O documento Pátria Educadora tem levado muito intelectuais a se colocarem numa posição crítica diante de tal escrito feito pelo Ministro de Estratégias.
Título original
Criticas a Patria Educadora 1432580521_Manifestação CEEd Sobre o Documento -Patria Educadora
O documento Pátria Educadora tem levado muito intelectuais a se colocarem numa posição crítica diante de tal escrito feito pelo Ministro de Estratégias.
O documento Pátria Educadora tem levado muito intelectuais a se colocarem numa posição crítica diante de tal escrito feito pelo Ministro de Estratégias.
MANIFESTAO DO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAO DO RIO GRANDE DO SUL
SOBRE O DOCUMENTO PTRIA EDUCADORA
O Conselho Estadual de Educao do Rio Grande do Sul CEEd/RS
manifesta-se sobre o documento Ptria Educadora. A qualificao do ensino bsico como obra de construo nacional proposta preliminar, elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica e divulgado em 22 de abril de 2015. Reconhecemos a importncia da participao da Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica no debate da educao nacional, entretanto salientamos que, em particular na ltima dcada, o Brasil consolidou avanos significativos na rea da educao que no foram incorporados na concepo geral do referido documento. O documento em pauta desconsidera todo acmulo obtido e expresso na Lei de Diretrizes e Bases da Educao, nas Conferncias Nacionais de Educao, nas Diretrizes Nacionais de Educao, no Plano Nacional de Educao, no Regime de Colaborao, nas polticas pblicas em curso no Pas e desconhece o pensamento pedaggico contemporneo. As polticas pblicas da rea da educao implementadas no Brasil ao longo da ltima dcada, tais como o PROUNI, o FIES, o ENEM, o FUNDEB, o PDE- Plano de Desenvolvimento da Educao, o Pacto pela Alfabetizao na Idade Certa, o Projeto Ensino Mdio Inovador, o Programa Mais Educao, a Expanso da Rede Federal de Ensino e o Plano de Aes Articuladas foram fundamentais para a reduo da pobreza extrema e para a diminuio das desigualdades scio-educacionais histricas. No encontramos no documento da Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica as percepes que nortearam a construo dessas polticas estruturantes. Logo, o iderio do projeto intitulado no documento Ptria Educadora da Secretaria de
Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica est em dissonncia com
os programas e polticas do Ministrio da Educao. O Ministrio da Educao o rgo responsvel pela construo e execuo da poltica nacional de educao, logo tal proposta pelo seu simbolismo, pela sua importncia e pelo seu impacto social deveria ser trabalhada a partir do MEC e no a partir de uma estrutura da administrao federal direta que trata transversalmente da temtica da educao. O documento Ptria Educadora demarca um projeto de nao onde a educao tratada enquanto mecanismo de reformulao social para ressignificar as necessidades do campo empresarial e os ganhos do capital, no representando o aprofundamento de um projeto includente e de justia social. O Conselho Estadual de Educao do Rio Grande do Sul - CEEd/RS contesta pressupostos da atual proposta e reafirma princpios fundamentais para que o projeto denominado Ptria Educadora trilhe caminhos efetivos na perspectiva de uma educao emancipatria. A proposta indica que os problemas da educao so causados pela ausncia de uma tradio de planejamento na rea, estabelecendo uma viso linear das aes educacionais. Assim, trata de um contexto esttico, indicando uma sucesso de acontecimentos, onde tudo se resume a um bom planejamento ao modelo empresarial, com metas e indicadores a alcanar. O documento em tela estabelece uma viso tecnicista de educao, ressaltando a importncia da aplicao de testes e a utilizao de seus resultados para premiar ou punir. Identifica a fragilidade de resultados de pesquisa e faz comparaes com pases cuja renda per capita superior brasileira, comprometendo e distorcendo a realidade social. Um projeto nacional de educao deve dialogar com a sua formao histrica, e a
proposta apresentada desconsidera a nossa tradio escravocrata e a
construo tardia do sistema educacional brasileiro. O projeto de nao caracterizado na proposta da Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica estabelece para a educao premissas anlogas s do modelo empresarial, reproduzindo a lgica das leis de mercado, onde a escola intimada a ser competitiva cabendo aos seus gestores a responsabilidade de aplicar medidas corretivas, contrapondo-se ao conceito de gesto democrtica. Os padres de qualidade e eficincia da escola que queremos so antagnicos aos conceitos de eficincia empresarial, a escola no deve ser um locus de manuteno da estrutura desigual da sociedade. A escola no uma empresa e o estudante no deve ser tratado como cliente. A escola deve ser um espao de construo do conhecimento e de descoberta das potencialidades individuais dos seus sujeitos, onde no s as questes tcnicas e cientficas devem ser consideradas, mas desenvolvidas e trabalhadas com os aspectos cognitivos, emocionais, afetivos, estticos, e culturais. Essa a escola de qualidade social que queremos com uma slida formao para o exerccio da cidadania. Essa escola s poder ser construda ou ter sua continuidade aprofundada e preservada sob a perspectiva de um projeto democrtico, de um projeto que deveria ser a base da proposta alavancada pelo documento Ptria Educadora. O texto Ptria Educadora recoloca o carter dual que historicamente caracterizou a educao brasileira, uma escola de altas habilidades para os melhores e uma escola de turno social para os desfavorecidos. Nesse sentido, a proposta assume um carter elitista e seletivo: a escola de status e de notrio saber e a escola do pobre, a escola comum. A escola de educao bsica deve estar preparada para formar todos os jovens como sujeitos para o desenvolvimento das potencialidades humanas e
para a convivncia na diversidade da sociedade contempornea. Os que se
distinguirem em diferentes reas devero ser encaminhados para centros de excelncia em nvel superior. A escola bsica de qualidade para todos permitir que esses talentos se manifestem. Em relao valorizao dos professores, o documento retoma o debate da meritocracia que tem como destaque a premiao por desempenho, atravs da competio desenfreada tpica de mercado, desconsiderando o processo de formao inicial e continuada dos docentes e transformando os professores em meros executores de tcnicas educacionais.
Tambm, ressaltamos que o texto Ptria Educadora: A Qualificao do
Ensino
Bsico
como
Obra
de
Construo
Nacional,
utiliza-se
equivocadamente dos grandes pensadores da educao brasileira para afirmar
pressupostos que nas suas vises progressistas e libertadoras no encontrariam respaldo. Entretanto, devemos recorrer a Ansio Teixeira e Darcy Ribeiro para referendar um projeto de escola e de educao que seja efetivamente includente e que repense o ambiente escolar numa perspectiva autnoma e criativa. Por fim, o documento em pauta provoca inquietude e descontentamento neste Colegiado pela total ausncia em relao ao contedo do Plano Nacional de Educao e do Documento Nacional da CONAE/2014. Ambos os documentos, aprofundam o carter democrtico e os desafios da temtica educacional atual e tratam da Educao Nacional em todos os seus nveis e modalidades como originrios de um amplo processo de participao cidad dos segmentos educacionais organizados deste Pas. Logo, desconsider-los ferir princpios constitucionais do sistema federativo e centralizar as decises na Unio.
A partir dessas premissas, o Conselho Estadual de Educao do Rio
Grande do Sul referenda uma obra de construo nacional que conduza a Ptria Educadora a aprofundar: - o carter de distribuio da riqueza nacional, estabelecendo mais investimentos educao atravs da criao de um fundo especfico com recursos oriundos da parcela da participao no resultado ou da compensao financeira pela explorao de petrleo e gs natural e outros, acreditando somente na construo de um Brasil mais justo e democrtico a partir de maiores investimentos na educao e no custo aluno a patamares semelhantes aos de pases do primeiro mundo, poderemos fazer as comparaes que atualmente acontecem de forma equivocada; - uma educao de qualidade social enquanto direito de todos, universalizando-a em todas as etapas e modalidades da educao bsica, conforme preconiza o Plano Nacional de Educao e garantindo que a aprendizagem para todos seja elemento central do processo educativo; - uma viso de educao que seja reflexiva, que agregue valores ticos e saberes tcnico-cientficos para a construo de sujeitos crticos, autnomos e partcipes, em condies de igualdade na vida republicana; - um projeto que supere a lgica repetitiva do modo de produo fabril e mercadolgica, que repense a cultura escolar tradicional na perspectiva da formao de sujeitos de direitos, de cidados independentes, transformadores da sua realidade social; - uma ao poltica e governamental que implemente efetivamente as Diretrizes Curriculares Nacionais, ampliando a carga horria escolar na direo de uma educao integral em uma escola de tempo integral; - uma lgica de constante atualizao e aprimoramento da concepo da gesto democrtica, onde a escola seja repensada na perspectiva da sua
democratizao e cidadania e seus profissionais sejam permanentemente
valorizados; - a implementao, em regime de colaborao, de uma poltica nacional de formao profissional continuada que garanta o nvel de graduao a todos os profissionais da educao bsica e estmulo para a ps-graduao; - a implantao efetiva de um Plano de Carreira para os profissionais da educao bsica e a efetivao da Lei do Piso Nacional com remunerao equiparada aos profissionais com o mesmo nvel de graduao. Enfim, uma poltica educacional que forme cidados crticos para uma insero qualificada no mundo do trabalho e cidados ticos para a construo de uma sociedade e de uma vida saudvel e digna para todos. Porto Alegre, 20 de maio de 2015.