Você está na página 1de 2

Da Luxúria ao Luxo de Estar Acordado

P: Eu queria saber sobre esses sentimentos: amor, ciúme...

Pura diversão...

P: O ciúme não é diversão...

Não? Então por que você sente tanto ele, se não lhe diverte?

P: Para sofrer...

Então é uma diversão... Tem coisas que acontecem da relação de ignorância consigo mesmo.
Veja só: os sentimentos, na sua grande maioria, senão todos eles, são pura ilusão de ótica .
Já foi descoberto que os sentimentos são um fenômeno químico e que não é você quem os controla.
Você pode ver isso! Se entrar alguém aqui na sala que tenha o 'hormônio certo' para lhe atrair, você sente
o cheiro e isso é suficiente.
Os bichos começam a correr, por exemplo. Eles sabem! E não tem chance... você pode até reprimir, mas
que você vai sentir, você vai...
Aliás, você pode reprimir por vários motivos: ou porque você tem uma relação, ou porque seus pais não
permitem... mas aquela sensação está ali, correndo dentro de você. É pura química.
E se você deixa fluir, tem um momento em que há uma conclusão - é inocência - se você se solta você vê
que é pura inocência.
Você pode amar qualquer coisa.

P: E o amor, o que é?

O amor, tal qual está posto pelos limites sócio-culturais, é uma ilusão, é um fenômeno químico, luxúria...

P: O que qualifica o sentimento bom? Ou o sentimento bom é só mais uma convenção?

Convenções. Por exemplo: se você for visitar um amigo em Bagé, de onde eu venho, ele vai lhe oferecer
algo para comer e algo para beber.
Mas se você for visitar um esquimó, ele vai lhe oferecer a esposa dele. Isso do nosso ponto de vista é
ruim, mas do ponto de vista deles é aceitável.
O bem e o mal são totalmente convencionados.

P: Então não existe pecado?

Nem acima do Equador, nem abaixo. Não existe pecado. Pecado, na verdade, é uma estratégia dos
poderosos para controlar você, para que você se submeta.
Se você pode observar que dentro desse mecanismo (que não é você) existe um condicionamento, o que
você precisa fazer a respeito disso?
Você precisa se destacar dele ou você já está destacado dele? Quem é você?
Veja bem: a idéia que nós temos de que precisamos nos libertar dos nossos condicionamentos para ser
"quem nós somos" é falaciosa.
E sabe por que você nunca vai se livrar dos seus condicionamentos? Porque você não é os seus
condicionamentos. Você só precisa ver que eles não são seus.
Isso quer dizer: deixe-os continuarem fazendo o papel deles, é apenas um papel.
Quem está preso aos condicionamentos?

P: A mente e o corpo.

E quem não estaria preso aos condicionamentos?

P: O ego, o corpo e a mente.

E quem é você?

P: Eu sou o Eu. Mas meu ego, minha mente...

Agora começam as complicações... Se você é Você, você precisa de mais alguma coisa?

P: Não! Agora, nesse momento, não existe nada disso: da mente, do corpo...

Eu estou apontando o que é esse complexo chamado você. Tem um 'você' que é inexistente, que é falso,
e tem outro que é real.
Se eu lhe desse a chance de escolher entre esse 'Eu' que é você e esse 'eu' que não é, o que você
escolheria? O que precisa ser feito?

P: Nada.

Quem é que supõe que você é esse outro 'eu'?

P: O próprio.

Então, você precisa deixar de supor?


P: Não...

Você pode deixar a mente supondo o que ela quiser. Pois se você vê quem você é, você não se importa
mais com o que ela supõe.
Inclusive você resolve as suposições dela na hora, no momento presente. Ela vem com as suposições dela
e você não dá atenção.

P: Isso é o que significa estar no mundo, sem ser do mundo?

Exatamente. Isso é estar acordado.

Trecho de um diálogo entre Satyaprem e o participante de um


'Satsang Intensivo' em São Paulo - Março / 2006

Você também pode gostar