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Posfcio a Para que serve a histria?, de Diogo Ramada Curto, Lisboa, Tinta da
China, 2013
Angela Alonso
Professora livre-docente, Departamento de Sociologia - USP
Diretora cientfica - Cebrap
a recepo de seus livros e ideias e os debates que travam entre si. A temos, por
exemplo, a recepo portuguesa de Bourdieu; o contraponto entre Keynes e Hayek,
e entre Skinner e Ginzburg, em anlises nas quais o vis comparativo traz alto
rendimento. E, last but not least, os intelectuais aparecem tematizados pelo lado
da interveno poltica, das relaes entre os acadmicos e o campo do poder.
Talvez seja essa senhora, a poltica, o grande fio condutor do livro. Aparece
sob sua forma grandiosa, como na investigao do contexto europeu ps Segunda
Guerra. Finca-se como tomadas de posio dos intelectuais, por intermdio de seus
livros, como de atos e alianas. Imiscui-se como poltica pblica, de preservao da
memria, dos arquivos. E ainda se infiltra como poltica pessoal, no tracejar das
relaes e contradies - entre a vida e a obra de intelectuais (como bem se v
no comentrio a Eric Hobsbawm).
Do comeo ao fim do livro, os intelectuais so no s tema como problema. O
livro se abre com Maurice Halbwach, seguido nos captulos subsequentes por
pliade de historiadores e cientistas sociais, portugueses como estrangeiros, do
longo sculo XX, no para delinear modelo explicativo abstrato, mas antes
descortinar as relaes entre a produo do conhecimento (histrico, sociolgico,
econmico, etc) e o contexto sociopoltico em que se encerra cada autor. O foco
incide nas tomadas de posio poltica dentro e fora dos textos, a mostrar que o
conhecimento nunca nasce neutro, que sempre envolve uma poltica, seja como ao,
seja como forma de pensar, seja explcita, seja negaciada. A tambm se aquilatam
e se desromantizam os intelectuais, que pendem muita vez esquerda, como
Braudel, que escreveu seu clssico O Mediterrneo no tempo de Filipe II na priso,
mas que tambm podem se enamorar pela direita: Ramada Curto o aponta em Karl
Popper, como o fraga em Vargas Llosa e bem o demonstra na relao dos
acadmicos portugueses com o Estado Novo.
A insero social dos intelectuais lana luz sobre essas tomadas de posio
poltica. O autor chama a ateno para a produo de obras chave de vrios nomes
de peso da historiografia portuguesa em situaes de marginalizao social ou
institucional em relao aos ncleos de poder nacional. Noutros casos, como o do