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Quando tudo parece dar errado1

Ester 2.5-9

Introdução:

Próximo dia 08 de março comemora-se mais um Dia Internacional da Mulher, uma data cheia de história e
significados. A parte de toda a história que envolve esse dia (isso fica a cargo dos professores) é oportuno
compreender a importância, o espaço e valor da mulher dentro do contexto social. Até porque, depois da
Revolução Feminista no final dos anos 60, muitas transformações se sucederam no universo feminino.
Talvez, uma das maiores mudanças tem haver com a empregabilidade das mulheres. Isso significa dizer
que o número de mulheres inseridas no mercado de trabalho tem crescido a cada ano, fazendo com que,
inclusive, boa parte deste contingente seja igualmente responsável pelo orçamento familiar. Segundo a
Fundação Carlos Chagas, “ao analisar o comportamento da força de trabalho feminina no Brasil nos
últimos 30 anos, o que chama a atenção é o vigor e a persistência do seu crescimento. Com um acréscimo
de 32 milhões de trabalhadoras entre 1976 e 2007, as mulheres desempenharam um papel muito mais
relevante do que os homens no crescimento da população economicamente ativa.”

Portanto, é indiscutível a presença cada vez maior de mulheres no mercado de trabalho. As mulheres não
apenas estão alçando voos mais altos, como também tem tido uma maior participação quanto à
transformação social. No campo da política também vemos o mesmo desempenho. Um crescimento
mínimo, contudo, considerável. Diante da relevância da mulher dentro do espaço social, não pode-se
fechar os olhos para fatos tão marcantes. O que para muitas mulheres no começo do século xx parecia
algo distante e utópico tem cada vez mais se tornado uma realidade.

O que provavelmente poucos sabem é que a Bíblia jamais deixou de dar à devida importância e relevância
a mulher. Alguns, erroneamente entendem a Bíblia como sendo um livro machista, onde existem leis e
ordenanças que tornam a mulher alguém de categoria inferior. Interpretar a Bíblia por esse viés é estar
distante dos bons e incríveis propósitos de Deus quanto à mulher. Numa rápida e superficial leitura
bíblica, tão logo percebemos muitas mulheres que foram instrumentos de benção para a vida de muitos
homens e povos. Vejamos algumas:

a) Uma mãe piedosa (1º Sm. 1 e 2) – Ana uma mãe profundamente piedosa e dedicada. Mesmos diante de
circunstâncias tão adversas alcançou o favor de Deus;

b) Maria Madalena (Mt. 28.1) – De alguém totalmente dominada por espíritos malignos à uma fiel
discípula de Cristo. Alguém que contribuiu de maneira abundante e fiel a causa do evangelho;

c) Mulher samaritana (Jo. 4) – alguém sem qualquer rumo moral e espiritual a uma cooperadora e
evangelizadora;

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1ª mensagem da série de mensagens: “A beleza à serviço de Deus”
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Dentre algumas mulheres que Deus usou como instrumento de graça, misericórdia e provisão a homens ou
a povos, temos a história de Ester. A partir da história de Ester, veremos alguém que não somente tinha
uma beleza diferenciadora, mas também, uma mulher de coragem. Beleza e audácia se misturam em
Ester. Contudo, o começo dessa história, não foi das melhores. Vejamos:

1. Ester e um passado de perdas (Et. 2.7);

Interessante observar que o livro de Ester não começa com a história de Ester, mas sim, apresentando a
grandiosidade e poderio do reinado de Assuero (Xerxes). Ainda bem jovem (21 anos), Assuero assume o
poder do Império Persa, considerado um dos maiores impérios de toda a história. “Não havia homem com
maior poder na terra naquela época do que o rei persa Assuero” 2. Todo esplendor e tamanho do reinado
de Assuero podemos assim ver por conta da grandiosidade e glamour da festa por ele oferecida a todos os
príncipes e nobres. Uma festa de 180 dias, onde tudo era do melhor e ainda os sete dias finais desta
enorme festa foi aberta a todo o povo. Qualquer festa por mais chique que seja não chega nem perto do
que foi as celebrações de Assuero. O livro de Ester então tem seu início de maneira “glamourizada”,
sequer o nome de Ester aparece em todo o primeiro capítulo. Não há qualquer indicativos de Ester. O livro
de Ester começa, mas seu nome ali não está, não aparece; sua história ainda é desconhecida. Mas isso
dura pouco tempo.

Já no segundo capítulo somos informados sobre Ester. Contudo, as primeiras linhas somos surpreendidos
não por uma história tranquila, de contos de fadas, pelo contrario. Segundo estudiosos, a época das
ocorrências do primeiro capítulo, Ester então tinha aproximadamente 18 anos. Apesar de sua juventude,
Ester já acumulava algumas experiências amargas, dolorosas e de perdas irreparáveis. Por duas vezes, no
mesmo verso (Et. 2.7), o autor declara sobre a morte de seus pais: (a) “Mardoqueu tinha uma prima
chamada Hadassa, que havia sido criada por ele, por não ter pai nem mãe...” (Et. 2.7a) e (b) “Mardoqueu
a havia tomado como filha quando o pai e a mãe dela morreram.” (Et. 2.7c). Enquanto a história do rei
Assuero começa com festa, a história de Ester começa com dor. A história de Assuero tem como ponto de
partidas conquistas, a história de Ester perdas.

Não se sabe em que circunstâncias os pais de Ester vieram a falecer. Tão pouco o tempo de falecimento
de ambos. O que de concreto se tem é a certeza da morte de ambos e a decisão de Mardoqueu (Mordecai)
em cuidar de sua prima. Ester não tinha mais seus pais legítimos. Tais perdas certamente ainda eram vivas
para uma jovem de 18 anos.

O começo da vida de Ester traz à tona a realidade de que por vezes acumulamos alguns prejuízos em vida
que são extremamente difíceis. Tal realidade é possível de acontecer a todos. Ninguém está livre de assim
enfrentar ocorrências de sofrimento e dor. E algumas destas ocorrências, a semelhança de Ester, tem
haver com perdas irreparáveis. O passado de Ester assim estava marcado por histórias de perdas, choro,
sofrimento, saudade, ausência, falta. Às vezes, igualmente em nossas vidas acumulamos histórias de
perdas que nos foram irreparáveis e que ainda que o tempo passe tais acontecimentos continuam a ressoar
dentro do nosso peito, ecoando em nossas mentes. E quando algum episódio desse é lembrado, é
inevitável o sofrimento e angústia. Nossas histórias não são diferentes de Ester.

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SWINDOLL, Charles. Ester. Mundo Cristão, p. 22
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2. Ester, alguém que faz parte das minorias (Et. 2.7);

Ester não somente acumula perdas, como também vive fora de seu país de origem e de toda sua cultura
judaica. Até mesmo seu nome é mudado. Enquanto judia era chamada de “Hadassa” (fragrância), depois
de ser deportada de seu próprio pais, passou a se chamar “Ester” (estrela). Ester não perde apenas o
aconchego e colo de seus pais, mas também o cheiro da sua própria terra. Há perdas “familares-afetivas”,
mas também, patrióticas. Ester e tantos outros judeus foram levados para fora de sua própria terra.

Ester e seu primo Mardoqueu3 (Mordecai4) foram deportados para Susã (Et. 2.5-7a: “Nesse tempo vivia na
cidadela de Susã um judeu chamado Mardoqueu, da tribo de Benjamim, filho de Jair, neto de Simei e
bisneto de Quis. Ele fora levado de Jerusalém para o exílio por Nabucodonosor, rei da Babilônia, entre os
que foram levados prisioneiros com Joaquim, rei de Judá. Mardoqueu tinha uma prima chamada Hadassa,
que havia sido criada por ele...”), uma das quatros capitais do império persa. Segundo os historiadores,
Susã era a “casa” de inverno do imperador. Em Susã Ester e Mardoqueu e outros muitos judeus tentavam
recomeçar a vida.

Apesar de habitarem em uma terra estranha, os judeus desfrutavam de certa liberdade, inclusive
mantendo seus costumes e práticas religiosas. Contudo, ainda sim eram minoria. Estavam sob domínio do
Império Persa. Por mais que quisessem, esbarravam nos limites das autoridades persas. E como todos
aqueles que fazem parte das minorias, eram cobrados e exigidos, por sua vez, seus direitos eram limitados
e até esquecidos.

Ester fazia parte da minoria. Ester não está entre aqueles que faziam parte do seleto grupo da nobreza
persa (pelo menos no primeiro momento assim não era). Seu nome não estava inscrito na lista das
“celebridades” que participaram do banquete dado por Assuero. Seu nome tão pouco fora escrito na
calçada da fama do palácio de Assuero. Ester era uma jovem judia, órfã e com um futuro incerto, vivendo
entre um povo que não era o seu. E se Ester planejava o seu futuro, este era a custo de muitas
dificuldades e “pedras no caminho”, por conta de fazer parte da minoria.

Fazer parte da minoria é ser contado a margem. E não ser considerado, valorizado, visto, apreciado. Assim
também foi a história de um homem já com certa idade (Lc. 18.43). Por conta, de sua cegueira fora
jogado a margem do caminho, contado como um “Zé ninguém”, um “zero a esquerda”, um perdedor. No
máximo, algumas pessoas tinham um sentimento de pena, contudo, sequer o ajudavam. Tal cego fazia
parte da minoria. Contudo, sua história fora mudada a partir do momento em que Jesus deu ouvidos ao
seu clamor e ao aproximar-se, curou sua cegueira. Aquele que era considerado “estranho”, tornou-se um
comum. Fora aceito e todos se admiraram de tal acontecimento.

Algumas histórias e vidas são muito semelhante à de Ester. Alguns de nós fomos contados entre a minoria.
Fomos ditos como aqueles que não conseguem. Fomos marginalizados e rotulados. Quem sabe, não
tenham olhado para nossas vidas com desconfiança, com estranheza, dúvida e às vezes, com zombaria,
deboche, escárnio, desprezo. Isto porque, fazer parte da minoria é nadar contra a maré. E Ester fez parte
da minoria.

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NVI – Nova Versão Internacional
4
ARA – Versão Revista e Atualizada
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3. Ester diante de circunstâncias adversas (Et. 2.8-9);

O começo da história de Ester parece que todas as coisas vão dar errado. A sua vida esta prestes a
naufragar. Sem pais e morando em uma terra estranha, algo poderia ainda ser pior? Sim!

Após um decreto do rei Assuero onde ficou determinado que todas as moças virgens de Susã deveriam
apresentar-se com vistas a escolha da futura rainha (Et. 2.8: “Quando a ordem e o decreto do rei foram
proclamados, muitas moças foram trazidas à cidadela de Susã e colocadas sob os cuidados de Hegai. Ester
também foi trazida ao palácio do rei e confiada a Hegai, encarregado do harém.”). A convocação não fora
aos moldes do concurso “menina fantástica”, ou seja, de maneira voluntária e espontânea. Mas uma
ordenança do rei, por conta, de ter destituído a rainha Vasti (Et. 1. 15-22). Um detalhe a ser considerado,
é termos cuidados com alguns conselhos que recebemos. Os conselheiros do rei o incentivaram a despojar
sua própria esposa do poder, pois a mesma se recusou a apresentar-se diante de uma plateia bêbada e
totalmente descontrolada. O rei então acatou a palavra dos conselheiros e depois de passado o calor da
situação, ao que tudo indica, se arrependeu do que tinha feito a Vasti (Et. 2.1: “Algum tempo depois,
quando cessou a indignação do rei Xerxes, ele se lembrou de Vasti, do que ela havia feito e do que ele
tinha decretado contra ela.”).

Portanto, tal decreto longe de ser um convite era uma ordenança real. Isto significa entender, que uma
vez desobedecido, havia a possibilidade de penalidades. A ideia do texto no original é que Ester não foi
simplesmente levada, mas forçada a participar da eleição para o próxima rainha da Pérsia. Alguns
estudiosos chegam a declarar que Ester fora arrancada, outros dizem, raptada de seus próprios aposentos
e levada para ao palácio real.

As circunstâncias que Ester estava passando não era um das melhores. Haviam densas nuvens cinzentas no
céu de Susã. Nuvens que traziam anúncio de intensa tempestade e Ester estava no meio desse temporal. O
que estava já dificultoso, pior ficou. Ester esta diante de mais dificuldades e aflições. E o que será da vida
de Ester?

Incrivelmente, em meio à possibilidade de intenso temporal, surge um facho de claridade no céu de Ester
(Et. 2.9: “A moça o agradou e ele a favoreceu. Ele logo lhe providenciou tratamento de beleza e comida
especial. Designou-lhe sete moças escolhidas do palácio do rei e transferiu-a, junto com suas jovens, para
o melhor lugar do harém.”). Na verdade, uma nova e diferente história estava a começar na vida de Ester
e isto tudo, por providência de Deus. Até a próxima... Com carinho,

Rev. André Esteves


pastor@portela.org.br
www.twitter.com/revandre
www.outrosrascunhos.blogspot.com

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