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Documento 1

Uma perspectiva contemporânea de Luís XIV

Luís XIV aos 17 anos

“Assim que despertava, declamava os preceitos do Santo Ofício e fazia as suas orações; em
seguida, chegava o seu preceptor e dava-lhe passagens das Sagradas Escrituras ou da História
de França para que as estudasse. Depois de se levantar, ia ao seu vaso de noite, lavava as
mãos, a boca e a cara. Rezava a Deus na alcova, onde se situava o seu leito, com os seus
vedores, pondo-se todos de joelhos… Em seguida, dirigia-se para um aposento maior onde
fazia os seus exercícios: saltava com uma admirável leveza, costumava ter o cavalo preparado
para saltar à máxima altura, e saltava para o seu dorso como um pássaro sem fazer qualquer
tipo de ruído além do que se ouvia pelo contacto com a sela, mas como se estivesse uma
almofada nela. Depois disso, praticava com as armas e o alvião…De seguida, subia para se
encontrar com o senhor Cardeal Mazarino, cujos aposentos se situavam por cima do seu
quarto…onde todos os dias um secretário de Estado vinha apresentar um relatório acerca dos
assuntos da sua incumbência, sobre o qual, e sobre outros assuntos mais confidenciais, o rei
era instruído durante uma hora ou um hora e meia.

Depois da missa, à qual assistia com a rainha (sua mãe), acompanhava-a de volta aos seus
aposentos com grande deferência e respeito. O rei regressava à sua alcova e mudava de vestes
para um traje mais adequado à caça, ou à sua permanência na corte. Era muito fácil vesti-lo e
despi-lo, dado a sua pessoa ser magnificamente bem proporcionada.

Se, depois do jantar (à tardinha portanto) estivesse marcada uma audiência com os
embaixadores, dava-lhe uma atenção tal, que só podia ser notada, e, depois de os seus
discursos terem chegado ao fim, conversava com eles durante um quarto de hora com modos
muito familiares sobre aqueles assuntos que respeitam à amizade dos seus senhores ou dos
seus países..É fascinante ter a honra de podermos estar perto da sua pessoa para ver e ouvir as
coisas admiráveis de que ele é feito…Reparei numa tão grande atmosfera de virtude a
envolver o rei que nenhum daqueles que tem a honra de se aproximar da sua pessoa se
atreveria a injuriar ou a proferir palavras indecorosas.

Depois do Conselho, ou da representação de uma peça, é servida a ceia, no fim da qual o rei
dança, os violinos marcam presença, bem como as aias da rainha e alguns outros. Então, toda
a gente participa em jogos, como contar uma história: sentam-se num círculo, alguém começa
uma história e conta-a até não conseguir continuá-la, então, a pessoa seguinte pega nesse
momento da história e prossegue, sendo deste modo contada, e algumas são mesmo
encantadoras. Ao aproximar-se a meia noite, o rei despede-se da rainha e recolhe-se aos seus
aposentos. Faz as suas orações, despe-se diante dos presentes e conversa com eles de forma
agradável; depois, despede-se e retira-se para a sua alcova, onde dorme.”

Por Dubois, criado de quarto do rei, de 17, pp 64-66


Documento 2

“Mas a par destas virtuosas e magnificentes características, que revestem de distinção a


aparência física do rei e o afortunado triunfo do reinado, existem outras que o tornam menos
ilustre. A primeira delas é uma inteligência naturalmente limitada, que como já tive
oportunidade de referir, pouco evoluiu na juventude do rei devido aqueles que tiveram um
manifesto interesse em o manter isolado das questões públicas. Desde então, ele idealizou
ascender acima dessa mediocridade que lhe fora imposta pelo nascimento e pela educação
apenas através das mudanças que optou por introduzir no Governo, decorrentes da
necessidade de pôr fim às disputas que se seguiram à morte do cardeal Mazarino (…)”

Embaixador de Brandeburgo, apreciação crítica de Luís XIV

Documento 3

“Monseigner, estou certo de que, ao longo dos trinta e dois anos em que pratico medicina
nesta província e nesta cidade, nunca encontrei nada comparável à desolação a que
assistimos, não só em Blois, onde existem 4000 pobres devido à abundância das paróquias
circundantes e da pobreza do próprio local, mas também em todo o país, onde a penúria é tão
grande que os camponeses, à falta de pão, se lançam sobre os corvos, e, assim que um cavalo
ou qualquer outro animal morre, eles comem-no (…)”

A. Chéruel, Memoires sur la vie publique et privée de Fouquet, surintendant dês finances, 2 vols,
Paris, 1862, II, pp. 325-326

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