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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE

CATÓLICA DE CAMPINAS
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Iniciação à filosofia do jornalismo - Excertos
BELTRÃO, Luiz. Iniciação à filosofia do Jornalismo. São Paulo :
Edusp-Com-Arte, 1992, p. 65-67.

Conceito de Jornalismo
Através dessas noções históricas, quisemos, apenas, situar o
jornalismo como atividade essencial à vida das coletividades,
como uma instituição social que, no mundo moderno, assume
posição da mais alta relevância. Com efeito, os homens dos
nossos dias “têm fome de conhecer o presente”. Para estar a
par das idéias, eventos e situações correntes, procuram
veículos muito mais especializados e diversificados do que os
seus ancestrais. Através de 45.000 ou mais agências dos
Correios dos Estados Unidos (para exemplificar com um país
apaixonadamente devoto das estatísticas) transita um número
espantoso de cartas, publicações de negócios, panfletos,
catálogos e outras matérias impressas. Os homens de hoje são
leitores de jornais. Diariamente, compram quase 46 milhões de Luiz Beltrão (1918 – 1986)
exemplares de cerca de 1.740 diários e, nos domingos, quase
38 milhões. Semanalmente, adquirem 12 milhões de exemplares de aproximadamente
10.000 semanários. Os leitores norte-americanos “devoram” 6.500 publicações
especializadas periódicas, que atingem, anualmente, a várias centenas de milhões de
exemplares; ouvem mais de 800 estações de rádio, através de mais de 57 milhões de
receptores; freqüentam, em mais de 17 000 teatros, com capacidade excedente de 10
milhões de cadeiras, as exibições cinematográficas, sendo calculados em 80 milhões,
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semanalmente, os espectadores.
Essa multiplicidade das manifestações do jornalismo nos nossos dias é que torna complexa
a sua definição. Conhecemos numerosos conceitos de jornalismo, uns objetivos, outros
literários, alguns positivos e outros puramente retóricos. Da nossa parte, procuramos fixar
um conceito simples, mas que inclua as características fundamentais do periodismo.
Diremos primeiro que fazer jornalismo é informar. Jornalismo é, antes de tudo,
informação, costumava repetir aos meus ouvidos de foca esse mestre da imprensa
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brasileira que é Aníbal Fernandes . Informação, bem entendido, de fatos atuais,
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A edição original deste livro foi em 1960.
2
Cf. Campbell & Wolseley, Exploring Joumalism, New York, 1943. p. 45. Em 1959, segundo o relatório
anual mais completo sobre o assunto — N. W. Ayer & Sons Directory of Newspapers & Periodicals, a
tiragem dos jornais diários era de 57 milhões e 500 mil cópias, 3/5 da qual cabiam aos vespertinos. Havia
222.146 jornais que tiravam mais de uma edição por dia. A tiragem dos semanários dominicais era de
47.354.087 exemplares.
3
Aníbal (Gonçalves) Fernandes, jornalista e professor de Língua e Literatura Portuguesa no Colégio Estadual
de Pernambuco. Iniciando a sua vida profissional na segunda década do século, exerceu ativamente o
jornalismo em quase todos os órgãos da imprensa recifense. Editorialista e comentarista emérito, dono de um
estilo ágil e vibrante, os artigos e crônicas da sua lavra são acompanhados com o mais vivo interesse pelo seu
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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correntes, que mereçam o interesse público, porque, informar sobre fatos passados, é
fazer história e o jornalismo, como assinala Rafael Mamar, “é a história que passa”.
Mas
não é função da imprensa (compreendida como jornalismo) informar ligeira
e frivolamente sobre os fatos que acontecem ou censurá-los com maior soma
de afeto ou adesão. Toca à imprensa elogiar, explicar, ensinar, guiar,
dirigir; toca-lhe examinar os conflitos e não agravá-los com um juízo
apaixonado; não encaminhá-los com alarde de adesão talvez extemporâneo;
toca-lhe, enfim, propor soluções, amadurecê-las, torná-las fáceis, submeta-
las à censura, reformá-las; toca-lhe estabelecer e fundamentar
ensinamentos, se pretende que o país a respeite, e que, conforme os seus
serviços e merecimentos, a proteja e honre.

Assim, os fatos correntes expostos pelo jornalismo têm de ser devidamente


interpretados, porquanto informação, orientação e direção são atributos essenciais do
periodismo, que não pode ser substituído nem sequer momentaneamente por nenhum
outro agente cultural nesta tarefa junto à sociedade”. Daí porque a obra jornalística se
realiza dia a dia, porque os fatos, devidamente interpretados, têm de ser transmitidos
periodicamente não ao indivíduo isolado, mas a um conjunto ou à totalidade dos
homens que vivem em sociedade.
Exercendo-se pela difusão de conhecimentos, utilizando todos os recursos da técnica
disponíveis ao seu desenvolvimento, o jornalismo “tem por objetivo informar e orientar a
opinião, censurar e sancionar as ações públicas dos habitantes de uma região e divulgar a
cultura entre a população de um país como o consideraram com precisão os jornalistas
cubanos reunidos, em 1941, no seu Primeiro Congresso Nacional em Havana. Todo esse
trabalho tem, evidentemente, uma função educativa, visando esclarecer a opinião
pública para que sinta e aja com discernimento, buscando o progresso, a paz e a
ordem da comunidade. Em outras palavras, a finalidade do jornalismo é a promoção
do bem comum.

vasto círculo de leitores. Aposentado em 1955, no exercício do cargo de diretor do Diário de Pernambuco —
de cujo corpo redacional fez parte por mais de 30 anos — continua entretanto a escrever diariamente para
jornais e estações rádio-emissoras de Pernambuco.
Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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