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FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET

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Escrevinhação n. 785
MISTÉRIOS QUE REVELAM A VERDADE – parte IV
Redigido em 06 de outubro de 2009, Dia de São Bruno, 27ª
Semana do Tempo Comum.

Por Dartagnan da Silva Zanela

"Se o vaso não está limpo, tudo que


nele se coloca azeda". (Horácio)

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A apresentação do menino Jesus no Templo (Lc

II, 22-40), o quarto Mistério Gozoso. O primeiro ponto que

salta as nossas vistas é a imagem do Filho do Homem ser

apresentado ao Tempo como todo reles mortal, conforme

ordena a Lei de Moises. Para uma alma incauta tal imagem

pareceria contraditória, pois, como pode o Verbo encarnado

se submeter aos desígnios das leis feitas para os homens?

Ora, por cumprir isso que Ele é quem Ele É,

visto que as grandes Verdades estão sempre de acordo com as

pequenas verdades. Se as primeiras contradizem as segundas

e vice-versa, o que temos diante de nossos olhos não são

verdades magnas e mínimas, mas sim, grandes e pequenos

engodos. E quem está sendo apresentado no Templo é o Verbo

Divino Encarnado cumprindo as pequenas verdades que foram

estabelecidas por Ele que é a Verdade.

Esse ponto que nos é revelado pelo referido

mistério é algo que literalmente ilumina a alma do homem

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contemporâneo que literalmente fez da palavra VERITAS um

sinônimo de novidade ou de concordância com os ditos

repetidos por todos, pelas multidões, como se essas

tivessem mais autoridade que a Realidade. Trocando por

miúdos, na sociedade hodierna, uma “grande verdade” para

ser aceita pela maioria deve, necessariamente, negar as

pequenas verdades que são auto-evidentes todos. Ou seja: se

o que é proclamado pelas autoridades públicas (políticas e

“científicas”) negar tudo o que sabemos, com maior

facilidade a nova tolice se afirma. Para tanto, basta

apenas que se diga que a sandice seja apresentada como uma

“verdade cientificamente comprovada” o que, em 100% dos

casos, não é verdade, não é científico e muito menos

comprovado.

Um bom exemplo disso é o trato que é dado aos

Dez Mandamentos. O Cristo não contrariou a Lei, como Ele

mesmo diz, mas sim, os realizou plenamente Nele através do

amor que realiza de maneira sublime a grande verdade

revelada pelo Verbo Encarnado e que se faz prenhe nas Leis

que, outrora, também foram reveladas por Aquele que O

enviou. Todavia, nós, homens modernos, chiques de doer,

acreditamos que elas deveriam ser revisadas por um crivo

pretensamente científico, como se esse crivo fosse superior

aos Mandamentos Divinos.

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Doravante, temos a profecia proclamada pelo

velho Simeão (Lc II, 34) que quando esteve diante do menino

afirmou que “[...] este menino está destinado à ruína e ao

reerguimento de muitos”. Bem, é isso que a Verdade, pequena

ou grande, faz com as pessoas (pequenas ou grandes). Ela é

capaz de elevar-nos quando nós tencionamos nossa alma para

se amoldar à Ela. Entretanto, quando nos fazemos obtusos,

esta nos achata por acreditarmos que nós somos maiores do

que nossas vistas estão testemunhando.

Obviamente que para podermos captar a Verdade

nós temos de, necessariamente, ter a presença de sua

semente em nós, pois, como nos ensina Frithjof Schuoun, “a

verdade absoluta coincide com a própria substância de

nosso espírito; as várias religiões atualizam

objetivamente aquilo que está contido na nossa mais

profunda subjetividade”. Porém, o contrário não apenas é

impossível, como é absurdo.

Uma metáfora que, creio eu, seja bastante

ilustrativa quanto a este ponto, é a do poeta e do louco,

que nos é apontada por Chesterton. O poeta, segundo o

referido grande escritor, é aquele que coloca a sua cabeça

no mundo. O louco, por sua deixa, é aquele que imagina

poder colocar o mundo em sua cabeça. Loucos que imaginam

poder ser os reformadores do cosmos, de toda ordem,

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tornando-as melhor por simplesmente amolda-las à sua

ignorância pessoal. Pessoas que querem reformar o mundo,

mas que são incapazes de se emendarem em suas pequenas

falhas. E é deste modo que a verdade nos arruína. É assim

que Ela revela o seu esplendor para aqueles que a negam em

sua vida e em seus corações.

Ainda, o mesmo senhor afirma-nos outra verdade

que, para aqueles que não se encontram com a alma

seccionada pela soberba, é auto-evidente. Disse-nos ele (Lc

II, 34-35): “Ele deve ser sinal de contradição. E quanto a

ti mesma, para ser espada que transpassará a tua alma.

Assim é que aparecerão em plena luz os pensamentos ocultos

no coração de muitos”.

Ora, é impossível amar a verdade e mentir ao

mesmo tempo. É impossível afirmá-la sem estar ao mesmo

tempo vivendo Nela. Cedo ou tarde Ela revela o que

realmente há em nossos corações da mesma forma que cedo ou

tarde as contradições do modo de vida de nossa sociedade se

expressam através dos fatos que invadem a janela de nossa

alma.

Porém, podemos tomar a dianteira e com o uso do

afiado fio da espada da justiça e cortar nossa alma

extirpando voluntariamente as ilusões que adotamos como

norte de nosso viver e assim, deste modo, atribuir a nós

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mesmos a devida medida da realidade que se encontra não em

nossa torpe vontade e em nossas vãs crenças, mas sim, que

se faz vivaz na Vontade de Deus que nos é apresentada

através de seu Filho Unigênito e do exemplo de todos os

Santos e Santas que, em regra, são ilustres desconhecidos

aos olhos da maioria. Infelizmente.

É no exemplo de vida e nas obras destas pessoas

e, em especial, de Nosso Senhor, que encontramos os

caminhos possíveis para nos aproximarmos do real. Para

tanto, São Tomás de Aquino nos aconselha a mantermos a

pureza de consciência, ou seja, sermos fiéis à procura pela

verdade e, nessa procura, nos aprimorarmos Nela. Além

disso, o Doutor Angélico nos admoesta a não deixarmos de

nos aplicar a oração e a amar freqüentar a nossa cela (a

solidão e o silêncio) para podermos chegar à adega da

Sabedoria. Ou você imagina que é possível contemplarmos a

Verdade estando imersos em meio à multidão ululante? Das

duas uma: ou você irá se entregar de corpo e alma as

ilusões das massas ou irá confundir essa balburdia

simpática desta multidão com a Verdade. Aliás, não é isso o

que ocorre com grande freqüência em nossa sociedade? Não é

isso que ocorre freqüentemente conosco?

No silêncio e na solidão pouco importa o que a

sociedade diz ou deixa de dizer. O que importa quando nos

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entregamos a este estado, orientados pala oração, caminhado

pela senda da procura da Verdade, é unicamente aceitarmos

que Ela, gradativamente, se realize em nós e que,

gradativamente, nos tornemos mais o que Ela nos revela do

que afirmarmos aquilo que imaginamos ser ou que

confusamente desejamos nos tornar.

E eis aí o grande sinal de contradição que se

apresenta em nós e que, sorrateiramente, insistimos em

nossos soturnos dias acobertar, alentados pela ilusão de

que nossas meias-verdade são maiores que a Verdade, não é

mesmo? Por isso, não nos esqueçamos jamais, se possível

for, que um ser humano que procura sinceramente a Verdade,

viverá uma vida humana em sua inteireza. Do contrário,

quando afirmamos nosso viver em uma meia-dúzia de meias-

verdades, vivemos apenas uma sórdida mentira. Nada mais,

nada menos que isso e, nos dois casos, diante do Real,

temos a devida medida de nossa alma, gostemos ou não da

medida que nos cabe.

[continua]

Pax et bonum
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