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O trabalho infantil no Nordeste brasileiro e sua relação com

as convenções 138 e 182 da OIT – Organização Internacional


do Trabalho.

Jodelse Dias Duarte1

RESUMO
O artigo aqui apresentado visa demonstrar sucintamente como se processa a
exploração de crianças e adolescentes no Nordeste brasileiro, em face à condição de
miserabilidade em que vive o povo nordestino e a falta de perspectivas de qualidade de
vida melhor, baseando-se principalmente nas Convenções Nº.138 e 182 da OIT e suas
relações com as condições de trabalho infantil na Região Nordeste do Brasil, com vistas à
total abolição do trabalho infantil, em todas as suas formas e meios.

Palavras-chave: Exploração. Abolição. Proibição. Trabalho infantil. Nordeste brasileiro. OIT.

ABSTRACT
The article here presented seeks to demonstrate succinctly as it is processed the
children's exploration and adolescents in the Brazilian Northeast, in face to the
miserableness condition in that lives the Northeastern people and the lack of
perspectives of quality of better life, basing mainly on the Conventions Nº.138 and 182
of OIT and their relationships with the conditions of infantile work in the Northeast
Area of Brazil, with views to total abolition of the infantile work, in all their forms and
means.

Key Words: Exploration. Abolition. Prohibition. Infantile work. Brazilian northeast.


OIT.

INTRODUÇÃO

Em meados do séc. XIX, com o advento da industrialização nas fábricas inglesas tornou
desnecessário o emprego da força muscular para a produção industrial, abrindo a
possibilidade de uso de mão-de-obra feminina e infantil. A necessidade de trabalhar
passou a ocupar o tempo do brinquedo e do trabalho doméstico livre.
A situação da exploração do trabalho infantil era de tal gravidade em meados do séc.
XIX, que, era empregado o trabalho de cerca de 30 000 crianças, só nas manufaturas
metalúrgicas em Birmingham, Inglaterra.

1
Pedagogo, Especialista, Bacharelando em Direito – UNEB - Campus XV. jodelsedireito@gmail.com
Empregavam-se crianças de 6 e até de 4 anos, ocupadas pelo mesmo número de horas
dos adultos ou mais, nas olarias da Grã-Bretanha, pelos idos de 1866 com uma
exaustiva jornada de trabalho que durava das 5 horas da manhã até às 8 horas da noite.
A mão-de-obra feminina e infantil, era preferida pelos patrões porque, além de ser mais
barata, não reclamava tanto pelos seus direitos. A dureza do trabalho, aliada à má
alimentação e ao próprio local ser sujo, barulhento e cansativo, facilmente as crianças
adoeciam e se espalhavam doenças entre elas.
Eça de Queiroz fez essa observação sobre o trabalho infantil em Portugal “A criança de
sete a dez anos já conduz os bois, guarda o gado, apanha a lenha, acarreta, sacha,
colabora na lavoura. Tem a altura de uma enxada e a utilidade de um homem. Sai de
madrugada e volta à noite” 2.
No Brasil, não obstante o Século XIX não ter sido uma época de grande
desenvolvimento industrial, como na Europa, a mão de obra infantil era largamente
utilizada na lavoura e no comércio. No século XX, quando começou a se desenvolver o
parque industrial brasileiro, as condições não eram tão diferentes quanto na Europa.
Ainda assim, herdamos essa característica funesta, que ainda prevalece não só nas
grandes cidades, mas pelos rincões do Brasil afora, principalmente na Região Nordeste.

CAPÍTULO 1: O TRABALHO INFANTIL NO NORDESTE BRASILEIRO E


SUA RELAÇÃO COM AS CONVENÇÕES 138 E 182 DA OIT –
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

1.1 Considerações gerais sobre a Convenção Nº. 138 da OIT

Visando a total abolição do trabalho infantil em diversos seguimentos operacionais na


cidade, no campo e no mar, a Conferência Geral da Organização Internacional do
Trabalho, convencionou que essas proposições se revestissem da forma de uma
convenção internacional, a ser adotada pelos países membros, ficou então, essa
convenção com a seguinte redação em seu Artigo 2°,
“Todo Estado-membro que ratificar esta Convenção especificará, em declaração
anexa à sua ratificação, uma idade mínima para admissão a emprego ou trabalho em
seu território e em meios de transporte registrados em seu território; ressalvado o
disposto nos artigos 4º a 8º desta Convenção, nenhuma pessoa com idade inferior a
essa idade será admitida a emprego ou trabalho em qualquer ocupação” 3.

2
Obras de Eça de Queiroz, vol. III, Lello e Irmão-Editores, Porto, Portugal, 1958.
3
http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_138.pdf. Acesso em 21.09.2009
A idade a que se refere este artigo está explicitada no Artigo 3º da referida convenção,
onde
“Não será inferior a dezoito anos a idade mínima para admissão a qualquer
tipo de emprego ou trabalho que, por sua natureza ou circunstância em que é
executado, possa prejudicar a saúde, a segurança e a moral do jovem “4.

Embora exista dentro do contexto desta Convenção, situações nas quais se permite a
realização do trabalho infantil por menores de dezoito anos, a nossa Constituição
Federal, fonte normativa nacional, já dispõe em Art. 7°, XXXIII, o zelo pelas condições
em que serão aplicáveis as normas referentes ao trabalho infantil, que em sua redação
enfatiza a “proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e
de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a
partir de quatorze anos”.5
Existe em paralelo à norma geral de proibição, existe permissão excepcional para o
trabalho infantil artístico, em casos individuais, a menores de catorze anos, mediante
autorização da autoridade competente, que fixará os tipos de trabalho e suas condições
especiais.
Essa convenção foi aprovada em 27/06/1973. No Brasil, foi promulgada pelo Decreto
4.134 de 15/02/2002.

1.2 Considerações gerais sobre a Convenção Nº. 182 da OIT.

Essa convenção procura complementar os dispositivos da Convenção Nº 138, que


estabelece a idade mínima para que se possa autorizar o trabalho infantil, enfatizando,
porém, que existem formas de trabalho infantil muito piores das mais diversas possíveis
de se imaginar para uma criança; enfatiza também, a importância da educação
fundamental e gratuita e a necessidade de retirar a criança da labuta diária dessas formas
degradantes de trabalho, procurando promover sua reabilitação e integração social e,
procurar atacar o cerne maior do problema: a necessidade de suas famílias. Essa
convenção segundo a redação do seu Art. 3º, diz que,

“Para os fins desta Convenção, a expressão as piores formas de trabalho


infantil compreende:
(a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como
venda e tráfico de crianças, sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado
ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou compulsório de crianças

4
http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_138.pdf. Acesso em 21.09.2009
5
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em 21.09.2009
para serem utilizadas em conflitos armados;
(b) utilização, demanda e oferta de criança para fins de prostituição,
produção de material pornográfico ou espetáculos pornográficos;
(c) utilização, demanda e oferta de criança para atividades ilícitas,
particularmente para a produção e tráfico de drogas conforme definidos nos
tratados internacionais pertinentes;
(d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que são
executados, são susceptíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da
criança.”6

Essa convenção entrou em vigor em19 de novembro de 2000, mas, só foi no Brasil,
promulgada pelo Decreto 3.597de 12/09/20007. O Brasil, através do DECRETO Nº
6.4818, de 12 de junho de 2008, elenca 89 (oitenta e nove) formas de trabalhos
prejudiciais à saúde e à segurança e 04 (quatro) formas de trabalho prejudiciais à
moralidade das crianças.

1.3 O trabalho infantil no nordeste brasileiro

A zona rural do Nordeste é a área do país com o maior índice de trabalho infantil. No
Nordeste brasileiro, existe uma cena comum no interior das casas de produção de
farinha de mandioca, onde as famílias descascam, raspam e torram a mandioca na
maioria das vezes, com a exploração do trabalho infantil. O combate ao trabalho infantil
é para o Governo brasileiro uma questão de direitos humanos. O tema está na agenda da
política social do País, constituindo um desafio tanto para o Governo quanto para a
sociedade.
Segundo Rodrigues9, no Nordeste brasileiro, as crianças e adolescentes estão presentes
em mais de 11 atividades. Destas, a colheita da cana-de-açúcar é a principal atividade
onde o trabalho infantil está envolvido. O mesmo panorama odioso se descortina nos
sisais da Bahia; na cultura do fumo em Alagoas; na colheita da uva em Pernambuco e
Rio Grande do Norte; nas salinas do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte; nas cerâmicas
de Alagoas, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Maranhão; e nas
pedreiras de Pernambuco, Alagoas, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí.
O Governo brasileiro procura se adequar às normas referendadas na Convenção Nº.182
da OIT, envidando esforços para inserção das crianças e adolescentes em programas que
minimizem a utilização destes indivíduos na força laboral, através da implantação do
6
http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_182.pdf. Acesso em 21.09.2009.
7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6481.htm. acesso em 21.09.2009.
8
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6481.htm. Acesso em 21.09.2009.
9
RODRIGUES, João Gaspar. Trabalho infantil ou escravo? . Jus Navigandi, Teresina, ano 1, n. 6, fev.
1997. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1662. Acesso em 18.08.2009.
chamado
“ “Programa Brasil Criança Cidadã”, que é composto pelo "Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil" (PETI), este com especial atenção ao
trabalho em zonas rurais, e ao trabalho infantil executado em atividades
perigosas, penosas, insalubres ou degradantes. O PETI é um programa de
transferência direta de renda do Governo Federal para famílias de crianças e
adolescentes envolvidos no trabalho precoce e está sob a responsabilidade
do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome”10.

Outros programas do Governo de cunho social tais como o “Bolsa Escola”, e a “Bolsa
Família”, são de vital importância para a continuidade do Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil, pois sabe-se que
“O trabalho infantil teve redução entre os domicílios que recebem dinheiro
de programa social em 2006, segundo mostra o suplemento da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgado hoje pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as pessoas com até 17
anos de idade, a pesquisa observou que o nível de ocupação foi maior para
os domicílios em que houve recebimento de dinheiro de programa (14,4%),
contra 9,6% observado nos domicílios onde não houve recebimento. ”11

Dessa forma, observa-se claramente que o maior problema da utilização de mão de obra
infantil nos diversos seguimentos da sociedade vem realmente a ser a baixa renda das
famílias, que muitas vezes utiliza esse subterfúgio para ter ao menos um prato de
comida por dia. A situação é ainda mais gritante no Nordeste brasileiro, haja vista que
“No Brasil, em 2008, havia 92,5 milhões de pessoas com cinco anos ou mais
de idade ocupadas, destas, 4,5 milhões tinham de 5 a 17 anos de idade,
sendo 993 mil delas crianças de 5 a 13 anos. A região Nordeste apresentava
a maior proporção de pessoas de 5 a 17 anos de idade ocupadas, 12,3% (1,7
milhão).”12

Existem cidades inteiras no interior do Nordeste brasileiro, cuja renda per capita
melhorou consubstancialmente, fazendo girar a economia, que praticamente estava
estagnada pelas extremas condições de pobreza dos cidadãos.
Mesmo com a implantação desses programas de cunho social, na tentativa de
erradicação do trabalho infantil, ainda há muito que ser feito, para que esses indivíduos
sejam de fato inseridos na sociedade e para que tenham pelo menos a esperança de um
futuro melhor.

10
RIBEIRO, Gaysita Schaan. O trabalho infanto-juvenil proibido: prevenção e erradicação. Jus
Navigandi. Teresina, ano 13, n.2195.jul.2009.
Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13093. Acesso em 22.09.2009.
11
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2008/03/28/pnad_trabalho_infantil_cai_onde_ha_verba_social_12
47131.html. Acesso em 22.09.2009.
12
http://www.ecodebate.com.br/2009/09/19/pnad-2008-trabalho-infantil-diminui-mas-ainda-e-realidade-
para-993-mil-criancas-de-5-a-13-anos/. Acesso em 22.09.2009.
REFERÊNCIAS

http://www.ecodebate.com.br/2009/09/19/pnad-2008-trabalho-infantil-diminui-mas-ainda-e-realidade-
para-993-mil-criancas-de-5-a-13-anos/. Acesso em 22.09.2009.

http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_138.pdf. Acesso em 21.09.2009

http://www.oitbrasil.org.br/info/download/conv_182.pdf

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em 21.09.2009

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2008/03/28/pnad_trabalho_infantil_cai_onde_ha_verba_social_124
7131.html. Acesso em 22.09.2009.

QUEIROZ, Eça de. Obras de Eça de Queiroz, vol. III, Lello e Irmão-Editores, Porto, Portugal, 1958.

RIBEIRO, Gaysita Schaan. O trabalho infanto-juvenil proibido: prevenção e erradicação. Jus Navigandi.
Teresina, ano 13, n.2195. jul.2009. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13093.
Acesso em 22.09.2009.

RODRIGUES, João Gaspar. Trabalho infantil ou escravo? . Jus Navigandi, Teresina, ano 1, n. 6, fev.
1997. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1662. Acesso em 18.08.2009.

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