através da analise de praticas de redução de danos no território dos usuários do serviço a autora avalia a luz da teoria dos campos formas efetivas de trabalho e cuidado em saúde mental.
através da analise de praticas de redução de danos no território dos usuários do serviço a autora avalia a luz da teoria dos campos formas efetivas de trabalho e cuidado em saúde mental.
através da analise de praticas de redução de danos no território dos usuários do serviço a autora avalia a luz da teoria dos campos formas efetivas de trabalho e cuidado em saúde mental.
Palavras - chaves: Ruptura de Campo, Reduo de Danos, Teoria dos Campos, Paisagem e Arte. Aline Schwartz - Coordenadora da Escola de Reduo de Danos do SUS. Psicloga do CAPSad III, Mestre em Psicologia aplicada pela Universidade Federal de Uberlndia orientada por Maria Lcia Castilho Romera. Esse trabalho parte da reflexo sobre as possibilidades de apreenses em Ruptura de Campo em uma prtica de Reduo de Danos, iniciado na Escola de Reduo de Danos do SUS em Uberlndia/ M G. A Reduo de Danos atualmente uma poltica pblica oficial do Ministrio da Sade do Brasil, e de diversos outros pases, para lidar de forma adequada com problemas que podem ser gerados pelo uso de lcool e outras drogas. Este o tema que ilustra o mtodo nesse trabalho, trazemos trs situaes: uma que elucida a sensao de estrangeiro experienciado nas ruas, outra que, dada nossa condio de Redutores de Danos aponta para um imaginrio que determina preconceitos ainda sofridos nesse meio, e ainda uma terceira, o auxlio da arte, mas especificamente da fotografia, que transforma e potencializa a construo de nossa prtica com o outro e com a prpria paisagem. A Escola de RD conta atualmente com 15 agentes em processo de formao, Dividido-se em duas escolas , a do SUS e a In-rede, ambas alocadas no CAPSAD III de Uberlndia MG . Nosso trabalho realizado em bairros considerados como maior foco de uso e abuso de SPAS. Sendo assim, uma das primeiras aes executadas o mapeamento dos territrios afim de identificar e aproximar de pontos de uso (as chamadas biqueiras) e dos locais de maior circulao e permanncia de usurios de lcool e outras drogas que no aderem a nenhum dos dispositivos de ateno em sade disponveis na rede. A partir destas cartografias do territrio e do perfil da populao em situao de maior vulnerabilidade, a equipe tm a oportunidade de aproximao com pessoas e instituies a fim de fazer parcerias para a consecuo do projeto. No h como falar sobre reduo de danos sem mencionar que a violao dos Direitos Humanos e dos Direitos de Cidadania tem sido uma prtica constante em nossa realidade e os fatores que contribuem para essa situao so muitos e de vrias ordens. Ela expressa, em grande medida, o grau de violncia de nossas relaes sociais e o nvel de intolerncia da sociedade em conviver democraticamente com as diferenas. Uma
das possibilidades de superao desses limites para a convivncia democrtica entre os
diferentes, pautada nos direitos universais humanos e de cidadania -, passa pela conscincia tica, que nada mais do que a capacidade de reconhecer no outro ainda que ele seja diferente a nossa prpria humanidade. O desenvolvimento de estratgias de Reduo de Danos mais eficientes e factveis depende da interlocuo franca e respeitosa com os usurios, o que s possvel com o abandono de posturas condenatrias. Em nossa sociedade o usurio e a droga (especialmente as ilcitas) no possuem uma visibilidade positiva. As regras de enunciao a respeito das drogas se aproximam daquelas que definem a marginalidade e o trfico, compondo o cdigo moral que localiza o mal nos indivduos. A construo social/legal proibitiva em torno do uso de drogas ainda
dificulta o
trabalho do redutor de danos, por exemplo, quando o trabalhador precisa entrar em
locais que no conhece, quando no morador da comunidade onde atua, quando no conhece previamente os usurios e/ou no tem acesso liberado aos pontos. Nestas ocasies as tarefas de abrir campo - conhecer e ser conhecido pela comunidade estabelecendo uma relao de trabalho - e identificar os usurios, podem trazer algumas dificuldades, como reas proibidas. Abertura de campo como nomeamos ao entrar nestas terras estrangeiras e como no nos remeter a ruptura de campo? j que, proponho neste trabalho um dilogo que vem motivado pelas ideias de Fabio Herrmann e do gegrafo Milton Santos. Santos nos oferece a dinmica social como forma de mudar a vivncia de uma mesma paisagem. Herrmann nos oferece a possibilidade de pensar dinamicamente o inconsciente, que de um lugar especfico, unvoco e definitivo passa a ser uma, dentre tantos possveis, lgicas que sustentam relaes. Do inconsciente aos inconscientes relativos toda lgica pode ser ruptura pela ao da interpretao. Sendo assim, o mundo, tanto na psicanlise como na geografia, vislumbra a potencialidade de se mudar a vivncia de uma mesma paisagem, possibilitando a recriao de um lugar. O que nos possibilita romper com os muros do consultrio padro e colocar o div a passeio, ou seja, devolve Psicanlise o seu estatuto de pensamento sobre a psique humana, independentemente das limitaes impostas por um setting padronizado.
E colocando o div a passeio pelos bairros perifricos de Uberlndia
desenvolvemos um pensamento crtico sobre a prtica nas ruas . preciso que o RD se desprenda, ento, da cidade em que se reconhece, para que uma outra cidade possa ser habitada. Uma cidade que emerge do encontro entre acompanhante e acompanhado em meio ao espao urbano, uma cidade que se constri no exato instante em que, juntos, eles a percorrem. preciso colher cada detalhe desse campo para que, de seus gestos mnimos, de suas quinquilharias, brote a preciosidade potica da criao de um espao onde a diferena possa inscrever-se e, em sua diferena mesma, marcar seu lugar no mundo dos iguais. Pensando nestes detalhes, no ditos, a Cmera do celular foi retirada do bolso e pe-se a mapear, registrar e interagir. De algum modo, a fotografia, em vez de fazer slida a realidade, ele nos lembra da mudana constante da natureza e da paisagem. Devido a isso, h algo exclusivamente pessoal contida na fotografia que no pode ser removido de seu estado subjetivo: o sentimento recorrente das cenas vividas, como se traduzissem, em imagens, as relaes complicadas entre a subjetividade, o sentido e sociedade cultural, bem como, a descrio da profundidade da dor de cada encontro. Fazendo surgir, nos Rds e nos usurios, o sentimento de pertena daquela paisagem. Como diz o socilogo Francs Roland Barthes: No fundo a Fotografia subversiva, no quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando pensativa. Assim, vemo-nos diante da necessidade de pensarmos numa clnica a ser construda a cada momento, num percurso a ser traado em direo ao encontro e afirmao de existncias singulares, as quais se encontram em movimento. Assim como a fala de Roland Barthes, fotografia sempre me espanta, com um espanto que dura e se renova, inesgotavelmente clinica da Itinerncia no esttica. Tem, em seu fundamento, as lembranas do passado, vive o presente e prescreve o futuro. Ela no cria ncleos de tempo, mas os agrupa, assim como formado o fluxo de pensamento e das paisagens. A partir da noo de movimento constante, descrevo este momento como uma condio de resistncia aos personagens contemporneos que sofrem dos mal estares da vida cotidiana, das rpidas resolues, da burocratizao, do desespero e da falta de motivao. Esta clnica se prope reconstruir um espao de sustentao que tem como engenho a criatividade e, em momento algum, espera que as mudanas sociais ocorram fora de suas prprias prticas. Como pontua Herrmann:
... a Teoria dos Campos no deseja
interpretar o social com base na psicologia ou na psicopatologia individual. Ao contrrio, afirma que a psique no individual e, portanto, que a investigao psquica deve procurar cobrir a totalidade do sujeito em questo, mesmo que, como aqui, se limite apenas a esboar a viso de um fragmento do real que nos cabe elucidar e sob um s aspecto (...) Com isso, o psicanalista pode ocupar sua posio de investigador da psique humana sem incidir no primarismo de separar indivduo e sociedade para depois os confundir, usando esquemas individuais para interpretar o social. (1992, p.47)
O psicanalista que se prope a realizar reduo de danos precisa fotografar o seu
espao todos os dias, e a respeito de poder parecer sempre o mesmo, extrair dele a particularidade que o sustenta como especfico e nico. Alm disso, de uma vivacidade rara ter um olhar que se assusta com o mundo e ao mesmo tempo o absorve e pensa sobre ele e a partir dele. A Itinerncia e a psicanlise visualizam "o que no foi dito o subjetivo, e este se torna ento, o ponto mais sofisticado valor... Assim como o que torna "surpreendente" na fotografia, o momento em que no se sabe o porqu ela foi tirada. Enfim, a arte de uma clnica itinerante pensar em uma construo e reconstruo individual e coletiva, numa ao contnua e viva; para que surjam novos sentidos produzidos juntos em um projeto que de fato far sentido. "no faa nada por mim, sem mim disse um Usurio". Trabalho duro, suado, apaixonado de um construir e desconstruir infinito... "Aqui esto os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os encrenqueiros. Os que fogem ao padro. Aqueles que veem as coisas de um jeito diferente. Eles no se adaptam s regras, nem respeitam o status quo. Voc pode cit-los ou ach-los desagradveis, glorific-los ou desprez-los. Mas a nica coisa que voc no pode fazer ignor-los. Porque eles mudam as coisas. Eles empurram adiante a raa humana. E enquanto alguns os vem como loucos, ns os vemos como gnios. Porque as pessoas que so loucas o bastante para pensarem que podem mudar o mundo so as nicas que realmente podem faz-lo. Disse Kourac, prova disse que estamos aqui.