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O MODELO DE AUTO-AVALIAÇÃO DAS


BIBLIOTECAS ESCOLARES NO CONTEXTO
DA ESCOLA/AGRUPAMENTO

Com este trabalho pretende-se fazer uma análise ao tema,


tendo por base, a realidade do Agrupamento onde exerço
funções. O modelo de auto-avaliação dota as
Escolas/Agrupamentos de um instrumento que lhes permite a
melhoria de qualidade dos serviços prestados, procurando
inovar.
Há duas questões que se impõem… qual o cenário onde nos
movimentamos? O que poderá vir a ser feito?

Teresa Coelho
O Modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares no contexto da Escola/Agrupamento

[…]It is both an opportunity to evaluate and chart impacts and achievements, as


well as an invitation to examining new ways of looking and thinking, being and
doing[…]. […]and for evaluating the power of the library in achieving the school’s
learning objectives […]. (Ross,Todd., 2001)

Introdução

A BE integra um sistema organizacional complexo. A um nível de maior


proximidade encontra-se a Escola/Agrupamento, com uma dinâmica e cultura próprias,
sujeita a regras de funcionamento específicas. A um nível mais distante, mas com uma
forte influência, está o sistema educativo, um macro sistema que rege o sistema escola.
E é neste cenário de a BE se enquadra.
Se é notória a importância da BE no seio da escola e a sua contribuição para o
sucesso educativo dos alunos, é igualmente notória a dificuldade que se impõe à BE
para vingar na escola. A BE encontra-se condicionada por todos os mecanismos
inerentes ao funcionamento dos sistemas com os quais interage.
Perante este cenário e se quiser vingar, cumpre à BE impor-se. Impor-se de uma
forma positiva, de uma forma construtiva, revelando a sua dinâmica, a sua importância,
conseguindo transmitir à comunidade o seu valor, o seu contributo para o sucesso da
escola enquanto organização educativa.
Neste processo, a avaliação tem um papel crucial, pois qualquer sector que
deseje ter visibilidade, terá que monitorizar as suas acções, terá que descrever trilhos,
concentrar a sua atenção em objectivos bem definidos, pensar onde está e para onde
quer ir. É nesta perspectiva, tal como é referido no início desta análise, no excerto de
um texto de Ross, que o modelo de auto-avaliação das BE’s faz sentido existir.

Na BE do meu Agrupamento, como tem sido?

A realidade do meu Agrupamento é, possivelmente, a realidade de muitos outros


Agrupamentos. A avaliação da BE incidia no conhecimento da relação entre a colecção
existente e o número de empréstimos, o número de visitas à biblioteca, entre outros.
Uma aferição da relação directa entre inputs e outputs, o que, tradicionalmente revelava
o impacto das BE’s. O modelo de auto-avaliação não existia, não era conhecido, nem
pela equipa da BE, nem pelo órgão de gestão.
A BE do meu Agrupamento é um espaço muito agradável, amplo, acolhedor,
está bem equipado e tem um fundo documental razoável, está todo ele, adequado às
necessidades do público-alvo.
Até há dois meses e meio atrás, a BE era coordenada por um colega ao qual foi
atribuído um crédito de meia dúzia de horas para desempenhar as suas funções, o que é
manifestamente insuficiente. E para completar o cenário, os elementos da equipa
estavam, também eles, a preencher horário e um órgão de gestão que não atribuía à BE
o seu valor enquanto recurso educativo, enquanto núcleo de aprendizagem ao serviço da
escola.
Esta situação parece estar a alterar-se. O órgão de gestão mudou e a actual
Direcção tem manifestado o apoio incondicional à equipa da BE, valorizando o trabalho
que tem vindo a realizar-se, criando condições de trabalho, participando em diversas
reuniões e transmitindo em Conselho Pedagógico a importância do desenvolvimento de

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um trabalho articulado entre Departamentos e BE. A equipa da BE também foi


parcialmente remodelada, existe um professor bibliotecário a tempo inteiro, um grupo
que integra professores de áreas específicas mas com funções bem definidas e uma
assistente operacional com uma larga experiência em BE e empenhada no trabalho.
Seria o ideal, se não fossem as más práticas que se encontram enraizadíssimas,
nos utilizadores da BE.
Foi para mim, um enorme desafio ter concorrido ao lugar de professor
bibliotecário. Se a decisão tomada, tinha por base o vivenciar novas experiências no
campo da educação, o trabalho concreto acarretou, inicialmente, uma angústia
tremenda, ao ponto de ter ponderado a ideia de desistir. Só quem está, só quem vivencia
na prática é que sabe dar o real valor.
Mas a minha perseverança e a pouca oportunidade de ir para outro lado, sem ser
para o desemprego, fez-me arregaçar as mangas e tentar alterar as muitas práticas
incorrectas e implementar um plano de acção que mostre à comunidade educativa a
importância da BE e o respeito que merece enquanto pólo de aprendizagem.
Nesta resumida visão da BE que coordeno estão implícitos, alguns factores
inibidores:
 A inexistente atitude de reconhecimento da BE, por parte do órgão de gestão;
 A falta de uma liderança forte do professor coordenador;
 A forma como o currículo se organiza, os modelos e as práticas de transmissão
do conhecimento que não contemplam um trabalho articulado;
 Dificuldade ou mesmo incapacidade em gerir a mudança.

Actualmente…

As librarians, it's our job to ensure that administrators, teachers, parents, and
decision makers fully comprehend that effective library programs are critical to
boosting student learning and achievement. (Eisenberg e Miller, 2002)

Aos poucos, a BE começa a ser vista como um espaço de aprendizagem. A


equipa de trabalho reúne mensalmente para delinear estratégias de intervenção e
distribuir tarefas a concretizar. Solicita-se a colaboração de professores de outros
departamentos, dos alunos dos vários anos de escolaridade, dos pais e encarregados de
educação, mantém-se contacto com outras estruturas de forte impacto na comunidade,
como o Município, como a Associação de Pais, faz-se formação e consegue-se unir
esforços com a direcção.
Alguns factores inibidores continuam a existir, nomeadamente a dificuldade de
algumas pessoas ou grupos em desenvolver um trabalho articulado, a atitude de
acomodação às situações para não vivenciar a angústia da mudança, a falta de tempo
que é mencionada a todo o momento, a falta de verbas, entre outros.

No futuro próximo…

Continuar a árdua tarefa de dar a visibilidade a que a BE tem direito,


empenhando-nos em desenvolver actividades de promoção do saber e saber-fazer, que
permitam a ligação ao currículo e ao sucesso educativo dos alunos. Divulgar o modelo

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de auto-avaliação à Escola/Agrupamento para que haja uma apropriação do mesmo e


para que seja implementado, tal como a sua filosofia defende, de modo partilhado,
participado por todos os intervenientes no processo.
Torna-se necessário mostrar que a avaliação da BE é uma componente
primordial para a melhoria da escola e deve integrar a avaliação global da escola. Tal
como revelam os estudos, a auto-avaliação das escolas é de extrema importância,
porque:
 Promove o auto-conhecimento;
 Permite avaliar todas as áreas de intervenção e que não conseguem ser
abrangidas apenas por uma avaliação externa;
 Justifica o trabalho desenvolvido por todos os intervenientes, denotando uma
melhoria contínua;
 Perspectiva a avaliação como parte integrante e evidente da melhoria da escola;
 Permite o surgimento de uma cultura de avaliação. Em que, os sujeitos
compreendam a avaliação como um processo de aprendizagem profissional e
pessoal.
Pretende-se que a auto-avaliação da BE integre a auto-avaliação da escola e que os
resultados dessa auto-avaliação sejam transmitidos, às estruturas que a integram, de uma
forma explícita, utilizando uma linguagem acessível, garantindo que os resultados da
auto-avaliação da BE foram compreendidos por todos.

[…] The school that knows and understands itself is well on its way to solving any
problems it has…self-evaluation is the key to improvement. […] (Ofsted, 1999)

O papel do Professor Bibliotecário

Segundo Einserg e Miller (2002), o professor bibliotecário é descrito com um


duplo papel, como professor, principalmente das literacias de informação e como
parceiro com professores na sala de aula.

[…]as a teacher, the school librarian "collaborates with students and other
members of the learning community to analyze learning and information needs, locate
and use resources that will meet those needs, and to understand and communicate the
information the resources provide." As a partner, the school librarian "joins with
teachers and others to identify links across student information needs, curricular
content, learning outcomes, and a wide variety of print, nonprint, and electronic
information resources."[…] Einserg e Miller (2002)

No desenvolvimento do processo de auto-avaliação e para que este tenha sucesso,


torna-se necessário que o professor bibliotecário apresente algumas características, no
desempenho das suas funções, nomeadamente que:
 seja um bom líder;
 que tenha visão e gestão estratégicas;
 que demonstre boa capacidade interventiva, face aos problemas que surgem;
 que consiga articular prioridades e objectivos com a escola, programas e
projectos a desenvolver;

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 que tenha sentido de oportunidade na apresentação de propostas junto dos


órgãos de decisão pedagógica;
 implemente a avaliação, conseguindo gerir as evidências recolhidas,
revelando o mérito da BE e corrigindo os erros que existam.

Plano de Acção

A consciência de que o processo de auto-avaliação deve ser enquadrado no


contexto escolar, onde interagem diferentes estruturas, obriga-nos a traçar um plano de
acção faseado, estabelecendo prioridades e agindo com muita coerência.
1º- Gerir a equipa da BE, proporcionar aos seus elementos a apropriação das
tarefas e de tudo o que é fundamental ser implementado, desenvolver um trabalho
planeado, dividindo tarefas e traçando estratégias de acção;
2º- Conseguir a envolvência do director neste processo;
3º- Conseguir desenvolver um trabalho articulado com professores, alunos,
pais e outros agentes educativos;
4º- Apresentar o plano de acção da BE em Conselho Pedagógico;
5º- Integrar no plano de acção da BE actividades articuladas com os vários
Departamentos;
6º- Envolver os professores no processo de auto-avaliação da BE, apresentando
o modelo e facilitando a apropriação do mesmo, por parte deles;
7º- Realização de um workshop sobre o tema (tarefa apresentada na sessão
anterior desta formação);
8º- Decidir, em equipa, o domínio a avaliar;
9º- Proceder à recolha de evidências;
10º- Gerir e interpretar a informação recolhida;
11º- A fase de gestão das evidências ao nível da escola;
12º- A comunicação dos resultados da avaliação utilizando vários canais de
comunicação;
13º- A elaboração do relatório de avaliação e consequente discussão e
aprovação em Conselho Pedagógico;
14º- Elaboração de um plano de melhoria, também ele levado à aprovação do
Conselho Pedagógico.

A avaliação da BE deseja-se participada e para que isso aconteça é de


fundamental importância que todos os elementos consigam apropriar-se do modelo e da
necessidade da sua realização. A avaliação deve pois, e como já foi referido atrás,
integrar a avaliação da escola. No caso, da escola ser sujeita a uma avaliação externa, a
mesma pode compreender o impacto que a BE tem, no seio daquela organização.

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