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Destaque Ciências da Comunicação

Alunos de Comunicação Pesquisadores da Uniube


conquistam três prêmios participam de congresso no
nacionais Divulgação
Rio de Janeiro
Estudos do curso de Comunicação Social e do Memorial
Mário Palmério foram apresentados na Intercom 2005
De redação apresentou no Fórum Nacional dos Pro-
fessores de Jornalismo, em Maceió (AL), e
O coordenador de Jornalismo da na Cátedra Unesco da Universidade Me-
Universidade de Uberaba (Uniube), Raul todista, em São Bernardo do Campo (SP), em
Osório Vargas, o professor do curso de maio. Além disso, o professor André Azevedo
Comunicação Social, André Azevedo da e a pesquisadora Cristiane Ferreira de Moura,
Fonseca, e a pesquisadora do Memorial Mário especialista em Organização de Arquivos pela
Palmério, Cristiane Ferreira de Moura, USP, apresentaram o estudo “Projeto Me-
participaram como palestrantes no 28º morial Mário Palmério: uma estratégia de
Congresso Brasileiro de Ciências da articulação entre organização de arquivo e
Comunicação, promovido pela Sociedade pesquisa biográfica” – um relato da experi-
Brasileira de Estudos ência em andamento de
Interdisciplinares da Co- estruturação do centro de
municação (Intercom). O Congresso da Intercom documentação.
congresso foi realizado é o mais importante O congresso da Inter-
entre os dias 5 e 9 de se- evento nas Ciências da com é o mais importante
Diego de Morais e o Johny Daniel foram destaque em premiação no Rio de Janeiro tembro na Universidade do evento nas Ciências da
Estado do Rio de Janeiro Comunicação no Brasil Comunicação no Brasil e
De redação o 2º lugar. O araxaense Johny Daniel, também (UERJ), na capital carioca. neste ano reuniu mais de 4
estudante do 2º período, conquistou Menção Raul Osório apresentou o trabalho “O mil estudantes, professores e pesquisadores
Dois estudantes de Comunicação Social Honrosa na categoria Humor Gráfico, lugar da oratura na revista Reportagensaio: de vários países da América do Sul. Em 2005,
da Universidade de Uberaba (Uniube) modalidade História em Quadrinhos, com o um flagrante de Folkcomunicação”, um o evento contou também com a participação
conquistaram três importantes premiações na trabalho “Simples como um sorriso”. Ambos estudo sobre narrativas orais na construção de intelectuais norte-americanos, que
12º Exposição da Pesquisa Experimental em foram orientados pelo professor André de reportagens, baseado em sua tese de travaram uma discussão acadêmica com os
Comunicação (Expocom), realizada em Azevedo da Fonseca, que também foi doutorado na USP e em sua experiência com brasileiros no 2º Colóquio Brasil-EUA de
setembro, no Campus da Universidade premiado. a revista Reportagensaio. André Azevedo da Ciências da Comunicação. Para o coor-
Estadual do Rio de janeiro (UERJ). A A coordenadora de Publicidade & Fonseca apresentou seu estudo “Jornalismo denador de Jornalismo, Raul Osório Vargas,
Expocom é promovida anualmente pela Propaganda do curso de Comunicação, Érika para a transformação: a pedagogia de Paulo a tripla presença da Uniube neste congresso
Sociedade Brasileira de Estudos Inter- Galvão Hinkle, considera que esse Freire aplicada às Diretrizes Curriculares de confirmou a relevância de Uberaba no
disciplinares da Comunicação (Intercom), e reconhecimento nacional é muito importante Comunicação Social”. Este trabalho é um cenário nacional na pesquisa em Comu-
hoje é considerada a principal premiação para o desenvolvimento do projeto prosseguimento da pesquisa que o professor nicação Social.
brasileira para distinguir os melhores pedagógico do curso. “Primeiro porque
trabalhos acadêmicos na área de Comu- percebemos que nossos alunos, desde os
nicação nas faculdades e universidades de primeiros períodos, já estão motivados e
todo o país. Neste ano, o evento recebeu mais preparados para participar de eventos desse
de 3 mil trabalhos divididos em diversas porte. Eles mostraram na prática que, sendo
modalidades e categorias. bem orientados, são capazes de superar o nível
Diego de Morais, aluno do 2º período, de qualidade de universitários de qualquer
concorreu com estudantes da PUC, da Cásper lugar do Brasil. Em segundo lugar, e isso para
Líbero, da Estácio da Sá, e conquistou o 1º nós é muito importante, a conquista do 1º
lugar na categoria Comunicação e Cidadania, lugar no Prêmio de Comunicação e Cidadania
modalidade Cinema e Vídeo, com o trabalho reforça o compromisso do curso e de toda a
“O mundo na ponta dos dedos”. Além disso, equipe de professores em investir na formação
o mesmo trabalho foi novamente premiado de profissionais atentos para a respon-
na modalidade Vídeo-minuto, conquistando sabilidade social do comunicador.”

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba (revelacao@uniube.br)

Professores Orientadores: Anderson Andreozi (anderson.andreozi@uniube.br) • André Azevedo da Fonseca (andre.azevedo@uniube.br) • Alzira Borges Silva (alzira.silva@uniube.br) • Cíntia Cerqueira Cunha
(cintia.cunha@uniube.br) • • • Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Diagramação: Gisele Barcelos • • • Coordenador da habilitação em Jornalismo: Raul Osório Vargas
(raul.vargas@uniube.br) • • • Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Érika Galvão Hinkle (erika.galvao@uniube.br) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • •
Reitor: Marcelo Palmério • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Gráfica Jornal de Uberaba • • • Fale conosco: Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - Bloco
L / Sala L18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • Tel: (34)3319-8953 • http:/www.revelacaoonline.uniube.br • • • Escreva para o painel do leitor: paineldoleitor@uniube.br
2 Outubro de 2005
Educação

Outros tempos, novos cursos,


mas e a Reforma?
Há mais de 50 anos discute-se a Reforma Universitária. Mas o que realmente queremos?
Bruno Stuckert/Folha Imagem
Fábio Luís da Costa
7º período de Jornalismo

A capital não é mais carioca, o interior Cinco razões para motivar


a reforma:
não tem apenas meia duzia de faculdades
independentes. Temos uma Universidade
com mais de 35 cursos. O interior cresceu,
novos cursos foram criados, mas a tão
sonhada reforma universitária ainda não saiu
do papel. 1) Para fortalecer a Univer-
A reforma que o Ministério da Educação sidade Pública
(MEC) propõe tem, como pressuposto 2) Para impedir a mercan-
fundamental, a concepção de que a produção tilização do ensino superior
de saberes deve estar democraticamente a 3) Para garantir a qualidade
serviço do desenvolvimento de nosso país e 4) Para garantir o acesso
da inclusão social. O deputado Mário 5) Para construir a gestão
Palmério já pregava isso há anos. Para a democrática
estudante de Direito da Uniube, Juliana
Castejon, “o sistema público deve ser Outras informações no sítio
referência de qualidade em ensino, pesquisa do MEC: http:/www.mec.gov.br
e extensão”. Ela acredita que os movimentos
estudantis sempre cobraram do governo a Estudantes de várias partes do país se reuniram ano passado em Brasília para exigir a Reforma Universitária
reforma desde o processo de demo-
cratização, mas que pouca coisa - ou nada - etc.). Já nas universidades privadas, lidades e põe um freio nos reajustes feitos na por Mário Palmério há 50 anos.
mudou. estabalece um prazo mínimo para a surdina das festas de fim-de-ano. “É claro que Existe um problema originado no
Não é fácil definir um projeto que é divulgação dos reajustes, que passa de 45 para em um momento delicado como vive o país sucateamento do ensino básico público a partir
debatido há mais de 50 anos e que ganha 120 dias, nos períodos letivos. Ainda na hoje, durante esta crise política, muitas coisas de 1964, mas existe também um desafio
concretude neste momento. A nova proposta terceira versão, a UNE quer incluir a lei de ficam travadas no Congresso, mas os relativo ao número de vagas disponíveis no
vem sendo analisada desde o ano de 2002. mensalidades que garanta a negociação entre estudantes já estão nas ruas para lutar pela ensino superior. Os dois precisam ser en-
Em linhas gerais, a reforma universitária quer estudantes e mantenedoras. democracia no Brasil contra a deses- frentados, concomitantemente.
a valorização do ensino público, a re- Neste quadro, a Reforma Universitária tabilização do governo e por uma reforma Na década de 1990, o modelo im-
gulamentação do ensino privado e a cumpre agora uma “quarta” etapa: a batalha universitária com democracia e por plementado nas universidades foi justamente
democratização do acesso à universidade. A para sua aprovação, soberania”, afirma. o sucateamento da parcela pública e cres-
presidente da União Estadual dos Estudantes que também contará Luana ainda a- cimento muitas vezes desregulamentado do
em Minas (UEE/MG), Luana Bonone, com a UNE para que crescenta que “é setor privado na educação, não tendo sido
observa que “o projeto, apresentado pelo o anteprojeto seja a-
Nas universidades privadas, preciso discutir a atendidos preceitos básicos, como a qualidade
Ministério da Educação, está sendo estudado provado e que nele a terceira versão do projeto educação de forma de ensino.
entre as diversas entidades ligadas ao setor e permaneçam as pro- estabalece um prazo mínimo geral, o que não sig- Para Luana, “o atual anteprojeto de
avança em relação ao ensino superior que pos- postas encaminhadas
para a divulgação dos reajustes, nifica que projetos reforma universitária começa a construir as
suímos hoje”. pelas entidades, e específicos sejam bases, os marcos regulatórios para a retomada
A metodologia adotada pelo MEC é que não ocorra o que passa de 45 para 120 dias ruins. Pelo contrário, do papel do Estado - que se omitiu há anos -
interessante. Já saíram três versões do lobby dos donos de ao mesmo tempo em em relação à pesquisa no Brasil”.
anteprojeto de lei. Isso permitiu um diálogo universidades que que debatemos uma A proposta de reforma universitária de
extremamente frutífero com entidades como possa impedir os avanços da Reforma. reforma universitária avançada, está sendo hoje conta com elementos fundamentais, fruto
a própria União Nacional de Estudantes Patrícia Cunha, vice-presidente da UNE/ criado o Fundo de Manutenção e Desenvol- de discussões que fazem parte da história da
(UNE), a Associação Nacional dos MG, diz que “o importante agora é nos vimento da Educação Básica e de Valorização UNE, mas também atendem a demandas
Dirigentes de Instituições Federais de Ensino concentrarmos nas discussões e mobilizações dos Profissionais da Educação (Fundeb). Mas específicas e urgentes do nosso tempo. Um
Superior (Andifes), a Sociedade Brasileira para que, assim que o anteprojeto for encami- não podemos recrudescer na luta por projeto que sirva ao desenvolvimento sobe-
para o Progresso da Ciência (SBPC) e tantas nhado para discussão e votação no Congres- ampliação das vagas nas universidades rano do país tem que conter políticas de
outras. so, a nossa atuação seja efetiva para públicas, pois mesmo que todos os jovens que Estado, que sejam além dos governos, mas
A terceira versão do projeto traz avanços influenciar a aprovação”. concluem o segundo grau estivessem pron- precisa também carregar em si mais
como, por exemplo, a destinação de 9% do A presidente da UEE/MG, Luana Bonone, tos a entrar na universidade, não haveria vagas especificidades de seu tempo. Se não for
orçamento das universidades federais para diz que as medidas favorecem as mobili- para todos,” conclui Luana. Mais uma vez, assim, a reforma não atenderá aos anseios da
Assistência Estudantil (bandejão, moradia, zações contra o aumento abusivo de mensa- lamentavelmente, persiste a questão apontada sociedade brasileira.
Outubro de 2005 3
Educação

Educação também é música!


Projeto do Colégio Dr. José Ferreira desperta potencialidades dos alunos através das notas musicais
Fotos: Gisele Barcelos
Gisele Barcelos
4º período de Jornalismo

Tarde ensoladarada de 18 de agosto. Um dos


últimos ensaios antes do dia da apresentação.
Jovens músicos chegavam ao Cine Teatro Vera
Cruz com seus instrumentos em punho. Os mais
adiantados já estavam lá dentro afinando
violinos, flautas, saxofones, violoncelos e assim
por diante. Alguns alunos ensaiavam
coreografias no palco, enquanto outros corriam
de um lado para o outro e ajudavam na
organização do cenário, dos figurinos, das luzes
e do som para o musical “Oscar e Cats”, que
seria apresentado nos dias 19 e 20 de agosto.
Ao pronunciar as palavras “Começou o ensaio”,
o regente Darci Vieira exigiu o fim das
brincadeiras e a concentração dos alunos.
Este foi o terceiro espetáculo realizado pelo
Colégio Cenecista Dr. José Ferreira. O projeto
dos musicais começou em 2003, com a
montagem de “Música e Fantasia”, de temas
infantis. No ano seguinte, foi a vez de “Na magia
do cinema”, que reuniu trilhas sonoras de
grandes sucessos de bilheteria e foi apresentado
também em Unaí, Belo Horizonte e Varginha.
A coordenadora do projeto, Miriam
Morel, conhecida pelos alunos como tia
Miriam, é professora de música no José
Ferreira há cinco anos. Ela conta que sua
proposta de criar os musicais foi
imediatamente aceita e apoiada pelo diretor
Danival Roberto Alves. “Gente, espaço,
orquestra e um espelho para ensaiar as
coreografias.” Essas foram as requisições de Alunos do colégio Dr. José Ferreira apresentam montagem do espetáculo da Broadway Cats
Miriam para a implantação do projeto. Todas
foram atendidas pela direção, inclusive a aju- Porém, quando se fala em carreira Música Renato Frateschi. “Estou seguindo os grupo de pessoas tão diferentes entre si é
da para montar os cenários. Daí em diante, a profissional, nem sempre a música é bem- passos dela”, brinca o garoto. Ele toca flauta fundamental para aprender a conviver. “Vou
idéia se expandiu. vinda. O regente Darci Vieira conta que deixou transversal. Edgar não ficou preso ao projeto trabalhar com seres humanos e, pelo o que eu
Mas qual a importância desse projeto para de incentivar alunos com vocação e habilidade do colégio e atuou também em outros eventos aprendi aqui, vou lidar melhor com eles
os alunos? “É importante despertar todas as musical por causa disso. “Não é uma proibição. artísticos da cidade. quando estiver formada.” E Thiago reforça:
potencialidades que o ser humano tem. Dentre O problema é que alguns pais querem que os Já o “veterano” Thiago Vaz Cruvinel parti- “Se você não tiver um pouco de paciência,
elas, a necessidade de apresentar aquilo que filhos sejam médicos ou advogados e criam cipa dos musicais desde o começo, há três anos. não dá. Fica impossível!”. Mas mesmo com
se tem de melhor”, responde o diretor Danival certa resistência.” Mesmo assim, Miriam “Entrei porque já pensava em seguir carreira algumas briguinhas de vez em quando, eles
Alves. Os alunos também compraram a idéia. recebeu grande apoio dos pais. “Eles gostam de nessa área”, explica. Apesar da experiência, afirmam que o relacionamento do pessoal é
“Temos uma oportunidade única. São poucas ver os filhos envolvidos na parte artística da Thiago ainda sente aquele ‘friozinho na como o de uma grande família. “Fazemos
as escolas que têm um trabalho como esse no escola”, diz. barriga’ quando chega a hora da apresentação. muitos amigos novos e nos ajudamos”,
Brasil”, afirma a estudante Ana Renata Assis. E este envolvimento tem despertado o Mas isso não atrapalha: “se você não estiver completa Edgar.
No primeiro musical, Miriam contava com interesse dos jovens para profissões relacionadas nervoso, não vale a pena subir no palco”. Juliana Gomes já pensou em seguir carreira
cerca de 70 participantes. Hoje, o número à música e artes cênicas. A estudante do 3º no mundo musical, mas não acredita que daria
praticamente dobrou: são 135. Para entrar no colegial, Ana Renata Ribeiro, por exemplo, não Mais do que notas musicais certo. “É algo muito difícil. Tem que correr
projeto, basta freqüentar as aulas de música. descarta a possibilidade de fazer uma graduação O projeto não desenvolve apenas atrás e ter muita sorte também!” Mesmo assim,
No elenco, encontram-se alunos do pré-II até em música no futuro, apesar de ter escolhido habilidades vocais, instrumentais e teatrais. o tempo dedicado aos ensaios e apresentações
o 3º colegial. A professora explica que o prestar vestibular para História. Gabriela Amaral de Araújo, também no 3º não foi em vão. Ela conta que o compromisso
interesse dos alunos é incondicional: “Eles No caso de Edgar Pereira, que participa colegial e há dois anos na aula de canto, com a qualidade do espetáculo exige muita
começaram a freqüentar as aulas porque dos musicais e da orquestra há um ano, o decidiu fazer Psicologia e acredita que a responsabilidade dos alunos, que precisam
gostaram de participar do musical, não porque talento é de família. A mãe dele é professora experiência com o projeto vai ajudar na sua estar atentos e presentes aos ensaios antes de
ganhavam algo em troca”. de música no Conservatório Estadual de futura profissão. Para ela, a relação com um receber os aplausos na hora do show. Quando
4 Outubro de 2005
foi apresentado o dvd do musical Cats original, musicais, o teatro lotou e muita gente ainda
Juliana chegou a pensar que seria impossível ficou em pé. Houve até reprise, a pedido da
fazer. “Foi muito esforço. Até ensaiei em casa platéia, por causa da falta de lugares. Este ano
com a ajuda da minha irmã”, ressalta. não foi diferente: teve até gente sentada nos
Até na sala de aula houve melhoras. Isabela corredores! Mas a iniciativa de integrar canto,
Cristina Martins, há dois na aula de canto, diz dança, artes cênicas e música orquestrada é
que a música tem sido uma aliada na hora de muito mais que uma opção de lazer e cultura
estudar. “Desenvolve a coordenação e a à comunidade. A coordenadora Miriam Morel
concentração. Eu fiquei mais atenta e eu não espera incentivar outros colégios a desen-
era assim!”. Em abril, a versão online de A volver projetos semelhantes. “Isso é bom para
Folha de S. Paulo publicou o resultado de uma o crescimento da cidade.”
pesquisa feita em Barcelona que confirma a O sucesso dos musicais e dos outros
experiência de Isabela. Outros benefícios programas de incentivo à música e cultura
relacionados ao estudo da música apontados adotados pelo José Ferreira repercutiu
pela matéria são o desenvolvimento da diretamente na imagem da instituição. Miriam
memória, da percepção auditiva e raciocínio, Morel explica que, segundo o mito, a escola
além, é claro, de contribuir para aliviar tensões é muito rígida e tem padrões militares. Ela
do dia-a-dia. arrisca dizer que a mudança foi de 100% para
E os pais também reconhecem os melhor. “Muita gente fala: ‘Nossa, o Zé
benefícios trazidos pelo envolvimento dos Ferreira não era assim!’. Acredito que essa
filhos com a música na escola. Tereza Cristina foi a proposta da direção: mostrar o lado mais
Curado é mãe de Camila, Isabela e Henrique. humano da escola. Isso veio para deixar os
Os três fazem parte da orquestra e participam meninos mais felizes.”
dos musicais. Ela ressalta que além de ajudar
no processo de aprendizagem, a música Como funciona?
também é uma opção de lazer saudável. “É O elenco dos musicais conta com uma
um tempo que eles estariam na frente da TV orquestra especialmente montada para
ou fazendo outras coisas que não fossem tão acompanhar as apresentações. Miriam conta
úteis. Acho que toda escola deveria incentivar que quando decidiu fazer o primeiro
o interesse na música e esporte.” espetáculo percebeu que era necessário ter
Mas a pergunta que não quer calar é: será música ao vivo. Então, selecionou entre os
que sobra tempo para estudar? Em meio a instrumentistas da escola aqueles com maior
tantos ensaios, apresentações e viagens, nível de técnica musical.
conciliar arte com a “matemática&cia” pode Existem mais três orquestras organizadas
ser uma grande dificuldade. Tereza Curado no José Ferreira: a Filarmônica, a primeira a
diz que a rotina cansativa de ensaios não “Artistas” de todas as idades e convivem “como uma grande família” e estão prontos para dar uma ajuda ser formada, a de Cordas e a Infantil. As aulas
impede seus filhos de saírem bem na escola. de músicas, tanto de canto quanto de instru-
“Eles encontram tempo para estudar. Às as notas baixas. “Tem que ter atenção dobrada as aulas de música e ensaios, que acontecem mentos, são oferecidas pela escola sem custo
vezes, eu falo para ficarem em casa para ter nas aulas e resolver os exercícios com cuidado todos os dias em época de espetáculo. “É adicional e em turnos variados, para atender
mais tempo de terminar as tarefas, mas eles para não ficar para trás”, explica Juliana Gomes. muita dedicação. Por isso, a gente se sur- à disponibilidade dos alunos.
preferem ficar estudando até mais tarde para E se a situação se complica, resta o “jeitinho preende. Às vezes, pegamos músicas que são A agenda do grupo não pára! Existem o
não faltar ao ensaio”. Orgulhosa, a mãe elogia: brasileiro” de Ana Renata: “Com umas aulinhas tecnicamente complicadas e achamos que eles projeto Rock Songs, que já foi apresentado, e o
“Na hora da apresentação, quando vejo o de reforço aqui e ali dá para recuperar”. não vão dar conta de tocar, mas eles con- de Música Popular Brasileira, que ainda está em
resultado final, dá para ver que todo trabalho Realmente, esse jogo de cintura dos alunos seguem”, conta, entusiasmado. processo de ensaio, além dos preparativos do
valeu a pena”. é o que mais impressiona o regente Darci E todo esse esforço também cativou o musical 2006. E Miriam aposta alto dessa vez:
Os outros estudantes também afirmam que Vieira. Apesar das aulas e dos trabalhos de público de Uberaba, que tem comparecido em “Para o próximo ano, pretendo fazer alguma coisa
têm tudo sob controle e dão dicas para driblar escola, os jovens ainda arrumam tempo para peso nas apresentações. Nos dois primeiros ligada ao musical Fantasma da Ópera”.
Divulgação

Para participar dos musicais os alunos precisam participar das aulas de música Além da orquestra do musical, existem mais três na escola: a Filarmônica, a de Cordas e a Infantil

Outubro de 2005 5
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História

Discursos traduzem
Mário Palmério
Durante mais de uma década, o deputado defendeu que o progresso do Brasil
deveria ser fundamentado em uma política voltada aos interesses do interior Fotos: Arquivo Memorial Mário Palmério

Faeza Rezende Jacob nos discursos parlamentares que Palmério


4º período de Jornalismo dedicou boa parte de sua representação
parlamentar à defesa dos interesses do Triângulo
O Memorial Mário Palmério acaba de e da interiorização do desenvolvimento do Brasil.
catalogar a íntegra dos discursos que o
fundador da Uniube proferiu em seus 12 anos Reforma Universitária,
de mandato como deputado federal (de 1950 a requisito para o desenvolvimento!
1962). Esse acervo impresso foi enviado pelo Em discurso proferido no dia 15 de junho
Centro de Documentação da Câmara Federal, de 1951, na Câmara dos Deputados, Mário
em Brasília, e já foi totalmente digitado e Palmério já defendia modificações no sistema
revisado pela equipe da Universidade de educacional superior no país. Educador e fun-
Uberaba (Uniube). Segundo o coordenador do dador da Faculdade de Odontologia em Ube-
Memorial, o pesquisador e professor André raba, Palmério propunha o aumento do número
Azevedo da Fonseca, os 29 discursos são fontes de vagas nas instituições de ensino superior. “O
muito importantes número de estabeleci-
para investigar a mentos de ensino gina-
cultura política de sial, 1º e 2º ciclos, au-
Uberaba, do Triân- “Não podemos raciocinar e muito mentou consideravel-
gulo e do país na- menos legislar com a cabeça aqui no mente. Em conseqüên-
quele período. Rio de Janeiro. O problema do Rio de cia, o número de alu-
O ano de 1950 nos diplomados por
significou uma no- Janeiro não é o do interior do Brasil.” essas escolas é muito
va era política para grande. Não houve
a região do Triân- compensação nas es-
gulo Mineiro. Contrariando a tradição eleitoral colas superiores. O aumento dessas escolas, pro-
concentrada sempre nas mesmas famílias da porcionalmente às outras, não permite ainda
cidade, Mário Palmério candidatou-se a a matrícula dos alunos, cujo número foi sen-
Deputado Federal por Minas Gerais pelo Partido sivelmente elevado”, discursou.
Trabalhista Brasileiro (PTB), legenda Assim, Mário Palmério – vice-presidente da
comandada por Getúlio Vargas, e conquistou Comissão de Educação da Câmara – apresenta-
uma surpreendente vitória. va uma alteração ao projeto do deputado Celso
Certamente, devido ao seu notório interesse Peçanha. Naquela época, devido ao déficit de
por questões ligadas ao ensino, Mário Palmério vagas no ensino superior, muitos dos alunos apro-
exerceu, durante todo o seu primeiro mandato vados no vestibular em universidades públicas
na câmara dos Deputados, a Vice-Presidência não conseguiam matricular-se porque não exis-
da Comissão de Educação e Cultura. Em 1954, tiam vagas para todos. O substitutivo apresenta-
foi reeleito e passou do por Palmério pro-
a integrar a Co- punha que as escolas
missão de Orça- “O país conta com quinze mil dentistas superiores particula- Em 1951, Mário Palmério defendeu a ampliação do número de vagas nas universidades
mento e a Mesa da res que comprovas-
Câmara. Mais tarde, práticos, cuja profissão não foi regula- sem a capacidade de profissionais”, para promover o desenvolvimen- terior. “Não podemos raciocinar e muito me-
em 1958, se re- mentada, porque não existe no interior oferecer o curso fos- to da saúde do povo brasileiro. “O país conta nos legislar com a cabeça aqui no Rio de Ja-
elegeu mais uma o número de cirurgiões formados.” sem autorizadas a com cerca de dez a quinze mil dentistas práti- neiro. O problema do Rio de Janeiro não é o
vez com sua mais matricular esses alu- cos, cuja profissão não foi ainda devidamente do interior do Brasil. (...) no Triângulo Mi-
expressiva votação. nos excedentes. regulamentada, porque não existe no interior de neiro, cidades de 15, 18 e 20 mil habitantes
O deputado só abandonou o trabalho legislativo Para o deputado, o aumento do número de nossa terra o número de cirurgiões dentistas le- não têm um médico, um dentista formado.
em setembro de 1962, quando foi nomeado pelo vagas significava progresso e solução para a re- galmente formados para atender as necessida- Pergunto: vamos agora entravar a formação
presidente João Goulart para o cargo de gulamentação de profissões, como a de des da população.” profissional desses jovens que, amanhã, vão
Embaixador do Brasil no Paraguai. odontólogo. Afinal, de acordo com ele, no inte- Para o deputado, o progresso se basearia para o interior?”, indagava aos colegas de par-
Durante seus três mandatos, ficou expresso rior havia “carência, absoluta ausência, de bons em uma política voltada aos interesses do in- lamento.

6 Outubro de 2005
Triângulo:
o sonho de
um Estado
Mário Palmério foi um dos
mais fervorosos defensores
da emancipação
A paixão de Mário Palmério pelo
Triângulo Mineiro foi demonstrada
sobretudo na defesa do movimento de
emancipação da região. Em sessão realizada
na Câmara dos Deputados no dia 28 de
junho de 1951, Palmério fez questão de
começar seu discurso reafirmando sua
origem. “Devo declarar que sou triangulino,
nascido numa das cidades do Triângulo
Mineiro, ali vivo, ali exerço minha modesta
profissão de mestre-escola, ali fiz toda a
minha campanha eleitoral e estou com-
pletamente de acordo com o movimento que
se alastra hoje pelo Triângulo, visando sua
emancipação territorial.”
Durante a sessão, a principal preo-
cupação do deputado foi esclarecer as falsas
informações veiculadas sobre o movimento.
“...é um movimento sério, que já está tendo
repercussão nacional, e não é justo, e não
posso ler sem protesto os comentários da
O deputado Mário Palmério na tribuna da Câmara Federal, com Ulysses Guimarães imprensa que visam tachá-lo de ridículo e
estreitamente anti-Minas, principalmente,
quando se dá a entender que esse movi-

Impostos ilegais: mento é manobrado por certo setor da


economia paulista.”
Palmério chegou a ter opositores à sua

que estado é esse? opinião. Porém, os argumentos contrários


serviram como estímulo para uma defesa
mais apaixonada do movimento. “...o nobre
Deputado Rondon Pacheco (...) se coloca
Em discurso na Câmara, Palmério criticou duramente a arbitrariedade do governo mineiro pela permanência do Triângulo como região
mineira; eu me coloco como defensor da
Em discurso proferido no dia 25 de abril de ção dos postos fiscais e nos processos violentos do atual Governo do Estado e o responsabili- criação de um novo Estado no país, estado
1952, Palmério registrou um protesto contra e ilegais na taxação e cobrança dos impostos, zando pela intranqüilidade e violências que têm esse previsto e defendido pelo Conselho
impostos que, para ele, foram instituídos ile- Palmério manifestou sua reclamação: “Decla- lugar, hoje, nas cidades do Triângulo. O povo Nacional de Geografia e Estatística e que é
galmente pelo governo mineiro. “O senhor se- ro, desta tribuna, que estou, como representan- quer trabalhar, quer produzir, quer progredir, o movimento defendido por uma verdadeira
cretário de Finanças de te do povo do Triângu- quer justiça para poder gozar de tranqüilidade elite de patriotas e pela grande maioria dos
Minas Gerais mandou ins- lo, inteiramente solidá- (...) Não foge ao pagamento de impostos justos meus coestadoanos do Triângulo Mineiro.”
talar, nas entradas e saídas “Dêem-nos luz, água, esgotos, rio com o povo de mi- e razoáveis. Sempre os pagou. O que não quer O movimento existia há mais de 60
daquelas cidades, postos nha terra, revoltado é porteiras e soldados entravando o seu traba- anos, segundo o deputado, e era comple-
fiscais, com a incumbên- escolas, hospitais para as nossas com o procedimento lho, tomando o seu tempo e praticando violên- tamente lícito, pois estava amparado em
cia de taxar mercadorias, cidades e todos pagaremos injusto, com o procedi- cias.” dispositivos constitucionais que permitiam
examinando, rigorosa- impostos com prazer” mento nefasto do Go- Mário Palmério exigia melhor aplicação aos Estados se desmembrarem, se anexarem
mente, todo e qualquer verno do Estado contra dos recursos. “Dêem-nos luz, água, esgotos, e criarem novos territórios. Conforme
veículo que por ali transi- o povo daquela re- escolas, hospitais para as nossas cidades e todos argumentava, a emancipação visava, acima
te.” Ou seja, para um fazendeiro levar um saco gião”. Naquela época, o governador de Minas pagaremos impostos com prazer.” E mais uma de tudo, o bem do Brasil. “(...) novamente,
de sal até uma outra fazenda, era necessário o Gerais era Juscelino Kubitschek. vez, demonstrou apoio aos seus conterrâneos. minha profissão de fé em favor do
pagamento de impostos. Contra a arbitrariedade do então governo “Assim o digo, porque sei que este é o meu movimento pró-emancipação do Triângulo
Indignado com o silêncio do governo mi- do Estado, como dizia o deputado, estavam to- dever, o dever de estar com o meu povo nas Mineiro e pela criação de um novo Estado
neiro e com o agravamento da vigilância poli- dos os representantes da região triangulina. suas horas cruciais e não apenas quando vou na Federação Brasileira.”
cial que, para o deputado, insistia na manuten- “Reiterando o nosso protesto contra a violência lhe pedir os seus votos.”

Outubro de 2005 3
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História Fotos: Acervo Memorial Mário Palmério

Mais uma revolta contra


a violência do Estado
Em discursos na Câmara, Palmério indignou-se contra a
brutalidade das forças policiais, elogiou a imprensa e
defendeu a interiorização das políticas de desenvolvimento
O parlamento foi palco para a representação dos seus faros de civilização. Briosos, os
da revolta pessoal de Mário Palmério e da so- filhos do Triângulo, já cansados de violências
ciedade uberabense perante “distúrbios gravís- policias, fica aqui, Sr. Presidente, mais esse
simos” que ocorreram na cidade em 1952. meu protesto que é, também, uma advertência
Em discurso no dia 9 de dezembro, às altas autoridades policiais em Minas
Palmério relatou o que havia ocorrido no estádio Gerais.”
Dal. Sacchi, no domingo que antecedera aquela
data, durante uma importante partida de futebol. Imprensa, uma aliada do povo
“Repentinamente, sem a menor justificativa, O grande trabalho que a imprensa estava
numerosos policiais, tanto da polícia militar, fazendo para o benefício da população foi
como da civil, investiram contra a multidão exaltado em discurso publicado no dia 14 de
armados de ‘casse-têtes’, sabres e pistolas, numa dezembro de 1952. Palmério, que não
indescritível agressão, comparecia às
ferindo numerosas reuniões há alguns
pessoas, entre as quais “O povo uberabense se sente dias, estava ocupado
podem se contar se- com os vários muni-
nhoras e crianças”. profundamente ferido em seus cípios da região
A principal vítima mais legítimos e sagrados direitos” triangulina. Durante
desse dia tumultuado esse tempo, entre
foi o locutor esportivo suas viagens pela
que, no momento da agressão, narrava a par- região, percebeu que a divulgação do rádio
tida: Ataliba Guaritá Neto. “Pessoa das mais estava se tornando cada dia mais extensa e pro-
categorizadas, pois trata-se de ilustre vereador funda. “(...) a Rádio Tupi do Rio de Janeiro
à Câmara Municipal”, declarou. vem realizando um notável serviço de
Segundo Palmério, a revolta se generalizou divulgação dos nossos trabalhos, numa cola-
por toda a cidade de Uberaba por intermédio da boração conosco por todos os títulos louváveis
imprensa e de associações. “Até quando e que deve merecer o nosso reconhecimento.”
continuará a polícia do governo mineiro a Naquela época, começaram a ser transmi-
espancar o povo?”, provoca o deputado. Mais tidos, com grande destaque, todos os debates Palmério mostrou indignação contra a agressão policial ao jornalista Ataliba Guaritá Neto
uma vez, Palmério criticou o governo de JK. realizados no plenário sobre os assuntos que
Nesse mesmo dia, fez questão de mostrar despertavam interesse nacional. “Reputo vital Rumo ao interior... testemunhar nosso inarrável júbilo pela
que seu protesto já tinha começado, antes para o regime essa identificação do Povo com E assim o Brasil cresce! consumação de Brasília! Todos os problemas
mesmo daquela sessão. Ele leu os telegramas o Parlamento. Vital, Sr. Presidente, porque Para Mário Palmério, o crescimento do fundamentais, quase todos (...), estão
que havia enviado ao governador do Estado de mostra à Nação o que realmente aqui fizemos, Brasil dependia da valorização das políticas resolvidos. E, para isso, bastou a realização
Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, e ao o trabalho que realizamos, o esforço que voltadas ao interior do país. Ele defendia que de Brasília”, disse, visivelmente deslumbrado,
ministro da Justiça, Negrão de Lima, infor- despendemos em benefício do progresso do a mudança da Capital Federal para Goiás em discurso na Câmara, no dia 1º de maio de
mando e lamentando o “inominável atentado.” país e do bem-estar do povo. E o povo vai favoreceria uma gestão administrativa 1960.
Os recados transmitiram a revolta da população fazendo uma apreciação mais fiel de seus compatível com as necessidades do Brasil Brasília seria oficialmente inaugurada
de Uberaba, “(...) povo uberabense se sente pro- representantes, vai conhecendo-os melhor e, Central, sobretudo em relação aos problemas apenas no dia 21 de maio, quando os Três
fundamente ferido em seus mais legítimos e conse qüência, vai-nos julgando com básicos que impediam o progresso do país, Poderes da República se instalaram simulta-
sagrados direitos de serenidade e com justiça.” como o aproveitamento neamente em Brasília.
segurança liberdade Reinvidicando falar “em do potencial hidrelétrico e No entanto, as festi-
individual (...)”. “Até quando, continuará a nome do povo, pelo serviço o desenvolvimento do Assim que foi concluída vidades da inauguração
Palmério cobrou a ele prestado, e do parla- transporte através do in- já ocorriam desde o dia
atitude por parte das polícia do governo mineiro mento”, Mário Palmério, vestimento em ferrovias, a criação de Brasília, 20 de abril. A nova
autoridades federais e a espancar o povo?” ainda nessa sessão, agradeceu rodovias e linhas aéreas. o deputado parabenizou JK capital, para Palmério, já
estaduais. “Exijo do à imprensa e ressaltou a Assim que foi começava responder à
Sr. Presidente, do Sr. importância desse trabalho. concluída a criação de principal dificuldade
Governador de Minas Gerais, a abertura de “... a Rádio Tupi do Rio de Janeiro e os Brasília, o entusiasmado deputado fez questão do país: a ocupação do território brasileiro.
um imediato e rigoroso inquérito, a fim de jornalistas que organizam esse programa de de parabenizar o presidente Juscelino “Quando aluno da Escola Superior de
que sejam severamente punidos os crimi- difusão merecem os nossos aplausos porque Kubitschek e mostrar que a medida já Guerra, e ali se discutia muitas e muitas
nosos.” E antes de finalizar o discurso, mais estão prestando um grande e relevante serviço começava a apresentar resultados positivos. vezes esse problema de interiorização da
uma vez, enalteceu o povo de Uberaba e ao povo brasileiro, ao seu Parlamento e, “Na qualidade de representante da região mais nossa Capital, tive a oportunidade de
protestou: “Represento, nesta casa, região sobretudo, ao regime.” conhecida como Brasil Central, na parte aprender que metade do Brasil é povoada e
próspera, progressista, e, sobretudo, orgulhosa referente a meu Estado, Minas Gerais, venho metade desocupada.” (F.R.J.)
8 Outubro de 2005
História
Reforma eleitoral: a base para
a consolidação da democracia
Atraso na aplicação da lei eleitoral nas cidades interioranas provocou protestos do deputado Mário Palmério
A pressão para se restabelecer a
democracia, depois da Segunda Guerra
Mundial, levou Getúlio Vargas a convocar
eleições. Devido às suspeitas de que tramava
um novo golpe, Getúlio acabou deposto. A
eleição de 1945, que elegeu Dutra como
presidente, utilizou cédulas impressas que
carregavam apenas o nome de um candidato e
eram distribuídas pelos partidos. Esse sistema
permitia fraude, mas foi somente em 1955 que
a própria Justiça Eleitoral começou a produzir
as cédulas. Começaram a constar nelas os
nomes de todos os candidatos.
Porém, em 1955, essas mudanças no
processo eleitoral só foram feitas nas capitais.
Até o ano de 1962, sete anos depois, a
implantação desse sistema não havia sido feita
no interior do país. E esse atraso na sua
aplicação nas cidades interioranas indignava
Mário Palmério, o autor de Vila dos Confins
– livro que tratava justamente de fraudes
eleitorais.
Nos meses de junho e julho de 1962,
último ano de seu mandato legislativo, pairava
na Câmara um protesto de Mário Palmério
contra essa pseudo-democracia que
caracterizava as eleições no país. “(...) tem
sido quase uma constante nas discussões desta
Casa a necessidade de se procederem, no País,
as chamadas ‘reformas de base’. Sou dos que
O deputado federal Mário Palmério não poupou críticas ao então governador do Estado de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek
entendem que só poderemos enfrentar essas
reformas de base se realizarmos, vizinho de São Paulo, de municípios como nome dos Estados que não querem aceitar essa em que se encontra o eleitor do interior de
preferencialmente, a mais importante delas: Miguelópolis, Igarapava, de pequeno discriminação, para que ou tenhamos, em votar em quem deseja, porque, isto sim, não
a reforma eleitoral.” eleitorado, que não têm o desenvolvimento 1962, a cédula individual para todo o país, o é apenas uma dificuldade, mas absoluta
As eleições não eram feitas de forma cultural e político que tem a minha cidade, que é um contra-senso, o que é uma volta a impossibilidade (...)”.
igualitária no país. E Palmério defendia que a como tem a cidade de Juiz de Fora? Como um processo reacionário e antipolítico, ou Mário Palmério dizia lutar, acima de tu-
cédula individual, que continha apenas um pode alguém que more ou seja eleitor em Juiz para todos os Estados, todas as cidades, sem do, pela democracia, para que pudessem ter,
nome de um candidato e era distribuída pelo de Fora ser tachado de analfabeto, de incapaz discriminação, a cédula única”. em todo o país, em todas as cidades brasi-
próprio partido, fosse substituída pela cédula de votar na cédula única?” Mais uma vez, Palmério resistiu à leiras, no interior, nas capitais, em qualquer
única, que continha o nome de todos os O voto, que seria o fundamental instru- oposição e manteve seu protesto. A questão Estado, sobre o mesmo processo eleitoral
candidatos e na qual o eleitor tinha que escolher mento para a democracia, havia se tornado o do transporte não era desculpa, pois as pessoas “(...) apelando no sentido de darmos a todos
o seu representante principal mecanismo para a precisavam ir até a os brasileiros, de todas
marcando um “x”. sua descrença. Segundo capital para cumprir as cidades, o mesmo di-
Inconformado Só poderemos enfrentar Palmério, o regime da cé- suas obrigações, como O voto, que seria o fundamental reito dos favelados do
com a desigual- dula individual não con- o pagamento do im-
essas reformas de base se instrumento para a democracia, Rio de Janeiro, o mes-
dade no país e com seguia evitar a influência do posto na Coletoria mo direito daqueles
a falta de demo- realizarmos a mais importante dinheiro nas campanhas Federal ou Estadual. havia se tornado o principal habitantes dos mo-
cracia, Mário Pal- delas: a reforma eleitoral eleitorais. Além disso, a “Por que esse homem mecanismo para a sua descrença cambos do Recife, o
mério constan- cédula que o eleitor recebia não pode ir de quatro mesmo direito daquela
temente indagava na fazenda simplesmente em quatro anos, numa classe de marginais que
aos seus colegas de parlamento. “Como podia ser trocada no meio do caminho. viagem apenas, à cidade para cumprir mais pulula e vive nas grandes cidades, os
podemos aceitar que uma cidade, a minha por Palmério ressaltava que “a discriminação, esse dever?” Quanto à dificuldade imposta “coloahards”, aqueles que vão votar pela cé-
exemplo, com 8 escolas superiores, com além de inteiramente inconstitucional, é por eles, “(...) eu acredito que, em se tratando dula única, enquanto nós utilizamos esse
arcebispado, com 2 Juizados de Direito, uma odiosa, injusta e inexplicável”. E fazia um de reforma, de um novo processo eleitoral, instrumento que o próprio Senado da República
cidade esclarecida, possa suportar esta apelo “... em nome de meu Estado, em nome haja efetivamente alguma dificuldade. Mas considerou superado, inadequado, e que não
discriminação, assistindo à votação, no Estado das cidades do interior do meu Estado, em eu prefiro essa dificuldade à impossibilidade atende aos interesses do País”. (F.R.J.)
Outubro de 2005 9
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Ilustração
História

Em busca da liberdade
Idealistas lutam pela emancipação do Triângulo Mineiro

Fernanda Castilho Araxá, em 1835.


6º período de Jornalismo Por volta de 1857, o povo do município
do Prata dava início a outra campanha pela
A idéia da emancipação do Triângulo separação do Triângulo e, vinte anos
Mineiro é antiga, começou em 1835 e depois, o jornalista e médico francês
permanece até hoje. O Triângulo Mineiro Henrique Raimundo de Genettes voltou a
pertencia inicialmente à província de São falar sobre isso na cidade de Uberaba. Foi
Paulo, juntamente com Minas Gerais, Paraná, nessa época que o nome dessa região, que
Mato Grosso e Goiás . era Sertão da Farinha Podre, mudou de
Em 1720, Minas Gerais se emancipou, nome e passou a se chamar Triângulo
mas o Triângulo, Go- Mineiro. Mas a ten -
i ás e Paraná con- tativa de Ge nettes
tinuaram pertencendo não deu certo por -
à proví ncia de São
A campanha de emancipação que sua esposa pou -
Paulo. Já em 1748, tomou força na década de co depois disso
Goiás também se 50, quando o deputado faleceu e ele largou
emancipou e levou tudo e se mudou
federal Mário Palmério levou
consigo o Triângulo. para Goiá s, onde Triângulo Mineiro: será que um dia a região vai se tornar um Estado independente?
Mas só em 1816, Dom o assunto para a Câmara virou padre.
João VI, a pedido de Em 1906, através Na década de 1940 , o movimento berto fez sua campanha que tinha como
um grupo de fazen- de Hidelbrando Pon- ressurgiu com o jornalista Ari de Oliveira, sloga n “Minas no Congresso”. Esse
deiros, líderes políticos e comerciantes de tes, jornalista, escritor e historiador, renasce que lançou um livro azul do Triângulo movimento foi liderado por ele e por Ney
Araxá, separou o Triângulo de Goiás e o a campanha em Uberaba e Araguari, onde se Mineiro, que continha um levantamento J u n q u e i r a , e m U b e r a b a . F o i u m
anexou a Minas Gerais. Eles alegavam que formou um partido separatista. total de tudo que havia nessa região. A movimento que tinha um projeto que
Ouro Preto, capital da época, era bem mais Treze anos depois, em 1919, o médico campanha tomou força na década de 1950, dividia o Triângulo em nove sub-regiões,
próxima do Triângulo do que de Goiás e e escritor Boulanger Pucci fundou o quando Mário Palmério, deputado federal, mas não deu certo porque foi impedido
eles tinham razão. jornal “A Separação” e reacendeu o movi- levou o assunto para a Câmara, onde pelo governador de Minas, Newton
Primeiramente, a idéia da emancipação mento. O jornal durou dois anos. Com o proferiu dircursos e publicou uma matéria Cardoso.
do triângulo foi idealizada por Fortunato seu fechamento, a tentativa da eman- nos jornais da Câmara, trabalho feito por Segundo Guido Bilharinho, para fazer
Botelho, um fazendeiro e líder político de cipação esfriou novamente. seu irmão Péricles Renato Palmério sobre uma campanha dessas, em primeiro lugar, é
a emancipação. Mas a campanha se es- preciso haver idealismo, uma coisa que falta
moreceu em 1956 , com a eleição de para os deputados da nossa região. Para ele,
Juscelino Kubitschek para presidente da a principal razão para a emancipação é que
República. o Triângulo tem singularidade própria,
No fim da década de 1960, as Asso- história própria, não é uma região mineira,
ciações Comerciais nem comercial,
de Uberaba e Uber- nem geográfica e
lândia relançaram um nem psicologi-
novo movimento. As principais justificativas camente. “Nós so-
Desta vez, um movi- para a emancipação são a mos um Estado só.
mento superor gani- singularidade e história Não oficialmente.
zado, com publica- Mas vamos ser”.
ções e reuniões em próprias do Triângulo Mineiro Hoje, existe um
congressos lideradas projeto, bem or-
pelo prefeito de Ube- ganizado, onde No-
raba, Hugo Rodrigues da Cunha , e pelo va Ponte seria a capital do Estado, por ser
polí tico Ronan Tito, em Uberlândia. uma cidade pequena, onde há um rio que
Segundo o advogado e escritor Guido imita Brasília e por ficar bem no centro
Bilharinho, Hugo tinha uma noção muito do Triângulo.Uberaba e Uberlândia se-
boa do Tri ângulo Mineiro, que é uma riam as cidades mais importantes, mais
região realmente singular, não uma região desenvolvidas do Estado. No entanto, se-
mineira. O motivo principal da eman- gundo Guido, a emancipação do Triân-
cipação era o problema com os impostos. gulo hoje é tão difícil quanto a eman-
O movimento se esvaiu mais uma vez, só cipação do Brasil, porque os interesses
que serviu para congregar as pessoas mais dominantes não abrem mão e eles usam
interessadas. de todas as armas para não deixar isso a-
O advogado e escritor Guido Bilharinho é um dos que sonham com a emancipação do Triângulo Mineiro
Em 1987, o deputado Chico Hum- contecer.

10 Outubro de 2005
LIteratura

“A língua do povo
não está nos dicionários”
Mário Palmério estudou a linguagem popular e criou um glossário para valorizar a riqueza do vocabulário sertanejo
Arquivo Memorial Mário Palmério
Erileine Rodrigues
Therani Garcia
6º período de Jornalismo

Jeitosa, prainha, traste, gozado, cacunda,


risadona. Essas são algumas das palavras que
fazem parte do vasto glossário criado por
Mário Palmério para dar significado aos
termos utilizados em seus livros. A criação
de um glossário próprio surgiu da preo-
cupação do escritor em registrar com águas naquele ponto-morto: sumidouro ocado
legitimidade a riqueza da linguagem popular: pelo puar eterno do redemoinho, traiçoeiro
“A língua do povo não está nos dicionários”, remanso de lento regirar de espuma; mas o
explicava Mário Palmério todas as vezes que melhor ponto do rio para a pesca dos grandes
era questionado sobre o glossário. peixes de couro”.
“Só o nó de porco para dar aquela graça à Ao consultarmos o glossário de Palmério,
espiralzinha caroquenta que vestia os dois encontramos palavras do nosso cotidiano que
palmos da ponta do bambu…” Quem lê esta têm significados diferentes no contexto de sua
frase de Vila dos Confins não imagina que o obra. Como, por exemplo, a palavra bacuri,
nó de porco quer dizer um nó apertado, muito que pode significar criança pequena ou peixe,
utilizado na lida com o gado. Estas cons- mas, no glossário, está definida como um tipo
truções que o escritor de palmeira encontrada
usa em seus livros faz em terras férteis.
com que o texto fique Ao consultarmos o glossário Há também a palavra
mais autêntico. de Palmério, encontramos bicha, que utilizamos no
Segundo o próprio nosso dia-a-dia com um
autor, Vila dos Confins,
palavras do nosso cotidiano sentido pejorativo e que
o seu primeiro livro, que têm significados diferentes para Mário é simples-
nasceu relatório, cres- no contexto de sua obra mente o feminino de
ceu crônica e acabou bicho: “Bem no meio da
em romance. A história noite foi que a bicha
foi assim: Mário Palmério viajou pela região saltou…e caiu sobre o jumento!”
fazendo relatórios sobre as fraudes políticas No glossário, descobrimos também palavras
que na época eram constantes. Estes relatórios que soam totalmente desconhecidas para as
chegaram até as mãos da amiga escritora atuais gerações urbanas, dentre elas, mareta:
Rachel de Queiroz, que gostou muito e os man- “Suaves, vinham chapinhar no lombo da canoa
dou para a editora José Olimpio. Nasceu então as maretas do rebojo”. O autor dá a definição
o primeiro romance de Mário Palmério. para esta palavra. Segundo seu glossário, trata-
“É uma reportagem sobre a minha se de uma pequenina ondulação superficial na
experiência eleitoral, sintetizada numa pequena água – ondinhas que se formam quando, por A elaboração do glossário fazia parte de seu cotidiano de escritor
cidade que eu chamei de ‘Vila do Confins’, onde exemplo, jogamos uma pedra em um rio.
ocorrem os acontecimentos reais de umas dez Para o autor, a dedicação em construir um
cidadezinhas. Os personagens são sempre os glossário era mais do que um trabalho: fazia
mesmos: há sempre um Dr. Paulo (deputado), parte do seu cotidiano como escritor, sendo, por
sempre há um mascate, o Xixi Piriá. O cabo isso, uma satisfação essa forma de passar para
Glossário Palmeriano
eleitoral é sempre um Pé de Meia, o turco da o papel a linguagem que fazia e faz parte do Confira alguns exemplos do glossário escrito pelo próprio escritor
venda é sempre um Jorge Turco, e o ‘coronel’ é nosso cotidiano. Além disso, trata-se de uma
Abrição – Ato de abrir boiante que se acumulam nos rebojos e
sempre um Chico Belo”, explicou Mário em opção política de valorizar a língua popular,
Cacunda - Costas margens paradas do rio.
uma das dezenas de entrevistas publicadas na denunciando o fato de que o vocabulário
Croca – Espécie de meio nó que costuma Estar no papo – Estar garantido, obter,
imprensa na década de 50, e que hoje estão autêntico e as expressões populares do sertanejo
apresentar-se nos fios de aço quando alcançar.
preservadas no centro de documentação do são rejeitados pelos dicionários de elite.
torcidos sobre si mesmo. Jaguarana – Nome indígena de onça brasileira.
Memorial Mário Palmério. O glossário de Vila dos Confins já foi
Daí – Usadíssimo como “então”. Poita – Âncora rústica, improvisada com
Durante todo o enredo de Vila dos Confis, o digitado e ordenado pela equipe do Memorial,
Desguaritar – perder-se. uma pedra amarrada a uma cedra comprida,
escritor transmite sua vivência política e brinca e, em breve, estará disponível na íntegra no
Escumarada – Espumarada, sujeira descida até o fundo do rio.
com a linguagem regionalista: “Profundas, as portal Mário Palmério.
Outubro de 2005 11
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