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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto


Departamento de Economia

Disciplina: REC0215 – Microeconomia I

Docente Responsável: Jaylson Silveira

3. Comportamento do produtor e oferta

3.1. Tecnologia de produção

Leitura básica: Varian (2006, cap. 18), Nicholson (2005, cap. 7).

Fatores de produção: são os insumos utilizados em processos produtivos, podendo ser classificados
em categorias amplas, como terra, trabalho, bens de capital e matérias primas.

Bens de capital ou capital físico: são bens produzidos e utilizados como insumos em processos
produtivos, como máquinas, computadores, tratores, prédios, etc.

Firma: é qualquer organização que realiza a transformação de certos insumos (que possui e/ou
compra) em produtos (que vende).

Restrições de uma firma: uma firma está sujeita a duas restrições básicas. Uma delas é a restrição
tecnológica, pois somente algumas combinações de insumos constituem formas viáveis de produzir
certa quantidade de um produto. A outra é a restrição econômica, ou seja, uma firma toma suas
decisões de produção condicionada pelas estruturas dos mercados de fatores (nos quais demanda
insumos) e de produtos (onde vende sua produção).

Hipótese simplificadora: estudaremos a restrição tecnológica do caso uniproduto, ou seja,


focaremos o caso em que a firma produz apenas um tipo de produto, cuja quantidade denotaremos
por y, utilizando uma combinação de insumos ( x1 ,K, xi ,K, xn ) , na qual xi ≥ 0 é a quantidade

utilizada do fator de produção i = 1,2,K, n .

Planos de produção: é uma lista que especifica as quantidades dos insumos utilizados para produzir
uma determinada quantidade de produto. Um plano de produção pode ser representado como um
vetor (− x1 ,K,− xi ,K,− xn , y ) ∈ ℜ n +1 , onde os componentes (ou coordenadas) com valores
estritamente negativos indicam os insumos utilizados1 e o componente (ou coordenada) com valor
estritamente positivo a quantidade produzida.

1
E o módulo deles (as) as respectivas quantidades empregadas no processo produtivo.

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Planos de produção factíveis: são planos de produção tecnologicamente possíveis.

Conjunto de produção: é o conjunto Y ∈ ℜ n+1 formado por todos os planos de produção factíveis, ou
seja, por todas as listas de combinações de insumos e produto tecnologicamente viáveis. Este
conjunto representa todas as escolhas tecnológicas que uma firma se defronta.

Função de produção: é a função y = f ( x1 ,K, xi ,K, xn ) que associa a cada combinação de insumos

( x1 ,K, xi ,K, xn ) ∈ ℜ n+ a quantidade máxima y que pode ser produzida. A função de produção

f ( x1 ,K, xi ,K, xn ) define a fronteira do conjunto de produção.

Figura 18.1 de Varian (2006, cap. 18).

Produto médio: o produto físico médio do fator de produção i, denotado por PMei , é a quantidade

f ( x1 ,K, xi ,K, xn )
produzida por unidade do insumo i, ou seja, PMei = para xi > 0 .
xi

Produto marginal: o produto físico marginal do fator de produção i, denotado por PM i , é a variação
da produção gerada pela variação em uma unidade do insumo i, ceteris paribus. Mais precisamente,
pode ser definida, em termos discretos, como a taxa média de variação da função de produção com
relação ao insumo i:
f ( x1 ,..., xi + ∆xi ,..., xn ) − f ( x1 ,..., xi ,..., xn ) ∆y
PM i = = .
∆xi ∆xi
Ou, em termos contínuos, como a derivada parcial da função de produção com relação ao insumo i:
∆y ∂f ( x1 ,..., xi ,..., xn )
PM i = ∆lim ≡ ,
x →0
i ∆xi ∂xi

se este limite existir. se o fator de produção i contribui para a produção, então PM i > 0 para toda

combinação de insumos factível ( x1 , K , xi , K, xn ) .

Curto e longo prazo: o curto prazo de uma firma é aquele intervalo de tempo em que há pelo menos
um fator de produção fixo, ou seja, há pelo menos um insumo cuja quantidade a firma não pode
alterar. Já no longo prazo todos os fatores de produção são variáveis, ou seja, a firma pode alterar
quaisquer das quantidades utilizadas dos insumos.

Princípio dos rendimentos físicos (produtividades marginais) decrescentes: quanto mais se utiliza
um fator de produção i, ceteris paribus, a contribuição deste fator para o aumento da produção
tende a ser cada vez menor, ou seja, o produto físico marginal do fator de produção i é estritamente

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decrescente com relação à quantidade utilizada deste fator. Em termos matemáticos, esse princípio
∂ 2 f ( x1 ,..., xi ,..., xn )
pode ser estabelecido supondo que < 0 para todo i = 1,2,K, n .
∂xi2

Figura 18.5 de Varian (2006, cap. 18).

Isoquanta: é o conjunto Q ( y ) = {( x1 , x2 ) ∈ ℜ +2 : f ( x1 , x2 ) = y} formado por todas as combinações de

insumos ( x1 , x2 ) que geram o mesmo nível (máximo) de produção y.

Exemplo: tipos de tecnologias e suas isoquantas.

• Tecnologia com fatores de produção combinados em proporções fixas (tecnologia Leontief):


f ( x1 , x2 ) = min{ax1 , bx2 } , em que a > 0 e b > 0 são constantes paramétricas.
Valores das constantes paramétricas: a = 2 , b = 1 .

4
y 5
2 2
4
0 3
0
x2
1 2 1
2
3 1
x1
4
0 0
5 0 1 2 3 4 5

• Tecnologia com fatores de produção substitutos: f ( x1 , x2 ) = ax1 + bx2 , em que a > 0 e b > 0
são constantes paramétricas.
Valores das constantes paramétricas: a = 5 , b = 1 .

57
5

30 3

y 20 5
10 4
2
0 3
0
x2
1 2
1
2
3 1
x1
4
0 0
5 0 1 2 3 4 5

a b
• Tecnologia Cobb-Douglas: f ( x1 , x2 ) = Ax1 x2 , em que A > 0 , a > 0 e b > 0 são constantes
paramétricas.
Valores da constantes paramétricas: A = 1 , a = 1 / 2 , b = 1 / 2 .

6
8
y 6
4 8
4
2
6
0
0
4 x2
2 2
4
2
x1 6
8 0 0
0 2 4 6 8

Algumas propriedades da tecnologia: duas premissas comuns sobre as propriedades da tecnologia


são monotonicidade ou livre descarte (free disposal) e convexidade. Uma tecnologia apresenta
monotonicidade ou livre descarte quando é sempre possível a absorção de quantidades adicionais de
pelo menos um insumo sem que isto acarrete redução da produção. A função de produção é, sob tal
suposição, não-decrescente com relação a cada um de seus fatores de produção (os produtos
marginais são não-negativos) e, portanto, as isoquantas não são positivamente inclinadas. Uma
tecnologia é convexa quando a média ponderada de duas combinações de insumos ( x1 , x2 ) e ( z1 , z 2 )
que geram uma produção y, gera uma produção igual ou maior do que y.

Figura 18.4 de Varian (2006, cap. 18).

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Taxa técnica de substituição (ou taxa marginal de substituição técnica): Mede a taxa à qual a firma
deve substituir um insumo por outro para manter a produção constante. Intuitivamente, a taxa
técnica de substituição do insumo 2 por insumo 1, denotada por TTS ( x1 , x2 ) , é a quantidade de
insumo 2 que a firma pode reduzir por usar uma unidade adicional do insumo 1 e manter a sua
produção constante ou, alternativamente, é a quantidade adicional de insumo 2 que a firma deve
usar para abrir mão de uma unidade do insumo 1 e manter constante sua produção. A partir da
função de produção podemos determinar a TTS ( x1 , x2 ) . Considere uma firma que está utilizando a

seguinte combinação de insumos ( x1 , x2 ) . Imaginemos uma variação na quantidade utilizada de

cada insumo (∆x1 , ∆x2 ) , de maneira que a nova combinação ( x1 + ∆x1 , x2 + ∆x2 ) gere o mesmo nível
de produto y ou , equivalentemente, que a produção se mantenha constante ( ∆y = 0 ). Devemos ter,
então:
∆y = PM 1∆x1 + PM 2 ∆x2 = 0 .
Logo, a taxa média de variação ao longo da isoquanta Q ( y ) , a qual pertence a combinação de

insumos ( x1 , x2 ) , supondo PM 2 > 0 , é dada por:


∆x2 PM 1
=− .
∆x1 PM 2

A TTS ( x1 , x2 ) é, por definição, o módulo desta taxa:


∆x2 PM 1
TTS ( x1 , x2 ) = − = .
∆x1 PM 2
Façamos o mesmo exercício utilizando as ferramentas do cálculo. O diferencial total da função de
produção f ( x1 , x2 ) é, por definição:
∂f ( x1 , x2 ) ∂f ( x1 , x2 )
dy = dx1 + dx2 ,
∂x1 ∂x2
o qual fornece uma aproximação da variação da produção y quando a firma passa da combinação de
insumos ( x1 , x2 ) para a combinação ( x1 + dx1 , x2 + dx2 ) . Se a firma se mantém na mesma isoquanta
Q ( y ) , ou seja, sua produção se mantém constante, então dy = 0 . Logo,
∂f ( x1 , x2 ) ∂f ( x1 , x2 )
dx1 + dx2 = 0 ,
∂x1 ∂x2

da qual obtemos a derivada da isoquanta cuja produção associada é y = f ( x1 , x2 ) :

∂f ( x1 , x2 )
dx2 ∂x1 PM 1
=− ≡− ,
dx1 ∂f ( x1 , x2 ) PM 2
y = f ( x1 , x2 )
∂x2

supondo PM 2 > 0 . Enfim, a TTS ( x1 , x2 ) pode ser expressa como o módulo desta derivada:

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∂f ( x1 , x2 )
∂x1 PM 1
TMS ( x1 , x2 ) = ≡ .
∂f ( x1 , x2 ) PM 2
∂x2

Exemplos de cálculo da TTS ( x1 , x2 ) : na lousa.

Implicação do livre descarte e da convexidade da tecnologia: a propriedade de livre descarte torna a


TTS ( x1 , x2 ) positiva. Por sua vez, a propriedade de convexidade implica que a TTS ( x1 , x2 ) é
decrescente, ou seja, conforme aumenta-se a quantidade do insumo 1 (2) menor a quantidade do
insumo 2 (1) que é possível reduzir tal que o nível de produção mantenha-se constante.

Rendimentos ou retornos de escala:


• Uma firma apresenta rendimentos decrescentes de escala se ao aumentarmos todas as
quantidades dos insumos na mesma proporção, a produção dessa firma varia numa
proporção menor que a variação das quantidades utilizadas dos insumos. Formalmente, a
função de produção f ( x1 ,K, xi ,K, xn ) apresentará rendimentos decrescentes de escala se

f (tx1 ,K, txi ,K, txn ) < tf ( x1 ,K, xi ,K, xn ) para todo t > 1 .

• Uma firma apresenta rendimentos constantes de escala se ao se aumentarmos todas as


quantidades dos insumos na mesma proporção, a produção dessa firma varia na mesma
proporção que a variação das quantidades utilizadas dos insumos. Formalmente, a função de
produção f ( x1 ,K, xi ,K, xn ) apresentará rendimentos constantes de escala se

f (tx1 ,K, txi ,K, txn ) = tf ( x1 ,K, xi ,K, xn ) para todo t > 1 .

• Uma firma apresenta rendimentos crescentes de escala se aumentarmos todas as


quantidades dos insumos na mesma proporção, a produção dessa firma varia numa
proporção maior que a variação das quantidades utilizadas dos insumos. Formalmente, a
função de produção f ( x1 ,K, xi ,K, xn ) apresentará rendimentos crescentes de escala se

f (tx1 ,K, txi ,K, txn ) > tf ( x1 ,K, xi ,K, xn ) para todo t > 1 .

Elasticidade de substituição no arco: Mede a variação percentual média da razão entre os fatores de
produção x2 x1 relativa à variação de um por cento (para cima ou para baixo) da TTS ( x1 , x2 ) ao
longo de uma isoquanta, ou seja,

∆( x2 x1 ) ∆( x2 x1 )
) ( x2 x1 ) ∆TTS ( x1 , x2 ) ∆ ( x2 x1 ) TTS ( x1 , x2 )
σ= = = .
∆TTS ( x1 , x2 ) ( x2 x1 ) ∆TTS ( x1 , x2 ) ( x2 x1 )
TTS ( x1 , x2 ) TTS ( x1 , x2 )

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Elasticidade de substituição no ponto: É uma aproximação da variação percentual da razão entre os
fatores de produção x2 x1 relativa à variação de um por cento (para cima ou para baixo) da

TTS ( x1 , x2 ) , quando esta variação é infinitesimal (suficientemente pequena) ao longo de uma


isoquanta. Formalmente:

)
lim→0 σ .
σ = ∆TTS
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Supondo que x2 x1 é uma função derivável da TTS ( x1 , x2 ) e usando a definição de elasticidade de


substituição no arco, podemos estabelecer que:

d ( x2 x1 ) TTS ( x1 , x2 )
σ= .
dTTS ( x1 , x2 ) ( x2 x1 )

Exemplo: A função de produção com elasticidade de substituição constante (na lousa).

Exercícios: Resolva todas as “Questões de Revisão” propostas por Varian (2006, cap. 18). Resolva
os “Problems” 7.1, 7.3, 7.5 e 7.7 de Nicholson (2005, cap. 7).

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