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Portugal:

Como desenvolver?

Universidade Lusíada de Lisboa

Faculdade de Arquitectura e Artes

Licenciatura em Arquitectura
(Mestrado Integrado)

Geografia Humana

4º Ano – Turma V – Aluno n.º 1108 72 08

André Roldão Salvador Tribolet

LISBOA, QUINTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2009


– Univ. Lusíada de Lisboa – Fac. de Arquitectura e Artes – Lic. em Arquitectura (Mestrado Integrado) –
– Geografia Humana – 4º Ano – Turma V – Aluno n.º 11087208 – André Roldão S. Tribolet –

ÍNDICE
Capítulo Assunto Página

1. Enquadramento 2

2. Temas relevantes 4

3. Notas 22

4. Directrizes Pessoais de Abordagem 25

 Consultas realizadas na Internet


ANEXO CD
 Vídeo do texto transcrito declamado por Victor de Sousa.

– Portugal: Como desenvolver? –


– INDICE –
QUINTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2009
– Univ. Lusíada de Lisboa – Fac. de Arquitectura e Artes – Lic. em Arquitectura (Mestrado Integrado) –
– Geografia Humana – 4º Ano – Turma V – Aluno n.º 11087208 – André Roldão S. Tribolet –

1. Enquadramento
Vivemos na actualidade um período de incerteza. É uma altura muito interessante para se viver,
apesar da incerteza e situações de potencial conflito que nos “batem à porta” no dia-a-dia, em
que a crise global é justificação dos dirigentes institucionais para a situação social, económica,
financeira e política.

Foi neste prisma que nos foi pedido para estruturarmos, através de um trabalho, um conjunto de
ideias base, que expliquem como, no nosso entender podemos desenvolver o nosso país,
mostrando também que a realidade do nosso Portugal é pequena, não sendo tão afectada pelos
movimentos internacionais, mas sofrendo os impactos globais.

Alguns conceitos fazem obrigatoriamente parte deste processo de raciocínio. Temos de


compreender a nossa história, a nossa cultura, a nossa realidade física, economia, ecologia e
geografia. Tendo como base esses conceitos temos maneira de verificar qual tem sido o nosso
potencial, enquanto inseridos nos referidos conceitos, para a partir daí ser criada uma teoria/tese
a ser testada, avaliada.

Para a compreensão dos conceitos base são utilizadas referências várias, conteúdos discutidos
em aulas tanto de Geografia Humana, como de História da Arquitectura, Cidade e Território,
Urbanismo, Planeamento Regional e Urbano, Sociologia, entre outras da licenciatura em
arquitectura.

Com base nesses conceitos surgirá uma hipótese/especulação, mas que não tem maneira de
ser atestada sem ser verificada in loco através da experimentação em um determinado contexto,
controlado e monitorizando os resultados que se vão obtendo.

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Para monitorizar resultados, controlar o produto final desse ensaio, é necessário criar um
conjunto de indicadores de desenvolvimento, crescimento, estabilidade e sustentabilidade, ou
seja, indicadores relacionados aos mencionados conceitos, na sua relação com a população alvo
do ensaio.

Temos como ponto de partida o facto de Portugal estar em profunda crise económica, social e
política, que caminha a passos largos para a crise ecológica. Somos da opinião que a marca
sem retorno já não está longe e é agora que tem de se tomar medidas claras e corajosas, que
direccionem os cidadãos, encaminhando-os noutra direcção, a sustentável, que não nos
conduza à catástrofe e influencie outros a seguir um rumo paralelo ao nosso, em direcção ao
Futuro.

Da mesma maneira que a assertividade é a chave para as relações interpessoais, por reunir o
que temos de dizer a outra pessoa, com a maneira correcta da outra pessoa a ouvir, a
sustentabilidade é a maneira correcta de globalizar, uma relação input/output.

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2. Temas Relevantes
Ainda antes, anterior ao séc. XX, Antero de Quental discursa a “Causa da Decadência dos
Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos” em que identifica que as principais causas da
decadência dos povos peninsulares são a contra-reforma, a politica centralizada da monarquia e
o sistema económico instalado pelos descobrimentos, ao dizer:

«A decadência dos povos da Península nos três últimos séculos é um dos factos mais incontestáveis, mais
evidentes da nossa história: pode até dizer-se que essa decadência, seguindo-se quase sem transição a um
período de força gloriosa e de rica originalidade, é o único grande facto evidente e incontestável que nessa
história aparece aos olhos do historiador filósofo. Como peninsular, sinto profundamente ter de afirmar, numa
assembleia de peninsulares, esta desalentadora evidência. Mas, se não reconhecermos e confessarmos
francamente os nossos erros passados, como poderemos aspirar a uma emenda sincera e definitiva? O pecador
humilha-se diante do seu Deus, num sentido acto de contrição, e só assim é perdoado. Façamos nós também,
diante do espírito de verdade, o acto de contrição pelos nossos pecados históricos, porque só assim nos
poderemos emendar e regenerar.

Conheço quanto é delicado este assunto, e sei que por isso dobrados deveres se impõem à minha crítica. Para
uma assembleia de estrangeiros não passará esta duma tese histórica, curiosa sim para as inteligências, mas
fria e indiferente para os sentimentos pessoais de cada um. Num auditório de peninsulares não é porém assim. A
história dos últimos três séculos perpetua-se ainda hoje entre nós em opiniões, em crenças, em interesses, em
tradições, que a representam na nossa sociedade, e a tornam de algum modo actual. Há em nós todos uma voz
íntima que protesta em favor do passado, quando alguém o ataca: a razão pode condená-lo: o coração tenta
ainda absolvê-lo. É que nada há no homem mais delicado, mais melindroso, do que as ilusões: e são as nossas
ilusões o que a razão crítica, discutindo o passado, ofende sobretudo em nós.

(…)

Já o disse há dias, inaugurando e explicando o pensamento destas Conferências: não pretendemos impor as
nossas opiniões, mas simplesmente expô-las: não pedimos a adesão das pessoas que nos escutam; pedimos só

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a discussão: essa discussão, longe de nos assustar, é o que mais desejamos, porque; ainda que dela resultasse
a condenação das nossas ideias, contanto que essa condenação fosse justa e inteligente, ficaríamos contentes,
tendo contribuído, posto que indirectamente, para a publicarão de algumas verdades. São prova da sinceridade
deste desejo aqueles lugares e aquelas mesas, destinadas particularmente aos jornalistas, onde podem tomar
nota das nossas palavras, tornando-lhes nós assim franca e fácil a contradição.

Meus Senhores: a Península, durante os séculos XVII, XVIII e XIX; apresenta-nos um quadro de abatimento e
insignificância, tanto mais sensível quanto contrasta dolorosamente com a grandeza, a importância e a
originalidade do papel que desempenhámos no primeiro período da Renascença, durante toda a Idade Média, e
ainda nos últimos séculos -da Antiguidade. Logo na época romana aparecem os caracteres essenciais da raça
peninsular: espírito de independência local e originalidade de génio inventivo. Em parte alguma custou tanto à
dominação romana o estabelecer-se, nem chegou nunca a ser completo esse estabelecimento. Essa
personalidade independente mostra-se claramente, na literatura, onde os espanhóis Lucano, Séneca, Marcial,
introduzem no latim um estilo e uma feição inteiramente peninsulares, e singularmente característicos. Eram os
prenúncios da viva. originalidade que ia aparecer nas épocas seguintes. Na Idade Média a Península, livre de
estranhas influências, brilha na plenitude do seu génio, das suas qualidades naturais. O instinto político de
descentralização e federalismo patenteia-se na multiplicidade de reinos e condados soberanos, em que se divide
a Península, como um protesto e uma vitória dos interesses e energias locais, contra. a unidade uniforme,
esmagadora e artificial. Dentro de cada uma dessas divisões as comunas, os forais, localizam ainda mais os
direitos, e manifestam e firmam, com um sem-número de instituições, o espírito independente e autonómico das
populações. E esse espírito não é só independente: é, quanto a época o comportava, singularmente
democrático. Entre todos os povos da Europa central e ocidental, somente os da Península escaparam ao jugo
de ferro do feudalismo. O espectro torvo do castelo feudal não assombrava os nossos vales, não se inclinava,
como uma ameaça, sobre a margem dos nossos rios, não entristecia os nossos horizontes com o seu perfil duro
e sinistro. Existia, certamente, a nobreza, como uma ordem distinta. Mas o foro nobiliário generalizara-se tanto, e
tornara-se de tão fácil acesso, naqueles séculos heróicos de guerra incessante, que não é exagerada a
expressão daquele poeta que nos chamou, a nós Espanhóis, um povo de nobres. Nobres e populares uniam-se
por interesses e sentimentos, e diante deles a coroa dos reis era mais um símbolo brilhante do que uma
realidade poderosa. Se nessas idades ignorantes a ideia do Direito era obscura e mal definida, o instinto do
Direito agitava-se enérgico nas consciências, e as acções surgiam viris como os caracteres.

(…)

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No princípio do século XVII, quando Portugal deixa de ser contado entre as nações, e se desmorona por todos
os lados a monarquia anómala, inconsistente e desnatural de Filipe II; quando a glória passada já não pode
encobrir o ruinoso do edifício presente, e se afunda a Península sob o peso dos muitos erros acumulados, então
aparece franca e patente por todos os lados a nossa improcrastinável decadência. Aparece em tudo; na política,
na influencia, nos trabalhos da inteligência, na economia social e na indústria, e como consequência de tudo isto,
nos costumes. A preponderância, que até então exercêramos nos negócios da Europa, desaparece para dar
lugar à insignificância e à impotência. Nações novas ou obscuras erguem-se e conquistais no mundo, à nossa
custa, a influência de que nos mostrámos indignos. A coroa de Espanha é posta em leilão sangrento no meio das
nações, e adjudicada, no fim de doze anos de guerra, a um neto de Luís XIV. Com a dinastia estrangeira começa
uma política antinacional, que envilece e desacredita a monarquia. E esse rei estrangeiro custa à Espanha a
perda de Nápoles, da Sicília, do Milanês, dos Países Baixos! Em Portugal, é a influência inglesa, que, por meio
de cavilosos tratados, faz de nós uma espécie de colónia britânica. Ao mesmo tempo as nossas próprias
colónias escapam-nos gradualmente das mãos: as Molucas passam a ser holandesas; na índia lutam sobre os
nossos despojos holandeses, ingleses e franceses: na China e no Japão desaparece a influência do nome
português. Portugueses e Espanhóis, vamos de século para século minguando em extensão e importância, até
não sermos mais que duas sombras, duas nações espectros, no meio dos povos que nos rodeiam!... E que
tristíssimo quadro o da nossa política interior! As liberdades municipais, à iniciativa local das comunas, aos
forais, que davam a cada população uma fisionomia e vida próprias, sucede a centralização, uniforme e
esterilizadora. A realeza deixa então de encontrar uma resistência e uma força exterior que a equilibre, e
transforma-se no puro absolutismo; esquecendo a sua origem e a sua missão, crê ingenuamente que os povos
não são mais do que o património providencial dos reis. O pior é que os povos acostumam-se a crê-lo também!
Aquele espírito de independência que inspirava o firme si no, no! da Idade Média adormece e morre no seio
popular. O povo emudece; negam-lhe a palavra, fechando-lhe as Cortes; não o consultam, nem se conta já com
ele. Com quem se conta é com a aristocracia palaciana, com uma nobreza cortesã, que cada vez se separa mais
do povo pelos interesses e pelos sentimentos, e que, de classe, tende a transformar-se em casta. Essa
aristocracia, como um embaraço na circulação do corpo social, impede a elevação natural de um elemento novo,
elemento essencialmente moderno, a classe média, e contraria assim todos os progressos ligados a essa
elevação. Por isso decai também a vida económica: a produção decresce, a agricultura recua, estagna-se o
comércio, deperecem uma por uma as indústrias nacionais; a riqueza, uma riqueza faustosa e estéril, concentra-
se em alguns pontos excepcionais, enquanto a miséria se alarga pelo resto do país: a população, dizimada pela
guerra, pela emigração, pela miséria, diminui de uma maneira assustadora. Nunca povo algum absorveu tantos

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tesouros, ficando ao mesmo tempo tão pobre! No meio dessa pobreza e dessa atonia, o espírito nacional,
desanimado e sem estímulos, devia cair naturalmente num estado de torpor e de indiferença. É o que nos mostra
claramente esse salto mortal dado pela inteligência dos povos peninsulares, passando da Renascença para os
séculos XVII e XVIII. A uma geração de filósofos, de sábios e de artistas criadores, sucede a tribo vulgar dos
eruditos sem crítica, dos académicos, dos limitadores. Saímos duma sociedade de homens vivos, movendo-se
ao ar livre: entrámos num recinto acanhado e quase sepulcral, com uma atmosfera turva pelo pó dos livros
velhos, e habitado por espectros de doutores. A poesia, depois da exaltação estéril, falsa, e artificialmente
provocada do gongorismo, depois da afectação dos conceitos (que ainda mais revelava a nulidade do
pensamento), cai na imitação servil e ininteligente da poesia latina, naquela escola clássica, pesada e fradesca,
que é a antítese de toda a inspiração e de todo o sentimento. Um poema compõe-se doutoralmente, como uma
dissertação teológica. Traduzir é o ideal: inventar considera-se um perigo e uma inferioridade: uma obra poética
é tanto mais perfeita quanto maior número de versos contiver traduzidos de Horácio, de Ovídio. Florescem a
tragédia, a ode pindárica, e o poema herói-cómico, isto é, a afectação e a degradação da poesia. Quanto à
verdade humana, ao sentimento popular e nacional, ninguém se preocupava com isso. A invenção e
originalidade, nessa época deplorável, concentra-se toda na descrição cinicamente galhofeira das misérias, das
intrigas, dos expedientes da vida ordinária. Os romances picarescos espanhóis e as comédias populares
portuguesas são irrefutáveis actos de acusação, que, contra si mesma, nos deixou essa sociedade, cuja
profunda desmoralização tocava os limites da ingenuidade e da inocência no vício. Fora desta realidade
pungente, a literatura oficial e palaciana espraiava-se pelas regiões insípidas do discurso académico, da oração
fúnebre, do panegírico encomendado – géneros artificiais, pueris, e mais que tudo soporíficos. Com um tal
estado dos espíritos, o que se podia esperar da arte? Basta erguer os olhos para essas lúgubres moles de
pedra, que se chamam o Escorial e Mafra, para vermos que a mesma ausência de sentimento e invenção, que
produziu o gosto pesado e insípido do classicismo, ergueu também as massas compactas, e friamente correctas
na sua falta de expressão, da arquitectura jesuítica. Que triste contraste entre essas montanhas de mármore,
com que se julgou atingir o grande, simplesmente porque se fez o monstruoso, e a construção delicada, aérea,
proporcional e, por assim dizer, espiritual dos Jerónimos, da Batalha, da Catedral de Burgos! O espírito sombrio
e depravado da sociedade reflectiu-o a Arte, com uma fidelidade desesperadora, que será sempre perante a
história uma incorruptível testemunha de acusação contra aquela época de verdadeira morte moral. Essa morte
moral não invadira só o sentimento, a imaginação, o gosto: invadira também, invadira sobretudo a inteligência.
Nos últimos dois séculos não produziu a Península um único homem superior, que se possa pôr ao lado dos
grandes criadores da ciência moderna: não saiu da Península uma só das grandes descobertas intelectuais, que

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são a maior obra e a maior honra do espírito moderno. Durante 200 anos de fecunda elaboração, reforma a
Europa culta as ciências antigas, cria seis ou sete ciências novas, a anatomia, a fisiologia, a química, a mecânica
celeste, o cálculo diferencial, a crítica histórica, a geologia: aparecem os Newton, os Descartes, os Bacon, os
Leibniz, os Harvey, os Buffon, os Ducange, os Lavoisier, os Vico – onde está, entre os nomes destes e dos
outros verdadeiros heróis da epopeia do pensamento, um nome espanhol ou português? Que nome espanhol ou
português se liga à descoberta duma grande lei científica, dum sistema, duma facto capital? A Europa culta
engrandeceu-se, nobilitou-se, subiu sobretudo pela ciência: foi sobretudo pela falta de ciência que nós
descemos, que nos degradámos, que nos anulámos. A alma moderna morrera dentro em nós completamente.

(…)

Da decadência moral é esta a causa culminante! O catolicismo do Concílio de Trento não inaugurou certamente
no mundo o despotismo religioso: mas organizou-o duma maneira completa, poderosa, formidável, e até então
desconhecida. Neste sentido, pode dizer-se que o catolicismo, na sua forma definitiva, imobilizado e intolerante,
data do século XVI. As tendências, porém, para esse estado vinham já de longe; nem a Reforma significa outra
coisa senão o protesto do sentimento cristão, livre e independente, contra essas tendências autoritárias e
formalísticas. Essas tendências eram lógicas, e até certo ponto legítimas, dada a interpretação e organização
romana da religião cristã: não o eram, porém, dado o sentimento cristão na sua pureza virginal, fora das
condições precárias da sua realização política e mundana, o sentimento cristão, numa palavra, no seu domínio
natural, a consciência religiosa. É necessário, com efeito, estabelecermos cuidadosamente uma rigorosa
distinção entre cristianismo e catolicismo, sem o que nada compreenderemos das evoluções históricas da
religião cristã. Se não há cristianismo fora do grémio católico (como asseveram os teólogos, mas como não
podem nem querem aceitar a razão, a equidade e a crítica), nesse caso teremos de recusar o título de cristãos
aos luteranos, e a todas as seitas saídas do movimento protestante, em quem todavia vive bem claramente o
espírito evangélico. Digo mais, teremos de negar o nome de cristãos aos apóstolos e evangelistas, porque nessa
época a catolicismo estava tão longe do futuro que nem ainda a palavra católico fora inventada! É que realmente
o cristianismo existiu e pode existir fora do catolicismo. O cristianismo é sobretudo um sentimento: o catolicismo
é sobretudo uma instituição. Um vive da fé e da inspiração: o outro do dogma e da disciplina. Toda a história
religiosa, até ao meado do século XVI, não é mais do que a transformação do sentimento cristão na instituição
católica. A Idade Média é o período da transição: há ainda um, e o outro aparece já. Equilibram-se. A unidade vê-
se, faz-se sentir, mas não chega ainda a sufocar a vida local e autonómica. Por isso é também esse o período
das igrejas nacionais. As da Península, como todas as outras, tiveram, durante a Idade Média, liberdades e

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iniciativas, concílios nacionais, disciplina própria, e uma maneira sua de sentir e praticar a religião. Daqui, dois
grandes resultados, fecundos em consequências benéficas. O dogma, em vez de ser imposto, era aceite, e, num
certo sentido, criado: ora, quando a base da moral é o dogma, só pode haver boa moral deduzindo-a dum dogma
aceite, e até certo ponto criado, e nunca imposto. Primeira consequência, de incalculável alcance.»

Causa da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos - Discurso proferido por Antero de
Quental, Casino Lisbonense, 27/Mai/1871, 1.ª sessão - Conferências Democráticas

Muito tem sido escrito e falado sobre as maleitas de Portugal. Em 1934, era Ministro da
Agricultura Leovigildo Queimado Franco de Souza e Ministro da Economia / Presidente do
Concelho de Ministros António de Oliveira Salazar, quando, numa festa de carnaval, João
Vasconselos e Sá (avô de António Pinto Basto) lê o seguinte texto:

«Exmo. Sr. Ministro da Agricultura,

Exposição:

Porque julgamos digno de registo a nossa exposição senhor ministro, erguemo-nos até vós humildemente uma
pelada uníssona e plangente, em que evitamos o menor deslize e em que damos razão da nossa crise.

Senhor em vão esta província inteira, desmoita, lavra, atalha a sementeira, suando até à fralda da camisa, mas
falta-nos a matéria orgânica precisa, na terra que é delgada e sempre fraca. A matéria em questão chama-se
caca!

Precisamos de merda senhor “soiza” e nunca precisámos de outra coisa! Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso bem a sério, se é nobre o sentimento que os anima, mandem cagar-nos toda a
gente em cima dos maninhos torrões de cada herdade… e mijem-nos também, por caridade!

O senhor Oliveira Salazar quando tiver vontade cagar venha até nós, solicito, calado, busque um terreno que
estiver lavrado, deite as calças a baixo, com sossego, ajeite o cú bem apontado ao rego e como presidente do
conselho, queira espremer-se até ficar vermelho. A nação confiou-lhe os seus destinos? Então comprima, aperte
os intestinos. E se lhe escapar um traque não se importe, quem sabe o cheirá-lo dará sorte? Quantos porão as
suas esperanças num traque do Ministro das Finanças? E também quem vive aflito e sem recursos já não

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distigue os traques dos discursos. Não precisa falar! Tenha a certeza que a nossa maior fonte de riqueza, desde
as grandes herdades, às courelas, provém da merda que juntamos nelas.

Precisamos de merda senhor “soiza” e nunca precisámos de outra coisa! Adubos de potassa, cal, azote… traga-
nos merda pura do bispote e de todos os penicos portugueses, durante pelo menos uns seis meses, sobre o
montado, sobre a terra rampa, continuamente eles nos despejem trampa! Ah, terras alentejanas, terras nuas,
desespero de arados e charruas, quem a compra ou arrenda ou quem as herda, sempre a paixão nostálgica da
merda!

Precisamos de merda senhor “soiza” e nunca precisámos de outra coisa! Ah merda grossa e fina! Merda boa das
inúteis retretes de Lisboa… como é triste saber que todos vós andais cagando sem pensar em nós!! Se querem
fomentar a agricultura, mandem vir muita gente, com soltura, nós daremos o trigo em larga escala, pois até nos
faz falta a merda rala. Ah venham todas as merdas à vontade, não faremos questão da qualidade: formas
normais ou esquisitas; desde o cagalhão às caganitas; desde a pequena póia à grande bosta, tudo o que vier a
gente gosta!

Precisamos de merda senhor “soiza” e nunca precisámos de outra coisa!!!»

Transcrição da declamação de Victor de Sousa, programa televisivo “Levanta-te e Ri” - RTP2 a 6/Ago./2008

A Agenda 21 diz-nos:

«O crescimento da população mundial e da produção, associado a padrões não sustentáveis de consumo, aplica
uma pressão cada vez mais intensa sobre as condições que tem nosso planeta de sustentar a vida. Esses
processos interativos afetam o uso da terra, a água, o ar, a energia e outros recursos. As cidades em rápido
crescimento, caso mal administradas, deparam-se com problemas ambientais gravíssimos. O aumento do
número e da dimensão das cidades exige maior atenção para questões de Governo local e gerenciamento
municipal. Os fatores humanos são elementos fundamentais a considerar nesse intricado conjunto de vínculos;
eles devem ser adequadamente levados em consideração na formulação de políticas abrangentes para o
desenvolvimento sustentável. Tais políticas devem atentar para os elos existentes entre as tendências e os
fatores demográficos, a utilização dos recursos, a difusão de tecnologias adequadas e o desenvolvimento. As
políticas de controle demográfico também devem reconhecer o papel desempenhado pelos seres humanos
sobre o meio ambiente e o desenvolvimento. É necessário acentuar a percepção dessa questão entre as
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pessoas em posição de tomar decisões em todos os níveis e oferecer, de um lado, melhores informações sobre
as quais apoiar as políticas nacionais e internacionais e, de outro, uma estrutura conceitual para a interpretação
dessas informações.

(…)

De modo geral, os planos existentes de apoio ao desenvolvimento sustentável reconhecem tendências e fatores
demográficos como elementos que exercem uma influência crítica sobre os padrões de consumo, a produção, os
estilos de vida e a sustentabilidade a longo prazo. No futuro, porém, será necessário dedicar mais atenção a
essas questões por ocasião da formulação da política geral e da elaboração dos planos de desenvolvimento.
Para fazê-lo, todos os países terão de aperfeiçoar suas próprias condições de avaliar as implicações de suas
tendências e fatores demográficos no que diz respeito a meio ambiente e desenvolvimento. Além disso,
conforme apropriado, esses países também terão de formular e implementar políticas e programas de ação.
Essas políticas devem ser estruturadas de forma a avaliar as conseqüências do crescimento populacional
inerente à tendência demográfica e, ao mesmo tempo, idealizar medidas que ensejem uma transição
demográfica. Devem associar preocupações ambientais a questões populacionais no âmbito de uma visão
holística do desenvolvimento, cujos objetivos primeiros incluam: mitigação da pobreza; garantia dos meios de
subsistência; boa saúde; qualidade de vida; melhoria da condição e dos rendimentos da mulher e seu acesso à
instrução e ao treinamento profissional, bem como a realização de suas aspirações pessoais; e reconhecimento
dos direitos de indivíduos e das comunidades. Reconhecendo que nos países em desenvolvimento irão ocorrer
aumentos de monta na dimensão e no número das cidades dentro de qualquer cenário populacional provável,
deve ser dedicada maior atenção à preparação para o atendimento da necessidade, especialmente das
mulheres e crianças, por melhores administrações municipais e Governos locais.»

http://homologa.ambiente.sp.gov.br/agenda21/ag05.htm visitado a 21 de Maio de 2009

João Ferrão nos seus textos refere:

«A diversidade de discursos que o invocam e a variedade de contextos em que o fazem dificultam qualquer
tentativa de definição. Apesar disso, parece legítimo afirmar que a «interior» e a «interioridade» se associam
basicamente três elementos: uma situação (subdesenvolvimento), uma causa principal (isolamento e dificuldades
de acesso às áreas mais dinâmicas, localizadas no litoral), uma consequência particularmente grave (a

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desertificação, considerada nas suas várias componentes). Envolvendo estes três elementos surge um discurso
marcado por uma cultura de fatalismo e de apelo à intervenção assistencialista do Estado.

(…)

Reconstruir o Interior destruindo a interioridade implica, pois, o desenvolvimento de estratégias activas de


inclusão: mobilizar actores individuais e colectivos, integrá-los em objectivos comuns e em linhas de rumo
estrategicamente partilhadas, co-responsabilizá-los na missão de criar condições de desenvolvimento para as
regiões onde vivem e actuam. E, nesta tarefa específica, cabe ao Estado um papel crucial, impulsionando directa
e indirectamente estas estratégias ao mesmo tempo que combate com vigor a cultura assistencialista.(…)»

J. Ferrão - Reconstruir o Interior destruindo a Interioridade: para uma estratégia activa de inclusão de actores (s/d)

«No final de oitocentos, autores como Alberto Sampaio e Basílio Telles, curiosamente ambos do Norte,
propuseram explicações de natureza étnica para esta oposição. O predomínio de povos de origem “ariana”
(celtas, gregos, romanos, germanos) a Norte e de proveniência « semita » (fenícios, cartagineses, árabes,
berberes, judeus) a Sul justificaria não só as diferentes características de cada uma destas grandes regiões, mas
também a superioridade do Norte sobre o Sul.

Para Orlando Ribeiro, contudo, a explicação é bem mais complexa, devendo ser encontrada nas especificidades
que os mundos atlântico e mediterrâneo estimulam do ponto de vista do esforço de adaptação das populações,
já de si distintas, a meios físicos diferenciados. A oposição Norte/Sul é considerada, antes de mais, como o
resultado de contrastes civilizacionais, e tem tradução directa na forma como os agrupamentos humanos
ocupam, organizam e usam o território, isto é, na articulação que historicamente se vai estabelecendo entre
meios físicos, modos de vida e paisagens.

(…)

A geografia da modernidade e do desenvolvimento realça a faixa litoral entre Braga (curiosamente, uma
aglomeração com uma história consolidada de industrialização) e Sines (simbolicamente, um exemplo da nova
realidade industrial a construir), mas inclui ainda um sector crescente da orla algarvia, espaço significativamente
sensível aos benefícios resultantes da abertura externa proporcionada pelo desenvolvimento de actividades

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modernas, neste caso, o turismo internacional. Para trás fica o Portugal esquecido, perdedor, física e
simbolicamente remoto: o interior.

(…)

A crescente terciarização da economia portuguesa, com o consequente reforço do papel das cidades como focos
de emprego, as alterações pro-fundas verificadas a partir da adesão de Portugal à Comunidade Europeia em
1986 na rede viária, nos sistemas de transportes públicos e no parque automóvel privado, e, mais recentemente,
o impacto das novas tecnologias de informação e comunicação, levaram a que o território continental português
se tenha vindo a organizar cada vez mais como um arquipélago. As aglomerações urbanas e respectivas bacias
de emprego imediatas, não raro de características rurais, constituem as ilhas desse arquipélago, ligadas entre si
por auto-estradas, sistemas de transporte público inter-cidades e redes de comunicação e cooperação
institucional de base urbana que ignoram os espaços intersticiais que as separam. Embora com uma presença
mais relevante nas faixas litorais, dado que aí se concentram as aglome-rações urbanas com maior capacidade
polarizadora, estas ilhas da nova sociedade da informação e do conhecimento repartem-se um pouco por todo o
país, incluindo o interior, onde um número significativo de instituições de ensino superior se desenvolveu nos
últimos anos.

(…)

O modo como os portugueses se relacionam com o espaço nacional (continental) reflecte a coexistência destas
várias espacialidades macro-regionais, das divisões geográficas do país que cada uma delas suscitou e das
identidades de base territorial que proporcionaram, numa recombinação complexa onde sobrevivências do
passado se encontram lado a lado com fertilizações cruzadas que dão origem a novas espacialidades, reais ou
imaginadas. A recusa do processo de regionalização deve ser, aliás, enten-dida neste contexto : na verdade, o
nível regional proposto era atípico face às várias espacialidades macroregionais reconhecidas pelos portugueses
e, ao mesmo tempo, não foi considerada como sendo uma recombinação com efeitos operatórios úteis do ponto
de vista do quotidiano das pessoas e das organizações. Tratou-se de uma carta fora de um baralho,
heterogéneo, é certo, mas com contornos que a história permite identificar. E, por isso, foi rejeitada.»

João Ferrão, Lusotopie 2002/2 : 151-158

De acordo com Louis Wirth:


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«A característica distintiva do modo de vida do homem na idade moderna consiste na sua concentração em
grandes aglomerados urbanos, em redor dos quais, outros menores se constituem e a partir dos quais irradiam
as ideias e as práticas a que chamamos civilização.»

WIRTH, Louis. Cidade, Cultura e Globalização. pp. 45-65

Mais ainda José Jacinto diz:

As modernas redes de informação, com especial destaque para o sector das telecomunicações, ocupam um
lugar de grande relevo na sociedade moderna, desempenhando um papel de primeiro plano nas transformações
económicas e sociais. Como meio de transmissão de informação à distância, as telecomunicações transportam o
fluxo de informação, favorecendo todo o tipo de actividades: económicas, administrativas, financeiras, culturais ...
O transporte da informação com rapidez e qualidade é, nos nossos dias, a "chave" para o progresso das nações
e consequente melhoria da qualidade de vida das populações. Tem-se, aliás, medido o nível de desenvolvimento
de um país, a sua produtividade e a qualidade de vida também pelo desenvolvimento das telecomunicações.

Nas áreas periféricas, ou de maior isolamento, onde os transportes são menos eficientes, as telecomunicações
assumem um papel fundamental, pois permitem um contacto rápido e eficaz com outras áreas com as quais têm
de manter ligações mais ou menos frequentes, além de proporcionarem a prestação de serviços sem
necessidade de deslocações (telecompras, telebanco, teletexto, etc.). Claro que nem sempre as
telecomunicações poderão substituir as viagens. Note-se que ao nível das empresas, os contactos pessoais
continuarão a ser importantes para o desenvolvimento de novos mercados e no relacionamento com os
fornecedores. Para os produtores localizados a grande distância dos consumidores, continuarão também a ser
indispensáveis meios eficientes de transporte de mercadorias, pelo que as telecomunicações devem ser
encaradas como complementares, embora tornem as distâncias cada vez mais fáceis de transpor.

Tanto o deslocamento físico, que implica a comunicação, como a transmissão de informação são considerados
aspectos distintos da mesma necessidade de interacção - "efeito de interacção". Sem dúvida que grande número
de transacções se realiza hoje por telecomunicações. Este simples facto, permitiu a muitos autores e estudiosos
falar do "efeito de substituição" do transporte pelas telecomunicações, enaltecendo as vantagens:
descongestionamento do tráfego urbano; poupança de energia; redução da poluição atmosférica; economias no

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orçamento familiar; sector vital na produção e emprego. E ao "efeito de substituição", associa-se a realidade da
complementaridade entre as redes.

(…)

A política das cidades não pode dissociar-se de uma política regional. As políticas urbanas como instrumento de
captação, dinamização e criação de vantagens competitivas são promovidas pela União Europeia que fomenta
as redes de cooperação intercidades (Peixoto, 1997). Emerge, desta forma, um espaço de «cooperação entre
cidades com objectivos, necessidades e estratégias compartilhadas», que «se revela um recurso não desprezível
face aos desafios actuais de desenvolvimento urbano» (Fortuna, 1997), mormente os impactos (positivos e
negativos) da globalização, tentando retirar benefícios de novas oportunidades ou vencer adversidades,
entretanto, surgidas. As redes de cidades e as redes telemáticas que integram a flexibilização das relações
interurbanas associadas à melhoria das condições de circulação, mobilidade e acessibilidade, visando objectivos
de troca de experiências e de obtenção de "massas críticas" suficientes e de efeitos de escala, constituem
exemplos de estratégias de cooperação "horizontal", segundo os princípios de organização em rede,
fundamentais na definição de critérios de implantação de infra-estruturas. As concepções hierarquizadas têm,
nesta medida, dado lugar a espaços de relação reticular. Ora este conceito, no âmbito de um novo paradigma,
sublinha os aspectos relacionais, destacando as formas de organização reticulares, sugerindo a ideia de um
espaço de relações entre cidades e entre cidades e regiões, estruturado em nós e fluxos. Ou seja, a cidade não
está só, não é uma "ilha", não é um ente espacial isolado: a cidade insere-se na região e integra um sistema de
cidades numa rede - o conceito de sistema urbano que pode ser entendido como associado ao aspecto dinâmico
da rede urbana que designa um facto espacial de repartição das cidades no interior de um quadro regional -.
Uma política de cidades não pode menosprezar ou negligenciar as relações "cidade-região", na perspectiva intra-
regional, bem como as relações "cidades-regiões" (interregional), funcionando o próprio sistema urbano como
sistema "nervoso" do sistema de regiões (Simões Lopes, 1997).

(…)

A mundialização (cidades e regiões globais) tenderá a realizar-se através de sistemas complexos de


interdependência e integração regionais, que se tornarão em pontos fulcrais da organização económica,
tecnológica, social e também política e cultural. Por conseguinte, na "sociedade pós-industrial" e quando a
ciência social diagnostica a crise do modelo de desenvolvimento urbano-industrial, as cidades continuam a
desempenhar um papel como impulsionadores do processo de civilização mediante a concentração e adquirindo

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a dimensão de "cidade global". Na opinião de vários autores, longe de contrariarem este género de tendências
concentradoras, as novas tecnologias de informação e comunicação, estão é a reforçar as actuais linhas do
desenvolvimento urbano.»

José Jacinto – “Avançados de Telecomunicações (SAT) e o desenvolvimento das cidades e das regiões: que novo
paradigma?” em “A cidade do futuro é o futuro do nosso mundo” – The European, Junho de 1996

A aplicação directa do modelo clássico de reger a nossa Cidade, tanto a nível da arquitectura,
como da organização territorial, não é possível, especialmente desde a revolução industrial, mas,
pode considerar-se que, desde o fim da idade média que se procura um novo modelo
organizacional, que defenda o Homem de si mesmo. No entanto sem grande sucesso no criar de
novos modelos, apesar de várias tentativas (por exemplo a Carta de Atenas), os aglomerados
urbanos foram crescendo através dos século, os problemas agravando-se, atingindo uma nova
escala durante o séc. XX em que a maior parte da população mundial reside dentro de
aglomerados urbanos densos, nas cidades e em redor delas. Uma teia de cidade, aglomerados,
de diferentes urbanidades que vivem em simbiose.

Surge, por estes factores, aquele que poderá ser o maior problema do séc. XXI: a
sustentabilidade. O balanço do impacto global de uma sociedade densificada, completamente
despreocupada com o impacto ambiental, consumista e produtor de enormes quantidades de
dióxido de carbono é negativo para todos. Já todos sabemos que o rumo tido até agora só nos
leva para a destruição do equilíbrio planetar e o suicídio do Homem.

O que nos faz dizer “vivo em...” determinada cidade e não noutra, são as relações pessoais, de
identidade, de história e territorialidade. Essas relações vão ficando cada vez mais estreitas
tradicionalmente pelo crescimento do tecido urbano e, actualmente, também pelas novas
tecnologias de informação, de comunicação e de transporte. É assim importantíssimo a maneira

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como a informação chega até nós (filtrada ou não) mas também e principalmente, como é
interpretada essa informação por nós (se temos capacidade cultural para interpretar
correctamente a informação), por último, mas não menos importante, o termos acesso, ou não, à
informação. Estes elementos são definidos pela economia, pelo ambiente em que estamos
integrados (profissional, etc.), e também pela sociedade ou grupos em que estamos. O que
controla tudo isto é o sistema político em que nos integramos, mais liberal, conservador,
democrático, comunista ou comunitário, feudal, monárquico, etc., influência directamente, da
mesma maneira que é influenciado.

Numa grande Cidade Global os eventos mais ou menos localizados influenciam-nos a todos, um
“efeito borboleta” inevitável, pelo que podemos começar a analisar uma cidade (tradicional) pela
sua área de influência, como se relaciona com outras cidade e aglomerados urbanos, que está
directamente relacionado com a demografia, a complexidade social, o nível de fragmentação e
pelo grau de comunicabilidade (dentro dessa cidade e com outras).

O Homem continua extremamente preso a uma realidade profissional física. São raros, mas
felizmente em número crescente, empresas em que o trabalhador não necessita de se deslocar
ao escritório para fazer o seu trabalho, fazendo uso de ferramentas como internet-móvel e
telemóvel, retirando das cidades cada vez mais automóveis, e transporta estas pessoas para
realidades menos urbanas ao procurarem zonas mais saudáveis onde viver.

A comunicabilidade tem um papel importantíssimo na nossa sociedade, mais do que em


qualquer época histórica. Vivemos numa era de informação. De acordo com o texto de José
Jacinto «O transporte da informação com rapidez e qualidade é, nos nossos dias, a "chave" para
o progresso das nações e consequente melhoria da qualidade devida das populações. Tem-se,
aliás, medido o nível de desenvolvimento de um país, a sua produtividade e a qualidade de vida
também pelo desenvolvimento das telecomunicações.»

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Nas periferias das cidades a comunicabilidade tem um papel claro de reduzir a distância,
tornando desnecessárias deslocações. Além do disso as políticas urbanas de uma cidade têm
obrigatoriamente de ser vistas e encaradas não só no ponto de vista local, mas regional, do país
ou mesmo global.

É um facto que «(...) as cidades são cada vez menos "ilhas", passaram a "arquipélagos" e
constituíram redes que, nalguns casos, são mesmo apelidadas de "cidades-região"», como
mencionado pelo Prof. João Ferrão. Muitos opõem-se à dependência das Novas Tecnologias de
Informação e Comunicação, considerando que as NTIC conduzem a maiores desigualdades
sociais. Outros referem como é possível, fazendo aplicação das NTIC a nível global, obtermos
maior equilíbrio entre sociedades, independentemente do local onde se situam.

Contudo, nas periferias, menos ricas e por vezes formando guetos, a tecnologia chegará sempre
mais tarde numa sociedade de mercado, em que as decisões são tomadas de acordo com a
capacidade de retorno após investimento em determinada zona. A desigualdade no
desenvolvimento é a nível das SAT e NTIC mas não só, as próprias infra-estruturas básicas de
habitabilidade e mobilidade exigíveis no séc. XXI são normalmente precárias nestas zonas.

Consegue-se verificar que são criadas, com mais ou menos equilíbrio entre o físico e o virtual,
sociedades-rede, que nos permitem tirar vantagem do físico e do virtual (Asher, 1998), cada vez
mais para um projecto a ser desenvolvido em determinado lugar, os donos do terreno a construir
são de um país, os projectistas de outro, o empreiteiro é de outro país, que usam equipa(s) de
desenhadores com 8/12 fusos horários de diferença (permitindo que enquanto a obra está
parada, de noite, os desenhadores estão a preparar os desenhos para o dia seguinte), no final
de contas localmente só há representantes e os serventes de construção civil, porque até as
reuniões são online.

Sem dúvida que o Homem irá sempre necessitar de cidades, aglomerados onde centralizar
funções, estilos, identidades, etc., mas a forma da cidade está mais do que alguma vez esteve

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em profunda transformação. O fenómeno da globalização da cidade, criação das sociedades-


rede, do criar de duas realidades, uma física e outra virtual, tendencialmente acontece através
das relações simbióticas das cidades, a capacidade de integração da cidade na rede global.
Também se verifica que é nas cidades que as empresas, com maior poder económico, criam
sede, exactamente no centro da cidade (Ferrão, 1992), contribuindo em muito para a existência
contínua da cidade, em muito pela exigência das tais infra-estruturas e de SAT e NTIC, e
também pela relação de centralidade. Mesmo assim, é exactamente através do sector terciário,
ao procurarem entre outras coisas, mão-de-obra mais barata, que se encontra também a
descentralização.

Começa-se assim a entender que em cima do espaço geográfico, que faz conjunto com o
espaço topológico, existe cada vez mais um espaço virtual e um espaço tecnológico em que nos
integramos e interligamos, na crescente interdependência de fluxos (Mela, 1999).

Claro que as SAT e as NTIC vieram permitir novas abordagens do tema da cidade, mas também
do conceito de cidadania. Estas tecnologias permitem a cada cidadão ter mais acesso a
informação e melhorar os níveis de cultura, bem como transformar-se num cidadão mais
participativo, transformando as velhas democracias eleitorais e representativas em obsoletas.

Os cidadãos portugueses do séc. XXI não se identificam com as cidades onde vivem, não dão
valor às cidades onde habitam. Uma economia desfeita, a poluição, uma sociedade (local)
envelhecida, ou então de diferentes origens, entre outras razões contribuem para o não
funcionar da democracia portuguesa, dando assim origem a cidades insustentáveis. As cidades
portuguesas surgem e crescem das regras de mercado livre, em que nada é feito a pensar no
todo, mas sim nas partes (empresas individuais).

O Prof. João Ferrão refere inclusive que “não precisamos de mais cidades, precisamos de mais
cidade”, no entanto as suas considerações levam-nos para temas da paisagem global. Porém é

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verdade, no sentido em que é necessário melhorar-se a qualidade da nossa democracia e a


partir daí transformarmos as nossas cidades em espaços que queremos e não só precisamos.

A partir da segunda metade do séc. XX as SAT e as NTIC foram progressivamente passando a


ter um papel mais importante. As relações, os fluxos gerem-se agora, no início do séc. XXI,
quase a nível global. Porém as decisões tomadas localmente são em muitos casos (demasiados
até) tomadas por uma só entidade, não sendo tidas em consideração as decisões globais
(desconsiderando até repercussões dessa acção) e muito menos da população.

Irão sempre existir aglomerados urbanos mais ou menos extensos, zonas de centralidade física.
Está a surgir um novo tipo de espaço, com um novo tipo de sociedade, o espaço tecnológico e
uma sociedade virtual, que se relacionam com o espaço físico e a sua sociedade.

A nível profissional continua a ser exigidas deslocações, a descentralização é para fora de


Portugal, intensificando o êxodo rural. A falta de confiança faz com que seja necessário a
fiscalidade que as SAT e as NTIC permitiriam não existir. Parece que começamos a ter infra-
estruturas e tecnologia para sermos mais Humanos, para nos relacionarmos mais e melhor, para
aprendermos mais uns com os outros, porém parece que estamos mais esquizofrénicos que
antes.

Verifica-se que em Portugal as SAT e NTIC surgem da mesma forma que a própria cidade, pelas
regras e necessidades de mercado, não por ser uma maior valia, o resultado é que a área de
influência de uma cidade está directamente ligada ao número de empresas sediadas nessa
cidade.

Uma entidade internacional reguladora é imprescindível para começar a acabar com a


desconfiança, mas também o aumento da qualidade de ensino, que não passa obrigatoriamente
pelo aumento da escolaridade obrigatória.

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Tendo em conta a desertificação e degelo polar o que significa menos espaço terrestre habitável.
Por outras razões, durante a nossa idade média, o império Chinês viu crescer verdadeiras
cidades flutuantes, criadas pelo número crescente de Juncos e Sampanas que aportavam junto
às grandes cidades (Cantão, Formosa, etc.). Poderá ser essa uma maneira saudável de habitar
para os próximos séculos ou milénios, desde se preveja as exigências das várias formas de
sustentabilidade (ecológica e tecnológica).

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3. Notas
Após o império romano a ordem imperial perde-se, bem como as referências ao período
clássico, entre os sécs. V e X. Nessa altura reorganiza-se os países e estabiliza-se das
condições políticas. A especialização da mão-de-obra tornou-se novamente uma realidade. A
estabilização foi ajudada por ter sido ultrapassado o ano 1000 e deitadas por terra as teorias
milenaristas da época.

Em Portugal a realidade era diferente. No séc. VIII a península ibérica está ocupada por árabes
muçulmanos. No séc. XI o rei de França enviou dois nobres a Castela com o objectivo de auxiliar
o rei de Leão e Castela a reconquistar a península. É assim criado, na fronteira de combate, o
condado portucalense, entregue a sua administração ao nobre francês D. Henrique, de
Borgonha. O condado portucalense era a região mais pobre e abandonada do reino de Castela,
praticamente sem população, devido a uma política de ermamento por parte de Leão e Castela.
Logo de início de Portugal não tem população. Nessa altura D. Henrique nada, ou praticamente
nada, faz para conquistar. É o seu filho, D. Afonso Henriques, que se interessa e em pouco
tempo chega a Lisboa.

D. Afonso Henriques declara-se Rei de Portugal, com bênção do Papa e entra em conflito com
Castela, que dura até ao séc. XIV, conflito este mais difícil, complicado e complexo que a própria
reconquista. A falta de população, que ficasse nas povoações após a conquista, e de população
cristã em número suficiente para ser superior à muçulmana.

Portugal surge no âmbito da conquista cristã a árabes. D. Afonso Henriques entra em conflito
com Castela, conflito esse que continuou até ao séc. XIV, até mesmo depois dos 60 anos de
domínio Castelhano houve cerca de 20 anos de conflitos contínuos na fronteira (tal como

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aconteceu na Catalunha). Foi necessário comprar o reconhecimento internacional (do Papa, etc.)
para dar como finalizado este conflito latente.

Os portugueses, com menos população e menos recursos, têm sempre a intenção e objectivo de
fazer mais e melhor que os outros. Com os descobrimentos Portugal ficou novamente
despovoado. Consequentemente não foram criadas as infra-estruturas necessárias que deram
origem à revolução industrial. Acrescendo a isto tudo é centralizado em Lisboa, que sofre muito
no terramoto, em 1755, provocando a morte da maior parte da população da Capital.

Em meados do séc. XX ainda os bairros do meio das avenidas novas de Lisboa estavam por
construir. Os proprietários foram forçados por Duarte Pacheco, que instaura uma nova lei, que os
obriga a construir ou os terrenos são expropriados.

Neste momento decorre uma guerra “ao terrorismo” no médio-oriente, o mercado económico-
financeiro das democracias capitalistas está falido (grande parte do hemisfério Norte) a Ásia,
apesar de mostrar alguma abertura, continua extremamente fechada ao ocidente, os continentes
Sul-Americano e Africano continuam a ser espaços sem liberdade em que a “a lei da bala” é a
que se aplica, a Austrália/Oceânia e Nova-Zelândia estão à parte do resto do mundo. Como será
possível então que as SAT transformem positivamente as sociedades de forma a serem criadas
cidades sustentáveis (tanto a nível ecológico como económico e artístico)?

Estamos um momento de viragem, mais do que, de século, mas também e principalmente, de


postura perante a ocupação do território. Demonstra-se imprescindível compreender como e o
que foi feito até este momento, com o objectivo de aproveitar o melhor, corrigir os erros do
Passado e preparar o Futuro de acordo com a Presente postura.

Palavras como sustentabilidade, ecologia, democracia, salubridade estão na “boca do povo” e


demonstram que a necessidade de mudança é real, inevitável e desejada, algo que em Portugal
era abafado até ao 25 de Abril de 1974. Só a partir daí, com o surgir da democracia portuguesa,

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a população começou a ter conhecimento do país real, não aquele que era mostrado nos jornais
e RTP até aí controlados pela censura.

Confundiu-se muito crescimento com desenvolvimento. As cérceas aumentaram e os preços


aumentaram (fruto da especulação). Não se desenvolveu as redes de água potável, de
electricidade e viária. Nos anos 80 são criadas REN e RAN, que veio travar a ocupação
desregrada do território, que não impediu no entanto a destruição de algumas zonas muito
importantes para a sustentabilidade ecológica.

Com o objectivo de procurar uma vida melhor a população rural migra para a cidade urbana, em
Portugal, especialmente para as do litoral. Durante o século XX o aumento da população urbana
provocou não só o envelhecimento da população rural, mas também o estabelecer de inúmeros
bairros de origem clandestina.

Num país burocrático não era possível acompanhar as reais necessidades de crescimento das
cidades, em especial de Lisboa e Porto, originando “bairros de lata” e bairros clandestinos,
muitas vezes, sem condições de salubridade exigíveis num país desenvolvido. Houve
crescimento sem desenvolvimento.

As REN e RAN são um início para um crescimento sustentável, mas é apenas um início, muito
tem de ser feito, tendo como base essas redes, mas desenvolvendo essas ideias. Não só definir
o que não pode e o que tem de ser feito para garantir a sustentabilidade ecológica, mas
igualmente verificar o que foi feito e prejudica o equilíbrio de forma a corrigir os erros.

Temos no Presente um território com o qual não nos identificamos, sem condições de
sustentabilidade a vários níveis (económico, politico, social e ecológico), em que a história foi
indiscriminadamente substituída. A democracia estabelece-se com a valência do funcionar do
sistema judicial para garantir a liberdade de todos e não só daqueles que têm mais de algo que
outros, mas não está a funcionar.

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4. Directrizes Pessoais de Abordagem


Há que existir empenho em libertarmo-nos das amarras do passado. Voltarmos a ter uma visão
macro da razão da sociedade estar assim organizada, ou seja, compreendermos a razão porque
criamos relações interpessoais (profissionais, familiares, etc.) e o que é verdadeiramente
necessário e/ou importante para nós e para essas relações. Tirar o máximo partido das nossas
ferramentas é imprescindível! Da mesma maneira que o agricultor usa a enxada ou mesmo o
tractor de maneira a tirar o máximo partido dessa ferramenta, o arquitecto (por exemplo) tem de
tirar o máximo partido das ferramentas que hoje tem, como a realidade virtual (como maneira de
vivenciar a arquitectura sem a construir). Para isso não é necessário deslocarmo-nos, aliás no
caso exemplificado o objectivo é esse mesmo, não ser necessário deslocações.

As relações interpessoais vão ser sempre baseadas num mundo físico, porém há que optimizar
recursos. Um profissional residente noutro país, com outra cultura é uma riqueza quando
inserido numa equipa pela diversidade que trás a essa equipa. Sendo esta realidade um facto
cada vez mais comum. Assiste-se também à possibilidade de uma equipa ser constituída por
elementos que nunca se encontraram fisicamente e todos representam a mesma empresa, cada
um em seu país. Trabalham através da “rede”, fazendo uso das ferramentas. A sua relação é
puramente profissional.

O resultado é a existência de aglomerados urbanos mais ou menos extensos, dependendo da


sua história, identidade, etc., que albergam um grupo mais ou menos constante de pessoas. O
espaço denominado rural, tradicionalmente no interior, que ecologicamente deixará de suportar
agricultura (devido ao processo de desertificação, já iniciado) dará lugar a novas formas de
ocupação. Eventualmente já dando lugar ao tão falado Continuum Naturale, recuperando

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(lentamente) a estrutura da natureza que se perdeu devido a vários factores (humanos ou


naturais).

O povoamento em pequenas “ilhas” ligadas em rede (física e virtual) pode transformar todo o
planeta num conjunto de penínsulas urbanas, inclusive na água, em que os intervalos são
ocupados por espaço natural, ecologicamente protegido.

Nós, portugueses, com pouca densidade populacional, temos ainda uma pegada ecológica
relativamente controlada, quando comparados a outros países. A nossa industrialização foi fraca
e lenta, o que significa que o impacto da revolução industrial pouco se sente. É certo que
vivemos numa zona sísmica, mas há poucos registos de desastres naturais acontecidos em
Portugal. Com esta realidade temos excelentes condições para o desenvolvimento sustentado.

O elevado grau de insatisfação, a falta de identidade, um forte sentimento de injustiça,


associados à falta de disponibilidade financeira do país faz com que esse desenvolvimento não
apareça de maneira espontânea. É necessário que alguns se juntem, se organizem, e
sistematizem um projecto de desenvolvimento sustentável e quando se fala de sustentabilidade
não se fala só de ecologia ou só de economia financeira, é tudo isto e mais.

Depois é necessário que esses poucos saibam ouvir e sejam assertivos para se conseguirem
explicar. Criar uma identidade em torno da qual todos se juntam, para implementar um conjunto
de ideias que pode ter partido de um grupo mais restrito, mas sofreu influência de todos.

Costuma-se dizer que “Sem cacau, não há caco!”, ou seja, que é necessário investir para poder
lucrar. Há várias formas de investir e a maior parte do investimento não é dinheiro: é
principalmente tempo (e algum “suor”). Nestes casos “o número faz a força”, quantas mais
pessoas colaboram no desenvolvimento sustentado menos custa ao indivíduo. O lucro vem
depois…

– Portugal: Como desenvolver? –


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QUINTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2009
– Univ. Lusíada de Lisboa – Fac. de Arquitectura e Artes – Lic. em Arquitectura (Mestrado Integrado) –
– Geografia Humana – 4º Ano – Turma V – Aluno n.º 11087208 – André Roldão S. Tribolet –

Compreende-se assim que através de trabalho comunitário, suportado nos já existentes


mecanismos democratas, conseguir-se-á então criar um modelo de desenvolvimento sustentado
para Portugal, que apesar da realidade da sua crise ser diferente da crise internacional, pode ser
uma mais-valia, quer por osmose quer por servir de base ao desenvolvimento por influência
directa (através da rede de cidades), no inverter o ciclo de crise em que se está a nível
internacional, colocando novamente Portugal no mapa (do Presente e não só do Passado), bem
como garantir a subsistência do Homem.

– Portugal: Como desenvolver? –


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QUINTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2009
– Univ. Lusíada de Lisboa – Fac. de Arquitectura e Artes – Lic. em Arquitectura (Mestrado Integrado) –
– Geografia Humana – 4º Ano – Turma V – Aluno n.º 11087208 – André Roldão S. Tribolet –

– Portugal: Como desenvolver? –


– ANEXO –
QUINTA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2009

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