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Itajaí, SC
2005
MÁRCIA REGINA CARLON
Itajaí, SC
2005
ii
MÁRCIA REGINA CARLON
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em Ciência e
Tecnologia Ambiental e aprovada pelo Programa de Mestrado Acadêmico em Ciência e
Tecnologia Ambiental do Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência e Tecnologia
Ambiental da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e
do Mar.
________________________________
Prof. Dr. Paulo Ricardo Schwingel
Coordenador
__________________________________
Prof. Dr. Marcus Polette
Universidade do Vale do Itajaí
Orientador
__________________________________
Profª. Drª. Mônica Lopes Gonçalves
Universidade da Região de Joinville – Convidado Externo
__________________________________
Prof. Dr. Claudemir Marcos Radestski
Universidade do Vale do Itajaí – Convidado Interno
iii
“A água de boa qualidade é exatamente como a saúde ou a liberdade:
só tem valor quando acaba. "
iv
SUMÁRIO
1 Introdução ....................................................................................................................16
2 Justificativa ....................................................................................................................19
3 Objetivos........................................................................................................................21
3.1 Objetivo Geral .............................................................................................................21
3.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................21
4 Área de Estudo ...............................................................................................................22
4.1 História da Colonização de Joinville ............................................................................22
4.2 Aspectos Biogeográficos do Município de Joinville.....................................................24
4.2.1 Localização ..............................................................................................................24
4.2.2 Geomorfologia..........................................................................................................25
4.2.3 Vegetação.................................................................................................................26
4.2.4 Hidrografia ...............................................................................................................26
4.2.5 Climatologia .............................................................................................................27
5 Revisão Bibliográfica .....................................................................................................29
5.1 História do Aproveitamento de Água da Chuva ...........................................................29
5.2 Exemplos Atuais..........................................................................................................34
5.3 Legislação ...................................................................................................................39
5.4 Técnicas de Aproveitamento de Águas de Chuva.........................................................46
5.4.1 Tipos de cisternas .....................................................................................................51
5.4.2 Dimensionamento da cisterna ...................................................................................57
5.4.3 Qualidade da água de chuva......................................................................................60
5.4.4 Cuidados e equipamentos para garantir a qualidade da água......................................61
5.5 Viabilidade da Implantação de Sistemas de Aproveitamento de
Água de Chuva ..........................................................................................................65
6 Materiais e Métodos .......................................................................................................68
6.1 Verificação das políticas públicas e legislação referentes à captação e aproveitamento
da água de chuva .......................................................................................................69
6.2 Levantamento da opinião dos atores sociais sobre o aproveitamento da
água de chuva ............................................................................................................69
6.2.1 Definição dos atores sociais a serem entrevistados ....................................................69
6.2.2 Elaboração do questionário .......................................................................................71
6.2.3 Aplicação dos questionários......................................................................................72
6.3 Levantamento e avaliação das edificações no município de Joinville que já possuem
sistema de captação e coleta de água de chuva ...........................................................72
6.4 Análise dos questionários ............................................................................................73
6.5 Determinação da viabilidade do aproveitamento de água de chuva em
Joinville.....................................................................................................................73
7 Resultados e Discussão...................................................................................................74
7.1 Análise das Políticas Públicas e Legislação relacionadas ao aproveitamento de águas
pluviais......................................................................................................................74
7.1.1 Projetos de Lei apresentados que prevêem o aproveitamento de águas
pluviais em Joinville ..................................................................................................74
7.1.2 A Lei Complementar Municipal nº 29/96 - Código Municipal do
Meio Ambiente..........................................................................................................75
v
7.1.3 A Agenda 21 Local e a análise da revisão da legislação municipal............................77
7.2 Análise dos atores sociais elencados para a aplicação dos questionários
referentes ao aproveitamento de água de chuva em Joinville. .....................................79
7.3 Edificações em Joinville com Sistemas de Coleta e Aproveitamento de
Águas Pluviais...........................................................................................................81
7.3.1 Estudo de caso do projeto piloto do Eng. Gert Fischer ..............................................82
7.3.2 Estudo de caso da Escola Municipal José Antônio Navarro Linz...............................82
7.2.3 Estudo de caso da Escola Municipal Padre Valente Simioni......................................86
7.3.4 Estudo de caso do Iate Clube Phoenix.......................................................................88
7.3.5 Estudo de caso do Edifício Rio Tamisa .....................................................................91
7.3.6 Outros casos de aproveitamento de água de chuva em Joinville ................................93
7.4 Análise dos questionários ............................................................................................94
7.4.1 Perfil do entrevistado e da instituição da qual faz parte .............................................94
7.4.2 Identificando os grupos de atores ..............................................................................97
7.4.3 Identificando os problemas .......................................................................................98
7.4.3.1 Análise dos problemas e soluções em relação à falta de água em Joinville .............98
7.4.3.2 Análise dos problemas e soluções em relação à ocorrência de enchentes
em Joinville ...............................................................................................................103
7.4.4 Relação do poder público com a água .......................................................................115
7.4.4.1 Relação da instituição com os recursos hídricos de Joinville ..................................115
7.4.4.2 Importância do aproveitamento de água de chuva em Joinville ..............................117
7.4.4.3 Falta de água no município de Joinville..................................................................118
7.4.4.4 Ocorrência de enchentes e inundações no município de Joinville ...........................127
7.4.5 Análise da percepção do aproveitamento da água da chuva.......................................135
7.4.5.1 Conhecimento prévio sobre o aproveitamento de água da chuva ............................135
7.4.5.2 Viabilidade do aproveitamento de água de chuva em Joinville ...............................138
7.4.5.3 Conhecimento sobre projetos de aproveitamento de água de chuva
existentes...................................................................................................................141
7.4.5.4 Instalação de sistema de aproveitamento de água da chuva residencial...................142
7.4.5.4.1 Justificativas favoráveis à instalação de sistemas de aproveitamento de
águas pluviais ............................................................................................................143
7.4.5.4.2 Justificativas desfavoráveis à instalação de sistemas de aproveitamento
de águas pluviais........................................................................................................145
7.4.5.5 Usos indicados para o aproveitamento da água da chuva........................................146
7.4.5.6 Legislação de São Paulo sobre coleta de águas pluviais..........................................147
7.4.6 Estratégias para a implantação de sistemas de coleta e armazenamento de
água de chuva ............................................................................................................149
7.4.6.1 Importância da economia de água ..........................................................................149
7.4.6.3 Aptidão das instituições para tratar com a economia de água..................................153
7.4.6.4 Responsáveis pela economia e busca por fontes alternativas de água de
acordo com os entrevistados ......................................................................................155
7.4.6.5 Aspectos negativos e positivos em relação à implantação de sistemas de
aproveitamento de água de chuva em Joinville...........................................................156
7.4.6.5.1 Aspectos negativos do aproveitamento de água de chuva em Joinville ................156
7.4.6.5.2 Aspectos positivos do aproveitamento de água de chuva em Joinville .................158
8 Considerações Finais ......................................................................................................161
Referências Bibliográficas.................................................................................................163
Glossário ...........................................................................................................................173
Apêndice A – Relação dos Atores Sociais .........................................................................180
vi
Apêndice B – Modelo de questionário entregue aos atores sociais .....................................183
Apêndice C – Rede de interações entre os atores sociais ....................................................190
Anexo A – Lei nº13.276/02 do município de São Paulo.....................................................192
Anexo B – Programa de Uso Racional da Água na Edificações de Curitiba .......................195
Anexo C – Projeto de Lei Municipal de Joinville sobre a coleta de águas pluviais .............198
Anexo D – Mapa dos bairros de Joinville ..........................................................................201
vii
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo determinar as alternativas viáveis para a implantação
de sistemas de captação e aproveitamento de água de chuva no município de Joinville-SC.
Trata-se de um estudo de percepção ambiental direcionado para o aproveitamento de água
de chuva em Joinville e região, com uma amostra composta por atores sociais
representativos dos diversos segmentos da sociedade (órgãos governamentais e não-
governamentais, instituições de ensino, entidades ambientalistas, secretarias regionais,
associações de moradores e iniciativa privada). Os dados para a realização do estudo foram
coletados através de questionários entregues pessoalmente nas instituições e, em alguns
casos, enviados por meio eletrônico. Os questionários foram estruturados de forma a
abordar os objetivos da pesquisa considerando o nível dos entrevistados; e montados com
questões abertas, com solicitação de justificativas para as respostas apresentadas. O estudo
demonstrou que a região apresenta potencial para o desenvolvimento de práticas de
aproveitamento da água pluvial, com uma boa aceitação por parte da comunidade. De
acordo com os resultados, a comunidade reconhece a importância da preservação dos
recursos naturais e a necessidade da busca por fontes alternativas destes recursos, dentre
estes os recursos hídricos. As conclusões do estudo sugerem que, para que seja implantado
com sucesso o aproveitamento de água de chuva em Joinville, há necessidade do
desenvolvimento de programas abrangentes para informar a sociedade sobre o
funcionamento do sistema, os usos aos quais a água coletada pode ser destinada e a
contribuição que esta prática pode oferecer à preservação dos recursos hídricos na região.
viii
ABSTRACT
The present study has as its purpose to determine the viable alternatives for the
implantation of harvesting systems for the exploitation of rainwater in the city of Joinville-
SC. It is an environmental perception study to address the rainwater exploitation in the
Joinville region, with a sample integrated by representative social actors of the diverse
segments of the society (governmental and non-governmental bodies, education
institutions, environment protection entities, regional secretariats, inhabitants associations
and private initiative). The data for the accomplishment of the study had been collected
through questionnaires delivered personally structured considering the level of the
interviewed people along with the research goals; built with open questions and the request
to give justifications for the presented answers. The in the institutions and, in some cases,
sent by e-mail. The results had been study demonstrated that the region presents potential
for the development of the practical exploitation of the pluvial water, with a good
acceptance by the community. In accordance with the results, the community recognizes
the importance of the preservation of the natural resources and the need to search for
alternative sources of them, amongst these the hydric resources. The conclusions of the
study suggest that, for the successful implantation of the rain water exploitation in
Joinville, it is necessary to develop programs to inform the society on the system
functionality, the uses to which the collected water can be destined, and the contribution
this practice can offer for the preservation of the hydric resources in the region.
ix
LISTA DE FIGURAS
x
Figura 36 - Aspecto interno do reservatório de decantação e tubos de saída para a
caixa d’água .......................................................................................................... 84
Figura 37 - Tubos que conduzem a água do reservatório de decantação para a caixa
d’água.................................................................................................................... 84
Figura 38 - Saída da caixa d’água para a bomba elétrica ................................................ 85
Figura 39 - Bomba elétrica que conduz a água da cisterna para a caixa elevada sobre
os sanitários........................................................................................................... 85
Figura 40 - Painéis pintados nas paredes da escola pelos alunos envolvidos no
programa de educação ambiental ........................................................................... 86
Figura 41 - Representante da TIGRE explicando o funcionamento do sistema e alunos
da escola responsáveis pelo projeto........................................................................ 87
Figura 42 - Instalação da unidade didática na horta da escola........................................ 87
Figura 43 - Placa de identificação do Iate Clube Phoenix............................................... 88
Figura 44 - Área de captação: telhado sobre o abrigo das embarcações .......................... 88
Figura 45 - Área de captação e uma das cisternas de 10.000L adicionais ....................... 89
Figura 46 - Tubulação de descida das calhas coletoras para a cisterna............................ 89
Figura 47 - Tubulação de saída da água armazenada para uso e reabastecimento da
cisterna enterrada................................................................................................... 90
Figura 48 - Tubulação que conduz a água das calhas coletoras para a cisterna enterrada 90
Figura 49 - Tampa da cisterna enterrada ........................................................................ 91
Figura 50 - Projeto da fachada do Ed. Rio Tamisa ......................................................... 91
Figura 51 - Colunas onde está embutida a tubulação de descida da água de chuva
coletada do telhado ................................................................................................ 92
Figura 52 – Filtro instalado antes da entrada de uma das cisternas de 1000L.................. 92
Figura 53 - Tubulação para direcionar o excesso de água para o telhado da garagem
do prédio ............................................................................................................... 93
Figura 54 - Precipitação pluviométrica mensal entre 1996 e 2004.................................. 103
Figura 55 - Enchente no centro de Joinville, na esquina da Rua 9 de Março com a Rua
do Príncipe, no ano de 1929................................................................................... 104
Figura 56 - Enchente no centro de Joinville, na Rua do Príncipe na década de 30 .......... 105
Figura 57 - Enchente no centro de Joinville, região onde atualmente está o calçadão da
Rua do Príncipe, em 14 de fevereiro de 1948. (NEUMANN, 2004) ....................... 106
Figura 58 - Canteiro central servindo como “janela de infiltração” ................................ 110
Figura 59 - Logotipo do Programa SOS Nascentes ........................................................ 120
Figura 60 - Tratamento de água por zona de raízes ........................................................ 121
Figura 61 - Modelo de propriedade rural sustentável...................................................... 125
Figura 62 - Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão ..................................... 126
Figura 63 - Alagamento no centro de Joinville, na Rua Pedro Lobo em frente ao
Shopping Mueller, em 31 de janeiro de 1998 ......................................................... 129
Figura 64 - Alagamento no centro de Joinville, na Rua Engenheiro Niemeyer próximo
ao Shopping Mueller, em 9 de janeiro de 2002....................................................... 129
Figura 65 - Alagamento no centro de Joinville, na Rua Engenheiro Niemeyer próximo
ao Shopping Mueller, em 4 de fevereiro de 2004 ................................................... 130
Figura 66 - Substituição da tubulação da rede de distribuição de água tratada ................ 132
Figura 67 - Cisterna em Riachão do Jacuípe e em Juazeiro, BA..................................... 138
Figura 68 - Chuva Total Anual em Santa Catarina ......................................................... 140
xi
LISTA DE GRÁFICOS
xii
LISTA DE TABELAS
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
xiv
PVC Policloreto de vinila
SAMA Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Joinville
SECOVI Sindicato da Habitação do RJ
SEINFRA Secretaria de Infra Estrutura Urbana de Joinville
SESC Serviço Social do Comércio
SINDUSCON Sindicato das Indústrias da Construção Civil
SUDERHSA Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental
xv
1 INTRODUÇÃO
A captação de água de chuva é uma técnica muito antiga e que foi sendo abandonada ao
longo do tempo, à medida que os sistemas de água encanada foram se expandindo.
Atualmente vem-se buscando um resgate desta prática porém com a utilização de novas
tecnologias que viabilizem a implantação do sistema. Sendo a água um recurso passível de
escassez, torna-se inviável a utilização de água clorada e fluoretada para fins menos nobres
como lavar calçadas, carros e regar plantas e jardins, práticas comuns na cidade de
Joinville, que poderiam muito bem ser realizadas com a água de chuva coletada dos
telhados das próprias residências. Em alguns casos, como na irrigação de jardins, esta
substituição é realizada com vantagens, em função da composição química da água de
chuva.
A busca por fontes alternativas de recursos naturais é uma necessidade decorrente tanto do
crescimento populacional como do aumento dos padrões de consumo dessa população. A
água é um recurso valioso e vital para a vida humana, e que se for superexplorado poderá
ser insuficiente para atender à demanda. A presente pesquisa teve como finalidade a
busca de práticas e tecnologias que permitam a utilização da água de chuva como fonte
alternativa deste recurso em áreas urbanas, através de práticas de gestão ambiental que
otimizem o uso da água.
16
Outro aspecto a ser considerado na coleta das águas pluviais em Joinville é a situação
particular em que se encontra a cidade, com um dos maiores índices pluviométricos do país
e solo de característica extremamente argilosa e impermeável quando exposto diretamente
à ação das chuvas. A característica do solo, aliada à impermeabilização do mesmo,
resultante da ocupação urbana, é responsável pela diminuição da infiltração das águas
pluviais, reduzindo conseqüentemente a recarga do lençol freático e causando o acúmulo
desta água na superfície do solo. Uma vez que o lençol freático da região de Joinville é
pouco profundo, a capacidade de escoamento é pequena, e as enchentes ocorrem com
muita freqüência. A captação das águas pluviais em cisternas poderia diminuir
consideravelmente o volume de água lançado na rede pluvial e contribuiria para o controle
das cheias.
Com a execução do presente trabalho, buscou-se fazer um levantamento junto aos atores
sociais de Joinville para determinar a aceitação da implantação de sistemas de
aproveitamento de água da chuva e oferecer opções de técnicas viáveis para a implantação
de sistemas que utilizem as águas pluviais como fonte alternativa de recurso, contribuindo,
ao mesmo tempo, para o controle de enchentes que ocorrem na região. Estas técnicas
futuramente, poderão servir de base para a implantação de projetos de políticas públicas
voltadas à gestão ambiental, beneficiando toda a sociedade de Joinville.
17
implantado, para que finalidade a água é utilizada e qual a opinião dos usuários sobre a
viabilidade do aproveitamento da água de chuva.
Outro aspecto abordado na pesquisa foi uma consulta à legislação municipal referente à
gestão de recursos hídricos, abastecimento de água e ocupação dos lotes. Vários projetos
de Lei já foram apresentados e esta é uma tendência que pode ser verificada observando a
legislação de outros municípios.
As técnicas utilizadas para a captação e armazenagem das águas pluviais podem variar em
alguns detalhes, de acordo com as características da região onde são implementadas. Estas
características podem abranger desde o potencial pluviométrico e geográfico da região, até
a formação cultural e sócio-econômica dos atores envolvidos no processo. Os usos da água
resultante da captação, também deverão estar coerentes com a qualidade e quantidade desta
água captada. Assim sendo, procurou-se por meio de levantamentos junto aos atores
sociais, governamentais e não governamentais, buscar a identificação das tecnologias de
captação e aproveitamento de águas de chuva adequadas à realidade de Joinville.
Pela análise dos dados colhidos através da aplicação dos questionários, análise das
políticas públicas e levantamento dos sistemas de aproveitamento de águas pluviais já
implantados em Joinville, pode-se verificar a viabilidade destes sistemas desde que
devidamente adequados à realidade local e ao perfil da população.
Percebe-se que o primeiro passo para a implantação de projetos de melhoria ambiental nas
cidades é a interação com a comunidade, para determinar as suas necessidades e anseios,
adequando o projeto à realidade local. Desta forma esta pesquisa consiste na primeira etapa
deste processo, servindo como um diagnóstico do conhecimento prévio, dos anseios e
necessidades da comunidade joinvilense no que se refere ao aproveitamento da água de
chuva como complementação ao sistema público de abastecimento.
18
2 JUSTIFICATIVA
A busca de fontes alternativas de recursos naturais, entre estes os recursos hídricos, é uma
estratégia de gestão ambiental indispensável para evitar uma possível escassez, visto que a
demanda vem aumentando progressivamente, em decorrência do aumento dos níveis de
consumo e do crescimento populacional.
A cidade de Joinville foi escolhida como área de estudo pela sua situação particular de
ameaça de escassez de água, apesar do alto índice pluviométrico. Outro fator de relevante
importância na escolha da área de estudo trata-se das enchentes constantes que ocorrem na
cidade e os transtornos que estas enchentes acarretam à sociedade.
19
permitindo grandes perdas. Com os micro-reservatórios de águas pluviais localizados
próximos aos locais de consumo, estas perdas seriam mínimas (GONÇALVEZ, 2001).
A coleta de dados relativa aos benefícios das técnicas de aproveitamento de águas pluviais
é medida importante para a disseminação desta prática, uma vez que mais do que razões
operacionais, o maior obstáculo pode estar relacionado à falta de um gerenciamento
eficiente da água. Uma frase citada na abertura do IX Congresso Internacional de Sistemas
de Captação de Águas de Chuva, realizado em Petrolina, no ano de 1999, dizia que: “O
que é mais necessário é a aceitação moral dessas técnicas e a vontade política de
implementar os sistemas”.
Os resultados deste trabalho poderão servir como ferramenta para a elaboração de planos
de gestão ambiental em órgãos municipais responsáveis pela infra-estrutura urbana, bem
como pela sociedade em geral, diminuindo os custos com o consumo de água canalizada.
Com a perspectiva da cobrança pelo uso da água, certamente surgirá o interesse pela busca
de fontes alternativas para reduzir os custos nos processos industriais bem como nas
atividades domésticas.
20
3 OBJETIVOS
O objetivo geral da presente dissertação foi avaliar a percepção ambiental dos atores
sociais em relação à implantação de sistemas de captação e aproveitamento de água de
chuva no município de Joinville-SC.
Verificar, junto aos órgãos municipais, a existência de políticas públicas referentes à gestão
das águas no município, uso e ocupação do solo, aproveitamento de águas pluviais, taxa de
impermeabilização dos lotes e outros aspectos relacionados ao tema;
21
4 ÁREA DE ESTUDO
Em fins de 1862, a colônia possuía cerca de cinco mil pessoas, a maioria das quais em
atividades agrícolas, sendo o centro da cidade constituído por uma centena de casas,
enquanto que na região colonial estas somavam a mais de seiscentas (TERNES, 1981).
Efetivamente, dez anos após a chegada dos primeiros colonos, o destino de Joinville
continuava definido: ser uma colônia agrícola. No entanto, os acontecimentos que se
seguiriam nas próximas duas décadas haveriam de modificar este panorama, fazendo com
que Joinville acabasse se tornando um núcleo urbano de intensas atividades e, mais
adiante, alcançando seus primeiros sintomas de núcleo urbano pré-industrial (TERNES,
1981).
Joinville foi a cidade catarinense que mais rapidamente se desenvolveu e com cerca de
cinqüenta anos já era uma comunidade de empreendedores, com vida cultural
particularmente própria, mesmo porque quase toda desenvolvida em língua alemã, e desta
forma se destacando no panorama catarinense. Sempre obteve as atenções do Governo
Imperial por se tratarem de terras da irmã de Dom Pedro II e assim logrou um
desenvolvimento muito maior do que qualquer outra comunidade catarinense. Este
desenvolvimento se deve, em grande parte, pelo espírito tenaz dos colonizadores alemães
que enfrentavam todas as dificuldades encontradas com perseverança, para transformar as
novas terras e iniciarem uma vida nova, para si e seus descendentes (TERNES, 1981).
22
Com o surgimento da energia elétrica, em 1906, Joinville obteria maiores perspectivas
industriais. No entanto, o que efetivamente contribuiu para o aceleramento do
desenvolvimento econômico joinvilense foi a eclosão da Primeira Guerra Mundial, que
forçou um desenvolvimento resultando na expansão de pequenas indústrias de “fundo de
quintal”, e que, em muitos casos, constituem a origem das muitas empresas que possuímos
atualmente (TERNES, 1981).
O ano de 1906 também foi marcado pelos efeitos de uma grande enchente, a primeira de
que se tem registro, que destruiu algumas casas e provocou pânico e desespero (Figura 1).
Esta enchente atingiu ainda outras cidades da região, como Jaraguá do Sul. A enchente se
registrou no mês de março e Joinville ganhou as atenções do estado e até do País, obtendo,
na época, um auxílio do governo federal para indenizar parcialmente os prejuízos
(TERNES, 1981).
Entre as décadas de 50 e 80, Joinville viveu outro surto de crescimento: com o fim do
conflito mundial, o Brasil deixou de receber os produtos industrializados da Europa. Isso
23
fez com a cidade se transformasse em pouco tempo em um dos principais pólos industriais
do país, recebendo por isso a denominação de "Manchester Catarinense" (referência à
cidade inglesa de mesmo nome). O crescimento desordenado trouxe também problemas
sociais que persistem até os dias atuais, como desemprego, miséria, criminalidade, falta de
segurança pública e infra-estrutura deficitária.
24
Joinville é a maior cidade do Estado de Santa Catarina e localiza-se a 180 quilômetros ao
norte de Florianópolis (KUNZE, 1994).
O município compreende uma área de 1.135.05 km2, sendo que 191,14 km2 são destinados
ao perímetro urbano (Figura 3) (DEFESA CIVIL DE JOINVILLE, 2004).
4.2.2 Geomorfologia
4.2.3 Vegetação
A vegetação da região de Joinville pode ser classificada, de forma geral, como Floresta
Ombrófila Densa, parte integrante do domínio da Floresta Atlântica. Este tipo de vegetação
assume tipologias diferenciadas de acordo com as características climáticas e edáficas da
região, e cobria originalmente quase a totalidade da extensão do município. A Floresta
Atlântica caracteriza-se pela grande variedade de espécies, formando uma vegetação densa
e exuberante, que atinge altura superior a 30 metros. As copas das árvores maiores
destacam-se, formando uma camada relativamente uniforme e fechada. No seu interior
formam-se ainda outros estratos de plantas menores, adaptadas à iluminação difusa
(DEFESA CIVIL DE JOINVILLE, 2004).
4.2.4 Hidrografia
Com relação aos recursos hídricos, Joinville é um município privilegiado por ter quase
todas as nascentes de seus rios contidas dentro dos próprios limites municipais. Este fato
possibilita ao município de Joinville um enorme poder de gestão sobre os seus recursos
hídricos. São quatro as principais bacias hidrográficas do município de Joinville: Cubatão,
Cachoeira, Piraí e Rio do Júlio, além de pequenas bacias do Leste que nascem nas encostas
dos morros do Iririú e Boa Vista e deságuam na Baía de Babitonga. A bacia do rio Quiriri,
apesar de não estar contida nos limites municipais, é uma importante sub-bacia do Rio
Cubatão, que nasce no município de Garuva, respondendo por cerca de 40% do volume de
água que é captado para abastecimento público de Joinville na estação do Rio Cubatão. É
interessante observar que a alta densidade dos recursos hídricos no município reflete tanto
a composição do solo argiloso, menos permeável, dificultando a infiltração da água da
26
chuva no solo, quanto o alto índice pluviométrico da região (GONÇALVES e OLIVEIRA,
2001).
As bacias do Piraí e do Rio do Júlio fazem parte da grande bacia hidrográfica do Rio
Itapocu que abrange, além do município de Joinville, os municípios de Jaraguá do Sul,
Schroeder, Guaramirim e Corupá. Esta bacia drena a porção Central a Oeste do município
(DEFESA CIVIL DE JOINVILLE, 2004).
4.2.5 Climatologia
Com relação ao índice pluviométrico tem-se que a precipitação anual média do período
compreendido entre 1996 e 2004 é de 2238,0 mm. Tendo, precipitação média mínima de
1401,8 mm em 2003 e, máxima, de 3048,4 no ano de 1998. Observando-se o gráfico da
precipitação pluviométrica mensal entre 1996 e 2004 (Figura 4), nota-se que os totais
mensais medidos no período mostram uma acentuada redução nos meses compreendidos
entre abril e agosto, tendo uma precipitação mínima mensal em abril de 2000 de 12,1mm.
Já nos meses compreendidos entre setembro e março há um aumento dos índices
pluviométricos, atingindo uma máxima mensal em fevereiro de 2001 (599,4mm)
(UNIVILLE, 2004).
300
200
100
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Em termos de números de dias de chuva por mês, tomando-se como referência o período
compreendido entre os anos de 1996 a 2001, tem-se uma média de 8 a 10 dias de chuva por
mês entre os meses compreendidos entre abril e agosto, com um mínimo de três dias em
27
abril de 2000, enquanto que nos meses de setembro a março o número de dias de chuva
varia de 15 a 20 dias, alcançando um pico máximo de 26 dias em setembro de 1998 (Figura
5) (CCJ, 2004).
Figura 5 - Gráfico dos dias de chuva por mês entre 1996 e 2001. (UNIVILLE)
28
5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Em sistemas públicos essa técnica também vem sendo aplicada em comunidades pequenas.
Na década de 60, Obras Sanitárias da Nação executou três sistemas de abastecimento nas
cidades argentinas de Corzuela, Avia Terai e Campo Largo. Pouco antes o autor havia
projetado um pequeno sistema para um bairro da cidade de Santos, onde faltava água. No
Brasil, a instalação mais antiga foi construída pelos norte-americanos na Ilha de Fernando
de Noronha, em 1943 (AZEVEDO NETTO,1991).
Existem duas situações de aplicação para o aproveitamento das águas pluviais: em áreas de
grande pluviosidade, como medida preventiva para contenção de cheias, ou em casos
extremos, em áreas de seca, onde se procura acumular a água da época chuvosa para a
época de estiagem, com o propósito de garantir, ao menos, a água para beber (FUNASA,
2002).
Segundo Gnadlinger (2000) coleta e aproveitamento da água de chuva tem sido uma
técnica muito popular em muitas partes do mundo, especialmente em regiões áridas e semi-
áridas (aproximadamente 30% da superfície da terra). A colheita de água da chuva foi
inventada independentemente em diversas partes do mundo e em diferentes continentes há
milhares de anos. Foi usada e difundida especialmente em regiões semi-áridas onde as
chuvas ocorrem somente durante poucos meses e em locais diferentes (Figura 7).
29
Figura 7 - Regiões áridas e semi-áridas do globo. (Gnadlinger, 2000)
Na década de 1970 várias cidades da Índia tiveram nas técnicas de captação de água de
chuva a solução para a sua produção agrícola e passaram da situação de importadoras a
exportadoras de alimentos. No meio da década de 1980, a população da cidade de
Gopalpura, também na Índia, localizada em uma região propensa a secas, passou a reviver
as práticas de captação de escoamento superficial e o sucesso do empreendimento motivou
outras 650 cidades próximas a desenvolver esforços similares, levando à elevação do nível
do lençol freático, rendimentos maiores e mais estáveis provenientes das atividades
agrícolas, e redução das taxas de migração. Impressionado com o sucesso da experiência
do uso de técnicas de captação de águas de chuva, o ministro chefe do estado de Madhya
Pradesh, ainda na Índia, repetiu a iniciativa em 7.827 cidades. O projeto atendia a quase
3,4 milhões de hectares de terra entre 1995 e 1998 (WORLD WATER COUNCIL, 2000
apud PALMIER, 2001).
30
água. As técnicas de captação de água de chuva são praticadas há milênios em vários
países da região, sendo comuns em países como a Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes,
Iêmen, Omã e Tunísia. Nestes países utiliza-se o sistema de recarga de águas subterrâneas
através da construção de barragens que fazem parte de planos nacionais de
desenvolvimento (PETRY e BOERIU, 1998 apud PALMIER, 2001).
31
Existem também exemplos de captação de água de chuva para barcos, principalmente
veLeiros, onde o toldo que protege os tripulantes do sol pode ser usado como estrutura de
coleta, que em seguida é transferida para um reservatório (DUARTE apud GONÇALVEZ,
2001).
Em Santa Catarina temos o primeiro uso comprovado da água de chuva no século XVIII,
por ocasião da construção das fortalezas de Florianópolis. Na Fortaleza de Ratones, que
está situada na Ilha de Ratones, sem fonte de água, foi construída uma cisterna que
coletava a água dos telhados. Esta água era usada para fins diversos, inclusive para o
consumo das tropas (RAMOS, 1983 apud GONÇALVEZ, 2001).
O progresso técnico dos Séc. XIX e XX ocorreu principalmente nos países desenvolvidos,
em zonas climáticas moderadas e úmidas, sem necessidade de captação de água de chuva.
Como conseqüência da colonização, práticas de agricultura de zonas climáticas moderadas
foram implantadas em zonas climáticas mais secas. Além disso, houve uma ênfase na
construção de grandes barragens, no desenvolvimento do aproveitamento de águas
subterrâneas, e em projetos de irrigação encanada, com altos custos. Segundo Gnadlinger
(2000), estas são algumas razões porque as tecnologias de coleta de água de chuva foram
deixadas de lado ao longo do tempo ou completamente esquecidas.
33
Mais recentemente em 1999, por ocasião da “9º Conferência Internacional de Sistemas de
Captação de Água da Chuva” e do “2º Simpósio BrasiLeiro sobre Sistemas de Captação de
Água de Chuva” realizados simultaneamente em Petrolina, foi criada a Associação
BrasiLeira de Captação e Manejo de Água da Chuva (ABMAC) (SICKERMANN, 2002).
Algumas empresas da Europa também podem ser citadas como a Volkswagen AG que
utiliza a água de chuva nas torres de resfriamento em várias unidades de produção na
Alemanha e na Polônia, suprindo 10% da demanda total. O Centro de Manutenção da
Lufthansa-Technik AG, em Hamburgo, na Alemanha, utiliza a água de chuva sobretudo
em serviços de lavagem de aeronaves e na seção de pinturas, substituindo até 60% da
demanda anteriormente suprida por água canalizada. Na Exposição Mundial “Expo 2000”
em Hanover, também na Alemanha, cujo tema foi “Homem-Natureza-Tecnologia” foram
instalados sistemas de coleta de água de chuva em todas as construções da mostra. A água
foi utilizada em várias fontes artísticas utilizadas para aproximar o público do tema “água”.
Neste caso, utilizou-se cloração e irradiação UV, para afastar qualquer risco que o contato
direto de crianças com a água pudesse oferecer (SICKERMANN, 2002).
A Alemanha, que irá sediar a Copa Mundial de Futebol em 2006, divulgou em 2003 a
operação “Gol Verde”. Trata-se de um projeto para fazer com que a Copa seja o primeiro
grande evento esportivo em que o impacto sobre o meio-ambiente seja mínimo. Entre as
medidas a serem adotadas neste evento está o armazenamento de água de chuva para, de
34
acordo com os organizadores, suprir 20% do total da água consumida no torneio. Um dos
principais usos a que será destinada a água de chuva será a rega dos gramados
(AMBIENTE NOTÍCIAS, 2003).
35
função dos índices de precipitação. A água coletada é utilizada no período de seca, quando
o consumo é maior (ESTAÇÃO VIDA, 2003).
A rede Accor Hotéis também implantou no Hotel Íbis Paulínia, em São Paulo, um sistema
de captação de água da chuva, que faz parte do Projeto Ecológico do plano de gestão
ambiental da rede. O aproveitamento da água de chuva é efetuado paralelamente ao reuso
da água de chuveiros e lavatórios nas descargas dos vasos sanitários das unidades
habitacionais, depois de passar por um tratamento de purificação. Calcula-se que o
investimento para a reutilização das águas seja pago em um ano (HOTELNEWS, 2002). O
Hotel Íbis, de Blumenau-SC, também está instalado um sistema de captação e
aproveitamento de água da chuva. A área de captação fica localizada praticamente na
36
mesma linha do reservatório, localizado sob o telhado, fazendo com que não haja
necessidade de recalcar a água de baixo para cima. A capacidade de armazenagem é de
8.000 litros de água de chuva. Segundo os responsáveis pela obra não se tem dados exatos
da economia que o sistema representa, mas calcula-se que certamente os gastos com a
implantação do sistema poderão ser recuperados no primeiro ano de operação.
A Tecksid do Brasil, empresa de fundição do grupo Fiat, inaugurou em 2001 uma estação
de tratamento de águas pluviais, juntamente com outra de efluentes líquidos. O projeto faz
parte da estratégia da empresa para tornar-se auto-suficiente em água de utilização
industrial (VALOR ECONÔMICO, 2001).
Em São Paulo, a empresa Santa Brígida, cuja garagem abriga mais de 500 ônibus, toda a
água de chuva que cai sobre os 9 mil metros quadrados da área coberta é captada por
canaletas e direcionada para uma rede de piscinões subterrâneos, com capacidade para 150
mil litros cada um. Esta água é aproveitada para a lavagem de pisos, peças e veículos, sem
receber nenhum tratamento. Segundo o gerente de manutenção da empresa, Itamar Lopes
Santos, a empresa faz cerca de 700 lavagens de ônibus diariamente. Cada operação usa, em
média, 400 litros de água, o que significa um consumo diário de 280 mil litros só para a
limpeza dos ônibus. Durante a estação das chuvas, a demanda é suprida quase
completamente pela água de chuva captada (ESCOBAR, 2002).
37
Também em São Paulo está a Escola Viva, localizada na Vila Olímpia, zona sul da capital
e que atende crianças da Educação Infantil ao Ensino Fundamental. Desde 2000, esta
instituição colocou em prática os princípios ambientais que ensina aos alunos e inaugurou
o primeiro prédio ecológico do Brasil. Situado no Itauim, o edifício foi construído de
maneira que os recursos naturais fossem aproveitados sem causar impacto ambiental. Um
dos pontos do projeto da escola é o telhado com um grande coletor de água da chuva, que é
armazenada (KERR, 2003). A água de chuva, depois de passar por um pequeno tratamento
é usada nas descargas dos banheiros, na lavagem do pátio e para regar o jardim
(CAMPANILI, 2003). A obra foi destaque nacional, conquistou o Prêmio Master
Imobiliário de 2001 e foi desenvolvido em processos ecológicos auto-sustentáveis (AN
VERDE, 2003).
Em Curitiba-PR, pode-se observar o exemplo das lojas da rede varejista americana Wall
Mart Store. As lojas da rede são construídas com sistemas de retenção da água de chuva
que é captada em toda a área do prédio e do estacionamento, com o principal objetivo de
evitar alagamentos e enchentes (RANGEL, 2001).
Atualmente, com o surgimento de Leis que tratam da captação de água da chuva para a
contenção de cheias em várias cidades do Brasil, os sistemas de captação e aproveitamento
38
de água de chuva tem se difundido rapidamente e os exemplos estão aumentando
significativamente.
5.3 Legislação
Na cidade de São Paulo, a Lei Municipal nº13.276 (Anexo A), aprovada em 04 de janeiro
de 2002, torna obrigatória a execução de reservatório para as águas coletadas por
coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada
superior a 500m2, como medida para a contenção de enchentes. Esta Lei coloca a execução
dos reservatórios para acumulação de águas pluviais como condição para o Certificado de
Conclusão da Obra. A Lei municipal utiliza como fórmula para o cálculo da capacidade do
reservatório a seguinte equação:
V = 0,15 × Ai × IP × t
Onde:
V = volume do reservatório (m3)
Ai = área impermeabilizada (m2)
IP = índice pluviométrico igual a 0,06 m/h
t = tempo de duração da chuva (em horas)
39
A Lei também determina que a água do reservatório poderá ser despejada na rede pública
de drenagem após uma hora de chuva, infiltrar-se no solo ou ser conduzida para outro
reservatório para ser utilizada para finalidades não potáveis (SÃO PAULO, 2002).
A Lei nº 13.276 de São Paulo é resultado de um Projeto de Lei apresentado em 1997 pelo
vereador Adriano Diogo, com a consultoria técnica do matemático Elair Antônio Padin.
Esta Lei só vale para as edificações erguidas depois da aprovação da mesma
(MAGALHÃES, 2001). Esta Lei ficou conhecida como Lei das Piscininhas, em analogia
aos reservatórios de detenção já existentes na cidade, chamados de piscinões. Piscinão é
uma barragem utilizada para conter as enxurradas na época das chuvas fortes. O piscinão
funciona como um freio onde a água da chuva entra por uma abertura maior e sai por uma
menor, diminuindo a vazão.
TD = p × V
Onde:
TD = taxa de drenagem (em unidade monetária vigente)
P = custo médio mensal, por m3 do sistema de drenagem (em unidade monetária vigente)
V = volume lançado pelo imóvel (m3)
40
não tradicional de detenção em lotes exibindo uma planilha para o cálculo do
dimensionamento destes reservatórios (GUARULHOS, 2001).
V = Ai × IP
Onde:
V = volume do reservatório (m3)
Ai = área impermeabilizada (m2)
IP = índice pluviométrico igual a 80 mm3.
O projeto de Lei de Campinas prevê um prazo de até dois anos para que as edificações ou
lotes construídos ingressem no modo de captação proposto. Este projeto de Lei também foi
orientado com base na proposta de Elair Antônio Padin, que certificou o registro do projeto
em Marcas e Patentes sob nº PI 9705539-5 (CAMPINAS, 2003).
41
O Plano Diretor de Drenagem para a Região de Curitiba da Superintendência de
Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do Paraná
(SUDERHSA), traz um novo conceito em matéria de drenagem, partindo do princípio de
que as grandes galerias pluviais não comportam todo o volume de água das chuvas
torrenciais, e transformou em Leis municipais as propostas de implantação de sistemas
para captação de águas pluviais (RANGEL, 2001).
42
2002). Este projeto, posteriormente, teve uma proposta de substitutivo geral que alterava o
texto para “Torna obrigatória a implantação de cisternas ou reservatórios de acumulação
nos empreendimentos que especifica e dá providências correlatas”. Estes empreendimentos
eram determinados de acordo com a sua localização, independente da área
impermeabilizada (CURITIBA, 2003). Tanto o projeto de Lei quanto o substitutivo não
foram aprovados e provavelmente não o serão, uma vez que o PURAE preenche todas as
expectativas em relação ao tema, sendo inclusive mais abrangente abordando temas como
a educação ambiental e conscientização da população para a racionalização do uso dos
recursos hídricos.
O projeto de Lei exige que a regulamentação do programa conte com pareceres técnicos de
órgãos de construção civil que estejam vinculados a atividades de preservação e
conservação do meio ambiente (AMBIENTE BRASIL, 2003).
43
Na cidade do Rio de Janeiro foi publicado no Diário Oficial do Município o Decreto nº
23.940 que condiciona o recebimento do habite-se à construção de reservatórios para
captar água de chuva. Esta exigência se aplica a prédios residenciais que tenham mais de
50 apartamentos e também para imóveis com mais de 500 m2 de área impermeabilizada
(SECOVI, 2004). A água armazenada deverá ser escoada através de infiltração no solo,
podendo também ser despejada gradualmente na rede pública de drenagem uma hora após
a chuva. Caso seja reaproveitada, o reservatório deverá atender às normas sanitárias. Os
reservatórios serão construídos de acordo com o tamanho da área impermeabilizada e o
volume pluviométrico da região. O decreto proíbe qualquer comunicação entre o sistema
de água pluvial com o de água potável para evitar contaminação. Os locais descobertos
para estacionamento ou guarda de veículos para fins comerciais deverão ter 30% de sua
área com piso drenante ou área naturalmente permeável (GAZETA MERCANTIL, 2004).
Em todo o país existem estudos e até minutas de Lei que pretendem obrigar condomínios
residenciais, industriais e comerciais a reterem a água de chuva, para diminuir as enchentes
urbanas. Também estão sendo criadas novas regras sobre a parcela do terreno que deverá
ser mantida sem a colocação de pisos, para facilitar a infiltração da água no solo (BIO,
2001).
44
Segundo a NBR 13969:1997 podem ser definidos as seguintes classificações e respectivos
valores de parâmetros exigidos, conforme o reuso, de acordo com a Tabela 1:
45
Institut für Normung e.V, aprovada em abril de 2002 e que trata de sistemas de
aproveitamento de águas pluviais: parte 1 – planejamento, execução, operação e
manutenção (DIN, 2002).
A situação dos recursos hídricos em diversos países apresenta um desafio enorme pelos
responsáveis pela sua gestão. Em muitas regiões a demanda excede a quantidade de água
disponível e mesmo em regiões onde a disponibilidade de água é grande, a falta de manejo
destes recursos pode fazer com que a população sofra com períodos de estiagem.
Segundo Petry apud Palmier (2001) o aumento das demandas domésticas e industriais de
água implica que os recursos hídricos superficiais e subterrâneos deverão ser aproveitados
de uma maneira mais efetiva e as soluções requerem uma visão mais integrada da gestão
de recursos hídricos. Uma das principais soluções citadas por este autor inclui o aumento
da água disponível por acréscimo da capacidade de armazenamento. A construção de
grandes barragens tem sido a opção escolhida em muitas regiões do mundo, porém seus
custos econômicos e ambientais têm sido apontados como causas da diminuição na taxa de
construção dessas estruturas. As alternativas sugeridas são: pequenas barragens,
armazenamento de água em regiões pantanosas, recarga de aqüíferos, técnicas tradicionais
de armazenamento em pequena escala e métodos de colheita de precipitações e vazões de
água em cursos intermitentes.
Segundo Palmier (2001) países ricos e pobres podem ser atendidos com técnicas
alternativas de aproveitamento de água, principalmente as técnicas de colheita de chuva e
46
vazões em cursos de água intermitentes, aplicáveis tanto em áreas rurais, para agricultura
ou abastecimento doméstico, ou em áreas urbanas. Os princípios, métodos de construção,
uso e manutenção estão disponíveis e existem muitas opções diferentes, podendo ser
adequados às diferentes necessidades e disponibilidade financeira (PALMIER, 2001).
A área de captação pode ser o próprio solo, nos casos de macro-drenagem, ou a área de
telhado nos sistemas individuais (GONDIM, 2001). A macro-drenagem tem a função de
reter um volume considerável de água quando o fluxo é muito intenso, mas não permite o
aproveitamento desta água sem um prévio tratamento e sua construção é muito dispendiosa
além de ocupar áreas urbanas extensas, que poderiam ser utilizadas para outros fins.
47
O sistema de abastecimento com água de chuva pode ser complementado pelo
aproveitamento de outras fontes assim como pode suprir ou complementar outro tipo de
sistema. Na maioria dos casos o uso de água de chuva reduz o custo de energia e de
tratamento em sistemas com dupla fonte (AZEVEDO NETTO, 1991).
A água de chuva pode ser utilizada como manancial abastecedor, sendo armazenada em
cisternas. As cisternas são reservatórios, que acumulam a água da chuva captada na
superfície dos telhados dos prédios, ou a que escoa pelo terreno. A cisterna tem sua
aplicação em áreas de grande pluviosidade, ou em casos extremos, em áreas de seca, onde
se procura acumular a água da época de chuva para a época de seca (BARROS, 1995).
A água da chuva pode ser captada em pátios ou em áreas inclinadas guarnecidas com lajes
de concreto e armazenadas em tanques subterrâneos, como ocorre na China (Figura 11).
Esta água é utilizada para irrigação de culturas comercializáveis como verduras, ervas
medicinais, flores e árvores frutíferas (GNADLINGER, 2000).
A água de chuva, no meio urbano, pode ser aproveitada para diversos usos não exigindo
tratamentos dispendiosos. Atividades como lavar calçadas, carros, descargas dos vasos
sanitários e regar plantas, dispensam o uso de água potável. A figura 13 mostra os detalhes
de um sistema de aproveitamento de água de chuva onde a água é coletada pela superfície
do telhado, armazenada em uma cisterna após passar por um processo de filtragem.
Figura 13 - Detalhes do sistema de captação de água de chuva para uso residencial. (3PTechnik)
As calhas utilizadas para captar a água do telhado podem ser de vários tipos de material,
desde os mais específicos até materiais alternativos normalmente usados no semi-árido
como canos de PVC cortados ao meio, folhas de zinco dobradas em forma de “L” como
mostra a figura 15, até latas de óleo ou madeira (GNADLINGER, 1999).
50
galvanizado são recomendados por sua resistência à corrosão, sendo as calhas de plástico
mais baratas e com bom desempenho para áreas de telhado pequenas (GONÇALVEZ,
2001).
51
TABELA 2 – Vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de cisterna.
Vantagens Desvantagens
Cisternas • Facilita a verificação de rachaduras e • Necessita de espaço;
apoiadas vazamentos; • Geralmente é mais cara;
• A retirada da água pode ser feita pela • É danificada mais facilmente;
gravidade; • Está sujeita ao ataque de intempéries;
• Pode ser elevada para aumentar a • Uma falha pode ser perigosa.
pressão da água.
Cisternas • As paredes podem ser mais finas, • A retirada da água é mais difícil
enterradas diminuindo os custos; requerendo bombas e encanamentos;
• É mais difícil de esvaziar por descuido, • Rachaduras e vazamentos são de difícil
deixando a torneira aberta; detecção;
• Não requer muito espaço; • É maior a possibilidade de
• A água se mantém a uma temperatura contaminação pela água proveniente do
mais baixa; solo ou de inundações;
• Alguns usuários preferem porque se • A estrutura pode ser danificada por
assemelha a um poço. raízes de árvores;
• Se o tanque não for devidamente
coberto pode apresentar riscos de
acidentes com crianças, ou ser
contaminada por pequenos animais;
• Pode acontecer de veículos pesados
danificarem a cisterna;
• É mais difícil de ser esvaziada para
limpeza.
Fonte: DTU, 2003.
Segundo Gnadlinger (2000), entre os tipos diferentes de cisternas usadas para resolver o
problema da água potável em áreas rurais do nordeste brasiLeiro, a cisterna de placa de
concreto com tela de arame, fortificada com arame galvanizado e rebocada por dentro e
por fora, tem sido a mais construída (Figura 17).
No entanto, a aderência entre as placas de concreto algumas vezes pode ser fraca
resultando em rachaduras por onde a água pode vazar. Por esta razão, a cisterna de
concreto com tela de arame (Figura 18), que utiliza uma fôrma durante a primeira fase de
52
construção, pode vir a ser o modelo mais apropriado para a região. Uma cisterna desse tipo
raramente vaza e, se isso acontecer, poderá ser facilmente consertada. É igualmente
adequada para grandes e pequenos programas de construção de cisternas. Outro tipo de
cisterna que, segundo Gnadlinger (1999) também pode ser utilizada no semi-árido
brasiLeiro é a cisterna enterrada feita de tijolos e argamassa de cal (Figura 18). Esta
cisterna fica praticamente enterrada na sua totalidade e utiliza a técnica conhecida pelos
agricultores para construir fornos de carvão. Uma das suas vantagens é que, exceto alguns
quilos de cimento, todo o material de construção é disponível podendo ser fabricada pelo
próprio agricultor.
Figura 18 - Cisterna de concreto com tela de arame (esquerda) e cisterna enterrada de tijolo e cal.
(GNADLINGER, 1999)
Tanques metálicos também podem ser encontrados em várias partes do mundo (Figura 19).
A vantagem dos tanques metálicos está no fato de poderem ser levados até o local e
montados em um curto espaço de tempo por uma pessoa especializada. Também não
requerem que seja feita uma fundação extremamente firme porque a estrutura metálica já
oferece o suporte necessário. Nos países em desenvolvimento podem ser observados
problemas com corrosão no fundo do tanque depois de um período de uso de dois anos,
aproximadamente. A construção de um reforço de metal ao redor da base do tanque pode
resolver este problema, mas isso já faz com que a aceitação dos tanques de metal seja
menor. Este problema geralmente não aparece nos tanques fabricados nos países
desenvolvidos já que os tanques normalmente recebem uma camada plástica no seu interior
(DTU, 2003).
53
Figura 19 - Grande tanque metálico em área rural da
Austrália. (DTU, 2003)
As cisternas mais modernas são confeccionadas em uma única peça, sendo portanto mais
estanques e higiênicas (Figura 20). Estas cisternas têm função dupla: uma parte da água
fica armazenada para ser utilizada posteriormente e outra parte da cisterna funciona como
“buffer”, liberando a água da chuva em uma vazão controlada após o término da
precipitação. Na entrada da cisterna sugere-se a colocação de um “freio d’água”, para não
agitar a água armazenada, prejudicando o processo de sedimentação (3P Technik, 2002).
Figura 20 - Imagem da cisterna simples para armazenamento e à direita a cisterna com reservatório duplo, para
armazenamento temporário da chuva. Em detalhe, mecanismo desenvolvido para garantir um fluxo de
abastecimento contínuo, independente do volume acumulado na cisterna. (3PTechnik, 2002)
54
Figura 21 - Cisterna enterrável. (CACUPÉ, 2003)
Existe uma outra técnica de aproveitamento de água de chuva que é mais simplificada e
consiste simplesmente na colocação de um barril, que pode ser plástico ou metálico, na
descida das calhas que coletam a água do telhado (Figura 24). Este barril fica apoiado
sobre o solo e possui uma torneira por onde é retirada a água. A cidade de Vancouver, na
costa oeste do Canadá, possui um programa piloto para a conservação da água que subsidia
a compra de barris para armazenar a água de chuva. Esta água é utilizada exclusivamente
para a rega de gramados e jardins onde, segundo os dados do projeto, é consumida cerca de
40% de toda a água de uso doméstico durante o verão. O barril é de fácil instalação e já
vem com saídas para regadores, mangueiras, e sistema que impede a abertura por crianças
(WATER CONSERVATION HOTLINE, 2003).
Os barris de óleo são um dos reservatórios mais amplamente utilizados em todo o mundo.
No entanto, deve-se ter alguns cuidados importantes para a sua utilização. Alguns barris,
agora utilizados para o armazenamento de água de chuva, eram utilizados anteriormente
para transportar produtos químicos, muitas vezes tóxicos; alguns não possuem condições
de serem devidamente tampados, oferecendo riscos para a qualidade da água e favorecendo
o desenvolvimento de mosquitos; a retirada da água pode ser um problema caso não sejam
feitas as adaptações para instalação das saídas para torneira, mangueira e extravasor.
56
Figura 24 - Barris utilizados para o armazenamento de água de chuva. (WATER
CONSERVATION HOTLINE, 2003)
Se forem tomados os devidos cuidados referentes a estes aspectos, os barris podem ser uma
alternativa de baixo custo para o armazenamento de pequenos volumes de água de chuva
(DTU, 2003).
Nos Estados Unidos e um grande número de países da Ásia adota-se com freqüência o
sistema de abastecimento individual de casas com água de chuva utilizando-se os telhados
como área de coleta. O Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos recomenda que seja
feito o cálculo para o dimensionamento da cisterna, em função da área disponível de
telhado e considerando o aproveitamento total de precipitações de 760 mm/ano.(Tabela 3)
Em condições mais favoráveis de pluviosidade poder-se-ia reduzir o volume de reserva
(AZEVEDO NETTO, 1991).
Segundo Yuri (2003), pode-se utilizar então, para o dimensionamento do volume total de
água necessário a seguinte fórmula:
58
Com base na análise da variação do volume de água armazenado no reservatório, no
consumo e na precipitação ocorrida, foi feito um balanço hídrico seriado para a
determinação da disponibilidade hídrica e do dimensionamento da cisterna em função da
área de captação, de forma que o fornecimento de água fosse suficiente para o período de
estiagem. Desta forma foi gerado um ábaco (Figura 25) para o dimensionamento de
estruturas de coleta e armazenamento de água de chuva, segundo os dados levantados na
região de Florianópolis, onde foi realizado o experimento (YURI, 2003).
Já Sickermann (2002) menciona a fórmula utilizada pelo Eng. Plínio Tomaz em seu livro
“Conservação da Água”, para calcular qual o volume de água que poderia ser captado de
acordo com a pluviosidade local e a área de captação:
Q=P×A×C
Onde:
Q = volume anual de água (m3)
P = precipitação anual (mm ou L/m2)
A = área projetada da cobertura (m2)
C = coeficiente de escoamento superficial (runoff)
59
Há que se considerar, no entanto, que a distribuição das chuvas não é igual ao longo do
ano, havendo épocas onde a concentração de chuvas é muito maior. Nestes casos a
precipitação anual não fornecerá resultados satisfatórios, sendo mais indicado o cálculo
separado para cada mês, utilizando como valores de precipitação o histórico de anos
anteriores.
Segundo Plínio Tomaz (2003) existem vários coeficientes de runoff adotados nas
diferentes regiões, mas indica que o melhor valor a ser adotado como coeficiente de runoff
é C = 0,80, que significa uma perda de 20%.
Plínio Tomaz (2003) sugere em seu livro “Aproveitamento de Água de Chuva” uma série
de cálculos que possibilitam o dimensionamento da cisterna envolvendo vários aspectos,
como o número médio de dias sem chuvas, as precipitações médias mensais, o consumo
mensal máximo e sugere que também seja levado em consideração o custo de instalação do
sistema.
Quando se utiliza como área de captação o telhado da casa, deve-se ter o cuidado de
verificar qual o material de que este telhado é confeccionado.
Segundo Plínio Tomaz (2003) as fezes de passarinhos e outras aves e animais depositadas
sobre os telhados e carregadas com a chuva, podem trazer problemas de contaminação por
bactérias e de parasitas gastro-intestinais e, dependendo dos materiais utilizados na
confecção dos telhados, a contaminação poderá ser ainda maior. Os fatores de
contaminação podem ser além das fezes de passarinhos e pombas, as fezes de ratos e
outros pequenos animais, poeiras, folhas de árvores, o revestimento do telhado, tintas, etc
(TOMAZ, 2003).
60
Podem ocorrer também alterações na concentração de certos elementos variando de acordo
com a localização geográfica da área em questão. Próximo ao oceano a água de chuva
apresenta elementos como o sódio, potássio, magnésio, cloro e cálcio cem concentrações
proporcionais às encontradas na água do mar. Em áreas urbanas e pólos industriais passam
a ser encontradas alterações nas concentrações naturais da água de chuva devido a
poluentes do ar, como o dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx) ou ainda
chumbo, zinco e outros. Já o pH da água de chuva é normalmente ácido, variando entre 5,0
até 3,5, quando há o fenômeno da “chuva ácida” (TOMAZ, 2003).
Segundo Plínio Tomaz (2003) a qualidade da água de chuva pode ser encarada em quatro
etapas: a) antes de atingir o solo; b) após escorrer pelo telhado; c) dentro do reservatório;
4) no ponto de uso.
61
característica do telhado, corresponderá um volume para o dispositivo desviar o fluxo
(ÁGUA ON LINE, 2002).
Existem também filtros específicos para o sistema de captação de água de chuva (Figura
27).
O filtro funciona da seguinte maneira: a água bruta entra pelas aberturas superiores (1) e é
direcionada, passando entre os vãos da cascata (2). A sujeira mais grossa, como folhas e
62
gravetos, passa por cima dos vão e vai direto para a galeria pluvial (3). A água de chuva, já
livre das impurezas maiores, passa então por uma tela de aço-inox com malha de 0,26 mm.
Este filtro é recomendado para telhados até 300 m2, existindo outros modelos para grandes
telhados (3P TECHNIK, 2002).
A água captada deve ser armazenada separadamente da água tratada, proveniente da rede
de distribuição. O sistema de aproveitamento de água da chuva deve ser sempre
identificado quando for utilizado em complementação a outros sistemas de abastecimento.
As torneiras do sistema de água de chuva devem ser preferencialmente do tipo com
acionamento restrito (Figura 29), para que pessoas não a utilizem inadvertidamente para
fins não adequados.
63
para a tubulação de água da rede de distribuição. Para garantir a qualidade da água devem
ser feitas limpezas periódicas nos reservatórios e filtros (SICKERMANN, 2002).
Segundo Plínio Tomaz (2003) a água potável municipal não deve, em hipótese alguma,
estar interligada com a água de chuva, evitando-se assim a possível contaminação da rede
pública com uma conexão cruzada ou cross conection. A conexão cruzada é o ponto de
contato entre a água potável e a água não potável, permitindo o fluxo da água de um
sistema para o outro, simplesmente havendo uma pressão diferencial entre os dois
(TOMAZ, 2003).
Outros cuidados a serem tomados para garantir a qualidade da água dentro da cisterna são,
segundo Plínio Tomaz (2003), evitar a entrada da luz do sol no reservatório para impedir o
crescimento de algas. A tampa de inspeção deverá ser hermeticamente fechada e a saída do
extravasor deverá conter grade para impedir a entrada de pequenos animais. Existem
extravasores vendidos no Brasil que apresentam um sifonamento para manter sempre um
selo hídrico. A limpeza do reservatório enterrado deve ser feita, pelo menos, uma vez por
ano e havendo a suspeita de que a água do reservatório está contaminada, deve-se
adicionar hipoclorito de sódio a 10% ou água sanitária (TOMAZ, 2003).
Cisternas mal conservadas, com rachaduras, tampas mal vedadas, onde são utilizados
baldes deixados no chão para retirar a água, com filtros e peneiras sem uma limpeza
periódica e danificados, certamente apresentarão uma água de péssima qualidade (Figura
30). Assim como calhas e telhados que não são limpos periodicamente e onde há muitas
árvores próximas, o que resulta em muita matéria orgânica levada para a cisterna
juntamente com a água.
64
Figura 30 - Sistema de captação e armazenagem de água
de chuva mal conservado. (DTU, 2003)
65
SUPERFÍCIE
DE SISTEMAS ARMAZENAMENTO UTILIZAÇÃO
CAPTAÇÃO COLETORES
Dentro deste diagrama, em cada fase do processo, existe uma grande variedade de técnicas
e materiais que podem ser utilizados, desde os mais simples até os mais sofisticados,
possibilitando uma adequação do sistema de acordo com a disponibilidade financeira.
(DTU, 2003)
Segundo Sickermann (2002), para cada caso deve-se estudar a viabilidade ou não da
implantação dos sistemas de coleta de água de chuva, mas de um modo geral pode-se
analisar da seguinte forma:
66
Galpões, supermercados e shopping centers: o custo de implantação, nestes casos, tem
retorno bem aceitável e a economia depende do tipo de atividade e do consumo de água
que esta atividade exige. Como estas obras geralmente têm um impacto significativo sobre
o sistema de drenagem e, em alguns locais, já são obrigadas por Lei a prever a instalação
de caixas retenção, o aproveitamento da água de chuva pode ser viável já que o custo
adicional torna-se pequeno. Esta água pode ser utilizada para a limpeza de pisos o que não
exigiria instalações extras.
Segundo Palmier (2001) as técnicas disponíveis vêm sendo aplicadas em diversas partes do
mundo, mas também há situações em que a ausência de uma manutenção adequada dos
sistemas de captação de água de chuva resulta no seu abandono, parcial ou total.
67
6 MATERIAIS E MÉTODOS
68
6.1 Verificação das políticas públicas e legislação referentes à captação e
aproveitamento da água de chuva
69
Com o desenvolvimento da pesquisa, novos atores sociais foram sendo incluídos na
amostragem, por indicação dos questionários já respondidos.
Foi distribuído um total de 104 questionários dos quais retornaram 31, ou seja
aproximadamente 30% do total. Os questionários foram entregues em instituições
governamentais e não-governamentais, nas três esferas administrativas: municipal, estadual
e federal; bem como na iniciativa privada.
IPPUJ 3 1
Governamentais
FATMA 3 0
SEC. REGIONAL DE JLLE 3 0
IBAMA 3 0
Fed.
70
Instituição entregues respondidos
ACIJ 1 0
ALCANCE ENGENHARIA 1 0
DEFESA CIVIL 1 1
JORNAL O VIZINHO 1 0
ASS. MORADORES PIRABEIRABA 2 3
CDL 2 0
CEAJ 1 0
Municipal COMAPRI 1 1
COMITÊ CUBATÃO JLLE 3 0
Órgãos Não-Governamentais
CONSTRUTORA CAMILOTTI 1 0
ENGEPASA AMBIENTAL 1 0
SINDUSCON 10 1
SOFTVILLE 1 1
VIDA VERDE 3 1
UNIVILLE - CEPA 1 1
UNIVILLE - Ciências Biológicas 1 0
UNIVILLE - Eng. Ambiental 1 0
UNIVILLE - mestrado e pesquisa 2 0
CREA 2 0
Est.
APREMA 1 1
UDESC 6 2
MULTIBRÁS 1 1
DOHLER 1 0
Iniciativa
Privada
TIGRE 1 0
TUPY 1 1
AMANCO 1 2
Total 104 31
*instituições de amparo tecnológico e fiscalização ambiental.
Fonte: questionários aplicados
As questões abordadas pelo questionário foram elaboradas para atender aos objetivos da
pesquisa, de forma a realizar um levantamento da percepção ambiental dos atores
entrevistados no que se refere ao aproveitamento de águas pluviais em Joinville e região. O
tema do aproveitamento de água da chuva foi vinculado aos problemas de falta de água em
Joinville e da ocorrência de enchentes na cidade.
O questionário foi elaborado com questões abertas nas quais eram solicitadas justificativas
para as respostas fornecidas.
Inicialmente foi realizado um pré-teste para verificar se respostas dadas às questões iam de
encontro aos objetivos da pesquisa. Foram entregues três questionários, pessoalmente nas
instituições. Estes questionários foram recolhidos após uma semana e foi realizada a
avaliação das questões. Desta forma foi elaborada a versão final a ser entregue aos atores
sociais elencados (Apêndice B).
Inicialmente foram realizadas visitas aos órgãos municipais relacionados à Infra Estrutura,
Urbanização e Construção Civil para verificar a existência de dados sobre edificações que
utilizassem sistemas de coleta e armazenamento de água de chuva. Os órgãos visitados
foram: SEINFRA (Secretaria Municipal de Infra Estrutura Urbana), IPPUJ (Fundação
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinville); Sindicato de Engenheiros de
Santa Catarina; SINDUSCON (Sindicato das Indústrias da Construção Civil de Joinville);
CREA (Conselho Regional de Engenheiros e Arquitetos); NEAM (Núcleo de Educação
Ambiental da Secretaria Municipal de Educação). Na ocasião das visitas também foram
entregues questionários para serem respondidos pelos responsáveis da instituição.
72
Pelas informações obtidas nestes órgãos e através dos questionários pode-se fazer um
levantamento de algumas edificações com sistemas de coleta e aproveitamento de água de
chuva em Joinville. Foram então realizadas saídas a campo para visitar as edificações com
o objetivo de verificar qual a tecnologia empregada na captação, armazenamento e
distribuição da água de chuva, bem como a opinião dos usuários a respeito da viabilidade
do aproveitamento desta água. Os locais visitados foram o projeto piloto de
aproveitamento de água de chuva instalado na residência do Eng. Gert Fischer, a Escola
Municipal José Antônio Navarro Linz, a Escola Municipal Padre Valente Simioni, O Iate
Clube Phoenix e o Edifício Rio Tâmisa.
Nas saídas a campo foram realizados registros do sistema de coleta de águas pluviais e das
edificações através de fotografia digital, utilizando-se para isso uma máquina fotográfica
digital da marca Olympus, modelo D-395, com resolução de 3,2 Megapixels e zoom digital
de 2,5x.
As respostas fornecidas pelos atores sociais aos questionários foram tabuladas com o
aplicativo Microsoft® Excel 2002.
A análise das perguntas foi realizada individualmente, de forma que cada uma gerou um
gráfico e uma tabela, onde foram expostos os resultados obtidos em números absolutos e
em porcentagem. Na discussão dos resultados optou-se por ilustrar cada questão somente
com uma das formas (gráfico ou tabela), de acordo com a clareza com que apresentava os
dados do item abordado.
Como resultado da análise das políticas públicas e legislação referentes à gestão dos
recursos hídricos em Joinville e região, das respostas fornecidas pelos atores sociais
através da aplicação dos questionários e da visitação das edificações que já possuem
sistemas de coleta e aproveitamento de águas pluviais; pode-se determinar a viabilidade do
aproveitamento de água de chuva em Joinville.
73
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O vereador Darci de Matos, apresentou o projeto de Lei nº43/2004 (Anexo C) que prevê o
reaproveitamento das águas pluviais no município. O projeto determina que as águas
pluviais provenientes de telhados, sacadas, terraços, marquises e outros espaços abertos
existentes em edificações destinadas a estabelecimentos industriais, comerciais, de serviços
e públicos que tenham mais de 100 funcionários e, ainda, condomínios residenciais e
verticais e/ou horizontais, deverão ser canalizadas para reservatório específico atendendo
as normas e fiscalização Sanitária de Joinville. Segundo este projeto de Lei a água
coletada servirá para uso complementar de higiene e outros serviços de limpeza e as
edificações atingidas pela Lei deverão apresentar o projeto hidráulico contemplando o total
74
aproveitamento das águas pluviais. Este Projeto de Lei ainda está sendo analisado pela
Câmara de Vereadores de Joinville.
Um aspecto a ser questionado neste projeto é o fato de, pela sua redação, não incluir a
maioria dos estabelecimentos de ensino, já que só especifica o número de funcionários e
não usuários. Uma escola que tenha um número de funcionários inferior a 100, mas que
mesmo assim tenha uma grande circulação diária de pessoas pelo elevado número de
alunos, não estaria obrigada pela Lei a implantar o aproveitamento de água de chuva.
Outros aspectos importantes a serem considerados na gestão das águas de chuva são a
necessidade de passar as informações à população sobre o funcionamento do sistema da
forma mais clara possível através de palestras, instalação de unidades didáticas para
demonstração e informativos em meios de comunicação abrangentes; e também formar
uma equipe multidisciplinar responsável pela aprovação e acompanhamento dos projetos,
que prestará serviços de consultoria aos cidadãos que se virem obrigados pela Lei a
coletarem a água de chuva.
75
Um dos instrumentos da política do meio ambiente de Joinville é o estabelecimento de
incentivos fiscais com vistas à produção e instalação de equipamentos e a criação ou
absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental.
Esta Lei ainda define que compete ao poder público adotar medidas para a prevenção de
inundações e alagamentos, particularmente nos fundos de vale.
Desta forma o poder público municipal poderia estabelecer incentivos fiscais para o
desenvolvimento de tecnologias e instalação de equipamentos com a finalidade de
disseminar a prática da coleta e aproveitamento de águas pluviais no município, fato este
que ainda não ocorre.
Outra medida que poderia ser implantada no município de Joinville com base no Código
do Meio Ambiente seria a elaboração e aplicação de projetos de educação ambiental
envolvendo a comunidade e utilizando as escolas da Rede Municipal de Ensino como
unidades de demonstração do funcionamento dos sistemas de aproveitamento de águas
pluviais, com base em um projeto que serviria de modelo para a implantação dos sistemas,
evitando que cada escola tenha que elaborar o seu próprio projeto dependendo de recursos
provenientes de instituições privadas e sem o apoio do poder público, como está
acontecendo atualmente.
76
Os projetos que envolvessem tecnologias de aproveitamento de águas pluviais seriam
submetidos à aprovação e fiscalização da FUNDEMA, que segundo o Código Municipal
do Meio Ambiente, é o órgão responsável pela análise de projetos de uso, ocupação e
parcelamento do solo no que se refere ao sistema de abastecimento de água, e do
licenciamento de todo e qualquer uso de águas superficiais e de subsolo, levando em conta
a política de usos múltiplos da água.
Desta forma pode-se concluir que o aproveitamento de águas pluviais contribuiria para a
aplicação do Código Municipal do Meio Ambiente, no que se refere a vários de seus itens
como melhoria da qualidade ambiental, prevenção de inundações e alagamentos e na
educação ambiental da comunidade.
Dentre as ações propostas pelos programas a serem desenvolvidos citados na Agenda 21,
foram destacados aqueles que apresentam uma relação mais direta ao aproveitamento das
águas pluviais (Tabela 5).
O aproveitamento de águas pluviais não está explicitamente previsto nas ações propostas
pela Agenda 21 de Joinville, mas vai ao encontro dos objetivos desta e pode ser o meio
pelo qual várias das ações propostas possam ser executadas.
77
TABELA 5 – Programas, objetivos e ações da Agenda 21 de Joinville, relacionados ao aproveitamento de
águas pluviais.
PROGRAMA OBJETIVO AÇÕES
Desenvolvimento e manejo • Garantir a disponibilidade dos recursos o estimular ao desenvolvimento de
integrado dos recursos hídricos para o desenvolvimento tecnologias e estudos de
hídricos sustentável, através do planejamento e alternativas de abastecimento de
gerenciamento de forma integrada, água;
descentralizada e participativa,
o informar e promover a educação
considerando a utilização múltipla dos
ambiental, e buscar a
recursos hídricos.
participação da comunidade no
processo de gestão dos recursos
hídricos.
Proteção dos recursos • Garantir a disponibilidade dos recursos o promover a reciclagem e
hídricos no hídricos, tanto em termos quantitativos reutilização das águas residuais;
desenvolvimento urbano quanto qualitativos, bem com sua
sustentável o implantar programas e executar
recuperação;
projetos eficientes de drenagem
• Promover o uso racional da água para o pluvial;
desenvolvimento urbano e compatibilizar
o manter índices razoáveis de
as atividades urbanas com a proteção dos
permeabilidade do solo urbano;
recursos hídricos.
o realizar campanhas de
conscientização para estimular o
público a usar a água de maneira
racional.
Abastecimento de água • Proteger o meio ambiente através do o otimizar os sistemas de
potável e saneamento manejo integrado dos recursos hídricos e captação, tratamento e
básico dos resíduos líquidos e sólidos, de forma a distribuição de água.
garantir uma boa qualidade do
abastecimento público de água potável,
bem como de todo o sistema de
saneamento básico.
Fonte: PMJ, Agenda 21 Local
A coleta e o aproveitamento das águas pluviais está relacionado ao Programa que trata da
Proteção dos Recursos Hídricos no Desenvolvimento Urbano Sustentável uma vez que
promove a reciclagem e reutilização das águas residuais provenientes de telhados e
coberturas de edificações, contribui para a drenagem pluvial reduzindo o volume de água
lançado nas galerias pluviais e transformando áreas impermeáveis em áreas de captação de
água.
78
Em relação ao Programa de Abastecimento de Água Potável e Saneamento Básico o
reaproveitamento de águas pluviais serviria para otimizar os sistemas de captação,
tratamento e distribuição de água.
7.2 Análise dos atores sociais elencados para a aplicação dos questionários
referentes ao aproveitamento de água de chuva em Joinville.
Foram entregues 104 questionários dos quais retornaram 31, cerca de 30% do total. Estes
questionários foram entregues nas instituições governamentais e não-governamentais nas
três esferas do poder: municipal, estadual e federal, e também na iniciativa privada.
79
Gráfico 1 – Proporção entre questionários entregues e respondidos
pelos órgãos governamentais.
Instituições governamentais
45 entregues
40 respondidos
35
30
25
20
15
10
5
0
municipal estadual federal
Instituições não-governamentais
35 entrgues
respondidos
30
25
20
15
10
0
municipal estadual iniciativa
privada
Segundo a análise dos Gráficos 1 e 2, pode-se observar que menos de 50% dos
questionários entregues nas instituições foram respondidos, sendo que os órgãos não
governamentais apresentaram uma porcentagem maior de retorno em relação aos órgãos
governamentais. Desta forma pode-se perceber que os órgãos não-governamentais foram
mais receptivos em relação ao tema proposto nos questionários que tratava do
aproveitamento de águas pluviais em Joinville.
80
Particularmente pode-se destacar a grande participação da iniciativa privada no que se
refere ao retorno dos questionários respondidos, chegando a 80% dos questionários
entregues.
Cabe ressaltar que cada entrevistado sugeriu uma relação de entidades governamentais e
não-governamentais que seriam, segundo o seu ponto de vista, atores responsáveis pelo
abastecimento de água e contenção de enchentes em Joinville. Com base nestas
informações foi elaborada uma rede de atores onde podem ser observadas as relações entre
as diversas instituições citadas (Apêndice C).
Apesar de ainda não existir uma legislação que obrigue a coleta e o aproveitamento das
águas pluviais em Joinville alguns estabelecimentos já adotaram o sistema por acreditarem
que o retorno do investimento em longo prazo é compensatório.
81
7.3.1 Estudo de caso do projeto piloto do Eng. Gert Fischer
O Eng. Gert Fischer possui um projeto piloto de coleta de água de chuva implantado já há
vários anos. A área de captação é a cobertura plástica do viveiro de plantas nativas. A água
coletada é direcionada para uma caixa d’água que serve como reservatório e é utilizada na
irrigação das mudas cultivadas no viveiro e também em tanques de peixes.
A Escola Municipal José Antônio Navarro Linz, localizada no Bairro Comasa, possui o
sistema de captação e aproveitamento de água de chuva implantado e em funcionamento
desde 2000, quando recebeu o Prêmio Embraco de Ecologia pelo desenvolvimento do
projeto “Água Nossa de Cada Dia” (Figura 33).
O sistema consiste basicamente na coleta da água de chuva de uma seção do telhado das
instalações onde ficam as salas de aula e sanitários. A coleta é feita por meio de calhas de
PVC (Figuras 34 e 35).
82
Figura 34 - Área de captação e calhas coletoras.
A água coletada é direcionada inicialmente para uma caixa elevada de amianto de 500L
onde o material particulado passa por um processo natural de decantação (Figura 36).
83
Figura 36 - Aspecto interno do reservatório de decantação e tubos de saída
para a caixa d’água.
Desta caixa a água passa por meio de tubos de menor diâmetro, que captam somente a
água da superfície, para uma outra caixa apoiada sobre o solo com capacidade para
10.000L onde é armazenada (Figura 37).
Por meio de bombeamento a água de chuva armazenada é levada até uma caixa de 1000L,
localizada sobre as instalações dos sanitários (Figuras 38 e 39).
84
Figura 38 - Saída da caixa d’água para a bomba elétrica.
Todo o sistema de água de chuva é isolado da rede de água canalizada da CASAN para não
haver risco de contaminação. A água de chuva é aproveitada na instituição exclusivamente
para a descarga de vasos sanitários. O controle da qualidade da água é feito pela adição
ocasional de cloro, na forma de hipoclorito.
O responsável pelo projeto, Prof. Daniel Húpalo, declarou não ter dados estatísticos
referentes à economia de água na instituição, mas afirma que a implantação do sistema é
85
vantajosa uma vez que, durante o período letivo, o consumo de água nos vasos sanitários é
o mais significativo na Escola.
Figura 40 - Painéis pintados nas paredes da escola pelos alunos envolvidos no programa de educação
ambiental.
86
Figura 41 - Representante da TIGRE explicando o
funcionamento do sistema e alunos da escola
responsáveis pelo projeto.
A água coletada dos telhados da Escola será utilizada para a limpeza dos pátios e da
quadra de esportes. O projeto prevê a instalação de outro reservatório apoiado sobre o solo
onde será armazenada a água coletada em uma sessão do telhado e que será utilizada para a
irrigação da horta escolar. Esta instalação servirá como uma unidade didática para
divulgação do projeto para os alunos, pais e membros da comunidade do entorno (Figura
42).
A comunidade poderá utilizar esta unidade como modelo para a implantação de sistemas
de captação e aproveitamento de água de chuva nas suas casas.
87
Desta forma a escola contribui com a educação ambiental da população do entorno através
da sensibilização da comunidade para a importância da preservação da água.
O Iate Clube Phoenix no Bairro Iririú, que está localizado em uma região de manguezais,
possui o sistema de captação e aproveitamento da água de chuva implantado e em
funcionamento há aproximadamente dois anos (Figura 43).
88
Recentemente mais duas caixas de 10.000 L foram instaladas, para a armazenagem da água
coletada de outra seção de telhado, que faz parte da área social do Clube (Figuras 45 e 46).
A coleta é feita por calhas de PVC. Estas caixas são apoiadas sobre o solo e abastecem a
cisterna, por gravidade, quando esta está vazia (Figura 47).
89
Figura 47 - Tubulação de saída da água armazenada para uso e
reabastecimento da cisterna enterrada.
A água de chuva armazenada é utilizada para a lavação das embarcações utilizadas pelos
sócios do Clube, bem como para a limpeza das redes de pesca e outros utensílios.
Segundo o Presidente do Phoenix Iate Clube, Sr. José Gudstein, a água permanece no
interior da cisterna com qualidade adequada para o uso a que está destinada, uma vez que o
uso é constante. Eventualmente é feito um tratamento à base de cloro (Figuras 48 e 49).
90
Figura 49 - Tampa da cisterna enterrada.
Segundo declarações do Sr. José Gudstein, nos meses onde há maior ocorrência de chuvas,
a despesa com a conta de água canalizada se limita à taxa mínima, cobrada pela CASAN.
No inverno, quando as chuvas ocorrem com menos freqüência, as despesas com a conta de
água canalizada aumentam significativamente.
91
O prédio utiliza como área de captação a metade da sua área total de telhado, que equivale
aproximadamente a 300m2. A água coletada desce por uma tubulação não aparente e é
conduzida para duas cisternas de 1000L, por gravidade (Figura 51).
Estas cisternas estão localizadas sobre a garagem do prédio e a água será utilizada
exclusivamente para a limpeza do pátio. A água coletada passa por um filtro antes de entrar
nas cisternas (Figura 52).
Segundo a Eng. Mônica Krelling, responsável técnica, ainda não se tem idéia da economia
de água obtida pela implantação do sistema, porque não foram realizadas previsões da
quantidade de água que poderá ser coletada e do consumo necessário para a manutenção do
prédio.
Pode-se perceber pela análise dos casos em que já está sendo realizado o aproveitamento
de águas pluviais em Joinville, que os sistemas estão sendo implantados de forma
experimental, sem um projeto pré-definido que possa ser usado como modelo. Nos casos
em que há um engenheiro responsável pela obra e o sistema é implantado ainda na fase de
construção, os projetos são mais bem elaborados, mas quando a implantação é feita com a
93
obra já concluída, as instalações são realizadas de forma rudimentar e praticamente sem
que haja um planejamento.
Poucos são os casos onde é apresentada uma previsão do consumo de água de chuva e da
quantidade de água que poderá ser coletada. Esta previsão é muito importante tanto para a
definição da área de coleta a ser utilizada quanto para o dimensionamento da cisterna. O
dimensionamento da cisterna deve ser feito em função do consumo para evitar que a água
fique armazenada durante muito tempo comprometendo a sua qualidade.
Outro aspecto que pode ser observado em relação aos sistemas já em operação é a falta de
controle da qualidade da água armazenada na cisterna, que é feita apenas levando-se em
consideração a aparência da mesma. Os usuários da água de chuva normalmente observam
a coloração da água e a presença ou não de odor desagradável. O tratamento normalmente
utilizado consiste na instalação de peneiras antes da entrada da cisterna para coletar o
material em suspensão, como folhas e galhos, e o acréscimo periódico de hipoclorito para
evitar o desenvolvimento de algas.
Pela presente análise pode ser observado que, em relação à faixa etária, 19% dos
entrevistados estão na faixa etária dos 20 aos 30 anos, 26% têm entre 30 e 40 anos, 39%
entre 40 e 50 anos e 16% acima dos 50 anos de idade. (Gráfico 3)
94
Gráfico 3 – Faixa etária dos entrevistados.
entre 20 e 30
16% 19%
anos
entre 30 e 40
anos
entre 40 e 50
26% anos
39% acima de 50 anos
A faixa etária predominante entre os atores sociais entrevistados corresponde à faixa dos
40 aos 50 anos de idade. Isto pode ser explicado em função dos questionários terem sido
respondidos, na sua maioria, pelos responsáveis pela instituição, e que se situam nesta
faixa etária por estarem atuando por um período de tempo mais longo na área.
Quanto ao gênero dos entrevistados, 61% pertence ao gênero masculino e os restantes 39%
ao gênero feminino.
39%
masculino
61% feminino
95
Considerando a escolaridade, 3% dos entrevistados concluíram o ensino médio, 32%
possuem nível superior completo e 65% são pós-graduados. (Gráfico 5)
3%
Mais de 50% dos entrevistados possui pós-graduação. Este fato reflete a necessidade cada
vez maior de atualização e aperfeiçoamento das pessoas na sua área de atuação. No caso
específico desta pesquisa, pode-se levar em consideração que as instituições selecionadas
são, na maior parte, de atuação na área tecnológica, o que justifica o nível de escolaridade
necessário dos responsáveis pela instituição.
3%
19% 10%
menos de um ano
de 1 a 5 anos
13%
de 5 a 10 anos
de 10 a 15 anos
de 15 a 20 anos
10%
mais de 20 anos
3% não declarou
42%
96
Pela análise dos resultados pode-se perceber que 42% dos entrevistados atua na instituição
atual há mais de 20 anos e considerando-se o percentual de entrevistados que já atua na
instituição há pelo menos 10 anos, chega-se a um total de 55%.
Em função destes resultados, o grau de confiabilidade nas respostas obtidas pela aplicação
dos questionários é elevado.
O objetivo deste tópico foi inicialmente introduzir o conceito de “ator” dentro da proposta
do trabalho que está sendo realizado e oferecer uma lista a ser preenchida dos principais
atores responsáveis, segundo os entrevistados, pelo abastecimento de água e contenção de
enchentes em Joinville. A lista já foi previamente organizada em Instituições
Governamentais e Instituições Não-governamentais.
Com os resultados obtidos com este tópico foi elaborada uma rede de interações, onde
podem ser observadas as instituições que foram citadas um maior número de vezes
(Apêndice C).
Pela análise da rede de interações pode-se perceber que as instituições com maior número
de citações entre os órgãos governamentais foram: CASAN (18), Prefeitura Municipal de
Joinville (9), AMAE (9), FUNDEMA (8), SAMA (6) e FATMA (6). Os órgãos não-
governamentais foram, de um modo geral, menos citados. Dentre estes os que foram mais
citados foram: Defesa Civil (8), Associação Ecológica VidaVerde (8), Comitê da Bacia do
Rio Cubatão (6) e as associações de moradores de bairro (4).
97
Os atores sociais mais citados estão incluídos na amostragem utilizada neste trabalho. Os
órgãos federais foram pouco citados, inclusive a iniciativa privada classificada como
federal por englobar empresas que atuam em todo o país e inclusive no exterior. Desta
forma pode-se concluir que os atores sociais consideram responsáveis pelo abastecimento
de água e contenção de cheias os órgãos que atuam mais diretamente no município, ou seja
das esferas municipal e estadual.
Os problemas e as soluções listados pelos atores sociais foram agrupados por temas afins,
de forma que pudesse ser estabelecida uma relação problema-solução em relação à falta de
água e ocorrência de enchentes em Joinville.
98
Os problemas referentes ao abastecimento de água em Joinville, bem como as possíveis
soluções sugeridas pelos atores sociais, foram agrupados em temas gerais, e organizados
pelo número de vezes que foram citados. Os temas gerais são: Estruturais, Crescimento
Populacional, Educação Ambiental, Gestão Pública e Fatores Ambientais. Estes temas
foram relacionados tanto aos problemas quanto às soluções (Tabela 6).
TABELA 6 – Problemas e soluções listados pelos atores sociais relacionados à falta de água em Joinville.
PROBLEMAS SOLUÇÕES
• Perdas na rede de distribuição de água tratada • Renovação e ampliação da rede de
(11) distribuição (8)
• Tubulações antigas (5) • Investimento em programas de redução de
ESTRUTURAIS
Pode-se perceber pelos resultados obtidos que, segundo os atores sociais entrevistados, as
perdas na rede de distribuição de água tratada e a falta de conscientização da população
para o uso controlado da água, são os principais motivos para os episódios de falta de água
em Joinville.
99
Problemas Estruturais
Com relação aos problemas estruturais, a existência de perdas na rede de distribuição está
diretamente relacionada, segundo os entrevistados, à falta de investimentos em infra-
estrutura básica, o que faz com que a tubulação existente na cidade seja muito antiga,
dificultando a sua manutenção e favorecendo as perdas no sistema. Outro item citado foi a
falta de reservatórios em pontos estratégicos da cidade, onde os episódios de falta de água
são mais freqüentes.
As perdas com água tratada no estado de Santa Catarina superam 50% e, na região de
Joinville, estão em torno de 60% da água que a CASAN capta, trata e distribui à população
(AN Opinião, 2004).
Aumento Populacional
100
ilegais, um planejamento urbano mais eficiente e a construção de mais unidades de
tratamento de esgotos e efluentes industriais, evitando a contaminação dos cursos d’água.
Educação Ambiental
Um dos problemas mais citados nos questionários em relação à falta de água no município
de Joinville foi a falta de conscientização da população para o uso controlado da água. Em
Joinville é muito comum encontrarmos situações de desperdício de água, como por
exemplo, o uso da chamada “vassoura hidráulica”, que nada mais é do que a utilização de
mangueira para a lavação de pátios e calçadas que poderiam estar sendo limpos utilizando
métodos onde o consumo de água não fosse tão alto. Estima-se que o consumo de água
para lavar a calçada com mangueira por 15 min. fique em torno de 280 L (SABESP, 2004).
“Acredita-se que, a exemplo de países onde a falta d' água e escassez são notórios, deva
ser implantado nas residências do Brasil sistema de adução de água limpa e potável
separadamente, observando-se o alto custo da água tratada, fato que por si só justifica a
implantação de tal sistema. (...) A água tratada custa trezentas vezes o valor da água
limpa. O trabalho educativo deverá ser feito a nível doméstico e em âmbito maior, com
o relacionamento das diferentes tarefas e seus respectivos usos e gastos.”
A solução sugerida pelos atores sociais para o problema do uso não controlado da água no
município seria a implementação de amplos projetos de educação ambiental, atingindo os
vários setores da sociedade, com o objetivo de conscientizar a população para a
importância da economia de água.
Outros problemas apontados pelos atores sociais também seriam a destruição da vegetação
nas áreas de mananciais e a falta de conservação do Leito dos rios. As soluções sugeridas
para estes problemas foram o reflorestamento das áreas de mananciais com espécies
nativas e a preservação do Leito dos rios.
Todos os itens citados neste tema geral estão relacionados direta ou indiretamente à
conscientização da população para as questões ambientais, o que só pode ser alcançado
101
com o desenvolvimento de projetos de educação ambiental, de forma integrada e
abrangente, para que atinja todos os setores e camadas sociais.
Gestão Pública
Os problemas referentes à gestão pública, citados pelos atores sociais nos questionários,
foram a inexistência de políticas públicas direcionadas para o problema da falta de água no
município de Joinville e a falta de controle e fiscalização de ligações clandestinas à rede de
abastecimento de água tratada, comprometendo tanto a qualidade quanto a quantidade de
água fornecida pela prestadora de serviço.
Fatores Ambientais
No gráfico de precipitação pluviométrica mensal entre 1996 e 2004 (Figura 54), tem-se que
os totais mensais medidos no período mostram uma acentuada redução nos meses
compreendidos entre abril e agosto, tendo uma precipitação mínima mensal em abril de
2000 de 12,1mm. Já nos meses compreendidos entre setembro e março há um aumento dos
índices pluviométricos, atingindo uma máxima mensal em fevereiro de 2001 (599,4mm)
(UNIVILLE, 2005).
102
Precipitação Mensal entre 1996 e 2004
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
700
600
500
400
mm
300
200
100
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Desta forma, a criação de cisternas, seja para armazenar água dos rios ou das chuvas, seria
a opção de menor impacto ambiental.
103
episódios variam de acordo com a região, existindo bairros que são atingidos com maior
freqüência que outros (Figura 55 a 57).
Os prejuízos causados por este fenômeno da natureza são: a vida humana deixando pessoas
mortas, feridas, contaminadas, desabrigadas, com epidemias, com falta de: energia,
comunicação, água, prejuízos morais e psicológicos, prejuízos materiais a agricultura, ao
sistema viário, além dos prejuízos individuais de cada família, provocando ainda
congestionamentos de trânsito e danos ao meio ambiente (Plano Diretor da Defesa Civil de
Joinville, 2004).
104
Enxurradas
105
Figura 57 - Enchente no centro de Joinville, região onde atualmente está o calçadão da
Rua do Príncipe, em 14 de fevereiro de 1948. (NEUMANN, 2004)
Alagamentos
São águas acumuladas no Leito das ruas e nos perímetros urbanos por fortes precipitações
pluviométricas, em cidades com sistemas de drenagem deficientes.
Nos alagamentos o extravasamento das águas depende muito mais de uma drenagem
deficiente, que dificulta a vazão das águas acumuladas, do que das precipitações locais.
O fenômeno relaciona-se com a redução da infiltração natural nos solos urbanos, a qual é
provocada por:
106
Este fenômeno atinge algumas regiões de Joinville devido ao crescimento desordenado e à
falta de preocupação com o meio ambiente durante a expansão da cidade, sendo comuns
casos em que construções foram feitas sobre os Leitos dos rios. Ainda hoje a falta de
conscientização ambiental da população pode ser observada pela deposição de lixo nos rios
e remoção da mata ciliar. Segundo a Defesa Civil, para minimizar estes efeitos são
necessárias obras de engenharia (Plano Diretor da Defesa Civil de Joinville, 2004).
Com base nesta realidade, procurou-se buscar junto aos atores sociais, por meio do
questionário referente ao aproveitamento de águas pluviais, quais seriam as possíveis
causas para a ocorrência de enchentes em Joinville e as soluções indicadas para a resolução
destes problemas, segundo a opinião dos entrevistados.
TABELA 7 – Problemas e soluções listados pelos atores sociais relacionados à ocorrência de enchentes
em Joinville.
PROBLEMAS SOLUÇÕES
• Ocupação irregular das bacias (14) • Fiscalização para evitar as ocupações
POPULACIONAL
107
PROBLEMAS SOLUÇÕES
• Baixa altitude em relação ao nível do • Construção de barragens (2)
AMBIENTAL
mar e influência de marés (7)
• Alta pluviosidade (2)
Através da análise dos questionários pode-se perceber que a ocupação irregular das áreas
que compõe as bacias hidrográficas da região de Joinville e o acúmulo de lixo nos rios e
sistemas de drenagem pluvial são, na opinião dos atores sociais, os principais responsáveis
pela ocorrência de enchentes, inundações e alagamentos no município.
Crescimento Populacional
Outro fator que pode ser observado em Joinville é a grande quantidade de córregos e
riachos que atravessam o centro da cidade, situação que impossibilita que as exigências da
legislação sejam cumpridas já que a quantidade de vias e edificações nesta região é muito
grande, inclusive com construções antigas que já haviam sido instaladas em locais hoje
considerados irregulares. Sendo assim, a maior parte dos cursos d’água que cortam o
centro da cidade de Joinville está canalizada em galerias, o que dificulta a retirada dos
detritos e que, em situações de chuvas intensas, não são suficientes para escoar a água que
acaba por alagar o centro da cidade.
As sugestões para minimizar estes problemas, propostas pelos atores sociais, foram uma
fiscalização mais eficiente para evitar as ocupações irregulares no município e uma nova
109
delimitação das áreas edificáveis com base na realidade atual, possibilitando que a
legislação possa ser cumprida.
Nas cidades, grande parte do solo está coberta por placas tecnogênicas, que são as
coberturas que inibem a infiltração e promovem a concentração do escoamento da água.
Além de impedir que a água penetre no solo, o asfalto e o cimento colaboram para o
aumento de sua velocidade, o que favorece ainda mais a ocorrência de enchentes. Qualquer
forma de pavimentação reduz o nível de infiltração, até mesmo o solo compactado, sem
nenhum tipo de cobertura, torna-se impermeável. A impermeabilização pode causar a
concentração das descargas das águas das chuvas. Como o solo está revestido pelo asfalto,
cimento ou outras coberturas impermeabilizantes, a água da chuva escorre apenas por
alguns poucos locais e, em vez de infiltrar-se em diversos pontos, concentra sua vazão em
canaletas ou bueiros. As descargas concentradas podem levar à erosão nos pontos para
onde a água é levada. Uma das alternativas para minimizar os efeitos da
impermeabilização são as “janelas de infiltração” (Figura 58), que podem ser canteiros ou
jardins que, além de permitirem a entrada da água no solo, também colaboram para "uma
composição paisagística mais agradável".
Fiscalização Ambiental
De acordo com a Lei Complementar nº 84, de 12 de janeiro de 2000, que institui o Código
de Posturas do município de Joinville, na Seção III que trata da Limpeza e Desobstrução
das Valas e Valetas, Art. 83: “É proibido fazer despejos e atirar detritos em qualquer
corrente d’água, canal, lago, poço e chafariz.”;mas como tratado anteriormente, os órgãos
municipais responsáveis apresentam dificuldades para cumprir a legislação em função das
ocupações irregulares e também pela falta de condições para a fiscalização. Alguns
resultados neste sentido podem ser observados em campanhas de educação ambiental
promovidos pela Prefeitura de Joinville em parceria com órgãos não governamentais e
associações de moradores de bairros, que buscam um maior esclarecimento e
conscientização da população local, com campanhas para a retirada dos detritos dos Leitos
dos rios.
111
A falta de saneamento básico no município de Joinville também contribui de forma
significativa para o comprometimento da qualidade da água dos rios e para a manutenção
do seu potencial de escoamento.
O Canal do Linguado, que faz parte da Baía da Babitonga, foi fechado na década de 30 e
desde então causou muita polêmica. Através de um convênio realizado com o Instituto
Militar de Engenharia do Rio de Janeiro (IME) e com o Departamento Nacional de Infra-
Estrutura e Transportes (DNIT), professores e acadêmicos dos cursos de Ciências
Biológicas, Química Industrial e Engenharia Ambiental da Universidade da Região de
Joinville (UNIVILLE), além de pesquisadores convidados, estão realizando um
diagnóstico da atual situação da Baía da Babitonga, pesquisando aspectos de sua flora,
fauna, assim como do sedimento, água e pesca. O objetivo deste trabalho é gerar subsídios
para uma análise da viabilidade de reabertura do Canal do Linguado. Originalmente, o
112
Canal do Linguado apresentava cerca de 20 metros de profundidade, segundo depoimentos
de moradores da época. Atualmente, a porção do Canal voltada para a Baía formou-se um
imenso banco de areia, uma área que fica totalmente exposta na maré baixa. Durante os 69
anos em que o Canal está fechado, tem sido intenso o processo de assoreamento, pois o
sistema de circulação da água foi totalmente alterado. Dessa forma, toda a baía vem
sofrendo alterações, com uma significativa diminuição na sua profundidade e aumento dos
bancos de areia em outras áreas. A fauna e flora de regiões estuarinas, como é o caso da
Baía da Babitonga, são totalmente dependentes das variações diárias e sazonais da maré e
de parâmetros físico-químicos, como temperatura, salinidade, oxigênio, etc. Assim, a
alteração do sistema acarreta, necessariamente, a alteração desses padrões, atingindo
diretamente a sua biota. A concentração de poluentes também é fator que gera grande
preocupação.
O estudo sobre o Canal do Linguado, concluiu que a abertura de apenas um dos aterros é a
melhor alternativa para reduzir o impacto ambiental na região. A alternativa diminuiria em
cerca de um mês o período que as águas da baía levam para se renovar. Hoje o processo
leva 239 dias e com a abertura do menor aterro, duraria 207 dias. No entanto, há
estimativas de que a abertura aumentaria em cerca de 50 cm o nível da água em Barra do
Sul, o que atingiria cerca de mil casas no entorno da baía (HENRIQUES, 2004).
113
Gestão Pública
Os problemas mais citados pelos atores sociais referentes à gestão pública municipal em
relação à ocorrência de enchentes e alagamentos no município de Joinville foram a
drenagem urbana deficiente em que as galerias são sub-dimensionadas e não atendem a
demanda em períodos de chuvas intensas, o estrangulamento do Leito dos rios decorrente
da canalização destes em galerias com a redução da sua capacidade de escoamento, a
remoção da cobertura vegetal em áreas de ocupação irregular e a falta de medidas
preventivas adotadas pela administração municipal no que se refere à programas de
prevenção e contenção de cheias.
Contenção de Cheias
A Defesa Civil de Joinville desenvolveu no ano de 2004 o Plano Diretor da Defesa Civil,
com o objetivo de reduzir os riscos de desastres na cidade e preparar seus habitantes para
enfrentar as ameaças existentes. Segundo a Defesa Civil, a implementação do Plano
Diretor de Defesa Civil (PDDC) é necessariamente de longo prazo, desenvolvendo-se e
aprofundando-se como um contínuo, e será implementado gradualmente, mediante planos,
programas e projetos específicos a cada tipo de desastre, de acordo com sua origem
(DEFESA CIVIL DE JOINVILLE, 2004).
114
líderes em desenvolvimento sustentável, considerando os indicadores sociais,
educacionais, de saúde, culturais, econômicos e ambientais, até 2010” (PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO DE JOINVILLE, 2004).
Fatores Ambientais
Na opinião dos atores sociais a resolução destes problemas poderia ser alcançada pela
construção de barragens que diminuíssem a velocidade de escoamento das águas dos rios
em direção às áreas urbanas.
Uma das ações previstas do Projeto de Revitalização do Rio do Braço, desenvolvido pela
ONG VIDAVERDE em parceria com outras instituições é o barrageamento do rio, pela
construção de pequenas barragens transversais ao Leito do rio, feitas com materiais
naturais, com aproximadamente 20 a 30 cm de altura, com o objetivo de retenção de carga
hídrica e estabilização de fundo de rio (VIDAVERDE, 2004).
Este item teve como objetivo principal identificar a influência que os atores sociais
exercem no que se refere à gestão dos recursos hídricos no município de Joinville e o
conhecimento que possuem a respeito das medidas que estão sendo tomadas pelo poder
público municipal em relação aos problemas de falta de água e enchentes na região.
Procurou também realizar um diagnóstico sobre o posicionamento dos atores sociais no
que se refere ao aproveitamento de água de chuva em Joinville.
Identificar o papel que cada ator social desempenha na gestão dos recursos hídricos no
município é importante porque possibilita estabelecer quais as prioridades de cada setor,
permitindo que sejam traçados planos de ação de acordo com os interesses predominantes.
115
Este item foi respondido por 31 atores sociais. Os temas citados foram: 12 entrevistados
afirmaram que sua relação com os recursos hídricos de Joinville está ligada à educação
ambiental, 11 através de projetos, execução e manutenção de obras estruturais, 10 pelo
desenvolvimento de políticas públicas relacionadas à gestão de recursos hídricos no
município, 5 afirmaram ser apenas consumidores e 4 atores sociais fazem parte de órgãos
fiscalizadores. Vários atores sociais afirmaram que atuam em mais de um tema (Gráfico 7).
14
12
12 11
10
nº de instituições
10 educação ambiental
8 obras estruturais
políticas públicas
6 5 consumidor
4
4 fiscalização
Através da análise do Gráfico 7 pode-se perceber que a principal relação dos entrevistados
com a água está ligada a atividades de educação ambiental. Isto pode ser explicado pela
crescente valorização dos temas ambientais pela população em geral, tendo os recursos
hídricos como um de seus principais focos. Em vários setores são realizadas campanhas
educativas para a valorização e uso racional da água, seja em instituições públicas ou
privadas, fazendo com que a educação ambiental seja praticada nos vários níveis da
sociedade.
Em segundo lugar estão os atores sociais que têm a sua atividade ligada aos recursos
hídricos em função da elaboração, execução e manutenção de projetos de obras estruturais,
bem como na fabricação de peças para instalações hidráulicas, onde são desenvolvidos
projetos visando a economia de água nas edificações.
116
O terceiro tema mais citado foi a elaboração e aplicação de políticas públicas ligadas a
gestão de recursos hídricos, onde estão inseridos na sua maioria os órgãos do setor público
municipal.
Em menor número estão os atores sociais que identificaram a sua relação com os recursos
hídricos apenas como consumidores, e os que realizam atividades de fiscalização, destes
fazendo parte os órgãos ambientais nas várias esferas de poder.
De acordo com a análise do Gráfico 7, pode-se perceber que a maioria dos atores sociais
identifica a sua relação com a gestão dos recursos hídricos em Joinville de uma forma
ativa ao invés de passiva (apenas consumidores), tendo alguma influência na forma como
ocorre esta gestão no município e com capacidade para alterar a situação atual através da
sua participação.
Através desta questão procurou-se levantar o posicionamento dos atores sociais em relação
ao aproveitamento de água de chuva no município de Joinville de uma forma geral, sem
especificar a forma de captação ou a finalidade para a qual esta água seria aproveitada.
10%
16%
favorável
indiferente
contrário
74%
117
A justificativa para a maioria dos entrevistados ter se posicionado de forma favorável ao
aproveitamento de água de chuva pode ser explicada pelo contexto em que a questão foi
inserida. Quando foram apresentados de forma integrada os problemas relacionados à falta
de água e à ocorrência de enchentes no município, pode ter surgido como alternativa viável
para os dois problemas simultaneamente o aproveitamento de águas pluviais.
A falta de água nos bairros mais afastados do centro da cidade pode ser justificada tanto
pelo alto índice de perdas no sistema, como também pelo adensamento populacional na
área central da cidade, onde o consumo de água é maior, causando a queda de pressão na
tubulação e impedindo que a distribuição seja feita nas regiões mais afastadas. A mesma
justificativa pode ser utilizada para explicar a falta de abastecimento nas regiões mais
elevadas.
118
Gráfico 9 – Bairros do município de Joinville que apresentam problemas em relação
ao fornecimento de água pela rede pública.
outros bairos
bairros afastados
Boa Vista
Centro
Atiradores
rodízio entre
Floresta |ririú todos os bairros
Esta questão foi respondida por 30 atores sociais dos quais 9 declararam não ter
conhecimento de medidas adotadas pelo poder público para evitar a falta de água no
município. Entre aqueles que responderam esta questão de forma afirmativa, as medidas
mais citadas foram: a ampliação da rede de distribuição de água tratada (26%), campanhas
de conscientização para evitar o desperdício de água (23%), a criação do Programa SOS
Nascentes (19%), a criação da Agência Municipal de Águas e Esgoto (AMAE) (12%), o
racionamento (8%), a revitalização dos rios (8%) e a formação do CCJ-Comitê do Rio
Cubatão Joinville (4%) (Gráfico 10).
Gráfico 10 – Medidas que estão sendo tomadas pelo poder público para
evitar a falta de água no município de Joinville.
Ampliação da rede
Medidas para Evitar a Falta de Água
Campanhas de
conscientização
4% Programa SOS
8%
26% Nascentes
8%
Criação da AMAE
12%
Racionamento
Formação do CCJ
119
Programa SOS Nascentes
Figura 59 - Logotipo do
Programa SOS Nascentes.
(SAMA, 2004)
Este projeto tem como principal objetivo recuperar a cobertura florestal da região dos
mananciais, principalmente nas margens dos cursos d’água e encostas, melhorando a
qualidade ambiental da região e protegendo os recursos hídricos, além de estimular a
utilização dos recursos florestais através do manejo sustentável. Já foram recuperadas mais
de 65 áreas degradadas, através da recomposição da cobertura florestal, com o plantio de
45.000 mudas. Também são desenvolvidos estudos botânicos para a identificação e
catalogação das espécies vegetais nativas da região, que já contam com mais de 450
espécies coletadas, das quais 350 já estão identificadas. Este trabalho é importante para
120
orientação dos trabalhos de manejo florestal e está compondo o acervo do futuro Herbário
Joinville e Museu Botânico Municipal.
O avanço da ocupação das áreas na beira dos rios trouxe a contaminação por esgoto e lixo
doméstico. Visando reduzir esse problema foi criado o Projeto de Saneamento Rural que
tem como objetivo implantar sistemas de tratamento de esgoto doméstico na região, bem
como destinar corretamente os resíduos sólidos gerados. Já foram implantados sistemas
individuais de tratamento de esgoto doméstico, compostos de fossa e filtro, em 890
residências da região dos mananciais, e estações de tratamento de água e esgoto por zona
de raízes (Figura 60).
A contaminação causada por dejetos animais também é alvo de ações do PROSAR através
da implantação de esterqueiras. Este processo recebe o apoio da Fundação 25 de Julho.
Foram criadas as Áreas de Proteção Ambiental (APA’s) Serra Dona Francisca e Quiriri,
com o objetivo de proteger os recursos hídricos, garantir a conservação dos remanescentes
da Floresta Atlântica, proteger a fauna silvestre e, principalmente, melhorar a qualidade de
vida das populações residentes na região. A proteção do meio ambiente será alcançada
através de ações de educação e recuperação ambiental, e da adequação das atividades
econômicas desenvolvidas na região, além do estímulo ao desenvolvimento de atividades
que causem menor impacto ambiental. As diretrizes para a gestão das APA’s estão
contidas no Plano de Gestão, que está sendo desenvolvido com a participação direta da
comunidade local através de grupos organizados.
Projeto de Fiscalização
Outro importante Projeto do Programa SOS Nascentes é o de fiscalização, que tem como
objetivo coibir as irregularidades praticadas contra o meio ambiente na região dos
mananciais, visando proteger o patrimônio ambiental, através de ações de educação
ambiental, orientação e controle. Esta fiscalização é realizada pela SAMA, FUNDEMA,
SEINFRA com a parceria da Polícia de Proteção Ambiental - Polícia Militar, que recebeu
veículos, equipamentos e outros recursos para intensificar as ações na região dos
mananciais. Os benefícios deste projeto já podem ser vistos através da redução dos casos
de desmatamentos, roubos de palmito, caça e construções irregulares na região.
Há 12 anos foi implantado o projeto na localidade de Rio Bonito, a Estrada Bonita, e mais
recentemente, nas regiões do Piraí e da Serra Dona Francisca. A região apresenta também
grande potencial para o turismo ecológico. As belezas naturais da Serra do Mar, com sua
floresta exuberante, rios e inúmeras cachoeiras, possibilitam o desenvolvimento de lazer
contemplativo, em contato com a natureza. A parceria entre a PROMOTUR e os
proprietários rurais promoveu melhorias na infra-estrutura, no paisagismo, implantação e
melhorias de pequenas agroindústrias artesanais, na sinalização do projeto e identificação
122
das propriedades e no treinamento dos agricultores para a recepção ao visitante. Criou-se
também uma associação para fortalecer o projeto (SAMA, 2004).
A partir da entrega dos serviços, os proprietários das mais de 100 mil residências e
empresas passarão a ser atendidos pela Águas de Joinville. Trata-se de uma empresa local,
uma sociedade de economia mista, controlada pelo município. A concessão do serviço
deve ficar com a companhia pelo menos até 2039 (JUNGES, 2004).
Em fevereiro de 2001 foi implantado pela CASAN um sistema de rodízio temporário para
o abastecimento de água em Joinville. A cidade foi dividida em quatro regiões, e a escala
seguiu até o término das obras de instalação da adutora do Cubatão. O rodízio atingiu cerca
de 70% da cidade em dias alternados, e só não participam o Centro, parte do bairro
América, Pirabeiraba, Vila Nova, Atiradores e Anita Garibaldi (RIGOTTI, 2001).
123
recuperação da vegetação ciliar. Na implementação do programa, a secretaria procurou
envolver todos os segmentos da sociedade e a comunidade em geral, na tentativa de
orientar a população e acioná-la à participação na tomada de decisões relacionadas ao meio
ambiente. Entre as ações destacam-se: palestras, oficinas, apresentações teatrais
desenvolvidas pela comunidade, formação de comissões comunitárias de meio ambiente e
proteção dos rios (Comapris), plantios de mudas nativas e o mutirão da informação
(FIGUEIREDO, 2000).
Outra medida que está sendo adotada pela SAMA no que se refere ao programa de
revitalização dos rios é o tratamento FLOTFLUX®, que consiste na aplicação conjunta,
seqüencial e em fluxo de técnicas empregadas em estações de tratamento de água, e mais
recentemente em estações de tratamento de esgoto, para segregação de materiais: a
coágulo/floculação e a flotação. Em adição às técnicas de segregação físico-química os
sistemas baseados no processo incluem a remoção do lodo formado na superfície da água
por equipamentos especiais.
Além do Flotflux e da limpeza das margens dos rios, a Secretaria de Meio Ambiente
realiza um programa de educação ambiental, envolvendo a comunidade e escolas.
A bacia do Cachoeira recebe, todo dia, uma carga de 18 toneladas de dejetos, das quais
85% são de esgoto doméstico. A primeira estação de Flotflux está dimensionada para
retirar quatro toneladas de lodo por dia, mas a despoluição depende do fim do despejo de
124
esgoto doméstico e de efluentes industriais na Bacia do Rio Cachoeira. Apenas 10% do
esgoto da cidade é tratado e o restante é lançado no rio (ARGOLO, 2004).
Realizado pela ONG Vida Verde Associação Ecológica Joinvilense em parceria com o
Rotary Club Joinville Pirabeiraba, SOS Nascentes (SAMA) e Secretaria Distrital de
Pirabeiraba e Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Pirabeiraba (IDESPI).
Tem por objetivo interromper o processo de morte da última nascente do rio do Bagre,
recompor a mata ciliar do Leito do rio do Braço e do rio do Bagre, restabelecer o fluxo de
água perene no Leito do rio do Braço, criar consciência da importância da preservação dos
rios, para além do rio do Braço.
A Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão (BHRC), drena uma área que se estende desde o
planalto, atravessando as vertentes da Serra do Mar até o deságüe na Baia da Babitonga,
com ocorrência das últimas áreas austrais de manguezais e está inserida em cerca de 75%
de sua área no município de Joinville e o restante no município de Garuva (Figura 62).
A BHRC representa uma das quatro grandes bacias hidrográficas de Joinville, sendo
também responsável por cerca de 70% do abastecimento deste município, que possui a
maior cidade do Estado de Santa Catarina. Na questão ambiental, o Rio Cubatão, já a partir
da quebra do relevo das encostas da Serra do Mar até a captação de água no seu médio
curso, vem sendo afetado por efluentes domésticos, agrotóxicos e partículas em suspensão
decorrentes da extração de seixo rolado e desmatamento de Pinus. A partir da ponte sobre a
BR 101, além dos problemas já citados, ocorre também poluição por efluentes industriais e
de postos de gasolina e similares. Por se tratar de uma bacia hidrográfica de domínio
estadual e possuir uma elevada importância sócio-econômica para o Estado de Santa
Catarina, bem como sofrer com problemas de qualidade de suas águas e conflito pelo uso
126
da água o conhecimento da situação atual e futura da bacia, constituem em principais
insumos para a implementação dos instrumentos que possibilitarão o gerenciamento dos
recursos hídricos e consecutivamente a implantação do Plano de Manejo Integrado dos
Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio.
Após o seu lançamento oficial o CCJ tomou como primeiro passo buscar apoio da
Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), Prefeitura Municipal, Associação
Comercial e Industrial (ACIJ) e Fundação Estadual de Meio Ambiente (FATMA), que,
com os dados colhidos pelo Instituto BrasiLeiro e Estatística e Geografia (IBGE) no último
censo e de outros órgãos, como EPAGRI e CIDASC, realizará um diagnóstico dos meios
físico, biológico e antrópico da área da bacia, resultando numa série de mapas temáticos,
que, se utilizando ferramentas de geoprocessamento, possibilitará o cruzamento das
informações chegando a um produto síntese do zoneamento ambiental (GONÇALVES,
2000).
outros bairros
Santo Antônio
Centro
Floresta
Jativoca
Costa e Silva
Cubatão Jardim Sofia
Jardim Kelly
Bom Retiro Jardim Paraíso
Pirabeiraba
De acordo com a análise dos dados contidos no gráfico 12, pode-se perceber que o bairro
mais afetado é o Centro. Este fato pode estar relacionado ao grande adensamento
populacional o que resultou na impermeabilização do solo, fazendo com que o escoamento
superficial seja muito elevado sobrecarregando as galerias pluviais que não são
dimensionadas de forma a suportar o volume das chuvas intensas (Figuras 63 a 65).
128
município, destruindo inúmeras casas, ranchos depósitos, muros, pontes de madeira e de
concreto (DEFESA CIVIL, 2003).
Outros eventos anteriores a este são documentados por meio de registro fotográfico, porém
sem informações sobre os danos causados.
129
Figura 65 - Alagamento no centro de Joinville, na Rua Engenheiro Niemeyer
próximo ao Shopping Mueller, em 4 de fevereiro de 2004. (NEUMANN, 2004)
Medidas que estão sendo tomadas pelo poder público para evitar a ocorrência de
enchentes e inundações no município de Joinville
Esta questão foi respondida por 30 atores sociais dos quais 12 declararam não ter
conhecimento de nenhuma medida que estivesse sendo tomada pelo poder público para
evitar ou minimizar a ocorrência de enchentes e inundações em Joinville.
Dentre aqueles que responderam ter conhecimento de medidas preventivas as mais citadas
foram: limpeza dos rios (44%), obras de infra-estrutura para facilitar o escoamento das
águas pluviais como alargamento de pontes e renovação da rede de drenagem urbana
(33%), desenvolvimento de programas de conscientização da comunidade para evitar o
acúmulo de detritos nos cursos d’água e vias públicas (19%) e o levantamento das áreas
críticas pela Defesa Civil para monitoramento (4%) (Gráfico 12).
130
Gráfico 12 – Medidas que estão sendo tomadas pelo poder público para evitar a
ocorrência de enchentes no município de Joinville
4%
19% Limpeza dos rios
Obras de infra-estrutura
44%
Conscientização da
comunidade
Levantamento de áreas
33% críticas
Obras de Infra-estrutura
131
Figura 66 - Substituição da
tubulação da rede de distribuição
de água tratada. (FORTUNATO,
2004)
Outras obras estão sendo realizadas pela Prefeitura no Município, com o objetivo de
melhorar as condições de drenagem evitando os eventos de enchentes.
Conscientização da Comunidade
Vários programas são desenvolvidos com o objetivo de criar uma consciência ambiental na
população de Joinville. Um dos projetos de maior destaque na região é o Prêmio Embraco
de Ecologia, criado pela Embraco, Empresa BrasiLeira de Compressores S.A., e que faz
parte do programa de educação ambiental que a empresa vem desenvolvendo desde 1993.
Com o Prêmio Embraco, a empresa estendeu aos jovens sua política em relação ao meio
ambiente, na expectativa de, por intermédio deles, sensibilizar toda a comunidade. Tendo
como ponto de partida que os problemas provocados pela falta de uma consciência
132
ambiental afetam toda a população, independentemente de classe social ou faixa etária, o
prêmio incorporou novos públicos ano a ano. Inicialmente com foco nas escolas da rede
municipal, passou a incluir a rede estadual e instituições privadas. E, por fim, chegou às
escolas rurais. Em seus três primeiros anos, o prêmio visava estimular alunos, professores e
diretores a discutir e analisar problemas ambientais, com base em temas previamente
escolhidos. Nessa fase, de motivação e sensibilização, os resultados surgiram na forma de
redações, poesias, músicas, maquetes, murais e apresentações em grupo. Em 1996, o
Prêmio Embraco de Ecologia iniciou uma segunda fase e ganhou maior dimensão. O
programa saiu da teoria para a prática, convidando as escolas a apresentar projetos de
educação ambiental, implantados internamente ou em comunidades vizinhas.
Com base nas informações colhidas das várias inundações ocorridas no município de
Joinville, a Defesa Civil pode fazer um levantamento dos bairros mais atingidos nestes
eventos, e elaborar Planos de Contingência para as áreas de risco. A localização dos bairros
pode ser observada no Mapa dos Bairro de Joinville, no Anexo D.
Os bairros com maiores registros de ocorrência de enchentes foram: Costa e Silva, Fátima
e Iririú. Outros bairros freqüentemente atingidos pelas enchentes mas com menor
ocorrência são: América, Boa Vista, Floresta, Guanabara, Itaum, Jardim Paraíso, Jardim
Sofia, Jarivatuba, Petrópolis, Quiriri, Santo Antônio e Vila Nova (Tabela 8) (DEFESA
CIVIL, 2003).
133
TABELA 8 – Principais eventos ocorridos no município de Joinville.
Data Bairros atingidos Danos
dez/1972 Centro, Zona Norte, Itaum, • Destruição de inúmeras casas, ranchos, depósitos,
Fátima muros, etc;
• Pontes de madeira e concreto;
• Deslocamento de cerca de 200m de trilhos da estrada
de ferro Araquari - São Francisco do Sul;
• Mais de 1000 pessoas desabrigadas e 2 óbitos.
jan/1989 Centro • Mais de 500 casas atingidas;
• Cerca de 150 famílias desabrigadas.
mar/1994 Praticamente todas as regiões • Deslizamentos, quedas de muro de arrimo;
de Joinville • Destruição de pontes e pontilhões;
• Queda de barreira na rodovia Joinville - São
Francisco do Sul;
• 220 famílias desalojadas;
• 20 famílias desabrigadas;
• 1 óbito;
• 150 telefones desligados por 24 horas;
quedas localizadas de energia elétrica;
• 50% da população sem abastecimento de água.
jan/1999 Bacia do Cubatão • 184 pessoas desabrigadas;
• 80 famílias isoladas;
• 5 pontes destruídas.
fev/2001 Boa Vista, Vila Nova, Iririú, • Ruas e casas alagadas.
Jardim Paraíso, Jardim Sofia,
Estrada Cubatão,
Boehmerwald, Floresta,
Itaum, Guanabara, Fátima,
Jarivatuba, Adhemar Garcia,
Centro, América, Santo
Antônio, Costa e Silva,
Bucarein, Bom Retiro, São
Marcos.
jun/2001 Costa e Silva, Jardim Paraíso, • Ruas e casas alagadas.
Iririú, Aventureiro, Vila Nova,
Pirabeiraba, Boa Vista,
Boehmerwald, Itaum, Nova
Brasília, Floresta, Petrópolis,
Guanabara, Fátima,
Fonte: Defesa Civil de Joinville.
134
7.4.5 Análise da percepção do aproveitamento da água da chuva
Percepção é a capacidade que cada indivíduo tem de perceber o que está ao seu redor, e
assim, responder a isto. A percepção não é estática; é um processo dinâmico que envolve
não somente a apreensão dos estímulos sensoriais, mas também a interpretação, por parte
do receptor, da realidade observada. Uma característica da percepção consiste no seu
caráter individual, fazendo com que cada pessoa capte uma mesma situação de forma única
e inteiramente particular. A percepção das situações se processa de acordo com as
experiências anteriores, expectativas e necessidades, e também pela influência de fatores
circunstanciais.
Para Aristóteles existe entre o sujeito que sente e o objeto percebido, uma relação de
identidade potencial, que se atualiza por ocasião da finalização do ato da percepção,
gerando uma espécie de simbiose entre o sujeito e o objeto.
Nas últimas décadas a valoração do meio passou muito despercebida, pois estas gerações
nasceram e cresceram em um meio totalmente construído, não tendo assim oportunidade
de perceber seu meio natural (GIGA, 2005).
O objetivo deste tópico foi realizar um levantamento junto aos atores sociais sobre a
percepção da comunidade de Joinville em relação ao aproveitamento da água de chuva,
levando em consideração o seu conhecimento prévio sobre o tema e a aceitação ou não, da
utilização desta prática na comunidade.
Dos trinta atores sociais que responderam a esta questão apenas dois declararam não ter
conhecimento algum sobre a utilização da água de chuva como alternativa para o
abastecimento, o que representa 7% do total. A maioria (93%) declarou ter algum
conhecimento sobre o tema (Tabela 9).
135
TABELA 9 - Conhecimento a respeito de Sistemas de Aproveitamento de
Água de Chuva
Tem algum conhecimento Nº de pessoas Porcentagem
Sim 28 93%
Não 2 7%
Total 30
Fonte: questionários aplicados.
Este resultado pode ser explicado pela grande divulgação que os projetos de construção de
cisternas no semi-árido nordestino tiveram durante a última campanha para a presidência
do Brasil.
Na segunda parte desta questão, os atores sociais deveriam então detalhar qual o
conhecimento que possuíam a respeito do aproveitamento de água da chuva. Esta questão
foi respondida por 26 pessoas. Analisando as Tabelas 9 e 10 pode-se perceber que 2 dos
atores sociais que declararam ter algum conhecimento sobre o aproveitamento de água da
chuva não especificaram qual o conhecimento que possuem sobre o tema.
Dos 26 atores que responderam a esta questão 14 (54%) disseram ter algum conhecimento
sobre o funcionamento do sistema, a forma como é feita a captação e a armazenagem; 8
(31%) citaram as ações realizadas pelo governo federal no semi-árido com a implantação
de cisternas para garantir o abastecimento de água para a população durante todo o ano e 4
(15%) declararam ter pouco conhecimento sobre o aproveitamento de água da chuva, não
especificando que tipo de conhecimento seria este (Tabela 10).
O Projeto 1 Milhão de Cisternas (P1MC) pretende construir uma cisterna para cada casa do
Semi-Árido Nordestino, onde, se calcula, vivem cerca de 3 milhões de famílias. Em 2001
foi criada a Articulação para o Semi-Árido (ASA), entidade que reúne mais de 700
136
Organizações Não-Governamentais (ONGs) presentes no Nordeste com o objetivo de
erradicar a pobreza e a fome da região. A ASA adotou um projeto já existente da Caritas
(uma instituição de assistência social ligada à Igreja Católica).
Até o início de 2004, o Projeto Cisternas foi responsável pela construção de 5.298
reservatórios de água na região do semi-árido brasiLeiro. A iniciativa da FEBRABAN
consiste na construção de um total de 20 mil reservatórios de água para abastecer
moradores do semi-árido brasiLeiro, um dos mais populosos do mundo. A região abriga
cerca de 8 milhões de pessoas e ocupa uma área de quase 900 mil metros quadrados,
distribuídos por 11 Estados. Nesta primeira etapa, serão entregues 10 mil cisternas. As más
condições de armazenamento da água das chuvas são responsáveis por uma grande
incidência de doenças, especialmente verminoses, entre os moradores, que perdem, em
média, uma hora de seu dia em busca de água potável ou dependem de carros-pipas
enviados por políticos locais. O Projeto Cisternas, além de resolver estes problemas,
promove a educação da população em questões de saúde, higiene, ecologia e cidadania,
contribui para a geração de renda ao tornar as comunidades auto-sustentadas e colabora
para fixar a população em suas regiões de origem. Cada cisterna tem capacidade média de
16 mil litros, o que garante o fornecimento de água para uma família de cinco pessoas por
um ano inteiro com um mínimo de 200 mm de chuva (a precipitação pluviométrica anual
da região é de 750 mm) (FEBRABAN, 2004).
137
Segundo Gnadlinger (1999), é interessante notar que um programa de construção de
cisternas só é aconselhável se todas as casa de uma comunidade puderem receber sua
cisterna em curto espaço de tempo. Caso somente em algumas poucas casas forem
construídas cisternas, os outros membros da comunidade irão buscar água lá durante o
próximo período de seca e logo a cisterna estará vazia. Além do risco de rachaduras que
isso acarretaria, deixaria os moradores com a falsa impressão de que a cisterna não resolve
o problema da falta de água, porque esta teria se esgotado em poucos meses de uso.
Esta questão teve por finalidade determinar o posicionamento dos atores sociais no que se
refere à viabilidade da implantação de sistemas de aproveitamento de água de chuva em
Joinville, buscando uma justificativa para o seu posicionamento favorável ou não.
O total de atores sociais que responderam a primeira parte desta questão foi de 30 pessoas.
Deste total, 27 entrevistados (90%) acreditam que o aproveitamento de água de chuva em
Joinville é uma alternativa viável e 3 pessoas (10%) não são favoráveis ao aproveitamento
de água da chuva na região (Tabela 11).
138
TABELA 11 – Opinião do entrevistado a respeito da viabilidade da
implantação de sistemas de aproveitamento de água da chuva em Joinville.
É viável Nº de Ocorrências % do Total
Sim 27 90
Não 3 10
Total 30 100
Fonte: questionários aplicados.
Dentre aqueles que afirmaram que não seria viável o aproveitamento da água de chuva em
Joinville, as razões citadas foram as seguintes:
139
Segundo a análise das respostas apresentadas pelos atores sociais, pode-se perceber que o
principal fator que influencia a opinião favorável ao aproveitamento das águas pluviais em
Joinville é justamente a pluviosidade típica da região, que está entre as mais altas do estado
(Figura 68).
Esta alta pluviosidade se deve ao relevo da região que favorece a ocorrência de um clima
quente e úmido. No verão, a massa Tropical Atlântica avança sobre as regiões costeiras e o
encontro dessa massa com a Serra do Mar provoca chuvas orográficas ou chuvas de relevo.
Segundo CASTRO (1998), nas chuvas orográficas o relevo, conforme sua amplitude e
direcionamento, força a elevação da massa de ar que, atingindo maior altitude, tem seu
gradiente de pressão e temperatura alterado, podendo assim, reter menor quantidade de
água. Devido ao efeito orográfico, geralmente as áreas montanhosas, situadas sob a
influência de massas de ar úmidas, tendem a ter índices pluviométricos maiores.
140
Outro aspecto menos citado nesta questão foi o aproveitamento da água de chuva como
contribuição à diminuição do risco de enchentes na cidade, já que as águas que seriam
armazenadas nos reservatórios não seriam lançadas na rede de drenagem pluvial, evitando
inclusive custos de redimensionamento desta rede.
Com esta questão buscou-se levantar de uma forma mais precisa o conhecimento que os
atores sociais possuem sobre as localidades que utilizam a água da chuva como fonte
alternativa.
O total dos atores sociais que responderam a esta questão foi de 30 pessoas. Destes, 9
responderam que tinham conhecimento do programa de construção de cisternas
desenvolvido pelo governo federal no semi-árido nordestino; 8 tinham conhecimento de
algum caso, em Joinville, em que já estava sendo realizado o aproveitamento de águas
pluviais, 3 tinham conhecimento do aproveitamento de água de chuva em São Paulo, 2 em
países da Europa e o restante citou locais como o balneário de Ubatuba na Ilha de São
Francisco do Sul, a própria cidade de São Francisco do Sul, Curitiba, e outros países como
o Japão, o Havaí, Sri-Lanka, Indonésia e Tailândia (Tabela 12).
Os casos de sistemas de aproveitamento de água de chuva que são citados fora do Brasil já
foram abordados no item 5.2 – Exemplos Atuais.
Dos casos que foram citados em Joinville, alguns não eram precisos nas informações e
outros serviram como indicação dos citados anteriormente no item 7.2 - Edificações em
Joinville com Sistemas de Coleta e Aproveitamento de Águas Pluviais.
De uma forma geral pode-se perceber que a população, representada neste caso pelos
atores sociais, tem um certo conhecimento das técnicas empregadas para a utilização da
água da chuva e também de locais onde esta prática já está sendo utilizada como
complementação ao abastecimento comum, ou mesmo como solução para problemas de
escassez. Este conhecimento prévio favorece o desenvolvimento de projetos que abordem
o tema do aproveitamento de águas pluviais, partindo-se daí para a discussão sobre a forma
pela qual este aproveitamento deve ser realizado, os usos aos quais esta água se destinaria e
o posicionamento da administração pública no que se refere à elaboração de
regulamentação sobre o tema.
Este item teve por finalidade fazer com que o entrevistado se inserisse na questão,
visualizando a prática do aproveitamento de água de chuva no seu dia-a-dia. Os atores
sociais foram questionados se aprovariam a instalação de um sistema de aproveitamento de
água da chuva na sua residência, justificando o seu posicionamento favorável ou não.
142
As justificativas apresentadas para aqueles que se posicionaram favoráveis ao
aproveitamento de água da chuva nas suas residências foi principalmente reduzir os gastos
com a água tratada (46%), utilizar a água de chuva como uma fonte alternativa de água
(21%) e a preservação dos mananciais da superexploração (12%). Cinco (5) dos
entrevistados (21%) se posicionaram favoráveis ao aproveitamento de água da chuva
colocando como fator decisivo o custo da instalação do sistema.
Porque sim
Reduzir os gastos com água tratada 11 46
Fonte alternativa de água 5 21
Dependendo dos custos 5 21
Preservar os mananciais 3 12
Total 24 100
Porque não
Grande disponibilidade de água 2 50
Preferência por poço artesiano 1 25
Instalação predial não adequada 1 25
Total 4 100
Fonte: questionários aplicados.
Neste tópico podem ser abordados dois aspectos: o custo individual que cada proprietário
de imóvel tem dependendo do seu consumo e os gastos da administração pública no que se
refere à captação, tratamento e distribuição da água no município.
143
Segundo estudos de vários autores, a economia de água tratada com a complementação
com água da chuva pode ultrapassar 30%, dependendo dos usos aos quais esta água for
destinada e também das instalações. Como regra geral, as adaptações realizadas em
edificações antigas não são tão eficientes quanto àquelas que são projetadas e implantadas
durante a construção.
Esta justificativa se aplica, principalmente, àquelas pessoas que são atingidas por
interrupções no fornecimento de água tratada, ou por terem as suas residências localizadas
em regiões elevadas ou afastadas dos pontos de distribuição, onde a pressão de água não é
suficiente para garantir o abastecimento durante todo o dia de forma regular. Tendo a água
de chuva como uma fonte alternativa, não seriam atingidos de forma tão intensa pela falta
de água tratada, que poderia ser reservada apenas para fins potáveis.
Como citado anteriormente, os custos de instalação do sistema variam de acordo com cada
caso. Dependendo do dimensionamento do sistema, capacidade da cisterna e área de
captação, o retorno do investimento pode acontecer em maior ou menor tempo. Também é
um fator importante o levantamento dos usos aos quais a água de chuva será destinada e o
tipo de tratamento de deverá ser feito para garantir a qualidade mínima necessária. A
144
instalação de filtros e peneiras pode encarecer o projeto, mas permite uma melhor
conservação da água e maior possibilidade de usos, desde que não potáveis.
A grande quantidade de rios e córregos que existe na região de Joinville causa a falsa
sensação de que a água é inesgotável. No entanto, projeções feitas por especialistas para os
próximos vinte anos, levando-se em consideração a crescente demanda do consumo e o
aumento da população, alertam para a possibilidade dos mananciais da região não serem
suficientes para garantir o abastecimento da cidade. A preocupação não é só no que se
refere à quantidade, mas também à qualidade da água dos mananciais que está sendo cada
vez mais comprometida pela emissão de efluentes industriais, residenciais e agrotóxicos
provenientes das lavouras existentes na região.
Nas grandes áreas metropolitanas, com população de 1-16 milhões de habitantes, os poços
artesianos e semi-artesianos complementam o abastecimento baseado em águas
superficiais (de rios, lagos, represas, açudes) e ajudam a reduzir o gasto mensal com água
de hotéis, hospitais, prédios residenciais e empresas. Cerca de 250 mil poços profundos
foram escavados no Brasil nos últimos 30 anos, por municipalidades e pela indústria, No
entanto, a maior parte desses poços é particular e não tem qualquer controle, o que pode
acarretar sérios problemas num futuro próximo. Com a difusão da tecnologia de escavação
e exploração das águas subterrâneas, torna-se urgente a formulação de políticas de longo
prazo para garantir níveis econômicos, sociais e ambientais sustentáveis (VOGT, 2000).
145
Além do risco de contaminação, a perfuração de poços artesianos também tem um custo
elevado e necessita de aprovação do órgão ambiental. Os poços artesianos costumam ter,
em média, uma vida útil de 40 anos, mas podem secar antes, dependo do volume de água
explorado (TOMASINI, 2000).
Este tópico teve por objetivo identificar quais os usos adequados para a água de chuva, de
acordo com a opinião dos atores sociais. Os usos mais citados foram: a limpeza de pátios e
calçadas (17); rega de jardins (12); descarga de vasos sanitários (12); uso industrial (8);
lavação de carros (8); máquinas de lavar de roupa (5); consumo humano (5); lavação de
louça (4); banho (4); uso agrícola para irrigação e dessedentação de animais (4). Cabe
ressaltar que 10 entrevistados acreditam que a água de chuva pode ser utilizada para todos
os fins desde que receba um tratamento adequado para o uso a que se destine, o consumo
146
humano foi citado 5 vezes e 5 das respostas indicaram outros usos para a água da chuva
como o abastecimento de piscinas, a dessedentação de animais domésticos e reservas para
prevenção de incêndio (Gráfico 14).
Outros
Uso agrícola
Limpeza de pátios
Banho
Lavar louça
Consumo humano
Máquina de lavar Rega de jardins
roupa
Lavação de carros
Descarga de vasos
Uso industrial sanitários
Todos
De acordo com a análise dos dados pode-se perceber que a maioria dos usos citados pelos
atores sociais entrevistados se restringem aos usos não potáveis, que exigem um tratamento
simples de filtração e desinfecção da água para a sua manutenção, o que resultaria em
custos menos elevados.
Dentre aqueles que citam que a água de chuva poderia ser utilizada para outros fins mais
nobres como o consumo humano ou o banho, podem ser agrupados os que acreditam na
vantagem em maiores investimentos com o tratamento da água, e também aqueles que
desconhecem os parâmetros de qualidade da água exigidos para determinados usos. Neste
último caso deve-se observar a necessidade de fornecer as informações necessárias à
população durante a implantação do projeto para evitar que a água de chuva seja utilizada
para fins não adequados.
Responderam a primeira parte desta questão 31 entrevistados, sendo que destes 16 (52%)
declararam já ter conhecimento da Lei sobre a coleta de água de chuva aprovada em São
Paulo e 15 (48%) disseram não ter conhecimento desta Lei.
A segunda parte da questão foi respondida por 25 entrevistados. Destes, a maior parte
(92%) se posicionou favorável à criação da legislação de São Paulo e apenas 2 pessoas
(8%) disseram não aprovar tal Lei (Tabela 14).
Pela análise dos dados obtidos com esta questão pode-se perceber que uma legislação para
a regulamentação da coleta e aproveitamento de água da chuva em Joinville pode ser bem
recebida pela população local. Deve-se, no entanto, tomar o cuidado de adequar o projeto
de Lei à realidade local e contar com uma equipe técnica para elaborar a sua
regulamentação, para que as exigências exigidas pela Lei possam ser cumpridas e
posteriormente fiscalizadas.
148
7.4.6 Estratégias para a implantação de sistemas de coleta e armazenamento de
água de chuva
149
Gráfico 15 – Justificativas para a necessidade de economia de água no município.
25
20 preservação dos
nº de vezes que foi citado 20 recursos hídricos
busca por sistemas
15 eficientes de utilização
importância da água
9 9
10 para a vida
redução dos gastos
5 3
1
redução da poluição
0
justificativas
Pela avaliação dos dados pode-se perceber que a justificativa que foi citada um maior
número de vezes (20) foi a economia de água como estratégia para a preservação dos
recursos hídricos. Este dado pode ser avaliado como sendo resultado das campanhas de
conscientização da população para a valorização da preservação dos recursos hídricos,
fazendo com que a população perceba que a água não é mais um recurso inesgotável e que,
apesar do seu ciclo na natureza, a velocidade de depuração não está sendo suficiente para
atender a demanda e os mananciais estão ficando comprometidos, o que tem dado origem
às previsões de escassez dentro das próximas décadas, caso o comportamento atual não
seja revisto.
Sendo consenso entre os atores sociais a importância da preservação dos recursos hídricos,
procurou-se através desta questão, determinar se a busca por fontes alternativas de água
poderia ser um dos mecanismos utilizados para esta preservação.
Neste item foi inicialmente questionada a importância da busca por novas fontes de
recursos hídricos, seguida de uma justificativa para o posicionamento do entrevistado.
150
Responderam a esta questão 31 entrevistados, dos quais 27 (87%) acreditam que a busca
por novas fontes de recursos hídricos seja importante e 4 (13%) não consideram tão
importante.
Das justificativas favoráveis à busca por novas fontes de recursos hídricos as mais citadas
foram: preservação dos recursos hídricos (34%); suprir o aumento do consumo (24%); para
reverter quadros de escassez de água em certas regiões (21%); promover a sustentabilidade
socioeconômica (13%) e a minimização dos efeitos da poluição sobre as fontes de água
utilizadas atualmente (8%).
Cabe ressaltar que, mesmo dentre os atores sociais que se posicionaram favoráveis à busca
por novas fontes de recursos hídricos foram enfatizadas a necessidade de controlar o uso e
a manutenção das fontes já existentes.
Porque sim
Preservação dos recursos hídricos 13 34
Aumento do consumo 9 24
Escassez de água 8 21
Sustentabilidade socioeconômica 5 13
Poluição da água 3 8
Total 38 100
Porque não
Manter as fontes já existentes 3 50
Controlar o uso 3 50
Total 6 100
Fonte: questionários aplicados.
151
Analisando a Tabela 15 pode-se perceber que a maior parte dos atores sociais entrevistados
considera importante a busca por novas fontes de recursos hídricos, sendo a principal
justificativa novamente a preservação destes recursos.
Outra justificativa apresentada foi a busca por fontes alternativas de água para suprir o
aumento do consumo. Neste ponto podemos verificar duas tendências opostas que seriam,
a busca por novas fontes para suprir a demanda crescente e a argumentação de que é
necessário controlar o uso das fontes já utilizadas. O controle do uso foi uma justificativa
apresentada tanto por aqueles que se posicionaram favoráveis quanto àqueles que se
posicionaram desfavoráveis à busca de fontes alternativas de água. Aprofundando-se a
análise pode-se perceber que a utilização de novas fontes de recursos hídricos para suprir o
consumo não implicaria em uma redução do uso e conseqüente valorização da água. Com
uma maior disponibilidade de água as medidas para o uso controlado poderiam ser
consideradas desnecessárias, o que não é desejável. Outro problema da falta de controle
sobre o uso da água é a necessidade de tratamento para que esta retorne aos cursos d’água
em condições adequadas. Quanto maior o consumo, maior o volume de água a ser tratada e
maiores os custos. Desta forma, a redução no consumo deve ser visto como um fator
indispensável, mesmo que a busca por novas fontes acabe tornando o recurso mais
disponível.
A escassez de água que ocorre em certas regiões do globo também serviu como
justificativa para a busca por fontes alternativas de água, promovendo também desta forma
a sustentabilidade socioeconômica de regiões que sofrem longos períodos de seca com o
comprometimento da sua qualidade de vida e até mesmo da sua sobrevivência. Esta
realidade não se aplica a nossa região, mas tem exercido um grande impacto na opinião da
população em virtude da implantação do programa de construção de cisternas no nordeste
semi-árido do Brasil.
A poluição dos cursos de água utilizados como fonte de abastecimento também foi citado
como fator decisivo para a busca pro novas fontes. Deve-se no entanto tomar o cuidado
para que isto não sirva como justificativa para que não se mantenham as campanhas de
manutenção da qualidade da água e preservação dos mananciais. Este item também foi
citado como justificativa tanto pelos atores sociais favoráveis como pelos desfavoráveis à
152
busca por novas fontes de recursos hídricos. Aqui se aplica a mesma questão tratada acima
referente à disponibilidade. A utilização de fontes alternativas não significa em absoluto o
descuido com as já existentes.
Este item teve por objetivo inserir a instituição da qual o entrevistado faz parte na questão
da gestão dos recursos hídricos na região de Joinville, através do levantamento da aptidão
da instituição para tratar de assuntos relacionados à economia de água e à busca por fontes
alternativas. Na segunda questão referente a este item foi questionada qual a contribuição
que a instituição poderia oferecer neste sentido.
Cabe ressaltar que, segundo os atores sociais, algumas instituições desenvolvem atividades
que abrangem mais de um item citado, contribuindo para a gestão dos recursos hídricos em
Joinville em vários aspectos.
153
TABELA 17 – Contribuição que as instituições poderiam oferecer em relação à
economia de água e à busca por fontes alternativas de recursos hídricos.
Contribuição da Instituição Nº de Ocorrências % do Total
Desenvolvimento de projetos 11 38
Conscientização da população 8 27
Corpo técnico 5 17
Desenvolvimento de produtos 2 6
Fiscalização e monitoramento 2 6
Planejamento urbano 1 3
Economia de água 1 3
Total 30 100
Fonte: questionários aplicados.
Com a análise das respostas fornecidas pelos entrevistados, pode-se perceber que as
instituições fiscalização e monitoramento são praticamente desenvolvidas por órgãos
públicos, enquanto que o desenvolvimento de produtos e formação de corpo técnico são
características das instituições privadas. O desenvolvimento de projetos está vinculado às
universidades e a conscientização da população às entidades ambientalistas, de um modo
geral.
Apesar de 31% dos atores sociais declarar que a sua instituição não tem nenhuma aptidão
para tratar da gestão dos recursos hídricos em Joinville, 3% dos entrevistados declarou que
sua instituição pode contribuir pode contribuir de alguma forma desenvolvendo, dentro da
sua própria instituição, programas de controle do consumo e uso racional da água, através
de campanhas orientativas aos seus funcionários.
Desta forma pode-se perceber que, uma parcela das instituições que não tem influência
direta na gestão dos recursos hídricos, como no desenvolvimento de projetos ou produtos
ou mesmo em atividades de fiscalização, sentem-se inseridas na questão e buscam
contribuir da forma que julgam adequada; enquanto que aqueles que declaram não ter
influência nenhuma, assumem uma postura de alienação aos problemas relativos ao tema,
deixando a responsabilidade de resolvê-los para os outros.
154
7.4.6.4 Responsáveis pela economia e busca por fontes alternativas de água de
acordo com os entrevistados
Este item teve por objetivo realizar um levantamento dos responsáveis pela implantação de
tecnologias para uso racional da água e pela busca por fontes alternativas de recursos
hídricos, na opinião dos atores sociais entrevistados.
Esta questão foi respondida por 31 entrevistados que citaram várias instituições
responsáveis pela gestão dos recursos hídricos em Joinville, principalmente no que se
refere ao uso racional e desenvolvimento de fontes alternativas.
As instituições mais citadas pelos atores sociais foram: o poder público nas suas várias
esferas (federal, estadual e municipal) (30% das ocorrências); sociedade em geral (22%);
universidades (14%); iniciativa privada (14%); organizações não governamentais (9%);
institutos de pesquisa (6%); empresas de abastecimento de água (CASAN, SAMAE e
AMAE) (4%); comitês de bacia hidrográfica (1%) (Tabela 18).
Pode-se perceber pela análise dos dados da tabela 18, que os responsáveis indicados pelos
atores sociais fazem parte das categorias de entrevistados que compõem a amostragem
desta pesquisa. Outro item a ser destacado nesta questão é o fato dos atores sociais que
acreditam na aptidão da sua instituição para tratar dos assuntos ligados à gestão dos
recursos hídricos em Joinville se incluíram como responsáveis, enquanto que os
entrevistados que julgam que a sua instituição não tem aptidão para tratar dos temas
abordados citaram outras instituições como responsáveis pela questão.
155
7.4.6.5 Aspectos negativos e positivos em relação à implantação de sistemas de
aproveitamento de água de chuva em Joinville
Este item, que trata diretamente do aproveitamento de água de chuva em Joinville, teve por
objetivo o fechamento do tema, realizando junto aos atores sociais o levantamento dos
aspectos negativos e positivos da prática do aproveitamento da água de chuva na região de
Joinville.
Esta questão foi respondida por 31 entrevistados e os aspectos negativos citados foram: a
dificuldade da manutenção da qualidade da água (31% das citações); custo de implantação
elevado (28%); falta de aceitação da população em geral (10%); sistema ocioso durante
longos períodos de estiagem (10%); consumo elevado de energia para o funcionamento das
bombas de água (5%); necessidade de muito espaço para a construção do reservatório para
armazenamento da água coletada (5%); alteração da estética das residências para a
instalação das calhas (2%) e a redução no faturamento das empresas distribuidoras (2%).
Dos atores sociais que responderam a este item, 7% acredita que a implantação de sistemas
de aproveitamento de água de chuva não apresenta nenhum aspecto negativo (Tabela 19).
De acordo com a análise dos dados, pode-se perceber que os aspectos negativos do
aproveitamento da água de chuva mais relevantes são a dificuldade da manutenção da
qualidade da água para o consumo e os custos de implantação do sistema. Os cuidados para
a manutenção da qualidade adequada da água dependem de vários fatores como o tipo do
material da área de captação e também o tipo e dimensionamento da cisterna utilizada para
o armazenamento da água. Estes fatores, assim como o tempo de retorno do investimento
156
na implantação do sistema, são partes fundamentais do projeto do sistema, que deve ser
feito com a orientação de um profissional com embasamento técnico na área.
A aceitação da população, de acordo com este estudo, não seria um problema relevante
visto que a maior parte dos entrevistados se posicionou favorável à alternativa do
aproveitamento de água da chuva, desde que devidamente orientados e esclarecidos sobre
o seu funcionamento.
O consumo de energia pela bomba para elevar a água da cisterna até o reservatório
responsável pelo abastecimento só ocorre nos casos em que a cisterna não pode ser
elevada, localizada abaixo da área de captação mas acima dos pontos de consumo fazendo
com a água escoe por gravidade. Nestes casos, em que é necessário o bombeamento, o
consumo de água de chuva deve ser suficiente para compensar o gasto com energia
elétrica.
Outro ponto negativo apresentado pelos atores sociais é a alteração na estética das
residências em função da necessidade de instalação de calhas para conduzir a água
coletada até o reservatório. No entanto a maioria das casas já possui sistema de calhas
157
instalado e estas podem ser embutidas de forma a não ficarem aparentes, não alterando em
nada a parte estética da edificação.
De modo geral, os pontos negativos citados acima podem ser minimizados pela elaboração
de projetos que sejam adequados a cada caso, respeitando as suas particularidades.
Vale a pena salientar a preocupação citada por apenas um ator social no que se refere à
redução no faturamento recolhido pelas distribuidoras de água tratada caso o
aproveitamento de água de chuva seja adotado como fonte alternativa. Neste caso, a
implantação destes sistemas teria que acontecer em uma parcela muito grande da
comunidade para que fosse significativa a redução no consumo de água tratada fornecida
pela distribuidora. Neste caso poderiam ser adotadas estimativas de consumo de água
pluvial para efetuar a cobrança. Os poços artesianos também poderiam ser incluídos nessa
situação. A necessidade de se medir o consumo das fontes alternativas de água se faz
imprescindível principalmente para efetuar o cálculo do valor a ser cobrado pela coleta de
esgoto, e não somente pela cobrança da água. A coleta de esgoto é cobrada atualmente
tomando-se como referência o volume de água consumido da rede pública de
abastecimento. Estima-se que 20% da água consumida se perca por evaporação ou
infiltração e os restantes 80% sejam coletados pela rede de esgoto. No caso da utilização de
uma fonte alternativa de água, caso o volume consumido não seja estimado pela
companhia prestadora de serviços, o volume calculado de esgoto coletado será inferior ao
realmente lançado na rede coletora. Neste caso sim se pode considerar que a utilização de
fontes alternativas de água impliquem em uma diminuição de arrecadação da companhia
prestadora de serviços de água e esgoto, apesar da rede coletora de esgotos em Joinville
atingir somente cerca de 10% da comunidade (ARGOLO, 2004).
Esta questão foi respondida por 31 atores sociais e os aspectos positivos citados foram:
redução dos custos com água tratada (26% das citações); preservação dos recursos hídricos
(21%); aumentar a disponibilidade de água (20%); redução das enchentes (14%);
conscientização da comunidade (7%); economia de investimentos públicos (6%);
facilidade de instalação (2%); boa qualidade da água (2%) e desenvolvimento tecnológico
(2%).
158
Cabe ressaltar que muitos entrevistados citaram mais de um aspecto positivo para o
aproveitamento da água de chuva em Joinville (Tabela 20).
Pela análise dos dados obtidos por esta questão pode-se perceber que os aspectos mais
citados foram a redução dos custos com água tratada, a preservação dos recursos hídricos e
o aumento da quantidade de água disponível para o uso.
A redução de custos com a água tratada fornecida pela companhia prestadora de serviços
de água e esgoto ocorre principalmente nas épocas do ano em que a incidência de chuvas
na região é maior, sendo possível a manutenção do nível da cisterna. Com a utilização da
água de chuva para finalidades onde não há necessidade de se utilizar a água tratada
fornecida pela prestadora de serviços, o consumo de água tratada diminui e os custos
conseqüentemente também. Pode-se considerar também a utilização da água de chuva
como contribuição para minimizar a superexploração dos mananciais, contribuindo para a
preservação dos recursos hídricos disponíveis na região, pelo aumento da disponibilidade
de água.
Outro aspecto positivo citado foi a contribuição para evitar a ocorrência de enchentes, uma
vez que a água captada e acumulada nos lotes não escoaria para as galerias pluviais,
evitando sobrecarregar o sistema de drenagem pluvial nos eventos de chuvas intensas.
A utilização da água de chuva como fonte alternativa deste recurso também poderia
contribuir, segundo os atores sociais, para a conscientização da comunidade no que se
refere à valorização dos recursos hídricos, salientando a importância do uso controlado.
159
A economia de investimentos públicos, segundo os entrevistados, refere-se basicamente a
possibilidade de suprir a demanda de água de bairros afastados e regiões elevadas onde há
dificuldade de abastecimento pela rede convencional devido à baixa pressão do sistema,
com a utilização desta tecnologia, diminuindo os custos com a ampliação da rede. À
medida que a comunidade passasse a adotar a coleta da água de chuva o volume de água
tratada fornecida pela companhia prestadora de serviços passaria a suprir a demanda de
forma mais abrangente.
Outros aspectos positivos menos citados foram a facilidade de instalação, a boa qualidade
da água de chuva e desenvolvimento tecnológico resultante da implantação desta
tecnologia.
160
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se perceber que, de uma forma geral, as questões ambientais são de interesse da
população, que reconhece a importância da preservação dos recursos naturais e a
necessidade de se desenvolver projetos que abordem estas questões. É importante destacar
que este interesse não parte exclusivamente das instituições ligadas à área ambiental, mas
da comunidade como um todo.
Desta forma pode-se concluir que, a aceitação da utilização da água de chuva como fonte
alternativa de abastecimento de água é bem vista pela maior parte da população, mas para
que possa ser aplicada com sucesso, deve ser acompanhada de um amplo projeto de
educação ambiental e não apenas através da criação de legislação específica, com a
161
imposição por parte do poder público para que a coleta e aproveitamento da água de chuva
sejam realizados, sem que seja considerada a percepção da comunidade em relação ao
tema.
Outro fator interessante que pode ser observado através da análise dos resultados desta
pesquisa é o fato das várias instituições que atuam na área ambiental não desenvolverem as
suas atividades de forma integrada, buscando um sinergismo que alavanque as suas ações.
As ações pontuais realizadas por diferentes instituições e de forma isolada, poderiam fazer
parte de um projeto mais amplo onde fosse estabelecida uma meta em comum.
A parceria entre o poder legislativo e as universidades também poderia ser mais bem
trabalhada, para que a elaboração das Leis e sua regulamentação fossem embasadas em
pesquisas concretas e adequadas à realidade local.
A metodologia adotada nesta pesquisa pode ser utilizada para avaliar a percepção
ambiental entre indivíduos de culturas diferentes e de grupos sócio-econômicos que
desempenham funções distintas no plano social, servindo como ferramenta para o
desenvolvimento de políticas públicas onde a gestão participativa é valorizada. Estes
programas, por contarem com a participação da comunidade na sua elaboração atendem
diretamente aos interesses da sociedade de forma geral e tem maiores possibilidades de
sucesso.
162
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SÃO PAULO. Lei municipal n.º 13.276, de 4 de janeiro de 2002. Torna obrigatório a
execução de reservatório para as águas coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes,
edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500 m2. Diário Oficial do
Município, São Paulo, jan. 2002.
TERNES, Apolinário. História de Joinville: uma abordagem crítica. Joinville: Ed. Meyer,
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171
TOMAZ, P. Aproveitamento de água de chuva para áreas urbanas e fins não potáveis. São
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Vancouver. Disponível em: <http://www.cityfarmer.org/rainbarrel72.html>. Acesso em: 2
dez. 2003.
172
GLOSSÁRIO
Assoreamento: Processo em que lagos, rios, baías e estuários vão sendo aterrados pelos
solos e outros sedimentos neles depositados pelas águas das enxurradas, ou por outros
processos.
Bacia Hidrográfica: Bacia hidrográfica Conjunto de terras drenadas por um rio principal e
seus afluentes. A noção de bacias hidrográfica inclui naturalmente a existência de
cabeceiras ou nascentes, divisores d'
água, cursos d'
água principais, afluentes, subafluentes,
etc. Em todas as bacias hidrográficas deve existir uma hierarquização na rede hídrica e a
água se escoa normalmente dos pontos mais altos para os mais baixos. O conceito de bacia
hidrográfica deve incluir também noção de dinamismo, por causa das modificações que
ocorrem nas linhas divisórias de água sob o efeito dos agentes erosivos, alargando ou
diminuindo a área da bacia.
173
Biodiversidade: Termo que se refere à variedade de genótipos, espécies, populações,
comunidades, ecossistemas e processos ecológicos existentes em uma determinada região.
Pode ser medida em diferentes níveis: genes, espécies, níveis taxonômicos mais altos,
comunidades e processos biológicos, ecossistemas, biomas, e em diferentes escalas
temporais e espaciais.
174
Empreendimento: é definido como toda e qualquer ação física, pública ou privada que,
com objetivos sociais ou econômicos específicos, cause intervenções sobre o território,
envolvendo determinadas condições de ocupação e manejo dos recursos naturais e
alteração sobre as peculiaridades ambientais.
Entorno: Área que circunscreve um território, o qual tem limites estabelecidos, por
constituir espaço ambiental ou por apresentar homogeneidade de funções.
Jusante: "Qualificativo de uma área que fica abaixo de outra à qual se refere. De uso
comum ao se considerar uma corrente fluvial. Costuma-se empregar a expressão relevo de
jusante para se descrever uma região que está numa posição mais baixa em relação a uma
mais elevada. É o oposto de montante" (MILARÉ, 2000).
175
Lençol Freático: A água infiltra-se no solo em um nível variável, chamado nível
hidrostático, o qual acompanha a topografia. O lençol freático corresponde à faixa de água
mais próxima à superfície e que pode ser aproveitada por meio de poços. O lençol
artesiano é o que fica retido sob pressão abaixo de uma camada impermeável. Pode
permanecer retido no subsolo ou jorrar através de poços artesianos.
Manejo dos Recursos Naturais: É o ato de intervir, ou não, no meio natural com base em
conhecimentos científicos e técnicos, com o propósito de promover e garantir a
conservação da natureza. Medidas de proteção aos recursos, sem atos de interferência
direta nestes, também fazem parte do manejo.
Matas Ciliares: Mata que margeia rio, riacho ou córrego. Funciona como cílios retendo a
água.
Meio Ambiente: Tudo o que cerca o ser vivo, que o influencia e que é indispensável à sua
sustentação. Estas condições incluem solo, clima, recursos hídricos, ar, nutrientes e os
outros organismos. O meio ambiente não é constituído apenas do meio físico e biológico,
mas também do meio sócio-cultural e sua relação com os modelos de desenvolvimento
adotados pelo homem.
176
variável ou atributo ambiental, que forneça uma visão sinóptica ou uma amostra
representativa do meio ambiente.
Plano de Manejo: Documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos
gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que
devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, incluindo a implantação das
estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade, segundo o Roteiro Metodológico.
Poço Artesiano: Mais profundo que os comuns, pode ter profundidade de 100 a 1.500
metros e vazão de água até mil vezes superior que o comum: 2 m3 (2 mil litros) em média.
A vida útil fica por volta de 40 anos. Não requer bombas, porque a água jorra.
177
Poço Comum: com até 20 metros de profundidade. Os poços comuns mais profundos,
com até 30 metros de profundidade costumam ser chamados comercialmente de micro-
artesianos.
Qualidade Ambiental: O termo pode ser conceituado como juízo de valor atribuído ao
quadro atual ou às condições do meio ambiente. A qualidade do ambiente refere-se ao
resultado dos processos dinâmicos e interativos dos componentes do sistema ambiental, e
define-se como o estado do meio ambiente numa determinada área ou região, como é
percebido objetivamente em função da medição de qualidade de alguns de seus
componentes, ou mesmo subjetivamente em relação a determinados atributos, como a
beleza da paisagem, o conforto, o bem-estar.
Qualidade de Vida: São aqueles aspectos que se referem às condições gerais da vida
individual e coletiva: habitação, saúde, educação, cultura, lazer. alimentação, etc. O
conceito se refere, principalmente, aos aspectos de bem-estar social que podem ser
instrumentados mediante o desenvolvimento da infra-estrutura e do equipamento dos
centros de população, isto é dos suportes materiais do bem-estar.
178
Recurso Natural: Toda matéria e energia que ainda não tenha sofrido um processo de
transformação e que é usada diretamente pelos seres humanos para assegurar as
necessidades fisiológicas, socioeconômicas e culturais, tanto individual quanto
coletivamente.
179
APÊNDICE A
182
APÊNDICE B
O que é?
Este trabalho busca avaliar a opinião dos diferentes atores sociais no município de Joinville – SC, a respeito
da possibilidade de implantação de sistemas de captação e aproveitamento de água de chuva na cidade, como
uma opção de fonte alternativa de recursos hídricos.
Onde?
A área de estudo é o município de Joinville, localizado na região norte do estado de Santa Catarina.
Por que?
Joinville é a maior cidade do estado de Santa Catarina. A degradação ambiental e o aumento da demanda de
recursos hídricos, ocasionado pela crescente industrialização e também pelo consumo doméstico, colocam
em risco o fornecimento de água na cidade. A água de chuva é um recurso disponível e abundante na cidade
de Joinville, visto que o seu potencial pluviométrico é elevado. Outro fator de relevante importância na
escolha da área de estudo trata-se das enchentes constantes que ocorrem na cidade e os transtornos que estas
enchentes acarretam à sociedade. Desta forma, por meio deste trabalho, busca-se avaliar a possibilidade de
implantação de sistemas de aproveitamento de água da chuva como forma de minimizar o impacto das
enchentes e ao mesmo tempo oferecer uma fonte alternativa de recursos hídricos.
Como?
Para que se possa verificar a viabilidade da implantação de sistemas de captação e aproveitamento de água da
chuva no município de Joinville, é importante determinar qual o posicionamento da sociedade em relação ao
tema proposto. Por meio da aplicação deste questionário, poderão ser levantadas algumas informações
básicas como:
• a identificação dos atores sociais envolvidos com a problemática da água no município de Joinville;
• a relação do poder público municipal com o abastecimento de água no município;
• as estratégias para a implantação de sistemas de captação e aproveitamento de água da chuva em
Joinville.
Após a conclusão do trabalho, as informações obtidas serão repassadas à comunidade para que esta possa ter
conhecimento das possibilidades de aproveitamento de água da chuva em Joinville.
Para quem?
Este trabalho tem por objetivo levantar, por meio dos representantes de classes ou institucionais, todos os
envolvidos, direta ou indiretamente, com a problemática da água no município de Joinville. A cada um destes
envolvidos é dado o nome de ATOR, e estes atores fazem parte de diversos setores da sociedade como
iniciativa privada, órgãos públicos, organizações ambientalistas, associações de bairros...
Desta forma, para que o trabalho alcance os resultados esperados, é importante a sua participação, assim
como a de todos envolvidos com o tema.
Cada um deve ter consciência da sua importância no contexto do problema, e procurar fazer o melhor
possível para garantir a qualidade de vida para as futuras gerações.
184
PERFIL DO ENTREVISTADO
1. Nome:______________________________________________________
2. Idade: ______________________________________________________
3. Gênero: ( )Masculino ( )Feminino
4. Grau de Escolaridade: ( )Ensino fundamental ( )completo
( )Ensino médio ( )incompleto
( )Ensino superior
( )Pós-graduação
5. Profissão:___________________________________________
6. Estado Civil:_________________________________________
7. Possui filhos: ( )sim ( )não Quantos?_______
PERFIL DA INSTITUIÇÃO
1. Nome:___________________________________________________________
2. Qual o cargo que você ocupa na sua instituição?__________________________
3. Endereço:________________________________________________________
4. Bairro:___________________________________________________________
5. Telefone:_________________________________________________________
6. Endereço eletrônico:________________________________________________
7. Há quanto tempo a sua instituição atua na região?_________________________
“Ator é um indivíduo ou grupo que tem uma parte, interesse ou reivindicação sobre o uso de um recurso ou
ecossistema, e é capaz de identificar a chance de perda deste, em função de alguma tomada de decisão no
tocante a sua utilização.” (Polette, 1997)
Os atores podem ser classificados como:
• Governamentais: instituições que dizem respeito ao poder público municipal, estadual e federal,
neste caso as instituições que têm por função implantar programas de políticas administrativas e que
são de suma importância na resolução dos problemas apontados.
• Não-governamentais: pessoas ou instituições que não tenham vínculo direto com o governo, como
associações de moradores, organizações ambientalistas, etc.
Baseado nestes conceitos, você poderia identificar quais os principais atores responsáveis pelo
abastecimento de água e contenção de enchentes em Joinville?
Instituições Governamentais Instituições Não-Governamentais
1. 1.
2. 2.
3. 3.
4. 4.
5. 5.
6. 6.
7. 7.
8. 8.
9. 9.
10. 10.
185
IDENTIFICANDO OS PROBLEMAS
1. No ponto de vista da sua instituição, quais são os principais problemas relacionados à falta de água no
município de Joinville?
A.
B.
C.
3. No ponto de vista da sua instituição, quais são os principais problemas relacionados as enchentes no
município de Joinville?
A.
B.
C.
5. Qual a influência que a sua instituição possui na geração e na solução destes problemas?
186
4. Você tem conhecimento de alguma medida que esteja sendo tomada pelo poder público municipal para
evitar a falta de água? ( )Sim ( )Não. Quais seriam estas medidas?
5. Você tem conhecimento de alguma enchente/inundação que tenha ocorrido em Joinville nos últimos
anos?
( )Sim ( )Não. Quais foram os bairros atingidos?
6. Você conhece alguma medida que esteja sendo tomada pelo poder público municipal para evitar as
cheias/enchentes? ( )Sim ( )Não. Quais?
1. Você já ouviu falar em sistemas de captação e aproveitamento de água de chuva? O que você sabe a
respeito?
2. Você considera que o aproveitamento de água de chuva pode ser uma alternativa viável para o
abastecimento de água de Joinville? ( )Sim ( )Não Justifique.
3. Você conhece algum outro local onde já exista o aproveitamento de água de chuva?
( )Sim ( )Não. Onde?
187
5. Na sua opinião, quais os usos para os quais poderia ser aproveitada a água de chuva, desde que
devidamente tratada?
6. Você tem conhecimento da legislação da cidade de São Paulo que obriga a construção de reservatórios
para armazenar a água de chuva nos lotes que tenham mais de 500m2 de área pavimentada, como
medida para evitar enchentes? ( )Sim ( )Não. Qual a sua opinião a respeito?
2. Você considera importante a busca por novas fontes de recursos hídricos? Porque?
3. A sua instituição está apta a tratar deste assunto? ( )Sim ( )Não. Qual a contribuição que a sua
instituição poderia oferecer?
188
4. Na sua opinião, quais seriam os atores responsáveis pela implantação das tecnologias para uso racional
de água e pela busca de fontes alternativas de recursos hídricos?
6. Após a conclusão do presente trabalho, de que forma você gostaria de ser informado a respeito dos
resultados obtidos?
( )palestras ( )jornal ( )e-mail:______________________________
( )livretos ( )rádio ( )outros:______________________________
189
APÊNDICE C
HÉLIO BICUDO, Vice-Prefeito, em exercício no cargo de Prefeito do Município de São Paulo, no uso das
atribuições que lhe são conferidas por Lei, faz saber que a Câmara Municipal, em sessão de 27 de dezembro
de 2001, decretou e eu promulgo a seguinte Lei:
Art. 1º - Nos lotes edificados ou não que tenham área impermeabilizada superior a 500m” deverão ser
executados reservatórios para acumulação das águas pluviais como condição para obtenção do
Certificado de Conclusão ou Auto de Regularização previstos na Lei 11.228, de 26 de junho de
1992.
Art. 2º - A capacidade do reservatório deverá ser calculada com base na seguinte equação:
V = 0,15 x Ai x IP x t
§ 1º - Deverá ser instalado um sistema que conduza toda água captada por telhados, coberturas,
terraços e pavimentos descobertos ao reservatório.
§ 2º - A água contida pelo reservatório deverá preferencialmente infiltrar-se no solo, podendo ser
despejada na rede pública de drenagem após uma hora de chuva ou ser conduzida para
outro reservatório para ser utilizada para finalidades não potáveis.
Art. 3º - Os estacionamentos em terrenos autorizados, existentes e futuros, deverão ter 30% (trinta por
cento) de sua área com piso drenante ou com área naturalmente permeável.
Art. 4º - O Poder Executivo deverá regulamentar a presente Lei no prazo de 60 (sessenta) dias.
Art. 5º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
193
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, aos 04 de janeiro de 2002, 448º da fundação de São
Paulo.
Hélio Bicudo,
Prefeito em Exercício
---------------------------------------------------------------------------
194
ANEXO B
Art. 2º. Para os efeitos desta Lei e sua adequada aplicação, são
adotadas as seguintes definições:
Art. 7º. A água das chuvas será captada na cobertura das edificações
e encaminhada a uma cisterna ou tanque , para ser utilizada em atividades
que não requeiram o uso de água tratada, proveniente da Rede Pública de
Abastecimento, tais como:
Art. 12. Esta Lei entra em vigor em 180 (cento e oitenta dias)
contados da sua publicação.
Cassio Taniguchi
PREFEITO MUNICIPAL
197
ANEXO C
202