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O Cérebro do Psicopata
Renato M.E. Sabbatini, PhD
[Volta ao início do artigo]
Por que os sociopatas têm estas características? Os seus cérebros são diferentes
daqueles das pessoas normais? Eles exibem alterações patológicas?
Muitos estudos têm mostrado nos últimos 20 anos que assassinos e criminosos
ultraviolentos têm evidências precoces de doença cerebral. Por exemplo, em um estudo,
20 de 31 assassinos confessos e sentenciados possuiam diagnósticos neurológicos
específicos. Alguns dos presos tinham mais que um distúrbio, e nenhum sujeito era
normal em todas as esferas. Entre os diagnósticos, estavam a esquizofrenia, depressão,
epilepsia, alcoolismo, demência alcoólica, retardamento mental, paralisia cerebral, injúria
cerebral, distúrbios dissociativos e outros. Mais de 64% dos criminosos pareciam ter
anormalidades no lobo frontal. Quase 84% dos sujeitos tinham sido vítimas de severo
abuso físico e/ou sexual. O grupo de assassinos incluiu membros de gangues,
sequestradores, ladrões, assassinos seriais, um sentenciado que tinha matado seu filho
pequeno, e outro que assassinara seus três irmãos.
Em outro estudo realizado no Canadá em 1994, no grupo mais violento de 372 homens
presos em um hospital mental de segurança máxima, 20 % tinham anormalidades focais
temporais do EEG, e 41% tinham alterações patológicas da estrutura do cérebro no lobo
temporal. As taxas correspondentes para o resto do grupo violento foram de 2.4 % e 6.7
%, respectivamente, sugerindo assim um papel importante para os danos neurológicos
na gênese das personalidades violentas, em uma proporção de 21:1 para agressivos
habituais, e de até 4:1 (quatro vezes mais que na população normal), no caso de
agressivos incidentais (uma única vez). O estudo conclui: "nós propomos que, embora
tais discrepâncias não sejam suficientes para confirmar a neuropatologia como uma
causa univariada da agressão criminosa, também não é razoável supor que sejam
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causa univariada da agressão criminosa, também não é razoável supor que sejam
meram artefatos do acaso."
Ainda que este tenha sido sempre um assunto muito controvertido, muitos pesquisadores
acham que existem fortes argumentos à favor de um substrato da doença cerebral
presente em criminosos violentos; e que isto tem consequências importantes para muitas
coisas, desde do ponto de vista da lei, até a perspectiva de uma prevenção efetiva e do
tratamento da sociopatia.
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Há muito tempo que os neurocientistas sabem que as lesões desta parte do cérebro
levam a déficits severos em todos estes comportamentos. O uso abusivo da lobotomia
pré-frontal como uma ferramenta terapêutica pelos cirurgiões em muitas doenças
mentais nas décadas de 40 e 50, forneceu dados mais que suficientes aos pesquisadores
para implicar o cérebro frontal na gênese das personalidades antissociais (veja meu
artigo sobre a história da psicocirurgia na segunda edição da Cérebro & Mente.
Por que o cérebro frontal parece ser tão importante na gênese de indivíduos antissociais?
Uma hipótese provável é que quando não existe punição, ou quando a pessoa é incapaz
de ser condicionada pelo medo, devido a uma lesão no córtex órbito-frontal, por
exemplo, ou devido a baixa atividade neural nesta área, então ele desenvolve uma
personalidade antissocial.
Pesquisas com animais têm mostrado que o córtex órbito-frontal direito está envolvido
no medo condicionado. Por exemplo, quando um rato é punido com um choque elétrico
cada vez que uma luz pisca em sua gaiola, ele sente medo, por associar aquele estímulo
à punição. Seres humanos normais aprendem muito cedo na vida a evitar
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comportamentos antissociais, porque eles são punidos por isso e também porque eles
possuem circuitos cerebrais para associar o medo da punição (sentimento da emoção) à
supressão do comportamento. Este parece ser um elemento chave no desenvolvimento
da personalidade.
Felizmente, temos agora uma maneira mais direta de visualizar a função cerebral, e que
tem conduzido a uma notável explosão em nosso conhecimento sobre o funcionamento
interno do cérebro do psicopata nos últimos dois ou três anos: a tomografia PET.
Imagens da Violência
Os estudos iniciais controlados, realizados por Raine e colegas foram confirmados por
uma série de investigações baseadas em PET com indivíduos sociopatas e criminosos
violentos. Em um estudo em 1994, 17 pacientes com diagnóstico de distúrbio de
personalidade foram submetidos ao PET. Os pesquisadores provaram que havia uma
forte correlação inversa entre uma história de dificuldades de controle de agressividade
durante toda a vida e o metabolismo regional no córtex frontal. Seis destes pacientes
eram antissociais, o resto tinha vários distúrbios de personalidade (marginais,
dependentes narcisistas). O PET foi usado novamente em 1995 para avaliar o
metabolismo da glicose cerebral em oito sujeitos normais e oito pacientes psiquiátricos
com história de comportamento repetitivo violento. Os autores obervaram que "sete dos
pacientes mostraram amplas áreas de baixo metabolismo cerebral, particularmente no
córtex pré-frontal e temporal medial quando comparado à sujeitos normais. Estas regiões
têm sido implicadas como o substrato para agressão e impulsividade, e sua disfunção
pode ter contribuído para pacientes com comportamento violento". Mais recentemente 6/8
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pode ter contribuído para pacientes com comportamento violento". Mais recentemente
(1997), a tecnologia de imagens cerebrais por PET mostrou também que os psicopatas
diferiram de não-psicopatas no padrão de fluxo cerebral relativo durante o
processamento de palavras com coneteúdo emocional. As mudanças de personalidade
adquiridas devido à injúria cerebral são também acompanhadas por uma diminuição na
atividade neural na área frontal (veja figura abaixo).
Conclusões
Em resumo, ainda que muitos destes resultados devam ser tomados com cuidado, todos
eles convergem para uma importante descoberta: a de que os cérebros de criminosos
violentos e sociopatas são na verdade alterados de maneira sutil, e que este fato pode
agora ser revelado por novas técnicas sofisticadas. Uma consideração importante é que
o comportamento humano é extremamente complicado e o resultado de uma interação
de muitos fatores sociais, biológicos e psicológicos. "Existem muitos fatores envolvidos
no crime. A função cerebral é apenas uma delas", diz o Prof. Adrian Raine. "Mas, ao
entendermos a sua função cerebral, estaremos em uma melhor posição para entender as
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causas completas do comportamento violento".
Outra desvantagem dos estudos retrospectivos (isto é, feitos após o distúrbio aparecer
em indivíduos estudados), é que é difícil separar causa da consequência. Em outras
palavras, será que o déficit cerebral observado é a causa da anormalidade psicológica ou
apenas o seu resultado?. Além disso, os resultados são ainda preliminares e não dão
credibilidade ao uso destes métodos de neuroimagem e avaliação da função para
"diagnosticar" indivíduos em risco de sociopatia; deste modo eles não devem ser usados
para propósitos clínicos ou forenses no presente estágio.
Portanto, existe razoável evidência que os os sociopatas têm uma disfunção do cérebro
frontal. Porque e quando esta disfunção aparece ainda é totalmente desconhecido, até
agora.
Emocionalmente Insensíveis
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