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ISSN 1519-0412

vol. XV nº 56 jan./abr. 2013

Uma Análise dos Impactos da Adoção das Normas Internacionais de


Contabilidade no Brasil: Um Estudo de Empresas de Capital Aberto
no Setor de Bebidas, Alimentos e Comércio
Registro da Depreciação na Contabilidade Pública: Uma Contribuição
para o Disclosure de Gestão
Adequação das Novas Normativas Contábeis de Controle Patrimonial
à Prática das Pequenas e Médias Empresas
Evidenciação das Fundações Privadas de Belo Horizonte: Prestação
de Contas e Qualidade da Informação
Heritage Assets: Tangíveis ou Intangíveis?
Relação Entre CAPM e Rentabilidade: Um Estudo Setorial em
Empresas Listadas na BM&FBovespa

1
Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

Pensar Corpo Editorial

Co ntábil
Francisco José dos Santos Alves (Rio de Janeiro – RJ)
Editor
Doutor em Contabilidade e Controladoria – FEA/USP, Professor da UNISUAM, Professor e Coordenador do
PPGCC da UERJ
Antonio Miguel Fernandes (Rio de Janeiro – RJ)
Mestre em Ciências Contábeis pela UERJ, Professor da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie Rio, da
EPGE da FGV Management e do CPGE da UCAM
Aroldo José Planz (Rio de Janeiro – RJ)
Expediente Contador, Perito Judicial e Professor Universitário
Conselho Diretor do CRCRJ Diva Maria de Oliveira Gesualdi (Rio de Janeiro – RJ)
Contadora, Pós-Graduada em Gestão Financeira pelo ISEP e em Contabilidade Empresarial pela
UniverCidade e Professora da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie Rio, da UniverCidade, do MBA de
Diva Maria de Oliveira Gesualdi Perícia e de Auditoria e Compliance da Universidade Cândido Mendes
Presidente João Antonio da Silva Cardoso (Rio de Janeiro – RJ)
Contador, Economista, Advogado, Mestre em Sistema de Gestão pela UFF, Professor da FGV, Professor
Vitória Maria da Silva e Coordenador do Curso de Ciências Contábeis da Trevisan Escola de Negócios
Vice-presidente Jorge Ribeiro dos Passos Rosa (Rio de Janeiro – RJ)
Contador, Administrador, Pós-Graduado em Didática de Ensino Superior, Coordenador do Curso de
Aroldo José Planz Graduação em Ciências Contábeis da UFF
VP de Desenvolvimento Profissional José Alonso Borba (Florianópolis – SC)
Doutor em Contabilidade – USP e Professor da UFSC
Francisco José dos Santos Alves Josir Simeone Gomes (Rio de Janeiro – RJ)
Pós-doutor em Controle de Gestão na Universidade Carlos III de Madrid e Professor da UNIGRANRIO
VP de Pesquisa e Estudos Técnicos
Lino Martins da Silva (Rio de Janeiro – RJ) in memoriam
Regina Célia Vieira Ferreira Graduado em Contabilidade pela Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas Moraes Júnior (1967)
e em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1984). Livre Docente pela Universidade Gama
VP Operacional Filho. Professor Adjunto da UERJ e Coordenador Adjunto do Curso de Mestrado em Contabilidade
Carlos Alberto do Nascimento Maria Thereza Pompa Antunes (São Paulo – SP)
Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP e Professora Adjunta da Universidade Presbiteriana
VP de Registro Profissional Mackenzie/FAAP
Nahor Plácido Lisboa (São Paulo – SP)
João Bosco Lopes Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, Professor da FEA/USP e Pesquisador da FIPECAFI
VP de Fiscalização, Ética e Disciplina Sandra Maria dos Santos (Fortaleza – CE)
Pós-Doutora em Economia Regional e Urbana pela UFPE/PIMES, Doutora em Economia Industrial
Claudio Vieira Santos pelaUFPE/PIMES e Editora Chefe da Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão
VP de Interior Waldir Jorge Ladeira dos Santos (Rio de Janeiro – RJ)
Doutor em Políticas Públicas e Formação Humana pela UERJ, Mestre em Contabilidade
Ana Cláudia Lima Corrêa Financeira pela UERJ, Professor da UERJ, da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie Rio e da EPGE
da FGV Management
VP de Controle Interno

Conselho Regional de Contabilidade Consultores Ad Hoc


do Estado do Rio de Janeiro Adolfo Henrique Coutinho e Silva (Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/
Rua Primeiro de Março, 33 – Centro – Rio de Janeiro – RJ USP, Professor Adjunto da FAF/UERJ), Andre Carlos Busanelli de Aquino (Doutor em
CEP: 20.010-000 • tel.: (21) 2216-9595 • fax: (21) 2216-9607 Ciências Contábeis - FEA/USP, Professor Associado da FEA-RP/USP), Aracéli Cristina
www.crc.org.br de Sousa Ferreira (Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professora
Envio de artigos e assinatura: pensarcontabil@crcrj.org.br Titular da UFRJ), Francisco Antônio Bezerra (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/
Data de impressão: abril/2013
Tiragem: 2.000 exemplares
USP, Professor Permanente no PPGCC/FURB), Jorge Vieira da Costa Junior (Doutor
em Controladoria e Contabilidade pela USP), Jose Augusto Veiga da Costa Marques
ISSN 1519-0412
(Pós-Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP, Professor Associado da
Distribuição: por assinatura anual (R$ 16,00)
Atendimento ao assinante •tel.: (21) 2216-9608 / fax: (21) 2216-9607 FACC/UFRJ), José Maria Dias Filho (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela
USP, Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Contábeis da UFBA), Marcelo Coletto
Pohlmann (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Adjunto da
“As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade de seus PUC-RS), Natan Szuster (Doutor em Contabilidade pela USP, Pós-Doutor pela University
autores. É permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada a fonte.” of Illinois at Urbana-Champaign, Professor da FACC/UFRJ), Poueri do Carmo Mario
(Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Adjunto do Departamento de
Ciências Contábeis da UFMG), Ricardo Lopes Cardoso (Doutor em Ciências Contábeis
Produção Editorial e Design: Cajá – Agência de Comunicação pela FEA/USP, Professor Adjunto da EBAPE/FGV e da FAF/UERJ, Pesquisador Produtividade
Jornalista responsável: Bruno Chuairi (Mtb15963/97/79)
Impressão: Gráfica Sumaúma CNPQ nível 2), Simone Silva da Cunha Vieira (Doutora em Ciências Contábeis pela FEA/
Apoio administrativo: Maria de Fátima Gomes Bacelo, USP, Professora Adjunta da UERJ),Vinícius Aversari Martins (Doutor em Controladoria
Alex da Silva Peccini e Patrícia Silva e Contabilidade pela USP, Professor Doutor da FEA-RP/USP)
CONCEITO QUALIS/CAPES: B3
Esta revista está indexada em www.atena.org.br, www.latindex.org e www.sumarios.org.

Ficha catalográfica

P418 Pensar Contábil, v. 1, n.1, ago. 1998-.


- Rio de Janeiro: CRCRJ, 1998-.

Quadrimestral
ISSN 1519-0412

1.Contabilidade. I.Conselho Regional de
Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro
CDU – 657
CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Editorial

Nossa hora!
Ainda encontramos muitos colegas de profissão arredios às Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório
atuais normas de contabilidade, que ainda insistem em acreditar Contábil-Financeiro (The Conceptual Framework for Financial
que tudo continua como antes – ledo engano! Mudamos e esta- Reporting), Resolução CFC 1.374/11. Já não cabe alegar des-
mos mudando a cada dia, aperfeiçoando as normas contábeis, conhecimento, tamanha a quantidade de literatura disponível
publicando artigos de alto nível profissional e acadêmico, tendo sobre os novos assuntos, inclusive contando com os artigos que
acesso a inúmeras literaturas que tratam da matéria contábil, apresentamos nesta edição que tratam das mudanças nas prá-
vários cursos de aperfeiçoamento, reuniões em associações da ticas contábeis, do aprimoramento da contabilidade pública, do
classe contábil, entre outras ações que percebo. Entendo que a controle e precificação dos ativos imobilizados e da identificação
hora é nossa, já sabemos o que devemos e não devemos fazer, do nível de evidenciação contábil em nossas demonstrações.
não há volta e contamos com o apoio de nossos Conselhos Nesta nossa empreitada diária de aprender e ensinar, re-
como o próprio Conselho Federal de Contabilidade, que lançou ceber e repartir, deixo a todos uma reflexão (Bacelli Carlos A.
a campanha “2013 – Ano da Contabilidade”, no intuito de valori- e José. Irmão 2012): “O sábio fala muito em poucas palavras;
zar o profissional contábil que, salvo melhor juízo, nunca foi tão o homem culto gasta muitas palavras para dizer pouco. A li-
motivado em ações de tamanha envergadura. ção só termina quando cumpre o papel de ensinar”.
Diante de tantas oportunidades, como é bom ser profissional Uma boa leitura e um forte e fraterno abraço a todos.
da contabilidade, olhar para trás e ver o quanto caminhamos e Saudações Acadêmicas.
saber que nossas pegadas estão lá, marcando o caminho para
aqueles que nos seguem – olhe a nossa responsabilidade! –
olhe o nosso progresso!
Percebo que o trabalho que estamos realizando é útil, ou me- Francisco José dos Santos Alves
lhor, possui representação fidedigna e relevância, como prevê a Editor

Sumário Summary
Uma Análise dos Impactos da Adoção das Normas Internacionais de An Analysis of the Impacts of the Adoption of International Accounting
Contabilidade no Brasil: Um Estudo de Empresas de Capital Aberto Standards in Brazil: A Study of Publicly Traded Companies
no Setor de Bebidas, Alimentos e Comércio 4 in the Beverage, Food and Trade 4

Thiago de Abreu Costa, Sidmar Roberto Vieira Almeida Thiago de Abreu Costa, Sidmar Roberto Vieira Almeida
e Adolfo Henrique Coutinho e Silva and Adolfo Henrique Coutinho e Silva

Registro da Depreciação na Contabilidade Pública: Record Depreciation in Public Accounting:


Uma Contribuição para o Disclosure de Gestão 14 A Contribution to the Disclosure Management 14

Erivelton Araújo Graciliano e Wilton Clarimar Dutra Fialho Erivelton Araújo Graciliano and Wilton Clarimar Dutra Fialho

Adequação das Novas Normativas Contábeis Adequacy of the New Standards of Patrimonial Accountingt
de Controle Patrimonial à Prática das Pequenas e Médias Empresas 22 to the Practice of Small and Medium Enterprises 22
Gert Rudolfo Klein Júnior e Ângela Rozane Leal de Souza Gert Rudolfo Klein Júnior and Ângela Rozane Leal de Souza

Evidenciação das Fundações Privadas de Belo Horizonte: Disclosure in Belo Horizonte’ Private Foundations:
Prestação de Contas e Qualidade da Informação 29 Accountability and Quality of Information 29

Poueri do Carmo Mário, Cleberson Luiz Santos de Paula, Aléxica Poueri do Carmo Mário, Cleberson Luiz Santos de Paula, Aléxica
Dias de Freitas Alves e Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe Dias de Freitas Alves and Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe

Heritage Assets: Tangíveis ou Intangíveis? 42 Heritage Assets: Tagible or Intagible? 42


Erivan Ferreira Borges, Jomar Miranda Rodrigues, Maurício Corrêa
Erivan Ferreira Borges, Jomar Miranda Rodrigues, Maurício Corrêa
da Silva, Gilmara Mendes da Costa Borges e Edilson Paulo
da Silva, Gilmara Mendes da Costa Borges and Edilson Paulo
Relação Entre CAPM e Rentabilidade: Um Estudo Setorial Relationship Between CAPM and Profitability:
em Empresas Listadas na BM&FBovespa 48 A Sectoral Study in Companies Listed on the BM&FBovespa 48

Ieda Margarete Oro, Leossania Manfroi e Jorge Ribeiro Toledo Filho Ieda Margarete Oro, Leossania Manfroi and Jorge Ribeiro Toledo Filho
Uma publicação do

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 3 , jan./abr. 2013 3


Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

2º lugar no XII Prêmio Contador Geraldo de La Rocque - 2011

Uma Análise dos Impactos da


Adoção das Normas Internacionais
de Contabilidade no Brasil: Um
Estudo de Empresas de Capital
Aberto no Setor de Bebidas,
Alimentos e Comércio
Thiago de Abreu Costa Finlândia, França, Grécia, Holanda, Itália, Noruega, Reino
Rio de Janeiro – RJ Unido, Suíça) abordando o processo de convergência das
Mestre em Ciências Contábeis pela UERJ1 normas contábeis locais para o padrão internacional, des-
thiago.abreu.adm@gmail.com tacam que os padrões contábeis anteriormente adotados
são, geralmente, mais conservadores que o novo padrão
com as normas contábeis internacionais. Os resultados
Sidmar Roberto Vieira Almeida da pesquisa demonstram: (a) uma redução de 27,6% no
Rio de Janeiro – RJ lucro líquido de 2008 (1ª fase do processo de conver-
Mestre em Ciências Contábeis pela UERJ1 gência) e um aumento de 1,4% no lucro líquido de 2009
sid.adm@ig.com.br (2ª Fase), ambos estatisticamente significativos (nível de
significância de 10%); (b) uma redução de 0,3% no patri-
Adolfo Henrique Coutinho e Silva mônio líquido de 2008 (1ª Fase), um aumento de 0,6% no
Rio de Janeiro – RJ patrimônio líquido de 2008 (2ª Fase) e um aumento de 5%
Doutor em Controladoria pela FEA/USP2 no patrimônio líquido de 2009, todos não estatisticamente
adolfocoutinho@uol.com.br significativos; e (c) o retorno sobre o patrimônio líquido foi
alterado de -132% para 26% na 2ª fase do processo de
convergência (e de 3% para 4% na 1ª fase). Este estudo
Resumo contribui para analisar as mudanças nas práticas contá-
O objetivo do presente estudo foi verificar se existem beis que podem afetar os usuários da informação contábil
diferenças significativas entre o valor do patrimônio líqui- no processo decisório. Além disso, por se tratar de uma
do, do lucro líquido e do retorno sobre patrimônio líquido análise setorial, o estudo propicia uma visão mais qua-
(ROE) apurado nos anos de 2008 e 2009, período de tran- lificada das alterações contábeis mais influentes para o
sição, sob padrões contábeis distintos (IFRS e BRGAAP) setor em questão.
das empresas de capital aberto pertencentes ao segmen- Palavras-chave: Contabilidade Societária; Normas
to de bebidas, alimentos e comércio. Complementarmen- Internacionais de Contabilidade; Harmonização Contábil.
te, buscou-se identificar quais mudanças de práticas con-
tábeis foram mais significativas e frequentes no período Abstract
analisado. A amostra foi composta por 14 empresas de The goal of this study was to verify if there are significant
capital aberto listadas na Bovespa. Em relação à meto- differences between the value of the net equity, net
dologia, trata-se de uma pesquisa qualitativa e quantitati- profit and return on equity (ROE) established in the
va, utilizando teste de diferença de médias (t de Student years 2008 and 2009, the transitional period, under different
e Wilcoxon) e o ICPI (Índice de Comparabilidade Parcial accounting standards (IFRS and BRGAAP) of publicly
Inverso). Estudos anteriores, realizados em países da Eu- traded companies belonging to the segment of drinks, food
ropa (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, and trade. In addition, sought to identify what changes in

1
UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - CEP. 20550-013 - Rio de Janeiro - RJ.
2
FEA/USP - Faculdade de Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - CEP. 05508-010 - São Paulo – SP.
Artigo recebido em 31/08/2011 e aceito em 26/02/2013.

4 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 4 - 13, jan./abr. 2013


CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Uma Análise dos Impactos da Adoção das Normas Internacionais de Contabilidade no Brasil:
Um Estudo de Empresas de Capital Aberto no Setor de Bebidas, Alimentos e Comércio

accounting practices were more significant and frequent do, do lucro líquido e do retorno sobre patrimônio líquido
in the period under examination. The sample was composed (ROE) apurado nos anos de 2008 e 2009, período de tran-
of 14 publicly traded companies listed on Bovespa. In sição, sob padrões contábeis distintos (IFRS e BRGAAP)
relation to methodology, it is a quantitative and qualitative das empresas de capital aberto pertencentes ao segmen-
research, using average difference test (Student's t and to de bebidas, alimentos e comércio.
Wilcoxon) and the ICPI (inverse partial comparability Esta pesquisa foi motivada pela grande ênfase que tem sido
index).Previous studies in European countries (Germany, dada a adequação aos padrões internacionais de contabilida-
Austria, Belgium, Denmark, Spain, Finland, France, de e tem como objetivo mensurar a relevância dos impactos
Greece, Holland, Italy, Norway, Switzerland, United oriundos da adoção das novas normas nas demonstrações
Kingdom), addressing the process of convergence of contábeis das empresas do setor de bebidas, alimentício e
accounting standards for local, international standard de comércio, listadas na Bolsa de Valores de São Paulo, com
accounting standards highlight that previously adopted are base nas Demonstrações Financeiras Padronizadas de 2008 e
generally more conservative than the new standard with 2010, considerando os quadros de conciliação divulgados refe-
the international accounting standards. The search results rentes aos anos de 2008 e 2009. Ao identificar estes impactos,
show: (a) a reduction of 27.6% in net income for 2008 (1st este trabalho objetiva contribuir com informações qualitativas
stage of the process of convergence) and an increase of para uma análise financeira dos stakeholders.
1.4% in net income for 2009 (2nd Phase), both significant Este estudo é relevante, uma vez que mudanças nas prá-
statistically (significance level of 10%); (b) a decrease of ticas contábeis podem afetar medidas contábeis que são uti-
0.3% on equity of 2008 (1st Phase), an increase of 0.6% lizadas pelos usuários da informação contábil para municiar
in the equity of 2008 (2nd Phase) and an increase of 5% seu processo decisório. Além disso, por se tratar de uma aná-
on equity of 2009, not all statistically significant; and (c) lise setorial, propicia uma visão melhor sobre quais alterações
the return on equity was changed from -132% to 26% in contábeis foram mais impactantes no setor em questão.
the second. stage of the process of convergence (and 3% Além desta Introdução, o presente artigo está estrutura-
to 4% in the 1st phase). This study contributes to analyze do nas seguintes seções, a revisão da literatura apresenta
changes in accounting practices that may affect users of os resultados observados em estudos anteriores sobre a
accounting information in the decision-making process. convergência para o IFRS, bem como um breve histórico
Moreover, a sectorial analysis, the study provides an do processo de convergência no Brasil; em seguida são
insight into the most qualified of the most influential apresentados os procedimentos metodológicos adotados
accounting changes for the sector in question. na coleta e análise dos dados. A seção 4 apresenta as
Key words: Corporate Accounting; International análises qualitativa e quantitativa dos dados, e, por últi-
Accounting Standards; Accounting Harmonisation mo, a seção 5 apresenta as considerações finais sobre os
resultados observados no estudo.
1. Introdução
Como decorrência da globalização e integração econô- 2. Revisão da Literatura
mica, a busca por uma maior transparência e comparabi- 2.1. Estudos Anteriores
lidade das informações financeiras é essencial. A conver- CORDAZZO (2007) analisou 178 empresas corres-
gência das normas contábeis, tornando-a uma linguagem pondentes aos segmentos de serviço e industrial listadas
única e inteligível, pode reduzir a assimetria informacio- na Bolsa de Valores da Itália, as quais implementaram
nal, aumentando a transparência e a comparabilidade das os IFRS até 31 de outubro de 2006. Através de quadros
informações contábeis. conciliatórios contidos nas demonstrações financeiras,
Neste contexto, em 28 de dezembro de 2007, foi pro- constatou-se que um impacto significativo e positivo no lu-
mulgada no Brasil, a Lei nº 11.638 que alterou, revogou cro líquido oriundo principalmente da adoção das normas
e introduziu novos dispositivos à Lei das Sociedades por referentes à combinação de negócio e ativos intangíveis.
Ações, notadamente em relação ao capítulo XV, sobre Provisões contábeis e instrumentos financeiros também
matéria contábil. Essa nova legislação tem, principalmen- impactaram significativamente, porém de forma negativa,
te, o objetivo de atualizar a legislação societária brasileira o lucro líquido das empresas da amostra.
para possibilitar o processo de convergência das práticas CALLAO et al. (2007) apresentou um estudo sobre a im-
contábeis adotadas no Brasil com aquelas constantes nas plementação do IFRS na Espanha. Para isto, utilizou-se da
Normas Internacionais de Contabilidade – International amostra composta por empresas que compõem o IBEX-35,
Financial Reporting Standards (IFRS) –, emitidas pelo focando nos efeitos de novos padrões de comparabilidade
International Accounting Standards Board (IASB), órgão e relevância nas demonstrações financeiras espanholas.
responsável pela elaboração dos padrões contábeis inter- Houve melhoria na relevância das informações financeiras,
nacionais, e permitir que as novas normas e procedimen- principalmente, para os operadores no mercado de ações.
tos contábeis sejam expedidos pela Comissão de Valores Acredita-se que embora, não tenha havido nenhum ganho
Mobiliários (CVM) em consonância com os padrões inter- em termos de utilidade dos relatórios financeiros no curto
nacionais de contabilidade. prazo, isso poderá ser conquistado no médio e longo prazo.
O objetivo do presente estudo foi verificar se existem IATRIDIS e ROUVOLIS (2009) estudaram o efeito da
diferenças significativas entre o valor do patrimônio líqui- implantação do IFRS na Grécia. A amostra era composta

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 4 - 13, jan./abr. 2013 5


Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

Thiago de Abreu Costa Sidmar Roberto Vieira Almeida Adolfo Henrique Coutinho e Silva

por 254 empresas listadas na Bolsa de Valores local. O contábeis, o que facilitaria a comunicação e contribuiria para
estudo apresenta, entre outras conclusões, que os resul- suprimir as diferenças internacionais nos relatórios financeiros.
tados financeiros apurados com base no GAAP grego são
significativamente diferentes daqueles com base no IFRS, 2.2. Processo de convergência das normas
sendo que os resultados gerados sob as normas do IASB contábeis brasileiras para o padrão internacional
mostram um grau de alavancagem elevado, maior valor A Lei nº 11.638/07 atualizou e modificou diversos dispo-
líquido por ação e maior market to book value. sitivos da Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/76)
Todavia, a opinião de que o padrão IFRS é complexo, one- sob a ótica de elaboração e divulgação das demonstrações
roso, com destaque para a falta de conhecimentos e diretrizes contábeis. Esta Lei foi publicada no último dia útil de 2007
para uniformizar a interpretação dessas informações, foram com vigência já no ano de 2008, o que gerou enorme ques-
apresentadas nos estudos sobre os seguintes países: Reino tionamento não somente dos efeitos das novas normas nos
Unido (FEARNLEY 2007), Áustria, Bélgica, Dinamarca, Fran- relatórios financeiros, mas também em relação à atuação e a
ça, Alemanha, Reino Unido e Holanda (JERMAKOWICZ 2006). capacitação dos profissionais de contabilidade.
SODERSTROM (2007) avaliou que entre as décadas de Como forma de auxiliar neste processo de mudança, o
1970 e 1980, a União Europeia emitiu uma série de dire- Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), órgão cria-
trizes para harmonizar os demonstrativos contábeis, que do em 2005 e fruto da união dos esforços e comunhão de
representavam um esforço para reduzir a diversidade e fa- objetivos de várias entidades relacionadas à contabilida-
cilitar o entendimento das informações no mercado finan- de no país, e responsável pelo estudo, preparo e emissão
ceiro. A harmonização contábil teve progresso ao longo da de pronunciamentos técnicos de contabilidade no Brasil,
década de 1990, com a criação do IAS, unificação da moe- editou vários pronunciamentos no sentido de possibilitar a
da na União Europeia e mudanças políticas. Apesar de não emissão de normas pelas entidades reguladoras e orientar
ser obrigatória antes de 2005, na década de 1990 muitas o seu cumprimento.
firmas estabelecidas em países europeus começaram a O processo de convergência ocorreu em duas fases. A figura a
usar o IAS como substituto dos padrões contábeis locais. seguir apresenta graficamente o processo de convergência.
CALIXTO (2010) indica que até o final de 2007, mais A primeira fase de implementação das normas internacio-
de 100 países já haviam adotado o IFRS oficialmente. Em nais de contabilidade se restringiu a aplicação dos CPCs até
2008, a Securitiesand Exchange Commission (SEC) tam- então divulgados (1 ao 14) que regulamentaram aspectos da
bém indicou que o IFRS está se tornando operacional na nova lei para o ano de 2008 e facultou a adoção para o ano
maioria das economias do mundo e o requerimento de de 2007, de acordo com o CPC 13 1.
reconciliação de relatórios está se tornando irrelevan- Até 31 de dezembro de 2009, as demonstrações finan-
te. O International Organization of Security Commission ceiras das companhias eram apresentadas de acordo com
(IOSCO) também está planejando monitorar o grau de as práticas contábeis adotadas no Brasil, normas comple-
conformidade com o IFRS (Quadro 1). mentares da CVM, pronunciamentos técnicos do CPC até
Segundo CHEN et al. (2008), de maneira geral, houve 31 de dezembro de 2008 e disposições contidas na Lei das
um ganho de qualidade da contabilidade com a adoção do Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/76).
IFRS, após realizar uma pesquisa utilizando modelos de re- A segunda fase ocorreu no ano de 2009. Ao longo de
gressão múltipla aplicados em uma amostra de 47.825 em- 2009, foram emitidos os demais CPCs, Pronunciamentos,
presas no período de 2000 a 2007 em 15 diferentes países. Interpretações e Orientações com vigência para os exer-
NIYAMA (2005) credita ao crescente desenvolvimento tecno- cícios sociais iniciados a partir de 1º de janeiro de 2010.
lógico e do comércio internacional, associado a uma maior in- A CVM através da deliberação nº 603 parágrafo 3º
terdependência das nações, a necessidade das harmonizações estabeleceu que:

Quadro 1: Temas de pesquisa sobre harmonização contábil internacional

Período Inicial Período Intermediário Período de Maturidade


(1956 – 1973) (1974 – 1989) (1990 – 2004)
Uniformidade Contábil Uniformidade Contábil
Uniformidade Contábil
Estrutura Conceitual Estrutura Conceitual
Estudos Comparativos
Estudos Comparativos
Estudos Comparativos Fatores relacionados com o ambiente
Fatores relacionados com o ambiente
Comparação da relevância IAS versus US GAAP
Estudo sobre diretrizes contábeis
Reflexões sobre o processo Estudo sobre diretrizes
Mensuração da extensão da harmonização
de harmonização contábil contábeis do IASC
Implementação do IAS/IFRS em diferentes países
Fonte: Adaptado de Baker e Barbu (2007, p. 292) apud Calixto (2010)

1
“Embora desobrigadas de reapresentação das cifras comparativas, as entidades podem optar por efetuar a reapresentação” fonte: CPC13.

6 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 4 - 13, jan./abr. 2013


CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Uma Análise dos Impactos da Adoção das Normas Internacionais de Contabilidade no Brasil:
Um Estudo de Empresas de Capital Aberto no Setor de Bebidas, Alimentos e Comércio

Figura 1: Esquema gráfico das alterações das normas contábeis no Brasil

1ª Fase – 2ª Fase – Implementação


Criação do CPC Lei 11638/07
CPC 1 ao 14 CPC 15 ao 41 Completa
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Df’s baseadas na Período de Transição Df’s baseadas nas


Lei nº 6404/76 DF’s baseadas na Lei nº 11638/07 e IFRS/CPCs normas IFRS/CPC

Fonte: Elaborada pelos autores

“As companhias abertas podem adotar antecipadamente, nas de- mais amplo em decorrência da limitação de tempo e de
monstrações financeiras de 2009, os Pronunciamentos, Interpre- recursos. Dentro do referido setor, foram selecionadas as
tações e Orientações do CPC, aprovados pela CVM, com vigên- empresas de capital aberto listadas na Bolsa de Valores
cia para os exercícios sociais iniciados a partir de 1º de janeiro de de São Paulo, com registro e sujeitas a regulamentação
2010, desde que sejam aplicados na sua totalidade e estendidos,
da Comissão de Valores Mobiliários (www.cvm.org.br),
ainda, às demonstrações financeiras de 2008 apresentadas, para
fins comparativos, em conjunto com as demonstrações de 2009”.
uma vez que as mesmas possuem divulgações públicas
de suas demonstrações financeiras, disponíveis para con-
Poucas empresas adotaram antecipadamente os padrões sulta por qualquer usuário.
contábeis internacionais. As empresas adotaram de forma Para elaboração deste estudo foram utilizados elemen-
completa os CPCs apenas nas Demonstrações Financeiras tos da população com pelo menos uma característica em
de 2010, efetuando os ajustes de forma retroativa. Os refle- comum (FONSECA e MARTINS, 1996). Neste estudo, a
xos destes ajustes foram divulgados nas notas explicativas característica concentrou-se em empresas de capital aber-
em um quadro de conciliação dos efeitos no patrimônio líqui- to, regulamentadas pela Comissão de Valores Mobiliários
do para os anos de 2008 e 2009, e o do lucro líquido de 2009. (CVM) que reapresentaram nas suas demonstrações finan-
Em 2010, o CPC 37 exigiu que as entidades desen- ceiras padronizadas e os efeitos decorrentes da aplicação
volvessem políticas contábeis baseadas no padrão e in- dos CPCs no setor de bebida, alimentos e comércio.
terpretações do CPC e IASB em vigor na data de encer- O setor analisado é composto por 33 empresas de capital
ramento de sua primeira demonstração financeira, e que aberto, sendo distribuídas nos seguintes subsetores de acordo
essas políticas fossem aplicadas na data de transição e com a base de dados da Economática (9 empresas de gêneros
durante os períodos apresentados nas demonstrações em alimentício, 5 empresas classificadas como abatedouro, 5 moi-
CPC (aplicação de todas as normas) e IFRS. nhos de grãos, 8 lojas de roupas e de departamentos, 5 de bens
As novas práticas contábeis contidas nos pronunciamentos de consumo e 1 de produtos farmacêuticos).
técnicos CPC 15 ao CPC 41 e 43 foram majoritariamente ado- Dessas empresas, foram eliminadas aquelas que não
tadas pelas Companhias no exercício social findo em 31 de reapresentaram os efeitos da adoção dos CPCs, ou que ain-
dezembro de 2010, aplicados retroativamente a todos os pe- da não haviam sido constituídas até o ano de 2008, ou ainda
ríodos comparativos apresentados, optando pela transição em as que adotaram de forma antecipada os CPCs no período
01/01/09, data em que foram preparados os balanços patrimo- citado. Também foram excluídas da amostra as empresas
niais de abertura de acordo com as novas práticas contábeis. que tiveram seu registro cancelado na CVM até o ano de
2010, incluindo as que não tinham apresentado as demons-
3. Metodologia trações financeiras relacionadas a este período findo até a
Do ponto de vista metodológico, este estudo é ca- data de corte (30/06/2011), definida para a coleta de dados.
racterizado como empírico de caráter descritivo, que visa Por fim, foram excluídas empresas que não apresentaram
observar, analisar e correlacionar fenômenos sem inter- em suas demonstrações financeiras as informações neces-
ferir no ambiente analisado (GIL 1994). Adicionalmente, sárias para a realização da pesquisa e que mencionaram
utilizam-se técnicas de coleta, tratamento e análise de não haver diferença nas suas demonstrações após a apli-
dados marcadamente quantitativos (MARTINS 2000). cação dos CPCs. Desta forma, o número total de empresas
que compõem a amostra analisada nesse estudo é de 14,
3.1. Seleção da Amostra conforme demonstrado na tabela a seguir (Tabela 1).
O estudo buscou estudar o impacto da implementação
das Normas Contábeis Internacionais de empresas de ca- 3.2. Coleta de Dados
pital aberto do setor de bebidas, alimentos e comércio. A coleta de dados consistiu na análise de conteúdo das
Esta opção decorre da necessidade de uma análise minu- demonstrações contábeis de 2008 e 2010 sendo a informa-
ciosa do conteúdo das notas explicativas das demonstra- ção das mesmas tabuladas manualmente, uma vez que não
ções contábeis de cada uma das empresas, pois não seria existia esse tipo de informação em nenhuma base de dados
possível atingir este nível de detalhe caso o estudo fosse já existente. Tal procedimento é relevante, pois represen-

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Tabela 1: Composição da Amostra H0 – Não existem diferenças significativas entre o


Lucro Líquido (ou Patrimônio Líquido ou ROE) contábil apura-
Demonstrações Financeiras em: 2010 2008 do sob o padrão contábil BRGAAPano i e sob o padrão contábil
Quantidade de empresas total com registro 33 33 CPC/IFRS ano i.
na CVM consideradas inicialmente H1 – Existem diferenças significativas entre o Lucro Líquido
( - ) Empresas que não reapresentaram os 5 5 (ou Patrimônio Líquido ou ROE) contábil apurado sob o padrão
efeitos dos CPCs contábil BRGAAPano i e sob o padrão contábil CPC/IFRSano i.
( - ) Empresas constituídas após 2008 1 -
Os pares de medidas contábeis que serão testadas são:
( - ) Empresas que adotaram de forma 1 -
antecipada (A) Considera as demonstrações financeiras do exer-
cício de 2008:
( - ) Empresas que tiveram o registro na 1 -
PL2008BRGAAP PL2008CPC/IFRS
CVM cancelado até 2010
LL2008BRGAAP LL2008 CPC/IFRS
( - ) Empresas que não divulgaram as 4 - ROE2008BRGAAP ROE2008 CPC/IFRS
demonstrações financeiras até 30/06/2011
data de corte (B) Considera as demonstrações financeiras do exer-
cício de 2010:
( - ) Empresas que não apresentavam as 6 16
informações necessárias para a pesquisa PL2008BRGAAP PL2008 CPC/IFRS
PL2009BRGAAP PL2009CPC/IFRS
( - ) Empresas que informaram não ter 1 1 LL2009BRGAAP LL2009CPC/IFRS
diferença com a adoção do CPC ROE2009BRGAAP ROE2009CPC/IFRS
Quantidade de empresas na amostra 14 11
O patrimônio líquido do ano de 2008 será testado duas ve-
Fonte: Elaborada pelos autores zes. No primeiro caso (A), englobará as demonstrações sob
ta dados criteriosos que receberam atenção no momento efeitos dos pronunciamentos emitidos e aplicados na primeira
de sua extração, evitando inconsistências. Adicionalmente, fase de transição (CPC 1 ao 14), buscando mensurar isolada-
uma análise crítica dos dados foi feita para evitar qualquer mente a relevância dos impactos na primeira fase de adoção.
distorção nos dados coletados. No segundo caso (B), as demonstrações financeiras já foram
Destaca-se que, de acordo com CRESWELL (2007), a impactadas por todos os CPSs, o chamado Full-IFRS.
coleta de dados documentais apresenta a vantagem de Além disso, para tornar a análise dos resultados mais com-
poder ser acessada em um momento conveniente para o pleta, foi calculado o Índice de Comparabilidade Parcial Inverso
pesquisador, sendo uma fonte de informações pertinente. (ICPI). A forma de interpretação é simples, pois caso o resul-
tado seja maior que 1 isso indica um aumento em relação ao
3.3. Análise dos Dados BRGAAP. (SANTOS, 2010). Esse cálculo também foi utilizado por
As informações coletadas foram codificadas, tabuladas CORDAZZO (2007) e SANTOS (2010). A fórmula utilizada está
e analisadas com apoio dos softwares Microsoft Excel e demonstrada a seguir:
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences).
Foi utilizada a análise estatística dos dados, através de
testes paramétricos e não paramétricos de diferença de mé- ICPI=1- PL BRGAAPano-PLCPC/IFRSano
dias. Os testes aplicados nessa pesquisa foram o teste t para
dados com distribuição normal (paramétricos) e o teste z PLBRGAAPano
(Wilcoxon) para dados sem distribuição normal (não paramétri-
cos). Esses testes também foram utilizados em estudos simi-
lares (CALLAO, JARNE e LAÍNEZ, 2007; CORDAZZO, 2007; Onde: ICPI: Índice de Comparabilidade Parcial Inverso; PLBRGAAPano: Valor do
PENG et al., 2008; SANTOS, 2010). Para verificar se os dados Patrimônio Líquido (ou Lucro Líquido) apurado sob BRGAAP em determinado
possuem uma distribuição normal, foram utilizados os testes ano; e PLCPC/IFRSano: Valor do Patrimônio Líquido (ou Lucro Líquido) apurado sob
Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov. o CPC/IFRS em determinado ano.
A aplicação desses testes tem como objetivo verificar se
existe diferença significativa entre os valores contábeis (Lucro 4. Resultados
Líquido e Patrimônio Líquido) divulgados sob o padrão contábil 4.1. Análise Quantitativa dos Dados
anterior (BRGAAP) e sob o novo padrão contábil (CPC/IFRS). A tabela a seguir apresenta a estatística descritiva das
Para eliminarmos o efeito do porte das empresas, e mensu- variáveis analisadas (Tabela 2).
rarmos a relevância do efeito do impacto do ajuste, foi adota- Como pode ser observado na tabela 2, verifica-se uma redução
do o conceito financeiro de retorno sobre investimento (ROE), de 27,6% no lucro líquido de 2008 divulgado na primeira fase (DFs
também conhecido como taxa de retorno. O ROE adotado con- 2008) de convergência para as normas internacionais e um au-
sistiu na divisão do lucro líquido pelo total do patrimônio líquido mento de 5% no patrimônio líquido de 2009 divulgado na segunda
do mesmo exercício. fase (DFs 2010) do processo de convergência. Destaca-se ainda
As seguintes hipóteses foram testadas utilizando o teste uma alteração significativa no retorno sobre patrimônio líquido do
de média: exercício de 2009 (-132% antes para 26% depois dos ajustes da

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Uma Análise dos Impactos da Adoção das Normas Internacionais de Contabilidade no Brasil:
Um Estudo de Empresas de Capital Aberto no Setor de Bebidas, Alimentos e Comércio

Tabela 2: Estatística descritiva da amostra (a)


Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo
Painel 1 – Demonstrações Contábeis de 2010 (n=14):
PL 2008 BRGAAP 4.438.282 440.905 10.873.393 -36.792 41.465.266
PL 2008 CPC/IFRS 4.463.009 496.651 10.887.895 1.067 41.465.266
Variação PL médio 24.727
% 0.6%
PL 2009 BRGAAP 3.175.352 479.119 5.380.948 -113.472 16.728.086
PL 2009 CPC/IFRS 3.333.254 534.294 5.833.319 -13.697 19.150.521
Variação LL médio 157.902
% 5%
LL 2009 BRGAAP 127.863 47.609 273.683 -315.564 679.079
LL 2009 CPC/IFRS 129.597 62.015 252.150 -319.130 606.039
Variação LL médio 1.734
% 1.4%
ROE 2009 BRGAAP -132% 7% 515% -1.843% 46%
ROE 2009 CPC/IFRS 26% 9% 121% -172% 382%
Painel 2 – Demonstrações Financeiras de 2008 (n=11):
PL 2008 BRGAAP 2.977.800 711.493 5.154.373 7.068 17.333.893
PL 2008 CPC/IFRS 2.967.919 711.493 5.147.014 13.109 17.278.138
Variação PL médio -9,881
% -0.3%
LL 2008 BRGAAP 404.822 54.372 1.028.355 -191.863 3.407.875
LL 2008 CPC/IFRS 293.125 25.939 922.400 -216.750 3.059.478
Variação LL médio -111.697
% -27,6%
ROE 2008 BRGAAP 3% 4% 28% -59% 36%
ROE 2008 CPC/IFRS 4% 2% 28% -72% 30%
Nota: (a) Valores financeiros em milhares de reais
Fonte: Elaborada pelos autores

conversão). Tal efeito decorre basicamente dos efeitos da tran- contábeis distintos (Lei nº 6404 e Lei nº 11.638/CPC/IFRS),
sição observados em uma das empresas da amostra, conforme demonstra que há diferenças significativas entre o lucro líqui-
será comentado mais adiante na análise qualitativa. Notadamente do apurado sob padrões contábeis distintos (rejeita-se H0, ao
nos demais itens analisados as variações não foram expressivas. nível de significância de 10%). Notadamente, como comenta-
A tabela a seguir apresenta resumidamente os resultados do do anteriormente, o Lucro Líquido médio de 2008 da amostra
teste estatístico não paramétrico (Wilcoxon) de diferenças de mé- analisada apresentou uma redução de -27,6%, enquanto no
dias. O referido teste foi utilizado uma vez que os dados analisa- exercício de 2009 o efeito foi positivo em 1,4%.
dos não apresentaram uma distribuição normal, conforme indica- Em relação ao retorno sobre patrimônio líquido, em am-
do nos testes de aderência Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. bos os casos (2008 e 2009) não foi observada uma diferença
O resultado do teste estatístico (Tabela 3) comparando o estatisticamente significativa nas métricas apuradas sob pa-
patrimônio líquido no ano de 2008 (DFs 2008), calculado sob drões contábeis distintos.
dois padrões contábeis distintos (Lei nº 6.404 e Lei nº 11.638/ A tabela a seguir (Tabela 4) demonstra o Índice de Com-
CPC/IFRS), demonstra que não há diferenças estatisticamente parabilidade Parcial Inverso (ICPI) para o setor analisado.
significativas (aceita-se H0) entre o patrimônio líquido apurado Observando os valores apurados pelo ICPI (Tabela 4) observa-
sob padrões contábeis distintos no ano de 2008. Esse resulta- -se que a maioria das empresas apresentou ajustes que aumen-
do é o mesmo para o patrimônio líquido apurado nos anos de taram as métricas observadas (patrimônio líquido e lucro líquido).
2008 e 2009, divulgado nas demonstrações contábeis de 2010. Ao utilizar o índice de comparabilidade parcial inverso,
Já o resultado do teste estatístico comparando o lucro lí- foi observado um valor bastante discrepante dos demais.
quido nos anos de 2009 e 2008, calculados sob dois padrões Esse valor refere-se ao ajuste do patrimônio líquido do ano

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de 2009 de uma empresa, que foi aumentado em dez vezes quido e lucro líquido) e para o indicador contábil (ROE) foram
em relação ao apurado em normas contábeis brasileiras. (exceto para o lucro líquido de 2008) maiores quando utiliza-
Esta performance foi oriunda basicamente do reconheci- do um novo padrão contábil, aparentemente menos conser-
mento a valor justo dos ativos biológicos (CPC 29) na rubri- vador. Tal resultado está consistente com aquele apurado em
ca de prejuízos acumulados, no Patrimônio Líquido. estudos anteriores realizados no Brasil e no exterior.
Em resumo, era esperado (diferentemente do observado) Por outro lado, os resultados observados permitem verifi-
que a magnitude do impacto do processo de convergência car que o impacto médio do processo de convergência con-
nas demonstrações contábeis de 2008 (1ª fase) fosse menor tábil, em ambas as fases, foram inferiores (e, em geral, não
do que nas demonstrações financeiras de 2010 (2ª fase), estatisticamente significativos) no setor de bebidas, alimen-
uma vez que o primeiro caso contemplava apenas os CPCs tos e comércio (empresas de capital aberto) aqueles obser-
do 1 ao 14 e no segundo caso, tivemos a adoção Full-IFRS. vados em estudos anteriores. Tal evidência demonstra que
Adicionalmente, como pôde ser observado na Tabela 2, os os impactos da adoção dos novos pronunciamentos podem
valores apurados para as métricas contábeis (patrimônio lí- não impactar de forma similar todos os setores da economia.

Tabela 3: Resultados dos testes de diferenças de médias (Wilcoxon) para as métricas contábeis (Lucro Líquido e Patrimônio
Líquido) e indicador contábil (ROE)
Variável Analisada Estatística Z Significância
Painel 1 – Demonstrações Financeiras arquivadas em 2010
Patrimônio Líquido depois (2008) X Patrimônio Líquido antes (2008) -0,078 0,937
Patrimônio Líquido depois (2009) X Patrimônio Líquido antes (2009) -0,664 0,507
Lucro Líquido depois (2009) X Lucro Líquido antes (2009) -1,922 0,055
ROE depois (2009) x ROE antes (2009) -1,602 0,109
Painel 2 – Demonstrações Financeiras arquivadas em 2008
Patrimônio Líquido depois (2008) X Patrimônio Líquido antes (2008) -0,968 0,333
Lucro Líquido depois (2008) X Lucro Líquido antes (2008) -1,956 0,055
ROE depois (2008) x ROE antes (2008) -0,800 0,424
Fonte: Elaborada pelos autores

Tabela 4: Cálculo do ICPI

Métricas Medidas Valor Frequência N %


Painel 1 – Demonstrações contábeis de 2010:
Ocorrências 14 PL aumentou – ICPI > 1 7 50%
PL2008 Média 1,22 PL permaneceu igual – ICPI =1 0 0%
Desvio Padrão 0,65 PL diminuiu – ICPI <1 7 50%
Ocorrências 14 PL aumentou – ICPI > 1 9 64%
PL2009 Média 1,85 PL permaneceu igual – ICPI =1 0 0%
Desvio Padrão 2,58 PL diminuiu – ICPI <1 5 36%
Ocorrências 13 PL aumentou – ICPI > 1 11 85%
LL2009 Média 1,36 PL permaneceu igual – ICPI =1 0 0%
Desvio Padrão 0,63 PL diminuiu – ICPI <1 2 15%
Painel 2- Demonstrações contábeis de 2008:
Ocorrências 11 PL aumentou – ICPI > 1 3 27%
PL2008 Média 1,04 PL permaneceu igual – ICPI =1 1 9%
Desvio Padrão 0,28 PL diminuiu – ICPI <1 7 64%
Ocorrências 11 PL aumentou – ICPI > 1 3 27%
LL2008 Média 0,28* PL permaneceu igual – ICPI =1 0 0%
Desvio Padrão 2,52* PL diminuiu – ICPI <1 8 73%
Nota: *A média e o desvio padrão estão distorcidos devido a presença de um outlier. A exclusão do outlier faz com que a média seja de 1,01 e o desvio padrão de 0,687
Fonte: Elaborada pelos autores

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4.2. Análise Qualitativa dos Dados 2. Impactos negativos: (a) CPC 13 – Adoção inicial da Lei
Na análise qualitativa das demonstrações financeiras arqui- 11.638/07 e da Medida Provisória nº 449/08, CPC 32 –
vadas pelas empresas que compõem esta amostra, nas de- Tributos sobre o Lucro e CPC 25 – Provisões, Passivos
monstrações financeiras de 2010, 100% delas apresentaram Contingentes e Ativos Contingentes.
em notas explicativas conciliação dos efeitos da mudança sobre
A seguir demonstra-se três exemplos de divulgação dos efei-
o Patrimônio Líquido e sobre o Lucro Líquido. Adicionalmente,
tos das mudanças de práticas contábeis para o item imobilizado:
30% das empresas analisadas evidenciaram os efeitos do pro-
cesso de convergência em cada uma das rubricas do Balanço
Empresa 1:
Patrimonial e da Demonstração de Resultado do Exercício.
“O imobilizado é demonstrado pelo custo, líquido da deprecia-
A tabela a seguir (Tabela 5) apresenta o detalhamento dos
ção acumulada e das perdas por não recuperação acumuladas,
efeitos do processo de convergência nas demonstrações con-
se houver. O custo inclui o montante de reposição dos equipa-
tábeis de 2010 (2ª Fase) para cada nova norma emitida, bem
mentos e os custos de captação de empréstimos para projetos
como, a frequência de sua adoção.
de construção de longo prazo, se satisfeitos os critérios de reco-
Como pode ser observado na tabela 5, as novas normas
nhecimento. Quando componentes significativos do imobilizado
contábeis que mais impactaram o patrimônio líquido e lu-
são repostos, a Companhia reconhece tais componentes como
cro líquido dos anos de 2008 e 2009, republicados nas de-
ativos individuais, com vidas úteis e depreciações específicas”.
monstrações contábeis de 2010, no setor analisado foram:
1. Impactos positivos: (a) CPC 27 – Ativo Imobilizado, Empresa 2:
(b) CPC 26 – Apresentação das demonstrações contá- “A Companhia revisou a vida útil econômica dos princi-
beis e CPC 15 – Combinação de negócios; e pais grupos de ativo imobilizado, tendo como base laudos

Tabela 5: Análise dos efeitos dos ajustes por CPC

CPC 2008 2009 2009


Efeito PL (a) Fr (b) % (c) Efeito PL (a) Fr (b) % (c) Efeito PL (a) Fr (b) % (c)
1 - - - - - - (-4.557) 1 7%
2 - - - (-9.671) 1 7% - - -
12 145.648 2 18% 141.547 3 21% (-1.617) 3 21%
13 (-485.814) 8 73% (-419.244) 5 36% 136.084 7 50%
15 297.589 4 36% 536.273 5 36% 59.470 3 21%
16 (-114.993) 3 27% (-189.297) 3 21% (-15.636) 3 21%
20 14.893 1 9% 52.856 3 21% 38.405 4 29%
25 (-140.274) 1 9% (-220.148) 1 7% (-11.411) 1 7%
26 20.866 2 18% 1.666.356 2 14% (-6.252) 1 7%
27 1.125.147 2 18% 1.114.779 3 21% 3.572 2 14%
28 15.652 1 9% 16.183 1 7% - - -
29 16.880 2 18% 20.007 3 21% 3.109 3 21%
30 (-56.211) 2 18% (-5.056) 2 14% 78.514 4 29%
31 (-1.597) 1 9% (-3.476) 1 7% (-1.879) 1 7%
32 (-245.834) 10 91% (-242.559) 6 43% - - -
33 (-84.225) 1 9% (-112.243) 1 7% 21.027 1 7%
37 (-144.787) 7 64% (-173.142) 8 57% (-162.283) 5 36%
38 (-62.142) 3 27% (-32.909) 3 21% 29.232 3 21%
ICPC 3 674 1 9% 1.047 1 7% 373 1 7%
Outros 55.791 3 27% 69.334 7 50% 5.687 4 29%
Total 357.263 2.210.637 129.784
Nota: Valores financeiros em milhares de reais. A tabela acima demonstra (a) impacto acumulado por CPC no patrimônio líquido ou lucro líquido de 2008 e 2009, (b) a
frequência corresponde ao número de empresas que foram impactadas por cada CPC; (c) o percentual representa a frequência dividida pela quantidade de empresa
sanalisadas, sendo 14 em 2009 e 11 em 2008. A descrição de cada CPC pode ser obtida em www.cpc.org.br.
Fonte: Elaborada pelos autores

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de avaliadores externos, o que resultou nas seguintes tou todas as normas, orientações e interpretações, emitidas
modificações de taxas demonstradas na tabela abaixo:” pelo CPC e órgãos reguladores, todavia, as referidas normas
não impactaram nos valores já apresentados da Companhia.
Nova taxa de de- O parecer e as declarações dos auditores independen-
Antiga taxa de tes de 1 das 5 empresas da amostra que não reapresen-
Tipo de Imobilizado preciação (média
depreciação taram suas demonstrações refletindo os efeitos do CPCs
ponderada)
continha parágrafo de ênfase salientando este fato.
Instalações, móveis e
10% a 20% 4,50%
utensílios
5. Considerações Finais
Bens destinados O objetivo desse artigo foi analisar se existiam diferen-
9 meses 9 meses
a aluguel ças significativas entre o valor do patrimônio líquido, do
Máquinas e equi- lucro líquido e do retorno sobre patrimônio líquido (ROE)
pamentos 10% a 20% 6,70% apurado sob padrões contábeis distintos (IFRS e BR-
de informática GAAP) das empresas de capital aberto pertencentes ao
segmento de bebidas, alimentos e comércio. Complemen-
Benfeitorias em imó- Prazo dos Prazo dos
tarmente, buscou-se identificar quais mudanças (CPCs)
veis de terceiros contratos contratos
foram mais significativas (e frequentes) para essa diferen-
Veículos 20% 20% ça entre os valores contábeis.
Fonte: Notas Explicativas da Demonstração Contábil do exercício de 2010 Os testes estatísticos utilizados, juntamente com o índi-
ce de comparabilidade inverso, confirmaram, assim como
Empresa 3: CORDAZZO (2007) e CALLAO, JARNE e LAÍNEZ, (2007),
“Como parte do processo de revisão periódica da vida útil que existem diferenças significativas no valor do patrimô-
dos itens do imobilizado, a Companhia contratou uma firma nio líquido apurado sob normas distintas (CPC/IFRS e
especializada para elaborar um relatório de avaliação da BRGAAP) tanto no ano de 2008 como no ano de 2009.
vida útil. A Companhia aplicou as novas vidas úteis pros- Em relação ao lucro líquido apurado em 2009, os testes es-
pectivamente a partir de 1º de janeiro de 2010, já que as tatísticos indicaram que não existiram diferenças significativas
novas vidas representam uma mudança de estimativa”. entre lucro apurado sob normas internacionais e o apurado em
Abaixo segue a tabela divulgada. normas brasileiras tradicionais, havendo bastante equilíbrio entre
as empresas que apresentaram lucros maiores e empresas que
Taxa de deprecia- Taxa de deprecia- apresentaram lucros menores.
ção anual em % ção anual em %
Os resultados da análise quantitativa dos dados demonstram:
Categoria 31/12/2009 A partir de
de ativos 01/01/2010 a) Uma redução de 27,6% no lucro líquido de 2008 (1ª fase do
processo de convergência) e um aumento de 1,4% no lucro lí-
Edifícios 4% 2,5%
quido de 2009 (2ª Fase), ambos estatisticamente significativos
Benfeitorias 20% 4,17% (nível de significância de 10%);
Equipamentos 20% 10,0% a 50,0% b) Uma redução de 0,3% no patrimônio líquido de 2008
de processamen- (1ª Fase), um aumento de 0,6% no patrimônio líquido de 2008
to de dados (2ª Fase) e um aumento de 5% no patrimônio líquido de 2009,
todos não estatisticamente significativos; e
Instalações 10% 4,17% a 10,0% c) O retorno sobre o patrimônio líquido foi alterado de -132%
Móveis e 10% 8,33% a 33,33% para 26% na 2ª fase do processo de convergência (e de 3%
utensílios para 4% na 1ª fase).
Veículos 20% 20,00% Em resumo, era esperado (diferentemente do observado)
Máquinas e 10% 2,78% a 50,00% que a magnitude do impacto do processo de convergência nas
equipamentos demonstrações contábeis de 2008 (1ª fase) fosse menor do
que nas demonstrações financeiras de 2010 (2ª fase), uma vez
Decoração 10% 20,00% que o primeiro caso contemplava apenas os CPCs do 1 ao 14
Fonte: Notas Explicativas da Demonstração Contábil do exercício de 2010 e no segundo caso, tivemos a adoção Full-IFRS.
Adicionalmente, os valores apurados para as métricas contá-
Por fim, dentre as empresas que foram eliminadas da aná- beis (patrimônio líquido e lucro líquido) e para o indicador contábil
lise no estudo, merece menção que uma empresa optou pela (ROE) foram (exceto para o lucro líquido de 2008) maiores quando
adoção antecipada das IFRSs na elaboração de suas demons- utilizado um novo padrão contábil, aparentemente menos conser-
trações contábeis consolidadas, conforme previsto na Instrução vador. Tal resultado está consistente com aquele apurado em estu-
CVM 457, a fim de garantir a convergência com o padrão já dos anteriores realizados no Brasil e no exterior. Por outro lado, os
utilizado por sua controladora, objetivando ganhar sinergia na resultados observados permitem verificar que os impactos médios
preparação dos relatórios financeiros para atendimento a CVM do processo de convergência contábil, em ambas as fases, foram
e a Securities Exchange Comission (SEC). Outra empresa ado- inferiores (e, em geral, não estatisticamente significativos) no se-

12 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 4 - 13, jan./abr. 2013


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Uma Análise dos Impactos da Adoção das Normas Internacionais de Contabilidade no Brasil:
Um Estudo de Empresas de Capital Aberto no Setor de Bebidas, Alimentos e Comércio

tor de bebidas, alimentos e comércio (empresas de capital aberto) rado ao valor apurado anteriormente nas normas contábeis
observados em estudos anteriores. Tal evidência demonstra que brasileiras. Esta performance foi influenciada pelo reconhe-
os impactos da adoção dos novos pronunciamentos podem não cimento a valor justo dos ativos biológicos na rubrica de pre-
impactar de forma similar em todos os setores da economia. juízos acumulados dentro do Patrimônio Líquido.
As novas normas contábeis que mais impactaram o patri- Considera-se como limitação da pesquisa o fato de que ao
mônio líquido e lucro líquido dos anos de 2008 e 2009, repu- identificar e tabular os dados referentes aos CPCs que impac-
blicados nas demonstrações contábeis de 2010, no setor ana- taram o lucro líquido e o patrimônio líquido das empresas, em
lisado foram: (a) impactos positivos: CPC 27, CPC 26 e CPC diversos casos, o julgamento do pesquisador foi necessário no
15; e (b) impactos negativos: CPC 13, CPC 32 e CPC 25. momento de classificar os ajustes, visto que muitas empresas
Destaca-se também, o aumento em dez vezes do valor do não especificaram qual pronunciamento contábil era responsá-
patrimônio líquido de determinada empresa quando compa- vel por cada ajuste.

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Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 4 - 13, jan./abr. 2013 13


Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

2º lugar no XIII Prêmio Contador Geraldo de La Rocque - 2012

Registro da Depreciação
na Contabilidade Pública:
uma Contribuição para
o Disclosure de Gestão
Abstract
Erivelton Araújo Graciliano The public accounting is enhancing the transformations
Rio de Janeiro – RJ occurred in recent years on the world stage. These
Mestre em Ciências Contábeis pela UFRJ1 enhancements aim to implement the standards adopted
egraciliano@gmail.com internationally, so that the public accounts, in addition to
meeting the legal and formal, may increase the efficiency
of funds invested in the public sector, allow for greater
Wilton Clarimar Dutra Fialho transparency of information and standardize the disclosure of
Rio de Janeiro – RJ public assets. To the best measure of its assets, the Federal
Bacharel em Ciências Contábeis pela Unipli2 Government in 2008 started to record the depreciation of
wilton-f@hotmail.com public goods, which were not being held in its accounts.
The transparency of this information is an essential factor
for the individual or society organized to exercise with
Resumo effectiveness, social control over the accounts of the state.
A contabilidade pública está aprimorando as transfor- The objective of this study was to analyze the contribution
mações verificadas nos últimos anos no cenário mundial. of record depreciation in the government accounting for
Tais aprimoramentos visam implantar os padrões adota- the transparency of information in public administration. It
dos internacionalmente, a fim de que a contabilidade pú- was found that the record in the study of the depreciation of
blica, além de cumprir os aspectos legais e formais, pos- public assets has been a practice since 2008 irreversible,
sa aumentar a eficiência dos recursos aplicados no setor so that the financial reports have contributed to the public
público, permitir maior transparência das informações e disclosure of management accounting. To achieve the
padronizar a evidenciação do patrimônio público. Para a intended goal was accomplished a bibliographical and
melhor mensuração do seu patrimônio, o Governo Fede- documentary research, with qualitative data analysis, which
ral passou a registrar a partir de 2008 a depreciação dos included primary and secondary sources on topics and
bens públicos, o que não vinha sendo realizado em sua Transparency in Public Administration Federal Depreciation.
contabilidade. A transparência dessas informações será Key words: Public Accounting. Depreciation. Transparency Public.
fator essencial para que o cidadão ou a sociedade organi-
zada possa exercer, com efetividade, o controle social so- 1. Introdução
bre as contas do Estado. Assim, o objetivo desse estudo Após décadas a gestão pública está aprimorando as
foi analisar a contribuição do registro da depreciação na transformações verificadas nos últimos anos no cenário
contabilidade governamental para a transparência das in- mundial, representadas, notoriamente, pelo processo de
formações na gestão pública. Constatou-se no estudo que globalização. Tais aprimoramentos visam atender às ne-
o registro da depreciação dos bens públicos vem sendo cessidades para se aumentar a eficiência dos recursos
uma prática irreversível desde 2008, de modo que os rela- aplicados no setor público, com intuito de obter maior trans-
tórios contábeis têm contribuído para o disclosure contábil parência das informações.
da gestão pública. Para o alcance do objetivo pretendido Dentro do aspecto de globalização, especificamente quanto à
foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental, convergência às normas internacionais, o Conselho Federal de
com análise qualitativa de dados, o que abrangeu fontes Contabilidade aprovou em 2008 as dez primeiras Normas Bra-
primárias e secundárias sobre os temas Transparência e sileiras de Contabilidade aplicadas ao Setor Público (NBCASP).
Depreciação na Administração Pública federal. Uma delas, a NBC T 16.9, trata de critérios e procedimentos
Palavras-chave: Contabilidade Pública. Depreciação. para o registro contábil da depreciação, da amortização e da
Transparência Pública. exaustão no setor público (CFC, 2011).
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP. 21941-590 – Rio de Janeiro – RJ.
1

UNIPLI – Universidade Plínio Leite – CEP. 24020-000 – Niterói – RJ.


2

Artigo recebido em 31/07/2012 e aceito em 26/02/2013.

14 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 14 - 21, jan./abr. 2013


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Registro da Depreciação na Contabilidade Pública: Uma Contribuição para o Disclosure de Gestão

A NBC T 16.9 estabelece a obrigatoriedade do reco- A busca por informações úteis, por transparência e con-
nhecimento da depreciação no setor público, devendo trole dos gastos governamentais tem atraído atenção e
ocorrer até que o valor contábil do ativo iguale-se ao seu interesse do próprio governo, das instituições privadas,
valor residual. O valor depreciado, apurado mensalmente, dos cidadãos, de pesquisadores e das instituições da so-
deve ser reconhecido nas variações patrimoniais do exer- ciedade civil, dentre outros. A mensuração da deprecia-
cício durante a vida útil econômica do bem. ção é um fato que altera a composição patrimonial das
Não obstante, a NBC T 16.9 contribui para a correta ava- entidades e implica na qualidade da tomada de decisão.
liação dos bens públicos registrados na contabilidade públi-
ca, à luz da Lei nº 4.320/64. Embora esta lei já abordasse
o cálculo de depreciação “para efeito de apuração do saldo 2. Gestão Pública no Brasil
líquido das autarquias e outras entidades com autonomia A origem da palavra Gestão deriva do latim gestione,
financeira e administrativa cujo capital pertença, integral- que quer dizer “ato de gerir, gerência, administração”. Ad-
mente, ao Poder Público” (BRASIL, 2011c); para os órgãos ministração, segundo Chiavenato (2000, p. 3), caracteri-
públicos – integrantes da administração direta –, parecia za-se como “o processo de planejar, organizar, dirigir e
haver uma lacuna a ser preenchida. Essa questionável la- controlar o uso dos recursos organizacionais para alcan-
cuna permitiu que se levasse mais de quarenta anos de çar determinados objetivos de maneira eficiente e eficaz”.
mensuração do patrimônio público de maneira equivocada. Em se tratando da administração pública, a estrutura
Outro aspecto a ser analisado é que a própria Lei do Estado, mantida para assegurar direitos e atender a
4.320/64 institui que a contabilização dos atos e fatos necessidades de indivíduos e coletividades, por meio de
da administração pública deva atender a evidenciação obras e serviços de interesse social, deve ser administra-
e transparência da execução orçamentária, financeira e da em prol da continuidade desses serviços públicos.
patrimonial. Evidenciação e transparência constituem re- A administração pública compõe todo o aparelhamento do
quisitos indispensáveis para o exercício do controle so- Estado, baseada numa estrutura hierarquizada sob o enfoque
cial, que é a modalidade de controle externo cujo agente da autoridade, distribuição funcional e relação de subordinação.
controlador é a sociedade civil organizada ou o cidadão. Os atos de gestão abrangem atividades econômicas e
Dessa forma, o acesso transparente às informações da financeiras do Estado. As atividades econômicas visam
Administração Pública é imprescindível para o controle da o gerenciamento patrimonial, constantes do Ativo e do
sociedade, de modo que, além da Constituição Federal, Passivo no balanço patrimonial. As atividades financeiras
atualmente estão em vigência a Lei da Transparência Pú- tratam da receita, gestão e despesa do Estado, no sentido
blica (Lei Complementar nº 131/2009) e a Lei de Acesso de maximizar os recursos financeiros frente ao bem-estar
à Informação (Lei nº 12.527/2011) que tratam de temas da comunidade (SILVA, 2009, p. 96).
ligados ao disclosure da gestão pública. Nesse gerenciamento público, a Administração Pública
A gestão pública impõe um desafio a ser vencido que é deve se ater a princípios constitucionais e fundamentais –
a maximização da utilização dos recursos públicos, colo- estes últimos previstos no Decreto-lei nº 200/67, além de
cados à disposição, pois quando utilizados indevidamente princípios orçamentários previstos na legislação específi-
podem ocasionar efeitos contrários a seus objetivos. Es- ca. Um dos princípios consagrados na gestão pública é o
tes objetivos visam fazer com que as entidades públicas princípio do controle.
se tornem instituições sólidas, eficazes e bem estrutura- Enquanto que nas entidades privadas o controle é imposto
das, sendo tida como base de desenvolvimento econômi- pela alta administração, nas entidades públicas o controle é
co do país. Há a preocupação para que sejam utilizados exercido por imposições legais. Para Meirelles (1989, p. 564),
métodos transparentes que visem proteger o patrimônio, o interesse público impõe a verificação da eficiência do servi-
assegurando uma melhor tomada de decisão e transmitin- ço ou a utilidade do ato administrativo, em razão da Adminis-
do assim a confiabilidade da informação. tração Pública ter que atuar, em todas as suas manifestações,
A transparência na evidenciação dos atos e das contas segundo as normas pertinentes a cada ato e de acordo com a
da gestão pública é uma questão que ganhou maior noto- finalidade e o interesse coletivo na sua realização.
riedade no Brasil a partir da edição da Lei de Responsa- O controle é a etapa do processo de gestão contínua e recor-
bilidade Fiscal (Lei Complementar no 101/2000). Porém, rente que avalia o grau de aderência entre os planos e sua exe-
segundo SILVA (2009, p. 340), a transparência pública cução; analisa os desvios ocorridos, procurando identificar suas
ainda encontra-se em um estágio incipiente em decorrên- causas, sejam elas internas ou externas; direciona as ações cor-
cia da divulgação de tais informações se darem em um retivas, observando a ocorrência de variáveis no cenário futuro,
ambiente político e cultural marcado por ideologias e inte- visando alcançar os objetivos propostos. “É a etapa na qual se
resses diversos. comparam as ações empreendidas com aquelas definidas no
No entendimento de Cruz, Silva e Santos (2009), de plano operacional, assegurando que os resultados obtidos estão
um modo geral, a transparência da informação deve ca- de acordo com os objetivos estabelecidos” (PELEIAS, 2002).
racterizar todas as atividades realizadas pelos gestores O controle do Estado no seu sentido lato é o controle
públicos, de maneira que os cidadãos tenham acesso e social. Este trata da disponibilização de condições para
compreensão daquilo que os gestores governamentais que os cidadãos possam avaliar os serviços de atendimen-
têm realizado a partir do poder de representação que lhes to que lhes são oferecidos e cobrar do Estado a melhoria
foi confiado. desses serviços (MEDEIROS e PEREIRA, 2003, p. 63).

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 14 - 21, jan./abr. 2013 15


Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

Erivelton Araújo Graciliano Wilton Clarimar Dutra Fialho

A participação do cidadão é imprescindível para o aprimora- O “disclosure”, ou evidenciação, está diretamente ligado
mento dos serviços públicos, bem como para a vigilância do bom aos objetivos da contabilidade e diz respeito à qualida-
emprego dos recursos disponíveis. Ou seja, sem o controle social, de das informações de caráter financeiro e econômico,
a responsabilização dos gestores tende a ficar comprometida. sobre as operações, recursos e obrigações de uma enti-
Freitas (2001, p. 14) diz que controle social é “o exercí- dade, que sejam úteis aos usuários das demonstrações
cio do direito de fiscalização por intermédio da participa- contábeis, entendidas como sendo aquelas que de al-
ção popular, da atividade pública quanto à eficiência e à guma forma influenciem na tomada de decisões envol-
observância dos limites estabelecidos pela Constituição”. vendo a entidade e ao acompanhamento da evolução
O controle social, para ser exercido de maneira eficaz, patrimonial, possibilitando o conhecimento das ações
depende das informações geradas pelas atividades do passadas e a realização de inferências com relação ao
Estado. Há sempre uma assimetria de informações a ser futuro (GOMES e NIYAMA, 1996, p.68).
reduzida nessa relação gestor público e sociedade, visto Considerando que o princípio da legalidade “implica subor-
que esta não participa diretamente da administração. dinação completa do administrador à lei, todos os agentes pú-
Nesse sentido, Fox (2007, p. 3) adverte que, quando há au- blicos, desde o que lhe ocupe a cúspide até o mais modesto
sência de transparência, os agentes públicos agem com impu- deles” (MELLO, apud CARVALHO FILHO, 2006, p. 16), cabe
nidade ao preterirem as preferências da sociedade em relação ressaltar que a obrigatoriedade legal para a transparência pú-
as suas próprias preferências nas políticas públicas. Ou seja, o blica se encontra prescrita nos incisos XXXIII, XXXIV e LXXII
cidadão participa menos nas decisões políticas e é incapaz de do art. 5º da Constituição Federal. Nesses dispositivos está es-
“punir” os políticos que se envolvem em corrupção. tabelecida a exigência da transparência das informações por
órgãos da administração pública e assegurada aos cidadãos e
também aos entes particulares o direito de obter dos gestores
3. Transparência Pública
públicos informações de interesse particular ou de interesse
Na atualidade, a transparência nos atos da administra-
coletivo ou geral (BRASIL, 2011d).
ção pública tornou-se a força motriz das mudanças que
A transparência na evidenciação dos atos e das contas da
estão a moldar a contabilidade pública. Sendo a transpa-
gestão pública é uma questão que encerra relevância social
rência, uma possibilidade de gerar confiança da socieda-
e que ganhou maior notoriedade no Brasil a partir da edição
de diante de um cenário de corrupção e atos ilícitos, com
da Lei Complementar no 101/2000 (conhecida como Lei de
intuito de obter benefícios próprios.
Responsabilidade Fiscal, ou LRF), cujo objetivo estabelece
De acordo com Amora (2008, p.733), a transparência é
normas de finanças públicas voltadas para a responsabilida-
a qualidade de transparente, ou seja, é o ato de tornar algo
de na gestão fiscal, através de ação planejada e transparen-
claro e evidente. Em complemento, Culau e Fortis (2006,
te do governo (BRASIL, 2011a).
p.2) afirmam que conferir transparência, além de se consti-
A LRF dedica o capítulo IX à transparência, controle e fiscaliza-
tuir em um dos requisitos fundamentais da boa governança,
ção da gestão fiscal, estabelecendo em seu artigo 48 o seguinte:
cumpre a função de aproximar o Estado da sociedade, am-
pliando o nível de acesso do cidadão às informações sobre Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal,
a gestão pública. aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios
De acordo com a Controladoria Geral da União, a trans- eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis
parência pode ser definida como o ato de saber onde, de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o
como e por que o dinheiro está sendo gasto. É quando respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Exe-
as coisas estão sendo realizadas de maneira clara, sem cução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as
mistérios, como devem ser feitas (CGU, 2011). versões simplificadas desses documentos. (BRASIL, 2011a)
No Brasil, a transparência ainda está limitada às formas de
publicação exigidas em Lei. Para Jund (2006), existem várias O parágrafo único do mesmo artigo expressa o seguinte:
formas de se transparecer as informações de maneira clara e A transparência será assegurada também mediante incentivo
acessível – “relatório de gestão, demonstrações complemen- à participação popular e realização de audiências públicas, du-
tares, consolidação das demonstrações contábeis, relatório de rante os processos de elaboração e de discussão dos planos,
auditoria e as notas explicativas às demonstrações”. No entanto, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos. (BRASIL, 2011a)
estas formas “dependem muito da organização do sistema de
informações contábeis, que deve estar preparado para respon- Outra iniciativa com objetivo de atingir a transparência às
der às questões que lhe forem formuladas por esses usuários”. informações acerca da gestão pública foi a aprovação da Lei
Frisa-se aqui que dar publicidade não significa necessa- Complementar nº 131/2009, conhecida como Lei de Trans-
riamente ser transparente. É preciso que as informações parência. Essa lei veio suplementar os procedimentos à LRF,
disponibilizadas sejam de claro e fácil entendimento, para cabendo ressaltar o contido no artigo 1º, que determina:
que sejam capazes de comunicar o real sentido que foi A transparência será assegurada também mediante libe-
apresentado, de maneira a não parecerem enganosas. ração ao pleno conhecimento e acompanhamento da so-
Sendo os relatórios contábeis uma das formas de disclosure ciedade, em tempo real, de informações pormenorizadas
das informações ao cidadão, relevante se demonstra aqui o papel sobre a execução orçamentária e financeira da União,
do contador na adequação prática das demonstrações e na evi- dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em
denciação da informação às novas necessidades dos usuários. meios eletrônicos de acesso público. (BRASIL, 2011b)

16 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 14 - 21, jan./abr. 2013


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Registro da Depreciação na Contabilidade Pública: Uma Contribuição para o Disclosure de Gestão

Mais recentemente, em maio de 2012 entrou em vigor a No cálculo da taxa anual de depreciação é necessário esti-
Lei nº 12.527 (conhecida como Lei de Acesso à Informação mar a vida útil do bem, isto é, quanto ele vai durar, levando em
- LAI). Esta lei veio regular o acesso a informações previsto consideração as causas físicas (o uso, o desgaste natural e
no inciso XXXIII do art. 5º da Constituição e alterar outros a ação dos elementos da natureza) e as causas funcionais (a
dispositivos legais: dispõe sobre procedimentos a serem inadequação e o obsoletismo, considerando o aparecimento
observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municí- de substitutos mais aperfeiçoados) (MARION, 2008, p. 216).
pios; classifica e prevê prazos de documentos sigilosos; e As duas obras citadas coadunam o conceito de depre-
estabelece responsabilidades do agente público. ciação como sendo a redução gradativa do valor do bem
A LAI representa mais um avanço na transparência do po- ao longo de toda sua vida útil, pelo custo ou despesa.
der público brasileiro, onde o sigilo das informações passa Quanto aos métodos de depreciação, Iudícibus (2004, p.
a ser uma exceção, e não uma regra. A Lei torna possível 206) ressalta os seguintes grupos: método de quotas cons-
uma maior participação popular e facilita o controle social das tantes, método de quotas variáveis, método de quotas cres-
ações governamentais. Polêmicas à parte, pode-se observar centes e método de quotas decrescentes. No entanto, o uso
o quanto a transparência dos atos públicos vem se tornando mais comum do método das quotas constantes (ou em linha
um ponto essencial para que os gestores públicos consigam reta) justifica-se pela simplicidade e aceitabilidade fiscal, haja
transmitir para a população a credibilidade desejada. vista as seguintes premissas: a depreciação é função do tem-
Dentre as formas da administração pública disponibilizar po; não se leva em conta o fator custo de capital; e a eficiência
seus relatórios financeiros anuais, cujos lançamentos contá- do equipamento é constante durante anos.
beis são realizados no Sistema Integrado de Administração O valor do bem registrado na contabilidade, em determinada
Financeira do Governo Federal (SIAFI), há a Prestação de data, deduzido da correspondente depreciação, é denominado
Contas do Presidente da República e os Relatórios de Gestão tecnicamente de valor líquido contábil. O Conselho Federal de
das unidades jurisdicionadas. Contabilidade (CFC, 2011) define Valor Líquido Contábil como
A Prestação de Contas do Presidente da República é orga- “o montante líquido que a entidade espera, com razoável se-
nizada pela Controladoria-Geral da União (CGU) para encami- gurança, obter por um ativo no fim de sua vida útil econômica,
nhamento ao Congresso Nacional, contendo informações pro- deduzidos os gastos esperados para sua alienação”.
venientes de diversos órgãos e entidades do Poder Executivo A Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 – norma nor-
Federal. Porém, para o julgamento do Poder Legislativo, o TCU teadora da contabilidade pública brasileira –, menciona a
emite um parecer prévio sobre as contas prestadas, acompa- depreciação especificamente para a Administração Indi-
nhado de relatório contendo informações sobre o desempenho reta, prevendo o seu lançamento com intuito de apurar o
dos programas previstos no Orçamento Anual, bem como sobre resultado do saldo líquido das empresas com autonomia
o reflexo da administração financeira e orçamentária federal no financeira e administrativa cujo capital pertença, integral-
desenvolvimento econômico e social do País. mente, ao Poder Público (BRASIL, 2011c).
O Relatório de Gestão é a principal peça da presta- Embora não mencione explicitamente, pode-se inferir
ção de contas dos gestores públicos, responsáveis pelo que a administração direta também deva apurar a depre-
dispêndio orçamentário. Trata-se de um documento anual ciação dos seus bens para que os demonstrativos contá-
encaminhado ao TCU, contendo informações econômico- beis possam evidenciar o correto patrimônio público.
-financeiras e gerenciais da unidade jurisdicionada. Em 2007, a Lei nº 11.638 alterou a Lei nº 6.404/76 (Lei
das Sociedades por Ações), trazendo como uma das modi-
4. Depreciação de Bens Públicos ficações a obrigatoriedade da Comissão de Valores Mobiliá-
O custo do ativo imobilizado é destacado como uma des- rios em emitir normas contábeis em consonância às práticas
pesa nos períodos contábeis em que o ativo é utilizado pela contábeis internacionais.
empresa, onde a depreciação é um processo contábil para Não diferentemente, na administração pública também pas-
essa conversão gradativa do ativo imobilizado em despesa. sou a surgir movimento de convergência às normas contábeis
internacionais. Dessa forma, houve a implementação de no-
A maior parte dos Ativos Imobilizados (exceção fei- vos procedimentos e práticas contábeis visando aos usuários o
ta praticamente a Terrenos e Obras de Arte) tem acesso a informações consistentes e confiáveis para a tomada
vida útil limitada, ou seja, serão úteis à empresa de decisão, dando assim início a um expressivo processo de
por um conjunto de períodos finitos, também cha- inovação na Contabilidade Governamental brasileira, objeti-
mados de Períodos Contábeis. À medida que esses vando alcançar alinhamento com as normas contábeis interna-
períodos forem decorrendo, dar-se-á o desgaste cionais e permitir a otimização das informações que integram
dos bens, que representam o custo a ser registrado as Demonstrações Contábeis.
(MARION, 2008). Em 2008, o Ministério da Fazenda, por meio da Portaria
Para Hoss et al. (2008, p. 213), depreciação é o nome nº 184, estabeleceu as diretrizes para promoção da con-
atribuído ao processo de alocação da despesa ou custo em vergência das práticas contábeis vigentes no setor público
função da vida útil de bens adquiridos pelas empresas para brasileiro às normas internacionais de contabilidade. Tendo
realizarem suas atividades mercantis. E tal fato correspon- em vista as condições, peculiaridades e o estágio de desen-
de ao reconhecimento da perda de valor desses bens devi- volvimento do país, essa portaria dispõe sobre as Diretrizes
do ao desgaste, obsolescência ou ação da natureza. a serem observadas pelos entes públicos quanto aos proce-
dimentos, práticas, elaboração e divulgação das demonstra-

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ções contábeis, de forma a torná-los adequados às Normas rial acessível ao público em geral” (VERGARA, 2000, p. 48),
Internacionais de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. abordou referências teóricas e legais sobre os temas Contro-
Tal ato gerou um desencadeamento de ações por parte le, Transparência e Depreciação no Setor Público brasileiro.
dos Órgãos Competentes, pois ficou atribuída à Secretaria Não obstante, alguns trabalhos correlatos, de periódicos e
do Tesouro Nacional (STN) a edição de normativos, ma- congressos, foram consultados no desenvolvimento do traba-
nuais, instruções de procedimentos contábeis e Plano de lho. A pesquisa documental permitiu o levantamento de rela-
Contas Nacional, objetivando a elaboração e a publicação tórios da STN e do TCU, disponíveis na internet.
de demonstrações contábeis consolidadas, em consonân- Cabe destacar que a pesquisa documental assemelha-
cia com os pronunciamentos do International Federation of -se muito à pesquisa bibliográfica, tendo como diferença
Accountants (IFAC) e com as normas do CFC, aplicadas ao essencial entre ambas a natureza das fontes. Enquanto
setor público. a segunda se utiliza fundamentalmente das contribuições
Os estudos técnicos pautaram-se em discussão perma- dos diversos autores sobre determinado assunto, a primei-
nente com diferentes órgãos competentes que representam ra vale-se de materiais que não receberam ainda um tra-
à classe contábil, a exemplo do CFC que, em novembro de tamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados
2008, aprovou as dez primeiras Normas Brasileiras de Con- de acordo com os objetivos da pesquisa (GIL, 1996, p.51).
tabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP). Dentre
essas normas, destaca-se a NBC T 16.9 (Norma Brasileira
de Contabilidade Técnica para Depreciação, Amortização e 6. Análises e Resultados
Exaustão), que estabelece critérios e procedimentos para o A ausência de depreciação dos bens públicos vai de en-
registro contábil da depreciação no setor público. contro à transparência pública, na medida em que o valor con-
Com a publicação da NBC T 16.9, ficou explícita a obrigato- tábil acaba por não refletir o valor real do patrimônio. Tendo
riedade do reconhecimento da depreciação no setor público e em vista que as ações no sentido de reverter esse quadro co-
que tal reconhecimento deverá ocorrer até que o valor contábil meçaram a partir de 2008, pode-se perceber que as contas do
do ativo iguale-se ao seu valor residual. O valor depreciado, Governo Federal de 2009 ainda refletiam essa discrepância,
apurado mensalmente, deve ser reconhecido nas variações o que, por consequência, o Parecer Prévio do TCU descreve:
patrimoniais do exercício durante a vida útil econômica do bem. Em relação à contabilização da depreciação, amortização
Quanto aos métodos de depreciação, sem prejuízo da utiliza- e exaustão de itens do Ativo Permanente, sem prejuízo do
ção de outros métodos de cálculo, a norma cita os métodos disposto no subitem 5.3.5 deste relatório, na Parte VI da
linear, dos saldos decrescentes e das unidades produzidas. PCPR 2009 consta a informação de que somente os bens
A STN, em conjunto com a Secretaria de Orçamento Federal das empresas públicas e das sociedades de economia
(SOF), aprovou o Manual Técnico de Contabilidade Aplicada ao mista tiveram as respectivas depreciações registradas.
Setor Público (MCASP), para o exercício de 2009. Segundo o Infere-se, pois, que os bens dos demais órgãos e enti-
Manual, a entidade pública precisa “apropriar ao resultado de um dades que compõem o Balanço Patrimonial consolidado
período, o desgaste do seu ativo imobilizado, intangível ou diferido, do BGU 2009 encontram-se superavaliados na referi-
por meio do registro da despesa de depreciação, amortização ou da demonstração contábil, em razão da ausência de
exaustão, obedecendo ao princípio da competência” (STN, 2011b). registro da correspondente depreciação. Ressalte-se
Atualmente em sua quarta edição, o MCASP, por meio de pa- que tal omissão compromete a correta evidenciação
drões a serem observados pela Administração Pública, busca a do patrimônio da União, merecendo ser objeto de res-
harmonização no que se refere à receita e à despesa orçamen- salva nas presentes contas (TCU, 2011a) (grifos nossos).
tária, suas classificações, destinações e registros, para permitir a
evidenciação e a consolidação das contas públicas (STN, 2011a). O apontamento no relatório do TCU demonstra a qualidade e
fidedignidade das informações contábeis emitidas pelas entida-
5. Metodologia e Objetivo des públicas, uma vez que a omissão de registro da depreciação
O objetivo geral deste trabalho foi analisar a contribuição superavalia os ativos, comprometendo a correta evidenciação
do registro da depreciação na contabilidade governamental do patrimônio da União. Ainda, aquele Tribunal conclui que a au-
para a transparência das informações na gestão pública. sência de depreciação – e consequente superavaliação do Ativo
Este estudo está delimitado ao contexto dos relatórios – perfez inconsistências contábeis e procedimentos inadequa-
contábeis da Administração Pública Federal e demais fon- dos que afetaram a evidenciação do patrimônio da União nas
tes primárias e secundárias sobre o tema em pauta. Des- demonstrações financeiras do exercício de 2009 (TCU, 2011a).
sa forma, não será objeto de estudo a contabilização no No Relatório e Parecer Prévio sobre as Contas do Governo
setor público estadual, municipal e distrital. da República, Exercício de 2010, foi observado que a falta de
A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica e docu- depreciação no exercício 2009 deveu-se, em grande parte, à
mental, por meio da leitura de livros, teses e artigos, assim defasagem dos valores de entrada que deram suporte ao re-
como leis, decretos e normas como meios complementares de gistro contábil dos ativos a serem depreciados (TCU, 2011b).
informações legais na aplicação da contabilidade nas entidades É notável que muitos desses bens sejam antigos e que a
públicas. Os dados coletados foram tratados qualitativamente. não reavaliação dificulta a definição de uma base valorativa
A pesquisa bibliográfica, aqui conceituada como “o estudo confiável, que permita estimar, com razoável segurança, as
sistematizado desenvolvido com base em material publicado vidas úteis desses ativos e, por consequência, suas res-
em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, mate- pectivas taxas de depreciação. Nesse contexto, outro fator

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Registro da Depreciação na Contabilidade Pública: Uma Contribuição para o Disclosure de Gestão

que dificulta a valoração real dos bens públicos, em sua Correspondendo a 2% a relação Depreciação/Imobiliza-
totalidade, recai sobre a atualização do valor de mercado. do, pesquisa do TCU verifica que na União o valor da de-
Destacam-se algumas observações do relatório: preciação está muito aquém do esperado, quando compa-
rado a outros entes governamentais de porte semelhante,
Com efeito, em virtude do lapso temporal transcor-
em que o valor da depreciação chega a ser superior a 50%
rido desde a aquisição ou obtenção desses ativos,
do valor do imobilizado. Ainda, em um Levantamento Ope-
os valores históricos registrados no Siafi não consti-
racional para diagnosticar o atual modelo de contabilidade
tuem, sobretudo para os bens mais antigos, uma boa
adotado na Administração Pública Federal, o TCU identifi-
estimativa da atual expectativa de futuros benefícios
ca que 36% das unidades/órgãos pesquisados apontaram
econômicos decorrentes de seu uso, exploração,
a falta de depreciação de bens móveis e imóveis como erro
venda ou conversão em outros bens ou direitos. [...]
frequentemente ou sempre encontrado na contabilização
Nesse sentido, deve-se reconhecer o esforço empreendi-
do imobilizado TCU (2012b, p.366).
do pelo órgão central de contabilidade da União com vistas
Apesar da incipiência observada, o Relatório de Gestão da
a viabilizar, ainda que gradativamente, o registro da obso-
STN, Exercício 2011, ratifica a importância do registro de de-
lescência dos ativos permanentes do setor público federal.
preciação ao detalhar as principais realizações do ano:
Consoante mencionado em nota explicativa, a macro fun-
ção 020330 do Manual Siafi, aplicável a partir de 2010, Em atendimento ao disposto na Norma Brasileira de Con-
estabelece os procedimentos para registro da deprecia- tabilidade Aplicada ao Setor Público 16.9, que trata de De-
ção, amortização e exaustão na Administração Pública preciação, Amortização e Exaustão, foram desenvolvidas
Direta da União, suas autarquias e fundações. Em seu rotinas, elaboradas orientações normativas e realizados
item 14, tal norma prevê que a apuração da depreciação cursos de capacitação para que a Administração Pública
abrangerá, inicialmente, os bens móveis adquiridos, in- Direta da União, suas autarquias e fundações comecem a
corporados e/ou colocados em utilização a partir de janei- aplicar tais procedimentos no exercício contábil de 2011. A
ro de 2010, dado que, para esses ativos, os custos his- aplicação dos procedimentos de depreciação, amortização
tóricos tomados como base para os respectivos registros e exaustão é de fundamental importância para a correta
contábeis se aproximam da real expectativa de seus fu- evidenciação do Patrimônio das entidades contábeis,
turos benefícios econômicos, não havendo necessidade se evidenciado a capacidade de geração de benefícios so-
de prévias reavaliações ou reduções a valor recuperável. ciais adequados. (TCU, 2012a, p. 53). (grifos nossos).
Com o intuito de prover informações consistentes e compa-
O Manual de contabilidade aplicada ao setor público
ráveis, adotou-se como padrão o método das quotas cons-
da STN, válido para o exercício de 2012, estabelece que:
tantes para cálculo dos encargos de depreciação, devendo
ser observada, ainda, a tabela de vida útil e valor residual A variação patrimonial diminutiva de depreciação de
apresentada no item 24 da macrofunção Siafi 020330. cada período deve ser reconhecida no resultado pa-
Cumpre salientar que a referida norma comporta trimonial em contrapartida a uma conta retificadora do
exceção para bens singulares, cujas características ativo. Entretanto, por vezes, os benefícios econômicos
exijam a adoção de critérios diferenciados para es- futuros ou potenciais de serviços incorporados no ativo
tipulação de vida útil e valor residual. (TCU, 2011b) são absorvidos para a produção de outros ativos. Nes-
ses casos, a depreciação faz parte do custo de outro
A proposta do Tesouro Nacional foi iniciar os registros de de-
ativo, devendo ser incluída no seu valor contábil. Por
preciação em 2010, pelos ativos colocados em condição de uso a
exemplo, a depreciação de ativos imobilizados usados
partir de janeiro daquele ano. Após o encerramento dessa etapa,
para atividades de desenvolvimento pode ser incluída
o gestor passa a aplicar a depreciação aos bens adquiridos nos
no custo de um ativo intangível. (STN, 2011a)
demais exercícios, com cronograma de implantação até 2013.
A Tabela 1 a seguir permite observar que o reconhecimen- O efeito da depreciação nas Demonstrações Contábeis
to da depreciação dos bens públicos vem crescendo desde está ilustrado nas Figuras 1 a 3, que se seguem.
2008, apresentando em 2011 um crescimento de 55% com-
parando-se ao ano anterior. Figura 1: Efeitos nas Demonstrações

Tabela 1: Imobilização e Depreciação


Depreciação, Amortização e Exaustão
R$ bilhões
Reflexos Patrimoniais
Itens do Ativo 2011 2010 2009 2008
Imobilizado 302,7 260,4 237,3 224,1
(-)Depreciação (4,8) (3,1) (2,4) (2,2)
Valor Líquido 297,9 257,3 234,9 221,9
Impacto no Resultado Conta redutora de ativo
%Depreciação/ Decréscimo patrimonial no Balanço Patrimonial
2% 1% 1% 1%
Imobilizado
Fonte: Adaptado de TCU (2012b, p.366) Fonte: STN (2011a, p.101)

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Figura 2: Efeitos na Demonstração das Variações Patrimoniais Após análise nos aparatos teóricos deste trabalho, é
observado que a administração pública não praticava os
procedimentos para preservar o valor original adequado
Demonstração das Variações Patrimoniais dos ativos, fazendo com que os mesmos configurassem
com valores históricos, não representando uma informa-
Variação Patrimornial Variação Patrimornial ção confiável para a aplicação da depreciação. Com o
Aumentativa Diminutiva intuito de obter a harmonização das normas, a padroniza-
ção contábil e a transparência das informações, focando
Decréscimo Patrimonial a excelência da gestão pública, iniciou-se o trabalho de
Depreciação adequação de valor dos ativos.
Por ser bem complexo, demandando muito tempo e
Resultado Patrimonial recursos humanos, principalmente para aquisições reali-
zadas em exercícios anteriores, a administração pública
Fonte: STN (2011a, p.101) instaurou um cronograma para que esse trabalho fosse
efetuado gradativamente.
Com relação à transparência das contas públicas, há al-
Figura 3: Efeitos no Balanço Patrimonial
gumas limitações, pois as informações prestadas pela ges-
tão pública visavam atender exclusivamente à legislação,
Balanço Patrimonial demonstrando falta de preocupação com os interesses e ne-
cessidades dos usuários, uma vez que não havia registros de
Ativo Passivo contas que minorasse o ativo, como a depreciação, ocasio-
nando, com isso, a superavaliação do Ativo da União. Essas
Ativo Imobilizado
informações inadequadas afetam as demonstrações contá-
(Depreciação acumulada)
beis, ficando estas distorcidas e prejudicando a análise.
Na área pública, os gestores públicos buscam na contabili-
Patrimônio Líquido dade a ferramenta para otimizar os resultados, possibilitando
a transparência na gestão, dando ênfase no que tange à qua-
Fonte: STN (2011a, p.102)
lidade do gasto público, enfocando aspectos como o aperfei-
çoamento da gestão, da tomada de decisão e a mudança cul-
Devido às mudanças na contabilidade do setor público, com in- tural na gestão dos recursos públicos. Este significado traduz
tuito de melhorar na informação contábil, os registros espelham de a superação a resistências internas e adoção de meios mais
modo fidedigno a situação do Patrimônio Público, pois a evidencia- eficazes para a prestação de contas à sociedade, incluindo o
ção da depreciação levanta uma informação confiável e relevante uso enérgico de tecnologias da informação e comunicação e
para o processo decisório, permitindo antecipar expectativas. capacitação de seus gestores.
Diante do exposto, constata-se que os esforços da ges- Conclui-se que, embora o Brasil ainda tenha um longo ca-
tão pública, no sentido de aumentar a transparência, são minho a percorrer com as recentes mudanças ocorridas no
passos em direção ao controle social e, principalmente, à campo da contabilidade pública, as iniciativas de adequar as
eficiência da aplicação dos recursos públicos. práticas contábeis na administração pública às reais necessi-
dades internacionais e nacionais se encontram em constan-
7. Considerações finais te aperfeiçoamento, podendo o tema em comento ser alvo à
Este trabalho teve por objetivo analisar a contribuição do pesquisa futura.
registro da depreciação na contabilidade governamental para No entanto, este estudo não esgota o assunto em pau-
a transparência das informações na gestão pública. Para isso, ta, o qual pode suscitar outras pesquisas que abordem os
utilizaram-se relatórios de parecer prévio do TCU, referentes procedimentos para registro da reavaliação, redução a valor
aos exercícios de 2009 a 2011, cuja fonte encontra-se dispo- recuperável, amortização ou exaustão na Administração Pú-
nível no endereço eletrônico daquela Corte de Contas. blica Direta ou Indireta.

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Adequação das Novas


Normativas Contábeis de
Controle Patrimonial à Prática das
Pequenas e Médias Empresas
according to the Resolution CFC n.º 1.255, 10-12-2009,
Gert Rudolfo Klein Júnior which approved the NBC TG 1000 (accounting for small
Porto Alegre – RS and medium enterprises). Thus, this study proposes a
Graduando em Ciências Contábeis pela UFRGS1 system for the control of fixed assets of these enterprises.
gertklein@ig.com.br Key words: Asset Management; Fixed Asset; Small and
Medium Enterprise.

Ângela Rozane Leal de Souza 1. Introdução


Porto Alegre – RS No Brasil, historicamente, as pequenas e médias empresas
Mestre em Ciências Contábeis pela UFGRS1 (PMEs*) têm sua contabilidade voltada, principalmente, para
Professora do FCE/DCCA da UFRGS1 atender a legislação fiscal. Porém, pela Resolução CFC nº
angela.souza@ufrgs.br 1.255, de 10/12/2009, que aprovou a NBC TG 1000 (Contabili-
dade para Pequenas e Médias Empresas), foram introduzidas
algumas modificações nos procedimentos e práticas contábeis
Resumo para essas empresas. As alterações buscam harmonizar as
Dentre as novas regras da legislação contábil brasileira demonstrações contábeis brasileiras com o resto do mundo,
para as Pequenas e Médias Empresas (PMEs), destaca- trazendo para as PMEs, embora de forma mais branda, as
-se a necessidade de melhor controle do ativo imobili- mesmas regras contábeis das grandes empresas. Dentre es-
zado, com a exigência de informações individualizadas sas modificações, uma alterou profundamente a maneira pela
dos bens patrimoniais. Este artigo objetiva apresentar as qual as PMEs tratam os bens do seu Ativo Imobilizado.
principais mudanças na contabilização e controle do ati- Até a entrada em vigor da NBC TG 1000, as PMEs
vo imobilizado das PMEs que entraram em vigor a partir administravam o seu ativo imobilizado com foco no fiscal,
da Resolução CFC n.º 1.255, de 10/12/2009, que aprovou valendo-se da INRFB 162, a qual estabelece as taxas de de-
a NBC TG 1000 (Contabilidade para Pequenas e Médias preciação para os bens do Imobilizado, aceitas pela Receita
Empresas). Este estudo tem como contribuição a proposi- Federal do Brasil. Dessa forma, como regra geral, a utiliza-
ção de uma sistemática para o controle do Ativo Imobiliza- ção das tabelas emitidas pela RFB tem representado a in-
do dessas empresas. tenção do fisco e das empresas em utilizar prazos estimados
Palavras-chave: Controle Patrimonial; Ativo Imobilizado; de vidas úteis econômicas, com base nos parâmetros que
Pequena e Média Empresa. partiram de estudos no passado. Pode ter havido, em muitas
situações, mesmo com a utilização dessas taxas admitidas
Abstract fiscalmente, razoável aproximação com a realidade dos ati-
The necessity of better control of fixed assets with vos. Todavia, podem ter ocorrido significativos desvios.
demanding individualized information of property stands out Essa normativa, visando simplificar as práticas contábeis
among the new accounting rules of Brazilian legislation for para essas sociedades, determina que a mensuração do ativo
small and medium sized enterprises. Therefore, this article imobilizado reveste-se de complexidade para as quais as em-
presents the main changes in accounting and controlling presas devem se preparar, tanto do ponto de vista conceitual
of fixed assets of small and medium sized enterprises quanto do ponto de vista de aplicação prática das normas, o

1
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – CEP. 91501-970 – Porto Alegre – RS.
Artigo recebido em 06/08/2012 e aceito em 26/02/2013.
Conforme a NBCTG 1000, as pequenas e médias empresas não têm obrigação pública de prestação de contas e elaboram demonstrações contábeis para fins
*

gerais para usuários externos e não configuram sociedade ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no exercício social anterior, ativo total superior a
R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de reais) ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais) (BRASIL, 2007).

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Adequação das Novas Normativas Contábeis de Controle Patrimonial à Prática das Pequenas e Médias Empresas

que certamente envolve investimentos e adaptação dos con- Para Lüdke e André (1988), a observação direta permite que
troles do ativo para gerar as informações necessárias. Assim, o pesquisador chegue mais perto da perspectiva dos sujeitos,
a partir de 01/01/2010, as PMEs foram obrigadas a adotar os um importante alvo nas abordagens qualitativas.
conceitos de reconhecimento do ativo, valor residual e valor Para a confirmação dos bens, efetua-se o estudo de caso
recuperável para os bens do ativo imobilizado. realizando-se a contagem física dos bens na empresa pes-
Nesse contexto, para a gestão patrimonial, é de grande quisada, possibilitando a identificação da existência do pa-
importância o correto controle dos bens da empresa. Esse trimônio, evidenciando os procedimentos necessários para
controle, tanto de aspecto físico quanto contábil, evita, por o inventário e controle patrimonial em uma média empresa.
exemplo, extravios de ativos imobilizados e problemas na
elaboração das demonstrações contábeis. 3. Ativo Imobilizado – Mensuração e Depreciação
A administração patrimonial envolve a implantação de A mensuração do ativo imobilizado deve ser realizada pelo
normas e procedimentos, revisão de toda a contabilidade seu custo. Após o reconhecimento inicial, a empresa deve
relativa ao patrimônio, o inventário e a identificação de to- mensurar todos os itens do ativo imobilizado pelo custo menos
dos os bens; compreende uma sequência de atividades que depreciação acumulada e quaisquer perdas por redução ao
tem seu início na aquisição e termina quando o bem for re- valor recuperável de ativos. Embora o IAS 16, emitido pelo
tirado do patrimônio da empresa. Ao longo dessa trajetória, International Accounting Standarts Board – IASB, permita
são adotados inúmeros procedimentos, físicos e contábeis que o ativo imobilizado seja reconhecido pelo fair value (valor
(SANTOS, 2002). De modo geral, os efeitos do controle in- justo), a Lei 11.638/07 eliminou da prática contábil adotada
terno nos bens imobilizados consistem na verificação desses no Brasil a alternativa de mensurar o ativo imobilizado pelo
bens, a fim de testar sua existência, localização, utilização e custo reavaliado subsequente à sua contabilização inicial
estado de conservação (FRANCO e MARRA, 2001). (PRICEWATERHOUSECOOPERS BRASIL, 2011).
Um fato importante na gestão patrimonial é a adequa- O custo do ativo imobilizado compreende seu preço de com-
ção a alguns aspectos legislativos/jurídicos. Pode-se citar, pra, incluindo taxas legais e de corretagem, tributos de importa-
entre essas adequações, a redução ao valor recuperável ção e tributos de compra não recuperáveis, depois de deduzidos
de ativos, com o pronunciamento CPC 01 e as alterações os descontos comerciais e abatimentos; quaisquer custos dire-
da Lei 11.638/07, sendo possível acompanhar a depre- tamente atribuíveis para colocar o ativo no local e em condição
ciação de ativos de longa duração por meio do teste de necessária para que seja capaz de funcionar da maneira preten-
impairment, ou teste de recuperabilidade, avaliando-se a dida pela administração. Esses custos podem incluir os custos
possibilidade de essa redução se aplicar ao mesmo. de elaboração do local, frete e manuseio inicial, montagem e ins-
Nesse ambiente, este artigo objetiva analisar as normati- talação e teste de funcionalidade; a estimativa inicial dos custos
vas atuais e propor um roteiro que contribua na elaboração de de desmontagem e remoção do item e de restauração da área
inventário patrimonial adequado às pequenas e médias em- na qual o item está localizado, a obrigação em que a entidade
presas, conforme estabelece a legislação contábil em vigor. incorre quando o item é adquirido ou como consequência de ter
utilizado o item durante determinado período para finalidades
2. Método que não a produção de estoques durante esse período.
No que se refere aos procedimentos metodológicos, este tra- Quanto à depreciação, caso as partes principais de item do
balho é caracterizado como pesquisa bibliográfica e documental. ativo imobilizado tenham padrões de consumo de benefícios eco-
Quanto aos objetivos da pesquisa, pode-se classificá-la como nômicos significativamente diferentes, a entidade deve alocar o
pesquisa descritiva, e quanto à abordagem do problema, clas- custo inicial do ativo para suas partes principais e depreciar cada
sifica-se como pesquisa qualitativa, uma vez que este tipo de parte separadamente ao longo de sua vida útil. A despesa de de-
estudo consiste em investigação, cuja principal finalidade é o de- preciação de cada período deve ser reconhecida no resultado.
lineamento das características de fatos ou fenômenos e a ava- A entidade deve alocar o valor depreciável de ativo em base
liação de determinada variável (MARCONI e LAKATOS, 2002). sistemática ao longo da sua vida útil. Fatores como, por exem-
As técnicas de análise documental e de conteúdo estão plo, mudança na maneira como o ativo é utilizado, desgaste e
intimamente ligadas ao levantamento do ativo fixo junto à quebra relevante inesperada, progresso tecnológico e mudan-
contabilidade da empresa pesquisada. Dessa forma, os ças nos preços de mercado podem indicar que o valor residual
documentos examinados para a execução da pesquisa do ou a vida útil do ativo mudou desde a data de divulgação anual
imobilizado são: a coleta por amostragem das notas fiscais, mais recente. Se tais indicações estiverem presentes, a enti-
relatório contábil e financeiro com todos os bens existentes dade deve revisar suas estimativas anteriores e, caso as ex-
na empresa com seus valores imobilizados, depreciações e pectativas atuais divirjam, corrigir o valor residual, o método de
valor líquido. A análise documental busca identificar informa- depreciação ou a vida útil. Assim, a entidade deve contabilizar
ções factuais nos documentos a partir de questões ou hipó- a mudança no valor residual, no método de depreciação ou na
teses de interesse do pesquisador (PARKER e REA, 2000). vida útil como mudança de estimativa contábil.
A técnica de coleta de dados, denominada observação, for- A depreciação do ativo se inicia quando o bem está dis-
nece importantes dados qualitativos, que apenas a visão do ponível para uso, isto é, quando está no local e em condi-
pesquisador possibilitaria. Como o estudo de caso, é a análi- ção necessária para funcionar da maneira pretendida pela
se profunda de uma unidade de estudo. A observação auxilia administração, e termina quando o ativo é baixado. Entre-
na compreensão dos dados fornecidos pela empresa como tanto, sob os métodos de depreciação pelo uso, a despesa
também no entendimento do processo fabril da organização. de depreciação pode ser zero quando não existe produção.

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Na determinação da vida útil de ativo, a entidade deve a entidade ocorreram durante o período, ou espera-se
considerar o uso esperado do ativo, avaliado com base na que ocorram no futuro próximo, na medida ou na ma-
capacidade esperada do ativo ou na produção física e no neira em que um ativo é utilizado ou espera-se que seja
desgaste e quebra física esperados, que depende de fatores utilizado. Essas mudanças incluem: o ativo tornar-se
operacionais, como, por exemplo, o número de turnos para os inativo, planos para descontinuar ou reestruturar a ope-
quais o ativo é utilizado, programas de reparo e manutenção ração na qual o ativo pertence, planos para alienar o
e cuidado e a manutenção do ativo enquanto estiver ocioso, ativo antes da data previamente esperada e revisão da
obsolescência técnica ou comercial proveniente de mudanças vida útil do ativo como definida ao invés de indefinida;
ou melhorias na produção, ou de mudança na demanda do (c) Evidência disponível, proveniente de relatório inter-
mercado para o produto ou serviço resultante do ativo e limi- no, que indique que o desempenho econômico de ativo
tes legais ou semelhantes no uso do ativo, tais como as datas é ou será pior que o esperado. Nesse contexto, o de-
de término dos arrendamentos mercantis relacionados. sempenho econômico inclui os resultados operacionais
A PME deve escolher o método de depreciação que reflita o e os fluxos de caixa.
padrão pelo qual se espera consumir os benefícios econômicos
A entidade deve baixar um item do ativo imobilizado por
futuros do ativo. Os possíveis métodos de depreciação incluem o
ocasião de sua alienação ou quando não existir expectativa
método da linha reta, o método dos saldos decrescentes e o méto-
de benefícios econômicos futuros pelo seu uso ou alienação.
do baseado no uso, tal como o método das unidades produzidas.
Do mesmo modo, a entidade deve divulgar, para cada classe
Se existir indicação de que tenha ocorrido mudança rele-
de ativo imobilizado que foi considerado apropriado: as bases
vante desde a última data de divulgação anual nos padrões
de mensuração utilizadas para determinação do valor contábil
pelos quais a entidade espera consumir os benefícios econô-
bruto; os métodos de depreciação utilizados; as vidas úteis ou as
micos futuros do ativo, a entidade deve revisar seu método
taxas de depreciação utilizadas; o valor contábil bruto e a depre-
atual de depreciação e, caso as expectativas atuais divirjam,
ciação acumulada (somadas às perdas acumuladas por redução
mudar o método de depreciação para refletir o novo padrão.
ao valor recuperável de ativos) no início e no final do período de
Em cada data de divulgação, a entidade deve aplicar a Redu-
divulgação; a conciliação do valor contábil no início e no final do
ção ao Valor Recuperável de Ativos para determinar se um item
período de divulgação, demonstrando separadamente: adições;
ou um grupo de itens do ativo imobilizado está desvalorizado e,
baixas; aquisições por meio de combinação de negócios; trans-
nesse caso, reconhecer e mensurar a perda pela redução ao va-
ferências para propriedade para investimento, caso a mensura-
lor recuperável do ativo. Se – e apenas se – o valor recuperável
ção confiável de valor justo se torne disponível; perdas por redu-
do ativo for menor que seu valor contábil, a entidade deve reduzir
ção ao valor recuperável de ativos, reconhecidas ou revertidas
o valor contábil do ativo para seu valor recuperável. Essa redu-
no resultado; depreciações; outras alterações.
ção é uma perda por desvalorização. Ao avaliar se existe qual-
quer indicação de que um ativo possa ter sofrido desvalorização,
a entidade deve considerar, no mínimo, as seguintes indicações: 4. Controle Interno do Imobilizado
Para a eficácia e eficiência do controle do Ativo Imobilizado,
I) Fontes externas de informação: é necessária a implantação de normas de procedimentos para
(a) Durante o período, o valor de mercado do ativo dimi- aprovação, compra, entrada, registro, identificação e outros, bem
nuiu sensivelmente mais do que seria esperado como como determinar a responsabilidade pela guarda física dos bens.
resultado da passagem do tempo ou do uso normal; Ao se elaborar um sistema de controle do patrimônio,
(b) Mudanças significativas com efeito adverso sobre a devem ser levados em consideração aspectos como
entidade ocorreram durante o período, ou ocorrerão em (IUDÍCIBUS et al., 2010, p. 222-223):
futuro próximo, no ambiente tecnológico, de mercado, (a) Controle por área geográfica ou local: facilita a se-
econômico ou legal, no qual a entidade opera, ou no mer- gregação da depreciação para fins de custeio por fábri-
cado para o qual o ativo é utilizado; ca e as informações por segmento.
(c) As taxas de juros de mercado ou as outras taxas de (b) Segregação por segmento econômico: muitas vezes
retorno de mercado sobre investimentos aumentaram a empresa é obrigada a evidenciar informações sobre
durante o período, e esses aumentos provavelmente investimentos por segmento econômico onde atua.
afetam materialmente a taxa de desconto utilizada no (c) Segregação por função ou departamento: mesmo que te-
cálculo do valor em uso de ativo e diminuem o valor nha toda a produção num só local, poderá ser feita na própria
justo menos as despesas para vender o ativo; contabilidade a segregação em subcontas por departamento
(d) O valor contábil dos ativos líquidos da entidade é maior ou seção para fins de controle e alocação da depreciação.
do que o valor justo estimado da entidade como um todo (d) Necessidades internas e de terceiros: detalhamento
(tal estimativa pode ter sido feita, por exemplo, em relação necessário com fins de atender exigências de entida-
ao potencial de venda de parte ou de toda a entidade). des às quais a empresa esteja subordinada.
II) Fontes internas de informação: (e) Exigências fiscais: como está passando a ser comum
que os imobilizados estejam sujeitos a taxas diferentes de
(a) Evidência disponível de obsolescência ou de dano depreciação, uma para fins fiscais e outra para fins de con-
físico de ativo; tabilidade propriamente dita, controles segregados preci-
(b) Mudanças significativas com efeito adverso sobre sam também ser implementados para esse fim.

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Adequação das Novas Normativas Contábeis de Controle Patrimonial à Prática das Pequenas e Médias Empresas

No Manual de Administração Patrimonial da Universidade de Quadro 2: Procedimentos da gestão do ativo imobilizado


São Paulo, são definidos conceitos e competências, estabele-
cendo-se procedimentos para toda a movimentação física e con- entrada e registro;
tábil dos bens patrimoniais, próprios e de terceiros, sob a respon-
identificação dos bens;
sabilidade da Universidade, e são formuladas as diretrizes gerais
da área de patrimônio, expostas no Quadro 1 (USP, 2010): Procedimentos controles individuais ou coletivos;
Para Pereira e Araújo (2006), os procedimentos devem ser dis- – Gestor cálculos matemáticos exigidos por lei;
tintos entre a área que realiza o controle e todas as demais áreas do Ativo baixas e transferências;
da empresa, definidos conforme se evidencia no Quadro 2. Imobilizado guarda de documentação;
Quanto à implantação, Santos (2008) propõe um roteiro para
um controle efetivo do ativo imobilizado, conforme Quadro 3: fiscalização do cumprimento da norma;
O controle do ativo imobilizado é de suma importância, inventário físico.
pois exerce influência direta na formação da estrutura de
uma organização, bem como na determinação dos encar-
solicitação de compra de ativo;
gos formadores de custo ou despesas. Embora não exis-
ta técnica específica para a realização deste controle, é aprovação dos pedidos de compra;
necessário que o mesmo seja feito de maneira eficiente, entrada dos bens na empresa;
demonstrando informações necessárias para a tomada de Procedimentos
das demais solicitação de transferência de bens;
decisões dos gestores e que atenda eventuais fiscaliza-
áreas ordens de serviço;
ções e auditorias (PEREIRA e ARAÚJO, 2006).
solicitação de baixa e vendas;
Quadro 1: Exemplo de gerenciamento, incorporação e utilização dos bens exclusiva-
registro de bens da USP mente nos interesses da empresa.

conscientização do usuário; Fonte: Pereira e Araújo (2006)

divulgação de procedimentos;
atualização de dados no sistema;
Gerenciamento propostas de melhorias; Quadro 3: Roteiro de implantação de controle do ativo imobilizado
de Bens realocação de bens à disposição;
tipos de bens móveis (análise);
transferência de bens;
especificação dos bens;
baixa de bens; Levantamento
inicial contagem física;
realização de levantamento físi-
co/inventário patrimonial. relação de bens/quantidades.
recebimento da documentação codificação;
pertinente à incorporação dos bens; etiquetagem;
Cadastramento
cadastramento dos bens no sistema; cadastramento informatizado/fichas.
Incorporação/
emissão do termo de responsabilidade; inclusão por área;
Registro de
identificação física do bem com Localização
Bens emissão de termos
a fixação de etiqueta patrimonial dos bens
de responsabilidade.
(ou gravação) observada a padro-
nização da etiqueta de código de inclusão de valores no cadastro;
barras gerada pelo sistema. Valoração dos Bens análise da depreciação contábil
incorporação de animais; (pelo tempo de uso).
lançamento contábil de livros, inventário do tipo inicial;
encaminhando-os à contabilidade
da unidade; Inventário contagem física;
Tipo de Patrimonial conciliação com os
incorporação de museus;
Incorporação/ registros patrimoniais.
Registro de incorporação de acervos;
Bens incorporação de benfeitorias e inclusões;
obras encaminhadas à contabilidade atualizações (termos de transfe-
Procedimentos rências de bens);
da reitoria;
futuros
incorporação por permuta; exclusões;
registros de bens de terceiros. realização de inventários anuais.
Fonte: Adaptado de USP (2010) Fonte: Adaptado de Santos (2008)

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5. Estudo de Caso – Controle Patrimonial em rios próprios para esse trabalho, quando usam; alguns
uma empresa de médio porte emplaquetadores não se preocupam com estética, não
A empresa em estudo, atuante no ramo das comunicações, fazem um bom trabalho, e o resultado visual posterior
é uma média empresa localizada na cidade de Porto Alegre, no pode ser muito ruim;
estado do Rio Grande do Sul, que, com o intuito de adequação  Definição do pessoal do inventário dos equipamentos
às novas regras contábeis, implantou uma sistemática para con- e verificação de normas de segurança a serem seguidas;
trole patrimonial. A implantação, efetuada no presente trabalho,  Ao final dos trabalhos, deve-se alimentar um banco
consistiu nas etapas de Planejamento, Execução do Inventário, de dados com as informações, gerando um arquivo de
Cotejamento (Conciliação) e Regularização Cadastral dos Bens. bens inventariados, ou bens localizados fisicamente.

5.1.1. Planejamento 5.1.3. Conciliação


Para a realização deste estudo, primeiramente, foram Não existem regras estanques para se efetuar a conci-
realizadas reuniões com o pessoal de gerência, da controlado- liação; cada caso é um caso. Os critérios a se utilizar nes-
ria, da engenharia e de sistemas para verificação dos funcioná- te processo do trabalho são variáveis. O que serve para
rios que realizariam os trabalhos de inventário e definição da uma empresa nem sempre serve para outra. Empresas que
infraestrutura para os trabalhos a serem desenvolvidos. mantêm um bom controle têm uma conciliação rápida, mas
A seguir, avaliou-se a demanda de tempo e o trabalho empresas que têm controles ruins têm conciliação demora-
que os funcionários da empresa teriam para efetuar os pro- da, pois não se podem deixar de lado as evidências dos re-
cedimentos internamente. Destacou-se a necessidade do gistros contábeis, sob pena de ferir os princípios contábeis
envolvimento de todas as áreas, pois cada uma terá infor- durante a conciliação ou ajustes. Os ajustes contábeis têm
mações úteis no processo de conciliação (cotejamento). algum respaldo no artigo 233 do RIR/94.
Nessas reuniões, foram realizadas: as definições quanto à Assim, neste estudo, realizou-se o confronto de arquivos do
coordenação dos trabalhos, na controladoria, em sistemas e na Ativo Fixo com os arquivos levantados em campo pelo pessoal
engenharia; padronização de sistemas, definição de um sistema que realizou o inventário. Nesta fase, foi efetuada uma concilia-
para controle patrimonial que tenha conexões (interfaces) com ção por meio de sistema, no qual se pesquisa, no arquivo do sis-
sistemas de engenharia, de gastos de capital e outros que pos- tema de ativo fixo, a existência de um item levantado fisicamen-
sam, de alguma forma, conter qualquer controle patrimonial; de- te, com base no número de patrimônio que está afixado neste
finição de como serão identificados os bens patrimoniais, plaque- bem. Todos os bens encontrados foram marcados e separados
tas metálicas, código de barras ou outro meio qualquer; definição em um arquivo, identificados como itens conciliados.
de uma padronização para as descrições dos bens patrimoniais; Este tipo de conciliação demonstra os bens que estavam re-
definição de como levantar bens de informática, ferramentas e, gularizados nos arquivos do ativo fixo, alterando as descrições,
neste caso, que parâmetro seria utilizado para avaliação da ne- os centros de custos e os dados cadastrais com as informações
cessidade de inventário; avaliação de como efetuar a composi- obtidas no inventário, pois, normalmente, essas informações
ção dos bens que estão em obras em andamento, registrados estão desatualizadas nesses arquivos. Foi dada atenção espe-
na contabilidade; definição dos bens de massa, ou seja, bens cial para os complementos, incorporações dos itens, pois, se
para os quais não existe interesse em se obter um controle indi- durante o levantamento um item principal for encontrado, seus
vidual ou cujo custo do controle não seja economicamente inte- complementos devem ser considerados conciliados também, re-
ressante; definição das equipes de trabalho e das rotas que elas cebendo o mesmo número do item principal com complementos
deverão seguir, observando a geografia da empresa; pessoal de sequenciais. Todos os demais itens não identificados foram con-
controladoria e de engenharia, vitais para os trabalhos; transpor- siderados itens a inventariar ou pendências de inventário, isto
te às áreas inventariadas; verificação de bens da empresa que em ambos os arquivos, tanto do levantamento efetuado fisica-
estão em poder de terceiros, seja por estarem em manutenção, mente quanto dos arquivos do Sistema de Ativo Fixo.
seja por serem objetos de comodato; bens de terceiros em po- No passo seguinte, a confrontação se deu com base nas
der da empresa; bens destinados à venda, sucatas; definição de localizações dos bens patrimoniais, ou seja, uma listagem do
como serão informadas as movimentações de bens durante e Sistema de Ativo Fixo classificada por localização, com todos
após o inventário e esquemas de comunicação; levantamento os bens ainda não conciliados, comparada com a listagem
das normas de segurança da empresa; definição dos campos dos arquivos levantados fisicamente, também classificada
obrigatórios para levantamento durante o inventário. por localização, para itens ainda não conciliados. Por meio
da verificação visual, foram localizados os bens que possam
ter descrições iguais, descrições similares, ou mesmo, que
5.1.2. Execução do Inventário
tenham descrições ou nomes de guerra diferentes, mas que
Após o planejamento, definiram-se os procedimentos
sejam identificados como sendo os mesmos.
para o inventário:
Seguindo o processo de conciliação, foi efetuado o con-
 Comunicado geral para a empresa, avisando sobre o fronto com base na comparação de descrições, números
inventário, seus objetivos, esclarecendo a todos sobre de fabricação e outros dados globais dos arquivos. Para
a demanda de recursos que o processo requer; isso, emitiu-se uma listagem do Arquivo do Ativo Fixo para
 Elaboração de um manual de controle dos itens do itens que não passaram pelas triagens anteriores. Foi re-
imobilizado, já que as pessoas tendem a utilizar crité- alizada a indexação pelos campos mencionados e compa-

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rados à listagem dos itens inventariados, emitida seguindo Os lançamentos contábeis, oriundos da regularização dos
as mesmas indexações. Após, selecionaram-se os valores saldos, resultaram em lucro não operacional, o qual foi ab-
relevantes de forma inversa, dos maiores para os menores. sorvido por resultados operacionais negativos no período,
Primeiramente, trabalhou-se com os valores que represen- de forma que este procedimento, neste caso específico, não
tam maior reflexo no resultado, ou seja, bens que têm valor gerou tributos a pagar. Destaca-se, porém, que os resulta-
residual mais alto. Novamente, foi realizado o confronto, dos dependerão das diferentes realidades das empresas.
conciliando o máximo de itens possível. Todos os demais
itens não identificados foram para a triagem seguinte. Nes- 6. Análise dos resultados do estudo
ta etapa, trabalhou-se com valores de aquisição relevantes, O inventário físico, dentre outros benefícios gerados,
utilizando-se o mesmo processo descrito na etapa anterior. possibilitou que a empresa iniciasse o processo de implan-
Assim, depois de esgotadas todas as formas normais tação de orçamento empresarial, em que os dados gerados
de se efetuar o cotejamento, utilizou-se como último arti- a partir do controle patrimonial serão fundamentais na com-
fício o senso crítico do profissional, porém tudo documen- posição dos custos e receitas gerados por cada unidade de
tado para avaliação da auditoria. negócios da empresa.
Ficaram definidas as seguintes regras para a conciliação: O departamento de manutenção e engenharia beneficiou-
a. Incorporações de bens adquiridos em épocas diferentes -se com os resultados do inventário, utilizando-se das infor-
do bem principal não podem ser agregadas ao bem prin- mações obtidas no levantamento para planejar suas revi-
cipal. Se um bem foi adquirido no ano de 1995 e teve um sões preventivas e, eventualmente, iniciar um processo de
complemento adquirido em 1997, este complemento não substituição de peças e máquinas operacionais.
pode ser somado ao item principal, pois seus valores resi- A realização do inventário também possibilitou que fos-
duais e históricos são diferentes; se realizado o procedimento de avalição ao valor justo, a
b. Bens que foram adquiridos em épocas diferentes e que estimativa do valor residual e a vida útil de cada bem in-
foram lançados indevidamente, com números diferentes ventariado, adequando-se ao que determina a legislação
no sistema de ativo fixo, devem ter seus complementos contábil vigente.
lançados no mesmo tombamento do item principal; Com a realização do inventário patrimonial, há a possibi-
c. Quando foi encontrada, no levantamento físico, quan- lidade de que a empresa tenha uma completa identificação
tidade de bens inferior ao registrado no sistema de ativo dos bens, ajustes contábeis, saneamento de irregularidades
fixo, trabalhou-se com seus valores residuais, ou seja, e um cadastro com informações confiáveis, sabendo-se da
foram considerados conciliados os itens de valor mais situação de cada bem, sua localização e seu valor.
alto, lançando a resultado os itens de valores menores; O resultado mais evidente do estudo foi o gerenciamen-
d. Para os bens inventariados cujo registro contábil neces- to dos custos (correta apropriação) e do inventário físico
sita ser desdobrado, indica-se qual o item de origem, o item periódico. Foram obtidos benefícios como:
de destino e os critérios do rateio para o desdobramento; • Melhoria na qualidade dos processos e das informações;
e. Quando forem encontrados bens no arquivo do ativo • Controle centralizado e atualizado;
fixo que devam ser aglutinados, o processo será o mes- • Total segurança quanto às informações processadas;
mo descrito no item anterior, devendo ser indicados os • Atendimento à legislação vigente;
bens de origem e o destino; • Informações precisas e tempestivas para tomada de decisões;
f. As informações de toda e qualquer alteração de número de • Melhoria na qualidade dos processos e das informações.
patrimônio, conta ou endereço devem ser registradas e guarda-
das, tanto a que estava no Sistema de Ativo Fixo originalmente, A partir deste estudo, é possível à empresa verificar a
quanto a nova informação levantada durante o inventário. necessidade ou não de execuções de avaliações (teste de
impairment, etc.) e laudos de vida útil, além de agilizar o
processo, caso sejam verificadas variações na deprecia-
5.1.4. Regularização Cadastral dos Bens ção ou haja necessidade de redução ao valor recuperável
Após exauridos todos os meios possíveis para o coteja- de ativos, conforme estabelece a Lei 11.638/2007.
mento, restaram duas listagens para serem trabalhadas: (a) Diante do exposto, visualiza-se que o trabalho realiza-
sobras físicas – bens que existem fisicamente e não estão do na empresa atingiu seus objetivos, gerando benefícios
lançados na contabilidade; (b) sobras contábeis – bens exis- para vários setores da empresa que se utilizam das infor-
tentes na contabilidade e que não existem fisicamente. mações geradas pelo controle patrimonial, como o depar-
Essas duas listagens foram valoradas: a primeira com tamento de manutenção, de planejamento e contabilidade.
valores estimados, respaldados por laudos técnicos ou do-
cumentos avaliados pela área jurídica e de auditoria da em-
presa, e a segunda com os valores residuais registrados nos 7. Considerações Finais
livros do ativo fixo. Por fim, deu-se baixa nos saldos contá- Uma das principais ênfases da legislação contábil bra-
beis dos itens não encontrados, lançando-se os valores para sileira atual, na questão do patrimônio, é que o balanço
resultado não operacional. Da mesma forma, incorporaram- patrimonial é formatado para a gestão da empresa e não
-se os itens inventariados e não contabilizados com os valo- para atender apenas ao fisco.
res levantados nos laudos, registrando-se esse valor como Nesse contexto, as alterações introduzidas pelas novas
abatimento dos saldos do resultado não operacional. normas contábeis irão contribuir também para melhorar a

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 22 - 28, jan./abr. 2013 27


Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

Gert Rudolfo Klein Júnior Ângela Rozane Leal de Souza

gestão patrimonial das PMEs. Embora possa levar um tem- melhor avaliados e com base nas necessidades reais, per-
po para as empresas se adequarem, seja por resistência à mitam a previsão de custos, redução de gastos e redução
mudança ou pelo custo inicial de implantação de controle de depreciação e contribuam para um planejamento mais
patrimonial, é um caminho sem volta, e os profissionais da preciso e eficiente do orçamento da empresa com base
contabilidade precisam contribuir para o esclarecimento em dados reais.
dos empresários e a divulgação dos benefícios das modifi- Este trabalho traz um roteiro para a implantação de contro-
cações propostas. les patrimoniais nas Pequenas e Médias Empresas e avalia
Com a implantação do controle patrimonial dos seus sua importância para a gestão. No caso estudado, a implanta-
bens, a empresa elabora demonstrações mais precisas, ção de uma sistemática de controle patrimonial permitiu à em-
ajudando os administradores no processo de tomada de presa sua adequação às normas atuais de contabilidade, além
decisões, além de evitar desvios de recursos e roubo de de proporcionar um controle patrimonial mais eficiente e eficaz,
bens. Proporciona também que os futuros investimentos, gerando informações mais úteis aos seus administradores.

Referências

BRASIL. Instrução Normativa SRF n.º 162, de 31 de dezembro de 1998. Fixa prazo de vida útil e taxa de depreciação dos
bens que relaciona. Brasília, 31 dez. 1998.
______. Lei N.º 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404. Brasília, 2007.
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USP – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Manual de administração patrimonial. Manual elaborado pela COMPATRIM –
GEFIM (Atualização em 2010). São Paulo, ago. 2010.

28 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 22 - 28, jan./abr. 2013


CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Evidenciação das Fundações


Privadas de Belo Horizonte:
Prestação de Contas e
Qualidade da Informação1
monitoramento seja o mais efetivo possível. Dessa forma,
Poueri do Carmo Mário
essa pesquisa teve como objetivo analisar o nível de evi-
Belo Horizonte – MG
denciação contábil das Fundações Privadas do município
Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP2
de Belo Horizonte. Para identificar o nível de evidencia-
Professor Adjunto da UFMG3, Professor Adjunto do IBMEC/MG4
ção dessas entidades foi utilizado o modelo, adaptado, de
poueri@face.ufmg.br
Silveira (2007), que relaciona vários aspectos que devem
ser observados nas prestações de contas dessas entida-
des. Após a análise dos dados, foi possível concluir que
Cleberson Luiz Santos de Paula
o nível de evidenciação das entidades da amostra é ina-
Belo Horizonte – MG
dequado, e que quanto às demonstrações contábeis e os
Mestre em Ciências Contábeis pela UFMG3
relatórios evidenciados, as fundações apresentaram a sua
Professor Assistente da UFMG3, Professor do IBMEC/MG4
maioria em acordo com a evidenciação obrigatória, mas na
cleberson.santos@ibmecmg.br
análise dos itens que compõe os mesmos a evidenciação
voluntária e seu nível (qualidade) não foram satisfatórios.
Palavras-chave: Terceiro Setor, Evidenciação contábil, Funda-
Aléxica Dias de Freitas Alves
ções privadas, Prestação de Contas, Qualidade da informação.
Belo Horizonte – MG
Graduanda em Controladoria & Finanças pela UFMG3
Graduanda em Ciência Contábeis pelo IBMEC/MG4
Abstract
The accounting disclosure of nonprofit organizations is
alexicadias@ufmg.br
crucial to demonstrate the transparency of its administration,
and if it is performed in the best possible way it allows the
Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe
identification of the social return generated. Considering that
São Paulo – SP
the Public Prosecutor in Brazil has as function to guard the
Mestranda em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP2
private foundations, their annual rendering of accounts should
Graduada em Ciências Contábeis pela UFMG3
contribute to the monitoring is as effective as possible. Thus this
fernandajupetipe@usp.br
study aimed to analyze the level of disclosure of Belo Horizonte’
private foundations. Was used a model adapted by Silveira
(2007), relates various aspects which must be observed in these
Resumo entities. After analyzing the data, it was possible to conclude
A evidenciação contábil por parte das entidades sem that the level of disclosure of the entities is inadequate and that
fins lucrativos é crucial para demonstrar a transparência da the financial statements and reports evidenced the foundations
sua administração, e se efetuada da melhor forma possí- showed the majority according to the mandatory disclosure but
vel, permite a identificação do retorno social gerado. Con- analysis of the items that compose the voluntary disclosure and
siderando que o Ministério Público, no Brasil, tem como its level (quality) were not satisfactory.
função velar pelas fundações privadas, suas prestações de Key words: Third Sector, Disclosure, Private Foundations,
contas anuais a esse órgão devem contribuir para que o Accountability, Quality of information

1
Agradecemos à FAPEMIG pelo apoio concedido na consecução da pesquisa por meio do Projeto APQ-01680-08. Também agradecemos aos comentários e sugestões
ofertados durante o 19º Congresso Brasileiro de Contabilidade (Belém/PA) e a 24th Asian-Pacific Conference (Havaí/EUA).
2
FEA/USP – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
3
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais.
4
IBMEC/MG – Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de Minas Gerais.
Artigo recebido em 03/12/2012 e aceito em 26/02/2013.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 29 - 41, jan./abr. 2013 29


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Poueri do Carmo Mário Cleberson Luiz Santos de Paula Aléxica Dias de Freitas Alves Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe

1. Introdução dá-se por meio de uma prestação de contas anual. A pres-


De acordo com Laurindo (2006), Verenhitach (2007), tação de contas, no caso específico do Ministério Público
Ferrarezi (2007) e Pereira (1997), a globalização e as mu- do Estado de Minas Gerais, é realizada no Sistema de
danças que ocorreram no processo da administração públi- Cadastro e Prestação de Contas (SICAP).
ca, mais especificamente nos Estados, fizeram com que o Em virtude disso, surgiu a motivação da pesquisa que
ato de solidariedade e ajuda mútua à população se trans- visou identificar o nível de evidenciação contábil das fun-
formasse no decorrer dos anos. Para Olak e Nascimento dações privadas do município de Belo Horizonte, por meio
(2000), as entidades sem fins lucrativos vêm desempenhan- das informações contidas no SICAP. Especificamente, pre-
do funções cada vez mais amplas e relevantes para a socie- tende-se (1) verificar se as demonstrações contábeis das
dade moderna, realizando atividades de caráter beneficente, fundações privadas do município de Belo Horizonte, infor-
filantrópico, caritativo, religioso, cultural, além de outros ser- madas no SICAP, estão de acordo com as normas contá-
viços, objetivando sempre à consecução de fins sociais. O beis; (2) identificar se as fundações privadas do município
crescimento destas entidades, no Brasil, pode ser apreciado de Belo Horizonte evidenciam informações sobre as gra-
pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti- tuidades oferecidas e os benefícios fiscais gozados; e (3)
ca (IBGE) que, com base no ano de 2002, identificou o nú- analisar as informações evidenciadas de forma voluntária,
mero de 500.157 (quinhentas mil cento e cinquenta e sete) no referido sistema.
entidades sem fins lucrativos (ESFL). Realizando a mesma A seguir, será abordada a descrição do Terceiro Setor,
pesquisa em 2005, o número subiu para 601.611 (seiscentas com a apresentação das áreas de atuação e especificamen-
e uma mil seiscentas e onze) entidades, demonstrando um te das Fundações e do Ministério Público que são agentes
crescimento de 20,28%, em três anos. principais nesse trabalho de fiscalização. Em seguida, se-
Esse crescimento pode demonstrar a preocupação da rão expostas a informação contábil e o disclosure das de-
sociedade brasileira em contribuir com o Estado no alcance monstrações contábeis e estudos sobre evidenciação em
de suas metas sociais. Essas entidades têm como objetivo entidades sem fins lucrativos desenvolvidos no Brasil nos
promover benefícios à sociedade e muitas destas surgem últimos anos. Dessa forma, será possível apresentar a me-
por iniciativas de pessoas sem experiência em gestão e, todologia utilizada para elaboração do trabalho e o modelo
consequentemente, apresentam muitas dificuldades na sua utilizado com suas adaptações, os resultados obtidos e os
administração. De acordo com Silveira (2007), as entida- principais achados da pesquisa, além das considerações
des sem fins lucrativos englobam as fundações e as as- finais do trabalho.
sociações. As fundações diferem-se das associações por
serem, em qualquer caso, de finalidade pública, enquanto 2. Terceiro Setor
nas associações, a finalidade é coletiva, de interesse de O conceito do Terceiro Setor não tem unanimidade entre
seus associados. autores em geral (por exemplo: Hudson, 2002; Vilanova,
Levando em consideração que parte considerável dos re- 2004; Fernandes, 1997). Diante de definições observadas,
cursos arrecadados pelas entidades sem fins lucrativos têm percebeu-se que não há limites para se classificar uma en-
como origem subsídios governamentais, doações de empre- tidade como pertencente ao Terceiro Setor.
sas privadas e da sociedade, segundo Pace (2009), os ges- De acordo com Salamon (1997, p. 101 e 102), o Terceiro
tores, o governo e a sociedade necessitam saber de forma Setor é a um só tempo:
clara e transparente o valor dos recursos recebidos, de que • um conjunto de valores que privilegia a iniciativa indivi-
forma isso é feito e a sua aplicação, e se as atividades de- dual, a auto expressão, a solidariedade e a ajuda mútua;
senvolvidas, realmente geram benefícios para a sociedade. • um conjunto de instituições que já representa uma for-
Essas informações ajudam a todos os interessados a proce- ça econômica bem mais considerável do que, em geral,
derem à análise sobre a gestão dessas entidades. se supõe; e
A transparência, portanto, mostra-se como uma questão • alvo de toda uma variedade de mitos disfuncionais,
intrínseca às entidades sem fins lucrativos e a Contabilidade, distorções ideológicas e interpretações errôneas,
por meio de mecanismos de evidenciação, pode auxiliar no que ameaçam seu processo e limitam o papel que
processo de produção de informação aos diversos usuá- pode desempenhar.
rios, evidenciando os resultados alcançados pela gestão
destas entidades (ASSIS et al., 2006). De acordo com Neste estudo, o termo Terceiro Setor significa o conjunto
Libonati et al.(2004), a Contabilidade tem por fim munir das organizações sem fins lucrativos, cujos objetivos principais
todos os usuários de sua informação, quer sejam eles in- são sociais, podendo exercer atividade econômica e que bus-
ternos ou externos, com as diretrizes e demais respostas cam doações de recursos visando alcançar sua sustentabilida-
necessárias à condução da entidade. Por esse processo, de e dar uma contribuição ao Estado, apresentando um retorno
a contabilidade pode alcançar o fim a que se propõe, por social positivo por meio da realização de atividades sociais.
meio de uma adequada mensuração dos eventos cabíveis
que venham a impactar o patrimônio das entidades. 2.1. Áreas do Terceiro Setor
Delimitando, nesta pesquisa, o universo de entidades Salamon e Anheier (1997, p. 92) analisaram quais eram
sem fins lucrativos às fundações privadas, o acompanha- as atividades realizadas pelas organizações sem fins lucrati-
mento destas é de responsabilidade do Ministério Público vos, e com o objetivo de se criar uma classificação e defini-
de cada estado da Federação, e esse acompanhamento ção comum que permitisse o estudo abrangente do Terceiro

30 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 29 - 41, jan./abr. 2013


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Evidenciação das Fundações Privadas de Belo Horizonte: Prestação de Contas e Qualidade da Informação

Setor, propuseram a chamada International Classification of nas demonstrações contábeis e outros demonstrativos, que
Nonprofit Organizations (ICNPO), classificando em 12 gru- são exigidos quando da prestação de contas anual. Essa
pos as atividades das organizações: 1 – Cultura e Recrea- prestação de contas é efetuada por meio de um sistema, o
ção; 2 – Educação e Pesquisa; 3 – Saúde; 4 – Serviços So- SICAP, que é utilizado na maioria dos estados brasileiros.
ciais; 5 – Meio Ambiente; 6 – Desenvolvimento e Habitação; Levando em consideração que as demonstrações contá-
7 – Lei, Direito e Política; 8 – Intermediários Filantrópicos beis permitem um acompanhamento das ações realizadas
e Promoção do Voluntariado; 9 – Atividades Internacionais; pelas fundações, bem como a identificação do resultado
10 – Religião; 11 – Associações Profissionais e Sindicatos; alcançado nas mutações patrimoniais e financeiras dessas
12 – Não Classificados em Outros Grupos. entidades, a ferramenta SICAP é de suma importância ao
Szazi (2003, p. 27-29 e 37-39) apresenta as diversas Ministério Público. Ela permite ao mesmo, em tese, avaliar,
formas jurídicas que as entidades do Terceiro Setor, podem analisar e tomar medidas necessárias para que os recursos
se estruturar no Brasil: públicos recebidos sejam utilizados com o objeto social de
cada entidade, por meio da prestação de contas realizada.
• Associação – uma pessoa jurídica criada, a partir da
união de ideia e esforços de pessoas, em torno de um
propósito que não tenha finalidade lucrativa. 3. Informação Contábil e Evidenciação das
• Sociedade Civil sem Fins Lucrativos – Da mesma Demonstrações Contábeis
forma que as associações, são pessoas jurídicas forma- Para que a evidenciação possibilite o alcance do objetivo da
das a partir da união dos esforços de pessoas, em prol contabilidade que é identificar, mensurar e comunicar os eventos
de algum objetivo comum. que afetam o patrimônio das entidades, a utilização da teoria da
• Fundações – é um conjunto de bens, com um fim de- mensuração e da informação e seus respectivos modelos são
terminado, que a lei dá a condição de pessoa. fundamentais para que os diversos usuários da informação con-
tábil compreendam e interpretem as informações contidas nos
A grande diferença, portanto, entre as associações, so- diversos relatórios contábeis e tomem suas decisões.
ciedades civis e as fundações é o objeto a cerca do qual Tanto nas empresas com fins lucrativos e nas entida-
elas se constituem, ou seja, dificilmente haverá funda- des sem fins lucrativos as informações devem ser geradas
ção sem a reunião de pessoas físicas para administrá-la pensando-se na sua utilidade para a tomada de decisão.
(GRAZZIOLI e RAFAEL, 2009, p. 22 e 23). De acordo com Hendriksen e Van Breda (1999, p. 95), as
características qualitativas são as propriedades da informa-
2.2. Fundações e Ministério Público ção. As características qualitativas da informação contábil
De acordo com Silveira (2007, p.40), as fundações são (compreensibilidade, relevância, confiabilidade e compa-
entidades sem fins lucrativos, com personalidade jurídica rabilidade) contribuem na avaliação do custo versus be-
de direito privado e criadas a partir de um patrimônio des- nefício da informação contábil aos usuários na tomada de
tacado do patrimônio do seu fundador ou fundadores. São decisões, conforme afirmado por Guerreiro (1989, p. 125).
constituídas por escritura pública ou testamento. Segundo Verrecchia (2001, p. 98 e 99), não existe uma
Grazzioli e Rafael (2009, p.45) demonstram que as funda- teoria bem integrada sobre divulgação (evidenciação), na qual
ções, pessoas jurídicas que têm suporte factual no patrimônio se sinta confortável de se identificar com a mesma. O que ele
inicial, em razão de suas características específicas (modo de propõe em seu estudo é categorizar vários modelos a respeito
constituição, administração e representação), poderão per- da Teoria da Divulgação. Sugere três categorias de pesquisa:
tencer ao direito público ou ao direito privado, e como entida-
des jurídicas serão titulares de direitos e obrigações. a) Divulgação baseada na associação – identificar a re-
Independente de ser de direito público ou privado, as lação entre a divulgação e as mudanças no comporta-
fundações são entidades criadas a partir de um patrimônio, mento dos investidores;
sendo este constituído de bens que passam a ser de inte- b) Divulgação baseada na discricionariedade – identificar como
resse coletivo, portanto, passível de fiscalização do Esta- os agentes decidem divulgar determinadas informações;
do (SILVEIRA, 2007). A fiscalização por parte do Estado é c) Divulgação baseada em eficiência – identificar quais as
efetuada pelo Ministério Público quando as fundações são melhores formas de divulgação, mais preferidas e eficien-
de direito privado; quando as fundações forem instituídas tes, sem a percepção das informações já evidenciadas.
pelo Poder Público, a fiscalização é de responsabilidade do
Tribunal de Contas Estadual. Segundo Yamamoto e Salotti (2006, p. 82), a divulgação
De acordo com Silveira (2007, p. 49), o Ministério Público pode ser de dois tipos: obrigatória e voluntária. Segundo os
Estadual atua desde a aprovação do estatuto de constituição favoráveis à divulgação voluntária, as empresas possuem
das fundações até o ato de extinção da entidade, quando o motivação suficiente para divulgar as informações requeri-
patrimônio remanescente é transferido a outra fundação com das pelos investidores e o estímulo da divulgação voluntária
finalidade congênere, tendo como responsabilidade o velamen- tem como consequência a melhoria informacional, pois se
to (fiscalização e acompanhamento) das fundações privadas. considera que a divulgação obrigatória é reativa enquanto
O monitoramento se faz por meio da Prestação de Contas a voluntária é proativa. Esses mesmos autores apresentam
Anual que consiste em um meio que possibilita o acompa- que, de acordo com a literatura sobre evidenciação contábil,
nhamento das ações realizadas pela fundação e seu reflexo os níveis desta podem ser classificados em três categorias:

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 29 - 41, jan./abr. 2013 31


Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

Poueri do Carmo Mário Cleberson Luiz Santos de Paula Aléxica Dias de Freitas Alves Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe

a) Divulgação Completa – todas as informações são a) Perfil das entidades analisadas – visa identificar o
relevantes e devem ser divulgadas; perfil das entidades analisadas em termos de número de
b) Divulgação Justa – pressupõe o tratamento equitativo empregados, se possuem contabilidade interna, e se as
a todos os usuários; demonstrações são auditadas, por exemplo;
c) Divulgação Adequada – divulgação de informações b) Meios de evidenciação analisados – visa identificar se
somente quando são relevantes para os usuários. as fundações utilizaram todos os meios de evidenciação
previstos na prestação de contas. Como por exemplo:
Partindo do pressuposto que os campos do SICAP não
Balanço Patrimonial, Demonstração do Superávit ou Dé-
são de preenchimento obrigatório, esta pesquisa pode ser
ficit, Notas Explicativas, dentre outros;
caracterizada como uma divulgação baseada na discricio-
c) Verificação de itens evidenciados – visa avaliar a qua-
nariedade, por ser a intenção e o incentivo dos agentes
lidade das informações contidas nas demonstrações/re-
prestar contas conforme estabelecido no ordenamento le-
latórios citados no item anterior, por meio de alguns itens
gal para essas entidades.
que avaliam o atendimento de normas contábeis.
Nesse estudo, todos os dados analisados foram colhidos da
4. Estudos sobre evidenciação em entidades
base de dados do SICAP. A pesquisa abrangeu as fundações
sem fins lucrativos de Santa Catarina que atuam na área de Educação e Pesqui-
Dentre os trabalhos realizados (teses e dissertações) no
sa, totalizando 39 fundações, sendo analisadas as prestações
Brasil nos últimos cinco anos sobre evidenciação contábil
de contas referentes aos exercícios de 2005 e 2006.
no terceiro setor utilizando a base de dados do SICAP, des-
O estudo permitiu concluir que o nível de evidenciação con-
tacam-se: TORRES (2007) e SILVEIRA (2007).
tábil das Fundações Privadas de Santa Catariana, que atuam
No seu estudo, Torres (2007) analisou se o SICAP pode
no setor de Educação e Pesquisa é baixo, segundo o modelo
ser considerado um instrumento de accountability, tendo
desenvolvido pelo autor, e que as fundações deixam de eviden-
como amostra as fundações privadas de Ribeirão Preto/SP.
ciar itens muito importantes, como por exemplo, a contabiliza-
Para atingir o objetivo da sua pesquisa, foram analisa-
ção de recursos com convênios, além de utilizarem de contas
dos os dados constantes no SICAP referentes à prestação
genéricas para a contabilização de valores, dentre outros.
de contas no período de 2002 a 2005 das fundações loca-
lizadas na cidade de Ribeirão Preto/SP. Inicialmente, o nú-
mero de fundações totalizava 19 (dezenove), mas conside- 5. Procedimentos Metodológicos
rando a necessidade de pelo menos três anos de prestação Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa descriti-
de contas o número foi reduzido para 10 (dez) fundações. va, posto que, segundo Vergara (2007), a pesquisa descri-
Torres (2007) também se utilizou de entrevista em seu es- tiva expõe características de determinada população ou de
tudo. Foram realizadas com o promotor do Ministério Público e determinado fenômeno.
com os responsáveis pelas prestações de contas das fundações. A pesquisa descreveu o setor das fundações privadas no
O estudo permitiu concluir que: município de Belo Horizonte/MG, buscando identificar qual
é o nível de evidenciação contábil dessas por meio das in-
a) O SICAP é um sistema bem completo, e por muitas formações contidas no SICAP, baseando-se no estudo rea-
vezes repetitivo, capaz de gerar vários tipos de informações; lizado por Silveira (2007) e seu respectivo modelo ajustado.
b) Uma falha apontada é que de tão abrangente, muitas A amostra desta pesquisa foi composta pelas fundações pri-
vezes não se encaixa na contabilidade de fundações de vadas do Município de Belo Horizonte/MG, tendo como base as
menor porte. Por outro lado, não é maleável a informa- fundações privadas ativas em 31/12/2010, constantes do cadastro
ções de fundações de grande porte, que muitas vezes do Ministério Público de Belo Horizonte. O número inicial foi de 124
necessitam de contas específicas para demonstrarem fundações, sendo que foram excluídas as fundações que não apre-
seus patrimônio e resultados; sentaram prestações de contas no período de 2006 a 2009. Dessa
c) Foi possível identificar que o sistema mostra-se falho forma, o número de fundações analisadas foi de 68 (Tabela 1).
em relação ao controle de finalidade da fundação, e acei- Quanto aos meios, foram utilizadas pesquisas bibliográfica
tável em relação ao controle de patrimônio das fundações; e documental, para busca de dados e observação direta das
d) O sistema tem um enorme potencial para servir de demonstrações contábeis e relatórios de atividades, como
instrumento de accountability, mas não está sendo ex- item complementar, que se deu por meio de levantamento de
plorado pelas fundações e nem pelo Ministério Público. dados e relatórios no SICAP.
O acesso aos dados deu-se através da consulta ao siste-
Silveira (2007), em seu estudo, analisou o nível de evi- ma SICAP Administrador, que é um dos módulos disponíveis
denciação contábil das Fundações Privadas de Educação do sistema, disponível nas dependências do Ministério Públi-
e Pesquisa, e se as demonstrações contábeis estão em co, e com a gravação dos dados específicos para a utilização
conformidade com as normas contábeis. na pesquisa em meio magnético (dados tabulados em plani-
Para Silveira atingir o objetivo de seu estudo, criou um lha eletrônica). Os dados foram tabulados e receberam um
modelo com alguns níveis, e nestes, algumas variáveis que tratamento analítico, o que possibilitou o seu mapeamento e
possibilitaram a identificação do nível “evidenciação contábil”. aplicação do modelo adaptado de Silveira (2007).
Os itens selecionados para análise são separados em Com estas alterações, o modelo utilizado apresentou os
três níveis de análise: seguintes itens:

32 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 29 - 41, jan./abr. 2013


CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Evidenciação das Fundações Privadas de Belo Horizonte: Prestação de Contas e Qualidade da Informação

Tabela 1: Amostra por área de atuação

Nº de Funda- Nº de Nº de Funda- Nº de
Área de Atuação ções no cadas- Fundações Área de Atuação ções no cadas- Fundações
tro de 2010 Analisadas tro de 2010 Analisadas
Interm. Filantrópicos e
Assistência Social 31 16 2 1
Prom. de Voluntariado
Cultura 12 6 Meio Ambiente e Animais 2 1
Defesa dos
1 1 Outros 8 6
Direitos Sociais
Defesa dos Direitos e
2 0 Religião 1 0
Ação Política
Desenvolvimento
3 1 Saúde 18 8
e Habilitação
Educação e Pesquisa 40 28 Não informado 2 0
Emprego e Capacitação 2 0
Total Geral 124 68
Fonte: Elaborada pelos autores

Perfil das Entidades Analisadas Quadro 1: Itens de Verificação para identificação do


Esse item tem como objetivo identificar o perfil da entidade perfil das entidades
possibilitando uma segregação e comparação posterior à co-
leta e análise dos dados (Quadro 1). Ordem Item de Verificação
1 A fundação atua em qual área?
Meios de Evidenciação Analisados 2 A fundação tem que tamanho?
O meio de evidenciação utilizado no quadro a seguir tem como
objetivo verificar quais demonstrações e relatórios as entidades 3 A fundação tem quantos empregados?
utilizam para evidenciar a sua situação patrimonial, financeira, A fundação tem certificado de Entidade
4
econômica, esclarecer critérios utilizados e até mesmo as ativida- Beneficiente de Assistência Social?
des desenvolvidas ao longo do exercício social (Quadro 2). 5 A fundação tem título de Utilidade Pública Federal?
6 A fundação contrata auditoria independente?
Verificação de Itens Evidenciados
Os tópicos do item anterior, meios de evidenciação utiliza- Fonte: Elaborado pelos autores

dos, devem ser analisados de forma individualizada e com de-


talhes a cerca das principais operações/apresentações, e tam-
bém do nível de informação que é fornecida nos mesmos. Para
isso, se fez uso de uma análise total de 24 itens de verificação
em relação a cada uma das demonstrações contábeis descri- Quadro 2: Itens de Verificação para identificação dos meios
tas no Quadro 3, como por exemplo: de evidenciação analisados
Seguindo o mesmo critério de Silveira (2007), para cada as-
pecto levantado nos itens “Meios de Evidenciação Analisados” e Ordem Item de Verificação
“Verificação de Itens Evidenciados”, à sua adequação atribuiu- 1 A fundação apresentou Balanço Patrimonial?
-se uma pontuação. A soma das pontuações de todos os itens
A fundação apresentou Demonstração de
verificados apresenta o nível de evidenciação da fundação. 2
Superávit ou Déficit?
A escala de pontuação seguiu os seguintes parâmetros: A fundação apresentou Demonstração de
a) Sim, a fundação executa a prática adequada – 3
Mutações de Patrimonio Líquido?
Pontuação “1”;
b) Não, a fundação não executa a prática adequada – A fundação apresentou Demonstração das
4
Pontuação “0”. Origens e Aplicações de Recursos?
5 A fundação apresentou Notas Explicativas?
Nos casos em que a prática não pode ser verificada, por-
que não cabia à fundação executá-la, não foi atribuída ne- A fundação apresentou Relatório de Ativida-
6
nhuma pontuação. Assim, o número de itens evidenciados des, em complemento às Notas Explicativas?
é variável em relação à fundação analisada. Fonte: Elaborado pelos autores

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Poueri do Carmo Mário Cleberson Luiz Santos de Paula Aléxica Dias de Freitas Alves Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe

Quadro 3: Exemplos de Itens de Verificação para identificação dos itens evidenciados


Ordem Item de Verificação Fonte
A fundação apresentou critérios para elaboração de Provi-
1 Balanço Patrimonial
são para Créditos de Liquidação Duvidosa?
A fundação apresentou "Saldo no Início do Exercício" da
Demonstração das Mutações do Patrimônio Social que Demonstração das Mutações do
7
confira com o "Saldo do Final do Exercício" apresentado no Patrimônio Social
ano anterior?
A fundação apresentou na Demonstração das Origens e Demonstração das Origens e Aplicações
10
Aplicações de Recursos o resultado líquido do período? de Recursos
A fundação utiliza Regime de Competência em
12 Demonstração de Superávit ou Déficit
sua contabilidade?
A fundação apresentou em suas Notas Explicativas suas
24 receitas com e sem gratuidade de forma segregadora e os Notas Explicativas
benefícios fiscais gozados?
Fonte: Elaborado pelos autores

6. Análise dos Resultados sendo que em 2009, apresentou uma queda, retornando
De acordo com o objetivo principal deste trabalho, o ao patamar inicial do período em análise.
nível médio de evidenciação das fundações privadas do Essas modificações, no ativo total e no número de em-
município de Belo Horizonte segregado por área de atua- pregados, podem ser visualizadas na Tabela 3 – Ativo Total
ção, pode ser visualizado na Tabela 2. e Nº de Empregados por Setor.
Nos próximos itens, serão apresentados os resultados Todas as variações apresentadas de Ativo Total e
por nível de análise seguindo a segregação do modelo des- Quantidade de Empregados não podem ter suas causas
crito na Metodologia. identificadas diante das informações contidas no SICAP.
No sistema, existe um campo denominado de “Relató-
6.1. Perfil das Fundações Analisadas rio de Atividades” que é de livre divulgação (voluntary
Na análise do perfil das fundações pode-se destacar: disclosure), que após serem analisados, não apresen-
taram informações que contribuíssem para a explicação
O Ativo Total teve um crescimento, de 2006 a 2009, de dessas alterações. O Relatório de Atividades é utilizado
37,18% (nominal). por algumas fundações, mas com informações insuficien-
O número de empregados evoluiu, de 2006 a 2008, tes ao aprofundamento para a descoberta de causas.

Tabela 2: Nível de Evidenciação

Área de Atuação 2006 2007 2008 2009 Média

Assistência Social 70,52% 67,83% 72,65% 73,95% 71,24%

Cultura 73,30% 69,48% 67,35% 71,87% 70,50%


Defesa dos Direitos Sociais 73,91% 73,91% 79,17% 79,17% 76,54%

Desenvolvimento e Habilitação 66,67% 64,00% 75,00% 60,00% 66,42%

Educação e Pesquisa 69,17% 71,46% 71,59% 71,36% 70,89%

Intermediários Filantrópicos e Promoção de Voluntariado 59,09% 72,73% 86,36% 81,82% 75,00%

Meio Ambiente e Animais 73,91% 82,61% 78,26% 86,96% 80,44%

Outros 67,93% 68,43% 66,25% 71,77% 68,59%

Saúde 66,85% 69,33% 68,97% 74,46% 69,90%

Média Geral 69,04% 71,09% 73,96% 74,59% 72,17%


Fonte: Elaborada pelos autores

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Tabela 3: Ativo Total e Nº de Empregados por Setor


2006 2007
Setor
Ativo Total (R$/mil) Nº de Empregados Ativo Total (R$/mil) Nº de Empregados
Assistência Social 115.432,84 572 128.287,53 837
Cultura 6.793,96 288 6.865,33 178
Defesa dos Direitos Sociais 36,57 0 180,40 0
Desenvolvimento e Habilitação 3.325,96 15 3.459,44 17
Educação e Pesquisa 593.559,59 13937 743.894,04 14690
Intermediários Filantrópicos e 282,33 0 399,73 0
Promoção de Voluntariado
Meio Ambiente e Animais 91,21 0 90,39 0
Outros 30.121,91 51 30.590,68 46
Saúde 170.374,08 4428 187.290,61 4495
Total Geral 920.018,44 19.291 1.101.058,16 20.263

2008 2009 Variação

Ativo Total (R$/mil) Nº de Empregados Ativo Total (R$/mil) Nº de Empregados Ativo Total (%) Nº de Empregados
147.929,65 1276 150.757,33 1085 30,60% 89,69%
7.924,21 209 6.829,53 208 0,52% -27,78%
104,80 3 154,64 9 322,87%
4.593,62 20 4.593,62 12 38,11% -20,00%
799.310,35 15197 785.776,76 13623 32,38% -2,25%
277,16 0 265,75 0 -5,87%
96,22 0 97,71 0 7,13%
49.681,49 43 45.902,04 39 52,39% -23,53%
241.908,63 4639 267.699,27 4783 57,12% 8,02%
1.251.826,13 21.387 1.262.076,67 19.759 37,18% 2,43%
Fonte: Elaborada pelos autores

6.2. Meios de Evidenciação Utilizados motivo de não se fazer evidenciação voluntária ou o uso de
Foram observados também os meios de evidenciação modelos de Balanço Social que serviriam para fins de redu-
utilizados pelas fundações. Os percentuais podem ser ção da assimetria informacional.
identificados na Tabela 4. O meio de evidenciação “Demonstração das Origens e
De acordo com os dados da Tabela 4, o Relatório de Ati- Aplicações de Recursos” apresentou uma queda ao longo
vidades em complemento às Notas Explicativas foi o meio do período e uma média de 93,75% durante o período ana-
menos utilizado pelas fundações no período, seguido pelas lisado. Essa queda pode ser explicada pela alteração da
Notas Explicativas. Lei 11.638/07 que exclui a DOAR das obrigações obrigató-
Na análise das informações, foi possível identificar que rias e introduziu a Demonstração do Fluxo de Caixa – DFC,
muitas fundações apresentaram apenas um breve texto no mas que ainda não se tornou obrigatório o seu preenchi-
campo “Relatório de Atividades”. De modo geral, as informa- mento no SICAP.
ções contidas nesse campo resumem-se aos projetos desen- Os demais meios de evidenciação, praticamente obtiveram
volvidos, composição da estrutura dos conselhos e órgãos cem por cento de utilização, exceto o meio “Demonstração das
que compõem a fundação. Portanto, verifica-se que as fun- Mutações do Patrimônio Líquido Social” que no ano de 2009,
dações enquanto Agentes, não fornecem informações com- foi utilizado por 64 fundações, ou seja, 94,12%. Mesmo a de-
plementares das atividades como um todo, demonstrando um monstração constando no SICAP, o seu preenchimento não é
baixo nível de evidenciação voluntária. Verifica-se assim que um campo obrigatório para que se realize o envio da prestação
pode haver uma oportunidade para pesquisas futuras sobre o de contas ao Ministério Público.

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Tabela 4: Meios de Evidenciação utilizados pelas fundações entre 2006 e 2009

Meios de Evidenciação 2006 2007 2008 2009 Média

Balanço Patrimonial 68 100,00% 68 100,00% 68 100,00% 68 100,00% 100,00%


Demonstração do Superávit ou Déficit 68 100,00% 68 100,00% 68 100,00% 68 100,00% 100,00%
Demonstração das Mutações do 68 100,00% 68 100,00% 68 100,00% 64 94,12% 98,52%
Patrimônio Social Líquido
Demonstração das Origens e Aplicações 67 98,53% 66 97,06% 62 91,18% 60 88,24% 93,75%
de Recursos
Notas Explicativas 50 73,53% 53 77,94% 56 82,35% 55 80,88% 78,68%
Relatório de Atividades em complemento 21 30,88% 26 38,24% 22 32,25% 31 45,59% 36,76%
às Notas Explicativas
Fonte: Elaborado pelos autores

Quanto ao meio de evidenciação “Balanço Patrimo- genéricos e valores superiores a um décimo do valor do
nial”, é importante ressaltar que no SICAP, esse é dividi- respectivo grupo de contas. Em relação a este resultado,
do em “Ativo” e “Passivo” e seus campos de visualização torna-se necessário informar que a disposição das contas
(as contas que compõem cada um), são apresentados em a serem evidenciadas tanto no ativo quanto no passivo são
telas individualizadas. Para efeito da análise dos dados e preestabelecidas pelo SICAP, fato este que, muitas vezes,
obtenção dos resultados, o preenchimento das informações torna a evidenciação em contas cuja nomenclatura caracte-
do ativo e passivo foi avaliado como evidenciação do riza-se como “outros(as)”. Para receber a pontuação “0” ou
Balanço Patrimonial. “1”, após a identificação de valores superiores a um décimo
do grupo, foi pesquisado se nas notas explicativas cons-
6.3. Verificação dos Itens Evidenciados tava alguma explicação sobre o mesmo. Se encontrada a
Apresentam-se os resultados apurados referentes aos pontuação foi “1”, caso contrário “0”. Após essa análise, foi
diversos itens verificados que podem ser vinculados às de- possível identificar que as fundações com apresentação de
monstrações contábeis, conforme o modelo apresentado na títulos genéricos de valores acima de um décimo do grupo,
Metodologia, Quadro 25. não tem esclarecimentos em suas notas explicativas, difi-
De acordo com o critério de pontuação demonstrado na cultando a identificação da origem dos mesmos.
Metodologia, se a fundação apresentou o item previsto foi A evidenciação em contas com títulos genéricos dificulta
pontuado com “1” ponto, caso contrário com “zero”. Se o item a interpretação da informação por parte do Ministério
não se aplicava, não foi pontuado nem considerado para aná- Público, que demanda explicações extras para uma melhor
lise. Dessa forma, foi utilizada a seguinte denominação: IA compreensão e acompanhamento das mutações ocorridas
– Itens Avaliados ou IE – Itens Evidenciados. Essa denomi- no patrimônio das entidades, segundo declaração verbal do
nação é utilizada por Silveira (2007), e significa que: se o item setor responsável pelas análises.
foi avaliado na fundação é porque a mesma apresentou o item
Demonstração do Superávit ou Déficit do Exercício
previsto nos meios evidenciados, e se o item foi evidenciado é
Em relação aos itens avaliados e evidenciados, a
porque a fundação além de evidenciar, cumpriu as exigências
Demonstração do Superávit ou Déficit do Exercício
previstas nas normas contábeis.
apresentou um desempenho mais regular se comparada
com o Balanço Patrimonial. Foi a demonstração que mais
Balanço Patrimonial apresentou itens de verificação e apresentou um resultado
Na análise do Balanço Patrimonial, os números indi-
próximo ao Balanço Patrimonial obtendo média no período
cam que em média, considerando todos os itens relacio-
de 2006 a 2009 de 65,54%.
nados no período de 2006 a 2009, as fundações analisa-
O item “A fundação utiliza regime de competência em sua
das alcançaram níveis de 68,17% em relação aos itens do
contabilidade?”, não apresentou uma regularidade no decorrer
Balanço Patrimonial.
do período, fato este que torna difícil a compreensão da queda
A Tabela 5 demonstra o nível de evidenciação dos itens
apresentada ao longo do período. Quando da análise deste item,
referentes ao Balanço Patrimonial, segregado por setor de
foram identificadas fundações que assinalaram o regime de cai-
atuação das fundações.
xa e outras o regime misto (competência e caixa). Isso pode ser
Os itens que se destacam como fator de pior desempe-
um indicador de que há uma confusão por parte das fundações
nho foram: “A fundação tem baixado a Reserva de Rea-
em termos do que seria o registro contábil com base no regime
valiação regularmente?” e os itens que estão relacionados
de competência.
à apresentação de contas do ativo e passivo com títulos

5
Para efeito de verificação se a norma contábil foi atendida ou não, foi considerado que a apresentação da DFC substitui a apresentação da DOAR na evidenciação do
ano de 2009.

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Evidenciação das Fundações Privadas de Belo Horizonte: Prestação de Contas e Qualidade da Informação

Demonstração das Mutações do Patrimônio Social deixaram de evidenciar informações sobre essa demons-
Todas as fundações evidenciaram a Demonstração das tração. Os itens avaliados também sofreram uma redução,
Mutações do Patrimônio Social. Analisando-se os itens mas foi em número menor do que os itens evidenciados.
verificados, foi possível identificar que as fundações aten- A análise dessa demonstração possibilitou identificar um
dem em média 91,60% dos itens avaliados e que estão de nível de evidenciação de 88,52%, considerando a média
acordo com as normas contábeis, considerando a média do no período analisado. O montante referente ao resultado
período de 2006 a 2009. líquido do exercício é informado praticamente por todas
O item que teve o menor nível de evidenciação foi “A as fundações/setores. A redução do número de itens evi-
fundação apresentou Saldo do Início do Exercício da De- denciados no período de 2008 e 2009 pode ser explicada
monstração das Mutações do Patrimônio Social que con- pelo motivo da não obrigatoriedade dos demonstrativos no
fira com o Saldo do Final do Exercício apresentado no sistema SICAP e a inclusão do Demonstrativo de Fluxo de
ano anterior?”. Caixa a partir do ano de 2009.
Na análise individualizada, ou seja, fundação por fundação, ano
Demonstração das Origens e Aplicações de a ano, foi visualizado que o preenchimento desse demonstrativo
Recursos (DOAR) não é realizado por inteiro, pois algumas fundações deixaram de
A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos preencher o campo que demonstra a variação do Capital Circulante
não apresentou uma regularidade durante o período anali- Líquido. Já outras fundações, não preencheram nenhum campo
sado. E essa irregularidade foi negativa, pois as fundações do demonstrativo.

Tabela 5: Nível de Evidenciação dos itens do Balanço Patrimonial por setor

2006 2007
Setor
IA IE %IE IA IE %IE
Assistência Social 69 51 73,91% 68 47 69,12%
Cultura 25 21 84,00% 25 19 76,00%
Defesa dos Direitos Sociais 4 4 100,00% 4 4 100,00%
Desenvolvimento e Habilitação 4 3 75,00% 4 3 75,00%
Educação e Pesquisa 116 70 60,34% 116 79 68,10%
Intermediários Filantrópicos e Promoção de Voluntariado 4 2 50,00% 4 3 75,00%
Meio Ambiente e Animais 4 3 75,00% 4 4 100,00%
Outros 25 16 64,00% 25 16 64,00%
Saúde 44 28 63,64% 44 28 63,64%
Total Geral 295 198 67,12% 294 203 69,05%

2008 2009 Média


IA IE %IE IA IE %IE IA IE %IE
69 47 68,12% 69 44 63,77% 275 189 68,73%
25 19 76,00% 25 20 80,00% 100 79 79,00%
4 4 100,00% 4 3 75,00% 16 15 93,75%
4 3 75,00% 4 2 50,00% 16 11 68,75%
115 84 73,04% 116 74 63,79% 463 307 66,31%

4 4 100,00% 4 4 100,00% 16 13 81,25%

4 4 100,00% 4 4 100,00% 16 15 93,75%


25 17 68,00% 25 17 68,00% 100 66 66,00%
44 25 56,82% 44 27 61,36% 176 108 61,36%
294 207 70,41% 295 195 66,10% 1.178 803 68,17%
Obs: IA – Itens Avaliados (a fundação apresentou o item previsto nos meios evidenciados); IE – Itens Evidenciados (a fundação além de evidenciar, cumpriu as
exigências previstas nas normas contábeis).
Fonte: Elaborado pelos autores

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Notas Explicativas valores concedidos pelo governo como os benefícios fiscais.


Conforme apresentado na Tabela 4, as Notas Explicativas Se a diferença for positiva, a entidade está agregando valor
se destacaram como um dos itens de menor utilização como à sociedade, sendo compensatório para o Governo dar o be-
meio de evidenciação pelas fundações. A Tabela 6 demonstra nefício fiscal a essa entidade – a mesma está contribuindo
o nível de evidenciação dos itens referentes às Notas Explicati- para a sociedade com um valor superior à arrecadação que
vas, segregado por setor de atuação das fundações. o Governo receberia para retornar em ações sociais próprias.
Os itens evidenciados apresentaram um resultado muito A partir do momento que as fundações deixam de evi-
inferior aos itens analisados. Levando em consideração que denciar esses valores, torna-se impossível a identificação
as Notas Explicativas contribuem para uma melhor compre- do valor agregado à sociedade pelas mesmas com base
ensão das demonstrações, o resultado demonstra uma contri- em suas demonstrações contábeis contidas no SICAP.
buição de baixo nível informacional. A Tabela 7 apresenta uma análise geral dos itens ava-
Os itens que apresentaram o pior resultado foram, “A funda- liados e evidenciados no grupo das demonstrações contá-
ção apresentou em suas Notas Explicativas suas receitas com e beis. O resultado demonstra um nível de 65,50% de itens
sem gratuidade de forma segregada e os benefícios gozados?”, evidenciados em relação ao total de itens avaliados.
e “A fundação apresentou critérios para reavaliação de seu ativo Comparando o resultado apresentado na Tabela 7 com
imobilizado?”. Outro item que apresentou resultado insatisfatório o da Tabela 4 – Meios de evidenciação utilizados pelas fun-
foi “A fundação apresentou em suas Notas Explicativas os valo- dações, identificou-se que:
res referentes à isenção de contribuições previdenciárias?”.
a) O Balanço Patrimonial é evidenciado por todas as fun-
Considerando a ótica do resultado social, entende-se que
dações, mas considerando a norma contábil que deter-
os itens que tratam das receitas com ou sem gratuidades, dos
mina alguns critérios a serem seguidos, esses somente
benefícios fiscais gozados e da isenção de contribuições pre-
são atendidos, em média, em 68,17%;
videnciárias são importantes quando referentes a entidades
b) A Demonstração do Superávit ou Déficit do Exercício
sem fins lucrativos. Levando em consideração que elas de-
também é evidenciada por todas as fundações, e com
vem ou procuram almejar resultados econômicos positivos,
relação aos critérios exigidos pelas normas contábeis,
também devem apresentar resultado social satisfatório. E um
as fundações só atendem, em média, 65,54%;
dos pontos que pode ser identificado como resultado social é
c) A Demonstração das Mutações do Patrimônio Social
a diferença entre as gratuidades oferecidas pelas fundações,
apresentou um nível médio de evidenciação de 98,53%,
ou, de maneira geral, as entidades sem fins lucrativos, e os

Tabela 6: Nível de Evidenciação dos itens das Notas Explicativas

2006 2007 2008 2009 Média


Setor
IA IE %IE IA IE %IE IA IE %IE IA IE %IE IA IE %IE
Assistência Social 41 11 26,83% 42 13 30,95% 44 15 34,09% 44 17 38,64% 171 56 32,75%
Cultura 6 – 0,00% 9 1 11,11% 8 1 12,50% 7 1 14,29% 30 3 10,00%
Defesa dos Direitos 2 – 0,00% 3 – 0,00% 2 – 0,00% 2 – 0,00% 9 – 0,00%
Sociais
Desenvolvimento 2 – 0,00% 3 1 33,33% 2 1 50,00% 3 1 33,33% 10 3 30,00%
e Habilitação
Educação e 98 9 9,18% 91 6 6,59% 92 11 11,96% 90 17 18,89% 371 43 11,59%
Pesquisa
Intermediários 2 – 0,00% 2 – 0,00% 2 – 0,00% 2 – 0,00% 8 – 0,00%
Filantrópicos e
Promoção de
Voluntariado
Meio Ambiente 3 – 0,00% 3 – 0,00% 3 – 0,00% 2 – 0,00% 11 – 0,00%
e Animais
Outros 20 2 10,00% 16 2 12,50% 19 2 10,53% 19 1 5,26% 74 7 9,46%
Saúde 35 12 34,29% 35 17 48,57% 33 12 45,45% 30 17 56,67% 133 61 45,86%
Total Geral 209 34 16,27% 204 40 19,61% 205 45 21,95% 199 54 27,14% 817 173 21,18%
Obs: IA – Itens Avaliados (a fundação apresentou o item previsto nos meios evidenciados); IE – Itens Evidenciados (a fundação além de evidenciar, cumpriu as
exigências previstas nas normas contábeis).
Fonte: Elaborada pelos autores

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Evidenciação das Fundações Privadas de Belo Horizonte: Prestação de Contas e Qualidade da Informação

Tabela 7: Análise geral dos itens evidenciados em relação aos meios de evidenciação no período de 2006 a 2009
2006 2007
Setor
IA IE %IE IA IE %IE
Assistência Social 292 198 67,81% 291 187 64,26%
Cultura 97 70 72,16% 102 69 67,65%
Defesa dos Direitos Sociais 17 12 70,59% 17 12 70,59%
Desenvolvimento e Habilitação 18 11 61,11% 19 12 63,16%
Educação e Pesquisa 543 342 62,98% 534 343 64,23%
Intermediários Filantrópicos e Promoção de Voluntariado 16 9 56,25% 16 11 68,75%
Meio Ambiente e Animais 17 12 70,59% 17 14 82,35%
Outros 114 72 63,16% 110 69 62,73%
Saúde 178 109 61,24% 178 117 65,73%
Total Geral 1.292 835 64,63% 834 40 64,95%

2008 2009 Média


IA IE %IE IA IE %IE IA IE %IE
300 208 69,33% 297 201 67,68% 1.180 794 67,29%
98 66 67,35% 92 62 67,39% 389 267 68,64%
18 14 77,78% 18 13 72,22% 70 51 72,86%
18 13 72,22% 19 10 52,63% 74 46 62,16%
527 348 66,03% 522 329 63,03% 2.126 1.362 64,06%
16 14 87,50% 16 12 75,00% 64 46 71,88%
17 13 76,47% 17 14 82,35% 68 53 77,94%
113 68 60,18% 116 74 63,79% 453 283 62,47%
174 113 64,94% 173 117 67,63% 703 456 64,86%
1.281 857 66,90% 1.270 832 65,51% 5.127 3.358 65,50%
Obs: IA – Itens Avaliados (a fundação apresentou o item previsto nos meios evidenciados); IE – Itens Evidenciados (a fundação além de evidenciar, cumpriu
as exigências previstas nas normas contábeis).
Fonte: Elaborada pelos autores

enquanto os critérios exigidos pelas normas contábeis cesso e das instituições que atuam para o bem-estar social.
foram atendidos, em média, 91,60%. Nesse caso, as A partir dessa reforma, o crescimento das entidades que
fundações não se preocupam apenas em evidenciar a promovem atividades voltadas para a sociedade apresen-
demonstração, mas também seguir os critérios estabele- tou uma evolução, especialmente no Brasil.
cidos pelas normas que se referem à evidenciação; É de fundamental importância o monitoramento dessas en-
d) A Demonstração das Origens e Aplicações de Recur- tidades, verificando se essas estão realmente praticando ati-
sos foi evidenciada por 93,75% das fundações na média vidades que visam prioritariamente o retorno social. No caso
do período. Os itens relacionados à demonstração foram das Fundações Privadas, objeto deste estudo, esse monitora-
evidenciados em 88,52%; mento é exercido pelo Ministério Público, e o atendimento às
e) As Notas Explicativas, que apresentaram o menor nível de normas contábeis, pode ser um meio a ser utilizado para en-
evidenciação entre as demonstrações, 78,68% em média, tam- tender o que aconteceu em termos financeiros, patrimoniais,
bém demonstrou o menor nível de evidenciação considerando econômicos e sociais nessas entidades.
os critérios estabelecidos pelas normas contábeis, 21,18%. Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo identificar o
nível de evidenciação contábil das Fundações Privadas do Muni-
7. Considerações Finais cípio de Belo Horizonte. O nível de evidenciação contábil foi iden-
A filantropia, a caridade e o mecenato são atos que de- tificado levando em consideração as normas contábeis brasileiras
monstram a preocupação da sociedade com o bem-estar específicas para entidades sem fins lucrativos, e que foram identi-
do ser humano. Principalmente pela Reforma do Estado, ficadas por Silveira (2007). Também foi analisado se as entidades
com a introdução do Estado gerencial, regulador e, sobre- evidenciam informações sobre as gratuidades oferecidas à socie-
tudo, democrático, mutações foram ocasionadas neste pro- dade e ao montante dos benefícios fiscais gozados.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 29 - 41, jan./abr. 2013 39


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Poueri do Carmo Mário Cleberson Luiz Santos de Paula Aléxica Dias de Freitas Alves Fernanda Karoliny Nascimento Jupetipe

Como resultado esta pesquisa apresenta que as Funda- baseada na discricionariedade – pode-se perceber que os agen-
ções Privadas do Município de Belo Horizonte evidenciaram tes (as Fundações) buscam atender em muitos casos apenas o
no período de 2006 a 2009, 72,17%, considerando-se todos que é considerado obrigatório dentro do modelo de prestação
os itens do modelo, ou seja, “Meios de Evidenciação” e “Itens de contas, e de acordo com o definido na estrutura do sistema
evidenciados”. Estratificando-se, temos que os meios de evi- SICAP. Apesar de o SICAP possuir campos/relatórios, que se
denciação foram apresentados em 84,62% e os itens eviden- pode dizer serem de evidenciação voluntária, como o Relatório
ciados 65,50%, valores médios no período de 2006 a 2009. de Atividades, há uma percepção de que a discricionariedade é
Esses resultados demonstram que quanto aos “Meios de Evi- mais acentuada nestes casos. Isso pode ser fruto tanto da in-
denciação”, as entidades os evidenciam muito mais do que os tenção de não se fornecer essas outras informações (assimetria
“Itens Evidenciados”, conforme o modelo descrito. informacional causada por um ambiente que permite e induz –
Portanto, levando em consideração os meios que permitem com componente de risco moral), como também da falta de co-
efetuar a evidenciação, as entidades a praticam em um nível nhecimento dos preparadores e/ou responsáveis pela prestação
satisfatório, dentro do contexto desta pesquisa, mas quando de contas. Nesse último caso, o sistema em si torna-se um con-
analisado a evidenciação de forma detalhada e explicativa, mui- tra incentivo a divulgação voluntária, pois o mesmo não contem-
tas entidades não atendem às normas contábeis e nem ao que pla (e não deveria, em nossa opinião), um roteiro ou comentá-
se pode considerar adequado a um processo de prestação de rios para o preenchimento destas informações. Isso também não
contas e de evidenciação (em termos qualitativos). Dentre os ocorre com o próprio processo por parte do Ministério Público,
meios de evidenciação, as Notas Explicativas e o Relatório de que também não solicita a inserção dessas informações, a não
Atividades são os itens que menos são evidenciados, e, quanto ser que algo seja percebido e solicitado posteriormente. Visua-
aos itens evidenciados, a utilização de contas genéricas, a não liza-se que o desenvolvimento de um manual de prestações de
utilização das Notas Explicativas para evidenciar as receitas com contas por meio do SICAP, com ênfase na qualidade dos dados
ou sem gratuidades bem como os benefícios gozados, são itens e informações poderia provocar a melhor utilização do mesmo.
que podem ser citados como os de maiores impactos na falta de Percebeu-se que o Terceiro Setor tem muito a evoluir em
evidenciação. A ausência destes leva o Ministério Público a ter termos do processo de evidenciação e as pesquisas futuras
que solicitar informações extras, que já deveriam estar contidas precisarão alcançar e discutir alguns pontos. Esses são ine-
nos informes das fundações dentro do sistema SICAP. rentes à preparação das demonstrações contábeis para fins
Dessa forma, pode-se concluir que o nível geral de eviden- de prestação de contas (capacitação dos preparadores), bem
ciação não é satisfatório, nesta pesquisa, considerando que como o papel dos demandantes dessas (quais informações
nenhuma fundação permite a identificação das gratuidades são relevantes), pois num processo de comunicação entre
oferecidas à sociedade e os benefícios gozados, itens que agente (fundação) e principal (Governo ou Órgão do mesmo),
possibilitam calcular se o Retorno Social está sendo positivo. a utilização de sistemas precisa ser customizada para ambos,
Considerando a classificação do tipo de evidenciação utiliza- evitando-se incentivos difusos e interesses conflitantes, que
da nesta pesquisa, com base em Verrecchia (2001) – divulgação geram custos marginais para todos.

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40 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 29 - 41, jan./abr. 2013


CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

Heritage Assets:
Tangíveis ou Intangíveis?
Erivan Ferreira Borges
Resumo
Na última década houve inúmeras discussões sobre a
Natal – RN
reformulação e/ou emissão de novas de normas contábeis
Contador CRC/RN 4722/O
nos diversos ambientes econômicos. Algumas dessas dis-
Doutor em Ciências Contábeis pelo Programa Multi-institucional
cussões têm recebido uma atenção especial, pois tratam
e Inter-regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis –
de alguns elementos patrimoniais ou eventos econômicos,
UnB1/UFPB2/UFRN3
até então, não comumente observados pela Contabilida-
Professor do PPGC/UFRN3
de. O artigo apresenta uma discussão sobre um desses
erivan@ufrnet.br
itens, o heritage assets (ativos hereditários), objetivando
analisar um entre vários pontos dissonantes em relação
a sua abordagem: heritage assets são tangíveis ou in-
Jomar Miranda Rodrigues
tangíveis? O fundamento é que esta discussão pode evi-
Brasília – DF
denciar, entre outros aspectos, como têm sido tratados e
Mestre em Ciências Contábeis pelo Programa Multi-institucional
observados temas emergentes à Contabilidade, presentes
e Inter-regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis –
no processo de convergência às normas internacionais.
UnB1/UFPB2/UFRN3
Nessa perspectiva, apresentam-se alguns fundamentos
Professor da FACE/UnB1
teóricos sobre os conceitos de ativos tangíveis e intangí-
jomar@unb.br
veis, fazendo-se um paralelo com aqueles advindos dos
órgãos reguladores internacionais. No contexto metodo-
lógico, lança-se mão de uma pesquisa junto aos autores
Maurício Corrêa da Silva brasileiros que atuam na área de contabilidade pública,
Natal – RN procedimento que permitiu uma análise crítica a partir
Contador CRC/PA-T 7635 das respostas obtidas. Do contexto obtido na pesquisa,
Mestre em Ciências Contábeis pelo Programa Multi-institucional observam-se dois aspectos em destaque: a inexistência
e Inter-regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis – de consenso sobre a eventual prevalência de um conceito
UnB1/UFPB2/UFRN3 sobre o outro; e o desconhecimento do tema por parte de
Professor do PPGC/UFRN3 alguns pesquisados. Apesar das limitações metodológicas
prof.mauriciocsilva@gmail.com do trabalho, em relação ao número de respostas obtidas,
os achados evidenciam que pode existir um descompasso
entre o cenário nacional e internacional na discussão de
Gilmara Mendes da Costa Borges temas emergentes que o processo de convergência exige,
Natal – RN abrindo campo para futuras pesquisas que objetivem veri-
Contadora CRC/RN 6653/O ficar empiricamente este descompasso.
Mestre em Ciências Contábeis pelo Programa Multi-institucional Palavras-chave: Heritage Assets. Ativos tangíveis. Ati-
e Inter-regional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis – vos intangíveis.
UnB1/UFPB2/UFRN3
Professora do PPGC/UFRN3 Abstract
borgesgilmara@yahoo.com.br In the last decade, there have been serious discussions on
the reformulation or emission of new accounting standards in
different economic environments. Some of these discussions
Edilson Paulo have received special attention, because some of the elements
João Pessoa – PB of assets or liabilities or economic events, until then, didn’t
Contador CRC/PB 3925/O commonly observed by accounting. The work exhibits a
Doutor em Ciências Contábeis pela USP4 discussion on one of these items, the heritage assets (hereditary
Professor do PPGCC/UFPB2 assets), aiming to analyze a between various points dissonant
e.paulo@uol.com.br in relation to its approach: heritage assets are tangible or
intangible? This discussion may evidence, among other things,
as has been treated and observed emerging accounting’s topics
in the process of convergence with international standards. In
1
UNB – Universidade de Brasília – CEP. 70910-900 – Brasília – DF.
2
UFPB – Universidade Federal da Paraíba – CEP 58051-900 – João Pessoa – PB.
3
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – CEP. 59078-970 – Natal – RN.
4
USP - Uinversidade de São Paulo - CEP. 05508-010 - São Paulo - SP.
Artigo recebido em 01/09/2012 e aceito em 26/02/2013.

42 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 42 - 47, jan./abr. 2013


CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Heritage Assets: Tangíveis ou Intangíveis?

this perspective, we present some theoretical foundations on nadas questões ainda não respondidas, inclusive no contexto
the concepts of tangible and intangible assets, by drawing a internacional, como o aspecto de reconhecimento desses ativos.
parallel with those originated from the international regulators. In Nesse contexto, o presente trabalho busca promover uma
the methodological context, spear-hand of a research with the reflexão sobre a estrutura conceitual relacionada aos Heritage
Brazilian authors working in the area of public accounting. This Assets, sob as condições de tangibilidade e intangibilidade,
procedure enables a critical analysis on the answers obtained. considerando a seguinte questão de pesquisa: os Heritage
In this research, there are two relevant aspects: the lack of Assets são tangíveis ou intangíveis? A idéia é que esta discussão
consensus on the possible prevalence of a concept on the other; pode evidenciar, entre outros aspectos, como têm sido tratados
and the ignorance of the topic of some researched. Despite the e observados temas emergentes à contabilidade, presentes no
methodological limitations of work in relation to the number of processo de convergência às normas internacionais, e, portanto,
replies, the findings show that there may be a mismatch between necessários ao conhecimento dos operadores da contabilidade.
the national and international scenarios in the discussion of O trabalho objetiva contribuir à pesquisa contábil no setor
emerging issues that the convergence process requires, opening público, que segundo Niyama e Silva (2008), vem sendo um
field for future researches. pouco negligenciada nos contextos práticos e acadêmicos.
Key words: Heritage Assets. Tangible assets. Intangible Assets.
2. Fundamentação Teórica
1. Introdução Observando a literatura internacional, tem-se como
Independente do grau de consolidação em que a uma regra geral, o conceito de que esse elemento do pa-
Contabilidade tenha atingido nos diversos ambientes eco- trimônio é gerador de benefícios futuros, um recurso con-
nômicos, não afasta a necessidade de reflexão e renova- trolado pela entidade, resultante de eventos passados e
ção sobre conceitos, principalmente quando são conside- do qual se espera que futuros benefícios econômicos flu-
rados os aspectos inerentes à convergência internacional, am para a organização (IASB, 2008; CPC, 2011).
pois esse processo é afetado não só por aspectos cultu- Esses aspectos possibilitam afirmar que as eventuais
rais ou econômicos, mas também por interpretações semi- discussões sobre o conceito de ativo superam a impor-
nais, como, por exemplo, sobre o conceito de ativos, que, tância atribuída ao seu conceito geral, e englobam, entre
apesar da consistência acadêmica das pesquisas desen- outros elementos, discussões que envolvam problemas
volvidas desde o período pré-científico (assim entendido o quanto à correta mensuração, por exemplo. No primei-
período no qual predominou os ensinamentos das escolas ro aspecto, tem-se que as mensurações contábeis são
europeias), ainda é confrontado por paradigmas interpre- dependentes, também, de como os objetos e suas pro-
tativos como a geração ou não de benefícios econômicos. priedades são conceituadas (uma definição operacional
Como combustível complementar à discussão, auto- depende de conceitos teorizados), e diferentes conceitos
res defendem, sob o ponto de vista da subjetividade, que levam a trade-offs entre acurácia, utilidade e confiabilida-
o valor correto de um ativo, embora possa ser exato, é de (RELVAS, 2008). No segundo aspecto, a identificação
inerentemente subjetivo (LUSTOSA, 2009). Na visão de dos vários tipos de ativos dentro de uma massa patrimo-
Relvas (2008), analisando Biermam (1963), é impossível nial combina, da mesma forma, um paralelo intrigante so-
considerar uma interpretação formal, restrita, numa pers- bre tangibilidade e intangibilidade.
pectiva objetiva dentro da Contabilidade, a menos que o Presos aos conceitos literais seria sensato dizer que a
vetor de mensuração seja a avaliação pelo regime de cai- diferença marcante dessas tipologias estaria na qualidade
xa. Para a autora, no conjunto de conceitos e princípios corpórea dos bens (MARION, 1998; ARAUJO e ASSAF,
que formam a Ciência Contábil, mesmo quando pratica- 2004), afirmação insuficiente para tratar o tema, que longe
da para atender aos usuários externos, há inerente uma desta simplicidade didática, requer reflexão sobre o alcance
combinação de certos graus de subjetividade e inexatidão do bem ou direito para a entidade e para a sociedade, como
(BIERMAN apud RELVAS, 2008). é o caso dos ativos hereditários. Por sua natureza, estes
Um dos temas emergentes é o que discute sobre os bens têm natureza corpórea, mas trazem consigo um legado
Heritage Assets, definidos como recursos tangíveis, que para a sociedade que em muitos casos supera o valor mate-
carregam consigo uma importância ímpar para um de- rial para sua existência, como uma praça ou um monumento
terminado povo ou sociedade por sua representatividade público de alto valor cultural.
histórico e/ou cultural cuja intenção de sua preservação Os ativos intangíveis, por sua vez, são ativos não monetários
é indefinida (TAVARES; GONÇALVES; NIYAMA, 2009). identificáveis e sem substância física. Entretanto, como a origem
Esses autores apresentam uma visão comparativa dos da palavra tangível vem do latim tangere (tocar), os bens intangí-
conceitos e normas emanadas do Financial Accounting Stan- veis são bens que não podem ser tocados porque não tem corpos,
dard Board (FASB), ASB e Conselho Federal de Contabilidade ou seja, são incorpóreos (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 2001).
(CFC), concluindo, entre outros aspectos, que existem divergên- Epstein e Jermakowicz (2007, p. 272) destacam que os
cias quanto a reconhecimento e mensuração entre os conceitos ativos intangíveis não tem substância física ou tem valor
do FASB e do ASB, mas reconhecem que mesmo essas dife- que não é tão veiculado pela substância física que pos-
renças, os documentos elaborados por esses órgãos suportam a suem, ou seja, não tem seus valores muito conhecidos.
elaboração de uma norma no contexto brasileiro, que ainda não Observa-se que as características para conceituação dos
contempla definição, reconhecimento, mensuração e avaliação. ativos intangíveis é complexa, apesar das diversas tentativas
Esse trabalho apresenta a necessidade de esclarecer determi- para se definir tal grupo. Ainda assim, um conceito bem difundi-

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 42 - 47, jan./abr. 2013 43


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Erivan Ferreira Borges Jomar Miranda Rodrigues Maurício Corrêa da Silva Gilmara Mendes da Costa Borges Edilson Paulo

do e aceito vem por meio do International Accounting Standard principalmente com o advento das Normas de Contabilidade
(IAS) 38, que define um ativo intangível como sendo um ativo Aplicadas ao Setor Público (NBCTSP), convergentes as
não monetário identificável sem substância física, e que possa International Public Sector Accounting Board (IPSASB), que
ser controlado e gere benefícios futuros (IASB, 2008). de certa forma recomendam o reconhecimento de tais bens.
Tangível ou intangível, as características associadas ao con-
ceito geral de ativo, ainda que aceitas, recebe críticas contun- 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
dentes, como a proposta por Schuetze (2001, p.12-14), quanto A pesquisa é tipificada como exploratório. Para Gil
à definição defendida pelo FASB, que para o autor se configura (2006, p. 43) as pesquisas de caráter exploratório consti-
complexa, abstrata, de modo amplo, inclusivo e vago, que não tuem a primeira etapa de uma investigação que pode ser
serve para resolver problemas de ordem prática. Cardoso e mais ampla. Quando os temas envolvidos são genéricos,
Aquino (2009) alertam que a classificação dos ativos, normal- tornam-se necessários seu esclarecimento e delimitação,
mente, descritas nos sistemas normativos, não tem auxiliado o que exige revisão da literatura, discussão com especia-
na compreensão da sua capacidade de geração de benefícios listas e outros procedimentos. Sobre esses aspectos, o
econômicos futuros. Assim, os autores afirmam que: trabalho está focado na revisão da literatura e na opinião
“... em alguns casos, há uma fraca relação entre as ca- dos especialistas brasileiros.
racterísticas sugeridas pelos padrões contábeis para Gil (2006) delimita ainda que o produto final deste pro-
diferenciar os ativos e a sua liquidez (velocidade de cesso exploratório é a obtenção de um problema de pes-
conversão de um ativo com especificidade maior que quisa mais esclarecido, passível de investigação median-
zero em outro ativo não específico ou, pelo menos, me- te procedimentos mais sistematizados.
nos específico)” (CARDOSO; AQUINO, 2009, p.215). A população compreende os autores/professores das
disciplinas de contabilidade pública do país, compreen-
Em meio a esses conceitos, os heritage assets repre- dendo inicialmente 15 autores de livros acadêmicos. A
sentam um ponto a parte, cuja essência não é diretamente amostra, não determinada a priori, é composta por cinco
compreendida para o conceito que os suporta (como ativo respondentes, resultado dos e-mails enviados aos pes-
tangível), como se procura demonstrar mais adiante. quisados. Apesar de considerar todo o quantitativo de
Ativos hereditários são aqueles que têm qualidades histó- indivíduos que aparecem como autores da área de conta-
rica, artística, científica, tecnológica, geofísica ou ambiental e bilidade pública, informação considerada a partir da cons-
ajudam a manter, por sua contribuição, o conhecimento e a cul- tatação da existência de livros publicados por editoras
tura de uma nação, de um povo (ASB, 2008; TAVARES, GON- reconhecidas na área, só foram obtidas cinco respostas,
ÇALVES e NIYAMA, 2009). Para o FASB (2008) são recursos que são analisadas em conjunto na seção 4.1.
tangíveis que têm uma importância singular por sua represen- Para coleta dos dados, foram elaboradas duas
tatividade histórico e cultural, cujo povo ou nação que tenha a afirmações a respeito do conceito de ativos hereditários,
intenção de preservá-los indefinidamente (FASB, 2008). extraídas das definições da ASB e do FASB, seguidas de
Essa singularidade assumida no conceito (tangível) repre- três questões específicas sobre o tema, como segue.
senta a principal inquietação desse estudo, uma vez que a in-
tenção de preservar um bem pode gerar uma medida de valor Analise os conceitos abaixo antes de responder as questões:
imensurável dado a essa intenção. Tal afirmação não desca-
racterizaria os heritage assets como ativos, apenas suportaria • Ativos hereditários são aqueles que têm qualidades
reconhecer que, dado ao aspecto essencial da sua existência, histórica, artística, científica, tecnológica, geofísica ou
tais ativos devem ser reconhecidos como intangíveis, pois o ambiental e ajudam a manter principalmente sua contri-
valor futuro esperado da sua existência é função subjacente à buição para o conhecimento e cultura (ASB, 008).
materialidade física. Para Lustosa (2009), o valor de um ativo
é uma medida voltada para o futuro, que é alterado dinamica- • Os heritage assets são recursos tangíveis que car-
mente em função das ações e intenções de quem controla. regam consigo uma importância ímpar para um deter-
A subjetividade inerente à mensuração de um ativo, asso- minado povo ou sociedade por sua representatividade
ciada à intenção de quem o controla, não permitiria, do pon- histórico/cultural, cuja intenção de sua preservação é
to de vista prático, reconhecer o valor de um bem corpóreo indefinida (FASB, 2008).
cuja principal razão da sua existência é a representatividade,
como tangível. Presume-se que não se pode aferir o valor de Questão 1 – Considerando os conceitos de ativos tan-
algo não reconhecido pela parte visível, corpórea do bem, gíveis e intangíveis, como você classificaria os ativos
mas antes pela completude deste bem. Como exemplo, pode- hereditários e aqueles considerados bens de natureza
-se lançar mão da figura de um iceberg, com partes visíveis pública (de natureza tangível ou intangível?)? Justifique.
(tangível) e não visíveis (que seria o intangível).
Por essência, a materialidade observada não presume Questão 2 – Considerando a conceituação simples do termo
assumir o conceito de bem corpóreo de maneira isolada, “hereditário”, como algo que se recebe ou se transmite por
apesar da delimitação aceita e difundida pelo FASB. herança, é possível dizer que há confusão conceitual na defi-
Questionando esta a aceitação, propôs-se nesse artigo nição e nomenclatura do seria ativos hereditários? Justifique.
consultar os profissionais que atuam na área de contabilidade
pública, ambiente no qual a discussão parece mais latente,
Questão 3 – Outras considerações que julgar pertinentes.

44 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 42 - 47, jan./abr. 2013


CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Heritage Assets: Tangíveis ou Intangíveis?

As definições objetivaram permitir aos autores criar mecanis- de contas da união norteia um tratamento específico (afetação/
mos de comparação para formação de ideias, que deveriam ser desafetação do bem público), porém, quanto aos demais entes ou
apresentadas nas respostas às questões específicas. No texto de esferas de governo, eu não sei se há tratamento adequado.
apresentação dos e-mails, deixou-se claro para os respondentes Resposta à questão 2:
que as informações coletadas tinham caráter eminentemente aca- Aos não iniciados no assunto soa estranho o termo heredi-
dêmico, e que não seriam divulgados nomes ou identificações jun- tário. Poder-se-ia entender como se fosse um ativo incorpora-
tamente com as respostas recebidas. do por herança. O termo “ativo histórico” poderia fazer melhor
referência aos bens que adquirem essa nova forma jurídica,
4. Análise dos Resultados de ser um bem especial, tombado.
Nesta seção, inicialmente são apresentadas as respos- Resposta à questão 3:
tas às questões obtidas, considerando-se a ordem de data Interessante o assunto em estudo. Sugiro verificar o tratamen-
do envio e em seguida pressupõe-se uma análise crítica a to aos bens públicos que passam a figurar nessa modalidade de
partir destas respostas. ativo histórico ou como a conceituação define ativo hereditário.

4.1. Respostas obtidas 4.1.4. Autor 4:


4.1.1. Autor 1: Resposta à questão 1:
Resposta à questão 1:
Seriam classificados com bens de uso comum, no imo-
Ativos hereditários, no meu entendimento, seriam intangí-
bilizado, tangíveis e intangíveis, dependendo da natureza.
veis, posto que possuam expressiva relevância na vida de um
Conceito da NBC T 16.1: Patrimônio Público: o conjunto de di-
povo, contribuindo para a reprodução cultural entre gerações.
reitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiri-
Desta forma, mesmo que em algumas situações tais ativos
dos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pe-
tenham tangibilidade seu valor intrínseco não está ligado ao
las entidades do setor público, que seja portador ou represente
aspecto físico, mas as suas qualidades. Quanto aos bens de
um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação
natureza pública, ou seja, de domínio público, podem ser tan-
de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades
gíveis ou intangíveis, como por exemplo: o espaço aéreo, o
do setor público e suas obrigações.
subsolo (intangíveis), as praças, viadutos (tangíveis).
Resposta à questão 2:
Resposta à questão 2:
Não, mas seria interessante acrescentar o termo ‘ativos
Não creio haver confusão. Ativos hereditários são aqueles que
patrimoniais hereditários’.
pertencem a um povo, transferidos de geração para geração.
Resposta à questão 3:
Resposta à questão 3:
Seria interessante entendermos o propósito das per-
Sem comentários.
guntas, para corresponder às respostas esperadas.

4.1.2. Autor 2: 4.1.5. Autor 5:


Resposta à questão 1: Resposta à questão 1:
Considero que os ativos hereditários são tangíveis. Jus- Considero que tais bens são tangíveis, pois normal-
tifico o conceito pela própria definição de que são ativos mente são identificados e reconhecidos pela sua existên-
que se perpetuam no tempo, pois foram preservados e por cia física (corpórea). A dificuldade, por vezes, não é o re-
isso possuem valor intrínseco. conhecimento, mais sim a mensuração econômica, daí a
Resposta à questão 2: necessidade de se utilizar métodos de mensuração esta-
A denominação “hereditário” provoca confusão porque se con- tísticos, similaridade, consenso sobre o valor ou outros ad-
funde com a terminologia “patrimônio”, passagem de pai para filho. mitidos nas normas que tratam sobre avaliação patrimonial.
Resposta à questão 3: Resposta à questão 2:
Sem comentário. Sim, entendo que talvez a nomenclatura mais comunicati-
va ao usuário da informação fosse “Ativos Culturais”, como já
são tratados outros ativos nas normas internacionais (IFAC),
4.1.3. Autor 3:
como, por exemplo: Ativos Ambientais e Ativos Biológicos.
Resposta à questão 1:
Diante do questionamento, e dos meus escassos conhecimen- Resposta à questão 3:
tos sobre o assunto, considero que os ativos hereditários seriam Não tenho.
aqueles ativos que de alguma forma deixam de serem simples-
mente bens registrados no ativo de determinada corporação (pú- 4.2. Análise das respostas obtidas
blica ou privada) e revestem-se de nova valoração, agora sob Pelas respostas obtidas, vê-se que o tema ainda merece uma
uma condição especial que é a manutenção da memória. No caso profunda reflexão por parte dos agentes operadores e regulado-
do Brasil, temos o instituto de Tombamento de alguns bens. Não res da profissão contábil, sobre a natureza tangível ou intangível
conheço profundamente qual é o tratamento contábil dispensado desses ativos, pressuposto a partir do qual são feitas algumas
aos bens tombados, se há transferência de um grupo para outro considerações envolvendo o processo de convergência, a parti-
do ativo, a fim de bem valorar e evidenciar o atual estado desse cipação da academia como mediadora de conflitos e o a atuação
bem patrimonial na atual contabilidade pública nacional. O plano do profissional contábil nesse contexto.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 42 - 47, jan./abr. 2013 45


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Erivan Ferreira Borges Jomar Miranda Rodrigues Maurício Corrêa da Silva Gilmara Mendes da Costa Borges Edilson Paulo

• Sabe-se que o processo de convergência as Interna- Do pressuposto estabelecido para a pesquisa, considera-se
tional Standards on Auditing (ISA) pressupõe a participa- que, apesar das limitações, o trabalho evidencia uma falta de
ção ativa da academia, contribuindo, por exemplo, com sincronia entre o contexto brasileiro e o internacional na dis-
o esclarecimento de temas complexos, como a definição cussão de temas emergentes à contabilidade, afirmação que
dos Heritage Assets. A participação está definida por atos pressupõe também o questionamento sobre se a academia,
dos reguladores, como a Resolução no. 1.055/2005 do por seus experts, tem cumprido adequadamente o papel de
Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que cria o tradutora dos problemas práticos da profissão.
Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).
• Apesar dessa necessária participação, o contexto das 5. Considerações Finais
respostas apresentadas pelos experts não demonstram Como destacado anteriormente, mesmo com o aprofun-
um cenário que reflete tal condição: (a) não há consenso damento em diversos campos da Contabilidade, existem
entre os conhecedores do tema, o que demonstra a ari- ainda uma grande distância entre o fenômeno real e des-
dez inerente à discussão conceitual do tema; (b) eviden- crito pela regulação contábil, onde se destaca o processo
cia-se também, uma falta de conhecimento por parte de de classificação de elementos patrimoniais. Ao longo des-
outros, o que provavelmente evidencia um descompasso te trabalho discutiu-se o conceito de ativos hereditários,
frente ao cenário mundial, podendo prejudicar a maturi- consoante a sua melhor definição, se como ativos tangí-
dade científica do país, contribuir para a ação discricio- veis ou intangíveis. Demonstrou-se que, regra geral, es-
nária dos reguladores, na medida em que estes podem ses ativos são definidos pelos reguladores internacionais
ser exigidos pontualmente para definir qual seria o trata- como tangíveis, apesar se demonstrar que a sua principal
mento adequado para o tema; e porque não, refletir-se característica reside na representatividade cultural e/ou
na preparação dos profissionais, que passam a agir nes- histórica para um povo ou nação, elementos que tornam
se cenário (de convergência) sem uma base subjacente suas características intangíveis mais latentes. Esse con-
à formulação dos julgamentos que o processo exige; texto conflitante também está presente no pensamento
• Quando analisadas sob a ótica da maturidade científica de alguns autores brasileiros, cujas opiniões não refletem
apontada por Iudícibus (2004), não permitem afirmar que o consenso sobre o conceito, e quando não, o tema foge ao
contexto brasileiro tem demonstrado o mesmo nível das dis- seu conhecimento.
cussões acerca de certos temas importantes para a socie- Esse cenário, analisado sob a premissa da total con-
dade como é observado em outros países (ASB e FASB têm vergência as normas internacionais, evidencia um des-
normas que tratam a temática desde 2008). Por outro lado, compasso entre o cenário nacional e internacional na
esse lapso temporal pode representar para alguns a existên- discussão de temas emergentes que o processo exige,
cia de um cenário ainda fértil para pesquisas, exigindo uma já que no Brasil não existe nenhuma discussão legal que
atuação mais próxima entre profissionais e acadêmicos, que aborde o tema diretamente. Essa condição sugere a ne-
tenha como resultado conhecimentos mais consolidados e cessidade de se realizar pesquisas que objetivem verificar
que não permitam entendimentos ou conceitos divergentes. empiricamente este descompasso.

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Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 42 - 47, jan./abr. 2013 47


Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

Relação entre CAPM e


Rentabilidade: Um Estudo
Setorial em Empresas
Listadas na BM&FBovespa
indicadores de rentabilidade. A utilização da média anual
Ieda Margarete Oro
no estudo pode ter influenciado os resultados, possivel-
Blumenau – SC
mente por não retratar a melhor inferência para análise de
Doutoranda em Ciências Contábeis e Administração
correlação entre as variáveis analisadas.
pelo PPGCC/FURB1
Palavras-chave: CAPM; Indicadores de Rentabilidade;
ieda.oro@unoesc.edu.br
Estudo Setorial.

Leossania Manfroi Abstract


Blumenau – SC The aim of this study is to investigate empirically the relation
Mestranda em Ciências Contábeis pelo PPGCC/FURB1 between the cost and the return on equity through the model of
contabeis@uceff.edu.br asset pricing and profitability indicators. The research is descriptive
of the documentary type with quantitative approach. Twenty-
nine sample companies of the six sectors of actuation listed on
Jorge Ribeiro Toledo Filho the BM&FBovespa took part on the research. Quantitative data
Blumenau – SC has been extracted from the data base of Economática ® and
Doutor em Contabilidade na Universidade de São Paulo FEA/USP2 statistically analyzed in the software SPSS (Statistical Package
Professor do PPGCC/FURB1 for the Social Sciences), extracting the normality test, descriptive
jtoledo@furb.br statistics and Pearson correlation coefficient. The profitability
indicators were considered ROI, ROE and GA. The results
indicate that, in the most of the analyzed variables, there is weak
Resumo correlation of CAPM with the profitability indicators. The use of
O objetivo deste trabalho é investigar empiricamente annual average in the study may have influenced the results,
a relação entre o custo e o retorno do capital próprio por possibly for not portraying the best inference for the analysis of
meio do Modelo de Precificação de Ativos e dos indica- correlation between the variables analyzed.
dores de rentabilidade. A pesquisa é descritiva, do tipo Key words: CAPM; Profitability indicators; Sectoral Study.
documental com abordagem quantitativa. Participaram da
amostra 29 empresas de seis setores de atuação listadas
na BM&FBovespa. Os dados quantitativos foram extraí-
1. Introdução
Os recursos financeiros investidos pelos sócios ou acionis-
dos da base de dados da Economática® e analisados es-
tas em uma organização têm como propósito a rentabilidade do
tatisticamente no software SPSS® (Statistical Package for
capital. Isso é uma questão de sobrevivência organizacional.
the Social Sciences), extraindo o teste de normalidade, a
Os investidores esperam obter o retorno pelo investimento, e a
estatística descritiva e correlação de Pearson. Os indica-
empresa precisa do reinvestimento para garantir a sua continui-
dores de rentabilidade considerados foram ROI, ROE e
dade. Os investimentos, em geral, representam montantes de
GA. Os resultados indicam que na maioria das variáveis
recursos que investidos assumem riscos e também o retorno
analisadas percebe-se fraca correlação do CAPM com os
esperado. Assaf Neto (2006, p. 34) afirma que “as decisões de

1
PPGCC/FURB – Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau – CEP. 89012-916 – Blumenau – SC.
2
FEA/USP - Faculdade de Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - CEP. 05508-010 - São Paulo – SP.
Artigo recebido em 11/07/2012 e aceito em 26/02/2013.

48 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 48 - 58, jan./abr. 2013


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Relação entre CAPM e Rentabilidade: Um Estudo Setorial em Empresas Listadas na BM&FBovespa

investimento criam valor e, portanto, mostram-se economica- O custo de capital de qualquer investimento – em um
mente atraentes quando o retorno esperado da alternativa ex- projeto; uma nova divisão ou em uma empresa como um
ceder a taxa de retorno exigida pelos proprietários de capital.” todo – representa a taxa de retorno que o provedor do
O capital próprio é considerado um investimento de capital esperaria receber se o seu dinheiro fosse investido
risco, em que os investidores são remunerados de acor- em outro projeto, ativo ou empresa de risco semelhante.
do com o resultado da empresa, no caso de uma gestão (YOUNG; O´BYRNE, 2003)
ineficiente, o investidor é afetado negativamente. (ASSAF A determinação do custo do capital próprio é um dos assun-
NETO, 2006). O custo do capital aportado pelos investido- tos polêmicos, tanto no meio acadêmico quanto no empresa-
res também conhecido como custo de capital próprio pode rial, principalmente pela falta de consenso quanto aos critérios
ser estimado utilizando-se o modelo de risco e retorno por e premissas que a fundamentam (CATAPAN; HEIDEMANN,
meio do modelo de precificação de ativos (CAPM), no qual 2002). Com relação ao Capital próprio, o custo é mais subjeti-
o risco é mensurado em relação a um único fator de merca- vo, ou seja, não é explícito na DRE e reflete a expectativa dos
do (DAMODARAN, 2002). acionistas (COSTA; COSTA; ALVIM, 2010). Assaf Neto (2004,
Silva, Calazar e Calegário (2008) enfatizam que o pressu- p. 355) ressalta que o “custo de capital de uma empresa reflete,
posto básico do CAPM é o relacionamento linear entre o re- em essência, a remuneração mínima exigida pelos proprietá-
torno de um ativo e seu risco, sendo esse último mensurado rios de suas fontes de recursos (credores e acionistas)”.
pelo beta, que mede a sensibilidade dos retornos de um ativo Para Lemes Jr., Rigo e Cherobim (2002) os capitais pró-
às variações nos retornos da carteira de mercado ou o risco prios são recursos aportados nas empresas pelo patrimônio
sistemático. Outro pressuposto é o indicado por Assaf Neto, líquido, pela autogeração de recursos e respectivo reinvesti-
Lima e Araújo (2008), afirmam ser a taxa representativa da re- mento, ou pela subscrição e integralização do capital social.
muneração mínima a ser exigida pelos investidores de forma O capital próprio é representado no Balanço Patrimonial pelo
a compensar o risco assumido. Taxas de retorno maiores que grupo do patrimônio líquido. De acordo com Gitman e Madura
o custo mínimo irá valorizar o negócio. Assim, agregam valor (2003, p. 344) “o capital social permanece na empresa por um
econômico aos proprietários de capital. Ao contrário, taxas de tempo indefinido [...]”. Diferentemente do capital de terceiros,
retorno sobre o capital aplicado inferior ao custo de oportunida- o capital próprio não tem data prévia para pagamento.
de destroem valor, passando a empresa a ser cotada por um Costa, Costa e Alvim (2010, p. 98-99), ressaltam que o custo
valor inferior que a soma de seus ativos. do capital próprio apresenta dois componentes importantes:
Neste estudo a problemática consiste: Qual a relação
entre custo e retorno do capital próprio por meio da utili-
zação do modelo de Precificação de Ativos e dos indica- r = rf + p
dores de rentabilidade?
O objetivo deste trabalho é investigar empiricamente a re-
lação entre o custo e o retorno do capital próprio por meio r retorno mínimo exigido pelos acionistas ( do ponto
do Modelo de Precificação de Ativos e dos indicadores de de vista da empresa, r=ke )
rentabilidade. Pressupõe-se que os setores que possuem rf taxa de retorno para investimento sem risco
menor coeficiente de risco e custo de capital próprio apre- (risk-free rate) é também chamado de prêmio de liquidez
sentam melhor relação com os indicadores de rentabilidade. ou espera
p prêmio para risco
2. Fundamentação Teórica
Esta seção apresenta conceitos relacionados ao custo de O custo do PL representa a taxa de retorno que os in-
capital próprio, o modelo de precificação de ativos (CAPM) vestidores exigem para realizar um investimento patrimo-
utilizado para identificar o custo do capital próprio e os indi- nial em uma empresa. “Existem duas abordagens de es-
cadores de rentabilidade que serviram de base para a pes- timar o PL, primeira é pelo modelo de risco e retorno, e a
quisa. Além disso, apresentam-se estudos sobre CAPM. segunda pela aplicação de um modelo de de crescimento
de dividendos” (DAMODARAN, 2006, p. 59).
2.1. Custo de Capital Próprio
2.2. Precificação de Ativos de Capital (CAPM)
O capital próprio é representado no Balanço Patrimo-
De acordo com Young e O’Byrne (2003), o modelo CAPM foi
nial pelo grupo do Patrimônio Líquido. Gitman e Madura
desenvolvido pelos professores Willian Sharper e John Lintner
(2003, p. 344) citam que o patrimônio líquido “permanece
das Universidades de Stanford e Harvard, respectivamente,
na empresa por um tempo indefinido”. Diferentemente do
a partir de contribuições anteriores de James Tobin e Harry
capital de terceiros, o capital próprio não tem data pré-
Markowitz à teoria de finanças.
via para pagamento. Isso significa que o capital próprio é
A importância da análise do CAPM está ligada ao processo
considerado um investimento de risco, arcando os seus
de avaliação de tomada de decisões em condições de risco. O
provedores com todo o resultado residual da empresa. No
modelo CAPM tradicional ou estático desenvolvido por Sharpe
caso de uma gestão ineficiente da empresa, pode reper-
(1964) mostra que existe uma relação linear entre o risco e o re-
cutir negativamente sobre os rendimentos dos acionistas,
torno de uma ação, onde os investidores sempre buscarão formar
mas não sobre a remuneração dos credores ou dos acio-
uma carteira que tenha a melhor relação entre o risco e o retorno,
nistas (ASSAF NETO, 2006).

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 48 - 58, jan./abr. 2013 49


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Ieda Margarete Oro Leossania Manfroi Jorge Ribeiro Toledo Filho

já que esses são indivíduos que procuram maximizar a utilidade


esperada da sua riqueza. (ASSAF NETO, ARAUJO; LIMA, 2008). B = COV Rj , Rm
Para Souza (2003, p. 149), “a mensuração do custo VAR R m
do capital próprio é mais complexa do que a mensuração
do capital de terceiros, em decorrência dos parâmetros
possíveis de ser adotado no cálculo”. Portanto, o grau de O numerador corresponde à covariância entre o retorno da
subjetividade na determinação do capital próprio é maior. ação e a carteira do mercado, e o denominador a variância dos
O modelo CAPM estabelece uma relação linear entre risco retornos que o a carteira de mercado apresentou. Faz uma asso-
e retorno para todos os ativos, permitindo apurar-se, para cada ciação em relação à movimentação de mercado alta ou baixa do
nível de risco assumido, a taxa de retorno que premia essa si- mercado, podem-se visualizar os valores do beta seguindo a lógi-
tuação. Embora apresente algumas limitações, o modelo é ex- ca dos sinais que ele apresenta. Quando ele tiver um valor positi-
tremamente útil para avaliar e relacionar risco e retorno, sendo vo, significa que ele acompanha o fluxo, já quando for negativo, é
o mais utilizado pela literatura financeira para estimar o custo de porque está indo em sentido contrário (MOTTA; CALÔBA, 2002).
capital próprio (ASSAF NETO, ARAUJO; LIMA, 2008). Com relação ao beta, é importante ressaltar que é preciso
Em linhas gerais, o CAPM ou coeficiente de custo de ca- estar atento a possíveis mudanças no beta da ação, em vir-
pital próprio resulta da soma da taxa de retorno dos títulos tude de mudanças que irão afetar a taxa de risco da empresa
sem risco e da taxa de risco sistemático da empresa (beta), ao longo do tempo. Isto indica que a taxa do custo de capital
multiplicada pela taxa de prêmio relativa ao risco de merca- também poderá mudar (diminuir), à medida que a empresa
do (CATAPAN; HEIDEMANN, 2002). atinge a maturidade (COPELAND; KOLLER; MURRIN, 2000).
De acordo com Young e O’Byrne (2003, p. 150), a fórmula de Damodaran (1997, p. 347) entende que os “modelos bá-
cálculo do custo do capital próprio (CAPM) tem a seguinte forma: sicos de fluxo de caixa para avaliação podem ser aplicáveis
a qualquer empresa, quer de capital aberto, quer de capital
fechado”. No entanto, o autor lembra que para o cálculo é
E (R) = Rf + beta [ E(Rm) - Rf] necessário ter todas as informações, no caso das empresas
de capital aberto com ações cotadas na bolsa são mais fáceis
de obter os dados do que as empresas de capital fechado.
Onde: Portanto, entre as variáveis a serem identificadas na
E(R): retorno esperado sobre qualquer ativo de risco metodologia e apuração do CAPM estão a taxa de retorno
Rf: retorno sobre o ativo livre de risco esperada, a taxa livre de risco e o beta. O custo do capital
E(Rm): retorno esperado no mercado de ações próprio representa a taxa de retorno que o investidor gos-
b(beta): é uma medida ou risco sistemático da ação (coeficiente). taria de receber se os seus recursos fossem investidos em
uma aplicação qualquer ou empresa de semelhante risco.
Sobre a fórmula, Young e O’Byrne (2003, p. 150) ressal-
tam que “o retorno esperado em um ativo de risco, ações, por 2.3. Indicadores de Rentabilidade
exemplo, é igual ao retorno sobre um ativo sem risco mais um Para determinar a real situação de uma empresa, não é pre-
prêmio. O prêmio é igual ao prêmio de risco do mercado, que ciso calcular uma quantidade grande de índices, porém devem
reflete o preço pago pelo mercado de ações a todos os inves- ser calculados um determinado conjunto que demonstre qual a
tidores, ajustado por beta, um fator de risco de cada empresa”. situação que se busca saber da empresa e qual a profundida-
A relação que Motta e Calôba (2002) abordam para o Beta de dessa análise. (MATARAZZO, 2010). Sendo que se precisa
é que para valores maiores que 1, seu movimento é acelerado conhecer qual é o usuário dessa informação para determinar
quando comparado a variação do mercado, equivalente se for 1, quais serão os índices que serão utilizados para satisfazer seu
e inferior se for menor que 1. Se analisados do ponto de vista interesse de informação. Diversos outros indicadores têm sido
de perfis de investimento, podem ser considerados como agressi- usados no estudo da relação entre diversificação e desempe-
vos, neutros, conservadores, respectivamente. De forma analítica, nho, e o que utilizamos neste estudo são baseados em Assaf
Motta e Calôba (2002) coloca o beta na seguinte equação: Neto (2002) e Matarazzo (2010).

Quadro 1: Indicadores de rentabilidade

Indicador Fórmula O que indica Interpretação


VL Quanto a empresa vendeu para cada R$1,00
Giro do Ativo (GA) Quanto maior, melhor
AT de investimento total
A capacidade que os ativos apresentam de ge-
Retorno sobre o Investimento LL x 100
rar lucros, ou seja, quanto de retorno a empresa Quanto maior, melhor
total (ROI) AT
obtem para cada R$1,00 investido no ativo
Quanto a empresa obtém de lucro para cada
Rentabilidade do Patrimônio LL x 100
R$1,00 de capital próprio investido, em média, Quanto maior, melhor
Líquido ou Return on Equity (ROE) PL
no exercício
Fonte: Matarazzo (2010) e Assaf Neto (2002)

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Relação entre CAPM e Rentabilidade: Um Estudo Setorial em Empresas Listadas na BM&FBovespa

Os indicadores são divididos de forma a evidenciar a situ- empresas do projeto CAPM e retorno do projeto. Os resultados
ação financeira e a situação econômica da empresa. Os ín- justificam o uso continuado do CAPM por parte das empresas,
dices que compõe a rentabilidade da empresa demonstram apesar da crescente evidência contra ela com base na seção
qual a rentabilidade dos capitais investidos, ou seja, quanto transversal dos retornos das ações.
foi o rendimento dos investimentos. (MATARAZZO, 2010).
Para Reis (2003), os índices de rentabilidade demonstram a 3. Procedimentos Metodológicos da Pesquisa
capacidade de produzir lucros através do capital próprio e do capi- A pesquisa desenvolvida foi de caráter descritivo com abor-
tal de terceiros. Segundo Marion (2002), a rentabilidade é medida dagem quantitativa. Gil (1999, p. 70) relata que “a pesquisa
em função dos investimentos. As fontes de financiamento do ativo descritiva tem como principal objetivo descrever características
são capitais próprios e capital de terceiros. A administração ade- de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento
quada do ativo proporciona maior retorno para a empresa. de relações entre as variáveis”. A utilização do método quanti-
tativo “representa, em princípio, a intenção de garantir a preci-
2.4 Estudos sobre o Modelo de Precificação de são dos resultados, evitar distorções de análise e interpretação,
Ativos (CAPM) possibilitando, consequentemente, uma margem de segurança
O estudo realizado por Bellizia (2009) objetivou testar e quanto às inferências” (RICHARDSON, 1999, p.70).
comparar a aplicação de quatro modelos de precificação de A população refere-se aos sujeitos que constituem o obje-
ativos no mercado de capitais brasileiro: o CAPM Local, o to de estudo. A amostra foi selecionada de forma intencional e
CAPM Global, o Modelo Goldman e o modelo proposto por compõe-se de todas as empresas (sociedades anônimas) da
Solnik. Para tal, a metodologia de Fama e MacBeth (1973) BM&FBovespa que possuem divulgado o beta e informações
foram aplicados uma amostra composta por todas as ações para compor os indicadores financeiros. Constatou-se no banco
listadas na Bovespa, no período compreendido entre janeiro de dados da Economática uma relação de 521 empresas, mas
de 1998 e dezembro de 2007. Os resultados obtidos quando apenas 36 empresas possuem as informações requeridas pelo
os modelos são testados com a exclusão dos interceptos de estudo. Dessas foram excluídas seis por atuarem no segmento
fatores não especificados, o CAPM Local, o CAPM Global e o financeiro e uma do segmento de Petróleo, Gás e Combustível.
modelo proposto por Longin e Solnik (2000) passam a apre- A relação de empresas e os respectivos setores de atu-
sentar elevados coeficientes de determinação ajustados. Isto ação estão relacionadas no Quadro 2.
indica que, com a exclusão destes fatores não especificados, Para apuração do cálculo do CAPM há necessidade de co-
os betas destes modelos são capazes de explicar quase a nhecer o coeficiente de risco e no Brasil são poucas as empre-
totalidade dos prêmios pelo risco das carteiras. sas brasileiras que divulgam o beta. Segundo Assaf Neto, Lima
Cheng (2009) analisou o retorno dos investimentos nos e Araujo (2008, p. 13), “a concentração do índice do mercado
mercados financeiros relativamente pouco estudados do em ações de poucas empresas e principalmente, a presença
Oriente Médio e norte de África (MENA), foram analisa- de um inexpressivo volume de ações ordinárias nas negocia-
dos nove países dentro do contexto das três variantes do ções de mercado, invalidam qualquer tentativa de se trabalhar
Capital Asset Pricing modelo (CAPM). O estudo identifi- com betas obtidos de bolsas de valores brasileiras”.
cou que: Israel e Turquia são mais fortemente integrados Salienta-se também que foram selecionadas as ações de em-
com mercados financeiros mundiais; e na maioria os paises presas de categoria ON. Quando a empresa apresentava ações
membros da (MENA), a relação de risco e retorno é positiva. ordinárias (ON) e preferenciais (PN), optou-se somente pelas or-
Galeno (2010), por sua vez analisou as empresas com dinárias. Segundo Toledo (2001), as ações do tipo ordinárias têm
ações listadas na Bolsa de Valores de São Paulo no período poder de voto nas assembleias gerais, enquanto as preferenciais
de janeiro de 2002 a dezembro de 2009, para a realização do não possuem este direito. As ações ordinárias costumam também
estudo foi utilizada a metodologia de teste desenvolvida por ser a forma mais cara de capital social, seguida de lucros retidos e
Wang (2002). Com o objetivo de validar a aplicação do CAPM depois de ações preferenciais (GITMAN; MADURA, 2003).
condicional não paramétrico para o mercado acionário brasilei- As fontes secundárias consubstanciam-se de pesquisa do-
ro, foram estimados os diversos parâmetros do modelo e tes- cumental. Os dados das empresas selecionadas foram coleta-
tada sua validade estatística para cada variável de informação dos a partir do banco de dados da Economática® e do sítio da
avaliando-se o p-value. Os resultados observados indicam que BM&FBovespa e utilizados para compor os dados. Os dados
o modelo condicional não paramétrico é relevante na explica- foram tabulados em planilha eletrônicas no software Excel® for
ção dos retornos das carteiras da amostra considerada para Windows 2007 e tratados no software aplicativo SPSS® (Sta-
duas das quatro variáveis testadas, M4 e dólar PTAX. tistical Package for the Social Sciences). Foram calculados os
Zhi Da (2011) analisou a evidência empírica contra o modelo índices individualmente por empresas e por setor de atuação,
de precificação de ativos de capital (CAPM), observou-se que para obtenção dos valores das médias, desvio-padrão, mínimo,
os retornos não invalidam o custo de capital para projetos na máximo e coeficiente de variância de 2006 a 2010. Para aná-
tomada de decisões de orçamento de capital, porque as ações lise comparativa entre todos os segmentos e a verificação da
são apoiadas não só por projetos no local, mas também pelas homogeneidade entre as empresas do mesmo grupo. Foram
opções para modificar os projetos atuais e implantar novos, o re- selecionados três indicadores de rentabilidade, baseados nos
torno esperado sobre os estoques não precisa atender o CAPM. estudos de Matarazzo (2010) e Assaf Neto (2002).
O estudo oferece suporte empírico para os argumentos atra- Na análise e exposição dos resultados, aplicou-se teste de
vés do desenvolvimento de um método para estimar betas das normalidade dos dados, estatística descritiva e correlação de

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Quadro 2: Relação de empresas e setores de atuação da BM&FBovespa

Empresa Setor de atuação Empresa Setor de atuação


1 - Grendene Consumo cíclico 16- Gerdau Met Materiais básicos
2 - Guararapes Consumo cíclico 17- Sid Nacional Materiais básicos
3 - Localiza Consumo cíclico 18- Usiminas Materiais básicos
4 - Lojas Renner Consumo cíclico 19-Vale Materiais básicos
5 - Dasa Consumo não cíclico 20-Telef Brasil Telecomunicações
6 - Natura Consumo não cíclico 21 - Telemar Telecomunicações
7 - Renar Consumo não cíclico 22 - Tim Part S/A Telecomunicações
8 - Ambev Consumo não cíclico 23 - AES Tietê Utilidade Pública
9 - Souza Cruz Consumo não cíclico 24 - Cemig Utilidade Pública
10 - Rossi Resid Construção e Transporte 25 - CPFL Energia Utilidade Pública
11 - All Amer Lat Construção e Transporte 26- Eletrobrás Utilidade Pública
12 - CCR SA Construção e Transporte 27- Light S/A Utilidade Pública
13 - Eternit Construção e Transporte 28 - Sabesp Utilidade Pública
14 - Fibria Materiais básicos 29 - Tractebel Utilidade Pública
15 - Gerdau Materiais básicos
Fonte: Economática e sítio da BM&FBovespa (2011)

Pearson para medir a associação linear entre duas variáveis. O Como parâmetro do prêmio de mercado foi utilizada a taxa anu-
coeficiente de correlação é r Pearson que varia de -1,00 a +1,00: al de 7,40% sugerida por Assaf Neto, Lima e Araujo (2008) que foi
-1,00≤ r ≥+1,00 indicando que os valores estão próximos da reta. obtida a partir de uma série histórica de um banco de dados e
Quando os valores se aproximam de 1 (positivo ou negativo) a in- considerados como risco mínimo e adotada como referência para
tensidade de correlação aumenta (BUCHAFT; KELLNER, 1999). os demais mercados. Mais recentemente, Gonçalves Junior, Eid
e Chalela (2011) indicaram que num estudo com 156 empresas
3.1. Parâmetros de Avaliação do Custo do Capital Próprio brasileiras e um intervalo de 13 anos, os autores estimaram o prê-
Uma das dificuldades de se usar o CAPM reside no proces- mio de mercado e apuraram os seguintes resultados (Tabela 1).
so de estimar-se o coeficiente de risco sistemático da ação (beta) Conforme se observa na Tabela 1 a diferença entre a taxa
ou adotar o coeficiente beta divulgado. Neste estudo adotou-se o de referência 7,40% (usada neste estudo) e as taxas indica-
beta divulgado. Segundo Costa, Costa e Alvim (2010, 102) “o co- das no estudo acima referente aos índices que compõem o
eficiente beta é a medida de risco que mede quanto do retorno da IBrX e FGV 100 de 7,05% e 7,80% apresenta diferenças pou-
ação é afetado pelo risco de mercado (risco sistemático)”. O beta co representativas e portanto compatível com o mercado.
do portfólio geral de mercado é 1,0, significando que a empresa Na apuração do cálculo também se considerou no prêmio de
possui volatilidade de intensidade igual à variação média da bolsa. risco de mercado, o risco país e a metodologia sugerida por As-
Em geral, os betas situam-se em torno de 1,0, sendo pouco ob- saf Neto, Lima e Araujo (2008, p.11) indica que “o risco de mer-
serváveis valores extremos, maiores que 2,0 ou menores que 1,0. cado, representa a remuneração adicional paga pelo título brasi-
A taxa livre de risco é outro coeficiente que compõe o CAPM. leiro em relação ao T-Bonds é entendida como um spread pelo
Para Costa, Costa e Alvim (2010, p.111), “é uma remuneração risco de default, ou seja, o risco país”. O C-bond (Front-Loaded
pelo custo de oportunidade de se investir em uma opção livre Interest Reduction with Capitalization) representa o Título da dí-
de risco”. Segundo os autores, definir a opção de investimento vida externa brasileira mais negociado no mercado internacional
totalmente livre de risco é uma das dificuldades dos analistas emitido em abril de 1994, possui prazo de 20 anos (vencimento
principalmente “em países com mercado pouco maduros eco- em 2014) e taxa de juros fixa de 8% ao ano. Assim, a equação
nomicamente”. Nesta pesquisa, a taxa de livre de risco (ou risk para cálculo do custo de capital próprio para mercados emergen-
free) foi considerada a taxa de poupança anual no Brasil para o tes é: em que aBr é representada pelo risco-país.
período de 2006 a 2010.

Tabela 1: Prêmio de mercado


Bovespa IBrX FGV-100
Nominal Real Nominal Real Nominal Real
Aritmética 3,66% 3,42% 7,05% 6,59% 7,80% 7,30%
Geométrica 2,25% 2,10% 5,75% 5,38% 6,76% 6,33%
Fonte: Gonçalves Junior, Eid e Chalela (2011, p. 943)

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Relação entre CAPM e Rentabilidade: Um Estudo Setorial em Empresas Listadas na BM&FBovespa

Quadro 3: Resumo dos parâmetros financeiros de referência


Taxa Livre de Risco (risk free – Prêmio de mercado Risco-Brasil
Anos Beta da Empresa *
Poupança- Brasil)** (referência) (C- Bonds – T-Bonds)**
2006 Identificado em cada 8,33% 7,40% 3,19%
empresa (ON)
2007 Identificado em cada 7,70% 7,40% 3,55%
empresa (ON)
2008 Identificado em cada 7,90% 7,40% 5,32%
empresa (ON)
2009 Identificado em cada 6,92% 7,40% 3,36%
empresa (ON)
2010 Identificado em cada 6,90% 7,40% 3,85%
empresa (ON)
Fonte: *Coletado na base da Economática em 13/12/2011. ** www.ipeadata.gov.br e www.bcb.gov.br

O teste de normalidade K-S na variável CAPM de 2006


E (R) = Rf + beta [ E(Rm) - Rf] + aBr a 2010, foi observado na amostra e o nível de significân-
cia foi superior a >0,05, caracterizando a normalidade dos
dados. A maior média do custo do capital próprio é do ano
Outra questão em relação ao cálculo do CAPM no Brasil,
de 2008 com 18,60% e desvio padrão de 2,27. Enquan-
segundo Costa, Costa e Alvim (2010, p. 118) que “deve-se in-
to a menor média ocorreu em 2010 com 15,88. O teste
corporar no cálculo do risco-Brasil o spread de default histórico
de normalidade dos dados também foi aplicado a todos
ou do momento no cálculo do valor da empresa”. No Quadro 3
os indicadores de rentabilidade no período de análise e
apresenta-se o resumo das taxas utilizadas neste estudo para
constatou-se significância superior a >0,05.
fins de cálculo do custo do capital próprio (Quadro 3).
Segundo Fávero et al. (2009, p.51), a “estatística descritiva per-
mite ao pesquisador uma melhor compreensão do comportamen-
4. Resultados e Análise dos Dados to dos dados por meio de tabelas, gráficos e medidas-resumo,
A análise do CAPM foi desenvolvida em dois momentos. identificando tendências, variabilidade e valores atípicos”. A utili-
Primeiramente, foram realizados os testes de normalidade e zação de medidas de posição serve para apresentação de valores
a estatística descritiva. Posteriormente a análise de correlação de que sejam representativos de toda uma série. Para demons-
do CAPM e dos indicadores (ROE, ROI e GA). Cabe ressaltar tração, a Tabela 3 apresenta as médias, desvio-padrão, mínimo,
que os testes foram realizados por meio do software estatístico, máximo e variância dos setores das empresas analisadas, com
SPSS (Statistical Package for the Social Science) versão 15.0. relação ao CAPM no período de 2006 a 2010 (Tabela 3).
O teste de normalidade dos dados de Kolmogorov- A maior média do custo do capital próprio (CAPM) e o me-
Smirnov para amostras emparelhadas exige que a distribui- nor desvio padrão da série foram apresentados pelo setor de
ção seja normal e nível de significância >0,05 (CORRAR, materiais básicos, que é integrado pelas empresas do setor de
PAULO, DIAS FILHO, 2007). As variáveis apresentaram sig- atuação de siderurgia e metalurgia. No ano de 2008, apresentou
nificância >0,05, portanto possíveis de serem utilizados tes- o custo do capital próprio mais elevado com 21,48% e o desvio-
tes paramétricos para verificação dos resultados. Isso signi- -padrão de 0,98358 e variância de 0,967. Os setores que apre-
fica evidenciar que a amostra apresenta uma distribuição de sentaram o menor custo de capital próprio são consumo cíclico e
freqüência compatível para análise dos dados (Tabela 2). telecomunicações no ano de 2009 com 10,97%.
Tabela 2: Teste de normalidade dos dados
CAPM2006 CAPM2007 CAPM2008 CAPM2009 CAPM2010

N 29 29 29 29 29
Média 17,2648 17,2210 18,6041 15,0528 15,8824
Normal Parameters(a,b)
Desvio-Padrão 2,10507 1,64201 2,27995 2,82906 2,65542
Most Extreme Absoluto ,095 ,177 ,128 ,172 ,153
Positivo ,090 ,130 ,115 ,172 ,153
Diferenças
Negativo -,095 -,177 -,128 -,129 -,093
Kolmogorov-Smirnov Z ,513 ,955 ,689 ,924 ,827
Asymp. Sig. (2-tailed) ,955 ,322 ,729 ,361 ,502
Fonte: Dados da pesquisa (a) Teste de distribuição Normal

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Tabela 3: Estatística descritiva do CAPM de 2006 a 2010 nos setores de atuação


SEG CAPM2006 CAPM2007 CAPM2008 CAPM2009 CAPM2010
Média 17,0950 16,4300 17,8450 14,4850 15,7450
N 4 4 4 4 4
Desvio-padrão 1,37369 1,70896 2,36916 2,98304 1,94617
Consumo cíclico
Mínimo 15,32 14,95 15,44 10,97 13,71
Máximo 18,18 17,91 19,88 17,63 17,41
Variância 1,887 2,921 5,613 8,898 3,788
Média 15,9600 16,1340 16,6240 13,4860 14,3020
N 5 5 5 5 5
Desvio-padrão 1,73545 1,70361 1,53450 1,12227 1,09760
Consumo não cíclico
Mínimo 13,00 13,47 13,96 11,71 12,97
Máximo 17,44 17,91 17,66 14,67 15,93
Variância 3,012 2,902 2,355 1,259 1,205
Média 17,4400 17,3550 19,5100 15,9650 17,0400
N 4 4 4 4 4
Construção/ Desvio-padrão 2,34009 ,70850 2,22000 3,38437 2,86601
Transporte Mínimo 15,22 16,43 16,92 12,45 14,45
Máximo 20,40 17,91 21,36 19,85 21,11
Variância 5,476 ,502 4,928 11,454 8,214
Média 18,1800 18,6500 21,4833 18,8633 19,3833
N 6 6 6 6 6
Desvio-padrão 1,87207 1,14640 ,98358 ,76427 1,20841
Materiais básicos
Mínimo 15,96 17,17 19,88 17,63 17,41
Máximo 21,14 20,13 22,84 19,85 21,11
Variância 3,505 1,314 ,967 ,584 1,460
Média 17,6867 17,6633 17,9067 13,6833 14,9767
N 3 3 3 3 3
Desvio-padrão 2,99067 1,70896 2,13620 2,37877 2,32175
Telecomunicações
Mínimo 14,48 15,69 15,44 10,97 12,33
Máximo 20,40 18,65 19,14 15,41 16,67
Variância 8,944 2,921 4,563 5,659 5,391
Média 17,2286 16,9586 17,7657 13,2957 13,8157
N 7 7 7 7 7
Desvio-padrão 2,58874 1,79818 1,24036 1,44433 1,56562
Utilidade Pública
Mínimo 13,00 13,47 16,18 11,71 12,23
Máximo 21,14 19,39 19,88 16,15 15,93
Variância 6,702 3,233 1,538 2,086 2,451
Média 17,2648 17,2210 18,6041 15,0528 15,8824
N 29 29 29 29 29
Desvio-padrão 2,10507 1,64201 2,27995 2,82906 2,65542
Total
Mínimo 13,00 13,47 13,96 10,97 12,23
Máximo 21,14 20,13 22,84 19,85 21,11
Variância 4,431 2,696 5,198 8,004 7,051
Fonte: Dados da pesquisa

54 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 15, n. 56, p. 48 - 58, jan./abr. 2013


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Relação entre CAPM e Rentabilidade: Um Estudo Setorial em Empresas Listadas na BM&FBovespa

Para analisar a relação existente entre o CAPM e os (r = 0,962 ou 96,2% e sig. 0,038) em 2008 e ROI (r = 0,966 ou
indicadores de rentabilidade calculou-se a correlação de 96,6% e sig. 0,034) em 2010. Com relação ao setor materiais
Pearson dos dados com o intuito de perceber a significân- básicos apresentou correlação positiva em 2007 (r= 85,5%,)
cia dos dados e suas respectivas relações (Tabela 4). para o ROI e em 2008 para o ROI e ROE ( r= 93,2% e
Com base nos testes de correlação, Brito (2003, p.101), r=90,3%). Enquanto, os setores utilidade pública e constru-
destaca que se pode medir a “similaridade entre as variá- ção e transporte indicaram correlação negativa para o ROI
veis que caracterizam os ativos componentes de determi- em 2008 (-82,1% e sig.0,024) e GA em 2007(-97,7% e sig.
nado portfólio ou determinado título”. Os testes indicaram 0,023). Os anos de 2006 e 2009 não evidenciaram corre-
a intensidade de correlação entre o CAPM e as variáveis lação de intensidade significativa nas variáveis analisadas.
analisadas (ROI, ROE e GA). No setor de telecomunicações não foi constatado resultado
O setor de atuação consumo cíclico mostrou maior sig- estatisticamente correlacionado em nenhuma das variáveis
nificância e correlação positiva para os indicadores ROE de análise (Tabela 4).

Tabela 4: Correlação entre o CAPM e indicadores de rentabilidade

Segmento Correlação/Signif. CAPM 2006 CAPM 2007 CAPM 2008 CAPM 2009 CAPM 2010

Consumo Cíclico (N = 4)

Pearson Cor. -0,558 0,358 -0,245 -0,688 -0,614


ROI
Sig (2-tailed) 0,442 0,642 0,755 0,312 0,386

Pearson Cor. 0,702 0,962* 0,880 0,540 0,966*


ROE
Sig (2-tailed) 0,298 0,038 0,120 0,460 0,034

Pearson Cor. 0,366 0,503 0,526 0,450 0,413


GA
Sig (2-tailed) 0,634 0,497 0,474 0,550 0,587

Consumo não Cíclico (N=5)

Pearson Cor. 0,444 0,939* 0,529 0,411 -0,808


ROI
Sig (2-tailed) 0,454 0,018 0,359 0,492 0,098

Pearson Cor. 0,433 0,886* 0,457 0,450 -0,828


ROE
Sig (2-tailed) 0,466 0,045 0,439 0,447 0,083

Pearson Cor. 0,514 0,867 0,501 0,393 0,558


GA
Sig (2-tailed) 0,376 0,057 0,390 0,513 0,328

Construção/Transporte (N = 4)

Pearson Cor. -0,162 -0,824 -0,927 -0,671 -0,335


ROI
Sig (2-tailed) 0,838 0,176 0,073 0,329 0,665

Pearson Cor. -0,035 -0,497 -0,970* -0,678 -0,327


ROE
Sig (2-tailed) 0,965 0,503 0,030 0,322 0,673

Pearson Cor. -0,513 -0,977* -0,826 -0,687 -0,471


GA
Sig (2-tailed) 0,487 0,023 -0,174 -0,313 -0,529

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

Ieda Margarete Oro Leossania Manfroi Jorge Ribeiro Toledo Filho

Materiais Básicos (N = 6)

Pearson Cor. -0,416 0,855* 0,932** 0,385 -0,143


ROI
Sig (2-tailed) 0,412 0,030 0,007 0,451 0,787

Pearson Cor. -0,077 0,739 0,903* 0,066 -0,747


ROE
Sig (2-tailed) 0,884 0,093 0,014 0,901 0,088

Pearson Cor. -0,192 0,033 0,237 -0,343 -0,698


GA
Sig (2-tailed) 0,715 0,951 0,651 0,506 -0,123

Telecomunicações (N=3)

Pearson Cor. -0,658 -0,798 -0,990 -0,938 -0,946


ROI
Sig (2-tailed) 0,543 0,412 0,092 0,225 0,211

Pearson Cor. -0,517 -0,558 -0,895 -0,854 -0,993


ROE
Sig (2-tailed) 0,654 0,623 0,294 0,349 0,073

Pearson Cor. -0,121 -0,245 -0,486 -0,421 -0,446


GA
Sig (2-tailed) 0,923 0,843 0,677 0,724 0,706

Utilidade Pública (N = 7)

Pearson Cor. 0,329 0,487 -0,821* -0,488 -0,567


ROI
Sig (2-tailed) 0,472 0,268 0,024 0,267 0,185

Pearson Cor. -0,429 0,489 -0,706 -0,534 -0,574


ROE
Sig (2-tailed) 0,336 0,265 0,076 0,217 0,177

Pearson Cor. -0,694 -0,263 -0,555 -0,558 0,237


GA
Sig (2-tailed) 0,084 0,569 0,196 0,193 0,609
*Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed). **Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
Fonte: Dados da pesquisa

5. Considerações Finais rentabilidade foram calculados individualmente no período


A importância da análise do CAPM está ligada ao pro- de 2006 a 2010. Foram realizados testes de normalidade
cesso de avaliação de tomada de decisões em condições dos dados, estatística descritiva e correlação de Pearson.
de risco. Esse trabalho demonstrou a investigação empí- Constatou-se que o custo de capital próprio pelo modelo
rica da relação entre o custo e o retorno do capital próprio CAPM é mais elevado no setor de siderurgia e metalurgia e
por meio do Modelo de Precificação de Ativos e dos indi- menor nos setores de telecomunicações e consumo cíclico.
cadores de rentabilidade. Os instrumentais para atingir o Os indicadores de rentabilidade que apresentaram me-
objetivo geral e a resposta à questão de pesquisa assen- lhor relação foram o ROE e ROI nos anos de 2007 e 2008.
tam-se na pesquisa teórica e metodológica de cálculo do Os anos de 2006 e 2009 não evidenciaram correlação de
CAPM e nos indicadores de rentabilidade. intensidade significativa nas variáveis analisadas. No se-
A pesquisa foi aplicada a 29 empresas listadas na tor de telecomunicações não foi constatado resultado es-
BM&FBovespa, agrupadas por setor de atuação e que di- tatisticamente correlacionado em nenhuma das variáveis
vulgaram o beta. As variáveis CAPM e os indicadores de de análise.

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Relação entre CAPM e Rentabilidade: Um Estudo Setorial em Empresas Listadas na BM&FBovespa

Guardadas as devidas proporções, conclui-se pela Como limitação do estudo, o tratamento estatístico resul-
não confirmação do pressuposto exposto na introdução tou numa amostra relativamente pequena, 29 empresas no
do trabalho. Com efeito, constataram-se na maioria das total, bem como o período analisado de cinco anos, 2006
variáveis analisadas fraca correlação do CAPM com os a 2010. Dessa forma, sugere-se novos estudos, como a
indicadores de rentabilidade, indicando que possivelmen- ampliação da amostra para outros setores específicos da
te a média anual utilizada neste estudo, não representa a BM&FBovespa, ampliação do período da base de dados
melhor inferência para análise de correlação. e comparação com outros modelos de análise estatística.

Referências

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Livro: IFRS NA PRÁTICA : perguntas e respostas com exemplos

Autor: Marcelo Cavalcanti Almeida

Esta obra foi escrita de acordo com as normas


contábeis emanadas da lei societária brasileira (Lei
nº 6.404/76), com as modificações introduzidas
pelas Leis nº 11.638/07 e nº 11.941/09, e segundo
as regras contábeis emitidas pelo Comitê de
Pronunciamentos Técnicos (CPC), no processo
de harmonização com as normas contábeis
internacionais produzidas pelo IASB, também
denominadas de IFRS.
O livro aborda a parte prática dessas novas
normas contábeis, com questões, respostas e
exemplos contemplando a realidade econômica
e jurídica brasileira. Trata especificamente do
CPC 15 (R1) – Combinação e Negócios (IFRS
3), do CPC 18 – Investimento em Coligada
e em Controlada (IAS 28), do CPC 36 (R!)
– Demonstrações Consolidadas (IAS 27) e
do ICPC 09 – Demonstrações Separadas,
Demonstrações Consolidada (IAS 27) e
do ICPC 09 – Demonstrações Individuais,
Demonstrações Separadas, Demonstrações
Consolidadas e Aplicação do Método de
Equivalência Patrimonial.
O autor entende que existe relação entre
essas normas contábeis e as escolheu em
função das dificuldades observadas no mercado
na interpretação e aplicação no registro das
transações das sociedades.
São tratados diversos assuntos relacionados
com essas normas, tais como: combinação de
negócios, aquisição reversa, incorporação reversa,
reestruturações societárias (incorporação, fusão
e cisão), aplicação do método de equivalência
patrimonial e demonstrações consolidadas.

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RAZÃO SOCIAL
PESSOA
JURÍDICA

CONTATO

CATEGORIA

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– o título do artigo;
– identificação e qualificação do(s) autor(es) constando: o nome completo, número de registro (se for o caso),
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