor Souza. 

Durante  esse  período,  o  Cinema  na  Roça  foi  objeto  de  reportagem  nos 

jornais  Jornal  da  Cidade  (Silva  Jardim),  em  setembro  de  2005;  Folha  da  Terra  

(Região  dos  Lagos),  em  5  de  novembro  de  2005;  Foco  (Sumidouro),  em  17  de 

fevereiro de 2006; O Globo (Globo Tijuca), em 25 de maio de 2006. Também foi 

assunto na Rádio Costa do Sol (Região dos Lagos), em 27 de agosto de 2005; do

23 
programa  Fim  de  Tarde  101,  na  rádio  FM  101  (Macaé),  em  maio  de  2007,  e  no 

programa  Sem  Censura  da  TVE,  em 6 de  junho  de 2006.  Em  outubro de 2006,  a 

revista 4x4 & Cia  fez uma reportagem sobre o Cinema na Roça e, em novembro de 

2006,  foi  a  revista  Época . Em  agosto de 2006  tivemos  a oportunidade de  expor o 

trabalho realizado com o Cinema na Roça na Adventure Sports Fair, em São Paulo 

–  feira  anual  que  reúne  as  novidades  em  aventura,  esportes  radicais  e  atividades 

outdoor  no país – e,  em junho de 2007, participamos da feira Brasil Offshore, em 

Macaé, que consiste num dos maiores eventos brasileiros voltados para a indústria 

do petróleo. 

Nesse  capítulo  me dedicarei  à  descrição  do que  encontrei quando  iniciei  a 

realização  das  exibições  nas  localidades  mais  significativas  a  esse  trabalho.  Me 

deterei  nos  trâmites  para  a  realização  das  sessões,  no  relacionamento  com  as 

pessoas das localidades que se envolveram com o Cinema na Roça e na reação dos 

espectadores.  Após  apresentar  a  descrição,  pretendo  trazer  à  discussão  alguns 

aspectos que julguei interessantes nesses dois anos de realização do projeto. 

2.1 Silva Jardim 

O  primeiro  município que  visitamos  foi  Silva  Jardim, que  é um município 

de  aproximadamente  23.000  habitantes,  ocupa uma  área de 938  km²  e  tem o  IDH 

(0,731) 18 . Dista cerca de 110 km da cidade do Rio de Janeiro, em direção ao norte 

do  estado.  Faz  divisa  com  os  municípios  fluminenses  de  Rio  Bonito,  Araruama, 

Casimiro de Abreu, Nova Friburgo e Cachoeiras de Macacu. Atualmente, o prefeito 

18 
Para mais detalhes ver http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 e Atlas do 
desenvolvimento humano.

24 
é  Augusto  Tinoco,  filiado  ao  extinto  Partido  da  Frente  Liberal  (PFL),  atual 

Democratas  (Dem),  reeleito  em  2004  com  4.831  votos.  A  Câmara  Municipal  é 

formada por nove Vereadores. 19 

De acordo com a Lei municipal nº 1.165, de 29 de setembro de 1999, 20  Silva 

Jardim  é  divido  em  quatro  distritos.  O  primeiro,  homônimo  ao  município, 

compreende  a  zona  urbana  de  Silva  Jardim,  os  povoados  de  Cesário  Alvim  e  de 

Imbaú. O segundo distrito é composto pelo povoado de Bananeiras; o terceiro, por 

Gaviões, e o quarto, por Aldeia Velha. 

No município de Silva Jardim foram realizadas 18 sessões entre os meses de 

julho  e  outubro  de  2005,  nas  localidades  de  Aldeia  Velha,  Gaviões,  Bananeiras, 

Mato Alto, Vargem Grande, Juturnaíba, Cesário Alvim, Cambucaes e Silva Jardim 

(sede).  Aldeia  Velha,  Gaviões,  Vargem  Grande  e  Bananeiras  são  localidades  que 

ficam à esquerda – sentido norte – da rodovia BR 101, que atravessa o município. 

São afastadas do centro de Silva Jardim e, para alcançá­las – exceto Aldeia Velha –, 

percorrem­se cerca de 50 km por estradas de terra de difícil acesso, principalmente 

nos  períodos  chuvosos.  Já  Juturnaíba,  Cesário  Alvim,  Cambucaes  e  Mato  Alto 

ficam  à  direita  da  rodovia  –  sentido  norte  –  e  são  de  fácil  acesso.  Chega­se  a 

Cesário Alvim por estrada asfaltada. Mato Alto é uma localidade que se encontra a 

pouco  mais  de  4  km  do  centro.  Para  acessar  Juturnaíba  são  12  km  de  estrada  de 

terra,  que  se  inicia  próximo  ao  centro  de  Silva  Jardim.  Cambucaes  –  também  à 

direita da rodovia BR101 – teve sua origem em um assentamento de agricultores e 

fica a cerca de 10 km da margem da estrada que liga a sede do município à BR101. 

A  escolha  de  Silva  Jardim  como  primeiro  município  decorreu  de  sua 

proximidade com a cidade do Rio de Janeiro e da facilidade contato. Na época, eu 

19 
Para mais detalhes ver www.tse.gov.br. 
20 
Para mais detalhes ver http://www.silvajardim.rj.gov.br/lei1999.html.

25 
integrava um grupo chamado Caminhos da Solidariedade – formado por amigos que 

não  têm  relação  alguma  com  o  Cinema  na  Roça  –  e  nos  dispúnhamos  a  realizar 

ações  pontuais  e  voluntárias,  como  a  organização  de  atendimentos  médicos  em 

locais  desprovidos  de  postos  de  saúde  ou  de  médicos  de  determinadas 

especialidades, doação de roupas, alimentos e material escolar, entre outros. 

Em um desses encontros conheci uma representante do Conselho Tutelar da 

cidade, a Rose, a quem apresentei a idéia de realizar sessões de cinema abertas ao 

público  e  gratuitas.  Além  de  interessar­se  pela  proposta,  Rose  colocou­se  à 

disposição  para  apresentar­me  à  secretária  de  Turismo,  pois  acreditava  que  a 

proposta também poderia interessá­la. 

Minha primeira visita ao município com o intuito de viabilizar o projeto foi 

em  março  de  2005.  Nessa  ocasião  houve  uma  reunião  com  a  secretária  Taísa 

Magdalena, na qual apresentei o projeto e os custos envolvidos nas projeções, pois 

imaginávamos  poder  contar  com  algum  apoio do município  no  tocante  aos  gastos 

com combustível, alimentação, hospedagem e licenças para exibição dos filmes que 

não  fizessem  parte  do  nosso  acervo.  Apesar  de  Taísa  Magdalena  demonstrar 

interesse  pela  idéia,  essa  reunião  não  rendeu  muitos  resultados  no  âmbito  da 

Secretaria  de  Turismo,  mas  permitiu  que  eu  conhecesse  Rosilane  Brum,  que 

participou  da  reunião  a  convite  de  Taísa  e  que,  à  época,  era  diretora  da  Casa  de 

Cultura  de  Silva  Jardim.  Vale  ressaltar  que  o  município  não  possui  Secretaria  de 

Cultura e, assim como muitos outros do estado do Rio de Janeiro, possui um órgão 

vinculado à Secretaria de Educação e seu gestor tem status de secretário, apesar de 

não ser. 

Ao  tomar  ciência  dos  propósitos  do  projeto,  Rosilane  Brum começou  a  se 

engajar  na  viabilização  do  Cinema  na  Roça.  O  primeiro  passo  foi  sensibilizar  o

26 
secretário de Educação para a importância que ela julgava que o projeto tinha para o 

município.  Entretanto,  segundo  Rosilane  Brum,  apesar  de  dizer­se  interessado,  o 

secretário  de  Educação  Jorge  Alves  dos  Santos  alegou  não  ter  orçamento  para  o 

custeio. Com isso, Rosilane Brum iniciou as negociações com outras secretarias,  a 

fim  de  levantar  recursos  que  possibilitassem  a  realização  do  Cinema  na  Roça  em 

Silva  Jardim.  Com  a  Secretaria  de  Obras  conseguiu  o  combustível  e,  com  a  de 

Turismo,  parte  da  hospedagem.  Os  gastos  com  alimentação  e  a  outra  parte  da 

hospedagem foram patrocinados pela Casa da Cultura, e os demais custos cobertos 

por nós. 

Embora  pareça  simples  para  um  município  de  23.000  habitantes  possuir 

procedimentos  e  recursos  para  custear  uma  atividade  como  o  Cinema  na  Roça, 

nossa  passsagem  por  Silva  Jardim  não  demonstrou  isso.  Segundo  as  conversas 

informais que tive com Rosilane Brum, foram vários os sacrifícios para a realização 

do projeto no município. O primeiro empecilho que enfrentou foi a negociação com 

a Secretaria Municipal  de  Educação,  à qual  estava  subordinada.  As  despesas  com 

nossa  alimentação  e  hospedagem  eram  pagas  com  as  reservas  financeiras  da  Casa 

de Cultura destinadas ao pagamento de pequenas despesas, porém, como o depósito 

dessa verba permanecia em constante atraso, algumas vezes Rosilane foi obrigada a 

abastecer  o  caixa  com  verba  pessoal  para  garantir  a  continuidade  do  projeto, 

conforme me confidenciou após o término das exibições no município. 

Aurélio  foi  o  funcionário  lotado  na  Casa  de  Cultura  designado  a  nos 

acompanhar  na  identificação  das  localidades  e  nos  dar  o  suporte  necessário, 

representando  o  poder  público  local  sempre  que  Rosilane  Brum  não  estava 

disponível.  Sua participação  no projeto  também despertou  minha  curiosidade para 

alguns aspectos levantados por Clifford Geertz em “Uma descrição densa: por uma

27 
teoria  interpretativa  da  cultura”  (GEERTZ,  1989).  Nesse  texto,  Geertz  chama  a 

atenção  para  vários  pontos  interessantes,  e  eu  gostaria  de  ressaltar  dois,  nesse 

momento:  estar  atento  ao  indagar  a  importância  dos  significados  dos 

acontecimentos  e  estar  atento  à  investigação  da  importância  não  aparente  das 

coisas. 21 

Durante  as  primeiras  visitas  ao  município,  Aurélio  se  mostrou  muito 

interessado  em  nos  acompanhar  em  todas  as  localidades  e  apresentar­se  como um 

dos integrantes da equipe. Quando nos acompanhou na Secretaria de Obras referia­ 

se  aos  demais  funcionários  da  prefeitura  com  frases  como  “esses  estão  comigo”. 

Fazia questão de nos apresentar a todos os representantes do poder público, ou seja, 

eu percebia que, ao abordar as pessoas, havia muito interesse em demonstrar que ele 

era  um  dos  responsáveis  pela  presença  do  Cinema  na  Roça  no  município.  Em 

princípio  achamos  o  comportamento  inusitado,  mas  não  demos  muita  atenção  ao 

fato, por  conta de  ter  sido designado  a  nos ciceronear.  Até que um dia  –  em uma 

festa da cidade –  colocou­me em uma situação constrangedora ao interromper um 

momento  de  lazer  do  secretário  de  Meio  Ambiente  para  solicitar  brindes  da 

Secretaria em nome do Cinema na Roça. 

Depois  desse  episódio,  Aurélio  afastou­se  gradativamente  do  projeto  e 

inicialmente  pensamos  que  fosse  por  conta  do  ocorrido  na  festa.  Participar  do 

Cinema  na  Roça  representava  poder, pois  ele  acreditava  que, por  ser  designado o 

representante do município, teria condições de decidir sobre os locais de exibição, 

priorizando os seus interesses. Antes de irmos ao município pela última vez, ele já 

não  fazia  mais  parte  da  equipe  da  Casa  de  Cultura  e,  ao  que  me  consta,  foi  em 

decorrência de disputas de poder. 

21 
GEERTZ, Clifford, 1989, p. 18.

28 
Aproveitando a citação feita por Geertz 22  do pensamento de Goodenough e 

analisando a passagem  narrada acima,  gostaria de ressalatar que a cultura consiste 

no conjunto de códigos e comportamentos que um indivíduo deve conhecer para ter 

a possibilidade integrar­se a determinado grupo. Esse entendimento é o responsável 

pelo norteamento desse indivíduo, em relação ao que se espera dele. Geertz também 

aponta duas questões importantes no entendimento da cultura. A primeira delas, que 

é  um  erro  acreditar  que  a  cultura  é  um  organismo  desenvolvido  com  propósitos 

definidos e com finalidade em si mesma. Por outro lado, é necessário entender que 

é um “fenômeno” que surge e se transforma do comportamento e do relacionamento 

das pessoas em sociedade. Como cita Geertz, a cultura está presente no “coração e 

na  mente”  das  pessoas,  sendo  um  conjunto  de  apreensões  construídas  e 

transformadas ao longo do tempo. 

Assim, o valor bruto atribuído aos acontecimentos de determinada cultura é 

fundamental,  pois  é  justamente  na  lapidação  desses  acontecimentos  que  o 

pesquisador ou etnógrafo encontrará suas respostas. Para isso se faz necessário que 

o  foco da pesquisa  esteja  direcionado  à  relevância  das  ocorrências,  ao  significado 

que elas têm, e às nuanças que podem descortinar. É fundamental que o pesquisador 

consiga  estabelecer  relações  entre  os  acontecimentos  e  seus  significados  para  que 

consiga interpretar a mensagem que tais acontecimentos podem revelar. 

Especificamente  em  relação  a  esse  ponto  levantados  por  Geertz,  de  estar 

atento à investigação da importância não aparente das coisas, gostaria de ressaltar a 

minha  ignorância  nesse  sentido.  Ao  chegar  em  Silva  Jardim,  apesar  de  alimentar 

uma  grande  expectativa  em  relação  aos  resultados  do  Cinema  na  Roça,  em 

momento  algum  atentei  para  o  fato  de  que  o  projeto  fosse  despertar  o  tipo  de 

22 
GEERTZ, Clifford, 1989, p. 8

29 
comportamento  apresentado  por  Aurélio,  ou  seja,  ao  iniciar  o  projeto,  não  tinha 

consciência  de  que  ele  representaria  um  instrumento  de  disputa  de  poder  nas 

localidades. 

Esse episódio vale uma consideração para a fase “teórico­intelectual” de um 

trabalho  etnográfico  levantada  por  Roberto  Da  Matta  (MATTA,1978),  pois, 

segundo o autor, durante essa etapa, há um distanciamento entre o conhecer teórico 

e  a  vivência  com  o  grupo  e,  aos  olhos  do  estudante,  o  grupo,  tribo ou  as  teias  de 

relações  apresentadas  por  Cliffort  Geertz 23  aparecem  em  forma  de  diagramas 

estáticos  e  facilmente  identificados.  Nessa  fase,  as  teias  de  relacionamentos 

aparecem  de  forma  mais  explícita  do  que  na  pesquisa  de  campo  e,  com uma  fase 

“teórico­ intelectual” bem elaborada, esse tipo de relação poderia ter sido previsto. 

Nossa primeira exibição no município ocorreu em Aldeia Velha, que fica na 

divisa  entre  Silva  Jardim  e  Casimiro  de  Abreu,  distante  cerca  40  km  da  sede  do 

município, 8  km  dos quais em  estradas  de  terra.  Aldeia  Velha  é  um  lugarejo  tido 

como refúgio turístico, fundado por imigrantes suíços e alemães, 24  onde, segundo o 

censo do IBGE de 2000, vivem 1.068 pessoas 25 . Na localidade há um centro com 

cerca de dez pequenas ruas que se cruzam, nas quais existem pequenos comércios, 

uma igreja e algumas casas. As demais áreas do distrito são ocupadas por sítios e 

propriedades com até 480 hectares. Durante os finais de semana – período em que 

realizamos  a  exibição  –,  o  povoado  tem  acréscimo  populacional  em  função  dos 

turistas  oriundos  de  diversos  municípios,  mas  principalmente  dos  municípios  do 

Norte do estado do Rio de Janeiro. 

Essa  exibição  teve,  para  nós,  a  conotação  de  teste  dos  equipamentos  e  da 

receptividade  dos  locais  às  projeções,  pois  era  a  primeira  vez  que  usávamos  os 
23 
Para mais detalhes ver GEERTZ, Clifford. p. 4. 
24 
Ver http://mail.tce.rj.gov.br/sitenovo/develop/estupesq/gc04/2005/silvajardim.pdf 
25 
Para mais detalhes ver TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. p 12.

30 
equipamentos para exibir um filme aberto ao público. Por esse motivo, realizamos a 

sessão sem a divulgação prévia, ou seja, sem a fixação de faixas, a distribuição de 

filipetas e o anúncio com carro de som. Mas Aldeia Velha foi escolhida por ser um 

pequeno vilarejo e pela facilidade de reunir as pessoas. 

Da  exibição  de  Aldeia  Velha  que  aconteceu  no  dia  23  de  julho  de  2005, 

participamos  eu,  Marcos  Martinelli,  Adriana  Stoppelli  Borges  de  Almeida  e  Luiz 

Cláudio  Pinto  Anjos  –  que  são  meus  amigos  e  voluntários  no  projeto  –  e,  como 

representante de Silva Jardim, Rosilane Brum. Nós quatro chegamos a Aldeia Velha 

na  parte  da  manhã  do dia  23  de  julho  de 2005  e  Rosilane  à  tarde.  Ao  chegarmos 

conhecemos dois moradores, Lury e Fernando, que, ao saberem da nossa idéia, nos 

falaram de um espaço, a pizzaria Bicho do Mato, de propriedade de Luiz Nelson e 

Ana Paula, sua esposa, que imaginavam ser um bom local para realizarmos a sessão 

de cinema. 

Fernando  nos  apresentou  a  Luiz  Nelson,  também  proprietário  da  Rerserva 

Particular  do  Patrimônio  Natural  (RPPN)  Fazenda  Bom  Retiro 26  e  funcionário  da 

Secretaria  de  Meio  Ambiente  de  Casimiro  de  Abreu,  que  prontamente  –  ao  saber 

dos nossos propósitos – cedeu seu estabelecimento para que realizássemos a sessão. 

Por conta da sessão de cinema, Luiz Nelson e Ana Paula interromperam a venda de 

produtos na pizzaria até que finalizássemos a sessão. Para o mesmo dia 23 de julho 

de  2005,  também  na  pizzaria,  estava  programada a  apresentação  de  um  grupo  de 

forró  chamado  Filhos  D’Aldeia  –  do  qual  Fernando  era  vocalista.  Assim,  após  o 

término da sessão e a saída de todos os espectadores, rearrumamos a pizzaria para, 

então, permitir a entrada das pessoas que assistiriam ao show de forró. 

26 
Ver www.rppnfazendabomretiro.com.br.

31 
Apesar de termos conseguido reunir cerca de 50 espectadores para a sessão 

de cinema, a tarefa não foi muito fácil, pois grande parte dos espectadores insistiu 

em  questionar  várias  vezes  o  porquê  de  estarmos  realizando  o  cinema  de  graça 

dentro  da  pizzaria  e  parecia  que  viam  o  caráter  voluntário  da  iniciativa  com 

perplexidade.  Parece­me  que  acharam  estranho  um  evento  gratuito  e  aberto  ao 

público  acontecer  dentro  de  uma  pizzaria,  que  costuma  cobrar  pelos  eventos  que 

realiza.  Mas  acho  que  estranharam  também  porque  não  nos  conheciam  e  nunca 

haviam visto uma tela montada em cima de um carro, dentro de uma pizzaria. 

Vale  a  pena  fazer  uma  pausa  para  algumas  considerações  sobre  a 

participação do  Luiz  Nelson  nessa  exibição, pois,  apesar  de  sua propriedade  estar 

registrada  no  muncípio  de  Silva  Jardim,  parte  dela  se  estende  por  Casimiro  de 

Abreu  e  o  Luiz  é  muito  participativo  politicamente  em  Casimiro  e  ativista  do 

Partido  Verde.  Ao  citarmos,  em  Silva  Jardim,  o  nosso  interesse  em  realizar  a 

primeira exibição em Aldeia Velha, percebi o constrangimento – que não interferiu 

em seu apoio na realização da sessão – por parte da Rosilane Brum. Mais tarde vim 

a  descobrir  que,  no  passado,  Luiz  Nelson  havia  tido  participação  politica  ativa  e 

contundente em Silva Jardim e que, por conta de divergências em relação à postura 

de  preservação  ambiental  do  município,  aliou­se  ao  município  de  Casimiro  de 

Abreu. 

Dias depois vim a entender que a preocupação de Rosilane Brum, referente 

à participação do Luiz Nelson na exibição não retratava divergências pessoais, mas 

que, na verdade, ocultava a sua preocupação com a repercussão que uma iniciativa 

apoiada pelo poder público  de  Silva  Jardim poderia  ter  pelo  fato de  contar  com o 

envolvimento de um oposicionista ao governo local.

32 
O  desenrolar  dessa  passagem  não  causou  inconveniente  algum  para  o 

relacionamento  do  Cinema  na  Roça  com  o  município  de  Silva  Jardim  e  muito 

menos para a Rosilane Brum. Pelo contrário, serviu de aproximação entre Rosilane 

e Luiz Nelson, pois antes do projeto sair do município presenciei negociações entre 

os  dois  para  a  extensão  das  atividades  educativas  que  Luiz  Nelson  realiza  nas 

dependências  de  sua  propriedade,  visando  a  preservação  da  Mata  Atlântica,  aos 

alunos do município de Silva Jardim. Além disso, reforçou a minha percepção em 

relação  aos  conceitos  de Geertz  sobre  cultura, quando  escreve  que  acredita,  assim 

“como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que 

ele mesmo teceu”. 27 

Voltando à dinâmica da sessão, de modo geral,  nas cidades do interior por 

onde passamos com o Cinema  na Roça, é comum haver eventos gratuitos. Porém, 

100% dos casos reúnem pelo menos uma das seguintes características: acontecer em 

espaço público e/ou haver divulgação prévia. Acredito que a perplexidade tenha se 

dado pelo fato de o Cinema na Roça não atender a nenhum desses quesitos. 

O público presente à sessão reunia pessoas entre, aproximadamente, 6 e 60 

anos. Pelo que pude perceber, a maioria das pessoas chegou à pizzaria caminhando, 

pois o único veículo que havia estacionado nas proximidades era o do Luiz Nelson. 

Pareciam  morar  da  localidade  e  aparentavam  se  conhecer.  Uma  caminhonete 

Toyota Hilux – aparentemente ano de fabricação 2005 – se aproximou do local de 

exibição,  seus  ocupantes  perguntaram  do  que  se  tratava,  foram  convidados  a 

particpar, mas não demonstraram interesse. 

A  grande  parte  do  público  era  formada  de  crianças  acompanhadas  pelas 

mães; algumas sozinhas e outras com os pais também. Havia cerca de cinco casais – 

27 
GEERTZ, Clifford. P. 4

33 
aparentemente,  de  namorados  –  e  alguns  idosos  acompanhando  netos  ou  filhos. 

Caso  não  contássemos  com  o  envolvimento  de  Luiz  Nelson,  Ana  Paula,  Lury  e 

Fernando, possivelmente teríamos conseguido muito poucas pessoas para assistir ao 

filme. 

A  montagem  da  estrutura  levou  cerca  de  40  minutos.  Nessa  época,  a  tela 

ficava  fixada  sobre  o  teto  do  veículo  que  servia  de  local  de  armazenamento  dos 

equipamentos eletrônicos, exceto do projetor, e fonte geradora de energia  elétrica. 

Essa  montagem  foi  um  pouco  conturbada,  pois,  apesar  de  já  termos  testado  os 

procedimentos  anteriormente,  não  tínhamos  prática  e  houve  confusão  ao definir  a 

seqüência de montagem e a reponsabilidade das ações. Eu havia idealizado que os 

cabos  e  fios  elétricos  deveriam  permancer  enterrados  –  para  evitar  acidentes  –  e, 

para  isso,  contávamos  com  um  enxadão  como  ferramenta.  Porém,  o  solo  estava 

compactado, não tínhamos  habilidade com a ferramenta e  não alcançávamos êxito 

na  tarefa.  Como os  portões  da pizzaria permaneceram  abertos,  algumas  pessoas  – 

principalmente  crianças  –  chegaram  com  antecedência  ao  horário  da  sessão  e 

assistiram  ao  trabalho  prévio  de  preparação  do  espaço.  A  presença  delas,  por  um 

ponto de vista, era motivante, no entanto, por outro, dispersava a nossa atenção. 

Após  a  montagem  da  estrutura,  que  terminou  por  volta  das  16  horas, 

utilizamos  o  nosso  equipamento  de  sonorização  para  convidar  as  pessoas  para  a 

sessão  que  seria  iniciada  às  18  horas.  Na  ocasião  contávamos  com  apenas  quatro 

títulos  autorizados, pois,  apesar de o projeto  ser caracterizado pelo uso doméstico 

das imagens – que isenta o exibidor dos pagamentos referentes aos direitos autorais 

e se configura, basicamente, pela gratuidade, pela forma de divulgação e pelo local 

de exibição –, por exigência de um dos patrocinadores, necessitávamos da cessão de

34 
direitos – emitida pelos produtores e/ou distribuidores – para a exibição dos títulos, 

que, à época, eram: Central do Brasil, Tainá, O Caminho das Nuvens e Fala Tu. 

Como  previa  o  projeto,  a  escolha  dos  filmes  deveria  ser  feita  pelos 

espectadores através de uma votação direta, que aconteceu de forma muito simples. 

Eu lia a sinopse e, após a leitura, repetia o nome dos filmes e as pessoas levantavam 

a  mão  escolhendo  o  filme  a  que  desejavam  assistir.  Contávamos  a  quantidade  de 

mãos  levantadas  para  cada  filme  e  o  que  recebesse  o  maior  número  de  votos  era 

exibido. Em Aldeia Velha, o filme escolhido foi Central do Brasil 28 . 

Com  o  microfone  em  punho,  agradeci  a  presença  de  todos,  perguntei  se 

estavam animados com a sessão de cinema, quantos já haviam ido ao cinema – em 

geral,  nessa  e  em  outras  sessões,  menos  de  10%  respondem  que  já  foram,  mas  é 

comum  encontrar  quem  já  tenha  assistido  a  filmes  em  DVD  –  e  expliquei  que  o 

propósito  de  estarmos  exibindo  filmes  gratuitamente  naquela  localidade  era  uma 

consequência da realização do projeto Cinema na Roça, que tinha o desafio de levar 

o cinema a localidades de municípios do estado do Rio de Janeiro que não possuíam 

cinema  e/ou  videolocadoras.  Que  Silva  Jardim,  assim  como  quase  cinco  mil  dos 

5.561 municípios brasileiros, não possuía cinema e, por isso, estávamos lá. Por fim, 

desejei­lhes uma boa sessão e, em seguida, às 18:30 aproximadamente, iniciamos a 

sessão. Durante a sessão os espectadores permaneceram sentados nos bancos e nas 

cadeiras da pizzaria. Cerca de dez pessoas ficaram em pé, junto ao portão de acesso 

à pizzaria, enquanto algumas pessoas chegavam, assistiam ao filme paradas na rua 

por  alguns  instantes  –  em  frente  ao  estabelecimento  –  e  depois  iam  embora. 

Motivadas  pelo  momento,  Adriana  Stoppelli,  Ana  Paula  e  Rosilane  Brum 

28 
Origem: Brasil; gênero: Drama; lançamento no Brasil: 1995; estúdio: Videofilmes; direção: 
Walter Salles. Para mais detalhes ver www.centraldobrasil.com.br.

35 
organizaram  a  distribuição  de  pipocas,  que  não  estava prevista  para  essa sessão  e 

que foi realizada por todos nós, inclusive pelo Luiz Nelson. 

Ao término da sessão, mais uma vez agradeci a presença dos espectadores, 

agradeci  a  gentileza  de  Luiz  Nelson  e  de  Ana  Paula,  a  parceria  com  a  Casa  de 

Cultura  de  Silva  Jardim,  em  nome  de  Rosilane  Brum  e  com  a  Secretaria  de 

Turismo,  em  nome  de  Taísa.  Expliquei  novamente  os  propósitos  do  projeto  e 

finalizei  as  atividades  desejando  boa  noite  aos  presentes.  Nesse  momento  houve 

uma  salva  de  palmas  à  iniciativa  e  as  pessoas  começaram  a  deixar  o  local.  Entre 

oito e dez espectadores permaneceram no local –  alguns pois desejavam obter um 

pouco mais de informações a respeito do projeto, e outros, pois tinham curiosidade 

de ver como funcionavam a estrutura e os equipamentos. 

Iniciamos  a  desmontagem  –  que  levou  cerca  de  25  minutos  –  e 

armazenamos todos os equipamentos dentro do veículo. Em seguida o retiramos de 

dentro da pizzaria e reorganizamos as mesas e cadeiras do estabelecimento. Ao final 

da desmontagem, Rosilane Brum despediu­se e voltou a Silva Jardim enquanto nos 

preparávamos para assistir ao show da banda Filhos d’Aldeia, que – provavelmente 

por ser pago – reuniu um público inferior ao do cinema, com aproximadamente 40 

pessoas, formado principalmente de solteiros (aparentemente), na faixa dos 20 anos 

de idade. Além dos envolvidos na realização da sessão de cinema, poucas pessoas 

permaneceram para a assistir ao show. 

Essa  primeira  exibição  em  Aldeia  Velha  foi  importante  não  apenas  por 

marcar o início do projeto e o sucesso da funcionalidade da estrutura – como era o 

objetivo  principal.  Na  verdade,  essa  sessão  ocultava  aspectos  fundamentais  que 

nortearam  as  demais  exibições.  O  primeiro  aspecto  que  gostaria  de  ressaltar  é  a

36 
importância do envolvimento de pessoas residentes nas  localidades para o sucesso 

das sessões. Vejamos o caso de Luiz Nelson, Ana Paula, Lury e Fernando. 

Para  Roberto  da  Matta  existem  três  fases  ou  planos  no  cotidiano  de  uma 

pesquisa  etnográfica.  A  primeira  delas  é  denominada  pelo  autor  de  “teórico­ 

intelectual”  e  é  marcada pelo  “uso  e até  abuso da  cabeça” 29 . Essa  fase  antecede o 

contato direto com o público a ser pesquisado. Para Roberto da Matta essa é a fase 

na qual o estudante  se debruça sobre a teoria e se nutre de informações sobre seu 

objeto  de  estudo.  No  caso  do  Cinema  na  Roça,  por  desconhecer  essa  literatura,  a 

fase  “teórico­intelectual”  foi  completamente  negligenciada e,  por  conta  disso,  não 

me  dei  conta  da  importância  do  significado  dessa  participação.  Ao  concebê­lo, 

considerei  importante  incluir  esse  tipo  de  participação  na  realização  das  sessões, 

mas  não  considerava  que  o  engajamento  de  algumas  pessoas  residentes  nas 

localidades seria um fator determinante para a presença de espectadores. Durante a 

concepção do Cinema na Roça considerei que a novidade trazida pela presença do 

projeto fosse suficiente para atrair as pessoas para as sessões. 

Outro aspecto relevante é o significado para pessoas como Rosilane Brum e 

Aurélio,  pois,  como  pude  verificar,  o  Cinema  na  Roça  significou  uma  forma  de 

demonstração  de  status  e  disputa  por  poder.  Esse  aspecto  foi  importante  para 

sinalizar que a presença do projeto assume um significado que vai além da exibição 

de filmes.

Gostaria  de  ressaltar  também  o  significado  para  os  voluntários,  como 

Adriana Stoppelli, Marcos Martinelli e Luiz Claudio Pinto Anjos, que aceitaram o 

convite de participar da organização da sessão, pois estariam ajudando um amigo a 

realizar  um  sonho.  No  entanto,  ao  término  do  final  de  semana  de  exibição  em 

29 
MATTA, Roberto da. P 24.

37 
Aldeia Velha, se diziam “com a alma renovada” e que a experiência tinha sido mais 

importante para eles do que para os espectadores pela oportunidade de proporcionar 

a emoção que perceberam nos olhares das pessoas que assistiam às sessões. 

Outro  ponto  que  gostaria  de  ressaltar  foi  a  motivação  espontânea  de 

Adriana,  Rosilane  e  Ana  Paula,  de  se  lançarem  no  vilarejo  à procura de  milho  de 

pipoca  e  demais  ingredientes,  a  fim  de  proporcionarem  um  atrativo  a  mais  aos 

espectadores. Essa manifestação foi a primeira demonstração de que a realização do 

Cinema  na  Roça poderia estar gerando mais benefícios aos que o realizam do que 

aos espectadores. 

A segunda localidade de Silva Jardim onde realizamos sessões de cinema foi 

Cambucaes. Trata­se de uma localidade originada a partir da assinatura do decreto 

presidencial  de  27  de  dezembro  de  1993,  desapropriando  a  Fazenda  Cambucaes 

para  fins  de  reforma  agrária  e  posteriomente  transformando­a  em  assentamento 

rural. Compreende uma área de 1.636 hectares 30 , atualmente ocupada por pequenas 

propriedades  rurais  que  reúnem  106  famílias 31 ,  algumas  delas  voltadas  para  a 

agricultura familiar. Essa exibição foi agendada previamente e, através da Casa de 

Cultura,  foram  confeccionadas  duas  faixas  de  divulgação  e  fixadas  nas 

proximidades  do  local  de  projeção.  Além  disso,  foram  produzidas  filipetas  e 

entregues  aos  professores  da  escola  municipal  de  Cambucaes,  para  que 

distribuíssem aos alunos informando a data e horário da sessão. Com dois dias de 

antecedência foi feita a divulgação local através de uma moto de som – que consiste 

em  uma  moto  equipada  com  sistema  de  sonorização,  muito  comum  nessas 

localidades  para  a  divulgação  de  eventos  –,  que  percorreu  as  cercanias  de 

Cambucaes convidando os moradores. 

30 
Ver http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/DNN/Anterior%20a%202000/1993/Dnn1990.htm. 
31 
Ver http://www.iadb.org/idbamerica/index.cfm?thisid=3467.

38 
Nessa  exibição  já  haviamos  firmado  a  parceria  com  o  Cinemaneiro  e 

chegamos  –  eu,  Marcos  Martinelli,  Luiz  Claudio  Pinto  Anjos  e  Ícaro  Fernandes 

(representante do Cinemaneiro) –  no município na manhã de sexta­feira, de 26 de 

agosto  de  2005.  De  lá  fomos  para  a  Casa  de  Cultura  de  Silva  Jardim,  onde 

encontramos Rosilane Brum e os demais integrantes de sua equipe. Após um breve 

período de conversa sobre o projeto, nossas expectativas e a apresentação das partes 

–  Ícaro  Fernandes  e  Rosilane  Brum  ainda  não  se  conheciam  –  fomos  abastecer  o 

veículo. 

Conforme mencionado anteriormente, no caso de Silva Jardim a doação do 

diesel foi feita pela Secretaria de Obras. Precisávamos fazer uma única retirada de 

100 litros por final de semana de exibição, e o abastecimento não poderia ser feito 

diretamente no veículo, porque apenas veículos oficiais podiam ser abastecidos nas 

bombas  de  combustível.  Precisávmos  encher  cinco  galões  com  capacidade  de  20 

litros cada e posteriormente, fora dos limites da Secretaria de Obras, verter o diesel 

no tanque de combustível do nosso veículo. O abastecimento era importante, pois o 

veículo era a fonte de energia elétrica durante as  sessões e precisavva ser mantido 

em funcionamento durante todo tempo. O processo de abastecimento como um todo 

consumia cerca de uma hora a uma hora e trinta minutos e acontecia entre o pátio 

da Secretaria – coleta do diesel – e um terreno baldio – abastecimento do veículo – 

ao lado da Casa de Cultura. Uma vez reabastecido o veículo, guardávamos o diesel 

excedente  num  galpão  nos  fundos  da  Casa  de  Cultura  –  para  um  futuro 

abastecimento  –  e  prosseguíamos  com  a  agenda  do  dia.  Essa  rotina  de 

abastecimento se repetiu em todas as exibições de Silva Jardim. 

Eu sempre preferi ir cedo, ainda na parte da manhã, para as localidades de 

projeção,  mas  isso  nem  sempre  era  possível  devido  à falta  de  locais  para  a  nossa

39 
alimentação.  E  como  esse  quesito  era  de  responsabilidade  de  Casa  de  Cultura,  e 

seus  convênios  para  a  prestação  de  serviços  de  alimentação  se  restringiam  aos 

estabelecimentos  da  sede,  tinhamos  duas  opções:  uma delas  era  arcarmos  com  as 

despesas  de  alimentação  e  a  outra  era  irmos  para  os  locais  de  exibição  após  o 

almoço. 

Exceto  no  caso  de  Aldeia  Velha,  as  manhãs  das  sextas­feiras  em  Silva 

Jardim eram tomadas com o abastecimento do veículo, o almoço e alguns contatos 

com  representantes  do  poder  público,  com  representantes  da  imprensa  local,  com 

manifestações  culturais  etc.  Enfim,  em  compasso  de  espera  ocupávamos  nosso 

tempo com alguma atividade na sede do município. 

Após  o  almoço  e  com  o  veículo  abastecido,  percorremos  os  11  km  de 

estrada de asfalto e cerca de 4 km em estrada de terra que separam Cambucaes da 

sede  do município  e,  por  volta  das 14:30,  chegamos  nas  dependências  do  sítio da 

Srª.  Otília  e  do  Sr.  Fortunato,  pais  de  Regina,  diretora  da  escola  municipal  da 

localidade, que se situa em frente à propriedade deles, onde a sessão foi realizadae 

que a pedido de Rosilane Brum, o espaço foi gentilmente cedido para a realização 

da sessão. As cadeiras que utilizamos foram cedidas pela diretora da escola e nosso 

trabalho nesse sentido foi o de reuni­las e atravessar a rua para dispô­las em frente à 

tela. 

O  Sr.  Fortunato  é  um  senhor  negro,  com  menos  de  1,60  metro  de  altura, 

aproximadamente 70 anos, um pouco tímido e não muito dado a conversas. No dia 

em que estivemos com ele tentei registrar algumas de suas palavras com a câmera 

de vídeo, mas ele se comunicava por frases tão curtas que desisti da idéia. Não me 

pareceu  muito  interessado  na  conversa,  muito  menos  na  sessão  de  cinema  que 

aconteceria  em  sua  propriedade.  Normalmente,  ao  chegar  nas  propriedades,

40 
costumo  conversar  com  as  pessoas  sobre  a  vida  na  localidade,  a  paz  e  a 

tranquilidade do  local,  se  já moraram ou  se  gostariam  de  viver  em  alguma  cidade 

grande, sobre a natureza, se já foram ao cinema e vários outros assuntos. Com o Sr. 

Fortunato  não  foi  diferente,  mas  a  conversa  não  evoluía  muito  e  ele  sempre 

respondia às perguntas com respostas fechadas ou poucas palavras. 

A  Srª  Otília,  por  outro  lado,  foi  muito  expansiva.  Também  é  negra,  de 

estatura  e  idade  próximas  às do  Sr.  Fortunato  e  assim  que  chegamos  saiu  de casa 

para  nos  receber  e  em  poucos  minutos  nos  convidou  para  um  cafezinho.  Fez 

questão de  nos  contar  a  história  da  propriedade, da  localidade,  mostrar  as  plantas 

que  tinha e  mesmo  sem que  fosse necessário perguntar,  disse  que  gostava  mesmo 

era  da  tranquilidade  daquela  vida,  mas  que,  nos  tempos  atuais,  tudo  estava  mais 

difícil.  Que  da  lavoura  quase  não  se  conseguia  sobreviver,  que  a  roça  não  rende 

mais  como  antigamente  etc.  Assim  que  viu  a  filmadora  nas  mãos  do  Ícaro  achou 

engraçado,  mas  não  se  intimidou  ao  falar  em  frente  à  câmera.  Já  Sr.  Fortunato 

pareceu ficar ainda mais retraído. 

Depois do  João Vitor – neto do casal –, a mais empolgada da família com a 

sessão era a sua mãe Regina. Ela contou que aguardava ansiosamente pela sessão e 

que já havia feito bastante propaganda na escola municipal de Cambucaes, achava 

que  a  sessão  reuniria  muitas  pessoas.  Ainda  segundo  Regina,  a  expectativa  era 

grande entre as crianças da escola e ela pretendia usar passagens do filme em sala 

de aula. 

Uma  vez  planejados  os  passos  da  montagem,  percorremos  a  localidade 

transformando  o  veículo  do  projeto  em  carro  de  som  e  realizamos  mais  uma 

divulgação  da  sessão.  Essa  divulgação  levou  cerca  de  duas  horas  e  percorremos 

quase  todas  as  residências  do  vilarejo  –  que,  de  forma  geral,  eram  construções

41 
modestas, porém em alvenaria –, reforçando o convite e a  gratuidade da exibição. 

Como  as  propriedades  em  Cambucaes  são  formadas,  basicamente,  por  sítios,  não 

tivemos muito contato com as pessoas durante a divulgação. 

Vale a pena ressaltar que não há um script pré­definido para a divulgação. À 

medida que andamos com o carro, vou inventando brincadeiras para fazer com as 

pessoas das localidades. Por exemplo, quando estão na lavoura, pergunto como está 

a colheita; quando saem da escola, pergunto se a aula foi boa e se tinha merenda; 

pergunto  se  já  têm  programação  para  aquela  noite  e,  em  meio  às  brincadeiras, 

divulgo  a  sessão  de  cinema.  Em  Cambucaes,  algumas  pessoas  respondiam  ao 

convite da voz que saía do carro. Como os vidros do veículo são escurecidos, ficava 

difícil ver quem estava dentro, salvo quando parávamos para conversar. Nas demais 

localidades a dinâmica foi similar e as pessoas também responderam às perguntas, 

dizendo se iriam à sessão, ou que não poderiam, por exemplo, porque estariam na 

igreja, ou que decidiriam junto com a família etc. 

No  percurso,  nos  deparamos  com  um  acampamento  do  Movimento  dos 

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e os componentes do movimento também 

foram convidados para a sessão. Ao chegarmos ao acampamento, por volta das 15 

horas,  havia  apenas  um  homem  presente,  que  se  apresentou  como  o  responsável 

pelo  acampamento.  Era  um  homem  branco  de  chapéu,  de  estatura  mediana, 

aparentando 50 anos, que nos recebeu com um misto de reserva e curiosidade. Ao 

explicarmos  que  o  propósito  da  visita  ao  acampamento  era  convidá­los  para 

assistirem  a  uma  sessão  gratuita  de  cinema,  organizada  por um  ONG  em parceria 

com  a  Casa  de  Cultura  de  Silva  Jardim,  se  mostrou  um  pouco  mais  à  vontade. 

Mesmo assim, apesar de – por intermédio da Rosilane Brum – conseguirmos uma 

kombi da Secretaria de Educação para oferecer transporte de ida e volta às pessoas

42 
que moravam em locais mais afastados do sítio do Sr. Forturnato e aos integrantes 

do MST, nenhum representante do acampamento compareceu. 

Ao  final  da  divulgação,  voltamos  ao  sítio  do  Sr.  Fortunato  e  iniciamos  a 

montagem  da  estrutura,  que,  mais  uma  vez,  consumiu  cerca  de  40  minutos.  O 

menino  João  Vitor,  com  aproximadamente  seis  anos,  voluntariou­se  a  ajudar  na 

montagem  e  realmente  demonstrou  interesse  em  participar,  nos  auxiliando  na 

conexão dos  cabos,  na  ligação  dos  equipamentos  e  nas  demais  atividades que  sua 

idade e porte físico permitiam. 

A escolha dos filmes seguiu a mesma dinâmica de Aldeia Velha, porém em 

Cambucaes  foram exibidos os filmes Tainá: uma aventura na amazônia 32 , com 52 

espectadores,  e  Central  do  Brasil,  com  60.  Em  geral,  nem  todos  permanecem 

assistindo  aos  filmes  nas  duas  sessões.  A diferença  no  número de  espectadores  se 

deve  ao  fato  de  algumas  pessoas  chegarem  atrasadas  e  outras  irem  embora  mais 

cedo. Durante a sessão em Cambucaes houve falta de energia, pois, como o vento 

levava  a  fumaça  do  carro  na  direção  das  pessoas,  achei  por  bem  desligá­lo  para 

evitar  o  incômodo  da  fuligem  do  diesel  queimado  sendo  lançada  sobre  os 

espectadores.  Mas,  com  cerca de 30 minutos de projeção, a bateria do veículo  foi 

quase totalmente consumida, fazendo com que os equipamentos desligassem. Com 

isso,  tivemos  que  interromper  a  sessão  por  aproximadamente  10  minutos  para 

reestabelercer  o  sistema,  o  que  me  deixou  muito  preocupado  com  a  reação  dos 

espectadores.  No  entanto,  algumas  pessoas  lamentaram  a  falta  de  luz,  a  maioria 

aguardou pacientemente o restabelecimento e uma pequena parcela foi embora. 

Apesar  de  contarmos  com  as  cadeiras  da  escola,  não  as  conseguimos  em 

número suficiente e algumas pessoas assistiram aos filmes em pé, enquanto outras 
32 
Origem: Brasil; gênero: Aventura; lançamento no Brasil: 2001; estúdio: Tietê Produções 
Cinematográficas; direção: Tânia Lamarca e Sergio Bloch. Para mais detalhes ver 
www.taina.com.br.

43 
se apoiaram na cerca, no poste, na mourama, permanceram sentados em suas motos 

ou  sobre  uma  lona  plástica  de  16m²  que  esticamos  no  chão.  A  presença  de 

motocicletas  como  meio  de  transporte  é  muito  comum  em  todas  as  localidades 

percorridas  pelo  projeto.  Ao  que  tudo  indica,  elas  foram  ocupando  o  lugar  dos 

cavalos nas regiões do interior. 

Em  27  de  agosto  de  2005  foi  o  dia  de  exibições  em  Cesário  Alvim,  que 

começou com uma visita à feira do agricultor e com a participação no programa de 

rádio  do  prefeito  Augusto  Tinoco,  que  é  uma  espécie  de  espaço  para  que  ele 

responda às críticas geradas pela oposição e efetua propagandas de suas realizações. 

Também foi dia de entrevista ao jornal local sobre as exibições do Cinema na Roça. 

Cesário  Alvim  é  o  segundo distrito de  Silva  Jardim  e  é  uma localidade de 

fácil acesso que dista cerca de 2 km, por estrada de asfalto, da BR101. Fica situado 

nas  proximidades  do  município  de  Rio  Bonito.  É  um  distrito  de  característica 

urbana  e  que possui  videolocadora.  Assim, ao  nos  depararmos  com  essa  situação, 

realizamos  a  sessão  em  bairros  ou  vilarejos  de  Cesário  Alvim  onde  não  há 

videolocadora. Sua população é formada por aproximadamente 2.000 habitantes. 

Chegamos  ao  segundo  distrito  por  volta  das  15  horas  e  iniciamos  a 

divulgação  da  sessão.  Às 17:30 chegaram  as  primeiras  crianças.  Gabriel,  Flávia  e 

Sara –  por  volta  dos  cinco anos  de  idade –  queriam  ajudar  na montagem.  Alguns 

adultos  também  se  aproximaram,  mas  nenhum  deles  se  ofereceu  para  ajudar. 

Montamos  a  estrutura  e  em  cerca  de  meia  hora  estava  tudo  pronto para  a  sessão. 

Marcos  Martinelli  e  Rosilane  Brum  estavam  muito  empolgados  com  o  projeto, 

enquanto o Ícaro Fernandes, que seria o responsável pela geração de imagens,  não 

me parecia muito produtivo – segundo meus apontamentos, em princípio pensei que 

ele  não  tivesse  conhecimento  para  fazer  as  imagens,  ou  que  a  falta  de  um  roteiro

44 
prévio  estivesse  dificultando  o  seu  trabalho.  Porém  identificava  que  aquela 

experiência estava sendo importante para ele, pois demonstrava felicidade e supresa 

a cada novidade, como, por exemplo, a vida no campo, o contato com os animais, 

com  pessoas  do  meio  rural  etc.  Eu  esperava  que  essa  experiência  também  fosse 

importante para os demais do Cinemaneiro. 

A  sessão  de  Cesário  Alvim  chegou  a  reunir  84  espectadores  e  o  filme 

escolhido –  através  do  mesmo  procedimento  –  foi  Tainá.  Ao  final  da  sessão,  não 

consegui realizar o debate que pretendia, o que também tinha acontecido em Aldeia 

Velha e Cambucaes. Essa era uma idéia inicial do projeto, mas, ao final das quatro 

sessões,  percebi  que  seria  uma  tarefa  muito  mais  difícil  do  que  imaginava,  pois 

lidava com muita timidez dos espectadores para falarem ao micofone, em frente de 

pessoas conhecidas. 

Em  relação  ao uso do  microfone  pretendo  fazer  algumas  considerações. A 

primeira  deleas  é  que  parece  nítido  que  o uso  do  microfone  seria  um  inibidor  da 

participação, uma vez que é hábito de poucas pessoas utilizá­lo no dia­a­dia. Outro 

aspecto interessante é que o uso do microfone torna a dinâmica do debate mais lenta 

pela  logística  de  passar  o  equipamento  de  mão  em  mão  para  que  a  pessoa  se 

pronuncie. O aspecto mais inibidor, ao meu ver, é o simbolismo de estar falando ao 

microfone, pela diferença de exposição gerada pela  situação, bastante diferente de 

uma conversa informal. 

Por outro lado abriu­se uma lacuna que permaneceu sem resposta por muito 

tempo:  como  fazer  para  que  50  pessoas  consigam  debater  ou  conversar  juntas  a 

respeito do filme a que assitiram sem o auxílio de um aparelho de sonorização? 

Durante  as  sessões  realizei  tentativas  diferentes  e  a  melhor  forma  que 

encontrei  foi  tentar  desenvolver  uma  conversa  com  quem  eu  queria  estimular  ao

45 
debate.  Enquanto  os  créditos  iam  subindo  na  tela  e  o  Marcos  Martinelli  ou  outro 

voluntário  preparava  o  equipamento  para  uma  nova  sessão  ou  para  tocar  alguma 

música, com o ambiente ainda um pouco escuro, me aproximava de alguma pessoa 

munido do microfone sem fio, sentava ao seu lado – quando possível – e começava 

a  perguntar  o  nome,  se  era  da  localidade,  se  tinha  gostado do  filme,  do  que  mais 

tinha gostado, do que não tinha gostado, pedia que me contasse como tinha sido a 

experiência de assistir a um filme numa tela “grandona”, ao ar livre e perto de casa 

etc. 

Eu  perguntava  ao  microfone  para  que  os  demais  ouvissem,  o  que  foi uma 

alternativa para diminuir a exposição das pessoas, pois os entrevistados começavam 

a  falar  com  o  ambiente  ainda  escuro  e  as  demais  pessoas  não  conseguiam  saber 

exatamente  quem  estava falando.  A  idéia  era  que,  quando  as  luzes  começassem  a 

acender, já estivéssemos conversando e a pessoa não se sentisse tão inibida. 

Nas exibições nas localidades de Mato Alto e Juturnaíba, que aconteceram 

nos  dias  3  e  4  de  setembro  de  2005,  respectivamente,  estávamos  presentes  eu, 

Marcos Martinelli, Ícaro Fernandes, Luiz Claudio Pinto Anjos e Rosilane Brum. As 

observações mais interessantes que essas exibições trouxeram foi a importância do 

segmento  religioso  da  comunidade,  pois  em  Mato  Alto  conseguimos  a  cessão  do 

pátio externo da igreja Batista para realizar a exibição e, por conta disso, percebi o 

afastamento dos seguidores dos demais credos, por não haver – nos locais por onde 

passei –  o hábito de frequentarem templos que não sejam das suas religiões. Ouvi 

muitos  comentários  de  que,  quando  o  evento  acontece  em  determinado  espaço 

religioso, as pessoas só comparecem se forem seguidoras daquela religião ou se não 

forem seguidoras de nenhuma. Porém, por outro lado, o apoio da igreja resolveu o 

problema logístico das cadeiras, devido ao empréstimo dos bancos.

46 
Em Juturnaíba realizamos a sessão num dia chuvoso e tivemos que alterar o 

local  de  exibição  momentos  antes  da  projeção.  Juturnaíba  pertence  ao  primeiro 

distrito  de  Silva  Jardim,  reúne  no  máximo  60  famílias  no  entorno  do  vilarejo  que 

fica às margens da lagoa homônima. A principal atividade de Juturnaíba é o turismo 

– ainda incipiente – da pesca. Após a construção da barragem que represa o rio São 

João,  na  tentativa  de  repovoamento  da  lagoa  foi  introduzido  o  peixe  Tucunaré. 

Atualmente  a  principal  atividade  comercial  da  localidade  é  a  pesca  e  os  poucos 

estabelecimentos  que  existem  em  Juturnaíba  dedicam­se  a  atividades  correlatas  à 

pescaria comercial ou desportiva. 

Havíamos  planejado  realizar  a  exibição  em  frente  a  uma  estação  de  trem 

desativada,  atualmente  transformada  em  uma  venda,  mas  por  conta  da  chuva 

tivemos  que  mudar  de  local.  Com  a  mudança  de  local  tivemos  que  improvisar  a 

montagem da tela retirando­a do veículo e fixando­a no interior do bar do Bal, que 

ofereceu  seu  estabelecimento  para  que  realizássemos  a  sessão.  Repetindo  o  que 

aconteceu em Aldeia Velha, o proprietário do bar interrompeu a comercialização de 

produtos  durante  a  sessão  e  resolveu  o  problema  de  espaço  para  a  exibição.  Por 

outro  lado,  alguns  moradores  da  localidade  não  compareceram  para  assistir  aos 

filmes por causa de divergências políticas. Verificamos que o fato de o proprietário 

do local da exibição ser de oposição ou apoiar o governo municipal é relevante para 

os habitantes dessas  localidades. Essa postura, na maioria dos casos, determina  se 

devem – ou não – apoiar determinada iniciativa, como, por exemplo, o Cinema na 

Roça.  Por  isso,  ao  realizarmos  uma  sessão  na  propriedade  de  um  habitante 

marcadamente  partidário  da  situação,  corremos  seriamente  o  risco  de  afastar  os 

oposicionistas e vice­versa.

47 
Outra localidade de Silva Jardim em que estivemos foi Gaviões, que, como 

já foi dito, é bem isolada. Quando estivemos lá, para chegar à localidade era preciso 

percorrer cerca de 50 km – a partir da sede do município – por estradas de terra mal 

conservadas  e  de  difícil  acesso  no  período  das  chuvas.  Devido  a  minha  ligação 

anterior  com  Gaviões  –  por  causa  do  trabalho  junto  ao  grupo  Caminhos  da 

Solidariedade – e a sua característica geográfica,  decidi realizar duas exibições no 

distrito. 

Gaviões  corresponde  ao  terceiro  distrito  de  Silva  Jardim  e  teve  origem  no 

desmembramento  de  uma  fazenda  de mesmo  nome.  Trata­se  de  uma  comunidade 

bastante espalhada, formada, em grande parte, por pequenas propriedades distantes 

entre si. A principais atividades do distrito são a pecuária extensiva e a agricultura 

de subsistência. Grande parcela da população trabalha como colonos das fazendas 

ou na agricultura familiar. 

As projeções aconteceram nos dias 16 e 17 de setembro de 2005 e foram as 

mais complexas em termos de infraestrutura e deslocamento. Um dos motivos foi a 

inexistência  de  locais  de  hospedagem  em  Gaviões,  o  que  nos  forçava  a  percorrer 

mais de 100 km por estradas de terra, por dia de exibição – o que equivale a mais de 

quatro horas diárias de deslocamento. Um outro motivo foi a dificuldade para reunir 

as pessoas, por causa da distância que separava suas residências. Ainda um terceiro 

era  a  dificuldade  de  organizar  e  acompanhar  a  divulgação  local,  também  pelo 

mesmo motivo. 

Quando  estivemos  em  Gaviões,  várias  residências  do  distrito  eram 

desprovidas de energia elétrica e havia um considerável contraste de infraestrutura 

entre as grandes propriedades da região e a maioria dos sítios. Existiam três escolas 

no  distrito,  sendo  que  uma  delas  em  estado  muito  precário.  O  centro  do  vilarejo

48 
reunia cerca de 30 casas, um campo de futebol, duas vendas e uma dessas escolas. 

Mas,  como  as  projeções  aconteceram  em  locais  mais  remotos  para o  segundo  dia 

conseguimos, por intermédio da Rosilane Brum, um ônibus para levar e buscar os 

espectadores em casa. 

Ao chegarmos em Silva Jardim no dia 16 de setembro – dessa vez éramos 

eu,  Ícaro  Fernandes  e  Josinaldo  Medeiros  (o  segundo  jovem  do  Cinemaneiro)  –, 

fomos  surpreendidos  pelo  pedido  de  Cristina,  responsável  pelo  Centro  de  Ação 

Social,  que  é  vinculado  à  Secretaria  de  Assistência  Social  e  presta  assistência  a 

pessoas da terceira idade, para realizarmos uma sessão extra para um grupo de 80 

idosos.  Mas  a  projeção  precisava  acontecer  naquele  dia,  pois  estavam  todos 

reunidos por conta de uma comemoração no local. Cristina soube da nossa presença 

em conversa com a Rosilane Brum e pediu a ela que intermediasse a negociação. 

A  realização  da  sessão  no  Centro  de  Ação  Social  envolveu  uma  logística 

mais  complexa  do  que  imaginávamos.  O  pé  direito  do  centro  era  muito  baixo  e, 

mesmo  desmontando  a  tela  do  veículo,  não  conseguíamos  fixá­la  de  modo 

satisfatório.  O  salão  reservado  para  a  sessão  era  muito  claro  e,  ao  fechá­lo  com 

tecido a fim de escurecê­lo, outro problema surgiu: o calor. A solução para a tela foi 

projetar a imagem diretamente na parede – de cor bege – que distorcia um pouco as 

cores originais do filme. Para o calor causado pelo fechamento das janelas lateriais 

não houve outra saída senão suportá­lo, pois nem com o recuros dos ventiladores o 

problema foi resolvido. 

Mesmo assim, percebi que, para os espectadores do Centro de Ação Social, 

era uma grande novidade. O público reunia 80 pessoas acima de 60 anos, sendo o 

mais  idoso  o  Sr.  Sebastião,  com  95  anos  de  idade.  Para  mais  de  90%  dos 

especatodores havia sido a primeira experiência com o cinema. A idéia inicial era

49 
projetar apenas um filme, porém, ao término de Central do Brasil, decidiram assistir 

a  Tainá.  Entre  60%  e  70%  dos  espectadores  fizeram  questão  de  agradecer 

pessoalmente  a  experiência.  Havia  lágrimas  de  emoção  nos  rostos  de  alguns  com 

cenas do filme Central do Brasil e longas risadas com as cenas da indiazinha Tainá. 

Mas nem todos os espectadores mantiveram­se atentos ao filme. Algumas senhoras 

conversavam  sobre  assuntos  diversos  durante  as  sessões  –  e  às  vezes  eram 

repreendidas  pelos  demais  –  e  vi  cerca  de  quatro  pessoas  dormindo  durante  os 

filmes. 

Saímos de Silva Jardim e fomos diretamente para Gaviões. Chegamos junto 

com  Rosilane  Brum  às  18  horas,  horário  em  que  deveríamos  iniciar  a  sessão. 

Porém, nesse dia a divulgação falhou. Poucas pessoas estavam avisadas, a moto de 

som não havia percorrido a localidade informando o local e o horário da sessão etc. 

Além disso, o tempo não estava muito bom. Algumas nuvens se formavam no céu, 

um indicativo de que choveria durante a noite. 

A  projeção  foi  realizada  na  propriedade  do  Dr.  Paulo  Márcio,  sitiante  não 

residente na localidade, engajado com a preservação do meio ambiente e cultivador 

de  palmito  de  Pupunha  –  uma  alternativa  ao  quase  extinto  exemplar  da  mata 

atlântica,  palmito  de  Jussara  –,  que,  apesar  de  não  estar  presente,  cedeu  a  sua 

propriedade para a realização da atividade para a comunidade. Nesse dia exibimos 

apenas Tainá – por causa da chuva – e havia no máximo 30 espectadores presentes. 

No dia seguinte, 17 de setembro de 2005, voltamos a Gaviões. Dessa vez o 

dia  já  amanheceu  chuvoso.  O  caminho  até  a  localidade  foi  bastante  difícil  e 

demorado,  mas  chegamos  cedo,  por  volta  das  12  horas.  Nesse  dia,  Marcos 

Martinelli,  sua  esposa  Sandra  Félix  Brandão  e  sua  filha  Júlia  Martinelli  nos 

acompanharam. Ao chegarmos a Gaviões tivemos que encontrar outro local para a

50 
exibição,  pois  temíamos  que  não  houvesse  espectadores  por  conta  da  chuva 

(inicialmente  a  sessão  aconteceria  em  local  descoberto).  Conseguimos  negociar 

com o administrador de uma fazenda próxima ao local original de exibição a cessão 

de  um  galpão  coberto  no  qual  eram  guardados  os  tratores  e,  depois  de 

reorganizarmos  a  disposição  das  máquinas,  conseguimos  um  espaço  para  a 

realização da sessão. 

Rosilane Brum havia conseguido o secretário de Educação disponibilizasse 

um ônibus. Mesmo assim, apenas 25 pessoas – que moravam nas proximidades da 

fazenda  –  compareceram.  Vieram  caminhando  e  ninguém  utilizou  o  transporte 

oferecido. As pessoas que moravam mais distante não apareceram nos locais onde o 

ônibus  as  pegaria,  provavelmente  por  causa  da  chuva,  pois  é  possível  que  não 

contassem  que  haveria  sessão  mesmo  chovendo.  Como  não  havia  cadeiras  ou 

bancos,  mais  uma  vez  esticamos  a  lona  plástica  no  chão  e  as  pessoas  se 

acomodaram sobre ela. A maioria do público, nesse dia, foi formada por crianças de 

até 11 anos. 

Ao  término  da  sessão  desmontamos  a  parafernália  e  voltamos  à  sede  do 

município.  Mas  esse  dia  de  Cinema  na  Roça  parece  não  ter  empolgado  muito  os 

presentes. Diferente dos demais locais, as pessoas somente se aproximaram quando 

todos os equipamentos já estavam montados. Nenhuma criança se aproximou com o 

intuito  de  participar  da  montagem,  mesmo  com  a  presença  da  Júlia  –  8  anos  na 

época  –,  que  poderia  ser  um  estímulo  às  demais,  não  houve  aproximação 

espontânea das crianças. Somente após começarmos a exibição de algo na tela que 

as pessoas começaram a aparecer de lanterna em punho.

51 
As exibições de Gaviões reuniram poucos espectadores –  menos de 60, no 

total  –  e  acredito  que  teríamos  mobilizado  mais  pessoas  se  tivéssemos  atentos  à 

reunião de dois fatores: a falha na divulgação e o tempo chuvoso. 

As  últimas  sessões  em  Silva  Jardim  aconteceram  nos  dias  23  e  24  de 

setembro  de  2005,  nas  localidades  de  Bananeiras  e  Vargem  Grande.  Nelas 

estávamos presentes eu, Ícaro Fernandes, Josinaldo Medeiros, Rosilane Brum, Taísa 

(secretária de Turismo) e Rose (Conselho Tutelar). Houve uma média de 70 pessoas 

presentes  em  cada  exibição.  Em  ambas  localidades  pensávamos  em  exibir  apenas 

um filme, mas o interesse do público por uma sessão dupla nos motivou a projetar 

dois filmes seguidos. 

Nessa  época,  o  Cinema  na  Roça  contava  com  10  filmes  em  seu  acervo: 

Central  do  Brasil,  O  Caminho  das  Nuvens 33 ,  Tainá,  Neguinho  e  Kika 34 ,  O  Jeito 

Brasileiro  de  Ser  Português 35 ,  Fala  Tu 36 ,  Tudo  Sobre  Rodas 37 ,  Olho  da  Rua 38 , 

Minicine  Tupy 39  e  Burro  sem  Rabo 40 .  A  escolha  dos  filmes  se  deu  através  da 

votação  direta  –  como  nas  demais  exibições  –  e  o  primeiro  filme  escolhido  em 

ambas foi O Caminho das Nuvens. 

No  primeiro  balanço  do  projeto,  ao  final  das  projeções  em  Silva  Jardim, 

parecia que o Cinema na Roça tinha alcançado parte dos seus objetivos. Se, por um 

lado,  ainda  não  havíamos  conseguido  organizar  debate  algum,  por  outro,  a 

33 
Origem: Brasil; gênero: Drama; lançamento no Brasil: 2003; estúdio: L C Barreto; 
direção: Vicente Amorim. Para mais detalhes ver www.lcbarreto.com.br. 
34 
Origem: Brasil; gênero: Drama; lançamento no Brasil: desconhecida; estúdio: Nós do 
Morro; direção: desconhecida. 
35 
Idem. 
36 
Origem: Brasil; gênero: Documentário; lançamento no Brasil: 2003; estúdio: Videofilmes; 
direção: Guilherme Coelho. Para mais detalhes ver 
http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/fala­tu/fala­tu.asp. 
37 
Origem: Brasil; gênero: Documentário; lançamento no Brasil: desconhecida; estúdio: Abbas 
Filmes; direção: Sérgio Bloch. 
38 
Idem. 
39 
Idem. 
40 
Idem.

52 
manifestação  dos  espectadores  nos  indicava  que  o  Cinema  na  Roça  estava 

contribuindo para que aquelas pessoas tivessem acesso a uma – pequena, que fosse 

– parcela do que era produzido no cinema nacional. 

Aparentemente a presença do Cinema na Roça estava sendo positiva para o 

município. Tanto que nos convidaram a voltar no dia 5 de novembro de 2005, pois a 

Secretaria  de  Cultura,  através  da  Casa  de  Cultura  de  Silva  Jardim,  realizaria  um 

evento  em  homenagem  ao  Dia  da  Cultura,  e  seus  representantes  queriam  que  o 

Cinema  na  Roça  participasse  e  fosse  homenageado  por  suas  realizações  no 

município. 

Pelo fato de percebermos que os munícipes não tinham o hábito de circular 

pelo  município  e  que  desconheciam  várias  localidades  de  Silva  Jardim,  para  a 

ocasião  do  Dia  da  Cultura  foi  preparado  um  vídeo  específico  sobre  a  região, 

marcando a despedida do Cinema  na Roça. O encerramento simbólico do Cinema 

na  Roça foi  marcado  com um evento na  Escola  Municipal Sérvulo  Melo, no qual 

houve a presença de aproximadamente 200 jovens, com os quais conversamos sobre 

responsabilidade social, a concepção do Cinema na Roça e as nossas percepções a 

respeito do projeto no município. 

2.2 São José do Vale do Rio Preto 

São  José  do  Vale  do  Rio  Preto  é  um  o  município  de  21.375  habitantes, 

ocupa uma área de 240 km², segundo o IBGE, 41  e 269 km², segundo a página oficial 

41 
Para mais detalhes ver http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1.

53 
do município na internet. 42  Seu IDH é (0,720) 43 . Dista cerca de 150 km da cidade 

do Rio de Janeiro, em direção ao oeste do estado e faz divisa com os municípios de 

Petrópolis, Teresópolis, Sapucaia e Três Rios. 

O  município  tem  sua  economia  baseada  na  agricultura  e  se  considera  o 

maior produtor de hortifrutigranjeiros do estado do Rio de Janeiro 44  e a “população 

rural  representa  53,52%  dos  habitantes” 45 .  O  prefeito  é  Manoel  Martins  Esteves, 

filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e eleito em 2004 

com 7.074 votos. A Câmara Municipal é composta por nove vereadores. 46 

O  contato  inicial  com  o  município  foi  inusitado.  Marco  Aurélio  Fróes,  à 

época sercretário de Meio Ambiente de São José do Vale do Rio Preto, de passagem 

pelo Rio de Janeiro, viu o veículo do projeto estacionado em uma rua da cidade e se 

interessou  pela  idéia.  Ao  retornar  ao  município  entrou  em  contato  comigo  para 

darmos continuidade ao processo. Todos os detalhes – hospedagem, alimentação e 

combustível necessários – foram acertados por telefone e/ou meio eletrônico. Sendo 

assim,  em  15  de  outubro  de  2005  chegamos  –  eu,  Ícaro  Fernandes  e  Josinaldo 

Medeiros – em São José do Vale do Rio Preto. 

Atendendo ao pedido de Marco Aurélio Fróes, consideramos a possibilidade 

de  exibir  o  filme  A  Visão  do  Paraíso 47 ,  cujo  tema  é  a  preservação  da  Mata 

Atlântica. O filme é protagonizado por Tom Jobim, que era um ilustre cidadão do 

município.  Para  tanto  fazia­se  necessário  que  os  representantes  do  município 

providenciassem  uma  cópia e  a  autorização para  projeção,  junto  ao  Instituto  Tom 

42 
Ver http://www.sjvriopreto.rj.gov.br/acidade/acidade.htm#Supericie. 
43 
Fonte: Atlas do desenvolvimento humano. 
44 
Ver http://www.sjvriopreto.rj.gov.br/acidade/acidade.htm#Economia. 
45 
Informação presente na página oficial do município 
46 
Para mais detalhes ver www.tse.gov.br. 
47 
Origem: Brasil; gênero: Documentário; lançamento no Brasil: desconhecida; estúdio: 
desconhecido; direção: desconhecida.

54 
Jobim  no Rio de Janeiro. Com a demora do processo de obtenção  da autorização, 

nossa partida foi retardada em um dia, a fim de que conseguíssemos levar o título. 

Ao chegarmos no município na manhã do dia 15 de outubro de 2005, fomos 

diretamente  à  prefeitura  encontrar  o  secretário  e  realizamos  uma  rápida  reunião 

apresentando os propósitos do Cinema na Roça. Além dos já citados estava presente 

na  reunião  a  secretária  de  Educação.  Após  essa  reunião  fomos  ao  gabinete  do 

prefeito para uma breve apresentação. 

Em  São  José  realizamos  duas  exibições.  A  primeira,  no  centro  da  cidade, 

participando da Calçada da  Cultura, que  é um  evento  público  que ocorre todas  as 

sextas­feiras  expondo  manifestações  culturais  locais  e  iniciativas  de  outras 

localidades. Essa participação na Calçada da Cultura fugiu um pouco aos propósitos 

do projeto porque no centro de São José havia videolocadoras e exibir filmes nesse 

evento não  atenderia  os  objetivos  do projeto.  Porém,  como  havia  sido  combinado 

antes que faríamos a exibição nesse evento, não havia como buscar outra alternativa 

naquele momento. 

Essa  passagem  tem  singular  importância por dois  aspectos:  o primeiro  é  a 

predisposição  de  São  José  em  aceitar  o  Cinema  na  Roça  pelo  fato  de  existir  uma 

política cultural  no município. O segundo é descobrir até que ponto o projeto terá 

que  alterar  as  suas  características  originais  para  atender  aos  anseios  do  poder 

público local, a fim de ser aceito e estimulado pelas autoridades. 

Em relação ao primeiro aspecto a consequência foi a crença de que o projeto 

faria  parte  das  atividades  do  município  e  que  seria  fácil  motivá­los  a  tornar  o 

Cinema na Roça um projeto permanente por lá. Talvez essa postura tenha refletido 

de  maneira  inversa,  como  será  abordado  mais  à  frente,  pelo  fato  de  termos 

negligenciado  detalhes  culturais  que  inviabilizariam  a  permanência  do  projeto  no

55 
município.  Por  outro  lado,  ainda  referente  ao  mesmo  aspecto,  vale  lembrar  o 

ocorrido em Silva Jardim, onde o projeto demonstrou a sua faceta ligada à disputa 

de poder. 

Temos que considerar que a passagem do Cinema na Roça pode ter servido 

apenas  para  reforço  para  a  imagem  política  dos  representantes  do  município, 

envolvidos  com  a  realização  da  Calçada  da  Cultura,  ou  seja,  acredito  na 

possibilidade  de  o  projeto  ter  sido  usado,  ardilosa  e  exclusivamente,  para  atender 

aos anseios temporários na supressão das necessidades de agenda do evento cultural 

da cidade.

Nossa  passagem por  São  José do  Vale  do  Rio Preto  foi  muito rápida,  mas 

alguns aspectos precisam ser ressaltados. No dia 16 de outubro de 2005 realizamos 

uma sessão na  localidade de Pouso Alegre, que fica próxima do centro  da cidade, 

mas  reúne  grande  quantidade  de  produtores  rurais  e  é  uma  localidade  onde  há 

concentração de pessoas de baixa renda. Apesar do intenso interesse do secretário 

de  Meio  Ambiente  na  projeção  do  filme  A  Visão  do  Paraíso,  em  Pouso  Alegre 

seguimos o mesmo procedimento para a escolha dos títulos e, na segunda exibição 

dessa  noite,  o  mais  votado  foi  o  filme  com  Tom  Jobim.  Porém,  a  narrativa  do 

documentário  não  agradou  aos  espectadores  e,  em  menos  de  meia  hora,  várias 

pessoas  já  tinham  abandonado  o  local de  exibição.  Nessa  noite,  antes  do  final  do 

documentário,  a  inquietação  era  generalizada  e um espectador –  com  cerca  de 11 

anos – chegou a atirar pequenas pedras na tela. 

Enquanto  na  primeira  sessão,  em  que  projetamos  um  dos  filmes  de  nosso 

repertório,  havia  cerca  de  100  pessoas  presentes,  com  apenas  40  minutos  do 

segundo filme,  esse número já havia sido reduzido a 15 espectadores. Na primeira 

sessão  houve  distribuição  de  pipoca  –  patrocinada  pela  Secretaria  de  Meio

56 
Ambiente  –  e  se  formou  uma  fila  com  mais  de  30  pessoas  para  recebê­la.  Mas 

percebi  que,  enquanto  as  pessoas  aguardavam  para  receber  o  saco  de  pipoca, 

mantinham­se atentas ao filme projetado. 

O outro aspecto foi a resistência de parte da população da sede ao nome do 

projeto.  Na  noite  de  sábado  –  dia  16  de  outubro  de  2005  –,  após  a  exibição  em 

Pouso Alegre, em frente à praça principal da sede do município, havia entre quatro 

e  seis  mulheres  na  faixa  de  27  anos  de  idade  sentadas  à  mesa  de  um  bar 

conversando  a  respeito  do  nome  do  projeto.  Ao  me  aproximar  e  demonstrar 

interesse  pela  discussão  disseram­me  julgar  o  nome inadequado por considerarem 

que São José não possuía ligação com a roça. Para elas, aceitar um projeto com esse 

nome  seria  denegrir  a  imagem  da  cidade,  mesmo  sabendo  que  a  economia  do 

município girava, em grande parte, em torno da agricultura. 

Ao sair de São José do Vale do Rio Preto – e ainda durante muito tempo – 

não consegui compreender o distanciamento entre o significado do nome do projeto 

para mim e para esse grupo que manifestou seu descontentamento. Durante a fase 

“teórico­intelectual”  do  Cinema  na  Roça,  acreditava  que  o  nome  era  ideal  para 

caracterizar uma iniciativa que levava o cinema para os moradores da zona rural e 

não percebia como esse – em princípio – detalhe poderia causar algum tipo de mal­ 

estar entre o projeto e os habitantes das localidades. 

Mas  foi  durante  a  preparação  do  presente  trabalho,  ao  ter  contato  com  os 

textos de Roberto da Matta (Matta, 1978) e de Cliffort Geertz (Geertz, 1989), que 

passei a compreender que, durante a concepção do Cinema na Roça, eu estava preso 

às minhas “teias” e não consegui perceber que a palavra roça – apesar da conotação 

idílica  atribuída  por  mim  –  poderia  causar  algum  tipo  de  constrangimento  aos 

demais.

57 
Uma  explicação  para  a  falta  de  atenção a  esse  quesito  está  no  fato  de que 

durante  a  concepção  do  projeto  não  houve  a  preocupação  com  a  fase  “teórico­ 

intelectual” de Roberto da Matta, pois eu não possuía o conhecimento sobre as fases 

e nem o anseio de um trabalho etnográfico. 

Quando  saímos  de  São  José  do  Vale  do  Rio  Preto,  tanto  a  Secretaria  de 

Educação e Cultura, quanto a de Meio Ambiente demonstraram muito interesse em 

transformar  o  Cinema  na  Roça  em  algo  permanente  no  município.  Uma  questão 

instigante é entender os motivos que os levaram ao desinteresse repentino. Depois 

de retornar ao Rio de Janeiro, tentei retomar o contato com Marco Aurélio Fróes, 

mas  as  negociações  não  avançaram.  Acredito que  a  evolução do  Cinema  na Roça 

em São José do Vale do Rio Preto estivesse atrelada, diretamente,  ao  interesse da 

Secretaria  de  Educação,  pois,  pelo  que  entendi  na  época,  a  verba  destinada  ao 

financiamento  do  projeto  seria  oriunda  do  orçamento  da  Educação  e  talvez  a 

secretária não tenha demonstrado muito interesse em patrocinar a iniciativa. 

Percebo  quatro  hipóteses,  que  gostaria  de  destacar,  para  o  repentino 

desinteresse:  uma  delas  é  uma  possível  decepção  com  a  estrutura  do  Cinema  na 

Roça, apesar de não demonstrarem isso durante a nossa passagem pelo município. 

Outra possibilidade é a necessidade de suprimento imediato de um atrativo para a 

Calçada da Cultura, ou seja, é possível que não tivessem  interesse – em momento 

algum – de tornar o Cinema na Roça uma atividade regular no município, mas que 

veio a atender a uma necessidade momentânea de oferecer uma atração ao evento 

semanal.  Uma  terceira  de  que o desconforto de  alguns  habitantes  com o  nome do 

projeto  pode  ter  sido  um  indício  da  má  repercussão  e  repulsa  da  população  à 

iniciativa.  Por  fim  gostaria  de  ressaltar  a  minha  possível  falta  de  persistência  no 

avanço das negociações.

58 
2.3 Sumidouro 

O  município  de  Sumidouro  possui  uma  área  de  395m²,  aproximadamente 

16.062  habitantes 48  e  tem  o  IDH  (0,712) 49 .  Está  localizado  na  região  serrana 

fluminense e dista aproximadamente 175 km 50  do Rio de Janeiro. Faz divisa com os 

municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, Carmo, São José do Vale do Rio Preto, 

Sapucaia e Duas Barras. O município está dividido em quatro distritos denominados 

Sumidouro (1º), Campinas (2º), Dona Mariana (3º) e Soledade (4º). Atualmente seu 

prefeito é Manoel José de Araújo, filiado ao Partido Progressista (PP), que foi eleito 

em  2004  com  5.329  votos 51 .  A  principal  atividade  econômica  do  município  é  a 

agricultura e cerca de 73% da população de Sumidouro vive na área rural. 

O  nome  Sumidouro  foi  dado  ao  município  “em  conseqüência  de  curioso 

acidente geográfico verificado em suas terras, com o rio Paquequer desaparecendo 

sob lajes de pedra por uma extensão de 300 metros” 52 . 

Esse  foi  o  único  município  onde  realizamos  exibições  sem  estabelecer 

acordo prévio com o poder público local. Saímos do Rio de Janeiro – eu e Josinaldo 

Medeiros – com a intenção de viabilizar as negociações a partir da nossa chegada. 

Eu já havia tentado contatos anteriores, porém todos sem sucesso. Por isso resolvi ir 

pessoalmente  ao  município  e  dedicar  cinco  dias  consecutivos  para  percorrê­lo  e 

realizar as projeções. 

48 
Ver http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. 
49 
Fonte: Atlas do desenvolvimento humano. 
50 
Ver www.sumidouro.rj.gov.br. 
51 
Ver http://www.tse.gov.br/internet/index.html. 
52 
Para mais detalhes ver documentação territorial do Brasil em http://biblioteca.ibge.gov.br/

59 
Chegamos por volta das 13 horas da terça­feira, dia 14 de fevereiro de 2006, 

e  fomos  diretamente  para  a  Secretaria  de  Educação  e  Cultura  onde,  após  esperar 

cerca de 40 minutos, conhecemos Cirene Ramos, secretária de Educação e Cultura, 

que  nos  passou  a Yohana  Esteves,  chefe  do  Setor  de  Cultura do  município.  Após 

uma  rápida  negociação  haviam  agilizado  a  hospedagem,  a  alimentação  e  o 

combustível necessários para percorrermos o município e realizarmos as sessões. 

Uma questão intrigante a entender é o porquê de não conseguirmos avançar 

nas  negociações  através  de  e­mails  e  telefonemas,  ao  passo  que  pessoalmente  os 

entendimentos  fluíram  com  significativa  facilidade.  Acredito  que,  inicialmente,  a 

negociação não tenha avançado por três razões principais. A primeira delas é devido 

às  inúmeras  ofertas  de  projetos  que  os  municípios  recebem  e  pela  dificuldade  de 

definir  quais  são  os  mais  interessantes  para  o  momento.  Vale  ressaltar  que  a 

dificuldade na definição pode se dar em consequência da falta de esmero na forma 

de apresentação dos projetos, que, em muitos casos – como pode ter sido o nosso –, 

não  são  explícitos  o  suficiente  nos  própositos  e  na  operacionalização  ou  são 

extensos  demais  e/ou  reúnem outras características que dificultam o entendimento 

por parte de quem os avalia. 

A  segunda,  diretamente  ligada  à  primeira,  atribuo  à  priorização  das 

atividades das Secretarias, que não devem ter considerado o projeto prioritário, pois 

não retornavam as ligações telefônicas, diziam que os responsáveis estavam sempre 

em reunião ou viajando e não tomavam decisão alguma. O único retorno que recebi 

foi  apenas  alegando  terem achado o projeto interessante  e  afirmando que  estavam 

estudando  a  possibilidade  de  realiza­lo.  A  meu  ver  pareceu  falta  de  interesse  ou 

procrastinação na decisão.

60 
Para  a  terceira,  percebo  o  componente  emocional,  pois  uma  coisa  –  que 

pode ser evasiva – é a apresentação de um projeto por escrito e outra, bem distinta, 

é  a  predisposição  do  executor  em  correr  o  risco  de  apresentá­lo  pessoalmente  e 

receber  uma  resposta  negativa  de  imediato,  de  não  ser  atendido  por  não  ter 

agendado a visita etc., aliada à motivação da presença do proponente, munido dos 

equipamentos, disposto a iniciar os trabalhos imediatamente. Entendo que o detalhe 

da  possibilidade  imediata  de  realização  do  projeto  tenha  sido  o  maior  motivador 

para a realização do Cinema na Roça em Sumidouro. 

Segundo Geertz os sistemas culturais são chamados assim por apresentarem 

“um grau mínimo de coerência”, 53  ou, do contrário, não seriam reconhecidos como 

sistemas. No entanto, não se pode esperar que todas as “peças do quebra­cabeças” 

surjam na ordem de montagem do mosaico. Não há espaço para esse tipo de rigidez 

e,  no  meu  entender,  esse  acontecimento  reforça  a  tese  de  Geertz  ao  dizer  que  o 

pesquisador precisa lidar com a falta de coerência. 

Quem  nos  acompanhou  no  município  foi  Kelvin  Schwenk  Morezini,  um 

jovem de 17 anos e estudante do curso de formação de professores, filho de Paulo 

Cesar  Morezini,  funcionário  público  lotado  na  Companhia  de  Águas  e  Esgoto  do 

Rio  de  Janeiro  (CEDAE)  em  Sumidouro  e  da  auxiliar  de  odontologia  Edna 

Schwenk  Morezini.  Ele  fazia  parte  de  um  grupo  de  voluntários  para  ações  da 

Secretaria de Educação e foi designado a nos levar às localidades do município. 

A  primeira  exibição  de  Sumidouro  aconteceu  no  dia  15  de  fevereiro  de 

2006,  na  localidade  de  Porteira  Verde,  pertencente  ao  primeiro  distrito,  de  fácil 

acesso,  pequena  e  que  reúne  aproximadamente  600  pessoas.  Ao  chegarmos  –  por 

orientação do Kelvin – procuramos a Circe, dona de um restaurante – em obras – 

53 
GEERTZ, Clifford. P. 13

61 
que usualmente era utilizado como ponto de encontro na localidade, no qual, antes 

da  reforma,  frequentemente,  eram  realizados  bailes  e  festas.  Kelvin  sugeriu  esse 

local  pelo  fato  de  as  pessoas  já  o  vincularem  à  realização  de  eventos  e  porque 

teríamos  pouco  tempo  para  a  divulgação.  Por  ser  conhecido,  acreditávamos  que 

fosse contribuir para atrair mais pessoas para a sessão de cinema. 

Ao abordarmos a Circe que, juntamente com seu filho Felipe, lavava o piso 

do  salão  principal  recém­pintado,  expliquei  que  o  motivo  da  nossa  visita  era 

verificar a possibilidade de cessão do restaurante para a realização de uma sessão de 

cinema aberta ao público. No primeiro momento ela ficou empolgada com a idéia, 

porém ficou temerosa pelo fato de a obra ainda não ter sido concluída e porque não 

teria  condições  de  garantir  o  conforto  das  pessoas.  Assim  que  esclareci  que  a 

intenção  era  utilizarmos  o  gramado da parte dos fundos do  estabelecimento  e que 

ela precisaria apenas emprestar as cadeiras do local, tornou­se mais uma aliada da 

iniciativa  e  orientou  o  Felipe  que  pegasse  a  moto  e  percorresse  a  localidade 

avisando as pessoas das sessão de cinema. 

Circe é uma mulher de pele clara, que tem por volta de 47 anos de idade, e 

muito falante. Além de se envolver com a preparação do espaço para a realização da 

sessão,  se  prontificou  a  preparar  uma  “galinhada”  –  frango  cozido  em  pequenos 

pedaços  com  molho  –  com  cerveja,  cachorro  quente  e  pipoca  para  comemorar  a 

atração. 

Vale lembrar que era período de férias escolares e talvez por isso quase não 

tenha sido necessário fazer divulgação, pois a notícia se espalhou rapidamente e em 

poucas horas havia mais de 20 pessoas – na maioria crianças – nas proximidades do 

restaurante.

62 
Cerca de uma hora antes de inciarmos a sessão, armou­se um temporal sobre 

a  localidade  e  choveu  torrencialmente  por  mais  de  40  minutos  impossibilitando, 

inclusive,  a  montagem  dos  equipamentos.  Com  quase  uma  hora  de  atraso  em 

relação ao horário previsto para o início da sessão, quando muitos não acreditavam 

mais  na  realização  do  cinema,  conseguimos  montar  a  estrutura.  As  pessoas 

permaneceram  na  varanda  traseira  do  restaurante  enquanto  a  tela  permeneceu  na 

chuva. Apesar do temporal, cerca de 50 pessoas estiveram presentes e o público era 

formado  basicamente  de  adolescentes.  Havia  alguns  adultos  e  as  crianças  não 

somavam 15 pessoas. 

A  dinâmica  de  escolha  dos  filmes  seguiu  a  mesma  rotina  das  demais 

localidades e dessa vez não houve tentativa de debate por dois motivos: o primeiro 

foi  a  falta  do  microfone para  a  realização das  perguntas, pois devido  à chuva  não 

tivemos como posicionar o receptor do microfone no teto do carro, e o segundo foi 

a  dispersão  do  espectadores  devido  à disposição  das  pessoas  nos  dois  andares  da 

varanda do restaurante. 

No  segundo  dia  de  projeções  fomos  à  localidade  de  Soledade  III, 

pertencente ao 4º distrito. Soledade III é composta de sítios e o centro do vilarejo 

reúne aproximadamente 15 casas espaçadas ao longo da estrada de terra, uma igreja 

em frente ao campo de futebol e uma venda nas proximidades das casas. A projeção 

aconteceu no dia 16 de fevereiro de 2006, porém nossa primeira  visita ao vilarejo 

aconteceu no dia anterior.  A localidade dista cerca de 40 km da sede do município 

e seu acesso se dá por estrada de terra. No caminho há várias lavouras de hortaliças 

como de bertalha e couve­flor. Numa dessas conhecemos Silvia, Adail e o pai deste. 

Os  dois  cuidavam  da  colheita  da  bertalha,  enquanto  o  sogro  de  Silvia  cuidava 

sozinho da couve­flor. Os três moravam nas proximidades de Soledade III e foram

63 
convidados a comparecer à sessão de cinema que realizaríamos no vilarejo. Eles nos 

sugeriram que realizássemos a sessão no campo de futebol, pela facilidade de reunir 

as pessoas. No entanto, me disseram que não iriam assistir porque tinham o hábito 

de dormir  muito  cedo  – por  volta das  19  horas –  porque  a  lida  na  roça  começava 

antes das cinco da manhã. 

Ao  chegarmos  em  Soledade  III  conhecemos  o  Sr.  José  Monteiro,  de 

aproximadamente  60  anos,  aparentando  ser  de  origem  nordestina  e  residente  há 

mais  de  40  anos  na  localidade.  Como  o  campo  de  futebol  estava  infestado  de 

carrapatos,  nos  cedeu  um  terreno  entre  a  sua  casa  e  a  igreja  para  a  realização  da 

sessão. 

O  Sr.  José Monteiro  lamentou que  não  tivesse  muito  tempo para  avisar  as 

pessoas  da  redondeza.  Mas,  como  iria  naquele  dia  ao  município  vizinho  de  Duas 

Barras,  se  prontificou  a  ajudar  na  divulgação,  avisando  às  pessoas  que  cruzassem 

seu caminho e pediria aos “garotos” da redondeza para correr as casas. 

Em poucos minutos de conversa nos convidou para entrarmos em sua casa e 

nos  ofereceu  café.  Sua filha,  com  idade por  volta  dos  12  anos,  se  interessou pelo 

cinema  e  nos  perguntou  a  respeito do  filme  que seria  exibido.  Ao  ser perguntada, 

respondeu­me que nunca havia ido ao cinema. 

Uma preocupação do Sr. José Monteiro era saber se o filme teria palavrões, 

cenas de sexo e/ou violência. Vale ressaltar que, entre todas as localidades por onde 

passamos, ele foi o único a falar francamente sobre essa preocupação. 

Nesse dia que antecedeu a exibição em Soledade III realizamos uma breve 

divulgação  com o som do  nosso veículo. Foi  em  Soledade  III  que nos  deparamos 

com a maior dificuldade para convencer a população de que o cinema era realmente 

gratuito.  Muitas  pessoas  perguntavam  se  realmente  não  precisavam  pagar  nada  e,

64 
por vezes, fui abordado por pessoas que me diziam que, se fosse para pagar mesmo 

que um real, não teriam condições de comparecer. Até mesmo a família do Sr. José 

Monteiro – sua filha e esposa – perguntaram mais de uma vez se realmente seria de 

graça.  Com  o  passar  do  tempo  entendemos  que  o  problema  estava  em  parte  na 

forma de divulgação, pois teríamos que dizer que as projeções eram “de graça”, em 

vez  de  dizer  que  eram  “gratuitas”.  Pode  ser  uma  coincidência,  ou  que  minha 

observação  a  esse  ponto  esteja  beirando  a  superficialidade,  porém,  desde  que 

adequamos  o  vocabulário,  não  tivemos  mais  dúvidas  sobre  a  gratuidade  das 

exibições.

Na  tarde  do  dia  16  de  fevereiro  de  2006  voltamos,  como  previsto,  para 

realizar a sessão de Soledade III. Havia pouco mais de 50 pessoas presentes e, para 

essa  sessão,  não  conseguimos  cadeira  alguma.  O  público  era  composto  em  sua 

maioria de adultos. Havia menos de dez crianças e cerca de oito pessoas acima dos 

60 anos. Os filmes escolhidos foram Tainá e Olho da Rua. 

Das 50 pessoas presente à sessão, cerca de 80% permaneceu sentada sobre a 

cerca  do  campo  de  futebol,  em  frente  ao  local  de  projeção.  Cerca  de  seis  idosos 

conseguiram cadeiras e assistiram à sessão sentados. Durante a exibição dos filmes, 

tanto  em  Sumidouro  como  em  outros  municípios,  é  comum  ver  as  pessoas 

dialogando  com  o  filme.  Dos  filmes  do  acervo  do  projeto,  a  cena  inicial  de  O 

Caminho  das  Nuvens  é  uma  das  que  causa  as  reações  mais  fortes  nas  pessoas, 

porque retrata um momento de quase atropelamento de um bebê, filho de Romão, 

personagem de Wagner Moura, e de Rose, personagem de Claudia Abreu. Nesse dia 

em Soledade III, as senhoras sentadas nas cadeiras chegaram a cobrir o rosto com as 

mãos  para  não ver  a  cena.  Também  é  comum  ver  pessoas  torcendo  para  um bom 

desfecho  dos  enredos,  como,  por  exemplo,  em  Central  do  Brasil,  quando  Dora,

65 
personagem de Fenanda Montenegro, encontra os familiares de Josué, personagem 

de Vinícius de Oliveira. Ou então indignando­se com alguma passagem dos filmes, 

como,  por  exemplo,  em  Tainá,  quando  Shoba,  personagem  de  Alexandre  Zachia, 

aceita  vender  um  exemplar  de  determinada  espécie  de  macaco  amazônico  à 

pesquisadora estrangeira Miss Meg, personagem de Betty Erthal. 

A exibição do dia 18 de fevereiro de 2006 foi no centro de Sumidouro, que é 

bastante pacato, reúne cerca de 2.500 habitantes, possui comércios variados e uma 

pequena  indústria  de  brocas  de  perfuração.  Apesar  de  não  ser  um  local  foco  do 

Cinema  na  Roça,  por  conter  videolocadoras  e  pessoas  que  têm  mais  acesso  a 

cinemas  devido  à  proximidade  com  o  município  de  Teresópolis,  atendendo  ao 

pedido de Yohana Esteves, realizamos uma sessão no pátio da igreja matriz, junto à 

principal praça da cidade. Nesse dia  havia cerca  de duzentas pessoas presentes  na 

sessão, muitas das quais não atentas ao filme e sim ao acontecimento. O público era 

formado basicamente de crianças, acompanhadas de seus familiares. A cerca de 50 

metros do local de exibição  – junto a um quiosque – reuniam­se mais cerca de 40 

pessoas que acompanhavam de longe a sessão. 

Essa  exibição  em  Sumidouro  serviu  para  demonstrar  que  a  aceitação  ao 

projeto  é  semelhante  tanto  nas  sedes  dos  municípios  quanto  nas  zonas  rurais  ou 

povoados distantes, considerando algumas adaptações, é claro. Apesar da diferença 

de comportamento entre as pessoas do meio rural e o das sedes, que basicamente se 

resume  ao  fato de que  no  meio rural  as pessoas  ficam mais  atentas  ao  filmes,  é  a 

novidade que estimula a presença das pessoas. 

Tanto  nos  pequenos  povoados  quanto  nos  centros,  o  principal  fator  que 

influencia o ato de assistir aos filmes na rua ou em casa é o tamanho da estrutura.

66 
Percebi que, no primeiro momento, o maior atrativo para a reunião de pessoas para 

as sessões é o tamanho da tela e que, quanto maior, mais atraente se torna. 

A  diferença  entre  exibir  filmes  nas  localidades  mais  afastadas  e  nas  sedes 

dos municípios reside apenas na variedade de filmes, pois, quando há a presença de 

videolocadoras  nas  sedes,  o  acervo  que  atende  às  espectativas  dos  moradores dos 

centros é bastante menor do que o dos habitantes dos povoados. 

Gostaria  de  registrar  que  durante  a  concepção  do  Cinema  na  Roça  não 

considerei  a  possibilidade  de  exibir  filmes  nas  sedes  dos  municípios  por  alguns 

motivos que já foram explorados e outros que ainda serão abordados ao longo desse 

trabalho,  porém,  nesse  momento  gostaria  de  destacar  o  fato  de  que  foi  devido  às 

limitações  orçamentárias  do  projeto,  que  tomei  a  decisão  de  priorizar  apenas  as 

localidades  mais  carentes  de  equipamentos  culturais,  ao  passo  que  eu  gostaria  de 

levar a todas as localidades e, por isso, não considerei a hipótese de realizar sessões 

nos  centros.  Essa  demanda  surgiu  por  solicitação  dos  representantes  do  poder 

público  e, em alguns casos,  serviu como alternativa durante as negociações para a 

viabilização do projeto, como no caso de Sumidouro, com Yohana, e de São José do 

Vale do Rio Preto, com Marco Aurélio. 

Nesse  dia,  Yohana  estava  muito  preocupada  com  a  presença  de  um 

jornalista da região, devido, segundo ela, às críticas que ele fazia às ações do poder 

público e, por isso, pediu­me que exibíssemos um “filme de verdade”, ou seja, que 

não projetássemos um dos curta metragens do acervo. Para a sua felicidade, o filme 

escolhido pelas crianças foi Tainá. 

Para organizar o quarto e último dia de exibições, que aconteceu em 19 de 

fevereiro  de  2006,  fomos  até  o  distrito  de  Campinas  na  véspera,  que  é 

essencialmente agrícola e tem sua sede formada por uma rua principal, aonde existe

67 
uma  igreja  católica,  um  campo  de  futebol  de  dimensões  oficiais,  um  posto  de 

gasolina  e  alguns  estabelecimentos  comerciais.  Partindo  do  centro,  são 

aproximadamente  50  minutos  por  estradas  de  terra.  Ao  chegarmos  em  Campinas 

perguntamos onde havia um local adequado para realizarmos a projeção e um dos 

moradores  me  orientou  a  seguir  por  mais  alguns  quilômetros  e  procurar  o  vice­ 

prefeito – conhecido na região como Sérgio do Dino – no vilarejo de Caramandu. 

Seu nome verdadeiro é Sergio Paulo da Silva. Ele e Idali, sua esposa, foram 

muito acessíveis e receptivos. Assim que chegamos, Sérgio estava na plantação e a 

Idali pediu que esperássemos, pois ele já deveria estar chegando. Enquanto isso nos 

ofereceu café com biscoitos e expliquei a ela o propósito do Cinema na Roça. 

Quando  Sergio  chegou  nem  foi  preciso  explicar  muito  do  que  se  tratava. 

Creio que as crianças  –  seus filhos na  faixa de 8 anos – já  o haviam abordado no 

caminho  de  casa  e  introduzido  o  assunto.  O  vice­prefeito  aparentou  ser  bastante 

simples e  gostou  muito da  idéia  do  cinema.  Entretanto  antecipou um problema:  o 

culto que  aconteceria  no dia  inicialmente  planejado para  a  sessão.  Como  Sergio  e 

Idali  gostaram  tanto  da  idéia  e  devido  ao  envolvimento  repentino  deles  na 

organização  da  projeção,  adiamos  nossa  partida  do  município  e  permancemos  em 

Sumidouro por mais um dia para a sessão em Campinas. 

A idéia inicial era montar a estrutura dentro do campo de futebol do distrito, 

mas como não havia como entrar com o carro no campo, mais uma vez realizamos a 

sessão num terreno entre uma igreja e um campo de futebol. Essa sessão reuniu um 

número  de  pessoas  abaixo  do  esperado  –  no  máximo  40  pessoas  –  e  o  público 

essencialmente  adolescente.  Além  da  família  de  Sergio  e  Idali,  havia  outras  três 

sentadas no gramado. Os demais espectadores sentaram­se no calçamento da igreja, 

enquanto alguns peramenceram em pé nas proximidades da tela. Durante a exibição

68 
havia  quatro  meninas  adolescentes  comentando  que  a  idéia  era  boa,  mas  que  a 

maioria dos jovens ainda  não havia  voltado da escola e/ou da faculdade em Nova 

Friburgo e que, por isso, havia poucas pessoas no local. 

2.4 Santa Maria Madalena 

É  um  município  que  ocupa  uma  área  de  816  km²  e  tem  aproximadamente 

10.200  habitantes,  dos  quais  5.692  vivem  na  área  rural 54 .  O  IDH  de  Santa  Maria 

Madalena  é  (0,734) 55  e  o  município  dista  –  pela  BR  101  –  250  km  da  capital  do 

estado.  Faz divisa ao  norte  com  São  Fidelis e  São Sebastião  do  Alto;  ao  sul, com 

Trajano  de Moraes  e  Conceição de Macabu; a leste,  com  Campos,  e  a oeste,  com 

São  Sebastião  do  Alto 56 .  O  município  é  dividido  nos  distritos  de  Santa  Maria 

Madalena, Triunfo, Santo Antônio do Imbé, Dr. Loreti, Renascença e Sossego. Seu 

prefeito chama­se  Clementino da Conceição, filiado ao PMDB e eleito com 3.883 

votos 57 . 

Estivemos  duas  vezes  em  Santa  Maria  Madalena.  A  primeira  vez  foi  em 

março de 2006 e fomos eu, Marcos Martinelli e Luiz Claudio Pinto Anjos. Porém, 

essa  nossa  passagem  coincidiu  com  a  data  de  comemorações  políticas  de  apoio  a 

Sergio Cabral, então candidato a governador do estado do Rio de Janeiro e, por isso, 

realizamos apenas uma sessão. Nessa ocasião, enquanto aguardávamos para sermos 

atendidos pelo secretário de Educação e vice­prefeito da cidade, conhecemos uma 

senhora chamada Consuelo, que nos relatou que no passado promoveu no muicípio 

54 
Ver http://www.pmsmm.rj.gov.br/dados_gerais.htm. 
55 
Fonte: Atlas do desenvolvimento humano. 
56 
Ver http://www.pmsmm.rj.gov.br/dados_gerais.htm. 
57 
Para mais detalhes ver www.tse.gov.br.

69 
uma  atividade  bastante  parecida.  Posteriormente  vim  a  saber  que  ela  havia  sido 

secretária de Educação de Santa Maria Madalena. 

Procurando  identificar  uma  localidade  para  realizarmos  a  projeção, 

desconsideramos  a  possibilidade  de  projetarmos  em  Osório,  que  fica  próximo  à 

sede, pois naquele dia haveria um aniversário de 15 anos na localidade. Seguimos 

para  Santo  Antônio  do  Imbé,  mas,  como  não  conseguimos  mobilizar  as  pessoas 

para  uma  exibição  no  próprio  dia,  decidimos  seguir  por  mais  cerca  de  50  km  e 

realizar o Cinema  na Roça em Sossego do Imbé, vilarejo situado ao pé do Parque 

do  Desengano  no  qual  moram  cerca  de  100  pessoas.  Chegamos  por  volta  das  14 

horas e circulamos pelo vilarejo até que apareceu um curioso e começamos a falar 

sobre a idéia. 

Há duas coisas que se repetem e acho impressionantes porque, ao conceber 

o projeto, não tinha  idéia de que isso aconteceria. A primeira delas, a importância 

que as pessoas têm dado a uma sessão do Cinema na Roça. Há um contraste muito 

grande na maneira como as pessoas se preparam para ir a uma sessão de cinema na 

cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, e nessas localidades. Em todoas as sessões 

do  projeto,  vejo  famílias  inteiras  reunidas.  As  pessoas  vestem­se  com  roupas  que 

usam normalmente para ir à igreja ou a uma festa. A segunda é acuriosidade pela 

gratuidade da projeção. Algumas vezes é mais fácil encontrar o local e montar toda 

a estrutura do que convencer os espectadores da gratuidade. 

Em Sossego achamos que o local ideal seria um terreno em frente à venda 

de uma senhora chamada Rosa, mas, como a cerca de 50 metros havia outra venda e 

como  normalmente  nas  vendas  dessas  localidades  encontram­se  as  pessoas 

envolvidas com a política local, fomos convidar os donos do outro estabelecimento

70 
para tentar evitar o ocorrido no bar do Bal em Juturnaíba, quando algumas pessoas 

não compareceram por conta das divergências políticas. 

Nesse  dia  almoçamos  na  pensão  da  Dona  Ana  e  do  Sr.  Cristóvão,  de  71 

anos.  Muito  simpático,  contador  de  “causos”.  Trabalhou  a  vida  inteira  como 

motorista, contou histórias de quando a Rodovia Presidente Dutra (Rio­São Paulo) 

estava  em  construção,  das  suas  aventuras  “puxando 58 ”  Praianinha,  falou  da  época 

que  se  comprava  carro  por  fotografia,  da  dificuldade  de  parar  os  caminhões  com 

freio mecânico, do seu carinho por JK, dos motoristas que hoje em dia não sabem 

dirigir no barro e que nunca tinha ido ao cinema. Dona Ana, igualmente simpática, 

porém  mais  recatada  demonstrou  mais  interesse  na  sessão  de  cinema  que  iria 

acontecer. Perguntou sobre o horário e sobre o título que iríamos exibir. Disse­me 

que  tinha  preferência  por  filmes  românticos  como  o  Titanic, 59  que  assistiu  na 

televisão, que não gostava de filmes tristes e que não se recordava a última vez que 

tinha  ido  ao  cinema.  No  horário  da  sessão  o  Sr.  Cristóvão  não  compareceu,  mas 

Dona Ana sim e, pelo que pude perceber pelo seu comportamento, aprovou a idéia, 

pois a vi com os olhos “vidrados” na tela durante a sessão. 

Nessa mesma tarde fomos convidados para um cafezinho na casa da tia do 

Leonardo, um jovem que estava passando uns dias na localidade e que conhecemos 

lá e que foi à sessão com a sua namorada. 

Foi em Sossego do Imbé que atentei para a inibição causada pelo microfone 

quando usado pelos espectadores. Cheguei à conclusão de que ouvir a própria voz 

saindo,  em  alto  volume,  das  caixas  de  som  os  inibe  muito,  ao  ponto  de  não 

58 
Essa é uma expressão coloquial que grande parte dos caminhoneiros usa ao se referir à atividade 
de transportar carga. 
59 
Gênero: drama/romance; ano de Lançamento (EUA): 1997; estúdio:  20th Century Fox / 
Paramount Pictures / Lightstorm Entertainment; direção: James Cameron. Para mais detalhes ver 
http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/titanic/titanic.asp.

71 
quererem  falar,  ao  passo  que,  longe  do  aparelho  de  som,  falam  sobre  todos  os 

assuntos. 

Nosso retorno a Santa Maria Madalena foi em maio de 2007 e aconteceu de 

forma  diferente  da  primeira.  Dessa  vez  chegamos  ao  município  representando  a 

Brasil  Social,  com  os  compromissos  todos  agendados  e  com  a  nova  estrutura  do 

Cinema  na  Roça:  a  nova  tela,  inflável,  com  300  polegadas  de  área  de  projeção. 

Havíamos  agendado  previamente  as  localidades  de  projeção  e  combinado  que 

faríamos três projeções entre sexta­feira e domingo e que, na segunda­feira seguinte 

às  exibições,  teríamos  uma  reunião  com  os  representantes  do  município  para 

realizarmos um balanço das projeções. 

Chegamos  em  Santa  Maria  Madalena  no  dia  18  de  maio  de  2007  e 

estávamos – eu e o Marcos – acompanhados do nosso amigo e  voluntário Joelmo 

Ribeiro,  morador  de  Conceição  de  Macabu,  um  município  vizinho.  Nossa  rotina 

inicial  foi  muito  parecida  com  a  primeira  vez  em  Madalena,  mas  dessa  vez 

chegamos  na  cidade  próximo  ao  horário  do  almoço  e  fomos  recepcionados  por 

Silvio  José  Arruda  Valente,  assessor  do  vice­prefeito  e  secretário  de  Educação. 

Mais  tarde  o  vice  e  secretário de  Educação,  Marcelo  Freixo  de  Lima,  juntou­se  a 

nós  para  o  almoço,  com  mais  alguns  assessores,  entre  os  quais  Consuelo,  que 

havíamos  conhecido  durante  a  nossa  primeira  visita  ao  município.  Dessa  vez 

teríamos o Silvio como nosso cicerone; ele nos acompanharia nos demais dias em 

que permaceríamos no município. 

A primeira  localidade de projeção foi Ribeirão Santíssimo, uma localidade 

pequena, resumida a um campo de futebol, uma venda e algumas casas afastadas. 

Para chegar a Ribeirão percorremos cerca de dez quilômetros por estada de terra, o 

que consumiu aproximadamente 20 minutos. Ribeirão, apesar de ficar relativamente

72 
próximo ao centro, é um lugar bastante ermo. Lá chegando, fiquei surpreso, pois, de 

tão pequena, pensei que fosse uma sessão para no máximo 30 pessoas. Tudo que eu 

avistava era um campo de futebol com alguns carneiros pastando e uma venda em 

frente ao campo. 

Para  essa  exibição  necessitaríamos  de um  suporte  de  energia,  pois  a  nova 

tela  consome  mais  energia  do  que  o  sistema  do  veículo  pode  prover.  Por  esse 

motivo  precisamos  ligar  um  fio  de  extensão  diretamente  da  venda  até  o  local  de 

exibição. Decidimos montar a tela  em  frente  à venda, do outro lado da estrada de 

terra, uma vez que a localidade era muito pacata e quase não passavam veículos na 

estrada.  Vale  ressaltar  que,  além  de  gentilmente  ceder  a  energia  elétrica  para  a 

ligação  dos  equipamentos, o dono da  venda  recusou­se a  aceitar  o pagamento  das 

nossas despesas. 

Levamos por volta de uma hora para montar toda a estrutura, pois como era 

a  primeira  vez  que  montávamos  a  tela  inflável  em  um  local  de  exibição,  tivemos 

que atentar para vários detalhes ainda desapercebidos. A ajuda de Joelmo e Silvio 

foi fundamental. Diferentemente da maioria das localidades, dessa vez a única ajuda 

local com a qual contamos foi a do dono da venda. 

Em Madalena, a Secretaria de Educação disponibilizou o transporte escolar 

para buscar as pessoas em casa e essa ajuda foi fundamental para que mais pessoas 

tivessem  condições  de  comparecer  ao  evento.  Diferente  do que  eu  imaginava,  em 

Ribeirão  Santíssimo  chegamos  a  contar  150  pessoas  presentes,  muitas  delas 

oriundas  de  localidades  próximas,  como  Gordura  e  Barra  Linda,  que  somente 

tiveram condições de ir graças ao transporte escolar que foi disponibilizado para o 

evento.

73 
Em  Ribeirão  Santíssimo  exibimos  dois  filmes.  O  primeiro  foi  Carros 60  e 

teve boa aceitação entre adultos e crianças. O segundo foi Se Eu Fosse Você 61 , não 

tão aceito, começou com cerca de 70 espectadores e terminou com menos de 10. 

Algumas  curiosidade  em  Ribeirão  Santíssimo  merecem  ser  ressaltadas.  A 

primeira delas é que as pessoas chegaram antes da hora – em função do transporte 

escolar  –  e  permanceram  sentadas  nos  bancos  até  o  início  da  sessão  às  18  horas. 

Normalmente  temos  que  atrasar  a  sessão  por  15  ou  20  minutos,  por  conta  das 

pessoas  que  chegam  atrasadas,  mas  em  Ribeirão  pudemos  iniciar  a  sessão 

pontualmente  no  horário.  Assim  como  nos  demais  locais,  cerca  de  90%  dos 

presentes  nunca  havia  ido  ao  cinema  e  em  Ribeirão  todos  disseram  nunca  ter 

assistido aos filmes que propusemos. O fato que mais chamou a minha atenção foi 

que  normalmente,  antes  das  sessões,  brinco  um  pouco  com  os  presentes  fazendo 

uma série de perguntas, para as quais devem responder dizendo “eu”. São perguntas 

como: quem quer assistir ao filme, quem quer pipoca, quem está feliz hoje etc. e a 

última  pergunta  é  quem  está  com  cecê.  Em  todas  as  localidades  algumas  pessoas, 

deastentamente, respondem. Em Ribeirão Santíssimo ninguém respondeu. 

O  segundo  dia  de  projeções  foi  na  localidade  de  Triunfo,  que  fica  a  uma 

distância de 40 quilômetros da sede do município, porém todo o caminho é feito por 

estrada de asfalto. Para chegar a Triunfo é  necessário voltar para a estrada que dá 

acesso  a  Santa  Maria  Madalena,  em  direção  a  Conceição  de  Macabu.  A  bem  da 

verdade,  Triunfo  está  mais  perto  de  Conceição  do  que  de  Madalena.  É  uma 

localidade à beira da estrada e um local de passagem. Dificilmente as pessoas saem 

de  suas  localidades para  irem  a  Triunfo  ou  a  Rio  Dourado  em busca  de diversão. 

60 
Origem: EUA; gênero: Animação; lançamento no Brasil: 2006; estúdio: Disney/Pixar; direção: 
John Lasseter. Para mais detalhes ver http://www.disney.com.br/cinema/carros/. 
61 
Origem: Brasil; gênero: Comédia; lançamento no Brasil: 2007; estúdio: Total 
Entertainment/Lereby/Globo Filmes/ Fox Film do Brasil; direção:  Daniel Filho.

74 
Quando saem à procura de “algo para fazer”, vão para Rio das Ostras e Conceição 

de Macabu. 

Inicialmente a proposta era realizar a sessão em frente à creche do distrito. 

No entanto, decidimos realizá­la ao lado da Escola Estaual Municipalizada Corrégio 

de  Castro  por  conta  de  um  evento  que  aconteceria  no  local,  para  arrecadação  de 

donativos  para  a  festa  da  igreja.  Nesse  dia  Silvio  não  pode  nos  acompanhar  e 

Joelmo  teria  que  voltar  a  Conceição  logo  após  a  exibição  do  filme.  Na  parte  da 

tarde  nos  encontramos  com  o  prefeito  acompanhando  uma  obra  na  cooperativa 

agropecuária – próxima à sua fazenda – em Triunfo e nos disse que compareceria à 

sessão. Mas não compareceu. 

Ao  iniciarmos  a  montagem  da  estrutura  percebemos  a  possibilidade  de 

chuva. Como em Triunfo não tínhamos outra alternativa de local para exibição, pois 

o ginásio poliesportivo tem a acústica muito prejudicada, decidimos montar tela  a 

céu  aberto  mesmo  e  correr  o  risco  de  realizar  a  sessão  embaixo  de  chuva.  Foi 

interessante  perceber  que  as  professoras  envolvidas  com  a  exibição  titubeavam  a 

todo momento, demonstrando a intenção de cancelar a exibição por conta da chuva. 

Se não fosse a nossa insistência em montar a estrutura, mesmo correndo o risco do 

não comparecimento dos espectadores, não teriam acontecido as sessões de Triunfo. 

Um  pouco  antes  do  início  da  sessão  caiu  uma  chuva  fina  e  de  forma 

improvisada conseguimos montar uma pequena tenda e as crianças se posicionaram 

abaixo dela. Algumas pessoas permanceram dentro da escola e começaram a assistir 

ao filme sobre o muro. 

Com  cerca  de dez  minutos de  iniciada  a sessão,  a  chuva  parou.  Com  isso, 

várias  pessoas  se  aproximaram  e  chegamos  a  ter  mais  de  60  pessoas  em  cada

75 
sessão.  Nesse  dia  exibimos  os  filmes  Carros  e  Quarteto  Fantástico 62 .  Uma 

curiosidade  dessa  exibição  é  que  o público  se  alternou  entre  os  filmes. Durante  a 

exibição de Carros, a maioria dos espectadores era formada de crianças. À medida 

que  começamos  a projetar  o  Quarteto  Fantástico muitos  jovens  se  aproximaram  e 

assistiram  ao  filme.  Até  então  isso  não  havia  acontecido.  Normalmente  algumas 

pessoas se alternam, mas em Triunfo houve uma mudança radical de público. 

Nossa  última  exibição  em  Madalena  aconteceu  em  Sossego  do  Imbé  e 

marcava  aproximadamente  dez  meses  da  nossa  primeira  passagem  por  lá.  O  dia 

estava  chuvoso  e,  como  disse  anteriormente,  chegar  em  Sossgo  do  Imbé  é  uma 

longa  viagem.  Dessa  vez  levamos  quase  duas  horas para  chegar  e,  ao  chegarmos, 

fomos  diretamente  para  a  casa  de  um  vereador  e  morador  da  localidade.  Grande 

incentivador das exibições em Sossego, Edmar Farah  Ramos, vulgo Mazinho, nos 

recebeu para o  almoço. Estávamos  eu, Marcos, Silvio  e  sua esposa e  a  família  de 

Mazinho. 

Decidimos montar o cinema no centro comunitário – que é uma construção 

pública  equipada  com  pias,  bancos  e  banheiros,  usada  para  a  realização  de 

aniversários,  celebração  de  casamentos,  entre  outros  –  e  isso  significava  que  não 

conseguiríamos  montar  a  tela  inflável,  que  possui  quase  sete  metros  de  altura, 

enquanto  o  pé  direito  do  centro  comunitário  tinha  cerca  de  três.  Além  disso,  eu 

estava temeroso em relação à presença do público, pois – assim como aconteceu em 

Gaviões – havia muito tempo que chovia ininterruptamente. 

Sossego do Imbé tem se mostrado surpreendente. Desde a primeira vez que 

estivemos  lá,  fiquei  supreso  com  o  interesse  das  pessoas.  O  primeiro  filme  a  ser 

62 
Gênero: aventura; ano de Lançamento (EUA): 2005; estúdio: 20th Century Fox / Marvel 
Enterprises / 1492 Pictures / Constantin Film Produktion GmbH; direção: Tim Story para mais 
detalhes ver http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/quarteto­fantastico/quarteto­ 
fantastico.asp.

76 
projetado foi Meu Tio Matou um Cara e o segundo foi Carros.  Durante a enquete 

para  a  escolha  dos  filmes,  pediram  que  fosse  de  aventura,  terror  ou  de  brigas. 

Apesar  de  ninguém  manifestar  o  interesse  por  comédia,  ao  escolherem  os  filmes, 

deram preferência à comédia e nacional. 

Nessa exibição em Sossego do Imbé tivemos alguns contratempos. Além da 

chuva  e  do  frio,  no  meio  da  sessão  faltou  luz  na  localidade,  porém  todos 

aguardaram pacientemente por volta de 15 minutos até que ligássemos o sistema de 

alimentação do veículo. Outra manifestação interessante é que todos permaneceram 

nas duas sessões e ainda se lembravam do filme que havíamos projetado quase um 

ano antes. A professora Viviane, presente à sessão, disse aos alunos que trabalharia 

o  tema  dos  filmes  em  sala  de  aula  e  em  dois  anos  de  Cinema  na  Roça  ela  foi  a 

primeira professora que manifestou explicitamente esse interesse. 

Vale  a  pena  ressaltar  que  em  todas  as  projeções  de  Madalena  houve 

distribuição gratuita de pipoca e refresco e que a ajuda da Secretaria de Educação, 

fornecendo  o  transporte  gratuito  em  todas  as  projeções  foi  um  diferencial  do 

município. Em Sossego do Imbé o público se manteve concentrado durante as duas 

sessões,  ao  contrário do que observamos  em outras  localidades.  Mais  de  uma  vez 

ficou  nítido,  em  algumas  localidades,  que  a  exibição  de  dois  filmes  excedia  a 

capacidade de concentração e o interesse dos espectadores. Em Ribeirão Santíssimo 

encontramos  muita  dificuldade  para  conseguir  os  depoimentos  das  pessoas,  mas 

uma menina presente foi bastante sincera ao dizer que não prestou atenção no filme 

e que usou o momento para rever as amigas e conversar. 

Na  segunda­feira  seguinte  às  projeções,  conforme  acordado,  realizamos  a 

reunião com os representantes de Santa Maria Madalena. Estavam presentes o vice­ 

prefeito Marcelo Freixo de Lima,  Silvio Valente e Consuelo – assessores do vice­

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prefeito  –  e  a  coordenadora  pedagógica  da  Secretaria  de  Educação.  Durante  a 

reunião  apresentamos  nossa  intenção  de  continuarmos  a  realizar  exibições  no 

município  e  uma  proposta  de  levarmos  o  Cinema  na  Roça  para  as  escolas  – 

resultado das mudanças ocorridas no projeto e que serão abordadas no capítulo 3 do 

presente  trabalho.  Após  apresentarmos  nossa  proposta,  Marcelo  Freixo  pediu  que 

Sílvio apresentasse um relato com suas considerações sobre as exibições, visto que 

ele  havia  acompanhado quase todo o processso. As considerações de Sílvio foram 

altamente  positivas,  elogiou  muito  a  receptividade  das  pessoas  das  localidades, 

citando que as pessoas haviam ficado maravilhadas com o cinema, que viu muitas 

pessoas  que  nunca  tinham  ido  ao  cinema  e  que  ficaram  emocionadas,  elogiou  os 

equipamentos e a qualidade do som, falou que as projeções reuniram muitas pessoas 

e que a que ele mais gostou foi a de Ribeirão Santíssimo porque reuniu as pessoas 

mais humildes e com menos acesso às coisas que acontecem no município, por ser 

um local carente e distante. Ressaltou que, apesar da nossa predisposição de realizar 

várias  sessões  em  uma mesma  noite,  na  maioria  das  localidades  de Madalena  não 

conseguiríamos porque as pessoas não teriam resistência física para assistir a filmes 

seguidos  e  finalizou  dizendo  que,  para  o  município,  seria  uma  coisa  muito 

importante porque as pessoas são carentes de atrações. 

Ao  final  da  apresentação  das  considerações  do  Silvio  iniciamos  uma 

discussão a respeito da viabilidade e da aplicabilidade da proposta para o município, 

e  todos os presentes  se  mostraram  interessados em  tornar o projeto uma  atividade 

regular  em  Santa  Maria  Madalena.  Mas  até  o  momento  do  término  do  presente 

trabalho  nada  aconteceu  de  concreto para  viabilizarmos  a  continuidade  do projeto 

em Madalena. Em seguida, o vice­prefeito referendou as considerações do Silvio e

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disse que apresentaria a proposta ao prefeito, pois não achava o custo de realização 

alto, mas que precisava verificar de onde teriam que descolacar a verba. 

2.4 Casimiro de Abreu 

É um município de aproximadamente 26.978 habitantes, ocupa uma área de 

461 km² e tem o IDH (0,781). 63  Dista cerca de 160 km da cidade do Rio de Janeiro, 

em  direção  ao  norte do  estado.  Faz divisa  com  os  municípios  fluminenses  de  Rio 

das Ostras, Nova Friburgo, Silva Jardim, Macaé e Cabo Frio. Atualmente, o prefeito 

é Paulo Cezar Dames de Castro, filiado PMDB, eleito em 2004 com 9.036 votos 64 . 

O  município  é  dividido  nos  distritos  de  Casimiro  de  Abreu,  Barra  de  São  João, 

Professor Souza, e Rio Dourado 65 . 

Entre  as  exibições  de  Sumidouro  e  as  de  Casimiro  ocorreram  algumas 

mudanças  no  projeto.  Essa  mudanças  serão  abordadas  detalhadamente  no  terceiro 

capítulo do presente trabalho. Por ora vale ressaltar que, durante essas exibições, já 

estávamos  investindo  na  estratégia  de  oferecer  projeções  a  quaisquer  municípios, 

independente do IDH e da presença de cinemas, pois chegamos à conclusão de que 

esse  critério  não  representava  mais  um  indicador  justificável.  Nessa  época  já 

contávamos  com  a  nova  estrutura  de  tela  inflável  e  bastava,  apenas,  que  os 

municípios  demonstrassem  interesse  na  realização  de  exibições  que  levávamos  o 

projeto. Casimiro também possui uma sala pública de exibição e nossa proposta foi 

63 
Para mais detalhes ver http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 e Atlas do 
desenvolvimento humano. 
64 
Para mais detalhes ver www.tse.gov.br. 
65 
http://www.casimiro.rj.gov.br/info_municipio.php.

79 
a de manter a realização das sessões em localidades distantes do centro, onde está 

localizada a sala. 

Chegamos a Casimiro por intermédio do Luiz Nelson e com três projeções 

agendadas. A primeira delas, em Palmital; a segunda, em Rio Dourado, e a terceira, 

em  Professor  Souza.  Na  segunda­feira  posterior  às  projeções  –  assim  como  em 

Madalena – tinhamos o compromisso de fazer uma apresentação formal do projeto 

à  secretária  de  Cultura  e  Educação  e  demonstrar­lhes  nosso  interesse  de  levar  o 

cinema  para  as  escolas  da  rede  municipal.  Em  Casimiro  fomos  recebidos  por 

Soninha,  diretora  da  Fundação  Cultural  Casimiro  de  Abreu  e  pelo  seu  assessor 

Vaninho, que nos acompanhou em quase todas as localidades. 

Palmital, que é uma localidade preterida e disputada ao mesmo tempo pelos 

poderes públicos, fica dentro dos limites do distrito de Barra de São João e, por ter 

uma localização limítrofe entre Casimiro e Rio das Ostras, há uma ambiguidade de 

identidade  em  relação  ao pertencimento  dos  moradores  a  um  ou outro  município. 

Palmital é desejada pelos dois municípios para fins de censo e esquecida no tocante 

às  responsabilidades  públicas.  É  muito  comum  verificar  a  presença  de  veículos 

oficiais dos dois municícios em Palmital e chega­se ao ponto curioso de a coleta de 

lixo de dois lados de uma mesma rua ficar a cargo de duas prefeituras diferentes ou 

de  nenhuma.  Enquanto  estávamos  lá  ouvi  de  alguns  moradores  que  ambas 

prefeituras se preocupam muito com a localidade apenas na época das eleições e no 

momento de cobrança de impostos. 

A projeção em Palmital aconteceu na Praça do Pesque e Leve. A praça é o 

resultado  de  um  litígio  gerado  por  conta  do  não  pagamento  do  Imposto  Predial 

Territorial  Urbano  (IPTU).  De  acordo  com  as  pessoas  do  local,  um  habitante  da 

região, para findar o litígio, que havia anos tramitava na Justiça, propôs um acordo,

80 
pelo  qual  o  poder  público  tornou  o  espaço  inalienável.  Desse  acordo  resultou  a 

construção da praça a cargo do proprietário do terreno. A praça do Pesque e Leve é 

uma área de pesca comunitária, na qual os moradores podem pescar gratuitamente 

durante os finais de semana e levar o pescado para ser consumido em suas casas. 

Nossa  chegada  em  Palmital  marcou  a  semana  de  inauguração  da  praça  e 

tudo ainda estava muito novo e com sinais de pouco uso. Ao começarmos a montar 

a  estrutura do  cinema,  muitas  crianças  se  juntaram  a  nós  e  se  voluntariaram  para 

ajudar  na  montagem.  Como  a tela  inflável  lembra  um  “pula­pula”,  as  crianças  se 

divertiram durante a montagem tentando descobrir do que ser tratava exatamente. 

Nessa projeção conseguimos reunir cerca de 250 pessoas, sendo que muitas 

delas  estavam presentes  por  conta da  agitação que  acontecia  na praça, por  ser um 

ambiente  de  festa,  e  não  a  fim  de  assistir  ao  filme.  Algumas  características  da 

projeção  em  Palmital  foram  marcantes.  A  primeira  delas  foi  o  comportamento de 

quatro meninos na faixa dos 11 anos, que insistiram em assistir ao filme por trás da 

tela, com a imagem invertida. Como o pano de projeção é translúcido, consegue­se 

assistir  ao  filme  dessa  forma.  A  curiosidade  desses  meninos  parecia  estar  mais 

ligada  ao  diferente,  às  suas  relações  com  o  equipamento  do  que  ao  filme 

propriamente dito. Outro aspecto curioso foi que, ao término do primeiro filme, as 

pessoas  se  levantaram  e  deixaram  a  praça  sem  esperar para  saber  se  haveria  mais 

uma  sessão,  pois  no  início  da  projeção  havíamos  anunciado  a  possibilidade  de 

projetarmos  dois  filmes.  Em  Palmital  não  foi  muito  difícil  encontrar  pessoas  que 

quisessem  dar  seus  depoimentos  sobre  o  filme,  mas  aconteceu  de  forma  muito 

pontual  e  sem  profundidade.  Apesar  do  cinema  reunir  muitas  pessoas  na  praça, 

alguns garotos continuaram a jogar futebol em uma quadra pública próxima à praça, 

como  se  nada de  novo  estivesse  acontecendo.  Por  fim,  tão  logo  terminou o  filme,

81 
com um número reduzido de pessoas, a praça foi tomada pelo ritmo do funk vindo 

de um carro estacionado no local. 

A  projeção  de  Rio  Dourado  não  fez  sucesso.  A  localidade  apresenta 

características  muito  similares  a  Triunfo,  em  Santa  Maria  Madalena,  e,  apesar  de 

percorrermos a localidade divulgando as sessões, de a noite estar agradável e  sem 

chuva,  ter  um  bom  espaço  para  as  pessoas  assistirem  aos  filmes  sentadas,  no 

momento  de  início  havia  muito  poucas  pessoas.  Chegamos  a  ter  cerca  de  30 

crianças que assistiram ao  filme Carros, mas que depois deixaram o local.  No dia 

havia  uma  pequena  festa  em  uma  igreja  da  localidade,  mas  não acredito que  esse 

tenha  sido o  motivo  de  tão baixa  frequência,  pois  tomamos  o  cuidado de  evitar  o 

horário conflitante. Rio Dourado é uma localidade que se estende ao longo do trilho 

do  trem  e  é  cortada  por  uma  estrada  que  faz  a  ligação  entre  a  Rodovia  Amaral 

Peixoto, nas proximidades de Rio das Ostras, e a BR101. 

Mesmo  com  o  insucesso  das  sessões,  algumas  manifestações  foram 

interessantes. A primeira delas foi a participação das crianças na montagem da tela 

e a curiosidade de alguns adultos que acompanhavam de longe e  hesitavam em se 

aproximar.  Outra  questão  intrigante  foi  que  em  Rio  Dourado  algumas  pessoas  se 

aproximaram e assistiram ao filme Coronel e o Lobisomen quase todo e, a menos de 

15 minutos para o final, se ausentaram do local. Antes da projeção havíamos sido 

alertados por Vaninho, Soninha  e Luiz Nelson que a comunidade de Rio Dourado 

era pouco participativa e que os eventos que acontecem  na  localidade não reúnem 

muitas pessoas. 

Rio Dourado é muito próximo a Rio das Ostras e há um constante fluxo de 

carros fazendo a ligação entre a BR101 e a Rodovia Amaral Peixoto, que dá acesso 

tanto a Rio das Ostras quanto a Búzios e, mais à frente, a Cabo Frio. Acredito que o

82 
acesso  facilitado  a  esses  municípios  com  mais  atrativos  culturais  motiva  os 

moradores  de  Rio  Dourado  a  valorizarem  mais  os  acontecimentos  de  outros 

municípios.  Alguns  aspectos  me  levam  a  essa  crença.  Em  primeiro  lugar,  está  a 

distância  geográfica,  pois  Rio  Dourado dista  cerca  de  20  km  de  Rio  das Ostras  e 

aproximadamente  50  km  de  Búzios,  enquanto  que  a  sede  de  Casimiro  e  Rio 

Dourado estão afastadas por cerca de 40 km. Um segundo aspecto é a frequência de 

eventos disponíveis nos outros municípios, que os torna, sempre, a primeira opção 

em relação a Rio Dourado. Por último gostaria de ressaltar o valor atribuído pelas 

pessoas dessas localidades ao fato de o evento reunir pessoas de outras localidades, 

havendo  a  possibilidade  de  “conhecer  gente  nova”,  ou  seja,  pessoas  que  não 

residam em suas localidades, o que é muito valorizado pelos moradores dos locais 

por onde passamos com o Cinema na Roça. 

Acredito que seja  necessário investir  numa divulgação prévia abrangente – 

como feito em Triunfo – e agregar outros atrativos ao Cinema para que consigamos 

reunir  muitas  pessoas  em  localidades  com  as  características  de  Rio  Dourado  e 

Triunfo. No caso de Rio Dourado, confirmando as expectativas, ao final da sessão 

havia apenas um espectador presente – um policial militar que lamentava o fato de 

as pessoas não prestigiarem a exibição. 

Sobre  a  evasão  ocorrida  nessa  exibição  de  Rio  Dourado,  gostaria  de 

estabelecer  uma  relação  com  o  texto  de  Mauro  Wilton  de  Sousa,  publicado  em 

Sujeito, lado oculto do receptor , e gostaria de fixar­me, primeiramente, no papel do 

receptor. É bem verdade que, ao pensarmos o processo de comunicação e elevarmos 

uma  das  partes  ao  título  de  emissor,  enquanto  a  outra  se  restringe  ao  papel  de 

receptor,  estamos  claramente  destinando  ao  segundo  a  significação  de  uma 

participação passiva no processo.

83 
Pode­se notar que, na verdade, a despeito das aparências de uma relação de 

poder do emissor sobre o receptor, o fluxo da comunicação, não necessariamente, 

segue  essa  lógica.  Sobre  este  ponto,  Mauro  Wilton  chama  a  atenção,  em  seu 

trabalho, mostrando que não existe uma relação direta, linear, unívoca e necessária 

do emissor ao receptor. Segundo o autor devemos desconstruir essa idéia de que o 

emissor  é  macro  e  poderoso,  enquanto  o  receptor  é  micro  e  consumidor  de 

supérfluos. 

O que se pretende afirmar com isso é que, mesmo que estejamos munidos de 

uma  rede  de  veículos  de  comunicação  complexa  e  abrangente,  essa  não  será  a 

garantia  de  que  quem  ocupa  a  outra  ponta  do  processo  de  comunicação  –  aqui 

denominado receptor – irá  assimilar  as  intenções  do  emissor  e,  muito  menos,  agir 

linearmente  ao  encontro  dos  anseios  da  mensagem.  De  forma  bastante  simplória, 

vale a afirmação de que, por mais que o emissor detenha algum tipo de poder sobre 

o receptor, esse poder não será a garantia de que o receptor consumirá aquilo que 

não deseja. 

Isso impacta diretamente a exibição pública de filmes porque a permanência 

dos espectadores – salvo em locais habitualmente frequentados por outros motivos 

–  está  relacionada  à  escolha  dos  filmes,  pois,  como  o  ambiente  é  livre,  não  é 

constrangedor  para  o  público  do  Cinema  na  Roça  abandonar  a  sessão  a  qualquer 

tempo. Com isso, o espectador consome o que quer e não há relação de poder entre 

“nós” dois. Há uma relação de encantamento, que não dura uma hora e meia caso o 

filme não agrade. Não agradar pode significar estar além da leitura que pretende, ter 

uma  narrativa  lenta  demais  para  o  seu  momento,  muito  intelectualizado  ou 

simplesmente  ultrapassado  para  as  suas  necessidades.  Por  exemplo,  a  idéia  de 

veicular  imagens  sobre  as  realizações  da  gestão  municipal  antes  da  projeção  dos

84 
filmes, como forma de atrair o poder público ao custeio das sessões, pode sair como 

um  “tiro  pela  culatra”,  por  simbolizar  que  haja  vínculo  direto  entre  as  ações  da 

prefeitura e o projeto. 

Outro exemplo disso pode residir no fato de que o espectador assiste muito 

mais  às  novelas  do  que  aos  programas  educativos.  Enquanto  os  índices 

apresentados  pelo  Instituto  Brasileiro  de  Opinião  Pública  e  Estatística  ­  Ibope 66 

apontam,  por  exemplo,  que  a  novela  Paraíso  Tropical,  da  Rede  Globo,  chegou  a 

45% de audiência no período compreendido entre os dias 27 de agosto de 2007 e 2 

de setembro do mesmo ano, os programas educativos não chegaram a mais de 1%. 

É provável que isso aconteça porque a novela alimenta o espectador com algo que 

ele  quer  consumir.  O  texto  de  Roseli  Azambuja,  “A  decodificação  do  discurso 

adulto  da  televisão  pelo  público  infantil”  (AZAMBUJA,1994),  é  importante  para 

retratar  a  relevância  da  televisão  na  formação  dos  indivíduos.  A  autora  aborda  o 

aspecto  da  companhia  que  a  televisão  faz  às  pessoas  –  principalmente  crianças  e 

jovens – no seu dia­a­dia e apresenta a identificação dos jovens com os artitstas de 

televisão. Seu trabalho pode ser uma dica para a aceitação pelo público dos filmes 

que  têm  a  estética  parecida  com  os  programas  de  televisão,  como  é  o  caso  de 

Central do Brasil. 

Sobre  a  importância  da  televisão  na  vida  do  brasileiro,  ao  compararmos  a 

história  da  televisão  brasileira  com  a do  cinema,  veremos  que, apesar de ser mais 

jovem,  a  televisão  ocupou  rapidamente  um  lugar  de  destaque.  Segundo  Esther 

Hamburger,  em  seu  livro  O  Brasil  antenado:  a  sociedade  da  novela  

(HAMBURGER,  2005),  o  governo  autoritário  teve  grande  influência  nesse 

crescimento.  Outro  aspecto  relevante  são  os  momentos  econômicos.  A  autora  cita 

66 
Para mais detalhes ver www.almanaqueibope.com.br. Em 16/09/2007.

85 
Luís  Carlos  Mendonça  de  Barros  e  Lídia  Goldstein,  em  O  novo  capitalismo 

brasileiro , ao afirmar que, tanto na época do milagre econômico quanto durante o 

plano  real,  os  “televisores  encabeçaram  a  lista  dos  eletrodomésticos  mais 

vendidos”. Segundo Esther, entre os anos de 1960 – dez anos após a inauguração da 

TV no Brasil – e 1991, o percetual de residências com televisores passou de 4,6% 

para 71%.

Para Esther Hamburger, a classificação social  na  televisão brasileira nunca 

foi  muito  precisa.  Por  mais  que  tenha  havido  várias  tentativas  de  determinar  que 

segmentos  da  sociedade  assitiam  a  determinada  programação,  essa  questão  nunca 

foi  muito  bem  determinada  e  o  público  atingido  muito  bem  definido.  O  que 

pretendo dizer com isso é que, apesar dos esforços de direcionamento da mensagem 

pretendida  com a  programação  e  com os  comerciais,  sempre  houve  uma  gama  de 

espectadores  não  comtemplados  nos  planos  e,  com  isso,  o  público  “antenado”  na 

programação televisiva extrapola o planejamento das emissoras. 

Para o Cinema na Roça esses pontos são importantes, pois ilustram que não 

necessariamente  os  filmes  que  abordam  questões  sociais  irão  motivar  os 

espectadores  a  ações  que  reduzam  as  diferenças  e  as  mazelas  sociais.  Ou  seja,  a 

exibição de filmes não garante nem a presença das pessoas, muito menos que irão 

se  sensibilizar  com  alguma  causa  por  conta  do  filme  a  que  assistiram.  Podemos 

considerar que pode até haver relações entre o filme e a reação ao filme, mas não há 

como antever quais serão. 

A última projeção em Casimiro aconteceu na localidade de Professor Souza, 

onde se reuniram em volta da praça mais de 100 pessoas. Vale ressaltar que a praça 

é  um  ponto  de  encontro  das  pessoas,  que  têm  o  costume  de  se  reunirem  nos 

arredores  aos  domingos.  A  dinâmica  de  montagem  seguiu  a  mesma  lógica  dos

86 
locais em que usamos a tela inflável e, dessa vez, decidimos montar a tela junto aos 

trilhos  do  trem,  por  não  encontrarmos  uma  opção  melhor.  As  pessoas  ficaram 

sentadas nos bancos e no meio­fio da praça. Ao redor havia alguns bares nos quais 

alguns  espectadores  se  acomodaram.  Em  Professor  Souza  exibimos  os  filmes 

Carros  e  A  Dona  da  História  e,  mais  uma  vez,  alguns  espectadores  assistiram  ao 

filme por trás da tela, sendo que dessa vez atribuo a decisão à comodidade, pois por 

trás dos equipamentos havia um quiosque com cadeira e visão privilegiada da tela, 

porém com a imgem invertida. 

Uma consideração sobre Casimiro precisa ser registrada. O município, assim 

como Madalena, possui, em sua sede, uma sala pública de cinema e que – também 

como em Madalena – é pouco frequentada pelos moradores da cidade. 

Da reunião de segunda­feira – que aconteceu no interior da sala pública de 

cinema  –,  posterior  às  projeções,  participaram,  além  de  mim  e  de  Marcos 

Martinelli;  Soninha,  diretora  da  Fundação  Cultural  Casimiro  de  Abreu;  Luiz 

Nelson,  funcionário  da  Secretaria  de  Meio  Ambiente;  Vaninho  e  Vinicius, 

assessores  de Soninha,  mas  a  secretária  de  Educação  que  foi  convidada  não  pôde 

comparecer.  Em  cerca  de  meia  hora  –  tempo  que  nos  disponibilizaram  – 

apresentamos a proposta de exibir os filmes e de levá­los também para as escolas. 

Luiz Nelson foi quem demonstrou maior interesse pela proposta. Soninha, por sua 

vez, se disse interessada, porém que sua Secretaria estava sem verbas para o ano de 

2007 e que quem poderia se  interessar em custear o projeto – mas que não estava 

pesente – era a secretária de Educação. De toda a reunião uma pergunta me pareceu 

muito pertinente à localidade: queriam saber quais eram as chances de alterarmos o 

nome do projeto.

87 
2.5 Trajano de Moraes 

É  um  município  que  ocupa  uma  área  de  589  km²  e  de  aproximadamente 

9.583 habitantes 67 , e tem o IDH (0,723) 68 . Dista cerca de 240 km da cidade do Rio 

de  Janeiro,  em  direção  ao  norte  do  estado.  Faz  divisa  com  os  municípios 

fluminenses  de  Nova  Friburgo,  Cordeiro,  Bom  Jardim,  Macaé,  Macuco,  São 

Sebastião do Alto, Santa Maria Madalena  e Conceição de Macabu. Atualmente, o 

prefeito  é  Sérgio  Eduardo  Gomes  de  Melo,  eleito  em  2004  com  2.567  votos 69 .  O 

Município  é  dividido  nos  distritos  de  Trajano  de  Moraes,  Visconde  de  Imbé, 

Sodrelândia, Tapera e Maria Mendonça. 

Trajano  de  Moraes  foi  o  município  com  o  qual  mantivemos  o 

relacionamento  mais  duradouro  e  produtivo.  Nossa  primeira  visita  a  Trajano 

coincidiu  com  um  final  de  semana  do  dia  dos  pais  de  2006.  A  primeira  exibição 

aconteceu  de  forma  totalmente  voluntária,  atendendo  ao  convite  do  principal 

incentivador, grande amigo e morador da cidad e Felipe Matoso. Conheci Felipe – 

que é trajanense e proprietário da única casa lotérica do município – quando ainda 

morava  em  Macaé,  pois  trabalhávamos  na  mesma  empresa.  Depois  que  voltei  ao 

Rio  mantivemos  a  amizade  e  um  dia  falamos  da  possibilidade  de  levarmos  o 

Cinema na Roça para Trajano. 

Ele que organizou os detalhes para a nossa ida ao município. Contactou as 

pessoas, identificou os locais e conseguiu  hotel. Enfim, foi fundamental. A pedido 

de Felipe, os custos de nossa estadia foram patrocinados por Angela, proprietária do 

67 
Ver http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. 
68 
Para mais detalhes ver http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 e Atlas do 
desenvolvimento humano. 
69 
Para mais detalhes ver www.tse.gov.br.

88 
hotel  Trajano  de  Moraes  e  outra  incentivadora dos  acontecimentos  do  município. 

Os demais custos, como alimentação e combustível, ficaram por nossa conta. Como 

em Sumidouro, saímos do Rio de Janeiro sem contato algum com o poder público. 

Durante  essa  primeira  estadia  em  Trajano,  contamos  apenas  com  a  ajuda  dos 

moradores de Trajano de Moraes. 

Outro grande parceiro em Trajano foi o jovem Allan Almeida, de 18 anos, 

estudante  do  curso  de  formação  de  professores,  que  nos  acompanhou  durante  o 

primeiro dia. Nos conhecemos em frente ao Centro Integrado de Educação Pública 

(CIEP) da cidade e ele nos levou a Monte Café, onde foi a nossa primeira projeção. 

No caminho conversamos sobre muitas coisas, inclusive sobre sua vontade de viver 

em uma cidade grande. Assim como a maioria dos jovens, Allan também tem esse 

sonho  e,  repetindo  o  que  ouvimos  nos  demais  municípios  que  visitamos  com  o 

Cinema  na  Roça,  nos  contou que  grande  parte dos  amigos  pensa  em abandonar  o 

munícipio quando chega a hora de ingressar na faculdade. Uma particularidade em 

relação a Trajano é que sua população diminui a cada censo. 

Segundo  ele,  o  principal  motivador  desse  sonho  é  a  falta  de  perspectivas. 

Assim como o Allan, muitos dizem que não há nada a fazer nos locais onde vivem, 

que o emprego é escasso e que a política local – de interesses pessoais, de troca de 

favores  –  desestimula  a  participação.  Allan,  assim  como  muitos  dos  jovens  no 

interior,  tem  plena  consciência  do  mundo  que  o  cerca.  Ele  mesmo  teve  algumas 

oportunidades  de  estar  no  Rio  de  Janeiro,  tem  consciência  dos  altos  índices  de 

violência nas cidades grandes, da baixa qualidade de vida nos grandes centros e da 

dificuldade de colocar­se profissionalmente  nessas cidades. Por outro lado, não vê 

perspectivas em sua localidade e aponta esses fatores como o principal incentivador 

ao êxodo.

89 
Sobre a influência da televisão no pensamento dos jovens, gostaria de citar 

que  Esther  Hamburger,  em  seu  livro  O  Brasil  antenado:  a  sociedade  da  novela , 

aborda  que,  concomitantemente  à  época  em  que  o  “milagre  econômico”  tornou 

mais  acessível  o  aparelhamento  das  residências  de  menor  poder  aquisitivo  com 

eletro­eletrônicos,  o  conteúdo  difundido  no  Brasil  através  da  televisão  – 

principalmente nas novelas – era voltado ao público de classe média alta do Rio de 

Janeiro. 70  Essa prática legitimou o repertório de uma pequena parcela “privilegiada 

da  sociedade  como  um  idioma  comum  através  do  qual  diversas  classes  sociais, 

gerações, gêneros e regiões geográficas puderam interagir.” 

Entre  as  inferências  sugeridas  pela  autora,  uma  que  julgo  interessante 

ressaltar refere­se principalmente ao papel das novelas na noção de que a inclusão 

social  plena  poderia  surgir  através  do  consumo.  Isso  pelo  fato  de  serem 

direcionadas aos padrões de consumo do público de classe média e acompanhadas 

por  todas  as  classes  e  porque  a  televisão  é  reconhecida  como  veículo  capaz  de 

informar e ensinar sobre a maneira de utilizar produtos. 

Esther  Hamburger  adiciona  que  as  “novelas  tornaram­se  um  espaço 

poderoso  para  a  propaganda  e  fazem  parte  de  um  sistema  de  criação,  exibição  e 

ajuste  de  consumo” 71  e  complementa  dizendo  que  os  mecanismos  de  feedback 

ajudaram a educar telespectadores como consumidores. 

Monte Café fica a cerca de 40 minutos por estrada asfaltada de Trajano de 

Moraes,  é  pequenina,  formada  por  cerca  seis  ruas  cortadas  pela  estrada.  Como 

normalmente acontece, quando o carro chega nas localidades, as pessoas perguntam 

o  que  é  Cinema  na  Roça  e  se  vai  ter  cinema  na  localidade.  Ao  chegarmos  havia 

jovens  sentados  à  beira  da  estrada  conversando,  enquanto  alguns  agricultores 

70 
HAMBURGER, Esther. p. 71 e ss. 
71 
HAMBURGER, Esther. p. 72

90 
terminavam de sulfatar o tomate e outros se reuniam. Logo localizamos o vereador 

João Francisco Fernandes, o  Joãozinho,  que mora na  localidade e se prontificou a 

fazer contato com a diretora da escola para que cedesse as cadeiras. 

Por volta das 18:00 já estava tudo montado e um menino de nome Rodrigo, 

de dez anos, foi o primeiro a chegar. De banho tomado, estava pronto para a sessão 

e,  ao perceber que  ainda  demoraríamos  alguns  instantes,  pediu que  esperássemos, 

pois iria chamar seus colegas. 

Dessa vez havia bastantes jovens presentes e, ao exibirmos o filme Olho da 

Rua,  de  Sérgio  Bloch,  percebi  a  admiração  do  público  pelo  tema  e  todos 

permaneceram  perplexos  com  as  cenas.  O  filme  mostra  a  maneira  como  várias 

pessoas ganham a vida na cidade grande. Todas a levam com dignidade, porém não 

é unânime que tenham conseguido realizar seus sonhos da época em que decidiram 

viver no Rio de Janeiro. 

A  dinâmica  de  escolha  dos  filmes  também  tem  sido  fundamental  para 

prender  a  atenção  das  pessoas  e  motivá­las  a  falar  após  a  projeção.  No  entanto, 

ainda  precisamos  desenvolver  uma  metodologia  para  coletar  depoimentos,  pois 

mesmo  as  pessoas  que  manifestam  o  interesse  de  compartilhar  seus  sentimentos, 

rapidamente vão embora ao final da última sessão. 

Ao  retornarmos  para  Tajano,  apesar  da  difilculdade,  encontramos  um 

estabelecimento  aberto  para  comermos  algo.  Na  lanchonete,  que  também  é 

papelaria, o proprietário nos falou da falta de opções para os jovens e da constante 

emigração para os grandes centros como sendo a principal preocupação na cidade. 

No dia 12 de agosto de 2006 seguimos rumo a Ponte de Zinco, pertencente 

ao distrito de Maria Mendonça e que fica em um vale e é pequenina como Monte

91 
Café. Nesse dia, a exibição aconteceu no campo de futebol que ficava em frente à 

escola municipal, da qual pegamos as cadeiras emprestadas. 

Nossa  primeira  passagem  por  Trajano  foi  muito  interessante  por  vários 

aspectos,  porém  duas  coisas  foram  mais  impressionantes.  A  capacidade  de 

organização  das  pessoas,  mesmo  sem  contar  com  o  apoio  do  poder  público. 

Geralmente  os  moradores  dessas  localidades  mencionam  a  responsabilidade  da 

prefeitura em relação ao que acontece e também ao que não acontece. Por exemplo, 

se querem organizar uma competição esportiva, uma festa, uma ação social etc. se 

dizem dependentes da prefeitura. No entanto, quando estão diante de um evento que 

os  motiva  e  julgam  realmente  interessante,  mesmo  sem  o  patrocínio  do  poder 

público conseguem se organizar e realizá­ lo. 

A outra foi a diferença dos discursos do Allan Almeida e do Felipe Matoso 

antes  e  depois  de  participarem  da  primeira  sessão.  O  depoimento  do  Allan  me 

chamou a atenção porque, ao chegarmos ao município, ele nos disse claramente que 

tinha a intenção da abandonar o município e ir morar no Rio de Janeiro ou em outra 

grande cidade. Não sei se tomado pela emoção momentânea, mas ao final da nossa 

primeira passagem pelo município sua idéia já era bastante diferente e externalizou 

a vontade de permancer no município e ajudá­lo a se tornar um local mais atraente 

para  se  viver,  além  de  monstrar  sua  vontade  de  participar  mais  ativamente  do 

processo de desenvolvimento socioeconômico do município. 

Para  o  estudo  etnográfico,  a  transformação  de  exótico  em  familiar  e  vice­ 

versa  configura­se  por  um  processo  cognitvo  e  Roberto  da  Matta  atribui  tanta 

importância a esse processo porque acredita que, ao pesquisador, seja necessária  a 

capacidade de deslocamento entre culturas, além de estar aberto ao fato de que esse

92 
movimento não ocorre via  intelecto e sim  via experiência  socializadora (MATTA, 

1978). 

Para  Geertz,  o  exercício  etnográfico  não  é  um  processo  de  assimilação  de 

determinada  cultura  e,  muito  menos, de  internalização dos  costumes  e práticas. O 

que  ele  sugere  é  que o  exercício  deva  contemplar  a vivência. Ou  seja,  ele  propõe 

que  o  pesquisador  entenda  as  teias  de  relações  e  consiga  comunicar­se  com  os 

pesquisados. Segundo o autor, não se trata de “tornar­nos nativos ou copiá­los” 72  e 

sim de conseguir estabelecer a conversa com eles, o que, no seu entender, é muito 

mais difícil. 

Ao deparar­me com a diferença do discurso do Allan, entre a minha chegada 

ao município e após a sua participação no Cinema na Roça, fiquei muito animado 

por  acreditar  na  capacidade  transformadora  do  projeto.  No  entanto,  ao  visitar  a 

bibliografia para a confecção dessa dissertação, cheguei à conclusão de que minha 

euforia inicial era infundada, pois, ao levar em consideração o processo congntivo e 

o deslocamento de culturas levantados por Roberto da Matta, cheguei à conclusão 

de que o comportamento do Allan pode ter sido mais influenciado por esse processo 

do  que  pela  experiência  do  cinema.  Atualmente  acredito  que  a  vivência  de 

participar do projeto tenha sido a experiência  socializadora e que essa experiência 

foi  a  responsável  pela  nova  percepção  da  localidade.  Enquanto  isso,  para  mim 

serviu  para  propiciar  um  deslocamento  entre  culturas  e  para  a  percepção  dos 

motivos que levam os jovens a quererem mudar­se. 

Outro  depoimento  importante  do  Allan  que  resgata  as  quetões  levantadas 

por Geertz e Matta foi em relação ao significado de andar no carro do projeto. Ele 

72 
GEERTZ, Clifford. P. 11

93 
nos contou que, no dia em que nos conheceu, “todo o CIEP 73  estava na janela” para 

vê­lo entrar no carro e que ele se sentia importante por estar andando conosco. Não 

apenas  pelo  fato  de  estar  fazendo  algo  importante  para o  município,  mas  também 

porque  o  “pessoal  de  Trajano  –  ele  incluído  –  acha  o  carro  maneiro”.  Esse 

depoimento resgata o ponto levantado por Geertz e abordado anteriormente no caso 

do Aurélio, de Silva Jardim, sobre a importância não aparente das coisas. 74 

Geertz estabelece uma comparação entre a inferência clínica da medicina e 

da psicologia profunda para ilustrar esse pensamento e para defender que, no estudo 

da  cultura,  diferente  da  medicina  e  da  psicologia  não  há  uma  relação  de 

subordinação entre  um conjunto de observações  e  uma  lei  ordenadora.  Segundo o 

autor,  no  estudo  da  cultura,  “os  significantes  não  são  sintomas  ou  conjunto  de 

sintomas,  mas  atos  simbólicos  ou  conjuntos  de  atos  simbólicos”.  Sendo  assim, 

pode­se dizer que a teoria cultural não é, “pelo menos no sentido estrito da palavra, 

profética”. 75 

Já a reação do Felipe Matoso despertou a minha curiosidade, pois era cético 

para com o cinema – além de não gostar de assistir a filmes, não acreditava que o 

cinema  tinha  algum  poder.  Vale  ressalar  que  ele  foi  o  principal  articulador  do 

projeto  no  muncípio  de  Trajano  de  Moraes  e  que  se  dedicou  com  afinco  a  uma 

atividade  que  não  lhe  despertava  prazer;  fez  contato  prévio  com  as  pessoas  das 

localidades, conseguiu o patrocínio junto à dona  do hotel e, apesar de presente  na 

primeira projeção – não compareceu às demais devido ao seu horário de trabalho, 

pois também tem uma equipe som – e além de não ter cargo político na cidade, fez 

questão  de  não  se beneficiar  politicamente  do  seu  feito.  Mas  ao  final  das  sessões 

dizia­se impressionado com a proposta do Cinema na Roça, pois achava que aquela 
73 
Centro Intergrado de Educação Pública. 
74 
GEERTZ, Clifford. p. 18. 
75 
GEERTZ, Clifford. P. 18

94 
experiência tinha sido muito importante para as pessoas porque elas não têm quase 

opção de  lazer  no município  e pela  capacidade de  reunir  tantas  pessoas  “paradas” 

prestando atenção no filme, por tanto tempo. 

Depois dessa nossa passagem por Trajano de Moraes voltamos ao município 

mais  seis  vezes.  A  segunda  –  que  aconteceu  entre  os  dias  3  e  4  de  novembro  de 

2006 –  foi novamente  a  convite  de  Felipe Matoso, por conta  da  comemoração de 

aniversário do bloco carnavalesco Curto Circuito – do qual é integrante – e para a 

data haviam planejado uma série de atividades voltadas para a comunidade, como a 

oferta de médicos em praça pública para consultas grátis, enfermeiros para medição 

de pressão arterial, profissionais para orientação vocacional de jovens, entre outros. 

Seu pedido consistia na realização de uma sessão de cinema em praça pública para 

as  crianças  da  sede  do  município  e  aproveitamos  a  viagem  para  realizarmos  mais 

uma sessão em outra localidade de Trajano de Moraes. 

Aproveitamos a  viagem para realizar mais uma sessão  em outra localidade 

de  Trajano  de  Morais,  no  próprio  dia  3  de  novembro.  A  sessão  aconteceu  na 

localidade de Tirol, que  fica  a  aproximadamente  80 km da  sede do  município  e  é 

um vilarejo composto por propriedades rurais dedicadas ao plantio de hortaliças  e 

que  possui  uma  única  escola  com  nove  alunos.  Nesse  dia  nos  acompanhavam  os 

jornalistas Marta Mendonça e Zelito Fereira e o fotógrafo Eduardo Coutinho, todos 

da revista Época, com o intuito de produzir a matéria citada no início do presente 

trabalho. Chegamos ao Tirol por volta das 15 horas e para essa sessão não foi feita a 

divugação prévia. Nesse dia chovia torrencialmente e a temperatura girava em torno 

dos 16º C, o que dificultou muito a reunião das pessoas. Ao chegarmos percorremos 

a localidade de cerca de 150 habitantes e realizamos a divulgação. No momento da 

sessão  havia  pouco  mais  de  25  espectadores  embaixo  da  laje  de  uma  obra

95 
inacabada,  pertecente  ao  Sr.  Ovídio, que  nos  cedeu o  espaço para  a  realização  da 

sessão. O filme escolhido foi o Caminho das Nuvens e ao final da sessão voltamos 

para a sede do município aonde estávamos hospedados. 

A  sessão  realizada  na  praça,  no  dia  04  de  novembro  de  2006,  seguiu  a 

mesma  dinâmica  das  demais  e  reuniu  cerca  de  70  crianças,  além  dos  adultos 

presentes  na  praça  por  conta  das  comemorações  do  aniversário  do  bloco.  Nessa 

ocasião  conhecemos  o  prefeito  de  Trajano,  Sérgio  Gomes,  que  nos  abordou 

demonstrando­se muito interessado pela inciativa e convidando­nos para o café da 

manhã do dia seguinte. 

No  horário  marcado  o  prefeito  chegou  ao  hotel  e  conversamos  sobre  os 

propósitos do Cinema na Roça, sobre as localidades nas quais já havíamos realizado 

sessões e de que as nossas percepções apontavam para a boa aceitação do projeto 

pelas pessoas das localidades. Aproveitamos a ocasião para apresentar a nossa idéia 

de levarmos o cinema também para as escolas. 

Ao final do café da manhã era visível a empolgação de ambas as partes com 

a  possibilidade  de  realizarmos  uma  parceria  para  tornar  o  Cinema  na  Roça 

permanente no município. Saímos de Trajano no dia 05 de novembro de 2006 com 

o retorno agendado para apresentarmos nossa proposta de continuidade ao Cinema 

na Roça. 

No dia 27 de novembro de 2006 retornamos a Trajano para a reunião com o 

prefeito.  Nela  estavam  presentes  o  secretário  de  Educação,  Sr.  Roberto  Faria;  o 

secretário  de  Turismo,  Sr.  Weber  Peruzzi  e  o  secretário  de  Cultura,  Sr.  Ronaldo 

Montechiare.  Durante  a  reunião  apresentamos,  também,  a  proposta de  levarmos  o 

cinema para a escola e, ao seu final, tinhamos dado o acordo como certo, devido ao 

grande  interesse  do  prefeito  e  dos  secretários,  sendo  que  vale  ressaltar  a

96 
preocupação do secretário Roberto Faria em relação às despesas com a manutenção 

do projeto, pois temia que não tivessem recursos financeiros para mantê­lo e temia 

pela interrupção da iniciativa. 

Após  mais  de  seis  meses  de  negociação,  no  dia  11  de  junho  de  2007 

iniciamos  a  primeira  semana  de  exibições  para  os  professores  da  rede  municipal. 

Essa etapa teve o objetivo de definir – em conjunto com os professores – os temas a 

serem exibidos nas escolas ao longo do ano de 2007. 

No  mês  seguinte,  no  dia  11  de  julho  de  2007,  voltamos  mais  uma  vez  a 

Trajano para realizarmos uma sessão na localidade de Tapera, participando de uma 

série  de  eventos  comemorativos  da  inauguração  de  uma  estrada  recém  asfaltada. 

Nesse  dia  realizamos  a  sessão  na  quadra  esportiva  da  escola  municipalizada  Dr. 

José  de  Moraes  Souza  e  estavam  presentes  cerca  de  70  espectadores,  dos  quais 

apenas  37  permanceram,  apesar  da  chuva  que  caiu  faltando  aproximadamente  20 

minutos para o fim da sessão. 

Capítulo 3 ­ As tr ansfor mações do pr ojeto 

No início do Cinema na Roça, eu acreditava que a carência de equipamentos 

culturais  era  uma  boa  justificativa  para  a  realização  do  projeto  e  apontava  a 

distribuição  desigual  dos  equipamentos  culturais  brasileiros  como  inviabilizadora 

do  desenvolvimento  social  ordenado.  Mas,  a  partir  da  realização  do  Cinema  na 

Roça,  pude  perceber  que  era  uma  grande  ingenuidade  sustentar  essa  idéia. 

Atualmente  é  nítido,  para  mim,  que  a  questão  é  muito  mais  complexa  do  que  a 

ausência  dos  equipamentos  culturais.  É  verdade  que  a  presença  deles  pode

97 
colaborar  para  a  equidade  social  e  que  eles  podem  ser  instrumentos  úteis  para  o 

desenvolvimento  socioeconômico.  No  entanto,  é  muito  simplório  pensar  que  a 

disponibilide de acesso a produções culturais é, por si só, um agente transformador. 

A  partir  desse  entendimento,  muitas  mudanças  significativas  foram  aplicadas  ao 

projeto, que desde  então  teve  ampliado o  espectro dos  municípios  almejados pelo 

Cinema na Roça 

Conforme apresentado no início do presente trabalho, o Cinema na Roça foi 

concebido para durar apenas um ano e percorrer localidades dos 20 municípios do 

estado  do  Rio  de  Janeiro  que  apresentavam  os  mais  baixos  IDH’s.  Em  agosto  de 

2007  o  projeto  completa  seu  segundo  ano,  e  o  fato  de  ter  ultrapassado  o  ano 

inicialmente  previsto  se  deve  às  adequações  que  o  projeto  sofreu,  as  quais 

apresentarei ao longo deste capítulo. 

A  partir  das  tentativas  frustradas  dos  debates  e  da  minha  insistência  na 

realização  de  atividades  educativas  usando o  conteúdo  dos  filmes,  tive  a  idéia  de 

desmembrar  o  Cinema  na  Roça  em  dois  projetos:  um  deles  chamado  Cinema  na 

Escola  e  outro  –  em  princípio  –  chamado  Cinema  Social.  Sendo  assim,  minha 

proposta  é  substituir  o  Cinema  na  Roça  por  esses  dois    projetos,  que  serão 

detalhados mais à frente. 

Antes  de  discorrer  a  respeito  do  desmembramento  do  Cinema  na  Roça, 

gostaria de abordar o percurso que trilhei até concluir como as adequações citadas 

no segundo parágrafo do  presente  item, somadas  ao desmembramento do  Cinema 

na Roça, atenderiam aos meus anseios. 

3.1.  O critério IDH

98 
A primeira adequação que gostaria de ressaltar foi o desprendimento do IDH 

como  critério  de  escolha  dos  municípios.  Apesar  de  haver  relação  direta  entre  o 

baixo  IDH e  a carência  de equipamentos  culturais, conforme  comprovado  através 

do  cruzamento  das  informações  apresentadas  na  Munic  2001,  no  Atlas  do 

desenvolvimento  humano  no  Brasil  e  no  Relatório  do  Desenvolvimento  Humano 

2004, o inverso não se  verifica, ou seja, o alto IDH dos municípios  não garante  a 

presença de cinemas. Por esse motivo, pautar a decisão de levar o Cinema na Roça 

apenas  para  os  20  municípios  com  os  mais  baixos  IDH’s  do  estado  do  Rio  de 

Janeiro  serve  apenas  para  limitar  a  oferta  a  outros  que  também  não  possuem  o 

equipamento cultural. 

Pelo  que  pude  perceber,  o  projeto  tem  sido  um  atrativo  a  mais  para  as 

localidades  e  uma  nova  forma  de  entretenimento  para  muitos  dos  espectadores  e, 

mesmo  em  Trajano  de  Moraes,  onde  sua  abrangência  chegou  a  exibições  nas 

escolas, ainda é prematuro dizer que alcançou algum resultado efetivo no sentido de 

estimular discussões. 

Como se pode perceber, o Cinema na Roça assumiu um papel diferente do 

imaginado durante a sua concepção. Por conta disso, não faz sentido manter o IDH 

como o critério de escolha dos municípios onde serão realizadas as exibições. 

3.2.  O critério videolocadoras e cinemas 

Durante a concepção do Cinema  na Roça, a ausência de videolocadoras   e 

cinemas  foi  cogitada  como  critério  de  escolha  dos  municípios.  Em  um  segundo

99 
momento, contudo, optei apenas pelo critério de ausência de videolocadoras, já que 

os  dados  presentes  na  Munic  2001  apontavam  para  o  fato  de  apenas  8%  dos 

municípios brasileiros possuírem cinema. Mas como o espectro de municípios ainda 

continuava muito grande decidimos que, mesmo que o município estivesse entre os 

20 mais baixos IDH’s, caso houvesse a presença de alguma locadora, manteríamos 

as  exibições  nesse  município, porém priorizaríamos  as  localidades  desprovidas  de 

videolocadora. 

No passado, eu imaginava que o projeto competiria com a locação de títulos 

nas  localidades,  mas  isso  não  ocorreu.  Atualmente  percebo  que  a  presença  do 

projeto  nas  localidades  que  possuem  videolocadora  pode  estimular  a  locação, 

criando o hábito de assistir a filmes. Por outro lado, o aumento na locação de filmes 

pode surtir um efeito contrário ao desejado com o Cinema na Roça, pois a locação 

residencial desestimula o convívio em grupo no espaço público. 

Um detalhe importante é que o volume de locações na maioria das cidades 

por onde passei com o Cinema na Roça é pequeno. Por exemplo, Vera, proprietária 

de uma das duas locadoras da sede do município de Santa Maria Madalena, disse­ 

me que, para manter o negócio, divide o espaço de sua locadora entre as atividades 

de costureira e de locação, pois apenas de filmes “teria abaixado as portas há muito 

tempo”. 

Ao  observar  as  possibilidades  apresentadas  acima,  cheguei  à  conclusão  de 

que a frequência com a qual o Cinema na Roça é realizado nas localidades causaria 

mais  benefícios,  estimulando  as  pessoas  a  assitirem  a  filmes,  do  que  malefícios 

atrapalhando a atividade comercial de locação. Por isso, decidi descartar o critério 

ausência  de  videolocadora  e  atualmente  realizamos  exibições  em  quaisquer 

localidades, mesmo que tenham videolocadora.

100 
3.3.  Cinema e entretenimento 

Percebi  que,  para  os  espectadores  das  sessões  noturnas,  não  interessava 

assistir a filmes com enredos muito complexos e/ou narrativas lentas, a exemplo de 

A Visão do Paraíso, em São José do Vale do Rio Preto; de Coronel e o Lobisomem, 

em  Rio  Dourado,  e  A  Dona  da  História, em  Professor  Souza.  Nessas  ocasiões,  as 

pessoas,  quando  não  foram  embora,  permaneceram  desatentas  ao  filme.  Aliado  a 

isso, percebi nesse público o interesse por uma forma de diversão não existente em 

suas  localidades  e,  ao  contrário  do  que  eu  imaginava  durante  a  concepção  do 

projeto,  apresentaram  pouca  predisposição  para  debater  questões  sociais, 

econômicas ou políticas nas noites, pós­exibição. 

O que pretendo ressaltar com o parágrafo acima é que, durante a concepção 

do Cinema na Roça, mantive o principal objetivo do projeto no anseio de promover 

os debates e usar o cinema como uma ferramenta para estimular a discussão sobre 

questões sociais. No entanto, durante a realização do projeto, aprendi que a maioria 

das  pessoas  não  tinha  o  mesmo  anseio  que  eu  e  que  os  debates  significavam  um 

incômodo, em vez de estimular reflexões. 

Por  outro  lado,  caso  estivesse  atento  à  terceira  fase  de  uma  pesquisa 

etnográfica – que se resume ao trabalho de campo e está mais ligada às lições que 

podem  ser  apreendidas  da  vivência  (MATTA,  1978)  –  denominada  “pessoal  ou 

existencial”76
    e  aliado  esse  conhecimento  ao  já  ressaltado  no  trabalho  de  Geertz 

(GEERTZ, 1989), de que ao pesquisador é necessário desenvolver a habilidade de 

76 
MATTA, Roberto da. P 25.

101 
internalizar o que acontece ao seu redor, para que se tenha condições de extrapolar 

o valor bruto dos acontecimentos – essência da fase existencial de Roberto da Matta 

–  para  perceber  os  significados  e  conseguir  fazer  o  deslocamento  entre  culturas, 

teria percebido que, em vez de ficar preso aos debates, poderia estar mais atento às 

relações sociais geradas por conta do projeto. Como, por exemplo, a aproximação – 

em Silva Jardim – entre a Rosilane Brum e o Luiz Nelson. 

Em conjunto aprendi que – apesar de não considerado durante a concepção 

do projeto – o cinema poderia representar um alternativa de entretenimento para os 

habitantes  dessas  localidades  e,  por  conseqüência,  estimular  a  valorização  do 

espaço público para o convívio social. 

Um  dos  aspectos  que  me  fez  atentar  para  essa  questão  foi  o  interesse  dos 

espectadores, pois, considerando que as sessões sempre começam ao cair da noite, 

às vezes acontecem no mesmo horário que as novelas e posso concluir com isso que 

a vontade de assistir aos filmes é bastante considerável e que não há motivos para 

desestimular  a  participação  dos  espectadores  nas  sessões  de  cinema  por  conta  de 

debates indesejados. 

Mais  um  reforço  ao  meu  entendimento  do  interesse  das  pessoas  pelas 

sessões do Cinema na Roça é apresentado por Esther Hambúrguer, quando ressalta 

que  as  novelas  representam  tamanha  significância  para  a  sociedade  que,  não  por 

acaso, a programação da Rede Globo, principal emissora nacional, constitui até hoje 

sua  grade  posicionando  o  principal  telejornal  da  rede  entre  duas  novelas,  num 

formato chamado por Esther Hamburger de “sanduíche” (HAMBURGER,2005). 

A  partir  desse  entendimento,  decidi que o objetivo  do  Cinema  na  Roça  se 

limitaria a oferecer uma opção de entretenimento para as pessoas das localidades e 

que  passaríamos  a  realizar  sessões  em  locais  que  reunissem  o  maior  número  de

102 
pessoas,  além  de  que  deixaria  de  ser  importante  focar  o  projeto  em  um  público 

específico, como eram os jovens 77 , durante a concepção do projeto. 

Essa  função  de  usar  o  Cinema  na  Roça  com  o  único  objetivo  de  oferecer 

mais  uma  opção de  entretenimento  foi  importante  porque despertou­me para duas 

possibilidades  que  veremos  mais  à  frente:  explorar  o  projeto  comercialmente  e 

encontrar outro ambiente para utilizar o cinema como ferramenta de reflexão. 

3.4.  Locais de exibição 

Quando idealizei o Cinema na Roça pensava em exibir os filmes apenas em 

locais  de  difícil  acesso.  Imaginava  que  iria  levar  o  cinema  para  localidades 

afastadas,  que  conseguiria  realizar  sessões  em  meio  aos  canaviais,  às  plantações, 

nos  assentamentos  rurais,  entre  outros, pois  entendia  que  isso  corroborava  para  o 

alcance do objetivo principal do projeto. Por esse motivo não me preocupei com a 

logística  de  exibição  de  filmes  em  locais  públicos  e  dediquei­me  à  obtenção  das 

autorizações  dos  produtores  e  distribuidores  exclusivamente  para  atender  à 

exigência de um dos patrocinadores. 

Inicialmente  realizávamos  as  sessões  apenas  em  locais  privados,  mas para 

que  conseguíssemos  transformar  o  Cinema  na  Roça  em  uma  iniciativa  que 

proporcionasse  entretenimento  em  local  público,  estávamos  obrigados  a 

redirecionar  o  local  das  exibições  e  iniciar  a  realização  de  sessões  em  locais 

públicos. 

77 
Para  este  estudo,  consideramos  como  jovens  pessoas  em  idade  entre  15  a  24  anos.  Ver  IBGE, 
1999.

103 
Nesse  período  decidi  pela  extinção  da  Conhesol  e  pela  constituição  da 

Brasil Social – que é uma empresa privada enquadrada legalmente como exibidora 

de filmes e sobre a qual falarei mais à frente – e passamos a investir na exibição em 

locais públicos. Essa mudança  foi motivada por quatro aspectos. O primeiro deles 

foi atender a uma demanda por entrenimento e à alteração do objetivo do Cinema 

na Roça, conforme citado no item acima (3.3) do presente trabalho. O segundo, foi 

dar  fim à  burocracia  na obtenção das cessões dos  direitos.  Atualmente,  através  da 

Brasil  Social,  pagamos  pelo  direito  de  exibição  dos  filmes,  o  que  nos  permite 

agilidade na escolha e liberdade para a exibição dos títulos que nos interessam. 

Essa  mudança  de  postura  –  ao  passarmos  a  exibir  os  filmes  em  locais 

públicos  –,  por  um  lado,  aguçou  a  dúvida  dos  espectadores  quanto  à  isenção  do 

projeto em relação às ações das prefeituras; por outro, reforçou a mensagem de que 

o evento é gratuito e aberto a todos, pois as sessões começaram a ser realizadas nas 

ruas ou  em praças  públicas  e se  tornava  mais  fácil  o  acesso  para  as  pessoas, pois 

não  havia  o  constrangimento  de  ter  que  entrar  na  propriedade  de  alguém  para 

assistir ao filme. 

O terceiro aspecto foi a oportunidade de atender a uma demanda comercial 

por entretenimento. Ao longo dos quase dois anos de Cinema na Roça percebemos 

que havia espaço para a comercialização de exibições públicas de filmes e que essa 

atividade poderia ser mais um gerador de recursos financeiros para a manutenção da 

faceta voluntária do projeto. A comercialização de exibições pode ocorrer em duas 

esferas. Na esfera pública, consiste em oferecer para as prefeituras o Cinema como 

um  atrativo  a  mais  para  a  população  dos  municípios,  assim  como  fazem  na 

contratação de shows, na organização de eventos etc. Na esfera privada, abordamos 

empresas  que  tenham  interesse  em  patrocinar  exibições  específicas.  Em  vez  de  a

104 
empresa se comprometer com o patrocínio integral do projeto, essa opção permite 

que a empresa “compre” quantas exibições desejar e dedique­as às comunidades de 

seu interesse. 

Para  Roberto  da  Matta,  ao  etnógrafo  cabe  a  sabedoria  de  despir­se  da 

fantasia de super­herói e o pesquisador precisa desenvolver a habilidade de migrar 

do papel heróico do pesquisador ao de integrante de uma determinada cultura para 

internalizá­la (MATTA,1978). 

Assim  como  entender  que  os  debates  não  aconteceriam,  acredito  que 

perceber  a  oportunidade  comercial  para  o  Cinema  na  Roça  e  identificá­la  como 

legítima para a geração de receita foi uma maneira de atentar para as limitações da 

iniciativa. A evolução do projeto tem sido um constante exercício de despir­me da 

fantasia de super­herói, pois inicialmente o projeto foi concebido com a proposta de 

“salvar o país”. 

O  quarto  aspecto  importante  para  essa  mudança  visava  atender  a  uma 

necessidade  tecnológica  do  projeto,  pois,  a  partir  de  2007,  momento  em  que 

inserimos a nova tela de projeção – com dimensões de sete metros de altura por oito 

metros de largura – tornou­se mais difícil conseguirmos espaço físico para montar 

todo o aparato em locais privados. 

3.5.  Acervo de filmes 

Outra  mudança  que  gostaria  de  ressaltar  está  relacionada  aos  títulos  que 

exibimos,  pois  inicialmente  o  projeto estava  limitado  aos  filmes  nacionais,  porém 

atualmente  projetamos  filmes  de  quaisquer  nacionalidades,  desde  que  possuam  a

105 
versão  dublada  para  o  português  e  que  as  cenas  sejam  adequadas  –  que  não  haja 

cenas de sexo e violência – para exibição em espaço público, devido à vasta gama 

etária dos espectadores. O tema dos filmes também tem variado muito e decidimos 

que a partir de 2007 vamos exibir os filmes mais desejados entre os todos do nosso 

acervo,  independente  da  mensagem.  Vale  lembrar  que durante  o  início  do projeto 

focamos  em  filmes  que  tivessem  o  enredo  voltado  para  as  questões  sociais,  mas 

essa não é mais uma preocupação. 

A  principal  razão  para  adotar  essa  postura  foi  a  nossa  conscientização  de 

que os espectadores  almejam  uma opção de  entretenimento  e  não desejam  assistir 

apenas  aos  filmes  nacionais.  Ao  longo  dos  quase  dois  anos  de  Cinema  na  Roça 

percebemos que as pessoas também têm o desejo de assistir a  filmes estrangeiros, 

principalmente aos filmes de ação. 

Outro  fator  é  que  há  limitações  em  relação  aos  filmes  nacionais  que 

conseguimos  exibir  nessas  localidades.  Com  o  público  formado  de  pessoas  de 

características variadas, como distintas classes sociais, religiões e – principalmente 

–  faixa  etária,  não  podemos  exibir  qualquer  tipo  de  filme.  Por  exemplo,  há  uma 

rejeição  muito  grande  aos  filmes  que  reunem  cenas  de  sexo  ou  diáolgos  com 

palavras  de  baixo  calão.  Somando­se  a  esse  ponto,  há  a  dificuldade  de  nos 

anteciparmos  à  Rede  Globo,  que  chega  a  98%  dos  municípios  brasileiros 78  e 

habitualmente  exibe  os  filmes  nacionais –  sem  as  caracteríticas acima –  durante  a 

sua  programação.  Como  só  exibimos  filmes  a  partir  de  mídia  digital,  é  raro  que 

consigamos  nos  antecipar  à  emissora,  que,  na  maioria  das  vezes,  é  mais  ágil  ao 

exibi­los. 

78 
Ver MUNIC 2001. p. 98.

106 
Outro  fator  que  nos  motivou  a  decisão  de  não  restringir  a  exibição  aos 

filmes  nacionais  foi  a  burocracia  na  liberação  de  alguns  títulos.  Por  exemplo,  em 

2005,  demoramos  mais  de  quatro  meses  –  até  desistirmos  –  para  conseguirmos  a 

liberação de um título nacional como o Cidade de Deus, enquanto em poucas horas, 

por  uma  módica  quantia,  através  da  Motion  Picture  Licensing  Corporation, 79 

conseguimos  a  cessão  para  52  exibições  de  mais  de  100  títulos,  entre  os  quais 

alguns  nacionais. Nesse cenário vale uma ressalva para a Riofilme –  distribuidora 

de  filmes  da  prefeitura  do  Rio  de  Janeiro  –  e  para  produtoras  como  a  Abbas 

Filmes 80 , Matizar  Filmes 81  e Casa  de  Cinema  de  Porto  Alegre 82 , que prontamente 

atenderam ao nosso pedido de cessão de direitos. 

Outro fator para exibirmos filmes estrangeiros é a oferta de filmes voltados 

ao  público  infantil,  pois,  como  em  todas  as  sessões  há  a  presença  de  crianças, 

precisamos que o acervo do projeto atenda a esses espectadores. A oferta de filmes 

estrangeiros  que  agradem  a  crianças  e/ou  que  ainda  não  tenham  sido  exibidos  na 

televisão é muito maior do que de nacionais. 

Nesse  contexto  de  redirecionamento  de  filmes  do  projeto,  o  acervo 

disponível  aumentou  significativamente.  Em  agosto  de  2005  contávamos  com 

apenas  seis  títulos  nacionais  e,  em  dois  anos,  passamos  a  mais  de  100,  entre 

nacionais  e  estrangeiros.  Mas  essa  ampliação  modificou  nossa  prática.  Em  função 

do  aumento do  número de  filmes,  não  há  mais  como os  espectadores  escolherem, 

entre  todos,  aqueles  títulos  a  que desejam  assistir.  Atualmente,  ao  chegarmos  nas 

localidades  –  de  maneira  informal  –  procuramos  descobrir  quais  serão  os  mais 

aceitos:  nos  locais  que  possuem  videolocadora  sondamos os  títulos  que  têm  mais 

79 
A Motion Pictures Licensing Corporation Brasil (MPLC Brasil) é uma empresa que comercializa 
licenças que autorizam a exibição de filmes em DVD e Videocassete. 
80 
Produtora e cedente direitos dos filmes Tudo Sobre Rodas, Burro Sem Rabo e Olho da Rua. 
81 
Produtora e cedente direito do filme Fala Tu. 
82 
Produtora e cedente direitos do filme Ilha das Flores.

107 
saída ou aqueles que a locadora ainda não possui e procuramos oferecer os títulos 

que acreditamos que serão de maior agrado dos espectadores. 

3.6.  O nome do projeto 

Assim como aconteceu nitidamente em São José do Vale do Rio Preto e em 

Casimiro  de  Abreu,  ou  em  Santa  Maria  Madalena  e  Trajano  de  Moraes,  o  nome 

“Cinema  na  Roça” pode  se  traduzir  em desvantagens  e  vantagens. Ao  conceber o 

projeto,  eu  acreditava  que  o  uso  da  palavra  “roça”  seria  um  atributo  do  projeto 

devido à característica dos municípios, que têm a economia baseada na agricultura, 

grande  parte  da  população  residindo  na  zona  rural,  entre  outras.  Isso, 

principalmente,  porque  o  projeto  tinha  o  objetivo  de  levar  o  cinema  para  o  meio 

rural. 

No entanto, durante a execução do Cinema na Roça e a partir da leitura de 

Roberto da Matta, em “O ofício de etnólogo, ou como ter ‘Anthropological Blues’” 

(MATTA,  1978),  pude  perceber  que  houve  superficialidade  na  “fase  teórico­ 

intelectual” 83  do projeto que concebi. 

Sendo  assim,  o  nome  Cinema  na  Roça  é  mais  uma  das  mudanças  que  o 

projeto  inicial  está  sofrendo.  Atualmente  estamos considerando  a  possibilidade de 

chamá­lo Cinema Social ou Cine Social. Por mais que ainda não tenhamos definido 

qual será o futuro nome do projeto, é certo que ele mudará. Uma vez que tenhamos 

tomado a decisão de direcionar o projeto a mais localidades, independente do IDH e 

83 
MATTA, Roberto da. P 24.

108 
da presença de videolocadoras, precisamos adequá­lo à realidade de localidades que 

não se identificam com a palavra roça. 

Outro  ponto  a  ser  ressaltado  é  que  atualmente  levar  o  cinema  nos  parece 

mais importante do que denominá­lo com esse ou aquele nome, ou seja, cheguei à 

conclusão  de que  aproveitar  a  carência  de  equipamentos  culturais  e  torná­la  uma 

aliada  para  a  disponibilização  de  mais  uma  forma  de  entretenimento  para  as 

pessoas, bem como suplantar a ausência desse equipamento com uma iniciativa que 

estimule com convívio social em ambiente público, tem uma dimensão muito maior 

do  que  atribuir  um  nome  para  a  iniciativa.  A  proposta  atual  é  “batizar”  o  projeto 

com o nome que mais se identifique e seja aceito pelos espectadores. Por exemplo, 

se o nome Cinema na Roça não foi aceito em Casimiro, lá poderá ser chamado de 

Cinema  Itinerante,  Cinema  de Graça  em Casimiro ou qualquer  outro. E o  mesmo 

vale para quaisquer localidades. 

A decisão de alterar o nome também visa atender a uma necessidade criada 

pela  característica  comercial  –  citada  no  item  3.4  do  presente  trabalho  e  que  será 

mais  detalhada  à  frente  –  que  o  projeto  assumiu,  pois,  uma  vez  que  haja  um 

patrocinador da iniciativa, o nome poderá ser adequado aos seus interesses. 

3.7.  Desmembramento do Cinema na Roça 

Conforme  procurei  demonstrar  ao  longo  desse  trabalho,  o  projeto  nasceu 

com  uma  ambição  desmedida,  fruto  do  meu  grande  idealismo.  Eu  acreditava  ser 

possível, através do cinema, transformar toda uma realidade social presente há anos. 

O  formato  do  Cinema  na  Roça  surgiu  da  inquietação  com  o  crescimento

109 
desordenado  das  grandes  cidades  e  com  a  idéia  de  contribuir  para  o 

desenvolvimento das localidades interioranas do estado do Rio de Janeiro. 

Em  alguns  pontos  evoluiu  e  em  outros  adequou­se  à  realidade.  A 

preocupação com a abrangência de localidades perdeu prioridade para o aumento da 

frequência de exibições dentro do mesmo município e ganhou um contexto escolar. 

O foco do Cinema na Roça continua sendo os municípios do interior, porém não é 

mais somente para a zona rural. 

A partir do aprendizado proporcionado ao longo dos dois anos de execução 

do projeto, decidi­me pelo desmembramento do Cinema na Roça em duas vertentes 

que apresentarei a seguir. 

3.7.1.  Cinema Social 

A proposta com o Cinema Social é introduzir um novo nome ao Cinema na 

Roça e continuar realizando parte do que já era realizado, porém alguns dos anseios 

que eu tinha com o projeto inicial não existem mais e o Cinema Social nasceu com 

duas facetas: uma voluntária e outra comercial. Em princípio, o funcionamento das 

duas  segue  a  mesma  dinâmica.  O  que  as  difrencia  é  que  a  vertente  voluntária  é 

financiada pela empresa Brasil Social – que será apresentada mais detalhadamente à 

frente  –  enquanto  que  a  vertente  comercial  é  patrocinada  por  outras  empresas  ou 

pelo poder público. 

O Cinema Social tem o objetivo de promover exibições gratuitas de filmes 

nacionais e estrangeiros – como apresentado no item 3.5 do presente trabalho –, em 

localidades  que  preferencialmente  não  possuam  cinemas  ou  videolocadoras.  Mas

110 
vale  ressaltar  que  essa  não  é  uma  exigência.  As  sessões  do  Cinema  Social  são 

realizadas somente em espaços públicos e têm o objetivo específico de proporcionar 

mais uma opção de entretenimento aos moradores dessas localidades. 

A  faceta  comercial  mantém  as  mesmas  características  descritas  acima.  A 

diferença  entre  as  duas  está  no  custeio  e  na  escolha  das  localidades, que pode  ser 

compartilhada com a inciativa privada ou pretender atender a uma demanda de um 

determinado município. 

Como se pode perceber, o Cinema Social resumiu o aprendizado adquirido 

ao  longo  dos  quase  dois  anos  de  Cinema  na  Roça  e  abandonou  anseios  e 

responsabilidades  atribuídas  ao projeto  inicial,  decorrentes  da  superficialidade dos 

levantamentos  prévios.  Vale  ressaltar  que  não  há  a  expectativa  de  debates  e 

reflexões  após  as  sessões,  nem  a  aspiração  de  ações  transformadoras  O  único 

objetivo do Cinema Social é realizar exibições de filmes em locais públicos. 

3.7.2.  Cinema na Escola 

O desmembramento do Cinema na Roça também deu origem a esse segundo 

projeto,  chamado  Cinema  na  Escola,  que  acontece  com  o  patrocínio  da  iniciativa 

privada ou  do  poder  público  e  consiste  na  exibição  de  filmes  dentro do  ambiente 

escolar e com o intuito de servir de ferramenta para os professores trabalharem os 

conteúdos da grade curricular com os alunos. 

Através  do  Cinema  na  Escola  realizamos  projeções  diurnas  no  interior  das 

escolas  públicas  municipais.  Com  essa  proposta,  os  filmes  passaram  a  ser

111 
escolhidos  em  conjunto  com  os  professores  e/ou  responsáveis  pela  coordenação 

pedagógica dos municípios e visam a atender temas levantados nas escolas. 

Optei pelo desmembramento porque percebi que as projeções noturnas, em 

ambiente  aberto  e com o público diversificado,  não  reuniam  condições  favoráveis 

aos  debates,  ou  seja,  para  a  reflexão  sobre  a  temática  apresentada  pelos  filmes  e 

porque  continuo  convencido de  que  os  filmes  são boas  ferramentas  educacionais. 

Por  outro  lado,  devido  ao  contato  com  as  pessoas  das  localidades  e  ao 

conhecimento  dos  aparatos  eletrônicos  disponíveis  nas  escolas  desses  municípios, 

cheguei  à  conclusão  de que,  ao  levar  o  cinema  para  dentro  da  sala  de  aula,  seria 

possível aliar um ambiente favorável à reflexão com uma forma alternativa para os 

professores trabalharem os conteúdos da grade curricular. 

Um exemplo de que a iniciativa pode ser útil aos estudantes surgiu em 2007, 

em Maria Mendonça, distrito de Trajano de Moraes, quando alguns professores se 

interessaram  bastante pela  idéia  de  exibir  filmes  em  sala de  aula para os  alunos  e 

disseram­me que iniciariam essa prática. Quando estive em Trajano pela última vez, 

encontrei três  professores dessa  escola  de  Maria  Mendonça  e  a  primeira  cobrança 

que fizeram foi da data de exibição em seus distritos. 

3.8.  A característica comercial 

Em meio a todas essas reflexões e diante das minhas propostas para o futuro 

do  projeto,  surgiu  a  Brasil  Social,  que  é  uma  empresa  privada,  fundada  com  o 

intuito de aliar minhas atividades profissionais ao meu engajamento na área social.

112 
A Brasil Social é uma sociedade que tem por objeto serviços de projeção de 

filmes,  realização  de  eventos,  culturais  ou  não,  tais  como  exibição  de  músicas, 

workshops  e  oficinas.  Através  dela  organizamos  e  comercializamos  as  exibições 

públicas de filmes, bem como eventos relacionados a treinamentos corporativos. 

Com  a  constituição  da  empresa,  passei  a  dedicar­me  ao  financiamento  do 

projeto, independente da existência de patrocínios, mas isso não era suficiente para 

fazê­lo  assumir  maiores  proporções  e  não  o  retirava  do  status  de  atividade 

secundária.  Vislumbrei,  então,  a  possibilidade  de  transformar  o  projeto  em  um 

negócio comercialmente viável, no qual a Brasil Social realizaria exibições públicas 

de filmes, desenvolveria o Cinema na Escola e outras atividades afins. 

Com  o  lucro  das  operações,  há  o  reinvestimento  na  Brasil  Social  e  o 

financiamento de projeto sociais – no momento, o Cinema na Roça e, em breve, o 

Cinema  Social.  Para  esse  empreendimento  convidei  para  a  sociedade  Marcos 

Martinelli, que atuava como voluntário do Cinema na Roça desde a sua concepção. 

Desde então, dividimos as responsabilidades pertinentes às ações da Brasil Social. 

Invesitir  na  comercialização  de  exibições  públicas  de  filmes  foi  uma 

maneira de sanar um problema e atender a uma demanda. O problema era encontrar 

uma maneira de custear a permanência das exibições sem depender de patrocínios 

de  empresas.  Resolvê­lo  somente  se  tornou possível  a  partir  do  momento  em que 

entendi que não haveria sucesso na tentativa de motivar o público para os debates 

após as exibições e consegui atentar para o fato de que a carência de equipamentos 

culturais  era  uma  oportunidade  para  comercializar  as  projeções  com  o  poder 

público.

113 
Outra  saída  para  a  comercialização  das  exibições  foi  o  fracionamento  do 

patrocínio do projeto, pois, assim, mesmo os empresários de comércios de pequeno 

porte podem se tornar patrocinadores. 

A  partir  de  julho  de  2007  assumimos  uma  postura  mais  assertiva  de 

abordagem.  Agora  realizamos  um  levantamento  sobre  os  municípios,  a  fim  de 

identificarmos como está montada sua estrutura cultural, em que tipo de atividades 

culturais  investem,  se  têm  fundações  culturais,  programacão  cultural,  agenda  de 

eventos  culturais  etc.,  pois  essas  informações são  importantes  para  sabermos se  o 

município tem predisposiçao para investir em cultura e avaliarmos nossa chances de 

comercialização dos projetos. 

Aliando  essas  informações  com  detalhes  geográficos  –  como  distâncias 

entre a sede e os distritos, distância entre o município e a capital do estado etc. – e 

dados  estatísticos  –  demografia,  população  urbana  e  rural,  orçamento  etc.  –, 

efetuamos  o  levantamento  dos  nossos  custos  para  a  realização  de  uma  exibição 

voluntária.  Ao  realizarmos  a  exibição  voluntária,  aproveitamos  a  oportunidade  de 

estarmos  no  município  para  abordar  os  secretários  de  Cultura,  de  Educação, 

vereadores  ou  mesmo  o  prefeito  do  município,  ou  seja,  nossa  estratégia  é  usar  a 

exibição voluntária para identificar aliados. 

Essa mudança de estratégia surgiu a partir do momento em que aliamos dois 

aprendizados. O primeiro foi a dificuldade de acessar as pessoas que têm o poder de 

decidir pela contratação do projeto através de contatos telefônicos, como foi o caso 

de  Duas  Barras,  Quissamã,  São  Sebastião  do  Alto  e  Bom  Jardim  –  onde  não 

realizamos exibições –, ou Casimiro de Abreu, Santa Maria Madalena e Sumidouro 

–  nos  quais  realizamos  exibições.  O  segundo  aprendizado  veio  do  sucesso  das 

negociações in loco , como aconteceram em Trajano de Moraes e Sumidouro.

114 
Desde  que percebi  a oportunidade de oferecer  comercialmente os  projetos, 

atentei que, para que conseguíssemos negociar com o poder público, era necessário 

demonstrar  que  o  projeto  tem  a  capacidade  de  aglomerar  pessoas,  pois  ao  poder 

público interessa muito que o projeto seja também um instrumento das suas ações e 

que possa demonstrar isso ao maior número de pessoas. Sendo assim, para atender a 

essa  necessidade, sempre que ofertamos as exibições para a zona rural, o fazemos 

com  auxílio  de  transporte  para  os  espectadores,  aliado  à  divulgação  prévia  e  à 

distribuição de pipoca.

115 
Consider ações Finais 

A  realização  do  Cinema  na  Roça  tem  me  proporcionado  inúmeros 

aprendizados, mas, nesse contexto, o curso de mestrado que demandou a presente 

dissertação tem fundamental influência nesse processo de aprendizado, pois balizou 

as  minhas  expectativas  em  relação  aos  possíveis  resultados  que  poderiam  ser 

alcançados  com  o  Cinema  na  Roça,  bem  como  demonstrou  a  complexidade  de 

alguns fatores anteriormente desconhecidos. 

Antes,  porém,  gostaria  de  fazer  uma  ressalva,  atentando  às  duas  útilmas 

fases de uma pesquisa etnográfica, apontadas por Roberto da Matta em “O ofício de 

etnólogo, ou como ter ‘Anthropological Blues’” (MATTA, 1978). A segunda fase – 

penúltima  elencada  por  Roberto  da  Matta  –  é  denominada  “período  prático” 84  e 

pouco tem a ver com a magnitude acadêmica. Essa fase é representada por questões 

de ordem prática.  Segundo  Roberto da  Matta  trata­se  do  momento  “quando  nossa 

preocupação muda subitamente das teorias mais universais para os problemas mais 

banalmente concretos” 85  e resume­se na preparação para a ida a campo. Nessa fase, 

o  pesquisador  precisa  dedicar­se  a  questões  como  alimentação,  estadia,  higiene, 

saúde etc.

O  Cinema  na  Roça,  apesar  de  não  ter  se  constituído  desde  o  início  como 

pesquisa  etnográfica,  tem  nessas  demandas  práticas  uma  componente  constante, 

pois a logística de realização de cada sessão é muito complexa e trabalhosa, devido 

à falta de recursos nas localidades e ao número reduzido de pessoas que organizam 

as sessões. Por isso, a complexidade ao lidar com o “período prático” dificultou a 

percepção das teias de relacionamento. 

84 
MATTA, Roberto da. P 24. 
85 
MATTA, Roberto da. P 24.

116 
A terceira e última fase, denominada “pessoal ou existencial” 86  se resume ao 

trabalho de campo propriamente dito. Para Roberto da Matta, enquanto a primeira 

fase é essencialmente intelectual e depende basicamente da competência acadêmica 

do pesquisador, a segunda é de ordem prática e inevitável em função da terceira. A 

fase existencial requer extrema atenção ao desconhecido e está mais ligada às lições 

que podem ser apreendidas da vivência do que à vivência em si. É nessa fase que o 

pesquisador enfrenta o cansaço e o desconforto, com o compromisso de ser feliz em 

suas interpretações e que a pesquisa se torna real. 

A  terceira  fase  exige  bastante  concentração  para  as  observações  que 

permitem o entendimento de comportamentos como o de Aurélio, em Silva Jardim, 

ao nos ciceronear; o de Yohana, em Sumidouro, ao demonstrar a preocupação com 

o jornalista e com o filme a ser projetado no centro da cidade; o de Marco Aurélio, 

de  São  José  do  Vale  do  Rio  Preto,  ao  insistir  na  exibição  do  filme  a  Visão  do 

Paraíso ou na participação do Cinema na Roça na Calçada da Cultura, entre outros 

citados nesse trabalho. O ponto aqui levantado é que a Antropologia Social existe 

quando  existe  o  exótico  e,  por  sua  vez,  o  exótico  aparece  em  função  do 

distanciamento  social.  O  papel  do  etnógrafo  é  fazer  com  que  o  exótico  se  torne 

familiar  e  vice­versa  e  Roberto  da  Matta  lança  um  importante  olhar  para  a 

subjetividade, o sentimento e a emoção durante um trabalho etnográfico. Ele aponta 

que  esses  aspectos  são  relevantes  para  o  processo  de  entendimento  das  tramas 

sociais,  pois  grande  parte  do  que  é  apreendido  no  trabalho  de  campo  depende  da 

capacidade de sentir, antes da de compreender. 

86 
MATTA, Roberto da. P 25.

117 
Geertz levanta  a questão do significado de cultura e, citando Goodenough, 

aceita que “a cultura (está localizada) na mente e no coração dos homens” 87  e que a 

“cultura de uma sociedade consiste no que quer que seja que alguém tem que saber 

ou acreditar a fim de agir de uma forma aceita pelos seus membros” 88 . No entanto, 

Geertz  ressalta  a  importância  que  deve  ser  dada  a  duas  questões  sobre  a  cultura. 

“Uma  delas  é  imaginar  que  a  cultura  é  uma  realidade  superorgânica  autocontida, 

com forças e propósitos em si mesma” e a “outra é alegar que a cultura consiste em 

um  valor  bruto  de  acontecimentos  comportamentais  que,  de  fato,  observamos 

ocorrer  em  uma  ou  outra  comunidade  identificável” 89 .  Porém,  o  ponto  mais 

importante,  levantado  por  Geertz,  refere­se  à  maneira  como  o  pesquisador  deve 

relacionar­se com as diversas culturas. 

Para Geertz, na interpretação da cultura, o pesquisador deve estar atento ao 

indagar  a  importância  do  significado  dos  acontecimentos,  “o  que  está  sendo 

transmitido  com  a  sua  ocorrência”,  mesmo  que  ela  seja,  à  primeira  vista,  um 

simples  detalhe.  Com  isso,  o  sucesso  da  presente  dissertação  está  diretamente 

relacionado à minha capacidade de estar atento aos comportamentos e de entender o 

significado dos pequenos atos, assim como à capacidade de afastamento do objeto e 

de entendimento da subjetividade. Como, por exemplo, entender que, para o Kelvin, 

de  Sumidouro,  e  para  o  Allan,  de  Trajano  de  Moraes,  participar  do  projeto 

englobava  o  componente  status,  enquanto  que,  para  o  Aurélio,  de  Silva  Jardim, 

poder. 

Assim como Clifford Geertz faz a introdução de seu trabalho citando o livro 

Philosophy  in  a  new  key  de  Susanne  Langer  e  abordando  o  hábito,  no  panorama 

intelectual,  de  abraçar  uma  boa  idéia  e  tê­la  como  solução  para  todas  as 
87 
GEERTZ, Clifford. P. 8 
88 
GEERTZ, Clifford. P. 8 
89 
GEERTZ, Clifford. P. 8

118 
questões/problemas  fundamentais,  acredito  que  instintivamente  eu  tenha  passado 

por esse mesmo processo ao acreditar na idéia de usar o cinema como ferramenta de 

transformação  social.  No  entanto,  entender  as  limitações  do  projeto  e  aceitá­las  é 

uma forma de demonstrar Anthropological Blues.90 
 

Procurei apresentar ao longo do presente trabalho, como a maioria das idéias 

que  julgamos  mirabolantes  e  inovadoras,  essa  também  descartou  a  atenção  a 

importantes  detalhes e  iniciativas  pregressas.  A  minha  ingênua  proposta  queria  se 

valer da ausência do equipamento cultural para despertar o interesse da população 

dos pequenos municípios para a discussão a respeito de suas realidades sociais e da 

condição  de  vida  e  emprego  nessas  localidades,  assumindo  previamente  que  essa 

fosse uma necessidade legítima de seus habitantes. 

Durante a concepção do projeto tudo  era muito fácil,  inovador e aplicável: 

percorrer o  Brasil  estimulando debates  e  promovendo  a  cultura  nacional  território 

afora.  No  entanto,  vale  ressaltar  que,  ao  idealizar  o  projeto,  negligenciei  alguns 

pontos  de  cuja  importância  atualmente  tenho  consciência,  mas  que  na  ocasião 

passaram incólumes. 

Durante  essa  parte  da  dissertação  pretendo  focar­me  em  apenas  três 

aspectos.  O  primeiro  é  a  relação  entre  o  evento  proporcionado  pela  exibição  e  o 

filme.  O  segundo  se  refere  ao  significado  da  participação  das  pessoas  como 

espectadores e como voluntários. O terceiro é sobre a continuidade do projeto. 

A partir da leitura de Geertz cheguei a conclusão de que o maior trabalho do 

etnógrafo  é  fazer  uma  intepretação  de  suas  anotações,  ou  seja,  a  riqueza  da 

etnografia está na profundidade com que se consegue penetrar nas relações e`, para 

isso, se  faz  necessário que haja riqueza de detalhes  na observação. A etnografia  é 

90 
Ver MATTA, Roberto da.

119 
um  complexo  exercício  de  intepretação  de  sinais  e  de  leitura  dos  códigos.  A 

descrição densa se diferencia da superficial pela complexidade dos detalhes que traz 

à  tona.  Mesmo  que  as  passagens  não  tenham  significado  imediato  e  que  sua 

relevância  não salte aos olhos durante as anotações/percepções, é importante estar 

atento  a  todas  as  manifestações,  pois  esses  registros  permitirão  um  estudo  mais 

aprofundado e a construção de uma etnografia densa. 

Outra  consideração  importante  se  refere  à  complexidade  de  interpretação 

dos dados. O que  pretendo dizer com isso é que, durante o processo investigativo, 

um dado etnográfico que, aos olhos do pesquisador, pode ser muito importante e/ou 

significativo, é coletado através da observação e do “depoimento” de outras pessoas 

que  não  lhe  dão  o  mesmo  significado  e  o  fornecem  de  forma  “disfarçada”, 

desconexa,  sem  importância  e/ou  confusa  e  que  esses  dados  somente  receberão  a 

devida importância após uma análise mais detalhada e atenta do pesquisador. 

Há  um  longo  e  complexo  processo  a  ser  seguido  e  que  exige  a  sua 

capacidade de captar e interpretar os dados, a fim de encontrar relevante significado 

no material coletado. Em primeiro lugar entendo que a necessidade de encontrar os 

porquês e uma boa formulação da questão é essencial para esse momento. A partir 

dessa etapa se faz necessário desvencilhar­se da capacidade imaginativa, para evitar 

que seja traído por conclusões prematuras e pela atribuição indevida de valores aos 

códigos. Para o passo seguinte se faz necessário vivenciar e internalizar as relações 

culturais,  isentando­se  de  preconceitos  e  da  paúra  por  identificar  relações  e 

construir significados. 

Esse  momento  é  de  aprendizado  e  deve  ser  dedicado  ao  entendimento  do 

que  acontece  ao  redor  do  pesquisador,  de  identificação  das  relações  culturais. 

Analogamente, é como se o pesquisador se dedicasse ao aprendizado de um novo

120 
idioma.  Por  fim  é  a  etapa  de  significação  e,  para  esse  passo,  é  importante  a 

capacidade de relacionar e interpretar os códigos captados. É nessa etapa que devem 

ser estabelecidas as relações culturais e decodificadas as tramas e teias relacionais. 

Temo  que  a  dificuldade  causada  pela  minha  falta  de  experiência  ao 

pesquisar  e  relatar,  aliada  à  complexa  logística  de  realização  das  sessões  tenham 

ocultado  a  riqueza  das  relações  ao  longo  das  sessões  do  Cinema  na  Roça.  Mas, 

apoiando­me  em  mais  um  pensamento  de  Geertz  ao  considerar  que  seu  trabalho 

ainda  não  chegou  “próximo  do  fundo  de  qualquer  questão  sobre  a  qual  tenha 

escrito”  e  ao  reforçar  as  suas  palavras  com  a  tese  de  que  “essa  é  uma  ciência 

estranha,  cujas  afirmativas  mais  marcantes  são  aquelas  que  têm  a  base  mais 

trêmula”,  pretendo  apresentar  minhas  considerações  com  o  intuito  de  contribuir 

singelamente com quem se interesse pelo tema. 

Em  relação  às  minhas  conclusões,  acredito  que  tanto  o  evento  quanto  a 

exibição dos filmes são muito importantes, mas cada um atua sobre o espectador em 

momentos distintos. No primeiro momento, os equipamentos são o grande atrativo 

do  Cinema  na  Roça.  A  partir  do  momento  em  que  começamos  a  trabalhar  com  a 

tela  inflável  percebi  que  a  motivação  das  pessoas  para  assistirem  aos  filmes 

aumentou  ainda  mais  e  é  uma  constante  perceber  pessoas  que  ficam  mais 

impressionadas com a estrutura do que com o filme a ser projetado. Em Casimiro de 

Abreu, por exemplo, várias pessoas preferiram assistir aos filmes pela parte traseira 

da  tela,  com  as  imgens  invertidas  e,  como  projetamos  a  imagem  por  trás  da  tela, 

frequentemente  as  pessoas  ficam  curiosas  procurando  descobrir  de  onde  vem  a 

imagem. 

Num  segundo  momento,  o  filme  passa  a  ser  importante,  sendo  que  vale 

ressaltar  a  diferença  em  função  do  componente  demográfico  das  localidades.

121 
Percebo  que  na  maioria  dos  locais,  principalmente  nas  localidades  que  reúnem 

maior número de espectadores, é grande o número de pessoas que estão presentes 

por  conta  do  alvoroço que  a  exibição  causa  e  não por  conta  do que  se  projeta  na 

tela. A falta de costume e a dificuldade de concentração em um filme por cerca de 

duas horas ainda são os motivos mais aparentes. Em contraponto, percebo que em 

exibições  que  reúnem  menos  pessoas,  até  40  espectadores,  a  atenção  ao  que  está 

sendo exibido é muito maior e a resposta do público imediata. 

Nas  pequenas  localidades,  os  espectadores  são  menos  tolerantes  com  a 

narrativa  e  com  o  enredo  dos  filmes  do  que  nas  localidades  que  reúnem  mais 

pessoas e, caso o filme não lhes agrade, deixam o local mais facilmente. Apesar de 

parecer óbvio – pois disse acima que nas exibições que reunem grande número de 

espectadores a atenção aos filmes é menor e a reunião de pessoas é que os atrai –, 

os  espectadores  permanecem  por  mais  tempo  no  local  de  projeção.  Acredito  que 

isso se dê por encontrarem outros atrativos além do filme projetado. 

Ao longo dos quase dois anos de Cinema  na Roça cheguei  à conclusão de 

que o projeto tem um papel importante para as comunidades pelo fato de ser mais 

um atrativo cultural para as pessoas, pelo fato de reuni­las em determinado local e, 

de certa forma, estimular o convívio. No entanto, não é o cinema que possui esse 

poder.  Atribuo  à  carência  de  atrativos  o  maior  trunfo  do  projeto  e,  sendo  assim, 

várias iniciativas seriam aceitas pelas população. 

Percebo  que  há  demanda  para  o  cinema  como  entretenimento  nessas 

localidades  e  que  o  equipamento  também  deve  ser  um  atrativo  para  valorizar  a 

experiência. Entendo que é importante não apenas exibir os filmes, como também 

compartilhar com as pessoas o funcionamento da estrutura. No entanto, com relação 

à  concepção  inicial  do  Cinema  na  Roça,  de  usar  o  cinema  como  ferramenta  para

122 
estímulo direto de  reflexões  a  partir  dos  filmes  e  promoção de  tranformações nos 

municípios, entendo que as chances são remotas. 

Em relação às pessoas que participaram, considero que para Allan Almeida 

– de Trajano de Moraes – ou para Rosilane Brum – de Silva Jardim – tenha tido um 

significado  diferente  do  atribuído  aos  demais  habitantes  das  localidades  devido  à 

participação  intensa,  mas  não  percebo  que  de  forma  geral  a  experiência  tenha 

estimulado  alguma  reação  diferente  do  que  a  postura  de  espectador.  Como  pude 

comprovar,  da  segunda  vez  em  que  estive  em  Sossego  do  Imbé  –  Santa  Maria 

Madalena –, um ano após a primeira exibição, as pessoas se recordavam do filme 

que  exibimos  e  da  experiência  que  viveram  assistindo  a  um  filme  em  uma  tela 

grande pela primeira vez. Em Cambucaes –  Silva Jardim –  tive a oportunidade de 

retornar na escola da qual pegamos as cadeiras, e os alunos também se lembravam 

com saudade da exibição dos filmes e  falaram que gostaram de assistir ao filme  e 

que queriam que o cinema voltasse. Em Sumidouro, quando retornei em janeiro de 

2007 – por outro motivo –, algumas pessoas me abordaram na rua perguntando se o 

cinema  voltaria.  Ao  final  das  sessões,  normalmente,  algumas  pessoas  perguntam 

quando  haverá  outra  sessão.  Isso  aconteceu  em  Palmital  e  Professor  Souza  – 

Casimiro;  Ribeirão  Santíssimo  e  Sossego  do  Imbé  –  Madalena;  Porteira  Verde  e 

Campinas – Sumidouro, entre outros. 

Mas  há  exemplos  contrários.  Depois  da  sessão  de  novembro  de  2006, 

retornei  ao  Tirol  –  Trajano  de  Moraes  –  duas  vezes.  Numa  delas  procurei  o  Sr. 

Ovídio,  que  havia  cedido  sua  propriedade  para  a  exibição  na  localidade  e  ele  se 

recordava vagamente da sessão. Da segunda, tive a oportunidade de conversar com 

Ana Ely Toledo, diretora da Escola Municipalizada Fazenda do Tirol, que me disse 

que as nove crianças da escola gostaram muito da experiência da sessão de cinema

123 
e que ela –  apesar de não estar presente à  sessão – pôde trabalhar o conteúdo dos 

filmes em sala. 

A maior manifestação de aprovação aconteceu em Trajano de Moraes, mas 

atribuo  esse  comportamento  à  maior  exposição  que  o  projeto  teve  no  município. 

Percebo que a admiração das pessoas de Trajano se dá em função do trabalho que é 

realizado e não em função da exibição de filmes propriamente dita, ou seja, no meu 

entender, não é o cinema e nem o filme que importa e sim a iniciativa de levar para 

o  município  algo  que  antes  não  exisitia.  Ainda  não  consegui  identificar  se  a 

experiência  foi  realmente  importante,  se,  de  alguma  forma,  suas  vidas  foram 

“afetadas”.  Acredito  que  para  a  maioria  das  pessoas  tenha  sido  apenas  mais  um 

evento ao qual tiveram acesso e que, com o tempo, cairá no esquecimento. 

O  Cinema  na  Roça  conforme  concebido  já  não  exite  há  muito  tempo.  De 

fato  nunca  saiu  do  papel.  Desde  que  iniciei  o  projeto,  suas  características  foram 

sendo  modificadas  a  cada  exibição.  Atualmente,  como  visto  anteriormente  no 

capítulo  3  do  presente  trabalho,  deu  origem  a  mais  duas  iniciativas  chamadas 

Cinema na Escola e, em princípio, Cinema Social. 

Considero  que  o  momento  atual  seja  de  constantes  reflexões  sobre  a 

continuidade dos projetos, pois chegar à conclusão de que a experiência não é nada 

além  do  que  “projetar  filmes  na  praça”  está  sendo  bastante  difícil  e  atualmente 

divido meus pensamentos entre a decisão de dar continuidade às exibições, porém 

com enfoque comercial, ou de interrompê­las. Enquanto isso, continuo organizando 

“sessões públicas de cinema” e oferecendo o “cinema” para as escolas municipais.

124 
Anexo 

Listagem dos filmes 91 

Nome do Filme  Distribuidora  Ano 


1972  BUENA VISTA  2006 
A MÁQUINA  BUENA VISTA  2006 
ANJOS DO SOL  BUENA VISTA  2006 
AS VIDAS DE MARIA  PANDORA  2005 
BODAS DE PAPEL  PANDORA  2006 
CRIME DELICADO  DOWNTOWN  2006 
DIA DE FESTA  PANDORA  2006 
DIDI CAÇADOR DE TESOUROS  BUENA VISTA  2006 
DOM  HELDER  CAMARA,  O  SANTO 
PANDORA  2006 
REBELDE 
ELIANA  EM  O  SEGREDO  DOS 
FOX  2005 
GOLFINHOS 
EU ME LEMBRO  PANDORA  2006 
FICA COMIGO ESTA NOITE  BUENA VISTA  2006 
GATÃO DE MEIA IDADE  DOWNTOWN  2006 
IRMA VAP ­ O RETORNO  DOWNTOWN  2006 
JOGO SUBTERRÂNEO  BUENA VISTA  2005 
MENINAS  DOWNTOWN  2006 
MEU TIO MATOU UM CARA  FOX  2005 
MUITO GELO E DOIS DEDOS D'ÁGUA  BUENA VISTA  2006 
O  ANO  EM  QUE  MEUS  PAIS  SAÍRAM 
BUENA VISTA  2006 
DE FÉRIAS 
O CÁRCERE E A RUA  PANDORA  2006 
O  CASAMENTO  DE  ROMEU  E 
BUENA VISTA  2005 
JULIETA 

91 
Todos esses filmes passaram a fazer parte do acervo em 2007.

125 
O  CAVALEIRO  DIDI  E  A  PRINCESA 
BUENA VISTA  2006 
LILI 
O CORONEL E O LOBISOMEM  FOX  2005 
O DIÁRIO DE TATI  UIP  2006 
O VENENO DA MADRUGADA  UIP  2006 
SE EU FOSSE VOCÊ  FOX  2006 
SÓ DEUS SABE  DOWNTOWN  2006 
TAPETE VERMELHO  PANDORA  2006 
TRAIR E COÇAR É SÓ COMEÇAR  FOX  2006 
UM CRAQUE CHAMADO DIVINO  PANDORA  2006 
WOOD AND STOCK  DOWNTOWN  2006 
XUXA GÊMEAS  FOX  2006 
SONHOS E DESEJOS  UIP  2006 
A DONA DA HISTÓRIA  BUENA VISTA  2004 
A HORA MARCADA  UIP  2001 
ABRIL DESPEDAÇADO  LUMIÈRE  2001 
ACQUARIA  FOX  2003 
AMORES POSSÍVEIS  FOX  2001 
AS TRÊS MARIAS  LUMIÈRE  2002 
AVASSALADORAS  FOX  2002 
CAMINHO DOS SONHOS  UIP  1999 
CIDADE DE DEUS  LUMIÈRE  2002 
CINEGIBI,  O  FILME  ­  TURMA  DA 
UIP  2004 
MÔNICA 
COMO FAZER UM FILME DE AMOR  LUMIÈRE  2004 
CONDENADO À LIBERDADE  UIP  2001 
CONTOS DE LÍGIA  LUMIÈRE  1999 
CRISTINA QUER CASAR  FOX  2003 
DE PASSAGEM  LUMIÈRE  2004 
DOMÉSTICAS  PANDORA  2001 
FÁBIO FABULOSO  LUMIÈRE  2004 
LISBELA E O PRISIONEIRO  FOX  2003

126 
MADAME SATà LUMIÈRE  2002 
MEMÓRIAS PÓSTUMAS  LUMIÈRE  2001 
MINHA VIDA EM SUAS MÃOS  FOX  2000 
NARRADORES DE JAVÉ  LUMIÈRE  2004 
O CAMINHO DAS NUVENS  BUENA VISTA  2003 
O INVASOR  PANDORA  2002 
O TRAPALHÃO E A LUZ AZUL  LUMIÈRE  1999 
O TRONCO  PANDORA  1999 
OLGA  LUMIÈRE  2004 
ONDE ANDA VOCÊ  UIP  2004 
OS NORMAIS  LUMIÈRE  2003 
PELÉ ETERNO  UIP  2004 
RUA SEIS SEM NÚMERO  PANDORA  2003 
SAMBA RIACHÃO  PANDORA  2004 
SEXO, AMOR E TRAIÇÃO  FOX  2004 
SONHOS TROPICAIS  PANDORA  2002 
SURF ADVENTURES  LUMIÈRE  2002 
TRAIÇÃO  LUMIÈRE  1998 
UM ANJO TRAPALHÃO  FOX  2001 
UMA AVENTURA DO ZICO  LUMIÈRE  1999 
VIVA VOZ  BUENA VISTA  2004 
XUXA REQUEBRA  FOX  1999 
2046 ­ SEGREDOS DO AMOR  PANDORA  2006 
A ERA DO GELO 2  FOX  2006 
A GAROTA DA VITRINE  FOX  2006 
A MÁQUINA  BVI  2006 
A MARCHA DOS PINGUINS  DOWNTOWN  2006 
A MENINA E O PORQUINHO  PAR  2006 
A PANTERA COR DE ROSA  FOX  2006 
A PASSAGEM  FOX  2006 
A PROFECIA  FOX  2006 
AEON FLUX  UIP  2006

127 
ANJOS DA VIDA ­ MAIS BRAVOS...  BVI  2006 
APENAS AMIGOS  PANDORA  2006 
AQUAMARINE  FOX  2006 
ARMAÇÕES DO AMOR  UIP  2006 
AS CRÔNICAS DE NÁRNIA  BVI  2006 
AS FÉRIAS DA MINHA VIDA  UIP  2006 
AS TORRES GÊMEAS  UIP  2006 
BAMBI 2 ­ O GRANDE PRÍNCIPE  BVI  2006 
BANDIDAS  FOX  2006 
CARROS  BVI  2006 
DIDI CAÇADOR DE TESOUROS  BVI  2006 
DOIS É BOM, TRÊS É DEMAIS  FOX  2006 
DOOM ­ A PORTA DO INFERNO  UIP  2006 
DOZE É DEMAIS  FOX  2006 
E SE FOSSE VERDADE  UIP  2006 
ELSA E FRED ­ UM AMOR DE PAIXÃO  PANDORA  2006 
EM SEU LUGAR  FOX  2006 
ERAGON  FOX  2006 
FICA COMIGO ESTA NOITE  BVI  2006 
FONTE DA VIDA  FOX  2006 
FORA DE RUMO  BVI  2006 
GARFIELD 2  FOX  2006 
GEORGE, O CURIOSO  UIP  2006 
GUARDIÕES DA NOITE  FOX  2006 
INSTINTO SELVAGEM 2  BVI  2006 
JOGOS MORTAIS 3  BVI  2006 
JOHNNY E JUNE  FOX  2006 
KING KONG  UIP  2006 
MENTIRAS SINCERAS  FOX  2006 
MERGULHO RADICAL  FOX  2006 
MIAMI VICE  UIP  2006 
MINHA SUPER EX NAMORADA  FOX  2006

128 
MISSÃO IMPOSSÍVEL 3  UIP  2006 
MUITO GELO E DOIS DEDOS D'ÁGUA  BVI  2006 
MUNIQUE  UIP  2006 
NANNY  MCFEE  ­  A  BABÁ 
UIP  2006 
ENCANTADA 
O AMOR EM CINCO TEMPOS  PANDORA  2006 
O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS  UIP  2006 
O  ANO  EM  QUE  MEUS  PAIS  SAÍRAM 
BVI  2006 
DE FÉRIAS 
O  CAVALEIRO  DIDI  E  A  PRINCESA 
BVI  2006 
LILI 
O DIABO VESTE PRADA  FOX  2006 
O GALINHO CHICKEN LITTLE  BVI  2006 
O JARDINEIRO FIEL  UIP  2006 
O MATADOR  PANDORA  2006 
O PLANO PERFEITO  UIP  2006 
O SEGREDO DOS ANIMAIS  UIP  2006 
O SENHOR DAS ARMAS  PANDORA  2006 
O SOL DE CADA MANHà UIP  2006 
O VIRGEM DE 40 ANOS  UIP  2006 
OBRIGADO POR FUMAR  FOX  2006 
ORGULHO E PRECONCEITO  UIP  2006 
OS SEM­FLORESTA  UIP  2006 
PALAVRAS DE AMOR  FOX  2006 
PEQUENA MISS SUNSHINE  FOX  2006 
PIRATAS DO CARIBE 2  BVI  2006 
PLANO DE VÔO  BVI  2006 
POR ÁGUA ABAIXO  UIP  2006 
PROTEJIDA POR UM ANJO  UIP  2006 
RESGATE ABAIXO DE ZERO  BVI  2006 
SE EU FOSSE VOCÊ  FOX  2006 
SELVAGEM  BVI  2006

129 
SENTINELA  FOX  2006 
SEPARADOS PELO CASAMENTO  UIP  2006 
SERES RASTEJANTES  UIP  2006 
SOLDADO ANÔNIMO  UIP  2006 
SOLTANDO OS CACHORROS  BVI  2006 
SORTE NO AMOR  FOX  2006 
SRA. HENDERSON APRESENTA  BVI  2006 
STAY ALIVE ­ JOGO MORTAL  UIP  2006 
TAPETE VERMELHO  PANDORA  2006 
TODO MUNDO EM PÂNICO 4  BVI  2006 
TRAIR E COÇAR É SÓ COMEÇAR  FOX  2006 
TUDO  ACONTECE  EM  ELIZABETH 
BVI  2006 
TOWN 
TUDO EM FAMÍLIA  FOX  2006 
TUDO POR DINHEIRO  UIP  2006 
UM BOM ANO  FOX  2006 
UMA COMÉDIA NADA ROMÂNTICA  FOX  2006 
UMA VERDADE INCONVENIENTE  UIP  2006 
VELOZES E FURIOSOS 3  UIP  2006 
VIAGEM MALDITA  FOX  2006 
VINICIUS  UIP  2006 
VOLVER  FOX  2006 
VÔO 93  UIP  2006 
VOVÓ ZONA 2  FOX  2006 
X­MEN O CONFRONTO FINAL  FOX  2006 
XUXA GÊMEAS  FOX  2006 
9 CANÇÕES  LUMIÈRE  2005 
A CASA DOS BEBÊS  PANDORA  2005 
A CHAVE MESTRA  UNIVERSAL  2005 
A FAMÍLIA DA NOIVA  FOX  2005 
A INTÉRPRETE  UNIVERSAL  2005 
A JANELA DA FRENTE  PANDORA  2005

130 
A LUTA PELA ESPERANÇA  BUENA VISTA  2005 
A MENINA SANTA  PANDORA  2005 
A  VIDA  MARINHA  COM  STEVE 
BUENA VISTA  2005 
ZISSOU 
A VIDA SECRETA DOS DENTISTAS  PANDORA  2005 
ÁGUA NEGRA  BUENA VISTA  2005 
ALFIE  PARAMOUNT  2005 
AMALDIÇOADOS  LUMIÈRE  2005 
AMIGO OCULTO  FOX  2005 
AMOR EM JOGO  FOX  2005 
ASSALTO À 13A DP  UNIVERSAL  2005 
BRIGADA 49  BUENA VISTA  2005 
CARGA EXPLOSIVA 2  FOX  2005 
CORONEL E O LOBISOMEM  FOX  2005 
DE REPENTE É AMOR  BUENA VISTA  2005 
DE­LOVELY  ­  VIDA  E  AMORES  DE 
FOX  2005 
COLE PORTER 
DESDE QUE OTAR PARTIU  PANDORA  2005 
DESVENTURAS EM SÉRIE  UNIVERSAL  2005 
DIÁRIO DE UM NOVO MUNDO  PANDORA  2005 
DOMINO:  A  CAÇADORA  DE 
UIP  2005 
RECOMPENSAS 
ELEKTRA  FOX  2005 
ELIANA  EM  O  SEGREDO  DOS 
FOX  2005 
GOLFINHOS 
EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA  LUMIÈRE  2005 
ENTRANDO  NUMA  FRIA  MAIOR 
UIP  2005 
AINDA 
GOL!  BUENA VISTA  2005 
GUERRA DOS MUNDOS  UIP  2005 
HERBIE – MEU FUSCA TURBINADO  BUENA VISTA  2005 
HERÓI  BUENA VISTA  2005 
HORA DE VOLTAR  BUENA VISTA  2005

131 
HORROR EM AMITYVILLE  BUENA VISTA  2005 
JOGO SUBTERRÂNEO  BUENA VISTA  2005 
KINSEY ­ VAMOS FALAR DE SEXO  FOX  2005 
MADAGASCAR  UNIVERSAL  2005 
MAR ADENTRO  FOX  2005 
MELINDA E MELINDA  FOX  2005 
MERGULHO RADICAL  FOX  2005 
MEU TIO MATOU UM CARA  FOX  2005 
O  CASAMENTO  DE  ROMEU  E 
BUENA VISTA  2005 
JULIETA 
O CHAMADO 2  UNIVERSAL  2005 
O FANTASMA DA ÓPERA  UNIVERSAL  2005 
O  GUIA  DO  MOCHILEIRO  DAS 
BUENA VISTA  2005 
GALÁXIAS 
O JARDINEIRO FIEL  UNIVERSAL  2005 
O OPERÁRIO  PARAMOUNT  2005 
O OUTRO NOME DO JOGO  FOX  2005 
O SENHOR DAS ARMAS  PANDORA  2005 
O VIRGEM DE 40 ANOS  UNIVERSAL  2005 
O VÔO DA FÊNIX  FOX  2005 
OPERAÇÃO BABÁ  BUENA VISTA  2005 
OS INCRÍVEIS  BUENA VISTA  2005 
PAPAI NOEL ÀS AVESSAS  LUMIÈRE  2005 
PAPARAZZI  PANDORA  2005 
PLANO DE VÔO  BUENA VISTA  2005 
QUARTETO FANTÁSTICO  FOX  2005 
QUATRO IRMÃOS  PARAMOUNT  2005 
QUERIDO FRANKIE  BUENA VISTA  2005 
QUESTÃO DE IMAGEM  PANDORA  2005 
RAY  UNIVERSAL  2005 
ROBÔS  FOX  2005 
SIDEWAYS ­ ENTRE UMAS E OUTRAS  FOX  2005

132 
SIN CITY – CIDADE DO PECADO  BUENA VISTA  2005 
SOBREVIVENDO AO NATAL  UNIVERSAL  2005 
STAR  WARS  3:  A  VINGANÇA  DOS 
FOX  2005 
SITH 
SUPER ESCOLA DE HERÓIS  BUENA VISTA  2005 
TERRA DOS MORTOS  UNIVERSAL  2005 
TUDO  ACONTECE  EM 
PARAMOUNT  2005 
ELIZABETHTOWN 
VÔO NOTURNO  UNIVERSAL  2005 
VOZES DO ALÉM  UNIVERSAL  2005 
VOZES INOCENTES  FOX  2005 
WALLACE  & GROMIT  –  A  BATALHA 
UNIVERSAL  2005 
DOS VEGETAIS 
ZATOICHI ZATOICHI  BUENA VISTA  2005 
21 GRAMAS  UIP  2004 
A BATALHA DE RIDDICK  UIP  2004 
A DONA DA HISTÓRIA  BUENA VISTA  2004 
À FRANCESA  FOX  2004 
A MARCA  UIP  2004 
A SUPREMACIA BOURNE  UIP  2004 
A VILA  BUENA VISTA  2004 
ACQUÁRIA  FOX  2004 
ALIEN VS PREDADOR  FOX  2004 
AMERICAN PIE ­ O CASAMENTO  UIP  2004 
AMOR SEM FRONTEIRAS  UIP  2004 
APAIXONADOS  BUENA VISTA  2004 
AS BICICLETAS DE BELLEVILLE  PANDORA  2004 
BEIJE QUEM VOCÊ QUISER  PANDORA  2004 
BRILHO  ETERNO  DE  UMA  MENTE 
UIP  2004 
SEM LEMBRANÇAS 
CHAMAS DA VINGANÇA  FOX  2004 
CHUVA DE VERÃO  PANDORA  2004

133 
CINEGIBI ­ A TURMA DA MÔNICA  UIP  2004 
COISAS BELAS E SUJAS  LUMIÈRE  2004 
COLATERAL  UIP  2004 
COLD MOUNTAIN  BUENA VISTA  2004 
COM A BOLA TODA  FOX  2004 
COM AS PRÓPRIAS MÃOS  FOX  2004 
COMO FAZER UM FILME DE AMOR  LUMIÈRE  2004 
CONNIE  &  CARLA  ­  AS  RAINHAS 
UIP  2004 
DA NOITE 
CORAÇÕES LIVRES  PANDORA  2004 
DANÇA COMIGO?  BUENA VISTA  2004 
DE PASSAGEM  LUMIÈRE  2004 
DIÁRIO DA PRINCESA 2  BUENA VISTA  2004 
DIÁRIOS DE MOTOCICLETA  BUENA VISTA  2004 
DIRTY  DANCING  2:  HAVANA 
LUMIÈRE  2004 
NIGHTS 
DOZE É DEMAIS  FOX  2004 
DUPLEX  LUMIÈRE  2004 
ENCONTROS E DESENCONTROS  UIP  2004 
ESCOLA DE ROCK  UIP  2004 
EU, ROBÔ  FOX  2004 
FÁBIO FABULOSO  LUMIÈRE  2004 
GARFIELD ­ O FILME  FOX  2004 
GAROTAS DO CALENDÁRIO  BUENA VISTA  2004 
GRANDE  MENINA,  PEQUENA 
FOX  2004 
MULHER 
HISTÓRIAS MÍNIMAS  PANDORA  2004 
INTERVENÇÃO DIVINA  PANDORA  2004 
IRMÃO URSO  BUENA VISTA  2004 
KILL BILL ­ VOL. 1  LUMIÈRE  2004 
KILL BILL ­ VOL. 2  LUMIÈRE  2004 
LIGADO EM VOCÊ  FOX  2004

134 
LINHA DO TEMPO  UIP  2004 
LUTERO  PANDORA  2004 
MÁ EDUCAÇÃO  FOX  2004 
MADRUGADA DOS MORTOS  UIP  2004 
MAR DE FOGO  BUENA VISTA  2004 
MATADORES DE VELHINHA  BUENA VISTA  2004 
MENINA DOS OLHOS  LUMIÈRE  2004 
MENINAS MALVADAS  UIP  2004 
MESTRE DOS MARES  BUENA VISTA  2004 
MONSIEUR N.  PANDORA  2004 
MULHERES PERFEITAS  UIP  2004 
NARRADORES DE JAVÉ  LUMIÈRE  2004 
NATHALIE X  PANDORA  2004 
NEM QUE A VACA TUSSA  BUENA VISTA  2004 
O AGENTE DA ESTAÇÃO  LUMIÈRE  2004 
O  ÂNCORA  ­  A  LENDA  DE  RON 
UIP  2004 
BURGUNDY 
O BUQUÊ  PANDORA  2004 
O CUSTO DA CORAGEM  BUENA VISTA  2004 
O DIA DEPOIS DE AMANHà FOX  2004 
O ESPANTA TUBARÕES  UIP  2004 
O GATO  UIP  2004 
O PAGAMENTO  UIP  2004 
O TERMINAL  UIP  2004 
OLGA  LUMIÈRE  2004 
ONDE ANDA VOCÊ  UIP  2004 
OS RUGRATS E OS THORNBERRYS 
UIP  2004 
VÃO APRONTAR 
PAIXÃO DE CRISTO  FOX  2004 
PELÉ ETERNO  UIP  2004 
QUERO FICAR COM POLLY  UIP  2004 
RECONSTRUÇÃO DE UM AMOR  PANDORA  2004

135 
REFÉM DE UMA VIDA  FOX  2004 
REI ARTUR  BUENA VISTA  2004 
RESISTINDO ÀS TENTAÇÕES  UIP  2004 
SAMBA RIACHÃO  PANDORA  2004 
SEXO COM AMOR  FOX  2004 
SEXO, AMOR E TRAIÇÃO  FOX  2004 
SEXTA­FEIRA MUITO LOUCA  BUENA VISTA  2004 
SHOW DE VIZINHA  FOX  2004 
SHREK 2  UIP  2004 
SIMPLESMENTE AMOR  UIP  2004 
SOB O DOMÍNIO DO MAL  UIP  2004 
SOB O SOL DA TOSCANA  BUENA VISTA  2004 
SOBREVIVENDO AO NATAL  UIP  2004 
STARSKY  &  HUTCH  ­  JUSTIÇA  EM 
BUENA VISTA  2004 
DOBRO 
TÁXI  FOX  2004 
TERRA DE SONHOS  FOX  2004 
TODO MUNDO EM PÂNICO 3  LUMIÈRE  2004 
UM CÃO DO OUTRO MUNDO  FOX  2004 
UM JOVEM SEDUTOR  LUMIÈRE  2004 
VALENTIN  BUENA VISTA  2004 
VAN  HELSING  ­  CAÇADOR  DE 
UIP  2004 
MONSTROS 
VIVA VOZ  BUENA VISTA  2004 
WIMBLEDON: O JOGO DO AMOR  UIP  2004 
A FILHA DO CHEFE  LUMIÈRE  2003 
007 ­ UM NOVO DIA PARA MORRER  FOX  2003 
8 MILE ­ A RUA DAS ILUSÕES  UIP  2003 
A CASA CAIU  BUENA VISTA  2003 
A LIGA EXTRAORDINÁRIA  FOX  2003 
A ONDA DOS SONHOS  UIP  2003 
A ÚLTIMA NOITE  BUENA VISTA  2003

136 
A VIDA DE DAVID GALE  UIP  2003 
ABAIXO O AMOR  FOX  2003 
ACONTECE  NAS  MELHORES 
BUENA VISTA  2003 
FAMÍLIAS 
ALBERGUE ESPANHOL  FOX  2003 
AMERICAN PIE ­ O CASAMENTO  UIP  2003 
AMORES PARISIENSES  PANDORA  2003 
ANITA NÃO PERDE A CHANCE  PANDORA  2003 
AOS OLHOS DE UMA MULHER  FOX  2003 
AOS TREZE  FOX  2003 
AS HORAS  LUMIÈRE  2003 
AS  NOVAS  ROUPAS  DO 
UIP  2003 
IMPERADOR 
AS QUATRO PLUMAS  LUMIÈRE  2003 
ASSUNTO DE MENINAS  PANDORA  2003 
BATER OU CORRER EM LONDRES  BUENA VISTA  2003 
CARGA EXPLOSIVA  FOX  2003 
CHEGADAS E PARTIDAS  LUMIÈRE  2003 
CHICAGO  LUMIÈRE  2003 
COMO  PERDER  UM  HOMEM EM 10 
UIP  2003 
DIAS 
CONFISSÕES  DE  UMA  MENTE 
LUMIÈRE  2003 
PERIGOSA 
CORRIDAS CLANDESTINAS  UIP  2003 
CRISTINA QUER CASAR  FOX  2003 
DEMOLIDOR  ­  O  HOMEM  SEM 
FOX  2003 
MEDO 
DEVORADOR DE PECADO  FOX  2003 
DOIDA DEMAIS  FOX  2003 
DOIS  PERDIDOS  NUMA  NOITE 
PAND/RIOF  2003 
SUJA 
DRIBLANDO O DESTINO  FOX  2003 
ERA UMA VEZ NO MÉXICO  BUENA VISTA  2003

137 
ESCRITO NAS ESTRELAS  LUMIÈRE  2003 
EXTERMÍNIO  FOX  2003 
FOI SÓ UM BEIJO  UIP  2003 
FRIDA  LUMIÈRE  2003 
GAROTA VENENO  BUENA VISTA  2003 
GERAÇÃO ROUBADA  LUMIÈRE  2003 
HALLOWEEN: RESURREIÇÃO  LUMIÈRE  2003 
HULK  UIP  2003 
IMPÉRIO  UIP  2003 
JOHNNY ENGLISH  UIP  2003 
KAMCHATKA  BUENA VISTA  2003 
LARA  CROFT  TOMB  RAIDER  ­ 
UIP  2003 
ORIGEM DA VIDA 
LEGALMENTE LOIRA 2  FOX  2003 
LEITÃO ­ O FILME  BUENA VISTA  2003 
LISBELA E O PRISIONEIRO  FOX  2003 
LONGE DO PARAÍSO  PANDORA  2003 
MAIS VELOZES MAIS FURIOSOS  UIP  2003 
MEU PAPAI É NOEL 2  BUENA VISTA  2003 
MEU PEQUENO NEGÓCIO  PANDORA  2003 
NEMESIS  UIP  2003 
O AGENTE TEEN  FOX  2003 
O AMERICANO TRANQUILO  BUENA VISTA  2003 
O AMOR CUSTA CARO  UIP  2003 
O CHAMADO  UIP  2003 
O FILHO  PANDORA  2003 
O JURI  FOX  2003 
O NOVATO  BUENA VISTA  2003 
O  NÚCLEO  ­  MISSÃO  AO  CENTRO 
UIP  2003 
DA TERRA 
O OLHO QUE TUDO VÊ  UIP  2003 
O  TERNO  DE  DOIS  BILHÕES  DE  UIP  2003

138 
DÓLARES 
O ÚLTIMO BEIJO  BUENA VISTA  2003 
ONLY THE STRONG SURVINE  LUMIÈRE  2003 
OS NORMAIS  LUMIÈRE  2003 
OS THORNBERRYS ­ O FILME  UIP/PAR  2003 
PACTO DE JUSTIÇA  BUENA VISTA  2003 
PEQUENOS GRANDES ASTROS  FOX  2003 
PIRATAS DO CARIBE  BUENA VISTA  2003 
POR UM FIO  FOX  2003 
PRENDA­ME SE FOR CAPAZ  UIP  2003 
PROCURANDO NEMO  BUENA VISTA  2003 
RECÉM­CASADOS  FOX  2003 
RUA SEIS, SEM NÚMERO  PANDORA  2003 
SEABISCUIT ­ ALMA DE HERÓI  BUENA VISTA  2003 
SEGUNDA­FEIRA AO SOL  PANDORA  2003 
SINBAD  ­  A  LENDA  DOS  SETE 
UIP  2003 
MARES 
SOLARIS  FOX  2003 
SUBMERSOS  LUMIÈRE  2003 
TODO PODEROSO  BUENA VISTA  2003 
UM GOLPE DE MESTRE  UIP  2003 
UMA VIDA EM SETE DIAS  FOX  2003 
VIOLAÇÃO DE CONDUTA  FOX  2003 
VIVER MATA  FOX  2003 
VOANDO ALTO  LUMIÈRE  2003 
VOLTANDO A VIVER  FOX  2003 
X­MEN 2  FOX  2003 
A COMUNIDADE  PANDORA  2002 
A ERA DO GELO  FOX  2002 
A HISTÓRIA REAL  LUMIÈRE  2002 
A ISCA PERFEITA  LUMIÈRE  2002 
A LÍNGUA DAS MARIPOSAS  PANDORA  2002

139 
A SOMA DE TODOS OS MEDOS  UIP  2002 
A ÚLTIMA CEIA  LUMIÈRE  2002 
AMERICAN  PIE  2  –  2ª  VEZ  É  AINDA 
UIP  2002 
MELHOR 
AS NOVAS ROUPAS DO IMPERADOR  UIP  2002 
ATÉ O FIM  FOX  2002 
BEIJANDO JESSICA STEIN  FOX  2002 
CHARLOTTE GRAY  UIP  2002 
CIDADE DE DEUS  LUMIÈRE  2002 
DIVAS DE BLUE IGUANA  LUMIÈRE  2002 
DO INFERNO  FOX  2002 
DOCE LAR  BUENA VISTA  2002 
DOMINGO SANGRENTO  UIP  2002 
DRAGÃO VERMELHO  UIP  2002 
E SUA MÃE TAMBÉM*  FOX  2002 
ENIGMA  LUMIÈRE  2002 
ENTRE QUATRO PAREDES  LUMIÈRE  2002 
ESTRADA PARA PERDIÇÃO  FOX  2002 
FALE COM ELA  FOX  2002 
FLAMENCO  PANDORA  2002 
FULL FRONTAL  BUENA VISTA  2002 
HISTÓRIAS PROIBIDAS  PANDORA  2002 
IDENTIDADE BOURNE  UIP  2002 
INFIDELIDADE  FOX  2002 
LILO & STITCH  BUENA VISTA  2002 
LÚCIA E O SEXO  PANDORA  2002 
MEU PRIMEIRO HOMEM  UIP  2002 
MINORITY REPORT – A NOVA LEI  FOX  2002 
MONSTROS S. A.  BUENA VISTA  2002 
O AMOR É CEGO  FOX  2002 
O ARTICULADOR  LUMIÈRE  2002 
O CLOSET  PANDORA  2002

140 
O CONDE DE MONTE CRISTO  BUENA VISTA  2002 
O DIÁRIO DA PRINCESA  BUENA VISTA  2002 
O ESCORPIÃO REI  UIP  2002 
O  FABULOSO  DESTINO  DE  AMÉLIE 
LUMIÈRE  2002 
POULAIN 
O GOSTO DOS OUTROS  PANDORA  2002 
O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ  BUENA VISTA  2002 
O  IMPÉRIO  DO  BESTEIROL  CONTRA­ 
LUMIÈRE  2002 
ATACA 
OS EXCÊNTRICOS TENENBAUMS  BUENA VISTA  2002 
PARAÍSO  LUMIÈRE  2002 
POR UM SENTIDO NA VIDA  FOX  2002 
SEXY BEAST  FOX  2002 
SIMPLESMENTE MARTHA  UIP  2002 
SINAIS  BUENA VISTA  2002 
SPIRIT – O CORCEL INDOMÁVEL  UIP  2002 
STAR WARS: EPISÓDIO 2  FOX  2002 
TEIA DE CHOCOLATE  PANDORA  2002 
TERRA DE NINGUÉM  LUMIÈRE  2002 
UMA MENTE BRILHANTE  UIP  2002 
UMA QUESTÃO DE FAMÍLIA  LUMIÈRE  2002 
VANILLA SKY  UIP  2002 
VIVER MATA  FOX  2002 
WAKING LIFE  FOX  2002 
102 DÁLMATAS  DISNEY  2001 
A ESPINHA DO DIABO  FOX  2001 
A HORA DO RECREIO  BVI  2001 
A HORA DO RECREIO  DISNEY  2001 
A NOVA ONDA DO IMPERADOR  BVI  2001 
A NOVA ONDA DO IMPERADOR  DISNEY  2001 
ANTES DO ANOITECER  FOX  2001 
AS MULHERES DE ADAM  LUMIÈRE  2001

141 
AS VIRGENS SUICIDAS  UIP  2001 
BILLY ELLIOT  UIP  2001 
CHOCOLATE  LUMIÈRE  2001 
CONCORRENCIA DESLEAL  PANDORA  2001 
CONTOS PROIBIDOS...  FOX  2001 
E TUA MÃE TAMBÉM  FOX  2001 
ENFERMEIRA BETTY  UIP  2001 
MALENA  LUMIÈRE  2001 
MONSTROS S.A.  BVI  2001 
MONSTROS S.A.  DISNEY  2001 
MOULIN ROUGE  FOX  2001 
O CAMINHO DE KANDAHAR  LUMIÈRE  2001 
RUGRATS EM PARIS  UIP  2001 
SHREK  UIP  2001 
VATEL  LUMIÈRE  2001 
A CARTADA FINAL  UIP/UNIVERSAL  2001 
A FUGA DAS GALINHAS  UIP/DREAMWORKS  2001 
A MEXICANA  UIP/DREAMWORKS  2001 
A NOVA ONDA DO IMPERADOR  BUENA VISTA  2001 
A TEIA DE ARANHA  UIP/PARAMOUNT  2001 
ATLANTIS ­ O REINO PERDIDO  BUENA VISTA  2001 
CHOCOLATE  LUMIÈRE  2001 
CORPO FECHADO  BUENA VISTA  2001 
DR. DOLITTLE 2  FOX  2001 
ENTRANDO NUMA FRIA  UIP/UNIVERSAL  2001 
HANNIBAL  UIP/UNIVERSAL  2001 
JURASSIC PARK III  UIP/UNIVERSAL  2001 
LARA CROFT: TOMB RAIDER  UIP/PARAMOUNT  2001 
LEGALMENTE LOIRA  FOX  2001 
MOULIN ROUGE  FOX  2001 
NÁUFRAGO  UIP/DREAMWORKS  2001 
O DIÁRIO DE BRIDGET JONES  UIP/UNIVERSAL  2001

142 
O GRINCH  UIP/UNIVERSAL  2001 
O RETORNO DA MÚMIA  UIP/UNIVERSAL  2001 
OS OUTROS  LUMIÈRE  2001 
PEARL HARBOR  BUENA VISTA  2001 
PECADO ORIGINAL  FOX  2001 
PLANETA DOS MACACOS  FOX  2001 
REFÉM DO SILÊNCIO  FOX  2001 
SHREK  UIP/DREAMWORKS  2001 
TODO MUNDO EM PÂNICO 2  LUMIÈRE  2001 
VELOZES E FURIOSOS  UIP/UNIVERSAL  2001 
A FUGA DAS GALINHAS  UIP  2000 
AS AVENTURAS DE BARNEY  FOX  2000 
CAMINHO PARA O ELDORADO  UIP  2000 
DINOSSAURO  BUENA VISTA  2000 
DINOSSAURO  DISNEY  2000 
DUAS VIDAS  DISNEY  2000 
FANTASIA 2000  BUENA VISTA  2000 
FANTASIA 2000  DISNEY  2000 
INSPETOR BUGIGANGA  DISNEY  2000 
TIGRÃO ­ O FILME  BUENA VISTA  2000 
TIGRÃO ­ O FILME  DISNEY  2000 
TITAN  FOX  2000 
102 DÁLMATAS  DISNEY  2000 
A  LENDA  DO  CAVALEIRO  SEM 
UIP/PARAMOUNT  2000 
CABEÇA 
A NOVA ONDA DO IMPERADOR  DISNEY  2000 
ALTA FIDELIDADE  BUENA VISTA  2000 
AMOR OU AMIZADE  LUMIÈRE  2000 
ASSÉDIO  PAND/NN  2000 
BELEZA AMERICANA  UIP  2000 
DINOSSAURO  DISNEY  2000 
DOGMA  LUMIÈRE  2000

143 
DOGMA  LUMIÈRE  2000 
ECOS DO ALÉM  FOX  2000 
ENDIABRADO  FOX  2000 
FANTASIA 2000  DISNEY  2000 
FILHA DA LUZ  BUENA VISTA  2000 
HURRICANE ­ O FURACÃO  BUENA VISTA  2000 
MENINOS NÃO CHORAM  FOX  2000 
O INFORMANTE  BUENA VISTA  2000 
O TALENTOSO RIPLEY  LUMIÈRE  2000 
PÂNICO 3  LUMIÈRE  2000 
QUERO SER JOHN MALKOVICH  UIP  2000 
REVELAÇÃO  FOX  2000 
SOBROU PRÁ VOCÊ  BUENA VISTA  2000 
TENHA FÉ  BUENA VISTA  2000 
TENHA FÉ  BUENA VISTA  2000 
TIGRÃO ­ O FILME  DISNEY  2000 
VIVENDO NO LIMITE  BUENA VISTA  2000 
101 DÁLMATAS  DISNEY  95 
A PEQUENA SEREIA  DISNEY  98 
ALADDIN  DISNEY  93 
ANASTASIA  FOX  97 
BAMBI  DISNEY  93 
FLUBBER ­ UMA INVENÇÃO...  DISNEY  97 
FORMIGUINHAZ  UIP  98 
GEORGE ­ O REI DA FLORESTA  DISNEY  98 
HÉRCULES  DISNEY  97 
MEU FILHO DAS SELVAS  DISNEY  97 
MULAN  DISNEY  98 
O CORCUNDA DE NOTRE DAME  DISNEY  96 
O LIVRO DA SELVA  DISNEY  95 
O PRÍNCIPE DO EGITO  UIP  98 
O REI LEÃO  DISNEY  94

144 
PATETA ­ O FILME  DISNEY  96 
POCAHONTAS  DISNEY  95 
PODEROSO JOE  DISNEY  95 
QUERIDA ESTIQUEI O BEBÊ  DISNEY  93 
RUGRATS ­ OS ANJINHOS  UIP  99 
SANTA CLAUSE  DISNEY  95 
TARZAN  DISNEY  99 
VIDA DE INSETO  DISNEY  98 
101 DÁLMATAS ­ O FILME  DISNEY  96 
A BRUXA DE BLAIR  FOX  99 
A CASA AMALDIÇOADA  UIP/DREAMWORKS  99 
A MÚMIA  UIP/UNIVERSAL  99 
A PEQUENA SEREIA  DISNEY  98 
A RAZÃO DO MEU AFETO  FOX  98 
A VIDA É BELA  LUMIÈRE  99 
ADORO PROBLEMAS  UIP  94 
ALADDIN  DISNEY  93 
ALIEN 3  FOX  92 
ALIEN A RESSURREIÇÃO  FOX  98 
AMOR ALÉM DA VIDA  FOX  99 
ARISTOGATAS  DISNEY  95 
ARQUIVO X  FOX  99 
AS BRUXAS DE SALEM  FOX  97 
AS BRUXAS DE SALEM  FOX  97 
BAMBI  DISNEY  93 
CARNE TRÊMULA  FOX  98 
CÍRCULO DE PAIXÕES  FOX  97 
COLCHA DE RETALHOS  UIP/UNIV  96 
DANÇA COMIGO?  BUENA VISTA  98 
DEAD AGAIN  UIP  92 
DESCONSTRUINDO HARRY  BUENA VISTA  99 
E.T. ­ O EXTRATERRESTRE  UIP  82

145 
ELIZABETH  FOX  99 
ENCONTRO MARCADO  UIP/UNIV  98 
ENQUANTO VOCÊ DORMIA  BUENA VISTA  95 
ESPÉCIES  UIP/MGM  95 
ESQUECERAM DE MIM  FOX  90 
EVITA  BUENA VISTA  97 
FILHOS DO PARAÍSO  LUMIÈRE  99 
FIM DOS DIAS  BUENA VISTA  99 
FORÇAS DO DESTINO  UIP  99 
GHOST  ­  DO  OUTRO  LADO  DA 
UIP  90 
VIDA 
GHOST  ­  DO  OUTRO  LADO  DA 
UIP  90 
VIDA 
GREASE  ­  NOS  TEMPOS  DA 
UIP  78 
BRILHANTINA 
HALLOWEEN. H20  LUMIÈRE  98 
HERCULES  DISNEY  97 
INDIANA  JONES  E  A  ÚLTIMA 
UIP  80 
CRUZADA 
INFERNO NA TORRE  FOX  75 
JURASSIC  PARK  ­  O  MUNDO 
UIP  93 
PERDIDO 
KUNDUN  LUMIÈRE  99 
LOUCOS DE AMOR  LUMIÈRE  98 
MULAN  DISNEY  98 
NOIVA EM FUGA  BUENA VISTA  99 
NOTTING HILL  UIP  99 
NOVE MESES  FOX  95 
NUNCA FUI BEIJADA  FOX  99 
O CAMPEÃO  UIP  79 
O CORCUNDA DE NOTRE DAME  DISNEY  96 
O FENÔMENO  BUENA VISTA  96 
O REI LEÃO  BUENA VISTA  94

146 
O REI LEÃO  DISNEY  94 
O SEXTO SENTIDO  BUENA VISTA  99 
O SEXTO SENTIDO  BUENA VISTA  99 
OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE  UIP  78 
OS ESPÍRITOS  UIP/UNIVERSAL  96 
PÂNICO 2  LUMIÈRE  99 
PÂNICO NO LAGO  FOX  99 
PATETA ­ O FILME  DISNEY  96 
POCAHONTAS  DISNEY  95 
PROCURA­SE AMY  LUMIÈRE  97 
QUEM VAI FICAR COM MARY?  FOX  98 
ROCKY 4  UIP  86 
SABRINA  UIP  96 
SEIS DIAS, SETE NOITES  BUENA VISTA  98 
SHAKESPEARE APAIXONADO  UIP  99 
SHINE ­ BRILHANTE  BUENA VISTA  97 
STAR WARS ­ EPISÓDIO 1  FOX  99 
STIGMATA  UIP/MGM  99 
TANGO  LUMIÈRE  99 
TARZAN  DISNEY  99 
TERREMOTO  UIP  75 
THOMAS CROWN  UIP/UA  99 
TITANIC  FOX  98 
TOY STORY  DISNEY  96 
TOY STORY 2  DISNEY  99 
TUBARÃO  UIP  76 
TUDO OU NADA  FOX  98 
TUDO SOBRE MINHA MÃE  FOX  99 
VIDA DE INSETO  DISNEY  98

147 
Refer ências Bibliogr áficas 

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