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PT 5/8/2009 1

Frente ribeirinha da Margem Sul – um projecto perigoso


Apesar do nome auspicioso, a presença do virus socratóide revela que o
projecto está inquinado e que se trata, de facto, de mais um projecto
imobiliário, desta vez no Mar da Palha.

A - Definição do projecto

Em plena campanha eleitoral, o ainda governo pretende aliciar os eleitores


com um projecto grandioso, tendo como objectivo um território - a Margem
Sul do Tejo - abandonado à sua sorte, ou pior, à incúria da amálgama de
poderes central e locais, com a especulação imobiliária como pano de fundo.
O porta voz deste outro brilhante projecto socratóide (eles são tantos!) foi,
desta vez um daqueles paquidermes gelatinosos da corte de Sócrates, um
tal Nunes Correia, gestor dos PIN’s e distribuidor do dinheiro do QREN, que
para o efeito se assina como Ministro do Ambiente.

O objectivo do projecto é requalificar toda a frente ribeirinha do Tejo que vai


da Trafaria até Alcochete tomando como factores impulsionadores, os
terrenos maioritariamente pertencentes ao Estado, na Margueira (Almada),
na antiga Siderurgia Nacional (Seixal) e da Quimiparque (Barreiro/Moita),
num periodo de 12 a 18 anos, consoante as parcelas. No caso da Margueira,
o que lá se encontra é um espaço sem utilização para o qual existem, há dez
anos, planos imobiliários de luxo; nos outros dois casos, registam-se
ocupações industriais, comerciais e de serviços, de pequena e grande
dimensão, de carácter privado em parcelas de propriedade pública, umas e
privada, outras, bem como áreas residenciais. Prevêm-se no plano ora
apresentado e cujo estudo foi ordenado por decisão do conselho de
ministros em 2008, as seguintes áreas de construção (em m2): Margueira –
548435; Quimiparque – 370000; Siderurgia Nacional – 1471000.

E precisamente porque em campanha eleitoral, o marketing impõe o aceno


com 55000 novos empregos até 2027 e 17000 residentes em 5000 fogos de
grande qualidade. Se somarmos os 10800 novos empregos anunciados para
a logística no Poceirão até 2023 e a cidade aeroportuária que estará a
funcionar (dizem) em 2017, talvez o país se desertifique e o deserto de
Mário Lino passe a ter a densidade populacional de Macau. Quando os
paizinhos dos actuais mandarins inventaram o projecto de Sines, nos anos
60 e 70, também não previram, os elefantes brancos que lá vieram a surgir,
os imensos recursos que o Estado lá acabou por enterrar para aliviar a
iniciativa privada de custos e, que o maravilhoso plano para construir em
Santo André uma cidade modelo, se esvaiu no tempo e na areia.

Quanto ao modelo institucional, defende-se o recurso a sociedades gestoras


(60% Estado, 40% Municípios) que, naturalmente, irão proceder à
subcontratação junto de empresas de obras públicas e construção para a
betonização das áreas e, para que as coisas corram céleres, prevêm-se
medidas de agilização de procedimentos (sabem o que isto quer dizer, não?)
além de muitos, muitos “jobs for the boys”.
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Para tornar o projecto defensável perante a opinião pública e para ocultar


que se trata apenas de uma operação em larga escala para favorecer o
sectores da construção, do imobiliário e da banca (que está sempre
presente nestes mega-projectos), apresentam-se algumas ideias que
subjazem no relatório do projecto.

1. A comparação com a Expo, na Margem Norte é grosseira acção de


propaganda. Primeiro, porque se trata, na Margem Sul, de três áreas
desligadas umas das outras, sem nenhuma lógica de conjunto prevista,
sem que esteja pensada a construção de qualquer empreendimento
emblemático para promoção do projecto e que funcione como âncora
unificadora do conjunto. Depois, porque não se contempla nenhuma
visão de reconversão total dos espaços (excepto para a Margueira que
está devoluta) mas, apenas um rearranjo das ocupações, com o
afastamento de algumas unidades industriais poluentes para uma
adequada junção de habitação e hotelaria de luxo. Naturalmente, só
agora o Governo e o seu ministro, dito do ambiente, anunciam esses
inconvenientes e perigos para uma futura população de gente elegante e
endinheirada; até então, essas unidades industriais têm oferecido perigos
vários à população, nomeadamente do Barreiro, Baixa da Banheira e
Lavradio mas, como é gente pobre e de trabalho… que se danem.

2. A criação da “verdadeira cidade portuária” na Margem Sul, enquadra-se


ainda na mesma lógica mistificatória que caracteriza o pensamento dos
mandarins. O untuoso ministro que enunciou o projecto terá sofrido da
mesma doença temporária que acometeu o Lino tempos atrás, depois do
almoço ou, alternativamente, deve pensar que somos parvos.

As instalações portuárias na Margem Sul movimentam produtos


petrolíferos, cereais e oleaginosas e incluem, na Trafaria, o elefante
branco da Silopor para cuja privatizatização ninguém aparece; não
necessitam de vultuosos escritórios em particular, muito menos no Mar
da Palha e não irão contribuir para o adorno curricular do sacripanta
Nunes Correia.

E depois, se os contentores estão na margem norte entregues aos


camaradas da Mota-Engil, embebidos nos “procedimentos ágeis” da
contratação directa e perto dos planos tortuosos relativos à frente
ribeirinha a cargo do António Costa, do Manuel Salgado e figuras pouco
recomendáveis afins, qual a atração movida pela frente ribeirinha Mar da
Palha agora proposta? Se os contentores estão a norte, os escritórios de
agentes de navegação, transitários e outros instalam-se na margem sul,
como sugere o esponjoso ministro?

3. Disse ainda o pobre diabo do Correia que a Margem Sul “era uma zona
residencial e dormitório de Lisboa e que este projecto lhe vai dar nova
centralidade”. Asneira e incoerência. As alterações propostas no projecto
à situação actual, consistem na redução da ocupação industrial,
comercial e de serviços nos terrenos escolhidos e a criação de habitações
para 17000 pessoas das classes alta e média alta que, provavelmente se
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terão de deslocar para Lisboa onde continuarão a estar as multinacionais


e o centro financeiro. E, não parece que constituam grande atração para
os futuros quadros da cidade aeroportuária de Alcochete ou, para os
milhares (?) de trabalhadores do Poceirão, pois decerto todos encontrarão
habitações à sua medida bem mais perto do que à beira do Mar da Palha,
paredes meias com parques industriais expurgados de algumas unidades
mais poluentes.

4. Os hotéis de luxo serão vocacionados para turistas endinheirados que


procurem aquelas zonas ou para gestores em viagem de negócios que se
alojarão na Margem Sul quando as suas actividades se desenvolvem na
Margem Norte? O aeroporto de Alcochete vai enviar viajantes para
alojamentos de luxo na Margueira, no Seixal ou no Barreiro? A ministerial
gelatina acreditará mesmo que convence a multidão com estes
argumentos?

5. O projecto apresentado pelo Governo apresenta uma lacuna formal grave


que lhe retira credibilidade. Sendo um projecto com impacto óbvio na
área metropolitana, não há referência à instituição Área Metropolitana de
Lisboa, criada em 2003 ou aos seus órgãos, mormente a Junta
Metropolitana de Lisboa, onde têm lugar todos os presidentes de câmara.
Da nossa parte, isso não causa qualquer estranheza porquanto a
instituição nunca serviu para nada, nunca integrou, compatibilizou,
resolveu, propôs ou programou. Com Junta, Assembleia e Conselho, a
instituição mais não serve que de coito para um punhado de mandarins
emproados e provincianos que publicam uma revista bem apresentada.
No entanto, tem previstas atribuições muito vastas, que abranjem
saneamento, saúde, ambiente, segurança e protecção civil,
acessibilidades e transportes, equipamentos colectivos, turismo, cultura e
desporto. Como carece de transferências de poderes, quer do governo
central quer das autarquias, acaba por revelar a importância que o
mandarinato dá à estruturação e ordenamento de território tão complexo
como o de uma AML.

6. Outro dos embustes é a frase “uma cidade, duas margens” como


objectivo para a AML, que os mandarins emanam, com ar solene, fazendo
disso quase uma afirmação poética. Na realidade, é uma trivialidade. Um
rio não é um factor de divisão de uma cidade, como o demonstram
inúmeros casos: Londres, New York, Montreal, Budapeste, S. Francisco-
Oakland, etc. O facto de a área administrativa a que se chama Lisboa ter
apenas 1/5 da população total da AML só é problema desde que essa
divisão constitua factor que dificulte a integração do espaço global e o
impeça de potenciar a criação de riqueza e bem-estar; só é problema,
desde que haja falta de visão de conjunto e de órgãos democráticos
adequados para gerir um espaço onde residem 2.5 M pessoas.

7. A valorização da Margem Sul e o reequilíbrio das duas margens como


aventado no projecto obrigaria à transferência para a margem esquerda
da sede de alguns bancos, multinacionais, algumas grandes empresas ou
grandes institutos públicos, como âncora onde se acoplariam empresas
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de menor dimensão. Mas isso não está contemplado no projecto, como


sucedeu no Parque das Nações, porque a transferência para este último
correspondeu a uma mudança dentro de Lisboa, sem alterações na
centralidade da localização.

B - A realidade oferece o critério da verdade

A nova travessia do Tejo e o aeroporto em Alcochete irão, sem dúvida,


aumentar a integração territorial entre as duas margens e potenciar a sua
utilização como componentes de uma mesma área metropolitana, impondo
a esta, uma necessidade mais profunda de ordenamento conjunto. Muito
para além das capacidades e das vistas curtas das capelinhas autárquicas,
inseridas nos oligopólios partidários, do poder majestático do governo
central, dançando todos ao ritmo imposto pelos interesses imobiliários que
os municiam com gordos proventos.

A centralidade da AML só existe no contexto nacional e foi a posição


geográfica de Lisboa que, historicamente, a alicerçou. A posição estratégica
da cidade, que permitiu o desenvolvimento de uma AML, deriva de vários
factores. Um, é a sua quase equidistância entre o norte e o sul de Portugal;
outro, é a de ser um bom porto de mar desde tempos ancestrais; depois,
porque protegida a sul e leste por um largo rio e a norte por um terreno
acidentado, estava criado, naturalmente, algum conforto face a invasões por
terra; finalmente, registe-se que a região de Lisboa, sendo a área mais
distanciada da fronteira espanhola, fez da cidade a óbvia capital do reino de
Portugal e dos Algarves, o seu mais seguro reduto, no contexto de um
território, sem profundidade em termos de estratégia militar. Cremos mesmo
que foi o peso de Lisboa que permitiu a unidade territorial portuguesa,
mediando culturas e economias distintas, a norte e a sul.

Porém, a integração ibérica retirou alguma relevância a essa centralidade


nacional e tornou Lisboa periférica, em termos peninsulares, colocada
embora, numa das pontas do eixo Barcelona-Madrid-Lisboa, onde se situam
as três principais manchas urbanas ibéricas, que estruturam a Península no
seu conjunto. Essa periferização acentua-se mais, devido à dimensão
económica de Portugal, que retira valia à sua valência portuária, como polo
de entrada/saída ibérica para ocidente.

Assim, os tráfegos marítimos de contentores confluem, naturalmente, na


vertente ocidental europeia, para os portos do triângulo Havre-Londres-
Hamburgo e, no Mediterrâneo ocidental para Barcelona, Valência ou
Algeciras, tendo este ainda funções relevantes nos tráfegos norte-sul. E,
como Portugal tem escassa relevância económica no seio da Europa,
aquelas ligações marítimas fazem a ligação aos portos portugueses através
de navios pequenos, vocacionados para o “retalho”; ou, mais directamente,
é uma maciça participação do camião serve Portugal, sobretudo no âmbito
das ligações com os principais parceiros comerciais – Espanha, França,
Alemanha. O TGV para Madrid é um trunfo desesperado para minorar a
periferização de Portugal no contexto europeu, isolamento caro a Salazar e
os seus herdeiros actuais.
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Madrid é o centro económico da Península Ibérica, muito devido à sua


posição geográfica mas, também pela importância económica da sua
população – 6,4 M na Comunidade, com metade dos quais na cidade
propriamente dita. Por seu turno, a AML tem apenas 2.8 M dos quais 20% na
cidade que lhe dá o nome, embora detenha cerca de 27% de quota no IRS
declarado.

C - Causas da desestruturação do território

Tendo presente que a AML é uma área ibérica de primeira grandeza, ainda
que periférica e, que dificilmente deixará de ser assim, nas próximas
décadas, os seus desequilíbrios internos, sendo grandes, têm causas que
radicam na desestruturação causada, há décadas, pelo predomínio de
interesses imobiliários que emanam de uma burguesia subalterna, servil e
defensiva, que se enquista na sua dedicação a tudo o que não é exportável,
ao que está fora da competição internacional. Para mais, a especulação
imobiliária não exige qualificações profissionais ou académicas especiais,
apenas a inserção em redes clientelares, em íntima ligação ao capital
financeiro: como é típico de estruturas mafiosas.

O ordenamento do território efectuado pelos mandarins tem-se revelado


realmente, um ordenhamento em proveito próprio e dos seus sócios, os
promotores imobiliários.

O negócio imobiliário é mais rentável a partir da transformação de terrenos


rústicos em urbanos, pelo que as manchas urbanas têm sempre de ir mais
longe para enquadrar novos terrenos rústicos. Urbanizados estes pelos
executivos camarários, a sua acção continua, nomeadamente no caso dos
seus presidentes e vereadores do urbanismo, que aprovam os loteamentos,
os projectos concretos de construção, que alteram os PDM, etc. A
valorização do capital investido nesta cadeia é, decerto muito maior do que
no caso da reabilitação de prédios velhos, para mais se tiverem inquilinos lá
dentro; portanto, a cadeia “geradora de valor” constituida por autarcas e
promotores imobiliários, pouco se importa com a reabilitação e a
manutenção dos imóveis. O papel do Estado nesta questão é o da criação
artificial de valor, que não incorpora trabalho ou conhecimento, típica do
moribundo neoliberalismo. Evidencia-se uma cadeia de transacções sobre
um mesmo bem – terra – que passará de mão em mão, com cada
interveniente a acrescentar o seu “valor acrescentado” até ao final da
cadeia do comprador do produto final , que poderá apenas ser o primeiro de
uma série. E que ficará contente enquanto os preços subirem…

As manchas de terrenos vazios, baldios urbanos e suburbanos que se


intercalam com urbanizações ou mesmo prédios isolados, que tornam
desconexo o território, inutilizam parte significativa do mesmo, em espera
indefinida de uma valorização que depende da rendabilidade especulativa
gerada pelos solos rústicos, enquanto existirem. Mesmo dentro das cidades
há terrenos abandonados, prédios em ruinas ou emparedados ou ainda, com
janelas abertas para acelerar a degradação e que se tornam notícia quando
há incêndios ou derrocadas que envolvem pobres, idosos e sem-abrigo.
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Desta ocupação desconexa, resultam áreas urbanas isoladas, com maus (ou
sem) transportes condignos ou sequer sinalética que as identifique nas
proximidades. Este tipo de habitat, tipicamente suburbano, fomenta o
transporte privado, maiores distâncias a percorrer, não viabiliza serviços de
proximidade ou estes ficam disseminados um pouco por uma vasta área
também desprovida de equipamentos sociais. Um exemplo? Toda a região
que envolve o Taguspark, em Oeiras, no feudo do Isaltino, aquele autarca
que se celebrizou… por ser tio do emigrante modelo que, como taxista na
Suiça, acumulou 1.3 M euros de poupanças.

Tudo isto é o funcionamento conveniente do mercado, argumento que os


gangs nacionais que detêm o poder utilizam para justificar a sua inação
conivente e interessada. O protagonismo cabe todo para essas emanações
partidárias locais cuja fama de corruptas só será injusta para poucos. E lá
estaremos a encontrar, como sempre, em lugar destacadíssimo, a mafia
bicéfala PS/PSD.

Requalificação urbanística, tão na moda nos últimos anos, tem dois


significados paralelos para o binómio mandarinato-imobiliário. Por um lado,
consiste na adaptação de territórios degradados, em zonas históricas com
boa inserção paisagística, para o alojamento de classes média alta e alta,
para empresários e profissionais liberais ou campeões da economia mafiosa,
cujos rendimentos permitem fazer face a qualquer aumento especulativo de
preços. Do outro lado da moeda está o resto da população, gente menos
elegante, excluida desses projectos, como está imanente à filosofia das SRU
sempre muito ágeis em varrer com os pequenos proprietários
descapitalizados, com os inquilinos envelhecidos e pobres e preparar tudo
para as ditas classes de endinheirados. Este é o projecto a que chamam,
eufemisticamente… atrair população jovem.

Na base dessas operações de requalificação ou reabilitação estão sempre


decisões administrativas do Estado ou das autarquias que montam toda a
armadura jurídica, que pagam a infraestruturação dos espaços públicos, os
realojamentos, a definição dos espaços, etc. Como em muitas outras
situações, o Estado aligeira os custos privados e oferece-lhes, claramente,
todo o benefício da valorização dos terrenos e da maior apetência das zonas
recuperadas. E, já foram anunciadas alterações às normas legais que
enquadram as SRU (facilitando as expropriações), bem como à lei das
rendas que, juramos não irão propiciar valores mais baixos de aluguer ou
maiores direitos aos inquilinos, sobretudo para efeitos da sua remoção.

Para além de se saber se haverá assim tantos endinheirados para tantos


projectos que tantos “investidores imobiliários” utilizam para colocar o
dinheiro, há a questão social da promoção de habitação de qualidade e
conforto para as classes laboriosas e que o chamado mercado está longe de
resolver.

Haverá mesmo algum problema de carências habitacionais na Margem Sul


que seja resolvido com habitações de luxo, como sugere o projecto
apresentado pelo balofo Nunes Correia? Na AML há cerca de 2.2 residentes
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por habitação enquanto o projecto apresentado pelo ministro oferece uma


densidade muito superior – 3,4 residentes por fogo. Daqui se conclui não
existirem problemas quantitativos mas, sobretudo qualitativos, pelo que se
torna premente a recuperação do edificado existente e menos obra nova; a
reabilitação é a prática mais económica, mais ambientalmente sustentável,
mais geradora de emprego mas, que não tem tradição num país dominado
pelas mafias, como já expuzemos.

O desprezo pela reabilitação urbana, é revelado pelos seguintes números


extraídos de um trabalho de Rita Calvário: “Portugal é o país da Europa que
menos reabilita e onde a nova construção tem mais peso (90,5% numa
média europeia de 52,5%). O investimento em reabilitação urbana é de
5,66% do total dos investimentos em construção, enquanto a média
europeia é de 33%”.

A frente ribeirinha da Margem Sul precisa de espaços livres qualificados e


zonas verdes de grandes dimensões, junto ao rio, para a população usufruir
ou, da reabilitação urbana e ambiental de diversas áreas empobrecidas e
degradadas após a desindustrialização e, mais recentemente, com a crise
do capitalismo que se vem vivendo. Precisa também de atrair algumas
grandes unidades de serviços desde que isso não densifique o espaço com
imóveis, trânsito e poluição.

Por outro lado e já fora do âmbito da AML entende-se que o ordenamento do


território passa pela disseminação da actividade económica, das empresas,
dos serviços públicos e da ocupação humana pela generalidade do território,
combatendo a acelerada desertificação do interior que se vem desenhando
há décadas com a valorização de cidades pequenas e médias, abundantes
em Portugal. Para isso, a regionalização é um passo importante, desde que
fora do poder distorcedor das mafias.

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