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DIRETORIA DE ENSINO
DEPARTAMENTO DE ENSINO SUPERIOR
COORDENADORIA DE CURSOS DE PÓS -GRADUAÇÃO
DISSERTAÇÃO TECNOLÓGICA
MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE E
EDUCAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE UM
NOVO PARADIGMA SOCIAL.
JUNHO DE 1998
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
CELSO SUCKOW DA FONSECA − CEFET/RJ
DIRETORIA DE ENSINO
DEPARTAMENTO DE ENSINO SUPERIOR
COORDENADORIA DE CURSOS DE PÓS -GRADUAÇÃO
DISSERTAÇÃO TECNOLÓGICA
MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE E
EDUCAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE UM
NOVO PARADIGMA SOCIAL.
DIRETORIA DE ENSINO
DEPARTAMENTO DE ENSINO SUPERIOR
COORDENADORIA DE CURSOS DE PÓS -GRADUAÇÃO
DISSERTAÇÃO TECNOLÓGICA
MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE E
EDUCAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE UM
NOVO PARADIGMA SOCIAL.
SUPERIOR COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
EM TECNOLOGIA.
APROVAÇÃO:
________________________________________
________________________________________
________________________________________
FICHA CATALOGRÁFICA
CDD 20. cd
370.1
S 237m
D
ii
AGRADECIMENTOS
caminhada.
RESUMO
materializados nas ciências e nas relações sociais; a partir destas críticas, são
para duas direções principais: da adoção cada vez mais consciente das
RESUME
Cet étude analyse les critiques faites a l’égard du projet de la modernité pour des
éducation que suivent les transformations sociales de atualité. Ces changements, pour sa
cette raison, les divers concepts de paradigme sont examinés au début, ainsi que leur
modernité est détachée selon l’analyse des ses fondements, ainsi que la divergence
modernité indiquent deux directions possibles pour les changements: une nouvelle
construction, qui critique les fondements de la modernité aperçus dans les sciences et
dans les relations sociales; à partir de ces critiques, les nouvelles orientations sont fixées
pour guider les actions à l’avenir. La recherche d’objectifs en éducation plus convenables
à la nouvelle realité sociale signale aussi deux directions principales: l’adoption de plus en
collectives, et laquelle que tient l’homme pour un être complexe, de qui la formation
d’education, de définir les nouveaux objectifs et de tracer des stratégies mises en accord
INTRODUÇÃO 1
1. O PROBLEMA 1
2. OBJETIVOS E QUESTÕES PARA ESTUDO 7
3. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 8
CONCLUSÃO 120
Introdução
1. O problema
Percebe-se, atualmente, nos meios de comunicação e em publicações e
inaugurado com a ciência moderna, que por alguns séculos tem predominado no
socialismo”. (p. 9)
criticados por diversos autores − que se apresentam como pós-modernos − por terem
superação. Parte dos valores que a modernidade defendia foram concretizados, com
destes mantêm sua atualidade − como a igualdade e justiça para todos − enquanto
nova significação desses valores. O mesmo autor entende que este momento de
em busca de novo modelo. Ainda outros autores − como Habermas (1975), e, de certa
não se trata de superar a crise provocada pela modernidade, mas sim de corrigir o
concretização.
da justiça. Valores que, frutos do Iluminismo, ainda não perderam sua vigência.
Quer apontemos para uma sociedade pós-moderna quer para o resgate dos reais
valores modernos, a crise identifica-se com uma ruptura no tecido da cultura ocidental.
Seja qual for a posição adotada − e, principalmente, para que se possa escolher uma
sua erradicação total − tendência seguida por Lyotard (op. cit.) − com a instauração da
cultura pós-moderna.
social cujo objetivo primeiro tem sido o de transmitir conhecimentos e valores para as
Reconhecendo que a educação tem seu fundamento nas relações sociais mais
5
amplas e que seu objetivo principal é integrar o indivíduo a seu meio, torna-se
(CASASSUS, 1993, p. 7)
educação, por um outro pós-moderno será relevante por fornecer indícios do tipo de
educação buscando sua inserção em uma sociedade global composta por diferenças
em outro sentido, na visão da educação como meio para a melhoria das condições
sociedade referenciada no futuro, conforme aponta Casassus (op. cit.) e Demo (1993,
6
p. 20): “Modernizar significa o desafio que o futuro acena para as novas gerações, em
Outras vertentes apontam para uma pedagogia crítica que desvele as relações de
todos os membros de uma sociedade cresce a cada dia, e não é possível negar seu
potencial educador pela atração que exerce sobre todos. A cultura do espetáculo, da
massificação dos sentidos, levanta novas questões sobre o significado ético ou moral
Esta análise leva a dois rumos paralelos de reflexão. Um deles, iniciado nos
Estados Unidos já há algum tempo, busca “vincular a formação escolar com formas
de rediscutir a própria educação como um todo, como destaca Assmann (op. cit.),
atendem, ou, mesmo, levantar questões inéditas. O que reconduz à reflexão sobre a
processo que levou a sociedade moderna ao atual estado crísico em que se encontra,
primeiras.
homens em geral, e a partir desta identificação, destacar os fatos que apontam para
uma mudança paradigmática nas relações sociais. E, por fim, identificar as novas
concretizados plenamente de acordo com seu projeto original? De que forma são
8
3. Organização do trabalho
sociedade atual.
assumiu em diferentes momentos históricos, assim como seu sentido mais comum,
ligado ao campo científico. Ainda no primeiro item será discutido o modo como os
comumente com sentidos muito próximos, e que serão bastante discutidos ao longo
originadas no Iluminismo.
idéias de autores que defendem e criticam o projeto moderno. No último item, são
moderna.
9
e críticas, e a avaliação dos rumos teóricos percebidos para o futuro. A análise será
realizada pela comparação entre a idéia moderna sobre o que constitui a educação,
relações que passam a ordenar o corpo social. Este último, em especial, fornece os
(1982), assim como Morin (op. cit.), identifica as situações crísicas com momentos de
especial, num dos aspectos mais visíveis da sociedade que se identifica como
tecnológica e/ou da informação: sua base científica. O desgaste nas relações sociais,
por sua gravidade e extensão, indica mudança profunda em seus moldes básicos,
adotado.
compreensão, ora a previsão e o relativo controle dos eventos naturais a que está
concentrando apenas nas relações e nos eventos, mas na própria essência de cada
ideais: conceitos que existem a priori da nossa percepção não sendo construídos pela
12
razão, mas por ela reconhecidos como a própria essência de cada ente do mundo da
Analisando mais profundamente este sentido, Plastino (op. cit.) alerta para a
relação etimológica existente entre visão e idéia, que tem origem, em grego, no verbo
ver; estendendo o conceito à percepção dos objetos, tanto na forma como esta ocorre
quanto no aspecto oferecido por estes mesmos objetos. Consideração que remete ao
contrário, a idéia pura é inatingível, pode apenas ser concebida pela mente, de forma
imperfeita.
(DESCARTES,1983, p. 63)
próprio sentido de método, um modelo para toda investigação científica. Estas duas
13
Deus criador onipotente, e a ausência das relações temporais de causa e efeito entre
questionador, que o diferenciou dos anteriores baseados na tradição. Para tanto fazia-
No Iluminismo, o novo tipo de relação do homem com o mundo atingiu seu ápice,
Para Kuhn (op. cit.), uma das características determinantes da ciência “normal” é
científica sabe como é o mundo” (p. 24). Ciência normal, para o autor, é a ciência
praticantes de uma ciência” (ibid., p. 13); ou, ainda, “uma comunidade científica
que possa manter-se, até a ruptura para o surgimento de um novo paradigma. Nesta
daquilo que ele olha, como daquilo que sua experiência visual
necessário testar a nova teoria em diferentes situações para que sua validade seja
história das ciências, Kuhn (op. cit.) estabelece que houve, em várias épocas, a
em que uma teoria responde a maior número de questões, sendo aceita pela maioria,
como um todo, e o cientista enquanto membro desta sociedade, devem estar prontos
para a mudança paradigmática. Segundo Morin (op. cit.), a “certeza objetiva” oriunda
15
fervorosa das novas “verdades” estabelecidas. Uma vez aceito o novo paradigma,
conceitos define, por extensão, novo conjunto de questões a serem estudadas, que
partir do século XVII. A ciência moderna tornou-se eficiente no tipo de questões a que
da vida humana.
não é definitivo. Com o tempo surgem novas questões a que o paradigma anterior não
inadequação da teoria aos fatos. Esta inadequação pode se dar de duas formas:
para a revolução” (KUHN, op. cit., p. 126). Da mesma forma, a falta de padrão
determinantes nas relações do cientista com o mundo físico; e do homem com seu
meio. O “silêncio dos espaços infinitos” que apavorava Pascal ilustra perfeitamente
crenças que constituem este modelo −, leva os homens a buscar algum aspecto que
confiança na razão como instrumento para sua interação com o mundo. Existe a
posteriormente. Não se trata somente da substituição de uma verdade por outra mais
inicial de sua vida”, “medo do ataque do novo” e “medo da perda do que já estava
posição que ocupam no mundo e das relações a que estão sujeitos, e como
responder a elas.
e/ou pela transferência dessa responsabilidade para o outro” (idem). E aponta para
uma terceira, do homem tornar-se “sujeito conhecedor, a partir de uma posição crítica
sendo necessária uma base comum que permita sua efetivação. Esta é outra função
permanência de todas as coisas, é substituída pela de um Deus que dota sua criação
religiosas, etc.
renovar os instrumentos” (ibid., p. 105). Kujawski (1988) a identifica como sendo crise
atividades comuns produz, então, o desconforto típico das situações crísicas, que se
significados bem próximos aos dos “medos básicos” assinalados por Neves (op. cit.).
19
viver o mundo. Estas mudanças são naturais e inerentes à natureza humana e suas
não é isenta de conflitos. No período em que um novo paradigma ainda não foi
seus partidários, o que é explicado pela não existência de categoria superior na qual
paradigma deve responder, até a forma como as respostas são alcançadas. Nesta
etapa, muitas teorias diferentes, e até mesmo contraditórias, são enunciadas, todas
potencialmente válidas:
E, até que alguma delas prove ser a verdadeira, está configurado o quadro
outro, a ciência não sobrevive sem seus modelos norteadores, sempre baseados no
fruto dileto da razão, foi aceita como a fonte das respostas que permitiriam ao homem
ciência moderna instituiu um modo de atuação que isolou a comunidade científica das
futuro, através das interações do presente. Desta forma, as mudanças faziam parte de
mundo − assim como ocorreu nos séculos XVI e XVII − pela introdução de novos
vigor. No tópico a seguir, será analisado como a nova concepção da Física resulta em
relação dinâmica: o fundamento é o todo. Esta é a direção geral dos paradigmas que,
busca das estruturas fundamentais volta-se agora para o desvelamento das relações
observador, como elemento definidor dos padrões − que é o terceiro critério citado por
Capra −, pois, “o que você vê depende de como você olha para ele” (op. cit., p. 245).
Introduz-se, assim, mudança essencial no paradigma, pois a ciência física não é mais
pensamento filosófico do final do século XIX e início do século XX, como sugere
conhecimento”.
edificação humana, alicerçada sobre bases sólidas e construídas bloco a bloco com a
na “teia de relações”, a realidade não pode mais ser totalmente apreendida. Não
No último critério, o autor apresenta a idéia de que para a superação dos atuais
Não é sem motivos que essa mudança paradigmática tem trazido tensões tão
Física influenciam diversas outras áreas, tanto nas ciências quanto na filosofia, pondo
constante, o qual a teoria descreve e explica. Não é apenas crise metodológica, mas
conhecedor, sua prática social, suas “opções éticas” (PLASTINO, op. cit., p. 46).
fatores de organização superior” (MORIN, op. cit., p. 29) das estruturas societárias
humanas.
todas as possíveis relações? Para esta questão, são apontadas inúmeras respostas,
determinado por realidade externa autônoma. Kujawski (op. cit.), igualmente, aponta
Todas estas teorias apontam nova direção, mas nenhuma delas está ainda
problemas hoje enfrentados em todas as sociedades. Mas este é um fator que pode
ser usado positivamente, como foi citado no início deste capítulo, para a discussão
das alternativas e a consideração dos valores que são necessários para a consecução
Em relação aos sinais do novo paradigma, Santos (op. cit.) identifica três áreas de
minorias — qualquer que seja sua identidade —, e não tem o sentido de preservar as
que venham a compor paradigmas alternativos que possam concorrer entre si.
estético.
ação efetiva: construir o sujeito livre e feliz que o projeto da modernidade apenas
idealizou. Somente assim poderá o novo paradigma ser uma alternativa real de
relações de poder, uma vez que implicam a modificação de relações sociais vitais,
alcance global, embora sua origem seja localizada. Sendo assim, o papel do poder e
vez maior de membros da sociedade. O fórum por excelência para estas discussões
vezes estes termos são usados indiferentemente com o mesmo sentido; em outras
dos termos para uso neste estudo, eles serão discutidos a seguir, de modo a manter
reagir contra algo que está estabelecido; quando, por sua vez, esta vanguarda é
27
vórtice” (KARL, 1985, p. 23) — que põe em perigo a ordem em vigor, ao mesmo
tempo em que acena com aspecto progressista: “é moderno o que todos querem ser,
mas também é aquilo que deve ser rejeitado” (ibid.). Em Sócrates e Platão, a idéia do
moderno foi rejeitada por sua ligação com a arte, que seduz a alma, minando a
complexidade muito maior, uma vez que o presente está sempre em mudança. Os
termo a uma questão de tecnologia. Este sentido foi plenamente utilizado na Inglaterra
seu desenvolvimento para se constituírem, por conterem, em si, elementos para sua
28
dos três.
despertar, de passar da escuridão para a luz. Da mesma forma no final do século XIX
e procurava, novamente, conexão com o período anterior da história para a partir daí
introduzir novo impulso criativo na arte. Com Baudelaire, poeta e crítico francês do
destrutivo, que nega o presente em busca do futuro que está sempre mais adiante, e
rejeita a autoridade:
esta diretiva, com Haussman, arquiteto francês, em Paris e Pereira Passos no Rio de
Janeiro. Os marcos de vida social consagrados pela tradição são destruídos em prol
indivíduos que vivem e agem em uma coletividade a cada dia mais dinâmica e
das relações sociais, e o planejamento para novos centros urbanos foi usado, no
No item a seguir, serão abordadas algumas questões sobre o Iluminismo que são
6. O Ideal Iluminista
(HARVEY, op. cit., p. 23). O projeto do Iluminismo era bastante otimista, no sentido
p. 394).
30
indivíduo.
eurocêntricas e de cunho racista até o século XX. A prática que existia anteriormente
de levar aos povos primitivos a luz da fé cristã é substituído pela opção de alimentar a
cultural.
31
mesmo, com base em princípios gerais e abstratos” (ROUANET, op. cit., p. 22), ao
uma indústria cultural que apresenta produtos sempre novos que criam outras
Rouanet (op. cit.) define muito bem cada um dos aspectos que a teoria iluminista
Nesta definição, o autor cita diretamente, em leitura atual, todos os pontos que
cit.) procura ainda evidenciar que mesmo que os condicionantes que anuncia não
tenham sido diretamente abordados pelos iluministas, por sua pouca relevância na
idéia de liberdade, igualdade e felicidade, que concorrem para o bem estar moral e
modelo para a busca de aperfeiçoamento crescente por parte dos homens, o ideal
Ao defender o universal, Rouanet (op. cit.) pretende resgatar seu sentido primeiro,
universal pode ser usado − e, em vários momentos, o foi − como forma de imposição
qualquer possibilidade de recurso, uma vez que não há instância superior, ou comum,
étnicas.
aspirações à universalidade.
34
35
6.2. Individualidade
dos sujeitos, e para uma volta à organicidade das culturas primitivas, na qual o todo
uma escolha adulta, não do fato aleatório, pelo qual ele não é
opressão das culturas não ocidentais através de valores impostos − oriundos de uma
dos homens:
religião, nação e gênero que são exaltadas como forma de respeito aos indivíduos,
ainda que sirvam, às vezes, de justificativa para repetidos atos de violência contra
valores que devem ser respeitados por todos os homens; valores absolutos, como a
vida e a liberdade. Esta é uma opção que só pode ser adotada se os homens forem
acordo com o código moral adotado, pressupondo, ainda, que seja capaz de conter
podem
(idem)
certo e o errado, sobre bem ou mal. Desta forma, a moralidade universal fica restrita a
Iluminismo, como aquele dotado de razão autônoma e liberdade individual para tomar
ciência quanto a moral são unidas em torno à razão, levando a um sentimento forte de
desenvolvido pelo homem − se por alguma característica externa ligada à lei natural
secular.
modernidade acreditam que este consenso será sempre limitado e temporário, devido
6.3. Autonomia
op. cit., p. 24) ou através de “alguma teleologia inerente em ação (talvez até de
inspiração divina) a que o espírito humano estava fadado a responder” (idem). Sob o
ainda, autonomia individual, posto que o homem na sociedade iluminista não existe
vez que todas as coisas são valoradas de acordo com seu poder de troca. As ações e
relações humanas não são mais medidas por valores transcendentais, mas “passam a
desta meta, desde que livre da falsa consciência imposta pela ideologia.
das ações humanas. E sua relação com o poder elimina a possibilidade de ação
diversas maneiras: pelo misticismo cada vez mais presente nas relações sociais, até
pelo mundo.
Quando são analisadas posições tão opostas entre teoria e prática, percebe-se
“total falta de esperança …” (OLIVEIRA., op. cit., p. 17), que resulta, cada vez mais,
6.4. Racionalidade
do ser das coisas para a sua função ou relação com outras: sua quantificação e
onisciência, através de uma razão cujo desdobramento não conhece limites de direito,
(ibid., p. 409)
op. cit., p. 135), esta crença comum constitui a própria realidade. Nas sociedades
no século XIX, reflete bem esta nova tendência em pensadores como Marx, que vê na
para o trabalho; para a autonomia, e não somente para a eficácia. A razão recebe
universais em seu conteúdo, cuja validade é medida por critérios específicos ligados à
em tecnologia. Além disso, não lhe é possível pôr de lado certa faceta ideológica, uma
A tecnologia configura-se como danosa à vida humana, mas isto ocorre porque o
mundo mudou, as necessidades mudaram. Para o Iluminismo, sua função era garantir
tirania da natureza. Esta função foi realizada, não se pode negar que a vida hoje é, de
entanto, já estão banalizadas pelo uso, não impressionam mais o homem comum, o
que ele quer agora é a resposta aos problemas ainda não resolvidos, como a aliança
crenças que compõe o nosso mundo, mas, em si mesma, continua vigorosa e atuante
atuação.
saída para esta situação é identificada geralmente com uma reelaboração do conceito
que são feitas ao reducionismo da razão serão analisadas no capítulo seguinte, assim
partir deste momento que os pós-modernos neste século procuram construir sua
teoria, baseados nas inúmeras críticas feitas a respeito dos ideais modernos, ou dos
aspectos.
do Estado. A oposição a esta tendência foi dada pela reação romântica que pregava
sendo então reduzido aos fatores que se acreditava serem factíveis, relegando a
negar que haja algo ainda a cumprir.” (SANTOS, op. cit., p 86)
perplexidade frente a uma situação que não se compreende muito bem, e pode ser
industrialização pelo globo, criando novas relações produtivas facilitadas pela melhoria
48
como indica Harvey (op. cit.), aliada à disseminação da informação, acelera ainda
destas ordenações parece capaz de contribuir como forma eficaz de regulação que
contribuem para o choque entre a rigidez das estruturas vigentes e a flexibilidade nos
reducionista que sofreu o projeto moderno, assumindo cada vez mais caráter
totalitário e dominador.
(ibid., p. 91)
responsabilidade.
humana de realizar conquistas até então apenas sonhadas, como a ida à Lua, ao
centro da Terra ou ao fundo do mar. Estas esperanças são realizadas com o tempo,
relações, na medida em que não passa, mesmo, de uma utopia, irrealizável por
profanação dos valores até então em vigor. A violência contra o outro tem por alvo sua
ao racional. A “Crise do Século XX”, como a denomina Kujawski (op. cit.), resulta na
suas potencialidades. Cabe, então, encontrar nova função para a utopia, que pode ser
presente crise determina a mudança do tipo de razão que deve ser exercida, não mais
puramente utópica, mas perspectiva, fundada na experiência do real. Ainda que o real
diferenciadores no meio da massificação produzida pela vida urbana. Harvey (op. cit.)
ligando, assim, a percepção individual de cada homem sobre o mundo à forma como
Tratava-se de “tirar da moda o que esta pode conter de poético no histórico, de extrair
século XIX a velocidade com que linguagens diversas, adotadas por grupos de
experiência cotidiana, e deseja reproduzir esta visão em sua produção. Sendo assim,
artístico, mas provocou reflexos muito fortes também na ciência − como na física
tornou-se questionável.
elitizadas a tal ponto, como conseqüência de seu próprio hermetismo lingüístico, que
movimentos atingiram seu auge no final da década de 60, mais exatamente em 1968.
sociedade em que foram geradas. O Modernismo, que surgiu no início do século XX,
homem teve que procurar um novo modelo de sociedade, na qual pudesse sobreviver
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e que lhe garantisse a segurança prometida, mas não cumprida, pelo Iluminismo. Um
situação em que se encontrava. Este mito é identificado, por uma ala dos
modernistas, com o poder e a lógica das máquinas; outros foram buscar na história
seu mito redentor − como ocorreu com o fascismo. A função do mito continua a
positiva. Estes mitos, entretanto, não foram suficientes para impedir a eclosão de nova
guerra mundial, e foram substituídos, após 1945, por uma vinculação ao modelo
Horkheimer (op. cit.) afirma que as idéias do Iluminismo sempre estiveram muito
rumo, uma vez que a ligação com o autoritarismo está presente em seus
fundamentos:
aprender da natureza é como aplicá-la para dominar completamente sobre ela e sobre
os homens” (ibid., p. 98). Neste aspecto, Horkheimer critica o Iluminismo pela atitude
destes mesmos fenômenos. Desta forma, a matéria tornou-se inerte em suas mãos,
55
partia então de alguns aspectos visíveis, e ocultava, por vezes, a relação entre
metafísico:
com o mito do qual procurou se libertar desde o início, posto que ele possui a função
56
existência do homem pela certeza de repetição das leis naturais. A repetição liberta o
homem de seus medos básicos; assim como a apropriação dos fenômenos através de
guia para todas as relações e ações humanas não é flexível o suficiente para permitir
dirigentes e se refletem por toda parte. No entanto, esta racionalidade não está
disponível, ainda, para todos: “os dominados aceitam como intocável e necessário o
estabelecida.
Para Horkheimer (op. cit.), apesar das limitações do Iluminismo, nele se encontra
ocasionaram:
“estratégias baseadas no saber analítico”. Desta forma, não são apenas componentes
técnicos, neutros, que influem na ação, mas também valores pré-definidos e máximas
universais que constituem esse saber. Já o “agir comunicativo” é regido por normas
consensuais entre os sujeitos que, com o uso, tornam-se sanções; não sendo,
formas de legitimação que não a racional. Desta forma, a razão não age mais como
A dominação racional tem caráter político uma vez que inibe a discussão sobre os
econômico; é só de uma maneira mediata que ele é político” (HABERMAS, op. cit., p.
formas de produção neste século, produziu fonte de legitimação direta, posto que a
que visam também à eficácia do sistema, e não mais à interação através de um agir
alternativo, e muito mais difícil ainda renunciar aos confortos que a tecnologia, no
nível em que está, pode proporcionar. Aponta então para novo tipo de racionalização,
tem controle, ou que são exercidas sem necessidade de elaboração mental. Mas,
para o autor citado, a ação racional deve permitir a formulação consciente da maior
segundo as crenças próprias sobre os tipos de ação. No tocante aos agentes sociais,
legais:
refutada a principal crítica a respeito do agir racional, que não estaria, por princípio,
moderno, está intimamente relacionado com sua referencialidade, que se divide nos
(ibid., p. 50)
comprova sua superioridade no nível cognitivo; a qual advém, ainda, de uma maior
A arte é, ainda hoje, um dos mais evidentes campos de atuação em que se pode
social passa a legitimar as ações, substitui a autoridade tradicional por leis impessoais
e imparciais, o julgamento sobre a validade destas leis prende-se, cada vez mais, à
Como a ciência e a tecnologia não respondem a questões que estão fora de seu
desprovidas de sentido, uma vez que as várias esferas de valor do mundo − como o
mas esta situação é contrabalançada por maior autonomia frente à tradição e pela
em que é permitido fazer tudo o que é compatível com a mesma liberdade dos outros”
(INGRAM, op. cit., p. 73). E também pelo fato de que o processo formador deste
alguns agentes sobre a maioria e, por outro, permite consenso sobre problemas que
racional, tradicional e carismático − são tipos ideais, que não ocorrem isolados uns
determinados a que todos os membros do grupo devem obedecer a fim de que sejam
ainda não é para nós nenhuma objeção contra esse juízo” (p. 50).
preconceito moral, dando à verdade valor maior que à aparência, e tornando-a, em si,
65
“Suposto que nada outro está ‘dado’ como real, a não ser
O fundamento passa a ser, assim, a emoção, e não mais a razão pura e fria. A
ação da vontade só pode ser dada sobre a própria vontade. Baseando-se neste
princípio, Nietzsche (op. cit.) supõe ser a “vontade” a causa primeira e única dos
O sentido de todas as coisas seria dado por esta “vontade de potência” que se
apropria de algo preexistente e lhe impõe um uso. O progresso seria mais uma
qualquer: “é, pelo contrário, a sucessão de processos mais ou menos profundos, mais
natural e inevitável como afirmava “o gosto do tempo” (idem) pela voz dos
humanitário e uma distorção de sentido” (ibid., p. 52) visando à implantação dos ideais
iluminista:
tomado por eles como algo que é preciso abolir.” (ibid., p. 55)
por todos os homens; e o progresso caminharia neste sentido. Nietzsche (op. cit.)
eficiência. Seu “espírito livre” é liberto também destes objetivos, é pura “vontade de
estaria ligada, para Nietzsche (op. cit.), ao instinto de conservação dos homens, que
imaturos não podem “chegar à posse da verdade cedo demais” (p. 58); desta forma,
os artistas seriam “crianças escaldadas” (p. 57) para quem o falseamento da realidade
atribuindo a todos a defesa de uma sociedade que se diz livre, embora esteja, no
bem e do mal que se justifica em si mesma. Este nivelamento dos homens diante de
uma moral igualitária significa, para Nietzsche (op. cit.), seu “apequenamento” ou
diferenciadoras; assim como ocorre também com a compaixão pelos fracos, pois
68
acredita que somente através do sofrimento e da luta constante é que o homem pode
melhoria das condições de vida dos que sofrem. Para o segundo tipo, o bem
confunde-se com o nobre, e o homem nobre é “criador de valores” (op. cit., p. 72): é
aliados a certa dose de subterfúgios que tornam essa classe cada vez mais esperta −
esperteza que tem por finalidade lutar contra as adversidades naturais que atingem a
tudo vai cada vez mais para trás, para trás, para o mais diluído,
A crítica de Nietzsche não deixa de lado nenhum dos aspectos privilegiados pelo
101).
paralisia da vontade:
reflexão sobre fundamentos até então admitidos como verdade absoluta, como era a
8. A pós-modernidade
Diversos autores ao tratar da nova orientação social que está sendo construída,
definido, no item 5 deste trabalho, que o termo Modernismo seria utilizado para o
movimento artístico que surgiu no início do século XX, e o termo modernidade para a
70
século, seria mais adequado procurar diferenciação semelhante para os termos pós-
ocorre nesta área, esse posicionamento torna-se complexo e, até mesmo, inútil, posto
que as reflexões sobre a pós-modernidade podem levar à conclusão de que ela não
trabalho apresentar posição final sobre tema tão controvertido, deste modo, o primeiro
acordo com a ênfase que recebem de cada autor citado, assim como sua importância
O termo pós já insinua que a nova teoria tem continuidade com a precedente:
básico que sustente uma teoria e que sirva como argumento para convencer outros
em Lyotard (op. cit.) nega qualquer princípio universal. Devido a essas diferenças,
válido, estas regras formam o conjunto maior do “metadiscurso”; sob outro aspecto,
negativas para todo o grupo social, tanto no sentido da eficácia das ações quanto de
− seja por acúmulo ou através de seguidas revoluções − foi fruto de escolhas prévias,
seria a de um “jogo”, em que os lances são feitos por diferentes atores e validados
O saber para este autor não é limitado ao conhecimento científico, mas engloba
medida por sua aceitação consensual, que constitui uma cultura. O consenso não
uma ou outra maneira. A crise no saber científico, que ocorre no século XX, deriva “da
científico é definido por regras que não têm competência para definir se as ações
práticas dele decorrentes são justas ou não, trata-se de diferentes competências, pois
Para a ciência, entretanto, a melhoria das performances não é o objetivo inicial, posto
que implica o controle sobre todas as variáveis do sistema, o que descobertas como
variáveis envolvidas.
(op. cit.) e Rouanet (op. cit.) − e, de certa forma, Santos (op. cit.) − que enxergam um
Lyotard (op. cit.) destaca ainda que a sociedade é formada por inúmeras e
todos os tipos de jogos de linguagem envolvidos, que seja passível de consenso entre
acessibilidade das informações, que irá definir o tipo de estrutura social adequada. O
contribuiria para uma reforma nas relações sociais, caso o acesso às informações
fosse igual para todos, o que é desmentido pela prática que se percebe nas
qual discurso este poder será legitimado. Atualmente, a resposta tem sido o discurso
esta é uma construção histórica, não possui fundamento epistemológico ou lógico fora
conhecimento.
Lyotard conclui, então, que o dissenso é a melhor forma de ação, uma vez que
específicos, capazes de compor visão mais ampla, liberta dos limites das idéias
Giroux (op. cit.), por exemplo − está intimamente relacionada a mudanças políticas e
variáveis locais, e não mais fórmulas rígidas de ação. Entretanto, mesmo esta
modernidade, intensifica-se, fato tido como irreversível, pois “não se vê que outra
sociedade, a questão principal não sendo mais a busca da verdade, mas a melhoria
pelo paradigma vigente − muda com a transformação cultural pós-moderna, uma vez
que todo o saber deve ser representável como quantidades de informação. Orientado
projeto conceitual pós-moderno, mas análise das condições existentes, ainda que
mas chegou o momento de produzir outra forma de senso comum, talvez baseada em
novos princípios éticos e morais que não estejam ligados apenas à tradição, mas às
reais necessidades humanas, uma vez que o progresso tecnológico não cumpriu seus
objetivos iniciais.
consecução de suas diferentes metas, posto que somente algumas delas adequavam-
80
se a esta prática; às demais não era dada nem mesmo a possibilidade de existência,
sujeito e o mundo em que vive. Para que possa enxergar este mundo como um todo,
após afirmação desta realidade, com a perspectiva de um sujeito nela inserido, ainda
possa alcançar o equilíbrio desejado. Este equilíbrio não implica uma só teoria
e identificar sua origem, que são, nas palavras de Santos (op. cit., p. 320-321):
sobre a essência das coisas, o “imutável” que buscava Baudelaire (op. cit.) sob o
Cada vez mais os signos externos, como roupas, carros ou telefones móveis, são
permanência é essencial para que o homem possa situar-se no mundo, o que é dado
enraizamento na vida cotidiana” (p. 65), que o diferencia do projeto moderno; antes
individual. Sendo assim, não é possível elaborar projeto a longo prazo que
hábitos; ainda que estes sejam, muitas vezes, condicionados pela massificação
deixando-as ao ensejo de lances em um jogo sem regras fixas − como afirma Lyotard
(op. cit.) −, o que permite que se concretizem, ainda, práticas de dominação baseadas
teoria social que dê conta dos problemas não solucionados, ou mesmo criados, pela
hegemonia sempre foi possível, o que não significa que deverá ser assim também no
futuro. Assmann (op. cit.) alerta, entretanto, para o cuidado a ser tomado quando da
definição dos limites e centro da nova teoria, embora concorde com Santos quanto à
Uma face das mudanças que vêm ocorrendo nas relações sociais é a emergência
de bairro, ou de uma cidade, que lutam pela melhoria das condições de vida no seu
unidos por origem comum. Este é o caminho inverso ao que propunha o projeto da
mundial. Trata-se, assim, da afirmação das diferenças como ponto de união entre os
implantar por toda a parte. É importante notar, entretanto, que a simples afirmação da
85
diferença não implica real democratização do seu direito de expressão. Elas podem vir
integração solidária − ressalva feita por autores que defendem o ideal moderno da
universalidade, como Rouanet (op. cit.) −, assim como podem mascarar as relações
de dominação que continuam a existir. Não existe “nenhum espaço puro” (GIROUX,
op. cit., p. 57) no qual todas as vozes tenham mesmo peso, capacidade e vontade de
externa a eles.
caracterizam-se por lutarem pela emancipação pessoal, social e cultural, mais do que
pela política. Não se trata mais apenas de lutas de classe, ou de diferenças entre
nas relações sociais e na qualidade de vida para todos. Daí a preocupação com o
emancipação que não seja mais que o efeito teórico das duas
assegurado, ainda mais, quando se percebe que os indivíduos têm sua subjetividade
facetada, ou seja, a cada momento da vida interagem com sujeitos sociais diferentes,
op. cit., p. 58). Sob outro aspecto, a importância da linguagem também é explicada
perda do referencial exterior, que legitima as ações, exige a adoção de algum novo
conjunto de regras ou modelos para orientação dos indivíduos. A saída apontada por
87
Santos (op. cit.) para a superação desta angústia é a educação dos desejos: aprender
a não desejar o possível apenas por esta sua condição − a mesma tendência que leva
Esta utopia não seria irrealista e irrealizável, mas compreenderia o uso da imaginação
para enxergar o que não existe a partir do existente, e a forma de realizá-lo. A utopia
parte, assim, do real e o transcende. Kujawski (op. cit.) contribui para esta discussão
perspectiva, pois
Todas têm pontos falhos quanto à sua legitimação, decorrentes da própria forma
possa pensar o futuro. Aquele que pensa alternativas não está inerte e conformado
88
com a situação atual, nem preso a costumes arraigados. A pós-modernidade deve ser
composta, necessariamente, destes dois aspectos, para que apresente chance efetiva
de emancipação humana.
O vínculo moderno com a utopia deve agora ser substituído por uma razão
9. Repensando a Educação
maneira geral, incidem sobre alguns aspectos recorrentes, como será visto adiante. A
por sua dificuldade em apoiar alguma ação concreta, que é sempre objetivo da
preencher de forma aceitável seus papéis nos postos pragmáticos exigidos por suas
afirma que sua preocupação principal é a de “permitir que [sua] luz natural possa ser
Alguns autores, como Giroux (op. cit.), McLaren (op. cit.) e Silva (op. cit.) buscam
crítica pós-moderna está em que ela “assinala uma desordem profunda do moderno
92
caos” (KIZILTAN, 1993, p. 212). De todo modo, para a elaboração de uma teoria
conhecimento específico, quanto em sua função básica ligada à formação dos novos
prática educacional, sem a qual ela torna-se vazia de significado e sujeita à descrença
cotidianas.
mulher, etc., suscitam questões que vão além do âmbito meramente metodológico,
campo deve contemplar a análise das tensões que permeiam o processo educacional,
p. 97):
• singular/universal;
• disciplinar/transdisciplinar;
• quantidade/qualidade.”
conteúdos em oposição ao aprender a aprender, também citado por Demo (op. cit.).
além da Política; sem esquecer da forte vocação ética que possui, advinda de seu
prática cultural faz-se necessária para que os educadores não percam de vista essas
poder” (MCLAREN, op. cit., p. 24) aparece como conseqüência da discussão sobre a
práticas culturais da atualidade. Nesse sentido, destaca algumas das críticas ditadas
avaliado segundo modelo único, e sem validade quando aplicado sobre minorias com
comparativo que permita rejeitar as relações de dominação por uma outra situação
mais democrática.
crença de que a percepção dos indivíduos constitui a realidade, deste modo, não
existe posição exterior na qual as concepções ideológicas não atuem também como
significados também não são fixos, mas construídos pelas relações entre os
abrangente.
valorizar as culturas de minorias e a cultura popular. Esta última não é vista mais
como uma degradação da alta cultura, mas como aspecto válido de manifestação
dos conteúdos educacionais. Por outro lado, pode permitir a elaboração de propostas
realidade alertam não só para o modo como são definidos os conteúdos, mas também
até então, admitia-se apenas duas condições: o sujeito alienado e aquele que já havia
alcançado o pleno desenvolvimento e detinha nas mãos o poder para decidir seu
destino. Este sujeito torna-se fragmentado, incapaz de manter visão lúcida sobre
conscientizar os estudantes não faz mais sentido quando não existe o estado
o saber, e o alienado, que deve ser guiado pelos primeiros. Mas, por outro lado,
conhecimento frente aos demais, e eliminar a posição privilegiada dos que têm acesso
98
sociais. A elaboração dos discursos é feita por indivíduos que são, eles próprios,
característica, qualquer que seja sua origem, em detrimento de outras. Não se trata,
por exemplo, de admitir a existência de grupos sociais formados por negros, mulheres
indivíduo pode ser negro e mulher, branco e imigrante, sem que uma sua
A negação das metanarrativas por parte dos pós-modernos pode resultar, ainda,
de embasamento teórico para adquirir a confiança de que suas ações terão efeito
positivo, assim como requerem orientação prática para o exercício de sua função; e
estão a todo momento realizando escolhas que irão influenciar sua prática.
100
pedagógica que contribua para a emancipação dos indivíduos, uma vez que este é um
valor universal e, portanto, alvo de desconfiança. Sendo assim, não existe base para a
definição das ações educativas, nem mesmo para a definição dos currículos mais
intelectuais de pesquisa” (BEYER, 1993, p. 77) que impedem a ação conjunta sobre a
opressiva. Os educadores devem buscar uma teoria que prepare os estudantes para a
vez, pressupõem algum tipo de metanarrativa ou valor global. Portanto, a opção pela
moral da injustiça e da desigualdade” (BEYER, op. cit., p. 95). Entre os autores pós-
modernos, alguns ainda defendem o resgate da crença no futuro, na utopia (ver item
universais.
percepção que os sujeitos têm dela, as estruturas sociais nas quais eles se inserem
Toda vez que, na pós-modernidade, tenta-se elaborar uma forma de ação concreta,
legitimação, uma vez que todos são igualmente válidos. Deve ser considerado ainda
Criar espaço para que as vozes até então silenciadas possam se expressar é válido
porém não suficiente, pois se forem isoladas em grupos locais, estará sendo
em vista do qual a teoria educativa será elaborada e sua prática exercida. Este
pensamento sinaliza, ainda, que a busca pelo entendimento deve ser constante e as
vida aparece como a base para qualquer prática educacional efetiva. O objetivo
discernimento para realizar suas próprias escolhas éticas, sem as quais aquelas
virtudes não teriam sentido, ou como afirma Cherryholmes (op. cit., p. 144): “existem
formas melhores e formas piores para empreender qualquer projeto”. Para McLaren
seguindo Welch (1990), que ela é a base necessária para construí-lo, assim como
esperanças, uma vez que dependem tanto de fatores externos quanto de uma
Burbules e Rice (op. cit.) apresentam, ainda, o argumento de que toda diferença é
diferença entre um corvo e uma escrivaninha" (BURBULES, op. cit., p. 186). Vão mais
“precisamos também ser diferentes o suficiente para fazer com que o diálogo valha a
momentos anteriores. Esta posição não deve implicar, entretanto, que todos os
diferentes grupos.
das culturas diversas, é razoável supor que o diálogo não atingirá igualmente todos os
membros dos diversos grupos, mas que a tradição de isolamento pode agir de forma
respeito a todos. É necessário, então, que ao menos alguns indivíduos de cada grupo
que se notar ainda que as experiências pessoais de vida são determinantes para o
107
idéias que levam para o espaço de discussão. Considerando este espaço como a sala
também destas atitudes, repensando o papel autoritário que tem representado por
muitos séculos.
Outro fato relevante, diz respeito à interação entre os diferentes grupos, uma vez
“nem todas as vozes são igualmente válidas” (BURBULES, op. cit., p. 33), mas devem
escolha ética que irá limitar o tipo de discurso aceito, sendo recusados os que se
Não é válido, também, supor que a prática do diálogo, por si só, resultará sempre
que esta prática possui, entretanto, dois objetivos principais: criar linguagem comum
sobre a qual estabelecer relações e criar níveis de tolerância mais altos que permitam
dominação cultural. A escola pode vir a ser o ambiente mais favorável para a tentativa
de diálogo, uma vez que uma de suas funções básicas é a de produzir e investigar
têm oportunidade de aprender” (op. cit., p. 145) e que faz com que “nossa atenção
seja dirigida para um objeto e afastada de outros (ibid., p. 146). Esta definição implica
O currículo define não só o que o estudante deve aprender, mas também limita o
qual estão inseridas os princípios e valores que deverão nortear o processo de ensino-
tendo determinado a orientação a seguir, fixada pelas escolhas sociais, “tudo podia
ser arranjado, dos objetivos à avaliação” (ibid., p. 157). Sob essa perspectiva, a crítica
estritamente educacional.
110
críticos quanto às afirmações que fazem com respeito à verdade e aos fatos; desde o
momento em que elaboram os planos para a educação, até o de contato mais direto
influência das formas de dominação existentes na sociedade, nem garante, por si só,
hábito de imposição cultural, por parte dos indivíduos responsáveis pela prática
nos educadores.
esta questão não se coloca, pois não existe verdade a ser alcançada pela
de valores e métodos de ação mais gerais, que afetem não somente a prática
Até hoje, a conexão próxima da educação com outras relações sociais, como as
item a seguir.
outro lado, que o faça bem, com uma boa relação entre o uso
Assmann (op. cit.) relaciona esta busca da qualidade com uma nova “utopização das
por si mesma, apenas no ponto em que pode mascarar a realidade das desigualdades
sociais. Afirma ainda que o termo qualidade não é uma novidade criada pelos novos
mas também na Europa e nos Estados Unidos. Assmann (op. cit.) ao comentar o
Plano Nacional de Educação proposto nos Estados Unidos no início da década de 80,
afirma: “As linhas mestras da cruzada estão claras desde o início: recuperar o atraso,
Este tipo de educação deve privilegiar o caráter instrutivo mais que o formativo do
educando; e é este ponto mesmo, o alvo de críticas por parte daqueles que defendem
como uma forma de adequação entre o homem e o meio em que vive, que é,
moderno’ é ser capaz de dialogar com a realidade, inserindo-se nela como sujeito
outras áreas, é que visam sempre ao engajamento de diversos grupos sociais, assim
todo momento que sua preocupação maior é investir no ser humano, com vistas a
indireta:
(ibid., p. 24). Sob este enfoque, a educação assume o papel de contribuir para a
especialização.
critérios entretanto deve ser bem definida, e deve estar de acordo com metas gerais
modernista, porque de novo entraríamos nesse processo como objetos” (DEMO, op.
sociedade. Esta educação básica em Demo (op. cit.) identifica-se com um saber
estratégico “de teor interdisciplinar” (p. 30). A preocupação com a qualidade educativa
uso das informações a que têm acesso. Para este fim, torna-se também necessário
questionamento visa definir o que se entende como melhoria nas condições de vida, e
qualquer outra nova orientação paradigmática que se resolva adotar. Este ideal não
116
deverá mais ser construído abstratamente por alguns indivíduos em nome de uma
pela perda de um fundamento único para as idéias e ações, Garcia (op. cit.)
questiona:
novamente a realidade, que era dada como fixa, em busca de novas idéias, num
mesmo autor afirma que a própria alegria da vida advém desta possibilidade de
argumento que apresenta para os que se sentem tolhidos pela ausência de teorias
fundamentais, e a usam como motivo para evitar a ação é que “escolher é sempre um
risco” (p. 62) e “nada nos assegura o resultado do caminho escolhido que, só
de que as escolhas feitas com base em certezas radicais sejam melhores ou mais
social, sob qualquer aspecto, é definido por Assmann (op. cit., p. 1):
problematização complexa.”
na época atual. A formulação deste plano deveria ser flexível o suficiente para permitir
na própria ação. Ousar agir na tentativa de construção de uma sociedade que respeite
alguns valores básicos — como justiça e igualdade — e manter a mente aberta para
ouvir novas e diferentes idéias. E para enfrentar as diferenças que dificultam a relação
com o outro, a prática educativa deverá ser mediada por ações políticas, não no
a negociação.
Conclusão
A investigação sobre as condições crísicas das sociedades modernas, com vistas
por descrença radical, percebida nas relações sociais através da violência e da quebra
atualmente e que mais mudanças tem provocado. O niilismo desta posição, que veio a
provocar paralisia de vontade e de ação, foi denunciado como apenas uma das
reações à nova estrutura social, que não é desejada por aqueles que procuram ainda
conceitos e hábitos culturais que formam as sociedades. Esta reflexão, aponta ainda
que seguem.
embora não tenha resultado, ainda, em teoria alternativa. Entretanto, alguns autores
ressaltar seus aspectos mais positivos, que contribuem para a reformulação da teoria
e prática educativas. Esta leitura reavalia o sentido mais amplo das metaprescrições
atual.
das diferenças sociais que dificultam o convívio entre culturas diversas. Certamente,
para que seus objetivos sejam cumpridos, é necessária a adoção de alguns princípios
valorização do diálogo.
nas relações sociais modernas, assim como os motivos que levaram ao não
cumprimento de suas metas iniciais. E devem ser usadas para propor situação nova,
120
sociais. Acreditar que a mudança é possível e agir nesse sentido, é a única maneira
de garantir que ela ocorra, seguindo os princípios que forem definidos para legitimar o
homens quiserem guiar suas ações no sentido desejado, e não mais adotar a atitude
ainda seja possível. Este estudo propôs-se a contribuir com reflexões sobre a
correlação entre os diversos fatores que devem ser considerados para que um plano
educacional que vise atender às variáveis das demandas sociais implica pensar o
Ainda resta definir e fundamentar esses princípios, assim como elaborar o novo
sucesso. Este último é, na verdade, o ponto de mais difícil realização até hoje, uma
enriquecimento.
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