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II. A regra n 1
No nosso primeiro dia de aula eu lhes narrei o multicitado "caso do arremesso
de ano". Como se lembraro, em uma localidade prxima a Paris, uma casa
noturna realizava um evento, um torneio no qual os participantes procuravam
atirar um ano, um deficiente fsico de baixa altura, maior distncia possvel.
O vencedor levava o grande prmio da noite. Compreensivelmente
horrorizado com a prtica, o Prefeito Municipal interditou a atividade.
Aps recursos, idas e vindas, o Conselho de Estado francs confirmou a
proibio. Na ocasio, dizia-lhes eu, o Conselho afirmou que se aquele pobre
homem abria mo de sua dignidade humana, deixando-se arremessar como
se fora um objeto e no um sujeito de direitos, cabia ao Estado intervir para
restabelecer a sua dignidade perdida. Em meio ao assentimento geral, eu
observava que a histria no havia terminado ainda.
E em seguida, contava que o ano recorrera em todas as instncias
possveis, chegando at mesmo Comisso de Direitos Humanos da ONU,
procurando reverter a proibio. Sustentava ele que no se sentia o
trocadilho inevitvel diminudo com aquela prtica. Pelo contrrio.
Pela primeira vez em toda a sua vida ele se sentia realizado. Tinha um
emprego, amigos, ganhava salrio e gorjetas, e nunca fora to feliz. A deciso
do Conselho o obrigava a voltar para o mundo onde vivia esquecido e
invisvel.
Aps eu narrar a segunda parte da histria, todos nos sentamos divididos em
relao a qual seria a soluo correta. E ali, naquele primeiro encontro, ns
estabelecemos que para quem escolhia viver no mundo do Direito esta era a
regra n 1: nunca forme uma opinio sem antes ouvir os dois lados.
III. A regra n 2
Ns vivemos em um mundo complexo e plural. Como bem ilustra o nosso
exemplo anterior, cada um feliz sua maneira. A vida pode ser vista de
mltiplos pontos de observao. Narro-lhes uma histria que li recentemente
e que considero uma boa alegoria. Dois amigos esto sentados em um bar no
Alaska, tomando uma cerveja. Comeam, como previsvel, conversando
sobre mulheres. Depois falam de esportes diversos. E na medida em que a
cerveja acumulava, passam a falar sobre religio. Um deles ateu. O outro
um homem religioso. Passam a discutir sobre a existncia de Deus. O ateu
fala: "No que eu nunca tenha tentado acreditar, no. Eu tentei. Ainda
recentemente. Eu havia me perdido em uma tempestade de neve em um