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Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR)

(Adaptado do Capítulo 30 do Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações: Aplicável


também às demais sociedades (7ª ed., SP: Atlas, 2007)
INTRODUÇÃO
A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (mais conhecida como DOAR), como seu próprio nome
indica, tem por objetivo apresentar de forma ordenada e sumariada principalmente as informações relativas às
operações de financiamento e investimento da empresa durante o exercício, e evidenciar as alterações na
posição financeira da empresa.
Os financiamentos estão representados pelas origens de recursos, e os investimentos pelas aplicações de
recursos, sendo que o significado de recursos aqui não é simplesmente o de dinheiro, ou de disponibilidades,
pois abrange um conceito mais amplo; representa capital de giro, também conhecido como Capital Circulante
Líquido, como anteriormente era denominado pela Lei Societária antes das alterações promovidas pela Lei
11.638/07. O Capital Circulante Líquido é representado pelo Ativo Circulante (Disponível, Contas a Receber,
Investimentos Temporários e Estoques e outros valores realizáveis até o final do exercício seguinte) menos o
Passivo Circulante (Fornecedores, Contas a Pagar e outras exigibilidades realizáveis até o final do exercício
seguinte).
A forma mais usual de cálculo do Capital Circulante Líquido (CCL) é através da diferença entre o Ativo
Circulante e o Passivo Circulante. Entretanto, o significado financeiro do CCL é distinto dessa diferença; pode-
se visualizar o CCL pela diferença entre fontes de financiamento de longo prazo (Passivo Não Circulante mais
o Patrimônio Líquido) e de Investimentos de Longo Prazo (Ativo Não Circulante); caso a entidade possua
fontes de recursos de longo prazo superiores aos investimentos de longo prazo, o CCL será positivo, o que
implica a sobra de fontes de financiamentos de longo prazo em relação aos investimentos de longo prazo.
Portanto, essa sobra está necessariamente aplicada em investimento líquido de curto prazo, indicando a
existência de uma folga financeira de curto prazo, que é o significado financeiro do CCL. O referido
investimento de curto prazo, caso o CCL seja positivo, é dado pela diferença ente o Ativo Circulante
(investimentos de curto prazo) e Passivo Circulante (fonte de financiamento de curto prazo), que é um
investimento líquido de curto prazo.
Caso existam investimentos de longo prazo superiores às fontes de financiamento de longo prazo, a empresa
estará financiando parte de seus investimentos de longo prazo com recursos de curto prazo, o que,
geralmente, exceto para alguns ramos específicos de negócios, implica descasamento de prazos entre origens
e aplicações de recursos, podendo afetar significativamente a posição financeira (liquidez) da entidade. Nesse
caso, o Passivo Circulante é superior ao Ativo Circulante, indicando, em vez de um investimento líquido de
curto prazo, uma fonte de financiamento líquida de curto prazo.
Os Balanços Patrimoniais figurativos a seguir auxiliam o entendimento do conceito de CCL.
ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE
CCL > 0 PASSIVO NÃO CIRCULANTE
ATIVO NÃO CIRCULANTE MAIS PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Balanço Patrimonial figurativo nº 1

PASSIVO CIRCULANTE
ATIVO CIRCULANTE
CCL > 0
INVESTIMENTOS FONTES DE FINANCIAMENTO
DE LONGO PRAZO DE LONGO PRAZO
Balanço Patrimonial figurativo nº 2
No Balanço Patrimonial figurativo nº 1, o valor do CCL é dado pela diferença entre Ativo e Passivo Circulantes
e ele é positivo, pois o Ativo Circulante é superior ao Passivo Circulante. Da mesma forma, no Balanço
Patrimonial figurativo nº 2, o valor do CCL, dado como o excesso (ou falta) de fontes de financiamento de
longo prazo com relação aos investimentos de longo prazo, também é positivo.
Como se pode perceber pelo Balanço Patrimonial figurativo nº 2, o CCL, no caso positivo, representa a sobra
de fontes de financiamento de longo prazo aplicada em investimentos líquidos de curto prazo.
Os balanços figurativos nos 3 e 4 representam um exemplo com CCL negativo:
ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE
CCL < 0
ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE
MAIS PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Balanço Patrimonial figurativo nº 3

ATIVO CIRCULANTE
PASSIVO CIRCULANTE
CCL < 0
INVESTIMENTOS DE FONTES DE FINANCIAMENTO
LONGO PRAZO DE LONGO PRAZO
Balanço Patrimonial figurativo nº 4

Nesse caso, os investimentos de longo prazo são superiores às fontes de financiamento de longo prazo,
portanto parte do passivo de curto prazo está financiando ativos de longo prazo, numa clara situação de
descasamento de prazo das aplicações e origens de recursos.
Deve-se lembrar que todas as origens possuem aplicações e vice-versa. Esse é o princípio básico das partidas
dobradas da Contabilidade, da mesma forma que o Balanço Patrimonial expressa no lado esquerdo (o ativo)
as aplicações de recursos, e do lado direito (passivo mais patrimônio líquido) as fontes de financiamento.
Seguindo esse raciocínio, a DOAR deve evidenciar todas as aplicações e todas as origens de recursos, e essas
devem ser iguais. A forma tradicional de apresentação da DOAR não auxilia no entendimento da igualdade
entre origens e aplicações de recursos, pois finaliza com a explicação da variação do CCL, dando a impressão
de que as origens são superiores às aplicações (quando ocorrer uma variação positiva do CCL) ou de que as
aplicações são superiores às origens (quando ocorrer uma variação negativa do CCL). Esse assunto é
comentado no exemplo mais adiante.
A DOAR não deve ser confundida com as demonstrações que visam somente ao fluxo das disponibilidades, como
é o caso da Demonstração do Fluxo de Caixa. De fato, esta visa tão-somente mostrar as entradas e saídas de
dinheiro. Por outro lado, a DOAR é mais abrangente, não só por descrever as variações em função do Capital
Circulante Líquido, em vez de Caixa, mas também por representar uma demonstração das mutações na
posição financeira envolvendo não apenas o fluxo financeiro realizado (entradas e saídas de caixa que
ocorreram), mas também o fluxo financeiro que será realizado no curto prazo.
É, aliás, por esse motivo que em alguns países é denominada Demonstração das Mutações na Posição
Financeira. Todavia, atualmente são poucos os países que ainda adotam a DOAR, apesar de ela ser mais rica
em termos de informações.
O Brasil, seguindo uma tendência mundial, substituiu a obrigatoriedade de se publicar a DOAR pela
obrigatoriedade de se publicar a Demonstração de Fluxos de Caixa (DFC).
Descrição das Origens
As origens de recursos são representadas pelos aumentos das fontes de financiamento de longo prazo, ou
pelas transferências dos investimentos de longo prazo para o curto prazo, e as mais comuns são:
a) Das operações, quando as receitas (que geram ingressos de capital circulante líquido) do exercício
são maiores que as despesas (que geram aplicações ou reduções de capital circulante líquido).
Assim, ignorando as despesas ou receitas que não afetam o capital circulante líquido, temos
simplesmente que:
• se houver lucro, teremos uma origem de recursos;
• se houver prejuízo, teremos uma aplicação de recursos;
b) Dos acionistas, pelos aumentos de capital integralizados por estes no exercício, já que tais recursos
aumentaram as disponibilidades da empresa e, conseqüentemente, seu capital circulante líquido;
c) De terceiros, por empréstimos obtidos pela empresa, pagáveis no longo prazo, bem como dos
recursos oriundos da venda a terceiros de bens e direitos do Ativo Não Circulante, ou de
transformação do Realizável a Longo Prazo em Ativo Circulante.
Os empréstimos feitos e pagáveis no curto prazo não são considerados como origem de recursos, para fins
dessa demonstração, pois não alteram o Capital Circulante Líquido. De fato, nesse caso há um aumento de
disponibilidades e, ao mesmo tempo, do Passivo Circulante.
Descrição das Aplicações
As aplicações de recursos são representadas pelos aumentos dos investimentos de longo prazo, ou pelas
transferências de fontes de financiamento de longo prazo para o curto prazo, e as mais comuns são:
a) Inversões permanentes, derivadas de:
• aquisição de bens e direitos do Ativo Imobilizado;
• aquisição de novos Investimentos (participações permanentes em outras sociedades ou
propriedades para investimento classificáveis no Ativo Não Circulante);
• aplicação de recursos no Ativo Intangível;
b) Pagamento de empréstimos a longo prazo, pois, assim como a obtenção de um novo financiamento
representa uma origem, sua liquidação significa uma aplicação. Na verdade, como o conceito de
Recursos é o de Capital Circulante Líquido, portanto, a mera transferência de um saldo de
empréstimo do Exigível a Longo Prazo para o Passivo Circulante, por vencer no exercício seguinte,
representa uma aplicação de recursos, pois reduziu o Capital Circulante Líquido
c) Remuneração de acionistas, derivada dos dividendos declarados e juros sobre o capital próprio
declarados.
Origens e Aplicações que não Afetam o CCL, mas Aparecem na DOAR
Além das origens e aplicações relacionadas acima, há inúmeros tipos de transações efetuadas que não afetam
o Capital Circulante Líquido, mas devem ser representadas como origens e aplicações simultaneamente. Por
exemplo:
a) Aquisição de bens e direitos do Ativo Não Circulante (Investimentos, Imobilizados e Intangíveis)
pagáveis no longo prazo. Nesse caso, há uma aplicação pelo acréscimo do Ativo Não Circulante e,
ao mesmo tempo, uma origem pelo financiamento obtido pelo acréscimo no Exigível a Longo Prazo
no exercício, como se houvesse entrado um recurso que fosse imediatamente aplicado;
b) Conversão de Empréstimos de Longo Prazo em Capital, caso em que há uma origem pelo aumento
do capital e, paralelamente, uma aplicação pela redução do Exigível a Longo Prazo, como se
houvesse ingresso de recurso de Capital aplicado na liquidação da dívida;
c) Integralização de Capital em bens do Ativo Não Circulante, situação também sem efeito sobre o
Capital Circulante Líquido, mas representada na origem (aumento de capital) e na aplicação (bens
do Ativo Imobilizado recebidos, por exemplo), como se houvesse essa circulação do recurso;
d) Venda de bens e direitos do Ativo Não Circulante recebível no longo prazo, operação que também
deve ser demonstrada na origem, como se fosse recebido o valor da venda, e na aplicação, como se
houvesse o empréstimo sido feito para recebimento no longo prazo.
Importância
Como se verifica pela natureza das informações que contém, a DOAR é de muita utilidade, pois fornece dados
importantes que não constam das demais demonstrações financeiras. Essa demonstração está relacionada
tanto com o Balanço quanto com a Demonstração do Resultado do Exercício, sendo complementar a ambas,
fornecendo as modificações na posição financeira da empresa pelo fluxo de recursos (aumentos ou
diminuições do CCL). Assim, é muito útil no conhecimento e análise da empresa e de sua evolução no tempo.
De fato, ela auxilia em importantes aspectos como, por exemplo:
1. Conhecimento da política de inversões permanentes da empresa e fontes dos recursos
correspondentes;
2. Constatação dos recursos gerados pelas operações próprias, ou seja, o lucro do exercício (ajustado
pelos itens que o integram mas não afetam o capital circulante líquido);
3. Verificação de como foram aplicados os recursos obtidos com os novos empréstimos de longo
prazo;
4. Constatação de se e como a empresa está mantendo, reduzindo ou aumentando seu capital
circulante líquido;
5. Verificação da compatibilidade entre a remuneração dos acionistas a posição financeira da
empresa.
Essa demonstração é também muito utilizada no acompanhamento de desenvolvimento de novos projetos,
comparando seus valores realizados com os orçados, não só para fins internos da administração e de seus
acionistas, como também pelos agentes financiadores do projeto.
Obrigatoriedade
A Lei nº 6.404/76 tornou obrigatória essa demonstração para todas as companhias (artigo 176, item IV).
Todavia, com a nova redação dada ao artigo 176, pelas alterações promovidas pela Lei nº 11.638/07, a DOAR
deixou de ser obrigatória e, em seu lugar, passou-se a exigir a Demonstração dos Fluxos de Caixa.

FORMA DE APRESENTAÇÃO
Introdução
Essa demonstração, quando obrigatória, era apresentada com os seguintes grandes títulos:
I –ORIGENS DOS RECURSOS
Onde se discriminam as origens, por natureza, e apurado o valor total dos recursos obtidos no exercício.

II –APLICAÇÕES DOS RECURSOS


Onde se relacionam as aplicações, também por natureza, e evidenciado seu valor total.

III –AUMENTO OU REDUÇÃO NO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO


Pela diferença entre o total das origens e o total das aplicações.

IV –SALDO INICIAL E FINAL DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO E VARIAÇÃO


Onde se evidenciam os valores do Ativo e Passivo Circulantes do início e do fim do exercício e respectivo
aumento ou redução.
Nos tópicos seguintes são comentados os principais componentes de origens e aplicação de recursos, seu
tratamento e classificação recomendados.
Recursos das Operações
a) CONCEITO E APURAÇÃO
Esse item visa exatamente demonstrar os recursos oriundos das próprias operações. Já vimos que os recursos
originados das próprias operações são representados pelas receitas que originaram recursos (acréscimos no
capital circulante líquido) menos as despesas que causaram sua utilização (diminuição do capital circulante
líquido).
De fato, as receitas geram contas a receber ou caixa e as despesas acarretam pagamento ou acréscimo de
contas a pagar ou redução de valores do ativo circulante, como salários, encargos, estoques consumidos etc.
Todavia, em vez de repetir quais são essas receitas e despesas que alteram o capital circulante líquido, a
técnica de apuração e de apresentação na demonstração é a de partir do lucro líquido (Demonstração do
Resultado do Exercício) e em seguida excluir os valores registrados como despesa ou receita que não geram
aplicações nem origens de recursos (capital circulante líquido) no exercício.
Faz-se necessário esclarecer que o termo “Lucro Líquido do Período” (ou “Prejuízo Líquido do Período” ou
ainda “Resultado do Período”) empregado neste livro, diz respeito à “demonstração do resultado” e não ao
valor final obtido após a inclusão de outros resultados abrangentes, tal como evidenciado na “Demonstração
do Resultado Abrangente Total”.
De acordo com o PT CPC 26 (item 81), a entidade deve apresentar todos os itens de receita e despesa
reconhecidos num período em duas demonstrações: a demonstração do resultado líquido e a demonstração
do resultado abrangente total, sendo que esta começará com o resultado líquido do período e incluirá os
outros resultados abrangentes.
Portanto, o valor do resultado abrangente total corresponde à mudança provocada no patrimônio líquido
durante um período que não decorre de transações com os proprietários (integralização de capital,
distribuição de dividendos etc.), de forma que esse valor compreende todos os componentes da
“Demonstração do Resultado” e os da “Demonstração do Resultado Abrangente Total”.
b) RECEITAS E DESPESAS QUE NÃO AFETAM O CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO (NO EXERCÍCIO)
A seguir se apresentam os itens de receita e despesa que integram o valor do lucro líquido (ou prejuízo
líquido) do exercício, mas que, na verdade não afetaram o CCL, uma vez que não provocaram efeitos nem no
Ativo Circulante e nem no Passivo Circulante.
I – Depreciação, Amortização e Exaustão
De fato, tais itens constam como despesas no exercício, diminuindo o resultado, mas não reduzem o CCL; pois
representam a redução do Ativo Imobilizado (ou Intangível) e redução no Patrimônio Líquido (por meio do
Resultado do Período), não alterando os valores de Ativo e Passivo Circulantes.
Assim, o valor desses itens registrados no ano deve ser adicionado ao lucro líquido para apuração do valor
efetivo dos recursos gerados pelas próprias operações. Afinal, o desembolso pela aquisição do ativo
imobilizado (ou intangível), ora sendo depreciado, amortizado, ou exaurido, ocorreu no passado e já deve ter
sido considerado como aplicação no exercício em que sua aquisição foi realizada.
II – Resultado da Equivalência Patrimonial
Na medida em que o investidor reconhece a parte que lhe cabe nos resultados do período de suas coligadas e
controladas (inclusive as controladas em conjunto), a contrapartida desse ajuste no investimento é uma
receita ou despesa no resultado da investidora (resultado da equivalência patrimonial). Todavia, esse
resultado, que afeta o lucro da investidora, não afeta seu CCL. Por isso, na apuração da origem de recursos das
operações, esse valor deve ser diminuído do lucro líquido, se for receita, ou a ele acrescentado, se for despesa.
III – Ajustes de Exercícios Anteriores
Esses ajustes podem ser decorrentes do efeito da mudança de prática contábil, ou retificação de erros de
exercícios anteriores, sendo que esses erros ou ajustes são registrados diretamente na conta de Lucros ou
Prejuízos Acumulados, não afetando, portanto, o lucro do período. A melhor forma de tratamento desse item é
ajustá-lo nos saldos iniciais do Balanço, nas contas a que se refere, como se já houvesse sido registrado nos
anos anteriores. Dessa forma, as origens e aplicações de recursos do ano já ficarão expurgadas desse efeito.
IV – Variações Monetárias de Ativos e Passivos de Longo Prazo
A atualização monetária de uma dívida de longo prazo gera despesas (variação cambial ou correção monetária
e os juros) que afetam o lucro do período, mas, por reduzirem o Patrimônio Líquido (por meio do Resultado
do Período) e aumentarem o Passivo Não Circulante, não alteram o capital circulante líquido. Por isso, tais
despesas também devem ser adicionadas ao lucro líquido do exercício.
Por outro lado, a atualização monetária de um empréstimo concedido de longo prazo (para uma controlada,
por exemplo) gera receitas (variação cambial ou correção monetária e os juros) que afetam o lucro do
período, mas, por reduzirem o Patrimônio Líquido (por meio do Resultado do Período) e aumentarem o Ativo
Não Circulante, não alteram o capital circulante líquido. Por isso, tais receitas também devem ser excluídas do
lucro líquido do exercício.
V – Outras Receitas e Despesas
Além dos itens apresentados, pode haver outros que afetam o lucro do período, mas não afetam o capital
circulante líquido, devendo ter o mesmo tratamento. Para identificar tais itens é necessário analisar cada
mutação das contas do ativo e do passivo não circulantes e, sempre que um aumento ou redução nessas contas
tiver como contrapartida o resultado do período, isso significa que não afetaram o CCL, uma vez que não
aumentou ou reduziu conta alguma do ativo ou passivo circulantes. Em outras palavras, tem-se uma receita ou
despesa que irá afetar o CCL em exercícios futuros (como é o caso da atualização de dívidas de longo prazo),
ou que já afetou o CCL em exercícios anteriores (como é o caso da despesa de depreciação). Dessa forma, se
está diante de um ajuste que deve ser feito no resultado do período para que ele passe a representar a
verdadeira origem das operações.
Um exemplo de outras despesas que constituem adição ao lucro líquido são as perdas contabilizadas
provenientes da redução de ativos ao seu valor recuperável (imobilizado, intangível, investimentos) ou ao seu
valor realizável (estoques, recebíveis, ativos financeiros etc.).
Outro exemplo seriam as contingências contabilmente reconhecidas, como é o caso de um passivo contingente
reconhecido no Passivo Não Circulante; ou ainda o aumento do imposto de renda diferido (no Passivo Não
Circulante), decorrente da parte postergada do imposto de renda que foi deduzido do lucro líquido.
c) CASO EM QUE HÁ PREJUÍZOS
Todas as considerações anteriores foram feitas na situação em que as operações geram recursos, partindo do
pressuposto de se ter apurado lucro líquido no exercício. Entretanto, se a situação é inversa, ou seja, quando
as operações consomem capital circulante líquido, isso representa uma aplicação, e como tal deve ser
apresentado na DOAR, no grupo de Aplicações de Recursos, como o primeiro item do grupo. Isso ocorre
quando a empresa está operando com prejuízo. Entretanto, se a empresa está com prejuízo, mas, como
decorrência dos ajustes já citados, as operações próprias apresentam uma origem de recursos, a apresentação
do prejuízo e de seus ajustes deve ser no agrupamento das Origens de Recursos.
O inverso pode também excepcionalmente ocorrer, devendo ter tratamento similar, isto é, a empresa está com
lucro, mas os ajustes evidenciam finalmente uma aplicação de recursos, devendo ser apresentado o lucro e
seus ajustes no agrupamento de Aplicações de Recursos.
Recursos dos Sócios
Esses recursos são aqueles recebidos dos próprios acionistas ou proprietários. Logicamente, devem aqui ser
consideradas as integralizações efetivas e não a subscrição, pois só a integralização representa efetivamente o
ingresso de recursos pelo aumento do CCL. Todavia, vale lembrar que, se a integralização ocorrer em dinheiro,
haverá um aumento no ativo circulante, constituindo-se em uma origem efetivamente e, se a integralização
ocorrer em bens ou direitos do ativo não circulante, como um imóvel a ser utilizado nas operações, por
exemplo, deve-se considerar concomitantemente uma origem (dos sócios), pela integralização de capital, e
uma aplicação, pelo aumento do ativo imobilizado, tal como se o dinheiro da integralização fosse
imediatamente utilizado para a aquisição do imóvel.
As contribuições para reservas de capital são também origens, tais como o ágio na emissão de ações (pelo
valor que a integralização excedeu o valor nominal das ações) ou a alienação de bônus de subscrição (pelo
valor recebido).
Recursos de Terceiros
Os recursos oriundos de terceiros podem ser os apresentados a seguir.
a) AUMENTO NO PASSIVO NÃO CIRCULANTE
Pelo valor de novos empréstimos recebidos no exercício e que geraram acréscimo no ativo circulante. Esse
aumento no exigível a longo prazo não deve ser apenas o aumento líquido, ou seja, a diferença entre os novos
empréstimos obtidos e os pagamentos ou reduções por transferência para curto prazo. De fato, o valor dos
novos empréstimos deve figurar pelo valor total como origem, e as reduções por pagamento ou transferência
para o Passivo Circulante devem ser apresentadas como Aplicações.
I – Tratamento das Variações Monetárias
Todavia, o passivo não circulante é acrescido também pelos encargos financeiros, ou seja, por sua atualização
contábil, em virtude da variação cambial, juros ou atualização nominal. Essas variações monetárias são
registradas como encargos financeiros, mas não afetam o CCL no exercício. Dessa forma, não devem aparecer
como origem de recursos junto com os acréscimos de passivos não circulantes, mas como ajuste (adição) ao
lucro líquido.
b) REDUÇÃO DO ATIVO NÃO CIRCULANTE
I – Realizável a Longo Prazo
De forma geral, o decréscimo no saldo do Ativo Realizável a Longo Prazo representa, normalmente, origem de
recursos, pois é oriundo de transferência, para o Ativo Circulante, do resgate, do recebimento ou da venda de
direitos classificados nesse subgrupo do Ativo Não Circulante, com conseqüente acréscimo no capital
circulante líquido. Da mesma forma, um acréscimo nesse saldo representa aplicação de recursos.
A técnica correta aqui é obter uma composição sumária do movimento do Realizável a Longo Prazo durante o
exercício, de forma a classificar suas adições como aplicações, e as reduções, como origens, e isso deve ser
feito sempre que tais valores forem significativos.
Nesse movimento, poderá ainda aparecer uma redução pelo reconhecimento de perdas esperadas. Essas
perdas, normalmente contabilizadas em conta redutora distinta, porém, não representa redução do capital
circulante líquido, sendo que sua contrapartida está em despesas, devendo, portanto, ser também adicionada
ao lucro líquido.
Todavia, há que se considerar que os ativos financeiros disponíveis para venda são mensurados a valor justo,
sendo as mudanças de valor justo reconhecidas diretamente no patrimônio líquido da entidade. Portanto, os
ativos financeiros disponíveis para venda classificados no Realizável a Longo Prazo podem sofrer reduções
provenientes de uma redução de seu valor justo. Essa redução não deve ser considerada como origem de
recursos dado que não afetou o CCL. Tal redução tem como contrapartida a conta de Ajustes de Avaliação
Patrimonial no Patrimônio Líquido e, portanto, também não irá afetar o resultado do período (apesar de
afetar o resultado abrangente total). Dessa forma esse tipo de redução não constitui nem uma origem
(certamente também não constitui uma aplicação) e nem um ajuste (soma ou adição) no lucro do período.
Vale ressaltar que se a redução ocorrer por baixa (parcial ou integral) do ativo financeiro, proveniente de sua
alienação, por exemplo, nesse caso a baixa representa uma origem de terceiros. Todavia a verdadeira origem
não é o valor da baixa, mas o valor pelo qual o ativo foi vendido (valor que se recebeu de terceiros pela
alienação).
Dessa forma, a venda (ou resgate) de um ativo financeiro irá afetar o CCL pelo aumento das disponibilidades,
constituindo assim uma origem de recursos. Nesse momento, a entidade irá registrar o ganho na alienação do
ativo financeiro pela diferença positiva entre (a) o valor justo recebido em troca do ativo financeiro e (b) a
soma do valor contábil do ativo na data da venda e o valor contábil dos ajustes a valor justo reconhecidos
diretamente no patrimônio líquido antes da alienação. Certamente que se a diferença for negativa, ter-se-á
uma perda.
Portanto, o valor do ganho (ou perda) da alienação (ou resgate) reconhecido no resultado do período (e que
integra os ajustes a valor justo reconhecidos no patrimônio líquido), deve ser considerado como um ajuste do
lucro líquido para fins de determinação das origens das operações. Justifica-se, pois, esse o ganho, apesar de
representar uma origem, não é proveniente das operações (fabricação e venda de produtos, por exemplo),
mas de terceiros (faz parte do valor recebido de terceiros pela venda do ativo e que aumentou o ativo
circulante).
Em consequência, quando da elaboração da DOAR do exercício em que esse tipo de ativo financeiro foi
alienado (ou resgatado), o valor representativo da origem de terceiros será dado pelo valor efetivamente
recebido (pela venda), o qual corresponderá à soma do valor do ganho proveniente da alienação com o valor
da baixa do ativo (parcial ou integral).
Existe ainda outro cuidado que se deve ter em relação aos ativos financeiros disponíveis para venda quando
eles constituem uma participação de capital em outra empresa (sem que a investidora tenha obtido influência
significativa ou controle). O cuidado é no sentido de se poder ter outro tipo de redução, mas que não é
proveniente nem de alienação e nem de perdas esperadas reconhecidas. Esse tipo de redução é por
transferência para o subgrupo de investimentos.
Esse é o caso, por exemplo, de uma empresa que detinha uma participação no capital votante de outra
empresa (classificada como um ativo financeiro disponível para venda porque não havia obtido influência ou
controle) e que, numa certa data, adquire mais ações dessa investida obtendo, com isso, influência
significativa ou controle. Esse evento irá disparar, no mínimo, os seguintes procedimentos contábeis:
a) Atualização do saldo contábil do ativo financeiro pelo seu valor justo na data em que se obteve
influência ou controle (assim como os ajustes anteriores a valor justo, recomenda-se reconhecer
diretamente no patrimônio líquido, cujo saldo acumulado, pelo disposto no item c abaixo, será
integralmente realizado contra resultado do período);
b) Transferência do saldo ajustado para o subgrupo de investimentos como participação em coligadas
(ou controladas), juntamente com o reconhecimento do valor justo dado em troca das ações (ou
quotas) adicionais que foram obtidas; e
c) Realização do resultado abrangente correspondente aos ajustes do ativo financeiro a valor justo, na
data em que se obteve a influência (lembre que os ajustes a valor justo de um ativo financeiro
disponível para venda são reconhecidos diretamente no patrimônio líquido).
Assim, o valor do ajuste a valor justo da data em que se obteve a influência (ou o controle) no saldo do ativo
financeiro não representa nem uma origem, nem uma aplicação e tão pouco um ajuste no lucro líquido do
período (pois foi reconhecido no patrimônio líquido). Da mesma forma, a transferência do saldo contábil
atualizado do ativo financeiro para o subgrupo de investimentos, tão pouco representa uma origem (ou
aplicação), dado que ambos são subgrupos do Ativo Não Circulante. Todavia, o valor dado em troca das ações
adicionais (custo do investimento adicional), certamente constitui uma aplicação de recursos (aumento do
ativo não circulante).
II – Investimentos
Os bens e direitos classificáveis nesse subgrupo do Ativo Não Circulante são as participações de capital em
coligadas e controladas (inclusive as controladas em conjunto) e as propriedades para investimento.
No caso da venda de um investimento, o CCL será afetado pelo valor da venda, caso esta seja a vista ou em
troca forem recebidos bens e/ou direitos realizáveis no curto prazo. É um caso semelhante ao descrito na
venda de um ativo financeiro disponível para venda.
Portanto, como o ganho (ou perda) da alienação do investimento reconhecido no resultado do período deve
ser considerado como um ajuste do lucro líquido para fins de determinação das origens das operações, dado
que esse o ganho, apesar de representar uma origem, não decorre das operações, mas de terceiros (é parte do
valor recebido de terceiros). Em consequência, quando da elaboração da DOAR do exercício em que o
investimento foi alienado, o valor representativo da origem de terceiros será dado pelo valor efetivamente
recebido pela venda, o qual corresponderá à soma do valor do ganho proveniente da alienação com o valor da
baixa do respectivo ativo (parcial ou integral).
Suponha a seguinte transação:
Valor da venda (a vista) de uma propriedade
para investimento (um terreno) $100.000
Valor contábil líquido do terreno vendido ($ 60.000)
Ganho da Alienação do Terreno $ 40.000
Como o ganho apurado na transação está computado no lucro líquido do exercício e, por outro lado, há a
redução do subgrupo investimentos pela baixa do valor contábil líquido do terreno (que estava contabilizado
como propriedade para investimento), basta somar esses dois valores para se obter o valor da venda, o qual
constitui uma origem de terceiros. Em contrapartida, para fins de determinação da origem das operações, o
valor do ganho apurado na transação deve ser subtraído do lucro líquido.
O procedimento acima descrito será o mesmo para a alienação integral de participação em coligadas (ou
controladas).
Novamente devemos tomar cuidado, pois nem sempre uma redução do subgrupo investimentos deverá ser
considerada como uma origem. É o caso de reduções provenientes de transferências para outros subgrupos,
tais como:
a) Transferência de propriedade para investimento para imobilizado (como propriedade ocupada pelo
proprietário) ou para estoque no ativo circulante em função da alteração do uso, como previsto no
PT CPC 28 – Propriedades para Investimento;
b) Transferência de investimentos em coligadas (ou controladas) para o realizável a longo prazo, pelo
reconhecimento da perda da influência significativa (ou controle), como previsto nos PT CPC 18 –
Investimento em Coligadas, PT CPC 19 – Participação em Empreendimento Controlado em Conjunto
e PT CPC 36 – Demonstrações Consolidadas;
Se houver uma transferência de uma propriedade para investimento para o imobilizado, o Ativo Não
Circulante não será afetado, pois o ativo apenas deixou de ser considerado como propriedade para
investimento (no subgrupo Investimentos) para ser considerado como uma propriedade ocupada pelo
proprietário (dedicado às operações ou uso administrativo, ou ainda alugado para empregados da empresa),
passando então para o subgrupo do Imobilizado. Portanto, não temos nem uma origem e nem uma aplicação.
Já, se a propriedade para investimento for transferida para estoque, haverá uma redução do Ativo Não
Circulante e concomitantemente um aumento do Ativo Circulante. Dado que os ativos circulantes são assim
classificados porque se espera que sejam realizados em até um ano (ou, alternativamente no próximo ciclo
operacional), então, o valor dessa transferência deve ser considerado como uma origem de recursos. Todavia,
cumpre observar que essa transferência implica em dizer que a empresa, detentora dessa propriedade para
investimentos, tem como sua atividade principal a venda de imóveis, terrenos e edifícios, pois caso contrário,
ela não poderia fazer essa transferência para o estoque. Então, essa origem deve ser considerada como das
operações e não de terceiros.
No caso de uma redução do subgrupo de investimentos por uma transferência para o Realizável A Longo
Prazo, pelo reconhecimento como ativo financeiro de participações de capital em coligadas (ou controladas)
em razão da perda de influência significativa (ou controle); os procedimentos contábeis decorrentes, nas
demonstrações individuais da entidade que perdeu a influência (ou controle) serão, no mínimo os seguintes:
a) Ajuste do saldo contábil da participação remanescente pelo seu valor justo na data em que ocorreu
a perda da influência (ou controle), sendo então reconhecido no resultado um ganho (ou perda)
pelo ajuste a valor justo;
b) Transferência do saldo ajustado para o Realizável a Longo Prazo, pelo reconhecimento inicial de um
ativo financeiro;
c) Apuração e reconhecimento no resultado do período de algum ganho (ou perda) pela alienação
parcial; e
d) Realização (contra resultado ou lucros acumulados) da parte do investidor em resultados
abrangentes da coligada (ou controlada) que foram reconhecidos de forma reflexa em seu
patrimônio líquido (tal qual seria feito caso a coligada ou controlada tivesse realizado os ativos e
passivos que lhes deram origem), bem como realização (contra resultado ou lucros acumulados) de
outros resultados abrangentes que o investidor tenha reconhecido em função de seu investimento,
tais como em decorrência de variações na participação relativa.
Esse é o caso, por exemplo, de uma empresa que detinha uma participação no capital votante de outra
empresa (classificada em suas demonstrações individuais como investimento em coligada ou controlada
porque havia obtido influência ou controle) e que, numa certa data, vende uma parte significativa dessas
ações levando à perda da influência (ou controle) sobre a investida.
Para ilustrar suponha que determinada empresa tem uma participação em coligada (30% do capital votante
desta), cujo saldo contábil é $120.000 (atualizado pela equivalência patrimonial) e que tenha vendido 2/3 de
suas ações para terceiros, perdendo a influência significativa. Admita adicionalmente que, em seu patrimônio
líquido, o investidor tenha reconhecido de forma reflexa $20.000 de Ajustes de Avaliação Patrimonial (em
função de ativos financeiros disponíveis para venda da coligada). Considerando que o valor da venda foi de
$90.000 (a vista). Esse evento gerou os seguintes lançamentos:
Débito Crédito
1. Pela Alienação Parcial da Participação:
Bancos 90.000
a Investimento na Coligada Y 80.000
a Ganho na Alienação de Investimentos 10.000
2. Pelo ajuste a Valor Justo da Participação Restante:
Investimento na Coligada Y 5.000
a Ganho por Ajuste de Ativos a Valor Justo (Resultado) 5.000
3. Pela Reclassificação do Ativo Financeiro:
Ativo Financeiro Disponível para Venda (RLP) 45.000
a Investimento na Coligada Y (Investimentos) 45.000
4. Pela Realização de Resultados Abrangentes:
Ajustes de Avaliação Patrimonial – Coligada Y (PL) 20.000
a Ganho por Ajuste de Ativos a Valor Justo (Resultado) 20.000

Quando da elaboração da DOAR, no lucro líquido do exercício estão inclusos o ganho total de $35.000.
Contudo, desse ganho total, $10.000 deve ser excluídos do lucro líquido, pois, apesar de ser parte da origem de
recursos pela venda do ativo, deverá ser considerada como origem de terceiros juntamente com o valor da
baixa do ativo vendido de $80.000, perfazendo o total recebido de terceiros ($90.000), valor que ingressou no
Ativo Circulante.
Do ganho total, $25.000 refere-se à realização de resultados abrangentes reflexos e ao ajuste a valor justo da
participação remanescente. Portanto, como esse valor está incluído no resultado, ele deverá ser excluído do
lucro líquido porque não constitui origem (nem aplicação) de recursos, dado que não afetou ativos ou
passivos circulantes. Já, a transferência de $45.000 ocorreu entre subgrupos do Ativo Não Circulante.
Portanto, não constitui nem origem e nem aplicação de recursos.
III – Imobilizado e Intangível
Assim como pela venda de investimentos, quando da venda de um bem do imobilizado, a alteração no CCL é
pelo valor da venda. Como o ganho (ou perda) da alienação está computado no lucro líquido do exercício e,
por outro lado, há uma redução no imobilizado por seu valor líquido contábil, basta somá-los para se ter esse
valor de venda. Assim, o valor da origem de terceiros será pelo valor da venda e, para ajustar o lucro líquido
do período, para que ele represente a origem das operações, deve-se expurgar o ganho (ou perda) da
alienação. Esse caso é similar ao exemplo anterior pela venda de uma propriedade para investimento.
A venda de um ativo intangível terá as mesmas conseqüências para fins de elaboração da DOAR.
Contudo, existem casos de redução do imobilizado que precisam ser analisados com mais cuidado. No tópico
anterior, vimos que podem ocorrer transferências de propriedade para investimento para o imobilizado.
Nesse tópico veremos o caso inverso, ou seja, a transferência de um item do subgrupo imobilizado (um
edifício, por exemplo) para o subgrupo de propriedades para investimento.
O PT CPC 28 prevê que, quando da alteração do uso, uma propriedade classificada como imobilizado pode ser
transferida para propriedade para investimento. Caso a política contábil da empresa seja o custo (tanto para o
imobilizado quanto para suas propriedades para investimento), as transferências não alteram o valor contábil
da propriedade transferida e não alteram o custo dessa propriedade para finalidades de mensuração ou
divulgação (item 59 do PT CPC 28). Portanto, o saldo contábil líquido do imobilizado, na data da alteração de
seu uso para propriedade ocupada pelo proprietário, será transferido para o subgrupo de Investimentos,
como propriedade para investimento. Dessa forma, para fins de DOAR, a redução do Imobilizado não constitui
uma origem, bem como o aumento do Investimento não constitui uma aplicação, dado que o valor foi
transferido entre contas dos subgrupos do Ativo Não Circulante.
Todavia, se a empresa adota o método do valor justo para avaliar suas propriedades para investimento e o
método do custo para avaliar seus ativos imobilizados; quando um imóvel ocupado pelo proprietário se tornar
propriedade para investimento, a empresa deve aplicar o PT CPC 27 até a data da alteração de uso, e qualquer
diferença entre o valor contábil do imóvel de acordo com o PT CPC 27 e o seu valor justo, nessa data, deve ser
tratada da seguinte forma:
a) A diminuição no valor contábil da propriedade é reconhecida no resultado, mas em caso de ativo
reavaliado, essa redução será reconhecida contra a reserva de reavaliação, até o limite do saldo
contábil dessa reserva;
b) O aumento no valor contábil da propriedade, até o ponto em que esse valor reverta perdas
anteriores por redução ao valor recuperável dessa propriedade, será reconhecido no resultado do
período (desde que não exceda o valor contábil líquido da depreciação que seria determinado caso
nenhuma perda tivesse sido reconhecida); e
c) Qualquer parte remanescente do aumento (não absorvida pela reversão de perdas anteriores) será
creditada diretamente no patrimônio líquido, em ajustes de avaliação patrimonial, como outros
resultados abrangentes;
Assim, para fins de elaboração da DOAR, caso o ajuste a valor justo (aumento ou redução) tenha sido
reconhecido no resultado do período, esse valor constitui um ajuste do lucro líquido. Já, a parte do ajuste que
foi reconhecida no patrimônio líquido (por aumento ou redução), não constitui nem origem e nem ajuste no
lucro líquido.
Aplicações de Recursos
No que se refere às aplicações de recursos, o assunto já está bastante claro quanto a sua segregação por
natureza. Cabe, contudo, mencionar que as adições ao Realizável a Longo Prazo, Imobilizado, Intangível e
Investimentos por novas aquisições devem ser pelos valores dos recursos reais aplicados.
Vale lembrar que, os aumentos decorrentes de avaliação a valor justo, como é o caso de um ativo financeiro
disponível para venda (no Realizável a Longo Prazo), ou uma propriedade para investimento (cuja política
contábil seja o método do valor justo); não constituem aplicações. No primeiro caso (ativo financeiro), um
eventual aumento no valor justo do ativo financeiro terá como contrapartida o patrimônio líquido. O valor
desse aumento, portanto, não constitui uma aplicação de recursos. Da mesma forma, um eventual aumento no
valor justo da propriedade para investimento não constitui uma aplicação, todavia, como esse aumento tem
como contrapartida o resultado do período, então, o valor desse aumento deverá ser excluído do lucro líquido
para fins de determinação da origem das operações.

TÉCNICA DE ELABORAÇÃO
Introdução
Nos tópicos anteriores, analisamos em detalhe as principais origens e aplicações de recursos e sua forma de
apresentação na demonstração.
Vamos agora analisar a técnica de obtenção desses dados, sendo que a adoção de uma técnica adequada é
muito importante para a apuração correta dos valores e para que estes estejam em consonância com os das
demais demonstrações financeiras. As pessoas com pouca experiência na elaboração dessa demonstração têm
a tendência de “caçar’’ os valores de origens e aplicações, ou seja, sabendo de antemão quais são os itens da
demonstração que devem ser preenchidos, procuram obtê-los isoladamente. Todavia, essa forma de trabalho
não produz bons resultados, pois a soma das origens assim apuradas, menos a soma das aplicações,
dificilmente coincide com a variação no capital circulante líquido.
Por esse motivo, torna-se necessário apurar os dados de forma ordenada.
Exemplo Completo
a) INSTRUÇÕES INICIAIS
A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos visa demonstrar as variações na posição financeira de
um exercício; como a posição financeira é dada pelos saldos das contas de ativos e passivos circulantes
constantes do Balanço, as variações na posição financeira são representadas pelas variações nos saldos das
contas de Balanço de um para outro exercício.
Dessa forma, o primeiro passo a ser dado é a obtenção do Balanço da empresa na data de encerramento do
exercício, bem como do Balanço de encerramento do exercício anterior.
Tais Balanços devem ser os Balanços finais, já depois de todos os ajustes e reclassificações. De fato, se
tomarmos saldos preliminares, qualquer ajuste posterior no Balanço gerará um ajuste correspondente na
DOAR. Por esse motivo, a demonstração deve ser elaborada somente após a preparação das demais
demonstrações contábeis em forma final.
De posse desses Balanços, devem-se apurar as variações nos saldos e suas contas. Para tanto, deve-se elaborar
um papel de trabalho, com as seguintes colunas:
Saldos em
Descrição das contas 31-12-X0 31-12-X1 Variação

A seguir, transcrevemos o Balanço de cada um dos anos das colunas mencionadas.


I – Capital Circulante Líquido
Como pretendemos obter as origens e aplicações em relação ao Capital Circulante Líquido, devemos
transcrever os Balanços no papel de trabalho, a fim de apurarmos o CCL no início e no fim do exercício, e
também sua variação. Tal variação será o valor final que deverá constar da DOAR.
Por esse motivo, nesse papel de trabalho, colocamos:
31-12-X0 31-12-X1 Variação
Ativo Circulante (pelo valor total) 600 1.000 400
(-) Passivo Circulante (pelo valor total) 360 550 190
(=) Capital Circulante Líquido (CCL) 240 450 210

Não é, portanto, necessária a transcrição de cada uma das contas do Ativo e Passivo Circulantes, ou seja,
disponível, contas a receber, estoques, fornecedores, contas a pagar etc. Basta o total, como indicado.
II – Contas do Ativo e Passivo Não Circulantes e do Patrimônio Líquido
A seguir, relacionamos no papel de trabalho os totais dos subgrupos que compõem os ativos e passivos não
circulantes. O Passivo Não Circulante e o Patrimônio Líquido, por serem credores, devem ser indicados como
negativos. O total das colunas dos saldos dos dois exercícios deve ser zero, já que aí relacionamos todas as
contas devedoras e credoras.
Apuramos, assim, as variações entre os saldos iniciais e finais na coluna de variações, coluna essa que deve
ficar com o total zerado. Os aumentos nos ativos e as diminuições nos passivos são valores positivos,
representam de forma sumária as aplicações. Os aumentos nas contas passivas e patrimônio líquido e as
diminuições nas contas ativas são valores negativos, devendo ser assim indicados, e representam origens.
b) DADOS DOS BALANÇOS E PAPEL DE TRABALHO INICIAL
Suponhamos que os Balanços da empresa de 31-12-X1 e 31-12-X0 sejam os apresentados a seguir:
BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO
31-12-X0 31-12-X1
ATIVO CIRCULANTE
Disponível 60 100
Recebíveis Comerciais Líquido 200 300
Estoques 300 530
Ativos Financeiros 40 70
600 1.000
ATIVO NÃO CIRCULANTE:
Realizável a Longo Prazo 100 50
Investimentos 300 315
Ativo Imobilizado 2.000 2.473
Ativo Intangível 240 310
2.540 3.098
TOTAL DO ATIVO 3.240 4.148

PASSIVO
31-12-X0 31-12-X1
PASSIVO CIRCULANTE:
Empréstimos bancários 120 180
Fornecedores 100 150
Contas a pagar 80 120
Imposto de Renda a pagar 60 100
360 550
PASSIVO NÃO CIRCULANTE:
Empréstimos e financiamentos 1.200 1.550

PATRIMÔNIO LÍQUIDO:
Capital 800 1.200
Reservas de capital 240 240
Reservas de lucros 630 608
Ajustes de Avaliação Patrimonial 10 0
1.680 2.048
TOTAL DO PASSIVO 3.240 4.148

Dessa forma, o papel de trabalho e a apuração das variações seriam como segue:
Descrição das Contas 31-12-X0 31-12-X1 Variação
Ativo Circulante 600 1.000
Passivo Circulante (360) (550)
Capital Circulante Líquido 240 450 210
Ativo Não Circulante:
Realizável a Longo Prazo 100 50 (50)
Investimentos 300 315 15
Ativo Imobilizado 2.000 2.473 473
Ativo Intangível 240 310 70
Passivo Não Circulante (1.200) (1.550) (350)
Patrimônio Líquido (1.680) (2.048) (368)
Total –0– –0– –0–
Como podemos verificar, o total das três colunas deve ser igual a zero, como evidência de que foram tomadas
todas as contas e se apuraram corretamente as variações. O valor de $ 210 é a variação no CCL e, no caso,
temos um aumento (o saldo de abertura era de $240 e o ano terminou com um CCL de $450). É justamente o
valor da variação do CCL que pretendemos demonstrar como se formou (em termos de origem e aplicação de
recursos). As origens e aplicações estão, de forma simplista, exatamente como as variações nas demais contas
não circulantes, sendo as positivas aplicações e as negativas, origens. Se fôssemos elaborar assim uma
demonstração de origens e aplicações, ficaria como segue:
ORIGENS:
Acréscimo no Patrimônio Líquido 368
Acréscimo no Passivo não Circulante 350
Redução no Realizável a Longo Prazo 50
Total 768
APLICAÇÕES:
Acréscimo em Investimentos 15
Acréscimo no Imobilizado 473
Acréscimo no Intangível 70
Total 558
AUMENTO NO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO
(Excesso de origens sobre as aplicações) 210

Como podemos ver, essa demonstração está somente mostrando os valores constantes da coluna Variações
segregados entre as origens e as aplicações.
Todavia, essa forma de demonstração não é adequada porque a variação líquida em cada subgrupo não
circulante pode ser formada por diversas parcelas e de diferentes naturezas. Por exemplo: o acréscimo de $ 15
na conta Investimentos pode estar representado por novas aplicações em outras empresas, no valor total de $
250, menos baixas de outros investimentos de $ 235, gerando o aumento líquido de $ 15. Nesse caso, os $ 250
devem ser registrados como Aplicação, e a baixa de $ 235, como Origem. Por esse motivo, temos de apurar,
para cada uma das contas não circulantes, sua movimentação sumária.
c) DETALHAMENTO DAS CONTAS
A seguir, é, portanto, analisada a composição de cada uma das variações.
I – Realizável a Longo Prazo
O realizável a longo prazo é composto pelas contas abaixo e teve a seguinte movimentação, conforme o Razão:
Saldos em Mudança de Saldos em
Contas Adições Baixas
31-12-X0 Valor Justo 31-12-X1
Depósitos Judiciais 30 10 – 40
Impostos a recuperar 10 – – 10
Ativos Financeiros
Disponível p/ Venda 60 8 – (68) –
100 8 10 (68) 50

Os $10 de adições em depósitos judiciais representam uma aplicação de recursos, pois reduziram o capital
circulante líquido. Já, o aumento de $8 na conta de Ativos Financeiros não constitui aplicação e tão pouco um
ajuste do lucro líquido, já que tem como contrapartida o patrimônio líquido. Porém, quando do resgate (ou
alienação) do ativo financeiro, o ganho (ou perda) líquido que foi contabilizado diretamente no patrimônio
líquido por mudança de valor justo desses ativos financeiros é reclassificado para o resultado do período. E foi
justamente o que ocorreu, todo o saldo do ativo financeiro foi resgatado. Então, os $68 de baixas são origens
(de terceiros), totalizando a variação líquida do Realizável a Longo Prazo de $50.
Em relação ao resgate do ativo financeiro disponível para venda, para fins de elaboração da DOAR, deve-se
identificar o valor correspondente ao ganho (ou perda) líquido contabilizado diretamente no patrimônio
líquido e, por ocasião do resgate, transferido para o resultado do período. Isso porque esse valor deve ser
eliminado do lucro líquido para fins de determinação da origem das operações, uma vez que a origem de $68
(que é origem de terceiros e não das operações) já inclui os ganhos reconhecidos no patrimônio líquido ($18).
Observe que o aumento no valor justo do ativo financeiro, enquanto reconhecido diretamente no patrimônio
líquido, ele não afeta o CCL e nem o lucro líquido do período. Portanto, não representa nem origem, nem
aplicação e tão pouco um ajuste no lucro líquido.
Normalmente, o Realizável a Longo Prazo é um ativo de valor pouco representativo, motivo pelo qual muitas
vezes seu valor líquido transforma- se em origem ou aplicação. Todavia, quando da existência de ativos
financeiros disponíveis para venda, sua movimentação requer atenção especial nas mudanças de valor justo e
nos resgates ou alienações. Assim, para fins do nosso exemplo, será considerado:
• Aumento dos Depósitos Judiciais 10
• Aumento de Valor Justo de Ativos Financeiros 8
• Resgate de investimentos temporários (origem) (68)
Variação líquida (50)

II – Investimentos
Têm sua composição e movimentação extraídas do Razão, como segue:
Controlada X Coligada Z Total
Saldos em 31-12-X0 280 20 300
Subscrição e integralização na Cia. X 10 10
Baixa por venda do investimento na Cia. Z – (20) (20)
Resultado da Equivalência Patrimonial Cia X 40 – 40
Dividendos recebidos (15) – (15)
Saldos em 31-12-X1 315 0 315

Como verificamos, a empresa tem investimentos em coligadas e controladas avaliado pelo método da
equivalência patrimonial. A variação líquida total no grupo de Investimentos é, portanto, como segue:
• A subscrição integralizada no período, no valor de $ 10, representa uma aplicação, pois reduziu o
capital circulante líquido;
• A venda de investimentos (feita pelo mesmo valor de baixa) por $ 20 representa uma origem;
• O aumento nos investimentos relativo à participação no lucro da controlada, via equivalência
patrimonial, no valor de $ 40, não afetou o CCL, pois sua contrapartida está em receita do exercício.
Dessa forma, esse valor não entra como aplicação, mas como redução do lucro líquido nas origens
para se chegar aos valores oriundos das operações;
• Os dividendos recebidos de $15 representam uma origem dado que o ingresso de disponibilidades
aumentou o CCL.
III – Imobilizado
Por meio das fichas analíticas de razão, extraímos o seguinte resumo da movimentação do imobilizado da
empresa em 20X1.
Saldos em Saldos em
Adições Baixas Transferências
31-12-X0 31-12-X1
Custo
Terrenos 300 – – – 300
Edifícios 600 – – 120 720
Maquinismos e equipamentos 1.700 500 (294) 100 2.006
Veículos 200 50 (40) – 210
Obras em andamento 300 400 – (220) 480
Subtotal 3.100 950 (334) –0– 3.716
Depreciações Acumuladas
Edifícios (150) (30) – – (180)
Maquinismos e equipamentos (900) (200) 107 – (993)
Veículos (50) – (70)
Subtotal (1.100) (40) 20 –0– (1.243)
Total do Imobilizado Líquido 2.000 (270) 127 –0– 2.473

Dessa forma, podemos sumariar a variação líquida de $ 473 no Imobilizado, como segue:
Adições ao custo 950
Baixas (por venda):
Imobilizado ao Custo (334)
Depreciação Acumulada 127 (207)
Depreciação do ano (270)
Total líquido 473

De forma geral:
• As adições ao custo representam uma aplicação;
• As baixas (por venda) representam uma origem (de terceiros). Em sendo uma venda, já vimos que
devem ser demonstradas como segue (supondo tais vendas efetuadas por $ 500):
Preço de venda 500
Valor líquido dos bens baixados (207)
Ganho registrado 293

• Os $ 500 constituem origem (de terceiros), e o ganho de $ 293, como ajuste do lucro líquido, caso
contrário esses $ 293 estariam sendo considerados em duplicidade;
• A depreciação do ano não afeta o CCL, pois foi lançada em conta de resultado, devendo ser
adicionada ao lucro líquido para apurarmos a origem das operações.
IV – Ativo Intangível
Teve o seguinte movimento:
Custo Amortização Total Líquido
Saldos em 31-12-X0 300 (60) 240
Adições no exercício, ao custo 100 – 100
Amortização do ano – (30) (30)
Saldos em 31-12-X1 400 (90) 310

Assim, temos que:


• As adições no ano, ao custo, representam uma aplicação 100
• A amortização representa uma despesa, a qual não afetou o
CCL, devendo assim ser adicionada ao lucro líquido para
apurarmos as origens das operações (30)
Variação líquida 70

V – Passivo Não Circulante


Teve a seguinte movimentação extraída da contabilidade:
BNDES Banco Y Banco X Total
Saldos em 31-12-X0 700 500 – 1.200
Novos empréstimos e financiamentos 300 – 200 500
Variações monetárias 255 130 30 415
Transferência para o circulante (250) (315) – (565)
Saldos em 31-12-X1 1.005 315 230 1.550

A variação líquida nos empréstimos e financiamentos a longo prazo é, portanto, composta de:
• Novos empréstimos, os quais constituem origem de terceiros. 500
• Variações monetárias, lançadas em despesas financeiras não afetaram o
CCL, devendo ser adicionadas ao lucro líquido para se chegar às origens
das operações. 415
• Transferência para passivo circulante, o que representa efetivamente uma
aplicação, pois com isso houve a diminuição do CCL.
(565)
Variação líquida $ 350
VI – Patrimônio Líquido
As variações no Patrimônio Líquido são facilmente identificadas se a empresa tiver a Demonstração das
Mutações do Patrimônio Líquido, pois tais variações são tão-somente as transações que aumentaram ou
diminuíram o patrimônio total do exercício, transações essas que são extraídas da Coluna Total daquela
demonstração. Se a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, nesse exemplo, fosse como segue:
Total
Saldos em 31-12-X0 1.680
Ajuste de exercícios anteriores:
Mudança de critério contábil na avaliação de estoques (40)
Integralização de Capital 400
Lucro líquido do exercício 118
Outros Resultados Abrangentes (Ajustes de Avaliação Patrimonial):
Mudança de valor justo de ativos financeiros 8
Realização de ganhos por avaliações a valor justo (18)
Dividendos Distribuídos (100)
Saldos em 31-12-X1 2.048

A variação líquida no patrimônio seria oriunda de:


• Efeito da mudança de critério de avaliação dos estoques, que foi creditada em estoques,
sendo uma aplicação de recursos, mas a ser ajustada contra a variação no CCL, como
se corrigisse o saldo inicial retroativamente (40)
• Integralização de capital, que é uma origem 400
• Lucro líquido do exercício, também uma origem 118
• Ajustes de Avaliação Patrimonial:
Mudança de valor justo de ativos financeiros, que não é origem ou aplicação 8
Realização de ganhos por avaliação a valor justo, que é um ajuste do lucro líquido (18)
• Lucro líquido do exercício, também uma origem (100)
• Dividendos, que representam uma aplicação
Variação líquida no patrimônio 368

d) ELIMINAÇÕES NECESSÁRIAS
Temos, assim, a composição da variação líquida de todas as contas não circulantes, bastando agora dispor
cada valor, já de forma ordenada, na Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos. Uma pessoa mais
treinada nesse trabalho já teria condições de elaborar, de posse desses dados, tal demonstração em forma
final, eliminando os itens que não devem integrar a demonstração. Uma forma mais segura, todavia, é abrir
outro papel de trabalho, relacionando todas essas variações e segregando-as entre origens e aplicações, daí
deduzindo-se, por meio de colunas complementares, as eliminações necessárias, para chegarmos finalmente
aos saldos finais de origens e aplicações, conforme Modelo A.
MODELO A
QUADRO DETALHADO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS
Ajustes no
Saldos Apurados Outros Observações
Lucro Líquido
Origens Aplicações D C D/C
Realizável a Longo Prazo:
Aumento do Depósito Judicial 10 (1) Não afetou o CCL, ou
o lucro líquido. Esse valor
Mudança de valor justo de tem por contrapartida o
Ativos Financeiros D-8(1) patrimônio líquido
Resgate de Ativos Financeiros 68
Investimentos:
Adição por integralização 10 (2) Como a venda do
Investimento foi ao custo,
Venda de investimentos 20(2) não há ajustes a fazer no
Resultado da Eqv. Patrimonial 40 lucro líquido do ano
Dividendos recebidos 15
Imobilizado: (3) Eliminação do ganho
Adições ao custo 950 na venda do imobilizado:
Depreciações 270 Valor da venda 500
Valor baixado (207)
Valor da Venda do Imobilizado 500 293(3)
Ganho na Alienação 293
Valor líquido das baixas
Ativo Intangível:
Adições ao custo 100
Amortizações do ano 30
Passivo Não Circulante:
Novos empréstimos 500
Variações monetárias 415
Transferência para curto prazo 565
Patrimônio Líquido: (4) O valor do Ajuste de
Efeito da mudança de critério exercícios anteriores deve
contábil (estoque) D-40(4) ajustar o saldo inicial do
Integralização de capital 400 CCL. Assim, na DOAR, o
aumento do CCL deverá
Lucro líquido do exercício 118 ser evidenciado como
Outros Resultados Abrangentes: $250, pois o CCL inicial
Mudanças de Valor Justo C-8(1) ajustado passa para $200
Realização (baixa) 18 e o CCL final continua
Dividendos 100 $450 [450 – 200 = 250].
Subtotais 1.621 1735 351 715 40 (D)
Ajustes do Lucro Líquido 364 (351) (715) [715 C – 351 D = 364 C]
Aumento do CCL 250 C-40(4) [450 – (240 - 40) = 250]
Totais 1.985 1.985 -0- -0- -0-
MODELO B
DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS
Exercício findo em 31 de dezembro de X1
ORIGENS DE RECURSOS:
Das operações –
Lucro líquido do exercício 118
Mais: Depreciação e amortizações 300
Variações monetárias de empréstimos e financiamentos a longo prazo 415
Menos: Participação no lucro da controlada (40)
Realização de ganhos por avaliações a valor justo (18)
Lucro na venda de Imobilizado (293)
Lucro ajustado 482
Dividendos recebidos 15 497
Dos acionistas –
Integralização de Capital 400
De Terceiros –
Ingresso de novos empréstimos 500
Baixa de bem do Imobilizado (valor de venda) 500
Venda de investimentos em Coligadas 20
Resgate de investimentos temporários a longo prazo 68 1.088
TOTAL DAS ORIGENS 1.985
APLICAÇÕES DE RECURSOS:
Aquisição de direitos do Imobilizado, ao custo 950
Adições ao custo no Ativo Intangível 100
Integralização de capital em controladas 10
Aumento em Depósitos Judiciais 10 120
Transferência de empréstimos/financiamentos a longo prazo para o passivo circulante 565
Dividendos propostos e pagos 100
Aumento no Capital Circulante Líquido
(após ajustes no saldo inicial de Ajustes de Exercícios Anteriores – Nota A) 250
TOTAL DAS APLICAÇÕES 1.985

Demonstrado como segue:


Saldos em Variação
31-12-X0
31-12-X1
(ajustado)
ATIVO CIRCULANTE 560 1.000 440
PASSIVO CIRCULANTE (360) (550) (190)
CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 200 450 250

Observe que o capital circulante líquido inicial foi ajustado em $40, pela eliminação do Ajuste de Exercícios
Anteriores relativo à mudança de critério contábil. Esse valor foi baixado do Patrimônio Líquido e ajustado
contra a variação do Capital Circulante Líquido, já que se refere a Estoques, que é seu componente. O efeito
desse procedimento é apurar as origens e aplicações de recursos, como se a empresa já adotasse o novo
critério contábil desde o ano anterior.
e) A DEMONSTRAÇÃO EM FORMA FINAL
Com base no quadro anterior, elaboramos então a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos,
meramente transcrevendo os valores constantes das colunas de saldos finais de Origens e de Aplicações, já de
uma forma ordenada, dentro das técnicas de apresentação já mencionadas. Essa Demonstração em forma
final, portanto, é indicada no Modelo B.
Observando-se a forma final conforme o Modelo B, percebe-se que o total de origens de recursos de longo
prazo foi de $ 1.985, que foram aplicados em investimentos de longo prazo no valor de $ 1.735, resultando
num aumento do CCL de $ 250, de forma que as aplicações também totalizaram $1.985.
As aplicações foram iguais às origens dado que se aplicou $1.735 em investimentos de longo prazo e $250 em
investimentos líquidos de curto prazo, representado pelo aumento do CCL. Ou seja, nesse caso o aumento do
CCL representou uma aplicação das origens de longo prazo.
Entendemos que essa forma de apresentar a DOAR deixa muito mais claro o que representa a variação no CCL.
Nesse caso, o aumento do CCL representa uma forma de aplicação do excesso de recursos captados. Por outro
lado, uma redução do CCL representaria uma das formas encontradas pela empresa para financiar suas
aplicações.
Para uma melhor visualização desse raciocínio, suponha o seguinte exemplo:
31-12-X0 31-12-X1 Variação 31-12-X0 31-12-X1 Variação
Ativo Circulante 0 0 0 Passivo Circulante 0 200.000 200.000
Ativo Não Circulante 100.000 300.000 200.000 Passivo Não Circulante 0 0 0
Patrimônio Líquido 100.000 100.000 0
ATIVO TOTAL 100.000 300.000 200.000 PASSIVO TOTAL 100.000 300.000 200.000

O CCL inicial era de $ 0, e o final $ 200.000 negativo. Portanto, a variação do CCL foi negativa em $ 200.000.
Suponha que a única conta do ativo não circulante que aumentou tenha sido o Realizável a Longo Prazo, no
valor de $ 200.000, representando uma aplicação de recursos no longo prazo nesse valor. Ao analisar o
passivo, percebe-se que não houve aumento de nenhum grupo de longo prazo. Portanto, se a DOAR fosse
elaborada de forma a destacar a variação do CCL, ela seria apresentada da seguinte forma:
Origens de Recursos: $ 0
Aplicação de Recursos: $ 200.000
Variação do CCL: $ 200.000 (redução)
Conforme essa DOAR, nota-se que houve aplicações, mas sem ter havido nenhuma origem! De forma mais
racional, a DOAR seria a seguinte:
Origens de Recursos: Diminuição do CCL = $ 200.000
Aplicações de Recursos: Aumento do Realizável a Longo Prazo = $ 200.000
Essa disposição da DOAR, que foi utilizada no modelo B, evidencia mais claramente o que ocorreu com a
posição financeira da entidade no período X1: a empresa efetuou aplicações de longo prazo com
financiamento de curto prazo, representado pela diminuição do CCL.
Dessa forma, todas as Demonstrações de Origens e Aplicações de Recursos podem ser analisadas, tendo-se em
mente que todas as aplicações de recursos têm explicações em suas origens, e todas as origens de recursos são
explicadas pelas aplicações.
RAMOS ESPECÍFICOS
A DOAR, da forma como apresentada nos tópicos anteriores, atende bem às empresas comerciais e industriais
e à maioria das empresas de serviços. Todavia, alguns tipos de sociedade, como as instituições financeiras, não
têm no modelo apresentado a melhor representação da modificação em sua posição financeira e em seu
capital de trabalho. Por exemplo, uma Caixa Econômica tem quase todo seu passivo constituído à base de
valores circulantes (caderneta de poupança) e seu grande ativo formado por realizável a longo prazo
(empréstimos para financiamento de habitação). Num banco comercial, a quase totalidade de seu ativo e de
seu passivo é exatamente composta por valores circulantes.
Nesses casos, uma DOAR que evidencia as modificações nos itens não circulantes pode não significar
absolutamente nada ou mostrar apenas parte do que deveria significar.
Como a DOAR era uma demonstração obrigatória antes da entrada em vigor da Lei 11.638/07, a normatização
específica do Banco Central já havia promovido as necessárias adaptações para a DOAR de instituições
financeiras, tais como: evidenciação das modificações de todos os grupos do Balanço, provocando uma
variação líquida apenas de disponibilidades, conforme modelos já contidos no COSIF, plano de contas emitido
por aquele Banco.

VARIAÇÕES DETALHADAS DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO


Como sabemos, a DOAR era exigida por lei e, no modelo exigido pela legislação, havia uma falha, que era a de
não se exigir a publicação das modificações internas no capital circulante líquido. Apesar disso, essa falta não
era grave uma vez que era perfeitamente possível compor essas modificações, tendo-se em vista a publicação
dos valores dos Balanços de dois anos consecutivos. Essa análise pode mostrar, por exemplo, uma melhoria no
CCL, mas formada por um excessivo aumento de estoques.
Apesar disso, a demonstração das variações internas no capital circulante líquido, ou seja, conta por conta do
ativo e passivo circulantes, pode ser adotada pelas empresas, prática essa que deve ser estimulada. Dessa forma,
tal demonstração, que apareceria no final da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos, de forma
resumida (conforme o Modelo B anterior), ficaria como exposto a seguir, usando-se os mesmos dados do
exercício anterior.
DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS
Exercício findo em 31 de dezembro de X1

Origens de Recursos:
. .
. .
. .
Total das origens 1.985
Aplicações de Recursos:
. .
. .
Aumento no Capital Circulante Líquido 250
Total das aplicações 1.985

Demonstrado como segue:


Saldos em Variação
31-12-X0
31-12-X1
(ajustado)
ATIVO CIRCULANTE
Disponível 60 100 40
Recebíveis Comerciais (líquido) 200 300 100
Estoques 260 530 270
Ativos Financeiros 40 70 30
Total Ativo Circulante 560 1.000 440
PASSIVO CIRCULANTE
Empréstimos bancários (120) (180) (60)
Fornecedores (100) (150) (50)
Contas a Pagar e IR (140) (220) (80)
Total Passivo Circulante (360) (550) (190)
CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 200 450 250

Como podemos verificar do exemplo dado, a demonstração das origens e aplicações de recursos que
demonstra as variações do capital circulante líquido, conta por conta, torna-se bem mais informativa para
fins de conhecimento e análise pelos usuários.

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