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16° Encontro Nacional Da Associação Nacional de
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Resumo
O presente trabalho é parte de uma pesquisa sobre o papel da docência na vida e carreira
de Anita Malfatti. Além de pintora, Anita foi durante muitos anos professora de desenho,
pintura e História da Arte. O tema da docência na carreira de Anita é bastante amplo e
para este texto foi feito um recorte especifico: a discussão sobre um possível ‘discurso
pedagógico’ na fala desta artista. Partindo do principio de que um discurso pedagógico
revela um pensamento reflexivo e estruturado acerca do ensino e de sua metodologia,
bem como de seus objetivos e possíveis resultados, analisar-se-á, através da leitura de
documentos pessoais, depoimentos e entrevistas dadas pela artista, aquilo que pode ser
considerado como uma fala característica de quem se preocupa com o ensino da arte e a
qualidade da formação de seus alunos.
Palavras-chave: Anita Malfatti, Ensino, História da Arte-educação.
Abstract
The present paper is part of a research about he importance of teaching in the life and
career of Anita Malfatti. Anita was not only a painter but also a teacher of drawing, painting
and History of the Art for many years. The teaching in Anita’s career is a very wide subject
so that a specific approach was necessary: the discussion on a possible “pedagogical
speech”' in the artist’s own words. Considering the principle that the pedagogical speech
revels a reflexive thinking based on the teaching and its methodology as well as its goals
and possible results, it will be analyzed, through the reading of personal documents,
depositions and interviews given for the artist, what it can be considered as one who is
concerned with the teaching of art and the quality of his students formation.
Key words: Anita Malfatti, Teaching, History of Art-Education
Em inúmeras ocasiões Anita deu entrevistas onde falou sobre sua atuação
como professora, seu método de ensino e suas preocupações com relação ao
desenvolvimento de seus alunos. Em seus arquivos pessoais i é possível encontrar
cronogramas de cursos, estudos e textos informativos sobre determinados
conteúdos, como a História da Arte e mesmo planos de ensino de desenho bem
detalhados e estruturados. Com base neste material é possível reconstruir um
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A leitura do material existente sobre Anita, inclusive aquele escrito por ela
mesma, possibilita detectar um discurso pedagógico coerente com sua atuação
enquanto artista. Ao que tudo indica, Anita e sua geração deram início, no Brasil,
ao que Ana Mae Barbosa (2002) chama de ensino modernista de Arte, onde se
valoriza a livre-expressão do sujeito, o expressionismo e espontaneísmo da
criança.
Suas primeiras lições de desenho e pintura lhe foram dadas por sua mãe,
que era pintora de delicadas aquarelas e miniaturas. Porém, quando Anita estudou
arte na Alemanha e nos Estados Unidos, desde o início, procurou por escolas e
professores que se pautavam por uma metodologia de caráter mais libertário.
Esteve primeiro na Europa, entre 1910 e 1914, num período de grande
efervescência cultural, principalmente em virtude das discussões levantadas pelas
atuantes vanguardas artísticas. É fato que na Europa visitou também grandes
museus e travou contato com a arte acadêmica. No entanto, as obras dos grandes
mestres da História da Arte não lhe causariam tanto impacto quanto as modernas
manifestações artísticas que teve oportunidade de conhecer. Era uma jovem
estudante que se interessava pelas atualidades, pelas novas descobertas,
conquistas e pela modernidade em geral. Anita visitou exposições de arte
moderna e a Soundbound de Colônia despertou-lhe interesse imediato:
Um belo dia fui com uma colega ver uma grande exposição de
pintura moderna. Eram quadros grandes. Havia emprego de quilos de
tintas e de todas as cores. Um jogo formidável. Uma confusão, um
arrebatamento, cada acidente de forma pintado com todas as cores. O
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artista não havia tomado tempo para misturar as cores, o que para mim
foi uma revelação e minha primeira descoberta... Foi o fim de minhas
reservas. Estava feliz. ii
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O referido plano de ensino não está datado, mas é provavelmente de 1933 xii .
Até o momento não foi possível confirmar se aquele seria um plano para suas
aulas de desenho no Mackenzie College ou se é o caso de um plano que serviria
como orientação para outros professores de desenho. A segunda hipótese é a
mais provável. Já em 1930, em entrevista ao jornal Correio da Tarde xiii , referia-se
a um livro que estaria organizando “com ilustrações sobre variados aspectos do
seu modo original, prático e eficiente de ensinar às crianças a arte”. Não foram
encontradas evidências de que este projeto tenha sido concretizado. De qualquer
maneira, seu plano de ensino traz orientações explicitas de como deve agir o
professor, como por exemplo:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi dito no início, este texto é parte de uma pesquisa mais ampla, ainda
em andamento, sobre o papel da docência na vida de Anita Malfatti. A referida
pesquisa é tema de dissertação de mestrado no programa Educação, Arte e
História da Cultura, na Universidade Presbiteriana Mackenzie e conta com o apoio
do Fundo Mackenzie de Pesquisa – MACKPESQUISA e da Secretaria de
Educação do Estado São Paulo. Dito isto, faz-se necessário deixar claro que não
se pretendeu esgotar as possibilidades de discussão levantas por este assunto.
São as primeiras hipóteses levantadas a partir dos documentos disponíveis sobre
a atuação de Anita como professora.
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Como disse há pouco, não cabem, agora que o meio artístico está
de parabéns, lugar para críticas severas, que destroem, quando uma
palavra de incentivo agiria como estímulo moral reconstrutor, reforçando
as vocações, sobretudo dos iniciantes, que formam a maioria dos
expositores. xiv
i
No Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo há um Fundo Anita Malfatti com
documentos e arquivos pessoais doados pela família da artista, além de recortes de artigos e matérias saídas
de jornais e revistas de sua época.
ii
Anita Malfatti, 1917, s.p.
iii
Batista, Marta Rossetti. Anita Malfatti no tempo e no espaço, p.110.
iv
Notas biográficas de Anita Malfatti, manuscrito, s.d.
v
“Já está funcionando, na sede da A.C.F., a Academia de Pintura Anita Malfatti”.Diário de São Paulo, 1933.
vi
Anita Malfatti, “A chegada da arte moderna no Brasil”, p.25., 1951.
vii
“Mostrando às crianças os caminhos para sua formação artística”, Correio da Tarde, 1930.
viii
“Ouvindo Anita Malfatti sobre o movimento artístico”, O tempo, 1931.
ix
“A representação feminina no 1° Salão Paulista de Belas Artes”, Diário da Noite, 1934.
x
“Já está funcionando, na sede da A.C.F., a Academia de Pintura Anita Malfatti”.Diário de São Paulo, 1933.
xi
Fundo Anita Malfatti, Série manuscritos, sub série: Ensino. Instituto de Estudos Brasileiros. USP.
xii
O “Plano de Ensino de desenho” está datado a lápis como sendo de 1933. Mas a datação foi colocada por
Marta R. Batista a partir de suas pesquisas. Confiamos na datação da pesquisadora.
xiii
“Mostrando às crianças os caminhos para sua formação artística”, Correio da Tarde, 1930.
xiv
“A representação feminina no 1° Salão Paulista de Belas Artes”, Diário da Noite, 06/02/1934.
xv
“A pintora Anita Malfatti regressou da Europa” - O Jornal – 21/10/1928.
xvi
“Anita Malfatti: ‘Tomei a liberdade de pintar a meu modo’ (Página Feminina)”. A Gazeta, São Paulo,
16/04/1955.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Ana Mae. Arte-educação no Brasil - São Paulo: Perspectiva, 2002, 5ª edição.
BARBOSA, Ana Mae (org.). Arte-Educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 2ª
ed.revista, 1999.
BATISTA, Marta Rossetti. Anita Malfatti no tempo e no espaço: biografia e estudo da obra
– São Paulo: Ed. 34; Edusp, 2006.
FUNDO Anita Malfatti: Manuscritos e recortes sobre a artista. Instituto de Estudos
Brasileiros, Universidade de São Paulo.
MALFATTI, Anita. “A chegada da arte moderna no Brasil”. Conferências de 1951. São
Paulo: Pinacoteca do Estado, 1951.
A PINTORA Anita Malfatti regressou da Europa - O Jornal – 21/10/1928.
MOSTRANDO às crianças os caminhos para sua formação artística, Correio da Tarde,
1930.
OUVINDO Anita Malfatti sobre o movimento artístico, O tempo, 1931.
JÁ está funcionando, na sede da A.C.F., a Academia de Pintura Anita Malfatti.Diário de
São Paulo, 1933.
A REPRESENTAÇÃO feminina no 1° Salão Paulista de Belas Artes, Diário da Noite,
1934.
ANITA Malfatti: “Tomei a liberdade de pintar a meu modo” (Página Feminina). A Gazeta,
São Paulo, 16/04/1955.
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