O Grande Evangelho de João – Volume VIII Jakob Lorber
Capitulo 160.
1. Ao passarmos pela localidade, sou reconhecido por muitos que Me
pedem pernoitar, a fim de socorrer o grande número de enfermos. Os sinais ocorridos há alguns dias e a fúria da tempestade noturna haviam prejudicado pessoas nervosas, sem que o médico local pudesse ajudá-las. 2. Parando um pouco, digo: “Não ouvistes dizer que Deus é Onipotente e Misericordioso? Por que não Lhe pedis socorro?” Responde um: “Caro Mestre, tu podes falar, porque Deus te concede tudo que pedes. Nossas preces e pedidos de nada adiantam, Deus não os considera, muito embora consideremos as Leis de Moisés. Na época dos profetas davase o mesmo; Deus só atendia às orações deles; os leigos podiam pedir a vida inteira, que nada alcançavam. Que fazer?” 3. Digo Eu: “Com tais desculpas fúteis nada conseguis Comigo! Falta-vos a fé e a confiança plena em Deus, razão por que Ele desconsidera vossas preces e oferendas. Por que não pedis confiantes? Porque vos parece incômodo! Por este motivo, mantendes na Comunidade certos intercessores e pregadores pagos, com autorização do Templo, incumbidos de pedirem isto ou aquilo em vosso favor. Só depositais fé e confiança nesses mistificadores, que se fazem pagar, sem que suas orações tenham trazido benefício; por que não entregais fé e confiança ao Senhor e Pai? 4. Digo-vos: Por causa de vossa indolência! Como proprietários de bens terrenos, estais acostumados a fazes trabalhar empregados por preço mínimo, enquanto agis como senhores, de sorte que acreditais no trabalho profícuo dos interessados junto a Deus, por serem bem pagos. Deus, porém, vira Seu Semblante e não presta ouvidos à gritaria repugnante e sem nexo dos sacerdotes pagos. Nisto se baseia o motivo pelo qual o Pai não quer e não pode vos ajudar. Pois, se assim fizesse, vos faria sucumbir mais profundamente na perdição completa, proporcionada pela imensa preguiça. 5. Despertai vossa fé, o amor verdadeiro e vivo, e a confiança plena em Deus! Orai e pedi vós mesmos, em Espírito e Verdade, que Ele vos atenderá com toda certeza! Orai constantemente, fazei verdadeira penitência e suportai os sofrimentos justificados, com paciência e dedicação à Vontade Divina, como aprendestes pela história de Job, – que Deus vos salvará de toda aflição, caso se coadune com a salvação de vossas almas! 6. Acabastes de Me pedir Pessoalmente para livrar-vos das atribulações, considerando-Me profeta, ao qual Deus deu grande Poder. Eu não posso e não quero atender-vos e ajudar-vos; pois Eu e Deus, o Qual desconheceis, por isto Nele não acreditais, somos Um Só Espírito e Uma Só Vontade! O que não conseguis com Deus dentro de vossa maneira de pedir, não alcançareis Comigo. Fazei primeiro o que vos aconselhei, e Eu darei Minha Ajuda, não obstante aqui não pernoitar. Muitos de vós Me seguiram até Capernaum; por que se afastaram de novo?” 7. Responde um deles: “Mestre, externaste nas sinagogas ser preciso comer-se a tua carne e beber o teu sangue, para alcançar a Vida Eterna da alma. Temendo tua loucura, afastamo-nos. Quando te encontramos em Jerusalém durante a festa do Templo, convencemo-nos de que eras o mesmo poderoso de antanho, e nossa crença em ti voltou, razão por que te pedimos socorro. Se quiseres atender-nos, seremos gratos. Não podendo, conforme disseste, lembra-te de nós, quando nos achares com mérito.” 8. Digo Eu: “Agi assim, que a ajuda virá!” Em seguida, partimos. Alguns nos acompanham. Como caminhássemos ligeiros, ficavam para trás e finalmente resolveram voltar.
161. A PARÁBOLA DO JUIZ E DA VIÚVA
1. Quando já bastante longe do lugarejo, os discípulos perguntam: “Senhor e Mestre, por que não socorreste àqueles judeus, que tão fervorosamente pediram Tua intercessão?” 2. Respondo: “Acaso deveria positivá-los em seu ócio, descrença e superstição? Demonstrei-lhes apenas o caminho a seguir. Assim fazendo, serão socorridos em tempo; do contrário, ficarão como dantes, construindo em areia. Isto pouco nos perturbará. Pois, quem pretende prejudicar- se, não obstante sábios conselhos, não sofre injustiça. 3. Estes, cujo pedido não considerei, necessitam de provação e sofrimento. Só assim serão sacudidos, experimentados na paciência, e seus corações se tornarão mais meigos e misericordiosos. Eu não sou apenas Salvador, mas igualmente Juiz quando for necessário. 4. Ouvi uma parábola, da qual deduzireis porque tanto recomendei àqueles moradores, oração e preces individuais e confiantes. Vivia numa cidade juiz imparcial, que não temia a Deus nem aos homens. Certo dia, uma viúva o procurou, pedindo que a salvasse de seu inimigo. Ele fez como que não ouvisse os rogos dela e, durante muito tempo, não quis atendê-la. Como a viúva insistisse, ele pensou: Embora eu não tema a Deus e não receie os homens, para me ver livre das suas súplicas e não me dar tanto trabalho, atendê-la-ei.” 5. Intervém Simon Juda: “Quer dizer que é preciso a criatura se tornar importuna, a fim de alcançar algo de Deus? Pensei que Deus, Que habita em Ti e é cheio de Amor e Misericórdia, necessitava apenas de fé e confiança vivas, para atender os suplicantes?! 6. Já nos deste outra parábola, em que um faminto despertou o dono da casa, pedindo-lhe um pedaço de pão. Ele somente atendeu, para se ver livre do pedinte importuno. Tal atitude parece algo estranha. Se nós Te pedimos, somos satisfeitos sem grande insistência de nossa parte. Assim também agiste com os pagãos, publicanos e outros pecadores, e a culpa da adúltera foi escrita na areia. Este último ensinamento de como pedir-se a Deus não combina com os demais.” 7. Digo Eu: “Então, ouvi o parecer do Juiz “injusto”, segundo vossa opinião, que neste caso sou Eu Mesmo: Se um juiz do mundo dá o que de direito a uma viúva, quanto mais Deus salvará Seus eleitos, se pedirem dia e noite que Ele tenha paciência e seja Benigno e Misericordioso! Eu vos digo: De pronto Ele os salvará! Se, futuramente, o Filho do homem voltar, achas que encontrará fé nesta Terra? Tão pouco quanto agora, e os que Nele crerem serão ridicularizados e escarnecidos. 8. Todavia, haverá muitos a não se deixarem ofuscar pela sabedoria mundana, divulgando abertamente o Meu Verbo. Estarei com eles dia e noite; a eles Me revelarei e protegerei contra as perseguições do mundo, e também lhes darei o poder de socorrer os enfermos e aflitos pelo amor. Deste modo, haverá mais Luz e consolo na Terra. Compreendeste esta profecia?”
162. A ORDEM NA DOMÉSTICA DIVINA
1. Diz Simon Juda: “Senhor, em que época se dará isto?” Respondo: “Pedro, em virtude de tua fé poderosa, dei-te as chaves do Reino de Deus e te chamei uma rocha, na qual construirei a Minha Igreja, que jamais será vencida pelas portas do inferno. Deverias ser um novo Aaron e ocupar o lugar dele. Isto farás como divulgador do Meu Verbo, junto com os outros irmãos. 2. Se, daqui a alguns séculos, os pagãos disto tomarem conhecimento, em Roma se alegará que tu fundaste tal assento naquela cidade. E os povos, forçados para tanto pelo fogo e a espada, acreditarão nos falsos profetas que tu, como primeiro príncipe da fé, instituíste tal trono, re- gendo em Meu Nome a Terra toda, os povos e seus soberanos. Mas, esse trono será falso e causador de muitas desgraças sobre o planeta e ninguém mais saberá onde ergueste o verdadeiro assento, do Amor, da Verdade, da Fé viva e da Vida, e quem será teu justo sucessor. 3. Tal assento falso subsistirá além de mil anos, sem atingir dois milênios. Agora, calcula, caso tenhas capacidade para tanto. Quando o falso trono apodrecer e ficar sem apoio, Eu voltarei com o Meu Reino. Vós Me acompanhareis à Terra, tornando-vos testemunhas diante dos que ainda tiverem a fé verdadeira e pura. 4. Em tal tempo, será necessária uma grande purificação, a fim de que as criaturas Me reconheçam e creiam unicamente em Mim. Silenciai sobre esta revelação confidencial. Virá o tempo em que será divulgada abertamente.” 5. Opinam os discípulos: “Senhor, não seria possível evitá-lo?” 6. Respondo: “Como não? Mas, neste caso, os homens teriam que ser transformados em máquinas! Perguntais: Por que motivo há sempre ventos e tempestades tão fortes no mar? Bem, digo Eu, tiremo-los, e o mar não levantará ondas e vagas perigosas, podendo os navegantes sulcar os mares com toda calma! O mar estagnado apodrecerá, enchendo de pestes todas as partes da Terra, não mais havendo vida natural, no solo e no próprio mar. 7. Seria preciso transformar a água em pedra. Neste caso, onde se supririam os seres vivos, isto é, flora e fauna? A fim de que o mar e todas as águas continuem como são, deve haver ventos e tempestades, pelos quais o mar se conserve inquieto e ativo, evitando que o sal se deposite no fundo e se torne podre e pestilento. 8. Os ventos e tempestades no mar correspondem às provações e lutas espirituais, que todos têm de enfrentar para atingir a Verdadeira Vida. 9. O que vale para a vida física de curta duração, corresponde a povos inteiros em larga escala. 10. Um pequeno córrego corre pouca distância até se unir a um ribeiro, que necessita correr distância maior para se atirar num rio caudaloso. Este passa por vastas terras, até se unir ao Oceano. Este banha a Terra toda com o sal em diluição vaporosa, que preenche a atmosfera telúrica e vivifica todos os seres viventes. 11. No grande Oceano desembocam milhares de águas, limpas e impuras, doces, ácidas e amargas, curadoras e prejudiciais; mas, no mar todos se misturam e têm uma qualidade de sal, do qual a vida orgânica de infinitas espécies tira sua matéria básica, aproveitando-a de acordo com suas necessidades. 12. A situação do Oceano em relação à Criação total, corresponde ao imenso Reino dos espíritos, em relação às condições de vida humana. Todo indivíduo isolado é semelhante a um pequeno córrego; uma comunidade é um ribeiro maior; um grande regato é idêntico a uma nação. O rio é um povo e o mar representa, mormente nas margens, todos os povos da Terra, que nele imigram no mesmo elemento. O grande Oceano, sem margem aparente, representa as criaturas no Reino espiritual que contém o Infinito e pela constituição inteiramente viva, é a Base de todo Ser. 13. Como vimos, a vida natural depende da constante movimentação do Oceano. Quanto maior a atividade, em virtude de tempestades e correntes, tanto maior a ação vital e o progresso produzido nas criaturas da Terra. 14. Se, dentro desta relação, as criaturas se tornam mornas, preguiçosas, dorminhocas e embotadas, surge grande movimento no infinito mundo dos espíritos, que provoca toda sorte de ondas e alterações pela insuflação indireta. Um povo se levanta contra outro, uma doutrina desafia outra, até que as criaturas sejam levadas à máxima ação possível. 15. Deste modo, surge maior conhecimento entre elas. A aparente necessidade as faz engenhosas e as obrigam a uma atividade mais intensa e ordenada. Os povos, que mal se conheciam, travam relações e se tornam úteis, e a luz cresce e produz maior sede por uma Verdade real. 16. Esta exigência se tornando geral e os homens não mais se satisfazendo com a fé autoritária, motivo da superstição, estará em tempo de lhes dar um conhecimento maior e palpável, cheio de clareza e Verdade. 17. Assim, as criaturas presas ao ócio, ignorância e sonolência mental serão levadas a uma movimentação completa e cheia de revolução, até que venham a sentir o que lhes falta!”
163. A VOLTA DO SENHOR
1. (O Senhor): “Quando surgir tal situação entre as criaturas, terá chegado o momento de lhes dar o que carecem, ou então voltarei ao mundo, para fazer, de modo geral, o que ora faço isoladamente diante de poucas testemunhas. Agora deito a semente no solo terráqueo, trazendo às criaturas não a paz, mas a espada para contendas, lutas e guerras. 2. Somente aquele que aceitar a Minha Doutrina e praticá-la encontrará a Luz, a Verdade e a verdadeira paz de espírito, não obstante ter que enfrentar lutas e perseguições no mundo, em virtude do Meu Nome, o que todos vós ireis passar. Quando Eu voltar pela segunda vez, terão fim a fermentação, lutas e perseguições, e o intercâmbio original entre as criaturas e espíritos puros será normal e definitivo. 3. Daí concluireis porque será permitido que, com o tempo, surja ao lado do assento pequeno e verdadeiro de Aaron, no qual Eu vos coloco, um falso e de longa duração no meio dos pagãos e por que são admitidos falsos profetas e doutrinadores em Meu Nome. 4. Vós e vossos descendentes não lhes devem dar atenção, ainda mesmo ouvindo a chamada da boca dos falsos que o Christo esteja aqui ou acolá. Jamais habitarei num templo feito por mãos humanas, senão apenas em Espírito e Verdade dos que Me procuram, pedem, crendo somente em Mim e amando-Me acima de tudo. O coração será Meu Templo e nele Eu falarei, doutrinarei e guiarei. Lembrai-vos disto, para não vos aborrecerdes quando tal se der, recordando de Eu vos ter avisado e dito o motivo de tudo!” 5. Diz Simon Juda: “Senhor, percebemos a Tua Ordem que, ao lado do livre arbítrio dos homens da Terra, não pode tomar outra direção; mas, para as criaturas em si nada de bom se pode esperar. De nossa parte, tudo faremos para deitar a Semente da Vida no solo do coração dos homens, a fim de em breve surgirem as maiores lutas entre Luz e trevas. Que se abram todos os túmulos e o mar devolva seus mortos, para ouvirem o Teu Evangelho! Refiro-me às almas necessitadas do Teu Verbo!” 6. Digo Eu: “Falaste bem. O que ora acontece na Terra não será vedado ao mundo espiritual ainda atrofiado. Existem muitas criaturas fisicamente enterradas no sepulcro da noite espiritual, na profundidade do imenso mar da ilusão; a essas pregai o Evangelho, fazendo surgir muitas à Luz da Vida, e a ilusão soltará seus prisioneiros. 7. Quando isto acontecer de modo geral, apontará o grande Dia da salvação para todos os habitantes da Terra. O trabalho é grande e pesado, e existem poucos obreiros; tratai, antes de mais nada, que seu número cresça! Todo lavrador na Vinha da Vida poderá aguardar grande recompensa, à medida de seu zelo e dedicação. Na Terra ela será pequena para o corpo, tanto maior para a alma e o espírito. 8. Os bens terrenos são apenas fictícios e assemelham-se aos que se vêem em sonhos. A pequena diferença consiste na posse fictícia do sonho enganar menos tempo que a do mundo. Mas, ambas se desvanecem, e após estará tudo como ficção diante dos olhos dos espíritos vivos, unicamente capazes de dar realidade à aparência. 9. Tratai antes de tudo da conquista dos bens espirituais, isto é, da Luz, Verdade e Vida da alma! O que o corpo necessita na justa medida é dado ao fiel trabalhador na Minha Vinha, pois Eu sei do que necessita fisicamente. Compreendestes?”