Do outro lado Magistério

do oceano
Renato Carreira para qualificar o ridículo de uma discussão
crítico
Newton Luís Mamede simples “robôs culturais”.
acerca dos direitos ultrajados dos pobres na- O magistério verdadeiro, real, legal e
Pediram-me para escrever um texto so- tivos despojados das suas terras feita entre A educação escolar ou a prática honesto é, acima de tudo, crítico. Crítico em
bre o modo como um português vê o Brasil os descendentes dos europeus que ficaram pedagógica institucional tem, no magistério, sentido pleno, filosófico, de questionar, de
neste ano da graça de 2002. Aceitei quase na Europa a morrer de fome e peste e os des- o seu executor, o seu elemento primordial. interrogar, de examinar, de analisar, de
sem pensar. Não é assim tão difícil. Afinal, é cendentes dos europeus que colonizaram o A ação e missão de formar o homem, de problematizar, de procurar o certo, de
o Brasil. Todos os portugueses conhecem Novo Mundo e que ocuparam a terra e ultra- conduzi-lo pela inteligência e pela destruir o erro e de construir a verdade.
bem o Brasil... ou será que não conhecem? jaram ou ajudaram a ultrajar os direitos dos consciência, constituem o núcleo do Crítico no sentido de inquirir cientificamente
As dificuldades começam na altura de pas- tais nativos. Se pensarmos nisso, faz tanto exercício do magistério, a sua essência, a sua o valor e o âmbito verdadeiro e certo do
sar os dedos sobre o teclado do computador. sentido como um debate entre os italianos e identidade. Ação e missão de formar e conhecimento. Crítico na acepção de
Por onde começar? Afinal como é que um os israelitas modernos para encontrar os res- instruir, de informar e educar. Complexo revolucionário, de subverter a ordem da
português jovem (mais ou menos) vê o “país ponsáveis pela crucificação de Cristo. trabalho de construção do homem. ignorância, da acomodação, da alienação e
irmão” no início do séc. XXI? A resposta não Pondo os laços históricos de lado para Entendido sob esse aspecto, é preciso, da injustiça, e de estabelecer o saber
é animadora. Faço um esforço para pensar o evitar polémicas inúteis, que mais sei eu do primeiro, destruir alguns mitos que envolvem intelectual, a ação fecunda, a consciência
Brasil sem os estereótipos do costume e che- Brasil? É um país grande, um dos gigantes o magistério. Ele não pode ser considerado esclarecida e a prática da justiça.
go a uma conclusão terrível. Se puser de lado do mundo, país “em vias de desenvolvimen- mera transmissão de conhecimentos, de O magistério crítico é o exercício de
o futebol, o Carnaval, a música, as novelas to”, expressão simpática para qualificar paí- informações ou de perpétuo questionar. A
(que aqui levam o pre- ses que provavelmente “curiosidades” culturais. começar pelo
fixo “tele”, não sei não se vão desenvolver Mais ainda: ele não pode Escolas não podem ser questionamento de si
porquê) o que resta? Resigno-me a aceitar a tão cedo, destino que ser entendido como estabelecimentos mesmo. De seus desvios
Resigno-me a acei- realidade de que afinal não partilha com todos os atividade comercial de
comerciais que têm,
e de seus vícios, como os
tar a realidade doloro- países que tiveram o “venda” de cultura ou de enumerados acima,
sa de que afinal não sei sei tanto acerca do Brasil azar de ser incluídos no saber. Escolas não podem nos docentes, os sobre o que não pode ser
tanto acerca do Brasil como inicialmente pensava “império português”... e ser estabelecimentos
“corretores de ensino” o magistério. E de sua
como inicialmente tem bons jogadores de comerciais que têm, nos realização ideal, de seus
pensava. Mas a culpa nem é minha. A culpa é futebol... músicos e actores de novela. E docentes, os “corretores objetivos e fins, de seu
sempre de quem manda e, se para os brasilei- pronto. Já caí no estereótipo outra vez. Mas de ensino”. E, por último, o magistério não sentido ontológico, de sua essência. O
ros, Portugal é um país algures na Europa de deve haver mais qualquer coisa. Acredito que pode ser visto como “fuga”, como trabalho magistério crítico é o eterno construir, ou o
onde vieram uns barbudos nas caravelas para sim. Por exemplo, há a simpatia que os bra- mercenário, como exercício profissional perpétuo destruir e construir. O magistério
oferecer doenças aos índios e que mais tarde sileiros têm pelos irmãos deste lado do Atlân- provisório de quem ainda está estudando em crítico não é acomodado, não se esgota,
começou a exportar padeiros com sotaques tico. Basta ver os nomes dos clubes de fute- universidade ou de quem não encontrou nunca está satisfeito com o que já fez, porque
estranhos e com bigode em vez de barba, a bol. Até têm uma Portuguesa e um Vasco da emprego noutras áreas, para as quais se seu fazer não acaba, é infinito. Por isso, ele
culpa é das autoridades portuguesas que, ape- Gama (futebol, mais uma vez) e como pro- habilitou, nem como atividade complementar é humilde. Por isso, ele é honesto. Por isso,
sar de muito falarem nisso, não fazem o mí- va uma certidão de nascimento com 500 anos de exercício profissional, para simples ele é confiável.
nimo esforço para dar a conhecer o Portugal guardada algures na cidade de Sines, não se “engorda” do orçamento. O magistério crítico não tem campo
verdadeiro aos “irmãos” dos trópicos. O mes- pode ser mais português do que Vasco da Esses mitos estragam o magistério, limitado. Vai da pré-escola à universidade,
mo se aplica se invertermos a questão. Se hoje Gama. Mas agora que penso nisso nem per- desvalorizam-no, humilham-no e da alfabetização à pós-graduação. Porque o
em dia, o português médio não hesitará em cebo porquê tanta conversa sobre o futebol descaracterizam-no. Esses mitos campeiam seu objeto é a educação plena, integral. A
apontar Betty Faria ou Lima Duarte como brasileiro. Afinal, o melhor jogador do mun- em escolas de ensino fundamental, médio e formação do homem completo. Educação e
ícones culturais brasileiros, a culpa será de do, com direito a certificado emitido pela superior, e as transformam em entidades formação que acontecem e repercutem por
quem manda no Brasil e não se preocupa em FIFA, é português e não fosse a fragilidade congêneres às de atividade comercial. Esses toda a vida.
substituir os estereótipos pela realidade. dos avançados brasileiros que caem por qual- mitos são os responsáveis pelo ensino de
Mas há sempre os laços históricos e es- quer coisinha, nós até tínhamos ganho aquele baixa qualidade, pela formação intelectual Newton Luís Mamede é Ombudsman da
ses ninguém pode negar. Nesta altura do ano bendito jogo... superficial e deficiente, pela formação de Universidade de Uberaba
fala-se muito do confronto entre adeptos do
“descobrimento” do Brasil e adeptos do Renato Carreira, 24, é um dos grandes navega-
“achamento”. Até já há quem seja adepto da dores portugueses da atualidade. Mas seus ma- ERRAMOS
“invasão” pura e simples, como pude ler num res são outros. Renato navega pela Internet e O termo heliocentrismo foi utilizado incorretamente na matéria “Cadê o Brasil (pág. 4)
artigo publicado aqui neste jornal numa edi- edita sítios hilários como o www.inepcia.cjb.net. da edição anterior. O uso correto refere-se à teoria defendida por Copérnico (astrônomo
ção recente. Será que não temos nada mais Reside na cidade de Amora, em Portugal. O arti- polaco, 1473-1543) que considerava ser o Sol o centro do nosso sistema astral.
importante para discutir? Faltam adjectivos go foi enviado por e-mail.

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba

Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Supervisão de Edição: Celi Camargo (celi.camargo@uniube.br) • • • Projeto Gráfico: André Azevedo (andre.azevedo@uniube.br) • • •
Diretor do Curso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima (edpl@uol.com.br) • • • Coordenadora da habilitação em Jornalismo: Alzira Borges da Silva (alzira.silva@uniube.br) • • •
Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Érika Galvão Hinkle (erika.hinkle@uniube.br) • • • Professores Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela (norah.vela@uniube.br),
Vicente Higino de Moura (vicente.moura@uniube.br) e Edmundo Heráclito (heraclit@triang.com.br) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Distribuição: Assessoria de Imprensa
• • • Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Jornal da Manhã
Fale conosco: Universidade de Uberaba - Depto. de Comunicação Social - Bloco L - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • • • Tel: (34)3319-8952 • • • http:/www.revelacaoonline.uniube.br
As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.
2 22 a 28 de abril de 2002
Afinal, o Brasil foi
descoberto ou achado?
A historiadora Eliane Marquez esclarece a polêmica e explica como os portugueses chegaram até aqui
Alessandra Mendonça
6º período de jornalismo
No dia 22 de abril é comemorado o
“Descobrimento do Brasil”. Neste ano o
pais completa 502 anos. É uma data que
lembra a chegada dos portugueses no país,
porém pela lógica das coisas, as terras
brasileiras já haviam sido descobertas e
habitadas pelos índios muito antes dos
portugueses pensarem em expedições
marítimas. Portanto,uma questão que há
muito tempo vem sendo discutida não é
sobre quem chegou primeiro ao país, e sim,
se os portugueses descobriram as terras por
acaso ou não.
Existem duas hipóteses cabíveis para
esta questão: a primeira, defendida pelos
livros de história, seria a casualidade. A frota
de Pedro Álvarez Cabral teria
se afastado de sua rota e,
involuntariamente, encontrado a
costa brasileira.
A segunda seria a intencionalidade,
defendida pelos estudiosos do assunto.
Portugal sabia da existência de terras a
Ocidente desde 1492, quando Cristóvão
Colombo chegou à América e trataram de
garantir parte das terras através do Tratado
de Tordesilhas, em 1494.
22 a 28 de abril de 2002
Segundo a professora do curso de portos ibéricos até então. Eram ao todo 1500 A decepção
História da Universidade de Uberaba, pessoas, viajando em 10 naus e três A primeira vista os portugueses
Eliane Marquez, a hipótese de que o Brasil caravelas, entre comerciantes, condenados, encontraram bastante terras, uma civilização
foi descoberto por mero acaso foi religiosos, soldados e representantes da de selvagens e nada de metais preciosos ou
desmistificada e vários nobreza.. algo que gerassem lucro. As notícias que
fundamentos, segundo A outra hipótese que chegavam a Dom Manuel não correspondiam
ela, provam que Cabral já A hipótese de que o Eliane citou foi a carta de às expectativas da coroa. Não apontavam a
sabia da existência de Brasil foi descoberto Pero Vaz de Caminha: “ existência de riquezas de interesses no
terras brasileiras. a carta de Pero Vaz de território onde, apenas nativos habitavam.
por mero acaso foi
Um dos funda- Caminha é a certidão de Na época da ocupação do Brasil existia
mentos, de acordo com a desmistificada nascimento do Brasil e na Europa uma doutrina econômica
professora, é que a ficou muito tempo desa- chamada mercantilismo, cuja filosofia era
esquadra de Cabral era a mais sofisticada, parecida por causa do terremoto que teve de que, quanto mais colônias e mais metais
que dispunha de mais marinheiros em Lisboa. Foi redescoberta no século XIX. preciosos se extraíssem deleas, mais rica
entendedores do espaço e estudiosos da Nela Vaz de Caminha escreve: aquilo que seria a metrópole. No entanto os
navegação. De todas que Portugal mandou se esperava achar foi achado”. portugueses não encontraram nada do que
além-mar. Depois de toda esta explicação, nota-se procuravam, por esta razão as terras
A frota de Pedro Álvarez Cabral era a que não houve descobrimento, houve brasileiras foram praticamente esquecidas
maior e mais bem equipada a zarpar dos ocupação das terras que eram dos índios. Os por Portugal, vindo a ser exploradas
portugueses tomaram posse de um local que somente 30 anos depois.
já tinha dono. Enquanto os índios entregavam De acordo com a professora Eliane
suas terras sem saber, em troca, os Marquez a coroa só veio a se interessar pelo
estrangeiros deram Brasil depois de quebrar financeiramente:
doenças, trabalhos “Portugal resolve colonizar o Brasil, mas já
forçados e fome. estava quebrado, aí ele montou um sistema de
colonização que é nossa marca registrada: uma
colonização baseada no latifúndio,
na monocultura e na utilização da
mão de obra africana”, explicou.
Com esse método de colo-
nização o país ganhou de presente
centenas de anos de atraso. O Brasil
sofre consequências até hoje da forma
como foi administrado na época da
colônia. E dizem que há motivos
para comemorar.
3
3
Festas sem censura atraem jovens
Jovens mergulham por três dias no mundo da farra, onde tudo é premitido
Ricardo Bavaresco
7º período de Jornalismo
Nos dias 26, 27 e 28 a juventude que
compõe a elite uberabense é só adrenalina.
O motivo de tanta excitação está nas festas
da Marcinha, Tim e da Nega Pável, que vi-
raram tradição e atraem, anualmente, um
público em torno de cino mil pessoas, vin-
das de toda a região do País. As festas mar-
cam também a abertura do calendário do
melhor período para o turismo e o
agronegócio que são movimentados duran-
te os 10 dias da Expozebu (Exposição In-
ternacional de Raças Zebuínas), no Parque
Fernando Costa.
Para ter acesso aos três dias de festas o
convidado deve desembolsar R$ 170,00, no
caso de mulheres, ou R$ 200,00, no caso
de homens. Este ingresso garante a diver-
são que começa à noite e só termina no ou-
tro dia, depois de servido o café da manhã.
Para embalar os ânimos e fazer jus ao pre-
ço pago pela entrada, as bebidas, desde des-
tiladas, passando por cerveja, energéticos,
refrigerantes e água, são distribuídas. Ao
embalo de bandas ou de som mecânico, a
juventude solta os bichos,
O slogan “sexo, droga e rock in roll”
empregado durante os anos 70 para definir
a filosofia dos jovens radicais, pode ser jus-
tamente aplicada a estas festas. Pelo menos
PM reforça segurança
Wesley Jacinto
7º período de Jornalismo
Na última semana do mês de abril os
ares da cidade de Uberaba mudam. O clima
de outono é embalado não só pelos ventos,
mas pelas festas que acontecem em dias
seguidos. Três delas, de menor proporção,
ficam pequenas apenas diante da Expozebu
– exposição agropeuária que reúne criadores
da raça zebuína de todo mundo – mas
proporcionalmente grande por serem festas
privadas, voltadas para elite de Uberaba e
região. As festas da Marcinha, do Tim e da
Alegria conquistaram até um espaço no
calendário turístico da cidade.
Manter a segurança durante esses dias
é o grande desafio para a Polícia Militar.
No ano passado vários incidentes,
principalmente no trânsito envolvendo
jovens alcoolizados e visivelmente
drogados, foram registrados. A festa para
muitos deles foi interrompida no segundo
dia quando eles acordaram da ressaca dentro
de uma cela. De acordo com o Ten. Cel.
Emanuel da Paixão Kappel, que é
comandante do 4∞ Batalhão da Polícia
4 22 a 28 de abril de 2002
arquivo pessoal
é o que deixa claro alguns jovens entrevis-
tados, que têm presença confirmada, anu-
almente nestes eventos. O estudante J.V.B.S.
de 21 anos disse que conseguir drogas den-
tro das festas não é fácil, mas também não
é difícil. “Várias pesssoas levam, geralmen-
te lança-perfume, maconha e o êxtase que
são mais fáceis de transportar. Os próprios
seguranças, por uma falta de uma revista,
acabam deixando passar” .
Muitos convidados não deixam passar
nada, quando o assunto é sexo. O estudante
de engenharia civil H.L.C.N, de 23 anos já
flagrou cenas inusitadas. “Alguns casais
mais excitados às vezes entram naquelas
gabines de banheiro ou então vão para o
canto da cerca, e ai, de vez enquando acon- Marcelo Augusto é sócio e proprietário de empresa de eventos
tece. As pessoas tentam ser descrertas o
maximo póssivel, mas a gente percebe”. da moda… a gente ousa mais no visual”. zem. “É muito difícil você controlar uma
Para as mulheres estas festas tem um festa com quatro mil pessoas, isso só acon-
motivo a mais além da descontração: é o Segurança da festa tece se tiver o mesmo número de seguran-
momento da paquera. Muitos homens vin- Estas festas são realizadas por promo- ças , um por conta de cada pessoa então isso
dos de fora proporcionam uma variedade tores de eventos daqui de Uberaba e de Ri- é humanamente impossivel”.
na escolha do namorado ideal. Para a con- beirão Preto. Marcelo Augusto Teodoro de Marcelo diz que é inevitável o excesso de
quista elas jogam todo o charme, investin- Andrade, sócio e proprietário da PRÓ Even- bebidas e nestas condições pode ocorrer al-
do no requinte da moda. É o caso da uni- tos, empresa envolvida na promoção des- guma briga. Quando isto acontece as pessoas
versitária T.P.S de 21 anos, para quem as ses eventos, disse que obtem, geralmente, culpam a organização. “Nós levamos a culpa,
festas requerem todo um preparativo, uma um lucro de 30% do total arrecadado. A se- pois somos pixados como culpados de tudo.
produção diferente. “A expectativa é gran- gurança da festa é de responsabilidade dos Nós não podemos ser responsáveis por todos
de porque vem muita gente de fora e nós promotores e quanto ao uso de drogas e a que entram na casa, tentamos fazer o melhor.
não sabemos quem vamos encontrar. Aí a prática de sexo explícito, ele informou que E quando detectado o problema o soluciona-
gente recorre para a maquiagem, a roupa o pessoal que quer fazer coisas erradas, fa- mos, conclui o organizador da festa.
Militar de Uberaba, os crimes mais maior de policiamento fica em torno do é cobrada uma taxa de segurança pública
frequentes são ocasionados devido ao uso local onde ocorre a festa e nos pontos onde pelo serviço. O comandante ressalta que,
de drogas, incluindo a própria bebida a criminalidade é registrada com maior caso o pagamento da taxa não seja efetuado,
alcoolica. frequência. o atendimento no local será como o serviço
As estatísticas da PM mostram que no prestado em dias normais.
período de 25 a 29 de abril do ano passado Barrados no baile A PM montou um esquema especial
foram registradas 101 ocorrências entre Para a Polícia Militar a ação em festas para atuar no período da Expozebu.,
abalroamento, queda de privadas é limitada. junto ao Parque Fernando Costa e nas
veículo, atropelamento de Confome explicou o imediações para garantir maior
pessoa; choque mecânico; É cobrada taxa de comandante Kappel em segurança para todos os participantes.
colisão de veículos; falta de eventos públicos, a polícia “Já está efetuando blitz nas estradas, em
habilitação e outras segurança pública tem o direito de entrar para parceria com a polícia rodoviária
infrações de trânsito. para qualquer evento combater qualquer situação estadual e federal com a finalidade de dar
Quanto aos delitos envol- danosa. Já no caso de festas tranquilidade às pessoas”, ressaltou. O
vendo drogas, diretamente, particular que exige particulares, realizadas em comandante disse que no período de
a Polícia não registrou reforço da polícia locais mais afastados da exposição e outras festas, imprime
nenhum neste período, mas cidade, a PM só pode entrar cartazes, panfletos e dão orientações a
nem por isso Uberaba está se ela for aberta ao público, todas às pessoas.
livre de ser considerada uma cidade livre do caso contrário, somente se for acionada pelo Kappel recomendou que as pessoas
tráfico. No ano passado foram apreendidos responsável. “Nesses eventos, no qual a festa façam uso da bebida moderadamente e que
41 menores e presos 239 adultos enquadrados é particular, é muito pequena a possibilidade estejam sempre em conjunto com outras
por tráfico. da PM participar. Quando é solicitada ela pessoas para que não possam sofrer ação de
Para conter o índice de criminalidade participa e busca orientar, porque a marginais após as festas. “É muito importante
neste período em que a movimentação é responsabilidade é de cada um” disse. que as pessoas levem para esses locais pouco
maior, a PM aumenta a carga horária dos De acordo com Kappel, qualquer tipo dinheiro, procure evitar levar celulares, jóias,
militares que se revesam em policiamento de evento que exige da polícia o reforço, relógios, para evitar chamar atenção dos
ostensivo de 24 horas/dia. A concentração se não for entidade filantrópica ou pública, marginais”, aconselhou.
 Leonardo Boloni

Médico adverte para o

risco das noitadas
Mistura de álcool, energéticos e noites em claro pode ser fatal
Luciana Souza em um lança-perfume e cai. Ele não
7º período de Jornalismo machuca na queda porque está mole, o
corpo está sem vida”, exemplifica.
Uberaba está entrando em uma fase de Franciscon afirma que tudo que se
grandes festas que antecedem a Expozebu. estimula em excesso, cria-se um processo
Para os freqüentadores tudo é diversão, no antagônico. “A área das emoções no cérebro
entanto o organismo pode responder de é uma só, se a pessoa estimula muito vai
maneiras desagradáveis. ocorrer uma resposta negativa depois”. A
O médico José Umberto Franciscon, ressaca se relaciona ao desgaste físico
formado pela Faculdade de Medicina do ocorrido nas horas em que a pessoa estava
Triângulo Mineiro dançando ou brin-
(FMTM), tem 28 anos cando. A dor de
de profissão e é Todas as substâncias cabeça, o mal estar,
professor da Univer- que têm estimulantes entre outros sintomas é
sidade de Uberaba nos apenas uma conse-
cursos de Odontologia, do cérebro afeta qüência da energia
Enfermagem e Fisio- diretamente o coração perdida.
terapia. Ele afirma que Para melhorar a
no organismo humano existe uma ressaca basta somente repouso. “Esta idéia
substância que se chama melatonina, de tomar remédios para evitar ressaca ou ir
responsável pelo sono. Cada pessoa tem para o hospital receber glicose na veia é
uma de quantidade de horas necessárias para psicológico. Se a pessoa ficar em casa, de
dormir, quando se perde este ritmo, a repouso, causa o mesmo efeito, a melhora
melatonina se acumula no sangue chegando vem do descanso ”, explica. A questão dos
a um ponto que a pessoa não agüenta mais chamados chás milagrosos fazem as pessoas
ficar com os olhos abertos. “É o que ocorre melhorarem pelo fato de ingerir uma
quando alunos vêm para sala de aula e quantidade grande de água e
acabam dormindo, ou ficam ‘pescando’, consequentemente urinar mais vezes. “Isto
eles não fazem isto porque querem, mas pode ocorrer com qualquer líquido ingerido,
porque o acúmulo de melatonina é tão refrigerante, chás ou até mesmo a própria
grande que não se controla”, esclarece o água”, explica.
médico O médico destaca que a forma mais
As festas , como essas que vão acontecer correta de ingerir bebidas alcoólicas é
no fim deste mês, costumam oferecer grande devagar para dar tempo de urinar, tomar
quantidade de bebidas e alguns participantes água e alimentar-se, pois fornece ao
exageram na dose. organismo ener-
Segundo professor gias, glicose, ami-
Franciscon quan- “Esta idéia de tomar remédios noácidos, entre
do acontece o para evitar ressaca ou ir para outros elementos
exagero o pri- que vão ser quei-
meiro órgão afe-
o hospital receber glicose na mados pelo orga-
tado é o coração. veia é psicológico. Se a pessoa nismo. Ele lembra
“Todas as subs- ficar em casa, de repouso, causa que álcool em Dr. Franciscon: “Tem gente que dá uma aspirada em um lança-perfume e cai.
tâncias que têm excesso intoxica. Ele não machuca na queda porque está mole, o corpo está sem vida”
o mesmo efeito, a melhora
estimulantes do “O nosso fígado é
cérebro ofere- vem do descanso ” como uma peneira como a cerveja há uma reposição que banheiro, deixando o organismo dar uma
cendo às pessoas de coar fubá, é um impede a desidratação. O mesmo não recuperada”. A pessoa que vive
um sentimento de filtro. Tudo que cai acontece com bebidas destiladas, que constantemente usufruindo de bebidas,
bem-estar, euforia e alegria é um estímulo no intestino é absorvido pelo fígado, se for concentram maior teor alcoólico. drogas, entre outros estimulantes, se
para os neurônios, afetando diretamente o muito álcool entope a peneira, este é o maior Segundo Franciscon os jovens que prejudicam e com o passar do tempo
coração”, explica. De acordo com ele, uma problema para quem bebe em demasia”. freqüentam estas festas devem se divertir percebem que já não têm mais a aparência
simples inalada em um lança-perfume pode Quando as pessoas vão para festas de maneira pausada. “Pulam muito, bebem e nem o ânimo de antes. “Todo excesso
ser fatal. “Tem gente que dá uma aspirada perdem muito líquido. Ao ingerir bebidas muito e dão uma paradinha, sentam, vão ao prejudica”, conclui.

22 a 28 de abril de 2002 5
3
 fotos: Wagner Ghizzoni

História de Vida

O crescimento de Uberaba
através do gado
Depois que a raça zebu chegou à cidade
ela se expandiu pelo Brasil trazendo
progresso para todo o Triângulo Mineiro

Wagner Ghizzoni Jr. Insatisfeitos com a demora (o barco só saía

6º período de Jornalismo a cada 15 dias) e com o balanço da
embarcação, decidiram voltar para Niterói
Quando uma dona de casa uberabense é em mulas. Lá chegando, entraram na Seu Francisco disse que não ganhou muito dinheiro, mas é feliz
sorteada no carnê do Baú, é comum fazenda de Manuel Lengruber, onde viram
escutarmos o Sìlvio Santos falar: “Uberaba, pela primeira vez o Zebu. Ficaram Brasil. Antes, o gado era conhecido apenas Uberaba era muito procurada por
a terra do Zebu, rarrai...”. A cidade tem o espantados e perguntaram se o pro- em certos pontos do país, mas depois de pessoas de todo o Brasil. É o que atestam
status de capital mundial do Zebu, um bovino prietário não lhes venderia ao menos um chegar a Uberaba, o Zebu foi difundido em as historiadoras Maria Antonieta Borges
diferente dos outros pelo cupim (corcova). exemplar. Lengruber não vendeu, mas todo o território. A espécie era vista como e Eliane Mendonça Rezende, em seu livro
Isso se deve aos indicou onde pode- uma novidade, uma ABCZ- Histórias e
mascates ubera- riam comprar. coisa do outro Histórias. Elas con-
benses, que espa- Francisco Cavalcante é um Os irmãos Borges mundo. Até então o São homens como ele os respon- tam que o Zebu não
lharam a raça por boiadeiro a quem o Brasil deve compraram o famoso tipo de gado que sáveis pela propagação do Zebu podia ter escolhido
todo o território touro “Lontra”, da havia no Brasil era outra cidade se
nacional. muito, afinal foi um dos que raça guzerá, o pri- curraleiro, pé-duro, no Brasil, e não os “doutores” que quisesse se tornar
Francisco levaram o Zebu por aí afora meiro trazido para dentre outras apenas fechavam negócios um sucesso. Ube-
Cavalcante é um Uberaba. Hoje existe espécies euro-péias. raba tornou-se cida-
boiadeiro a quem o até um monumento ao “Nas Américas não de em 1856, e a
Brasil deve muito, afinal foi um dos que famoso boi na praça Dom Eduardo, em existiam bovi-nos. Os europeus que localização geográfica e a fertilidade das
levaram o Zebu por aí afora. Ele conta como Uberaba. Depois de Lontra vieram muitos trouxeram o gado, mas este foi se terras traziam brasileiros de todos cantos
o Zebu fez parte de sua vida. outros bois, uma vez que a novidade atraia degenerando com o tempo. O Zebu daqui é para cá.
De acordo com o jornalista Denis Silva, adeptos por onde passava. um gado idêntico ao da Índia”, explica Naquela época, o Brasil vivia um período
em seu livro “O caminho das idéias”, os Começava assim a trajetória do Zebu no Márcio Cruvinel. de tranqüilidade. “Dez anos depois do Brasil
primeiros registros brasileiros do Zebu, o passar de Império para República, o Godoy
“gado trazido da Índia, com uma corcova que estava viajando para Índia,” lembra Cruvinel.
dava aparência de deformado”, datam de A inflação só viria a surgir a partir de 1960. “A
1855, no Rio de Janeiro. Mais tarde, em 1889 Revolução que acontecia na ocasião em
o primeiro viajante do Triângulo Mineiro foi à Uberaba era a chegada dos trilhos da Mogiana”.
Índia com o objetivo exclusivo de trazer o gado A partir deste momento, o Zebu passou a
Zebu: Teófilo de Godoy, da cidade de Araguari. atingir todo o Brasil. Não por causa da
Sua façanha foi registrada no jornal Gazeta de Mogiana. O gado ia em barcos a vapor ou
Uberaba. Segundo o historiador Márcio em comitivas. O único chefe de comitivas
Cruvinel, diretor do Museu do Zebu de Uberaba daquela época ainda vivo é Francisco
desde 1998, Godoy trouxe um primeiro lote que Cavalcante Nascimento. Hoje com 88 anos,
vendeu rapidamente. Animado, fez outra “seu Chico” está lúcido e conta a história
viagem, agora com o objetivo de comprar Zebu de sua vida como boiadeiro. Seu nome não
para ele mesmo criar. está no Museu do Zebu ao lado de Teófilo
de Godoy, Pylades Prata, Edilson
A chegada a Uberaba Lamartine Mendes, João Martins Borges e
Mas ainda não seria desta vez que o outros. Talvez porque “seu Chico” não foi
Zebu seria difundido em todo o Brasil. um grande criador ou vendedor de Zebu.
Isso só aconteceu por volta de 1900. Os Apenas um humilde cavaleiro, chefe de
irmãos uberabenses Antônio e Zacarias comitivas. Mas, são homens como ele os
Borges Araújo haviam viajado para o responsáveis pela propagação do Zebu no
Réplica de um guzerá, localizado no Museu do Zebu. Brasil, e não os “doutores” que apenas
Espírito Santo para visitar os parentes. O
O guzerá caracteriza-se, além da corcova pelos chifres grandes.
trajeto foi feito num barco a vapor. fechavam negócios.

6 22 a 28 de abril de 2002
História de Vida

Chico Cavalcante
o comissário do
Zebu pelo Brasil
Boiadeiro de Veríssimo conta suas aventuras
e declara seu amor a Alda, sua esposa
“Eu passava e essa moça aqui ficava me olhando, olhando o sargentinho. Eu olhei pra ela....e deu casamento”

Wagner Ghizzoni Jr. A escola ficou para trás e as -Vem cá, burro! –disse o sargento olhando comigo. Ela sofreu muito. Porque eu não
6º período de Jornalismo brincadeiras também. O menino Francisco pro número 12, Francisco Cavalcante. podia dar o que ela merecia. Então ela ficava
foi esquecendo os bois de laranja e Ele chegou perto e o sargento continuou: em casa cuidando dos filho. E eu trabalhando.
Ele nasceu em Veríssimo, “aquela cuidando dos bois de verdade. “Eu comecei -Pega esse apito aqui e ocê vai levá essa E eu não podia aproveitar da mocidade dela,
cidadona que tem lá”, como ele mesmo a trabalhar com 12, 13 anos. Eu vivia tropa no circo, e ocê fica sendo o responsável porque como é que eu ia aproveitar? Ia fazer
define. O bom humor é uma de suas andando a cavalo. Quando eu ia fazê 16 por isso, amanhã nóis tem que conversá... viagens era treis mês, seis mês...”
características. Os traços de uma pessoa anos, até hoje eu não esqueço....o pai -Sin sinhô...
trabalhadora estão na face de 88 anos e nas comprou 200 boi lá no Veríssimo pra “Peguei a turma e prriiiii....bora, marcha, O Zebu atinge seu auge
mãos ainda duras, quando as apertamos para vender no Mato Grosso, e eu fui com ele a toquei a turma pro circo...cheguei lá e As reações das pessoas ao verem o gado
cumprimentá-lo. cavalo pra Ponta Porã (MS). Chegamo lá procurei o proprietário do circo.” Zebu eram de surpresa. Umas boas, outras
Morou na “cidadona” até os 16 anos. As ninguém queria comprar zebu, uma -Eu quero do senhor uma ala pros ruins. O então governador de São Paulo,
brincadeiras de sua infância eram bem dificuladade doida...Aí arrebentou uma soldados, uma ala só nossa, 106 soldados Pereira Barreto, proibiu seu comércio no
diferentes das de hoje. “ Nóis brincava de revolução, em 1930, parou todo o Brasil. -Pois não, pois não.... Estado. Mas com a intercessão de João
jogar pião. Era o divertimento maior. E fazia Em Ponta Porã não vendia, fomos atá Bela “E eu como sargento pus todos lá no Pinheiro e o crescente sucesso do “nosso”
curral pra por o gado dentro. Pegava uma Vista, também não vendia, fomos sair em fundo, e fiquei andando, e eles quietinho na Zebu, se viu obrigado a voltar atrás.
laranjinha e punha quatro pau embaixo e fazia Porto Soares, já dividindo Bolívia e arquibancada. Eu passava e essa moça aqui A proibição de Pereira Barreto virou
a vaca. O boi nóis fazia Brasil... aí viemos pra (aponta para a esposa) música. O compositor
cuma laranja maior. Corumbá e não vendia ficava me olhando, uberabense Joubert
Outra diversão era “Chegamo lá ninguém nada. Aí o pai me olhando o sargentinho. Ele demonstra muito Carvalho criou o
búzio. Pegava quatro mandou embora e ficou Eu olhei pra ela....e deu amor a mulher e diz “chorinho” Zebu na
queria comprar zebu,
grão de milho, pintava lá mais uns oito meses, casamento”. Ponta.
eles de preto e ia jogar... uma dificuladade doida... até vender tudo...” Lógico que naquela que lamenta não Por volta de 1945, o
O nosso futebol tam- Aí arrebentou a revolução, Começava assim a época tudo era dife- poder ter dado a ela o Zebu atinge seu auge.
bém era diferente, a em 1930, parou todo o Brasil” vida de boiadeiro do rente, certo Seu Chico? conforto que merecia. Todo o Brasil já
primeira bola que eu vi, “seu Chico”. Depois “Deu muito trabalho conhecia o gado. O
era de bixiga de vaca. dessa viagem ainda pra chegar perto, o Zebu crescia como uma
Soprava ali, amarrava. Depois fazia bola de viriam muitas. Só interrompeu a rotina negócio era chegar perto, pois primeiro não marca. Além de inspirar músicas, o Zebu
meia, depois apareceu bolinha de borracha. quando ele fez 18 anos e veio para Uberaba deixava. Pra pegar na mão era um custo patrocinava concursos, abria cassinos, atraía
Depois apareceu bola de cobertão. Cobertão – onde ficaria morando – para fazer o Tiro danado...” bancos – o número de agências de Uberaba
é bola dessas de hoje, bola de encher com de Guerra. Do casamento tiveram dois casais de passou de quatro para dez, entre 1935 e 1945.
bomba, mais não tinha posto de gasolina”. E foi graças a isso que conheceu sua filhos, sendo que um homem e uma mulher Em 1946 houve a primeira exposição de
Ele conta que diferentemente de sua infância, esposa, dona Alda, hoje com 84 anos, ainda estão vivos. “Meus dois filhos e minha gado Zebu. Foi na Fazenda Cassu, de José
o neto tem uma grande caixa só de sobrinha de Fidélis Reis. Seu Chico conta esposa é formados no colégio de freiras Caetano. Este homem foi um dos maiores
brinquedos. que se dava muito bem com o sargento do (Nossa Senhora das Dores). Então eu digo divulgadores do Zebu no Brasil. Chegou a
Além das brincadeiras, a escola é outra tiro de Guerra e, certa vez, havia um circo que só eu posso dar coice aqui, só eu sou comprar uma capa do jornal Estado de São
lembrança da infância de Chico. “ Eu na cidade. Como reservistas pagavam burro”, brinca seu Chico. Paulo para fazer propaganda.
comecei a estudar entre 9 e 10 anos. Minino meia-entrada, logo foram pedir para o Ele demonstra muito amor a mulher e diz O Parque Fernando Costa, onde acontece
naquela época começava a estudar depois dos sargento levá-los para ver o espetáculo, este que lamenta não poder ter dado a ela o anualmente a Expozebu, surgiu em 1935,
6 anos, não é igual hoje, 6 anos minino já então ordenou que Chico, como seu homem conforto que merecia. “Eu mais viajava que como sede da Sociedade Rural do Triângulo
escreve. Lá nóis tinha dificuldade em tudo. de confiança, levasse os demais soldados ficava em casa. Eu tenho que querer muito Mineiro (SRTM). Se hoje é a maior exposição
Professor...e idade, minino tinha que demorá pra ver o espetáculo. A conversa foi mais bem essa moça que me ajudou muito na vida. de gado Zebu do mundo devemos muito a
mais um poco pra entrá na escola.” ou menos assim: Eu era bonito, mas era pobre, e ela quis casar pessoas como seu Chico.

22 a 28 de abril de 2002 7
História de Vida
Crise econômica prejudicou
comércio de bovinos
Chico Cavalcante não tinha patrão fixo:
trabalhava para quem pagava melhor
Wagner Ghizzoni Jr.
6º período de Jornalismo
Depois de casado, seu Chico continuou
como comissário de boi. Os patrões faziam
a venda e os empregados levavam o gado
ou por barco a vapor ou por comitivas, caso
do seu Chico. “Ocê gravando isso aí, e eu
me gabando, mas modéstia a parte, eu fui
muito bão cavaleiro,” relembra.
Ele não tinha um patrão fixo: quem o
chamava e pagava melhor, era para quem
trabalhava. Um dos que mais confiavam no
seu Chico era Lamartine Mendes, um dos
maiores criadores do Brasil e que dá hoje
seu nome ao Museu do Zebu, no Parque
Fernando Costa.
“Vou contar um pouquinho do
Lamartine...”diz Chico. “Em 1961 veio um
deputado lá do Maranhão, chamava
Henrique Sach, pra comprar 700 novilhas
aqui em Uberaba. Eles iam começá a criá
nelore no Maranhão. O Lamartine no dia
não tinha 700 novilha, então me perguntou
se eu sabia quem tinha e eu disse: ‘Adolfo
Andrade’. Então no outro dia foi o filho do
Lamartine, Edilberto Mendes, o Henrique
Sach, e me levaram juntos no seu Adolfo.
Depois da compra me contrataram para
levar o gado por 10 mil conto, cum a
responsabilidade da marca. No começo, o
deputado me olhava meio de lado mas o
Adolfinho falou: ‘esse homem aí conhece
de gado mais que eu e o Lamartine. Esse
homem aí é o homem de nossa confiança
aqui em Uberaba, não é de carregar nosso
dinheirinho não, é de carregar nossa família,
minha mãe, minha mulher, minha filha’. O
home já olhou de uma cara diferente.”
A responsabilidade da marca queria
dizer que, se um boi morresse, tinha que
ser retirada a marca para entregá-la ao dono.
Pois assim foi “seu Chico” até entregar todo
o gado na ponte do Estreito, que dividia
Maranhão e Goiás (hoje Tocantins).
Em janeiro de 1961, Jânio Quadros
assumia a presidência da República no lugar
de JK. Era um período de grande inflação,
conforme documenta o livro “O caminho
das idéias” (Denis Silva). Em 24 de agosto
de 1961, o governador da Guanabara, Carlos
Lacerda, denuncia que Jânio estaria dando
um golpe de estado. No dia seguinte o
presidente renuncia. “Depuseram o
presidente, depuseram um outro governador
num sei da onde, um soldado brigando com
tenente, tenente matando comandante,
8 22 a 28 de abril de 2002
comandante prendendo delegado, delegado
matando juiz, virou uma anarquia...nóis nem
sabia purquê, nóis era tudo caipira, bobão,
não ficava sabendo nada disso, tinha era
medo, escondia nas fazenda...,”lembra -Chico, nóis vai vendê a bezerrada, pagá 20 réis. Mascate falou: “tá pago aqui. Me
Francisco. a prestação, e do jeito que tá o gado, vamo dá os papéis que eu não devo nada a esse
Os feitos de seu Chico são mesmo levá mil ano pra pagá nossas dívida. banco. Eu posso vender minha fazenda ou
impressionantes. “ Eu levei 2 mil novilhas -Mascate, vamu fazê uma coisa? Eu sô não posso? Eu devo alguma coisa nesse
pra Bolívia. Levei 300 touro na água de sua muié e o que ocê fizé eu assino embaixo. banco? Vambora Chico!”
Uberaba pro Pantanal, do Pantanal pra -Chico, vamo vendê a fazenda? “Demos a escritura pro seu Abido e
Rondonópolis....ixi, tem muita coisa.” O que -Se eu já falei que sô sua muié. sobrou pra mim uma maleita (febre), quatro
mais impressiona não são as distâncias que -O seu Abido disse pra nóis que quando cavalo, uma cama véia e um Ford 1000.Pra
ele percorreu, mas sim como ele ia: com a nós quiser vender a fazenda ele compra a ele acho que não sobrou nada.”
cara e a coragem. Um exemplo é essa fazenda.
viagem que ele fez ao Maranhão. O doutor -Então vende. A atualidade
Randolfo Borges conversou com ele: Fomos lá e dissemos: “Seu Abido, a Aos poucos seu Chico foi refazendo a
-Chico, cê vai lá? nossa situação é essa, essa, essa, essa.” vida e, junto com a esposa e os filhos já
-Vou, doutor, se Deus quiser. -Abido sabe. Abido compra fazenda a crescidos, conseguiram o que têm hoje: uma
-Chico, você sabe que vai levar 700 dinheiro. casa na avenida Leopoldino de Oliveira. Na
novilhas no Maranhão? -Seu Abido, nós temo que vendê e ir lá época, foi uma das primeiras casas
-Vou, se Deus quiser. pagá o banco, pra poder te dar essa escritura. construídas ali, e hoje está perdida no meio
-Você já foi lá? -Eu sei que ocês é muito homem, Abido dos edifícios.
-Não. dá o dinheiro, vai lá paga banco. Seu Francisco continua inquieto do
-Alguém te ensinou o caminho? “Saímo pro Banco do Brasil chegamo mesmo jeito, não consegue ficar parado.
-Não. Mas, doutor, eu tenho boca, então lá tá lá um comandante, um coronel, “Eu tenho 88 anos e meu empregado tem
eu pergunto, eu vou. conversando com 40 e poucos e eu faço muito mais do que
-Então vou te o gerente. Nóis ele....e eu ainda tô com o diabo de uma
ensinar o caminho. “ Eu levei 2 mil novilhas pra esperando e o hérnia aqui (põe a mão na virilha)...eu faço
Você já viu quando comandante mais coisa que não posso fazê......ó o sinal de
a mulher pega uma Bolívia. Levei 300 touro na água o gerente papapá, arame aqui ó, hoje eu já tomei aramada na
galinha pra sapecar, de Uberaba pro Pantanal, do papapá. E esse mão (mostra o sinal).”
com fogo, ela pega Mascate já tava A esposa Alda afirma que seu Chico é
no bico e nas pernas
Pantanal pra Rondonópolis.... feito uma cobra. “elétrico”. “Sempre foi assim, o pai dele
e vai virando pra ixi, tem muita coisa” Quando eu vi o falava que ele era louco de fazer tudo aquilo,
sapecar? Mascate levantou e levar gado, dormir no mato, e o pai dele
-Sei. entrou lá dentro: falava que eu era mais louca de casar com
-Ocê entra aqui no cu dela e sai no bico. -O senhor tem muito negócio a tratar co um louco”.
Aí cê chega lá. o gerente aí? Se o senhor não tem, o senhor -Você ganhou dinheiro vendendo gado,
Esse diálogo foi na frente de diversos despacha que eu tenho assunto pra tratar seu Chico? – perguntamos.
doutores da cidade, que deram muita risada. com ele. -Não. Ganhei mas foi poco.
O doutor Randolfo era rico, mas muito “O homem “tchap”, foi embora. O Ao contrário desse ganho, não é pouco o
simples. gerente falou: - o senhor assenta. Eu sentei, que a ABCZ arrecada em cada Exposição
o Mascate num quis, falou assim: Agropecuária. No ano passado a Expozebu
De boiadeiro a fazendeiro -Eu vim aqui pra saber quanto nóis deve 2001, arrecadou R$ 24,4 milhões, uma média
Em 1972 seu Chico e a familia foram no banco. Armelino Almeida Silva e de R$ 939 mil por leilão e R$ 14,4 mil por
pro Cisco, um povoado perto de Frutal. Lá Francisco Cavalcante. animal. No show da saideira, onde o ingresso
ele decidiu não mais ser comissário de boi, O homem falou qualquer besteira, o foi um quilo de alimento, mais de 41 mil
mas fazendeiro. “Meu cunhado comprou Mascate falou: “Num tô lhe perguntando pessoas estiveram no Parque Fernando Costa,
uma fazenda pra nóis por 220 conto. por isso. Tô lhe perguntando quanto nós que contava com 120 estandes. A “Essência
Naquela época o povo fazia financiamento devemo nesse Banco do Brasil.” Guadalupe” foi vendida como a vaca mais
no Banco do Brasil, cê comprava e o banco -É, mas cês num pode vender a fazenda, cara da história: R$ 840 mil.
financiava. Tínhamos uns 400 e tantos num sei o quê... E o seu Chico? Nem liga para isso. Só
bezerro. Vendemo tudo e em um ano num -Não tenho satisfação a te dar. Tenho que quer saber de curtir seu sitiozinho e a vida
tinha como pagá o banco. Um dia quando saber quanto eu devo aqui no banco. com a esposa. “Só tem uma coisa, nois não
acordei vi meu cunhado, que tinha o apelido “Aí o home bateu a campainha lá, veio devemo um tostão a ninguém. Não somo
de Mascate, feito uma onça fazendo conta. um lá, ´vai vê a conta do Armelino Almeida rico, mas nóis dois é feliz”.
Perguntei que que foi e ele: Silva e Francisco Cavalcante´. 200 conto e E quem duvida?
América Latina
arquivo Revelação

Golpe na Venezuela
envolve interesses
políticos e
econômicos
Professor venezuelano explica o golpe
Adrián trabalhou como jornalista durante 12 anos na Venezuela
que acabou frustrado pelo povo
Fernando Natálio praticado por acaso e nem provocado principalmente a alta cúpula militar não empresa, Chaves comprou uma briga muito
7º período de Jornalismo pequenos problemas. Também não o gostava dele desde essa época. Já o grande com os empresários, que fugiu do
planejaram em pouco tempo. Para ele, esta problema com os grupos empresariais seu controle.
O golpe de estado que o Presidente da situação vem se agravando há muitos anos, existia há um certo tempo, mas se agravou Mas, entretanto, Adrián Fernández diz
República da Venezuela Hugo Chaves principalmente desde 1992, quando Chaves no período que antecedeu a crise final, que os responsáveis pela retirada de Chaves
sofreu no dia 11 de abril, sendo deposto e tentou um golpe de estado no dia 04 de principalmente devido a aprovação de duas da presidência, também não imaginavam
dois dias depois, dia 13 de abril, retornando fevereiro daquele ano, não obteve sucesso, leis polêmicas que Chaves foi o responsável. que ele ainda tinha tanta força junto ao povo,
ao seu posto numa reação política e militar foi preso durante dois anos, mas começou a Uma lei de terras, uma espécie de Reforma principalmente nas camadas sociais mais
inesperada, mostrou a fragilidade da aparecer e ficar conhecido em definitivo no Agrária e uma outra lei, de cunho ambiental, pobres que lhe davam sustentação e nem
estrutura democrática venezuelana. mundo e especialmente junto ao seu povo. que visava defender o meio ambiente. Todas contavam com o apoio de parte dos militares
A crise vivida neste curto período de Conseguiu isto, pois quando o país vivia duas, contrariaram os interesses da que se mantiveram fiel a ele mesmo depois
tempo, expôs uma situação curiosa e ao mergulhado em uma crise de valores, devido Fedecámaras, mais forte associação de ter sido deposto. “Os opositores de
mesmo tempo preocupante. Ambos os lados a corrupção que tomava conta de lá, ele empresarial venezuelana. “Seu discurso Chaves não achavam que ele ia ser apoiado
envolvidos na disputa se subestimaram. Esta surge com um discurso inflamado, revolucionário não agradava a direita da maneira que foi e se surpreenderam”,
é a opinião de um venezuelano que vive aqui defendendo uma reflexão e uma reforma na venezuelana”, explica Adrián. observa.
no Brasil, preocu- política venezue- Quando o Foi exatamente
pado com os aconte- lana além de uma jornalista Adrián utilizando estes apoios
cimentos recentes em mudança na ma- opina, dizendo que “Os opositores de Chaves que Hugo Chaves se
O povo via nele a expectativa
seu país. Adrián José neira de seu povo todos os dois lados não achavam que ele ia ser sentiu forte suficiente-
Padilla Fernández é de uma nova nação, honesta, pensar e agir. envolvidos na disputa, mente e encorajado
jornalista formado na sincera e sobretudo corajosa Depois de que teve contornos
apoiado da maneira que foi para recuperar o poder,
Universidade Central preso, durante 40 dramáticos e apre- e se surpreenderam” tirando um dos cabeças
da Venezuela, na segundos, Chaves sentou a queda de do golpe, Pedro Car-
capital Caracas, professor de Radio- assume publicamente em rede nacional que Hugo Chaves, para em mona, presidente da
jornalismo na Universidade de Uberaba, foi o responsável pelo golpe, assume todas seguida voltar ao poder, ele se baseia no Fedecámaras que assumiu temporariamente
mestre em ciências da comunicação pela as culpas, chama para si a responsabilidade contexto em que o presidente venezuelano a presidência em seu lugar. Carmona teve
USP e doutorando na área jornalística e as possíveis consequências do frustrado estava inserido. Ele explica que Chaves que fugir do palácio do governo por túneis
também na USP. golpe. Também afirma, que, por enquanto, acreditava que as pressões e críticas que secretos, após terem sido feitas ameaças de
Adrián, que já trabalhou como jornalista esta mudança de rumo do país não podia vinha recebendo dos militares era um que o local seria bombardeado, usando
durante 12 anos na Venezuela antes de vir ser conquistada. Mas essa expressão movimento isolado e que os empresários meios não ideais, mas para poder manter a
para o Brasil, acredita que tanto Hugo temporal utilizada sabiamente por Chaves, também não teriam força para derrubá-lo. democracia que havia sido gravemente
Chaves se mostrou confiante demais na sua dando a entender que a desistência da Se enganou, já que foi vítima do golpe e ameaçada.
popularidade junto ao povo, quanto os tentativa de golpe e que o recuo de suas chegou a ficar preso em um quartel. Assim, mais uma vez, Hugo Chaves se
grupos empresariais, representados pela tropas aliadas eram apenas momentâneo, e Adrián continua dizendo, que quando sobrepôs e provou que o “fenômeno
Fedecámaras, principal associação que adiante tentaria novamente esta ação, altos militares do exército estavam fazendo Chavismo” como é conhecido na Venezuela,
empresarial, a Igreja católica com quem fica na mente do povo de seu país e passa a pronunciamentos contra Chaves, apesar continua forte e resistiu às pressões
Chaves teve uma série de desentendimentos alimentar as esperanças daqueles que a dele achar que eram fatos isolados, na empresariais e até mesmo militares dos
e os grupos militares que ajudaram a partir dali, enxergavam em Chaves um novo verdade os representantes das forças grupos destas classes descontentes com seu
derrubar o presidente, também não herói. O povo via nele a expectativa de uma armadas venezuelanas já estavam jeito de agir e com a sua política. Apesar
acreditaram que ele teria tanta força assim nova nação, honesta, sincera e sobretudo planejando a sua deposição. E quando o dos meios de comunicação terem divulgado
para recuperar a presidência como corajosa. presidente interfiriu na petroleira PDVSA, que a “era Chaves” tinha acabado, Hugo
aconteceu. “Chaves subestimou seus De acordo com Adrián Fernandez, como mudando a sua direção e gerando a reação Chaves retornou ao poder graças ao apoio
opositores e eles também o subestimaram”, Chaves era um tenente coronel das forças da Fedecámaras e da Central de popular que pelos fatos ocorridos e pelo que
comenta. militares, sua postura esquerdista não era Trabalhadores Venezuelanos (CTV), foi visto pelo mundo neste aconteciemento,
Segundo Adrián, este golpe não foi bem vista pelos militares e por isso, determinando a greve dos funcionários da continua sólido e resistente.
22 a 28 de abril de 2002 9
Tempos de crise
Mulheres optam pelo sexo
para ganhar mais
Atraídas pelo dinheiro elas chegam a fazer 17 programas por noite
Leonardo Boloni hoje já somam 15 de experiência. Muito alta sociedade de Uberaba. Os clientes de Samanta vão de jovens
Claudinei Honório simpática e atenciosa, Samanta contou que Paciente e cuidadosa, Samanta é virgens a senhores mais velhos. “Muitos
7º período de Jornalismo cobra R$ 30,00 por um programa de meia daquelas que, além de ser profissional do deles são casados e vêm me procurar de
hora, deste total, R$ 5,00 ela paga pelo sexo, dá uma de “psicóloga”. Há clientes que madrugada. Quando as esposas viajam,
Lindo, fofo, moreno e gostoso… na quarto. a procuram somente para conversar, pois eles passam a noite comigo, e este
verdade o sujeito nem precisa ser bonito, Segundo ela há uma procura de casais necessitam de atenção para seus problemas, programa rende mais um bom dinheiro,
o que elas querem é chamar sua atenção por garotas de e ela ganha pela em torno de R$ 200,00 a R$ 250,00,
para poderem ganhar a vida. Elas circulam programa. “As atenção dispensada. para compensar os clientes que deixei
pelas redondezas do Parque Fernando mulheres e seus Quando questionamos sobre Ter cabeça. de atender”, explica. Quando
Costa, avenida Marcus Cherém e casas maridos escolhem Assim ela define a questionamos sobre a preferência por
noturnas de Uberaba. O objetivo delas é uma garota, pagam a preferência por sua receita para saber sua companhia, ela afirma: “quem
ganhar o sustento do seu dia-a-dia. R$ 150,00 e ficam companhia, ela afirma: “quem levar o negócio. As experimentou sempre volta”.
A profissão tem milhares de anos, mas, com ela toda a noite experimentou sempre volta” humilhações sofri- Todo o dinheiro que ganha aplica em
elas ainda utilizam a mesma técnica para em um motel ou na das foram como sua casa, que já esta pronta e mobiliada.
atrair a clientela. São bem sorridentes e própria casa dos feramentas para dar Muitos dos móveis e eletrodomésticos
esbanjam charme, tudo para fazer um bom clientes”. Programas como este Samanta a volta por cima e jamais desagradar o foram dados de presente por seus clientes
programa. Para elas, a noite não é uma disse que não encara. Afirma preferir ganhar freguês. “Tem gente que nos vê como um mais fiéis. Samanta pretende abandonar a
criança, pois o trabalho que praticam neste R$ 30,00 em uma noite do que R$ 150,00 simples objeto sexual, mas é preciso ser mais profissão no próximo ano, pois esta
período só adultos podem testemunhar. para ficar com outra mulher. Em dias de esperta que eles. Nesta hora, começo a rir e namorando e vai montar uma vídeo
Algumas trabalham nas ruas, outras em grande movimento, ela já chegou a ficar com o cara fica sem graça, faço só para locadora. “Pelo meu namorado eu saía
casas, mas a regra é uma só: precisam estar 17 homens num intervalo de doze horas. Ela descontrair, pois não posso perder meus dessa vida hoje, mas ele me entende e sabe
sempre bem dispostas, caso contrário, ganha R$ 350,00 por semana atendendo fregueses”, explica ela enquanto um cliente que preciso de dinheiro para montar o meu
perdem o freguês. As casas dipõem de seis desde pessoas de uma classe mais baixa à a abraça e acariacia seus seios. próprio negócio” afirma.
a 10 meninas e durante a Expozebu, o
número de garotas aumenta chegando a ter Leonardo Boloni
de quinze a vinte.
Há mais de doze anos com o ponto
localizado próximo a avenida Tonico dos
Santos, Paola, proprietária de uma das
casas, disse que durante a Exposição,
chegam mais garotas para fazer
programas, uma vez que há maior procura
neste período. Ela cobra R$ 5,00 por um
quarto que será locado durante 40 minutos
para os encontros. “Meu negócio é o bar e
aluguel de quartos”, diz.
A 50 metros, no mesmo lado da rua,
encontra-se outro lugar tradicional para
aqueles que procuram por prazeres sem
compromisso. Lá se cobra a entrada para
maior controle das pessoas que procuram
por diversão. “Assim é mais fácil você
evitar algum tipo de problema lá dentro”,
diz Jonas, que é sobrinho da dona do local.
Ele afirma que não há problemas com
bebedeiras ou drogas, mas quando alguém
passa dos limites, pede para se retirar “na
moral”. Com o dinheiro da portaria, a casa
oferece um streap-tease, o programa e as
bebidas ficam para os visitantes
negociarem, além do quarto utilizado.
Alguns metros adiante, em outra casa,
uma morena com belos traços prepara-se
para mais um dia. Ou melhor, uma noite,
de lida. Ela começou a vida aos 17 anos e “Tem gente que nos vê como um simples objeto sexual, mas é preciso ser mais esperta que eles”

10 22 a 28 de abril de 2002
 Segurança e diversão pagar apenas as contas e enfrentar um Leonardo Boloni
Um fator que diferencia as casas de monte de preconceito nas ruas da cidade.
encontro dos demais pontos de prostituição Meu trabalho aqui é alugar os quartos e
é a segurança. Túlio, cuja identidade vender bebidas”, esclarece.
completa ele preferiu não revelar, trabalha Uma das moças que trabalha na casa de
em uma destas casas. O segredo da sua Rosa é de rara beleza, seu nome é Luanda.
função é conhecer bem o o cliente. Para Seu traços mais parecem os de uma
evitar confusões, ele faz uma pré-seleção guerreira de ébano. Esta guerreira tem força
na entrada. Há 10 anos neste serviço, ele no sangue. Ela cortava cana em Igarapava,
afirma que durante a Expozebu as casas para sustentar seus dois filhos pequenos. Há
passam a cobrar uma entrada, caso seis meses resolveu vir para Uberaba. “O
contrário, ficam lotadas de homens apenas trabalho na lavoura não estava dando para
entrando e saindo. manter as crianças”, diz. Nas noites em que
Quem toma conta do estabelecimento faz muitos programas, entre 13 e 15, ela precisa
em que Túlio trabalha é dona Rosa, que há se preparar para não ficar indisposta. Para isso,
sete anos está no ramo. Antes era usa a pomada de xilocaina, que tem efeito
funcionária pública e cursou até o segundo anestésico. Ela afirma que além de ganhar
ano de Administração. “Aqui ganho meu dinheiro, consegue sentir prazer. “Tem muito
dinheiro com o aluguel dos quartos e a homem carinhoso e educado”disse.
venda das bebidas”, Luanda também
disse ela. Cada revela que muitos
cerveja custa R$ 3,00 Paciente e cuidadosa, clientes só querem
e as doses R$ 5,00. Samanta é daquelas que, conversar e alguns
Os clientes sempre além de ser profissional chegam a chorar
reclamam do preços quando estão con-
abusivos e ameaçam
do sexo, dá uma de “psicóloga” tando sua vida. Ela
até chamar o Procom atende homens de 28
(Programa de Defesa do Consumidor), a 55, mas há um cliente de 75 anos. Os mais
como fez o jovem Flávio, que é tratador velhos, segundo afirma, querem apenas
de gado e garante que está no local apenas fazer sexo oral. Ela também atente homens
para conhecer. Mas ele deixa escapar que e mulheres deste que estejam pagando bem,
já esteve em outras casas. “Só faço isso mas nunca atendeu casais. Ela deixa claro
porque a minha namorada ainda é virgem que com essa vida pode dar aos filhos tudo
e eu respeito ela” desculpa-se. Ele confessa que ela não teve. “Meus filhos estudam em
que depois que sai destas casas, bate um escolas particulares e tudo que eles querem
arrependimento por ter gastado tanto ali ou eu tento dar”. Luanda esta juntando
ficado com determinadas garotas. dinheiro para realizar o sonho de comprar
Rosa trabalha somente à noite e mora uma moto.
com sua filha, de 17 anos, próxima ao local Ela comenta algumas situações
de trabalho. Com o dinheiro, financiou os engraçadas. “Outro dia uma mulher veio
estudos de sua filha, que vai prestar buscar o marido dela aqui na porta e aí foi
vestibular para fisioterapia. “É um trabalho um escândalo”, ri.
como qualquer outro”, defende. Neste
trabalho, os clientes são diversos de Damas da avenida
Shirley passou no vestibular mas só cursou três meses. Viu que não era isso que queria
tratadores de gado a fazendeiros. Ela Outro ponto muito freqüentado é a
ressalta que até padres ela já recebeu. Isso avenida Marcus Cherén. Entre várias aparência, educado e inteligente. Descobriu Shirley passou no vestibular de medicina
mesmo!!! Padres fazendo sexo. “Já mulheres espalhadas pelas esquinas, está seu lado homossexual aos 14 anos. Faz na Universidade de Uberaba, mas só cursou
confirmei que realmente era padre, pois Joana, 33 anos, esperando, às 0h40, seu programas há dois anos e hoje já possui uma três meses e viu que não era aquilo que
presenciei uma missa celebrada por ele moto táxi para levá-la de volta para casa. clientela fiel. Consegue faturar cerca de R$ queria. Afirma não ter sofrido nenhum tipo
aqui na cidade”, garante. Ela ainda diz que Ela não pode ficar durante a madrugada, 800,00. Ele atende pelo telefone, sua clientela de preconceito dentro da Universidade,
de vez em quando chega alguns sacerdotes pois trabalha como auxiliar de limpeza em é masculina. “Cobro R$ 30,00 por hora, faço mesmo com sua aparência feminina.
de fora para rezarem no local e ficarem um hospital, onde recebe cerca de R$ papel de ativo e passivo, e tenho um cliente
bebericando umas cervejinhas. “Teve um 220,00 que ajuda a manter seu filho de 75 anos que me contrata duas vezes por Prevenção
dia que já estava fechando, quando chegou adolescente. Está nas ruas há dois anos, mês, apenas para conversar”, relata. “Em Todas as profissionais do sexo garantem
uma turma só para rezar, fiquei com eles cobra R$ 30,00 o programa completo. 30% dos casos eu sou ativo”, garante. que a procura pelo sexo sem camisinha é
até de manhã”, lembra. Rosa afirma que Ganha uma faixa de R$ 700,00 por mês e Na sua lista de clientes tem homens muito grande. “Chegam a oferecer o triplo
regularmente eles (os padres) estão na casa está nesta vida por necessidade. casados que vão a procura de realizar suas de um programa normal para fazer sem”,
procurando “diversão”. Em outra esquina está Valéria, novata fantasias. “Tem um cliente que reclama que afirmam. Mas elas se previnem, pois muitas
Sua casa oferece quatro quartos que no mercado, somente a um mês. Ela disse sua esposa gasta muito dinheiro, aí ele me têm filhos para cuidar e não podem se
custam R$ 10,00 reais por hora e cinco que, se separou do marido, por ter sido procura para relaxar”. arriscar assim. Rosa adotou um esquema
meninas que lá residem. Segundo Rosa, na traída. Hoje ela se vende para sobreviver. Shirley mora com sua mãe e um irmão. para evitar que as garotas tenham este tipo
época da exposição o movimento cresce Sua estréia, segundo ela foi boa, ganhou Eles não aprovam o que faz, mas o de relação com os clientes. Junto do quarto,
25%. Para este ano, ela espera uma melhora cerca de R$ 1.200,00 neste período. compreendem. Ele trocou o dia pela noite. “A ela oferece os preservativos. “Mas o corpo
no movimento, apesar da expressão Segundo ela, mesmo separada, seu ex- noite me atrai”, diz enquanto arruma sua blusa, é delas e elas fazem o que quiser”. Embora
desanimada. Ela fala que o resultado destes marido ainda a procura para atormenta-la. deixando seus largos ombros à mostra. Nesta Rosa oriente as garotas, não há como
anos de trabalho “só me trouxeram rugas e profissão ele une o útil ao agradável. “Não é fiscalizar tais decisões. “Entre quatro
muitas veias arrebentadas”, diz humorada. A vez dos homens por necessidade, mas sou uma pessoa noturna paredes eles se entendem”.
“O dinheiro que ganho é suficiente para Shirley é um rapaz forte, 22, de boa e ainda ganho dinheiro”, diz o rapaz maquiado. * Os nomes utilizados na reportagem são fictícios

22 a 28 de abril de 2002 11
Consumismo infantil
é tema de paródia
André Azevedo
1º período de Jornalismo
A mídia tem empenhado sua força mais
no sentido de induzir a criança ao consumo
do que em educá-la para um mundo cada
vez mais complexo. A partir dessa
constatação, alunos do 3º período de
Comunicação Social, orientados pela
professora Janete Tranqüila, realizaram um
trabalho em sala de aula onde parodiaram
essa desproporção.
“A idéia é questionar essa persuasão
forte sobre as crianças”, diz Janete. Segundo
a professora, a propaganda voltada ao
público infantil é muito mais intensa e
aparece muito mais vezes do que
reportagens sobre assuntos da infância. “A
imprensa deveria estar trabalhando a
conscientização e incentivando o diálogo.
Mas o que faz? Induz a comprar
brinquedo!”, afirma. Essa “overdose” de
publicidade infantil estaria embaralhando a
noção de prioridade e criando situações
embaraçosas. “Por exemplo, hoje se vende
de tudo na farmácia, até sorvete. A mãe vai
comprar remédio com o menino e ele dá até
birra querendo picolé”, diz a professora.
As paródias firmam um posicionamento
crítico dos estudantes perante os artifícios
para induzir ao consumismo. Por serem
frágeis, crianças são naturalmente suscetíveis
às sugestões da propaganda. Por causa disso,
em muitos casos são despertados desejos
de consumo descabidos ao universo
infantil.
Para produzir os anúncios, os alunos
utilizaram as próprias fotos de quando
eram crianças. A arte final foi feita por
Lungas Neto, aluno do 7º período de
Publicidade, especialmente para o
Revelação. A professora Janete escolheu
alguns trabalhos que considerou
representativos, que são os seguintes:

Arte final: Lungas Neto

Larissa Melo Diogo Sucupira

Lorena Morais Carla Leão