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Angelita A. C. Barbosa 2
Marisa B. Cesarino 3
Eliane A. Favaro 2
Adriano Mondini 2
Amena A. Ferraz 3
Margareth R. Dibo 1
Maria Elenice Vicentini 3
Abstract Introdução
1 Superintendência de A study was performed in different areas of São O dengue, uma das doenças infecciosas de
Controle de Endemias,
José do Rio Preto which include the Family maior incidência nas regiões intertropicais, é
São José do Rio Preto, Brasil.
2 Faculdade de Medicina Health Program (FHP) and the Dengue Control um subproduto da urbanização desordenada
de São José do Rio Preto, Program, and the results of integration between que se verifica em países de economia emer-
São José do Rio Preto, Brasil.
3 Secretaria Municipal
the two programs were evaluated. In addition to gente. Seu vetor, o Aedes aegypti, apresenta
de Saúde e Higiene, other responsibilities, community health agents grande adaptação à vida urbana e sua propa-
São José do Rio Preto, Brasil. instructed residents on dengue control mea- gação é privilegiada devido aos hábitos consu-
sures, encouraging the population to adopt the mistas modernos 1. Segundo Tauil 2, os fatos
Correspondência
F. Chiaravalloti Neto practices in areas with the FHP. Vector control para o agravamento da transmissão de dengue
Superintendência de agents were responsible for breeding site control no Brasil são complexos e não totalmente com-
Controle de Endemias.
Av. Philadelpho Manoel
and instructed local residents on the Dengue preendidos e uma das razões é que o Programa
Gouveia Netto 3101, Control Program. From 2001 to 2003, surveys de Controle de Vetores baseou-se em métodos
3 o andar, São José were conducted to measure residents’ dengue verticais que buscavam a eliminação do mos-
do Rio Preto, SP
15060-040, Brasil.
control knowledge and practices. The propor- quito por meio de inseticida, o que mostrou
fcneto@famerp.br tions of residents in the FHP area that reported pouco impacto na diminuição da proliferação
health services as a source of information in- do Aedes aegypti. Neste programa a população
creased significantly as compared to the other teve o papel de expectadora e manteve-se na
area. There were significant changes concerning dependência de ações previamente definidas.
the increase in information about the disease No desenvolvimento das atividades do pro-
and reduction in vector breeding sites. The re- grama, o agente de controle de vetores é reco-
sults show that integration between the pro- nhecido como uma porta de entrada para efe-
grams is possible and could help optimize re- tuar reclamações sobre a atuação do poder pú-
sources, avoiding duplicity of procedures and blico e requerer resolução de problemas que vão
fostering greater community involvement in além da presença do mosquito A. aegypti 3,4.
dengue control. Além dessas dificuldades, observa-se também
que a falta de atuação do poder público e o não
Dengue; Aedes aegypti; Vector Control; Health atendimento às demandas promovem um cres-
Family Program cente descrédito da população em relação às
competências do agente, o que interfere na sua
atuação 4,5,6. Um outro problema que o agente
enfrenta está relacionado ao caráter emergen- reriam mudanças nas práticas para o controle
cial das campanhas de controle e prevenção, do vetor nas populações atendidas.
aliados a ações antes fiscalizadoras do que edu-
cativas no repasse do conhecimento técnico à
população, o que desencadeia a falta de adesão Metodologia
ao programa 7,8.
A grande ameaça da expansão de doenças São José do Rio Preto localiza-se na região no-
infecciosas, como o dengue, aponta para a ne- roeste do Estado de São Paulo, e, em 2001, ti-
cessidade da reestruturação da vigilância epi- nha 367.248 habitantes 13. Após a erradicação
demiológica e da mudança das políticas de con- do A. aegypti do Brasil, o primeiro encontro do
trole 1. Isto deve ter como base a visão de que a vetor no município se deu em 1985 e a primei-
saúde pública é um problema amplo que não ra ocorrência de dengue em 1990 14. O controle
comporta soluções imediatistas, pois envolve a do vetor é desenvolvido no município pela equi-
participação conjunta das agências governa- pe municipal de controle do A. aegypti por meio
mentais e de toda a sociedade num processo de seus agentes de controle de vetores (ACV ),
contínuo. distribuídos em 14 Áreas. O PSF está implanta-
O Ministério da Saúde propôs ações inte- do em cinco USF: Gonzaga de Campos, Cida-
gradas de saúde, educação e mobilização, que dania, Renascer, Rio Preto I e Talhado. Enquan-
levaram à criação do Programa Saúde da Famí- to as três primeiras áreas são urbanas, as últi-
lia (PSF). Seu propósito é reorganizar os servi- mas têm parte urbana e parte rural composta
ços de saúde e melhorar a qualidade de vida da na maioria por chácaras.
população. O PSF prioriza ações de prevenção O estudo foi realizado em duas áreas: região
de doenças, promoção e recuperação da saúde, do PSF (região PSF) englobando as cinco áreas
de forma integral e contínua. O atendimento é onde o programa atua, excluídas a parte rural
feito na Unidade de Saúde da Família (USF) ou das USF Rio Preto I e Talhado; e a região Con-
no domicílio, por médicos, enfermeiros e agen- trole de Vetores (região CV ) correspondente à
tes comunitários de saúde (ACS) 9. Área de Controle de Vetores número 5. As duas
A partir da perspectiva de que as atividades localizam-se na periferia. Em 2001, a região
conjuntas dos PSF e do Programa de Controle PSF tinha 4.633 domicílios urbanos e contava
do Vetor poderiam evitar a duplicidade de com 37 ACS. A região CV tinha 9.440 domicí-
ações, melhorar o aproveitamento das visitas lios, todos em área urbana, e dispunha de equi-
realizadas e estimular a participação da comu- pe com dez ACV e um Supervisor.
nidade no desenvolvimento de ações para re- O projeto constituiu-se de levantamento ini-
dução da infestação pelo A. aegypti, a Secreta- cial; implantação e acompanhamento das ati-
ria de Saúde do Estado de São Paulo fez pro- vidades de controle de vetores; levantamentos
posta de integração dos dois programas 10. Em intermediários e final. Os levantamentos foram
3 de janeiro de 2002, o MS publicou a Portaria realizados por amostragem de conglomerados
n. 44/GM 11, que definiu e estabeleceu as atri- 15. No levantamento inicial realizou-se avalia-
buições do ACS em relação à prevenção e con- ção, entre outubro e dezembro de 2001, para
trole do dengue. identificar os conhecimentos dos moradores
O ACS, ao inserir em sua rotina de trabalho sobre dengue e sua prevenção, utilizando-se
essas ações, poderá atuar como multiplicador questionário pré-testado; entre novembro e
em suas visitas domiciliares, já que conhece as dezembro de 2001, contagem de recipientes
realidades locais por ser morador da área de potenciais e com água e identificação de domi-
atuação. Desta forma, um programa de controle cílios com larvas de A. aegypti, para cálculo do
de dengue que leve em conta a realidade local e Índice Predial (IP), definido como proporção
que ofereça outra série de serviços, pode manter de domicílios com larvas do vetor 16.
um elo entre comunidade e o serviço público, Após o levantamento inicial, as atividades
aumentar o grau de confiança entre as partes e de controle de vetores foram implantadas e
estimular a comunidade a exercer a cidadania e, acompanhadas durante o período de um ano.
desta forma, produzir efeitos positivos na redu- Na região PSF, o trabalho foi desenvolvido ten-
ção do risco de transmissão de dengue 4,12. do como base as diretrizes estabelecidas pela
Assim, este trabalho teve os objetivos de Secretaria de Estado da Saúde 10 e pela Porta-
avaliar se a introdução do controle do dengue ria n. 44/GM 11 do MS. Para implementação da
no PSF em São José do Rio Preto, São Paulo, pro- atividade de controle de vetores foi necessário
duziria ganhos de conhecimentos sobre den- na região PSF:
gue, seu vetor e medidas de controle em rela- • incluir nas visitas domiciliares realizadas
ção ao programa tradicional e avaliar se ocor- pelo ACS, a vistoria completa da casa e dos imó-
dos Unidos), Epi Info 2002 (Centers for Disease tese, aumentos nos valores das variáveis, as di-
Control and Prevention, Atlanta, Estados Uni- ferenças foram calculadas descontando-se dos
dos) e Stata (Stata Corporation, College Sta- valores finais os iniciais. Quando se esperavam
tion, Estados Unidos). diminuições, as diferenças tiveram sentido
Todos os cálculos estatísticos foram feitos contrário. Os testes foram realizados para veri-
sob a consideração de amostragem por conglo- ficar se as diferenças obtidas eram iguais ou
merado e os quarteirões foram considerados maiores que zero, portanto unilaterais e com
como unidades primárias de amostragem 15. A nível de significância de 5%.
diferença entre o número de domicílios previs-
tos e o número realmente pesquisado em cada
quarteirão foi corrigida por meio da atribuição Resultados
de peso igual a divisão do primeiro número pe-
lo segundo. As variáveis dicotômicas foram Os tamanhos das amostras para a região PSF
comparadas utilizando-se os testes z, como o nos cinco levantamentos foram, respectivamen-
pressuposto da aproximação da binomial pela te, 568, 634, 596, 467 e 669, e para a região CV
normal, e as variáveis discretas e contínuas fo- foram respectivamente, 658, 803, 744, 820 e 785.
ram comparadas pelos testes t. Quando se jul- Para comparar as regiões quando do início
gou importante, os resultados foram apresen- da pesquisa, apresentam-se na Tabela 1 os re-
tados com os respectivos intervalos de 95% de sultados do levantamento inicial. Entre todas
confiança. as 27 variáveis analisadas, apenas três apresen-
Inicialmente realizou-se análise para verifi- taram diferenças significantes: idade dos en-
car a semelhança entre as duas regiões. Para is- trevistados, proporção de entrevistados que ci-
to, utilizaram-se os dados do levantamento ini- taram os serviços de saúde como fonte de in-
cial que foram comparados por meio de testes formação sobre dengue e a proporção de do-
bilaterais com nível de significância de 5%. Em micílios sem recipientes potenciais. Os resulta-
seguida foi feita análise, utilizando-se os dados dos obtidos antes da realização da intervenção
dos levantamentos inicial e final das duas re- pretendida, em termos de conhecimentos e
giões, para comparar a efetividade das duas es- práticas da população, mostraram que ambas
tratégias empregadas. Aqui, utilizou-se o dese- as áreas eram semelhantes e adequadas para
nho do estudo de intervenção que, de acordo avaliar a intervenção pretendida.
com Escosteguy 17, é aquele em que há a alte- Na comparação entre os resultados dos le-
ração de algumas variáveis em condições con- vantamentos inicial e final para a região PSF
troladas para avaliação dos efeitos resultantes em relação aos da CV, somente as proporções
das modificações dos fatores sobre uma deter- de entrevistados que afirmaram ter como fonte
minada população. Numa perspectiva metodo- de informação o serviço de saúde apresenta-
lógica quantitativa, este desenho corresponde ram diferença significante (p = 0,000). Neste
à comparação de um grupo de intervenção (re- caso, obtiveram-se melhores resultados para o
gião PSF) a um grupo controle (região CV ) ob- serviço de saúde como fonte de informação
servados antes e depois da intervenção. Se hou- para a região PSF. Para as demais variáveis, os
ver diferença significante entre os grupos po- resultados obtidos foram equivalentes na com-
de-se considerar que a intervenção teve resul- paração entre as regiões.
tados positivos 18. Na Tabela 2 têm-se, para cada região, os re-
Dentro dessa perspectiva, para cada variá- sultados das comparações entre os dados obti-
vel analisada calcularam-se, separadamente dos no levantamento final (L fin) em relação ao
para as regiões, “saldos” entre os resultados ob- inicial (L inic), que apresentaram diferenças
tidos nos levantamentos inicial e final, e reali- significantes ou próxima ao limite de signifi-
zaram-se testes bilaterais, com nível de signifi- cância. Em relação às fontes de informação, as
cância de 5%, para verificar se a diferença en- únicas que apresentaram diferenças signifi-
tre estes saldos era igual ou não a zero. Neste cantes foram os Serviços de Saúde e os funcio-
caso mudanças ocorridas e não devidas à in- nários, sendo que foram observados aumentos
tervenção foram controladas por meio dos re- nas duas regiões. Na Figura 1, pode-se verificar
sultados da região CV. que o aumento da participação dos serviços de
Para avaliar separadamente a efetividade saúde como fonte de informação ocorreu com
de cada uma das duas estratégias utilizadas, os maior intensidade na região PSF, enquanto que
dados obtidos para cada região foram conside- o aumento da participação dos funcionários
rados isoladamente e fizeram-se as diferenças ocorreu com maior intensidade na região CV.
entre os resultados obtidos nos levantamentos As proporções de entrevistados que afirma-
inicial e final. Quando se esperavam, por hipó- ram conhecer larvas de mosquitos, que asso-
Tabela 1
Moradores entrevistados e domicílios segundo as variáveis medidas no levantamento inicial, regiões Programa Saúde
da Família (PSF) e Controle de Vetores (CV). São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, 2001.
ciaram mosquitos com transmissão de dengue, apresentados os valores das variáveis propor-
que sabiam afirmar o que é dengue hemorrági- ção de domicílios sem recipientes potenciais e
co e onde se criavam os mosquitos apresenta- número médio de recipientes potenciais por
ram aumentos significantes para as duas re- domicílio para os cinco levantamentos realiza-
giões. As proporções de entrevistados que sa- dos, onde notam-se comportamentos seme-
biam como o dengue era transmitida e que res- lhantes para as duas regiões.
ponderam corretamente as perguntas sobre os Na Figura 3 são apresentados os valores do
cuidados com os criadouros do mosquito, não IP para os cinco levantamentos realizados para
tiveram diferenças significantes em nenhuma as duas regiões. Os IP medidos na região CV fo-
das regiões analisadas entre os dois levanta- ram, respectivamente para os levantamentos
mentos. Notam-se para estas variáveis, porcen- inicial e final, 9,6% e 7,9%, resultados sem dife-
tagens de respostas corretas bastante elevadas. rença significante (p = 0,154) e na região PSF
As proporções de domicílios sem recipien- foram respectivamente 6,9% e 4,4%, resultados
tes potenciais e sem recipientes com água apre- com diferença significante (p = 0,040).
sentaram aumentos significantes e os seus nú-
meros médios apresentaram diminuições sig-
nificantes nas duas regiões. Na Figura 2 são
Tabela 2
Moradores entrevistados e domicílios segundo variáveis de interesse para as regiões Controle de Vetores (CV) e Programa Saúde
da Família (PSF), medidas nos levantamentos inicial e final. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, 2001/2003.
Proporção de entrevistados que afirmaram ter como fonte de informação CV 12,0 16,7 0,009 S
o “Serviço de Saúde” (%) PSF 19,8 41,6 0,000 S
Proporção de entrevistados que afirmaram ter como fonte de informação CV 36,0 62,5 0,000 S
o “funcionário (prefeitura/SUCEN)” (%) PSF 34,7 52,5 0,000 S
Proporção de entrevistados que afirmaram conhecer larvas de mosquitos (%) CV 47,5 80,2 0,000 S
PSF 47,9 80,6 0,000 S
Proporção de entrevistados que associaram mosquitos com a transmissão de dengue (%) CV 59,3 75,0 0,000 S
PSF 58,9 74,3 0,000 S
Proporção de entrevistados que sabiam afirmar o que é dengue hemorrágica (%) CV 51,5 59,8 0,010 S
PSF 49,8 55,2 0,052 NS
Proporção de entrevistados que sabiam afirmar onde se criavam os mosquitos do dengue (%) CV 46,5 65,9 0,000 S
PSF 50,8 67,0 0,000 S
Proporção de domicílios sem recipientes potenciais (%) CV 16,9 37,8 0,000 S
PSF 10,8 34,5 0,000 S
Proporção de domicílios sem recipientes com água (%) CV 37,9 45,1 0,008 S
PSF 34,9 44,7 0,001 S
Número médio de recipientes potenciais por domicílio CV 5,93 2,81 0,000 S
PSF 7,15 3,01 0,000 S
Número médio de recipientes com água por domicílio CV 1,95 1,49 0,005 S
PSF 2,46 1,57 0,001 S
programa é que a tomada de decisões ocorre Proporções e intervalos de confiança de 95% de entrevistados que citaram
no nível nacional, sem considerar as realidades os serviços de saúde (1a) e funcionários da prefeitura e/ou SUCEN (1b) como
municipais. fonte de informação sobre dengue, segundo as regiões Controle de Vetores (CV)
A análise da Figura 1 revela que, na região e Programa Saúde da Família (PSF) e levantamentos. São José do Rio Preto,
PSF, a participação do serviço de saúde como São Paulo, Brasil, 2001/2003.
fonte de informação foi pequena inicialmente
e semelhante à da região CV. O grande aumen-
to verificado nesta variável mostrou que o PSF Figura 1a
tem boas condições de interferir sobre as ques-
tões de prevenção nas comunidades em que Serviços de saúde
atua. A exemplo, uma atuação integrada dos
ACV com as unidades básicas de saúde poderia
70
trazer benefícios como o aumento da adesão CV
Figura 2
Proporções de domicílios sem recipientes potenciais (2a) e médias de recipientes potenciais por domicílio (2b)
com intervalos de confiança de 95%, segundo as regiões Controle de Vetores (CV) e Programa Saúde da Família (PSF)
e levantamentos. São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, 2001/2003.
Figura 2a
50
CV
PSF
25
% 0
L inic L int 1 L int 2 L int 3 L fin
Figura 2b
10
CV
PSF
% 0
L inic L int 1 L int 2 L int 3 L fin
L inic = levantamento inicial; L int 1 = primeiro levantamento intermediário; L int 2 = segundo levantamento
intermediário; L int 3 = terceiro levantamento intermediário; L fin = levantamento final.
Figura 3
Índices prediais (proporção de domicílios com larvas de Aedes aegypti) com intervalos de confiança de 95%,
segundo as regiões Controle de Vetores (CV) e Programa Saúde da Família (PSF) e levantamentos.
São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil 2001/2003.
12
CV
10 PSF
% 0
L inic L int 1 L int 2 L int 3 L fin
L inic = levantamento inicial; L int 1 = primeiro levantamento intermediário; L int 2 = segundo levantamento
intermediário; L int 3 = terceiro levantamento intermediário; L fin = levantamento final.
balho desenvolvido pelos ACV apresentou sig- ACV atuem de forma mais educativa e menos
nificativa melhora, e que o trabalho realizado fiscalizadora.
pelos ACS produziu resultados positivos e se- O maior controle alcançado em termos de
melhantes aos dos ACV, apesar das diferenças recipientes não teve, na região CV, reflexo no
entre eles. Aqui deve ser destacada a influência valores dos IP, que não apresentaram diferen-
positiva dos treinamentos e do processo de ças significantes entre os levantamentos inicial
educação continuada realizados nas duas re- e final. Resultado semelhante foi encontrado
giões e também dos esforços realizados pela por Chiaravalloti Neto et al. 12, em estudo reali-
Secretaria Municipal de Saúde para a melhoria zado no Município de Catanduva, onde a dimi-
da qualidade do trabalho dos ACV. nuição de recipientes não foi acompanhada
O encontro de resultados semelhantes em pela diminuição dos níveis de infestação do ve-
termos de controle de criadouros para os ACV tor. Mesmo na região PSF, onde os valores dos
e ACS deve ser destacado em função das dife- IP apresentaram diferença significante, o valor
renças entre eles, sendo a principal a ser citada final obtido foi bem superior aos níveis consi-
é que, enquanto o ACV orienta e retira os reci- derados seguros para não ocorrência de trans-
pientes, o ACS apenas orienta, incentivando o missão 25.
morador a realizar a atividade de controle. Este Esses dados apontam para o grau das difi-
resultado é importante, pois o que se nota é a culdades envolvidas no controle do vetor do
falta de relação entre conhecimentos e práti- dengue em países em desenvolvimento, onde
cas 23,24. Em áreas com infra-estrutura mínima geralmente é negligenciada uma abordagem
presente em termos de abastecimento de água, intersetorial entre as várias áreas administrati-
esgotamento sanitário e coleta de lixo, as ativi- vas dos governos. Segundo a Organização Mun-
dades desenvolvidas pelos ACS mostram que é dial da Saúde 26, os programas de controle em
viável que o morador fique responsável por países desenvolvidos, além de envolverem me-
seus recipientes e que este tipo de trabalho po- nores quantidades de recursos humanos e dis-
de também ser desenvolvido pelos ACV. Este porem de recursos econômicos e tecnológicos
novo modo de controlar o A. aegypti apresenta de melhor qualidade, estão associados a méto-
vantagens pois incentiva a mudança de hábi- dos de gestão ambiental.
tos, tornando o programa sustentável a médio Os achados deste estudo devem ser avalia-
e longo prazo e abre a perspectiva para que os dos à luz da estratégia avaliativa utilizada e das
limitações a ela inerentes. Estudos mais abran- perigo de infestação do A. aegypti e da vulnera-
gentes devem ser realizados, uma vez que a bilidade diante da doença.
avaliação dos programas e serviços quando Entretanto, em São José do Rio Preto a in-
tratada unicamente com base em sua dimen- corporação do ACS no controle do dengue abre
são formal pode conferir ao trabalho um trata- novas possibilidades, pois ele lida diretamente
mento reducionista e unidimensional que não com as questões de saúde das famílias e repas-
vislumbra a realidade em suas múltiplas di- sa orientações sobre prevenção. Ao tratar de
mensões 26. Matida & Camacho 27 também con- problemas de saúde de forma mais ampla e
sideram importante a análise multifatorial em agir como facilitador na relação entre o serviço
pesquisa avaliativa para que, na perspectiva da e a população, observa-se maior adesão desta
gestão de programas, possa trazer subsídios ne- às atividades desenvolvidas por esse agente. A
cessários à tomada de decisão com vistas a ade- atuação do ACS trouxe novos elementos à dis-
quação às realidades que precisam ser enfren- cussão do papel do ACV e de sua relação com a
tadas quando se trata de promoção de saúde. população e desta com o serviço.
Desta maneira, e com base em uma pers- O quadro epidemiológico do dengue tem se
pectiva de análise mais ampla, pode-se reco- agravado nos últimos anos 29, e o que se nota é
nhecer que a resolutividade das ações de con- a manutenção das formas tradicionais de con-
trole e combate ao dengue depende da trans- trole. Dentro desta perspectiva, este estudo mos-
posição de uma série de obstáculos, especial- tra que outras formas de atuação, como o tra-
mente a forma fragmentada como o Estado li- balho desenvolvido pelos ACS, podem dar bons
da com as questões sociais, aspecto que con- resultados e apresentarem-se como alternati-
tribui para o crescente descrédito da popula- vas viáveis. Mas, é importante destacar as limi-
ção em relação à efetividade e às competências tações da atuação do serviço de saúde no con-
das ações do poder público. Como represen- trole do dengue, de modo que os problemas só
tante último deste poder, o ACV encontra-se poderão ser resolvidos a partir da integração
sem respaldo frente à população que quer ver com áreas como saneamento, habitação, edu-
os seus problemas mais emergentes soluciona- cação, entre outras, além da necessária melho-
dos e que, quase sempre, vão muito além do ria das condições de vida da população.
Resumo Colaboradores
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