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III Workshop Desafios e Perspectivas da Inclusão Digital na Sociedade da Informação:

Elementos para uma Estratégia Abrangente


Brasília, 14/15 de dezembro de 2009
Anais do Evento

Marcelo Caio
Consultor da Universidade Federal do Pará
Modelo Misto: Telecentros e Lanhouses
Resumo: Trabalho baseado em dados estatísticos do Comitê Gestor da
Internet Brasil (CGI.br) e do Censo Maranhão (Governo do Estado do
Maranhão em parceria com o Mapa de Inclusão Digital do IBICT), e
informações da Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital (ABCID)
sobre a evolução nos dispositivos de regulação das lanhouses, na forma de
Projetos de Lei. O primeiro destaque da apresentação é o amadurecimento da
convergência entre os modelos de telecentro e de lanhouse. Ambos os modelos
são caracterizados e comparados. A principal crítica corrente quanto à
limitação do acesso à Internet em lanhouses decorre de seu caráter comercial,
fato confrontado com os dados da pesquisa do CGI.br que apresentam as
lanhouses como locais freqüentados por um grande contingente da população
de baixa renda, e com dados do Censo Maranhão sobre índices de inatividade
de telecentros e de lanhouses. Portanto, esses estabelecimentos são
identificados como um importante fator para execução de políticas públicas em
inclusão digital, pois possuem alta capilaridade e apresentam auto-
sustentabilidade. Ao apresentar a mudança na concepção das lanhouses,
alguns projetos de leis são citados, bem como casos de sucesso da integração
das lanhouses com poder público. Por fim, são apresentados alguns fatores
críticos de sucesso para o modelo misto proposto: ampliação das metas de
inclusão digital, mapeamento das iniciativas, coordenação flexível e
descentralizada, conhecimento do capital social no entorno, formatação do
portfólio de serviços e garantia de “aporte de credibilidade”. (resumo
acrescentado)

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Queria dizer que é mais uma vez um prazer estar participando de um evento
do IBICT. Os eventos do IBICT são sempre oportunidades de discussão muito
profundas. Troca de experiências e análises realmente muito aprofundadas, e
queria agradecer ao convite do IBICT e toda equipe que demonstrou interesse
que a gente desenvolvesse esse tema de modelo misto entre telecentros e
lanhouses.
Na verdade, eu diria que falar desse tema hoje é muito mais fácil do que seria
falar seis meses atrás, um ano atrás ou até um pouco mais. Hoje já há mais
clara a percepção de que é possível a convivência entre os dois modelos, é
possível a conciliação de iniciativas em prol do fortalecimento numa estratégia
nacional de inclusão digital. Na verdade, até então muito se via como
iniciativas excludentes e essa percepção começa a mudar. E eu queria começar
abordando algumas coisas que já foram faladas, para que a gente possa situar
o pensamento que vem orientando a elaboração, principalmente das políticas
públicas, no tocante a caracterização e a motivação tanto dos telecentros
quanto das lanhouses.

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Eu queria usar aqui um enquadramento que na verdade é reducionista, é
sistematizador, a ponto de simplificar. Sabemos que a realidade é um pouco
diferente, mas na verdade um pouco desse raciocínio tem sido usado até então
na elaboração de políticas públicas. A gente consegue observar essa evolução
de pensamento de uma forma notória. Hoje mesmo na abertura do evento de
manhã o secretário Rogério Santana declarou aqui abertamente a questão da
necessidade de incluir as lanhouses no processo de inclusão digital brasileiro,
de reconhecer seu papel, de criar instrumentos para facilitar a formalização, já
que é um meio que tem um índice de informalidade muito alta. Facilitar o
acesso desses empreendimentos a financiamentos e tudo mais, enfim à
atividade empresarial legal. E isso é um reconhecimento dessa inflexão de
percepção porque o próprio secretário e outros formuladores de políticas
públicas hoje no Brasil até há pouco tempo falava que esses mundos eram
diferentes.

De fato são paradigmas diferentes, são modelos diferentes, mas que na


verdade isso não significa a exclusão de modelos mistos de utilização de
ambas as iniciativas. Então o telecentro é caracterizado pelo acesso gratuito e

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como o deputado Ariosto Holanda falou hoje de manhã e frisou muito bem
essa questão, há a necessidade da existência de um projeto político
pedagógico. Então os telecentros realmente têm esse diferencial porque
normalmente nascem dentro de uma visão de universalização, de uma visão
de inserção da população e apropriação pela população de tecnologias e como
essa tecnologia poder transformar seu dia-a-dia, transformar seu cotidiano e
não necessariamente essas preocupações ocorrem nas lanhouses. A questão
da gestão também é um diferencial dos dois modelos. Os telecentros são
tipicamente entidades com gerenciamento mais participativo, mais
comunitário, mais democrático. Enquanto a lanhouse é uma instituição privada
e obviamente e gerida sob a ótica de instituição privada. O telecentro precisa
reconhecer as características, as peculiaridades do meio onde está inserido. Ele
precisa trabalhar com políticas que sejam efetivamente desenhadas para
aquele contexto, para aquele meio. E isso, apesar de poder acontecer numa
lanhouse, não é necessariamente verdade em 100% dos casos.

Enfim, o telecentro é uma ferramenta maior de política pública para atingirmos


a universalização do acesso, atingir a inclusão digital. Muitas pessoas que

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questionam a possibilidade deste modelo misto apontam exatamente, nos
modelos de lanhouses, a dificuldade da orientação ao lucro, da orientação, da
evocação mercadológica, da necessidade do retorno financeiro, o que
obviamente é verdade já que se trata de empreendimentos que têm que ter a
sustentabilidade financeira e o retorno financeiro em forma de lucro. Até então
isso tem sido objeto de discussão. Quer dizer, como é que o governo pode
incentivar uma iniciativa se ela não é universalizadora. Ela é excludente por
natureza, ou seja, só acessa quem pode pagar. Na verdade são paradoxos. A
gente já viu pelas pesquisas diversas que foram apresentadas que o público
por excelência das lanhouses é o público de classe C, D e E. Então na verdade,
são paradoxos que não se comprovam na prática. Quer dizer, essa exclusão de
quem não pode pagar na verdade não acontece.
Eu trouxe alguns números, que de certa forma já foram citados na pesquisa do
IBGE, na pesquisa mais recente, mas que são os números da pesquisa do
Comitê Gestor da Internet, que mostra números muito parecidos com a
pesquisa do IBGE, mas na verdade são metodologias um pouco diferentes. Não
é o caso aqui de diferenciá-las, mas a idéia é destacar as mesmas questões. A
questão da disseminação de acesso nos centros pagos de acesso através dos
centros públicos.

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Um dado interessante dessa pesquisa do CGI, a pesquisa de 2008, é que pela


primeira vez há um desdobramento entre áreas rurais e urbanas. Isso já
trouxe alguns insights diferentes, como por exemplo, por que na área rural os
centros de acesso tem uma participação maior, tem um nível de utilização
maior. Isso tem a ver com a própria densidade de telecomunicações que não
chegam à área rural, e acaba que a lanhouse é o único meio de acessos nessas
regiões. Então ela é ainda mais importante na área rural, assim como é mais
importante nos estados menos favorecidos, como foi mostrada na pesquisa do
IBGE, principalmente regiões Norte e Nordeste, e mais importante nas classes
menos favorecidas.

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Na verdade o que eu queria completar com a pesquisa do CGI é que as


principais barreiras de utilização apontadas são a falta de habilidade, a questão
de não haver necessidade, não haver interesse por parte dos usuários. Que a
gente pode reputar muito dessa falta de interesse e necessidade ao próprio
desconhecimento desses potenciais e desses possíveis usuários. Muitos
realmente não tiveram contato e não sabem o potencial de aplicação dessas
tecnologias em sua vida. O terceiro elemento apontado é a questão do custo,
não ter condição de pagar o acesso e não ter de onde acessar. Mais uma vez o
desdobramento da informação fica bastante destacado aqui na área rural, quer
dizer, na área rural é mais difícil ainda de encontrar locais com acesso à
Internet. Essas questões dessas barreiras de uso, elas são exatamente
endereçadas pelas lanhouses. Elas permitem acessos de baixa renda, elas
chegam na área rural, chegam às áreas onde não há acesso de outras
iniciativas. A professora Nazinha [Maria de Nazaré] mostrou muito bem essa
realidade no MID especificamente no trabalho do Censo Maranhão. A questão
da falta de habilidade, da falta de conhecimento, obviamente que quando
tratado dentro de um projeto político-pedagógico o potencial de impacto é

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maior, mas não significa que as lanhouses não tenham um papel importante
no desenvolvimento dessas habilidades.
Por último eu queria trazer um número que foi mostrado na apresentação da
professora Nazinha [Maria de Nazaré] que é do Censo Maranhão. Eu tive a
oportunidade de, no Censo Maranhão, estar atuando numa posição de gestão
no Governo do Estado nesta altura, ou seja, fui um dos interlocutores do
Governo do Estado neste trabalho na época, e foi realmente um trabalho
bastante rico, e um dos motivadores deste trabalho é que a gente precisava
conhecer a realidade exatamente para formular boas políticas públicas, para
formular políticas que fossem realmente impactantes e abrangentes. Desde o
início já se suspeitava que a lanhouse seria um agente importante na definição
dessa política e o trabalho a campo veio confirmar essa questão.

Na questão numérica temos aqui números até bastante similares no total.


Números de lanhouses, números de centros públicos, laboratórios de
informática e telecentros parecidos. Quando a gente coloca a questão da
inatividade, a professora Nazinha [Maria de Nazaré] colocou isso muito bem
que ela beira 50%, essa realidade se inverte, ou seja, as iniciativas de
lanhouses e cibercafés tem uma importância mais privilegiada no cenário do
Maranhão. Inclusive é interessante notar que o PID gratuito (o telecentro) não
tem aquela lógica da rentabilização, então obviamente ele está instalado em
locais onde a iniciativa da lanhouse não se sustentaria, não teria público, não
teria rentabilidade financeira, não teria retorno, enfim, não teria massa crítica

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suficiente. Então ela é mais democrática nesse sentido, mas na verdade, com
essa taxa de inatividade, ela acaba não tendo a capilaridade esperada, acaba
revertendo um pouco esse efeito que seria potencialmente interessante de ter
uma capilaridade mais democrática.

Se só considerarmos os PIDs ativos, tirarmos aquela parcela inativa, dos 217


municípios do estado só 132 teriam um laboratório de informática em
funcionamento, e isso com outras precariedades que a pesquisa não apontou,
mas lá no Maranhão nós temos escolas que nem energia elétrica têm, o que
dirá conexão à Internet. Então há laboratórios funcionando para efeitos de
estatística, para efeito da pesquisa, mas a situação real é muito mais precária,
com dificuldades de acesso, quer dizer, está lá instalado, mas o fluxo de
pessoas é muito baixo. E a realidade com telecentros é ainda mais dramática,
quer dizer essa presença vai apenas em 54% dos municípios. Já considerando
a penetração de lanhouse ela chega a 83% dos municípios do estado.
Realmente esse efeito capilaridade é muito significativo.

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Um fato importante nessa reflexão que estamos fazendo aqui passa


principalmente por essa mudança do perfil das próprias lanhouses, da
percepção que a lanhouse pode ter um papel mais importante. Lanhouse no
início era objeto até de criminalização, quer dizer, na verdade era vista como
entidade perniciosa e obviamente esses efeitos acontecem, e podem
acontecer, mas é um trabalho em curso, um trabalho feito já por uma série de
entidades, feitos por uma série de movimentos. Trabalhos quase que
evangelizadores, destacando aqui o trabalho da Associação Brasileira de
Centros de Inclusão Digital, aqui representada pelo seu presidente, que tem a
função não só de qualificar melhor as próprias associadas, as próprias
lanhouses, como também mudar esse entendimento no setor público, nos
definidores de políticas públicas, fazer as devidas ações, fazer as devidas
pressões, no bom sentido, junto ao legislativo para aperfeiçoar os mecanismos
que hoje dão sustentação às lanhouses, a questão da legislação, a questão do
que é restrito, de como facilitar a formalização. Esse trabalho é extremamente
interessante porque realmente qualifica todos os públicos, todos os agentes e
trabalhos onde a própria ABCID está envolvida, como o trabalho CDI LAN que

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vem trazer uma formatação diferenciada para as lanhouses, incentivando a
adoção de um código de conduta, incentivando melhor qualificação de serviços,
melhor formação dos profissionais, melhor formatação até dos serviços
prestados. Abrindo nessa comunidade, hoje temos pelo menos 100 mil
lanhouses pelo país segundo a própria ABCID, pegando toda essa massa crítica
de empreendimento fomentando para que eles realmente tenham essa
percepção de que podem fazer mais, podem ser também agentes de
transformação social.
Na verdade assim, como disse a professora Nazinha [Maria Nazaré], as
iniciativas públicas devem de fato privilegiar os centros de acessos gratuitos,
os telecentros, tudo mais, por causa de todas aquelas questões que abordamos
lá atrás, mas não significa que as lanhouses não possam ser trabalhadas,
como vem acontecendo, para desenvolver esse novo papel. Aliás, tem uma
reportagem, se não me engano de maio na revista Rede, que traz aquela
questão da confusão da nomenclatura que já foi abordada aqui, dizendo “a
lanhouse do Maré vira telecentro”: na verdade mudou o perfil de casa de jogos
para uma lanhouse voltada para o acesso à Internet, voltada para esse
formato de lanhouse que estamos discutindo aqui. E o próprio
empreendimento usa a palavra telecentro, quer dizer, já vem dali mesmo a
confusão. Como a gente já viu, essa nomenclatura não é uniforme, mas é um
exemplo, e na reportagem o empreendedor fala disso de uma forma muito
tocante, de como era o perfil das pessoas que freqüentavam, os jovens e
adolescentes entravam ali de chinelos, os pais iam trabalhar e deixavam suas
crianças na lanhouse e como esse perfil foi mudando, inclusive a pedido dos
próprios usuários.

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Então é claro esse movimento no sentido de amadurecimento do setor. É


interessante observar isso, essa mudança de perfil quando a gente olha hoje o
histórico de propostas legislativas. Procurei fazer um levantamento, não
exaustivo, dos projetos de lei que já estão correndo, que foram colocados aí
em determinado momento da história e que depois acabaram se
transformando ou foram pensados [como] novos projetos, enfim muitos deles
até não fazem sentido mais hoje porque já foram encampados por outras
propostas. Mas se a gente observa a linha de tempo, por exemplo, pegando
aqui o 1º projeto de lei que encontrei de 2004, 2005, e vamos ver aqui no
slide seguinte 2006, no início a preocupação legislativa era em torno da
proteção do jovem, da criança e do jovem. A maioria desses projetos de lei
trata de aperfeiçoar o Estatuto da Criança e do Adolescente, em como vedar o
acesso das pessoas dessa faixa etária à lanhouse, principalmente naquela
concepção de que era casa de jogos que não contribuíam para a educação, não
contribuíam com engrandecimento, e isso perpassou o legislativo por muito
tempo. A maioria dessas propostas, sem entrar em detalhes, elas ou
restringem ou controlam, enfim, criam mecanismos para proteger melhor esse

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público. E isso começa a mudar recentemente. Do final de 2006 pra cá essa
percepção está sendo transportada para o legislativo.

E aí há dois projetos de lei muito interessantes em tramitação, os dois de


mesma autoria, mas um dele de 2007, institui o Programa Alternativo de
Acesso à Rede Mundial de Computadores, cria a figura do “Passe Internet”. Na
verdade é um passe para estudantes da rede pública terem acesso à Internet
através de lanhouses para efeitos de pesquisas da escola, e esse projeto de lei
altera a lei do Fust, no sentido de permitir que o Fust venha a financiar esse
tipo de iniciativa, ou seja, venha reconhecer a participação da iniciativa privada
e venha implementar meios de financiamento dessas iniciativas.

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Antes de passar para o outro projeto de lei que é muito interessante, fazendo
um batimento desse projeto de lei que viabiliza o Passe Internet para o
estudante de escola pública com aquela realidade do Maranhão, a gente
observa que dos laboratórios de informática do Maranhão só 490 estão ativos.
Mais uma vez voltando ali versus o número de 1.320 lanhouses, então um
programa como esse bem estruturado pode ser realmente uma excelente
ferramenta de apoio pedagógico. Mais uma vez lembrando que apenas 132
municípios dos 217 do Maranhão têm efetivamente um laboratório de
informática funcionando em alguma escola pública. Um projeto como esse, a
gente vai ver daqui a pouco um caso de sucesso em Sergipe que trabalha
exatamente esse conceito, pode realmente fazer a diferença, pode ser um
modelo de parceria pública e privada interessante.

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O outro projeto de lei bastante recente, de 2008, também em tramitação, já


dá um tratamento completamente diferenciado à lanhouse. Reconhece a
lanhouse como entidade de interesse social e obviamente isso dá acesso a
possibilidade de parcerias como programas públicos, tira aquele estigma de
casa de jogos. Na verdade essa nomenclatura já até mudou, já houve um
avanço nisso, no sentido do governo reconhecer e classificar a atividade
econômica não mais como casa de jogos. Mas na verdade esse projeto de lei
desce a mais detalhes, ele propõe a criação de um código na Tabela Nacional
de Atividades Econômicas. Propõe a criação de um novo código específico com
detalhamento específico para a lanhouse e definindo aqui qual é o escopo da
prestação de serviço que essas entidades devem ter para ser reconhecidas
dessa forma. Quer dizer, na verdade vamos continuar tendo aí os dois
mundos. A lanhouse enquadrável dessa forma, que presta serviços dentro de
um determinado modelo, então tem um determinado código de conduta, tem
determinado portfólio de serviços que passam a ser regulados por essa lei, se
ela vier a ser criada, enfim, abre espaço para um tratamento bastante
inovador em relação às lanhouses. E mais uma vez este é um dos trabalhos

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importantes que a ABCID tem feito. Esses projetos de lei têm sido feitos, têm
sidos tocados com o apoio muito forte, com um trabalho de longo prazo muito
grande da ABCID.
E para falar em alguns casos de sucesso, na verdade aqui eu contei inclusive
com a ajuda da própria ABCID, eu pedi ao Mário que me passasse alguns casos
de sucesso de parcerias de lanhouses com o Poder Público, e dentro do vasto
material que o Mário me mandou selecionei dois casos para a gente poder
verificar como isso tem acontecido na prática.

O primeiro é o caso da Prefeitura Municipal de Instância em Sergipe, onde o


prefeito vem fazendo um trabalho bastante interessante de parceria. Na época
ainda de campanha [eleitoral] ele falava da questão de disseminar o acesso à
Internet, de democratizar o acesso à Internet, e depois quando assumiu a
prefeitura queria fazer isso através de centro de Internet pública, que inclusive
chamava de CIP. Com a busca de parcerias começando pelo Banco do Brasil,
depois Clube dos Diretores Lojistas, acabou se descobrindo um trabalho do
Sebrae de Sergipe de valorizar a lanhouse como instrumento de educação,

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então um dos trabalhos de qualificação do perfil de lanhouse, e aí acabou
nascendo um conjunto de parcerias, de estratégias de parcerias envolvendo o
próprio Sebrae, envolvendo o Poder Público, iniciativas diversas do Poder
Público, envolvendo o meio empresarial de lanhouses, quer dizer, fomentando
inclusive o associativismo, já que não poderia implementar políticas públicas
que fossem direcionadas para a entidade A ou a entidade B. Então o fomento
do associativismo teve um papel importante no sentido de realmente conseguir
trazer esse meio para uma relação próxima com o Poder Público e envolvendo
outras entidades, por exemplo, sindicato dos professores. Mais uma vez aqui
aquela questão que o deputado Ariosto Holanda levantou do projeto político-
pedagógico fez parte da estratégia do Poder Público ao definir alguns escopos
de projetos político-pedagógicos, e uma das iniciativas muito interessante
desse projeto é que houve uma capacitação de professores da rede pública no
sentido de como pedir as pesquisas, já que os alunos iam usar as lanhouses
para isso; na verdade o professor também foi qualificado. A última informação
que eu vi é que já havia 25% dos professores qualificados no sentido de usar
novas tecnologias, utilizar Web 2.0, autoria, e conseguir inclusive uma
interlocução mais adequada com seus alunos. O mesmo foi feito com as
pessoas de lanhouses, foram qualificadas, foram treinadas.

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Uma outra iniciativa [é] de governo eletrônico da Bahia. Uma autarquia


municipal de Salvador, a Superintendência de Controle e Ordenamento de Uso
do Solo, fez uma parceria com as lanhouses também, lanhouses credenciadas
que obviamente também passaram por um processo de treinamento, um
processo de formalização dessa parceria, e essas lanhouses passaram a
oferecer um dos serviços que a Sucom [presta] à sociedade que é a emissão
do termo de viabilidade de localização. É um documento que antecede a
emissão do CNPJ. Então só era possível ser feito na autarquia e o processo foi
mudado, foi descentralizado; faz parte do processo de descentralização de
serviços deles. O processo continua sendo iniciado na autarquia, mas depois de
analisado o interessado pode ir a alguma lanhouse credenciada, emite ali o
documento de arrecadação, faz o pagamento da taxa, 48 horas depois volta e
emite na própria lanhouse o termo de documento definitivo. A primeira
iniciativa, ainda modesta, de serviços de governo eletrônico que pode ser feito
em parceria com esse setor.
Nós mesmos, por exemplo, quando estávamos definindo as estratégias de
inclusão digital no Maranhão e os frutos da própria pesquisa do MID no

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Maranhão, a própria parceria que foi estabelecida com o IBICT na altura
mostrava exatamente isto, que a estratégia de Governo, que foi interrompida
esse ano por uma questão de ruptura política - o governador foi cassado -, que
vinha sendo desenhada até então, envolvia todo um portfólio de serviços de
governo eletrônico, de educação, de cultura, enfim, uma articulação de
iniciativas com envolvimento das lanhouses no processo.

Por fim, eu gostaria de deixar aqui alguns fatores críticos de sucesso que
podem ajudar essas iniciativas de parceria pública e privada, que podem
ajudar esse modelo misto efetivamente a ter um resultado. Começando pela
definição, por parte do Poder Público, de papéis, de atitudes que são esperadas
de cada um desses agentes, do Poder Público, da iniciativa privada, Terceiro
Setor, da sociedade em geral, mais especificamente do Poder Público é
necessário que sejam definidas metas alargadas de inclusão digital. Lá no
Maranhão, mesmo quando nós chegamos lá, a visão de inclusão digital era
exclusivamente de formação de professores e parava ali. Quer dizer, na
verdade a estratégia de inclusão digital envolve inclusão digital do próprio
governo, envolve a cultura, envolve a educação, envolve a agricultura, apoio

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ao empreendedorismo, quer dizer, envolve tantas frentes que só uma
estratégia com metas abrangentes pode captar essas interações todas.
O segundo fator crítico de sucesso é o mapeamento das iniciativas de inclusão
digital. Exatamente quando formularmos políticas públicas que não sejam
adequadas à realidade e aí nós temos o MID como uma poderosa ferramenta
para que isso aconteça. E realmente o Maranhão foi o primeiro estado a
efetivamente desenvolver este trabalho e na altura já articulávamos para os
outros estados no sentido de disseminar esse trabalho para que realmente
essas políticas nascessem a partir da realidade e não como políticas elaboradas
no gabinete onde ninguém fez estudos prévios. Na questão da coordenação é
necessário haver um comitê gestor, uma figura de coordenação do programa
de inclusão digital do Poder Público sem, no entanto, eliminar aquilo que já faz
parte do poder político, faz parte do meio público, que é manter as autorias,
manter as individualidades de cada programa e manter o capital político que
esses programas trazem eventualmente para as pessoas que estão a frente.
Isso faz parte do meio político. Não adianta abstrair essa realidade.
Então é preciso haver a coordenação sem, no entanto, sufocar, porque na
verdade uma coordenação muito centralizada acaba levando também
resistências dentro do próprio Poder Público no sentido de articular esses
projetos. O conhecimento do capital social do entorno, ou seja, conhecer quem
são os possíveis parceiros, quais são as relações desses parceiros no sentido
de gerar capital social, formar rede de parceiros entre todos os agentes
públicos, privados, Terceiro Setor, a sociedade, de forma que essas
competências se somem. Conhecer o papel de cada um na complementaridade
dessas competências. Formatar muito bem o portfólio de serviços. Serviços de
governo eletrônico, que serviços podem ser levados, que serviços podem ser
feitos em parceria com as lanhouses, que outros não podem ser. Nós
encontramos lá no Maranhão, por exemplo, programas de governo pro mesmo
município pequeno, um querendo implantar um Ponto de Cultura com
biblioteca e centro de inclusão digital e um outro, por exemplo, da pasta de
Igualdade Racial – Secretaria da Mulher, querendo, no mesmo município
pequeno, implantar um “Telecentro da Mulher”. Sendo que essas duas
iniciativas nem eram adequadas para o porte do município de serem feitas
separadas. Quer dizer, essa articulação e esse reconhecimento de
complementaridade acabam levando a um desenho unificado dessa proposta. E
a preocupação com a sustentabilidade, que a gente viu que na prática ela não
tem acontecido. Seja na formação desses parceiros, seja na montagem dessa
rede é fundamental que haja uma forte credibilidade para que essas iniciativas
não venham a morrer com o tempo e este modelo venha ser atrativo inclusive
para novos parceiros. Então, essa credibilidade é fundamental.

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A iniciativa privada deve entrar trabalhando a articulação local, regional,


através do associativismo, através da formação de entidades que venham
representar o setor. A questão da formalização obviamente é um empecilho.
No Maranhão nós encontramos mais de 60% de lanhouses não formalizadas, e
isso também é uma realidade no âmbito nacional. Obviamente essa questão
tem que ser tratada. Vem sendo discutida pelo Governo Federal a criação de
uma estratégia para isso, como dar instrumentos para facilitar [a
formalização]. É necessário que a iniciativa privada também faça sua parte,
investimento em treinamento, em formatação de melhores serviços. O Terceiro
setor é fundamental para também agregar credibilidade a esse modelo e entrar
com outras competências. Competências de gestão, competências técnicas que
venham a garantir um índice de sucesso maior desse empreendimento. E, por
fim, envolver a sociedade na definição do modelo, no controle social, envolver
a sociedade na avaliação dos resultados para que isso realmente fique forte. E
se isso ainda não é possível na esfera federal é muito bem possível para os
governos municipais, para os governos estaduais, já levarem a cabo hoje esse
tipo de parceria.

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Essa é a mensagem que eu queria deixar.

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