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TEXTOS Texto 1: O QUE E O SABER © tenno saber possui um sentido bem mais amplo que 0 temo ciéncia, Designa tole um gonjunto complexo ..de “conkecimentos" metodicamente adquiridos, mais ou menos sistematicamente grganizados © susceptiveis de uma comunicagio por um processe, pedagézico qualquer de ensino. “Tanto pode aplicar-se a 2: | aprendizagem de de ordom pratica {saber fazer, saber ‘tenico) quanto as determinagées de ordem propearent ‘tednca Em outras palavras, deagna uma _Série de aquisigles intslactuais 20 mesmo tempo téenicas (praticas) e tedricas que se transmitem “Ho interior de uma catura, conferindo a seus portadores certa “sabedoria’, vale dizer, um modsio ‘de existéncia vinculado a determinada Visio de mundo. Nao se tata apenas de um "saber-fazer", embora possus algo de sua eficacia. Téimpouco se confunde com uma eincia, pois quase sempre é desprovido de controles intercubjetives. - Nao resta chvids que © portader de determinado saber possui, cm sex espirito, objetos abstratos (nogdes, relagbes, operagdes, dados da percepeio) e é ‘capaz de comunica-tos. Contudo, o termo saber designa ainda uma série de disciplinas intelectuais mais ou menos estabelecidas, embora n3o possum ser consideradas como propriamente cientificas: ‘0 saber racional, constituido pelas filosofias; 0 saber crente ou mistico, proprio das religides ou “teologias”; ¢ o saber estétice. tipico das artes em geral. Tradicionalimente, 0 saber se ope § ignorncia, a ausincia de conhecimento Na filosofia, orm, opde-se 8 creaga ou 4 opiniie, De um modo genérico, a cronga ¢ uma atituds pela qual afirmamos, com certo grau de probsbilidade ou do cortez, 2 realidads ov a verdade de uma corsa, cembora no consigames comprova-la racional ¢ objetivamerte Em sea sentido relirioso, desigma tum accentimento firme e seguro do espirtto, sem justificaco racional convmcente, a existéncia de uma realtdade transcendent ou divina (sindaim> de f) Quanto 4 opinigo, designa um ‘conhecitneuta imediato (baseacko nas experiéncias imediatas ou vividas) que se apresenta como um conjunc falsamente sistemitico de juiros, de represestagdes eaquematicas © sumrias, elaborado pela pritica ¢ pare a pritica, visendo traduzir as necersidades ou interesses em conhecimentos © designar os objetos por sua utilidade, Essas duas oposigSes (a cifneia = a opiniéo) revelam, de um ado, que 0 saber & 0 conjunto daquilo que aprendemos pela razao e pela experiacia, do outro, que esse conjunto sabido ¢ commnicavel a todes e "verificavel” por todos, Previameme a todo saber, sempre hi uma primeira aquisigio ainda no cientifica de estades mentais ja fommades de modo mais ou menos natural cu espontineo: o pré-saber. Relativamente ‘20 saber, este pré-saber tem as seguintes caracteristicas; 2. ncgativas ou pejorativas:opinide (daxa), conheeimento carium, conhocimarto vulgat, ee b. positivas: empiria, experiéncia, opinido sensata, senso comum, et ¢.técnicas: episteme ~ no grego, este termo significa "ciéncia", por oposipdo 2 "techne”, que designa os conhecimentos positives ligados 4 prética. - De qualquer modo, 9 pré-ssbor é uma reatidade cultural relativa ao sabe: ou a cifacia, Trata-se de uma realidade ambigua, cormportando decerminagdes contrénas ao saber (ertas, preconccites, idéias prevencebidas, tc) e rezurses de cqahecento ¢ de auvidades entasindispensaes ao saber (tenicas prévias, tc) ~~ w s+ Ne det A historia das cigncias nos mostra que todo saber 6 dominado pelo espirito de sua epoca, que marca suas instituicdes, suas crencas ¢ suas obras Nos scculos de fe @ de amoridads. 2 tedlogia era a rainha das ciéncias, A flosofia era sua serva. As outras cigncias ainda no existiam SO comegaram a existir quando eoftentarem a teologa c sua autoridade © proclamaram a independincia da Razio (rovoluglo galilzana do século XVI), A partir de ent, 2 Filosofia passa ‘a desempenhar um papel fundamental. Foi promouida a minha das ci Exerceu teu rein sobre 0 conjunte dos saberes particulares Mas fogo as cigacias proclamaram sua independincia. a filosofia teve 0 mesmo destino que 3 teologia: foi progressivamente destiteida de sou poder. As cifucias da natureze foram a primeiras a se emanciparem. As cidveias humanas so bem secontemente Pora tanto, tiveram que adotar rocedimentos positives, associar raciocinio 2 experimentago. Nos dias de hoje, 0 melhor htrunfo da ciénesz reside na homogenesdade de seus métodos O rmportante consiste om saber aliay um fermalismo idgico eum manejo experitenial pemtindo comprovacic ou 0 controle do comhecimento. Este rigor ¢ esta efiedcia #30 devidos 20s concetos operacionais, que eliminam os ‘conceites confusos, intwitives e marcados pela subjenvidade. Texto 2: OQUEE A CIENCIA A signcia é uma atividade especifica de conhecimento. Nao possutu sempre 0 poder @ a extensio que the ainbuimos hoje. Geograficamente. nasceu na bacta mediterranea. Sd no século XIX se difundiu, de modo desigual, em todo 0 planeta, Historicamennt, tem duas cestides de nascimento ‘a) sob a forma da matemética, da lagica e da astronomia, nasceu na Grecia, Essas trés cigncias ‘cram eminentemente especulativas: nao se destinavam a servir a nenhum desenvolvimento téenico. Tisham por fungi divertir e cukivar eidadies ociceos $6 secundariamante, fomeciam certa concep¢io do mundo. b) em seguida, ela nasceu no século XVII, com a revoluyae galileana, concemitantemente com Sistema mercantil. Deixa de ser um conhecmento especulativo e se umpde como um conhecimento visendo dominar a Natureza ¢ satisfazzr és necessicades priticas dos homens Por seu objeto por seus métedos, a nova ciéncia tem a pretensdo de conhecet (dominar} o munde fisico (physis - fisica ~ designa a matureza), Para tanto, comega a desenvolver o métedo experimental, Nem todas as pesquitas tiveram fins préticos Nem todas as as descobertas responderam a necessidades téenicas. Todavia, 2 ciéncia madema, que nasceu no século XVIL, nao nasceu da pure especulago, de uma revolugéo no campo das idéias. nasceu_desintesessada, de puras exigncias racionais ov espuituais de individuos preacupacos apenas com © mundo da especulagio gratuita, de indivicuos livres (artes liberais) porque nio trabalhavam. So 0s escraves trabalhavam. Os homens livres viviam no otium. Os primeires homens livres a trebalher foram_os bargueses, Dai surgiu © nec-otium, 0 negdcio (nemaedo da-ccis) Por isso, a clancia |8 nasce como uma atividade, no corso uma contemplagio, Treta-se de uma ciéncia de burgueses e de comerciantes que, mesmo no a fazendo, sonham com a apropriagio do mundo natural pelo conkecimento, do ‘mesmo modo como comecam 2 fazé-lo por sua atividade econdimica, Descartes define os objetivos da ciéacia: “tomar-nos senhores ¢ dominadores da Natureza" (A orixinalidads da ciéacia modema, denomisads {osofia experimental ou mecanicista, consiste om. te? di especulativas (matemitica c logica) para estadar a Natureza, pera domina-la ¢ gm poder (Saber é Poder, j4 dina F Bacon) Por irsso, a partir da revoluedo galtleana~ ‘newtoniaia, quando falamos de ciéneia, estamos nes referindo, essencisimente, a cténcia empirica ou experimental. A empiria designa o objeto da ciéncia a Natureza. 2 experimentacio designa _seu método: a venficagdo pela expenéncia ° Sendo assim, a ciéncia empirica ou experimental pode ser defimda come a modslidade de saber tendo por finalidade propor uma explica¢i0 rational e objetiva d2 realidade (natural @, ta “humana e social). Mais precisamente. 2 ciéacia ¢ a forma de conhecstiento que no somente pretende apropriar-se do real para explicé-lo de modo racional © metédico, mas procura ‘estabelocer, entre os fendmenos observados, relegSes unnversais ¢ nevessaras, autorizando a previsio de resukados (efeitos) cujas causas podem ser detecindas modiante procedimentos de contrcle experimental Blucidemses os termos principars dosss dating a. A cigncia é um conhecimento Deste ponto de vista, assemelha-s: ao "conhecumente enipirico”, 20 conhecimente do senso aa ‘comum, fundado na experigncia sensivel imediata (o fogo gueima, a ld mantem 0 calor, ete.) © a0 “pee | sneomento tieiso (a ane de fas: i 00 aguo) Ora, 9 ochecimerts empirico © 0 _pratica ratica, Ele e, antes de tudo, uma operacdo intelectual me ciattistas estudam a balistica, no Somente para mehora: o rendimeto da artiharia, mas para desabrir Iss gerais,validas para todas 05 corpos langados. Em seguida, « ‘poles artilheiros, pelos artifices © pelos langadores de misseis expaciais. Uma das carsctenstent &y tovedade, meeantl 00 ccapitalista, desde seu inicio, fot a diviso do trabalho, b. O conhecimento cientifico é ebjetivo "| A cifncia consiste em(Guuaciados. (eis)e em Gstemay_de_cnumntiados (teoris)) devendo responder, ao mesmo tempo, & CTMCHOs (Sais gracas 205 quai co ir uma coisa ga outra, a verdade do erro) de validade (cozresncia [ogica intema do enunciado ou do sistema de ! ~ | enunciados) 2 a eritérios de verdade (adoquzeio entre o enunciado 2 os fatos) Esses dois eriterios “| nos permitem evitar a apraciagao subjetsa Assim, © conhacuneato cietifice nl0_aceita_os ~ enunciados da linguagem corrente, repletos de contradicdo interna Leste alumo & pouco dotade era rmatematica porque vem de um misio modesto), também n§o_aceita os que se encontram em ‘contradigdo com outros enunciados ("o sol ¢ 0 centro da mundo endo se move "9. sol gira em tomo da terra"); tampouco accita os enunciedos que sio falsificados pela cexperimentagdo_ou_pola_observagio (Va astureza tem hover ao, vazc" ¢ desmennido pala : ; experiéneis de Puy-de-Déme}— tay cad po me fyeanihed Com essas duas condigdes, 2 ciéncia pretende atingir a objetividade ¢ obter o acordo (consenso) da comunidades cientifica. Mas 2 objetividade ndo é dada imediatamente. E conquistada pouco a pouco, por ratificagSes sucessivas dos erres ¢ por depuragdes das teorias. A ciéncia sempre deixa, fem alum lugar, zouas onde pode se infiltrar a subjetividade (A objetividade nfo é um atnibuto estencial (que pertence a natureza) do ecniceimanto cientfico_F seu nucleo dura, ¢ certo cercado do provavel e do duvidoso.) Ademais, o& concestas da cisncia diferenteniente dos couceiios da linguagom corrente ( equivoces), sio univocos (possuem um tinica significado ¢ aplicamrse da |. possumde apenas um sentido definide palo cientista para ce relagoes ‘Tecobrir um conjunto definido de fendmenos cA cigacia estuda os fendmenos O termo "fendmenos" _néo designa 25 coisas oy of fatos em seu estado natural, mas o fatos_ definidos, tnados, sel 5 € classificadas polos cientistas A quimica nao estuda a agua da tomeira, mas © composto quimico H2O 0 fisico, a0 estudar a queda dos compos, nao se meressa pela laranja que cai. Ele se linia 2 estudar uma esfere rolando sobre um plano imclinado Porque igiore 2 casos partculares So se_mtereiss pelos fenOmenos ques produzem_ sempre om condigses determinadas. Seu objetivo € © de estabalecer relagies universais ¢ necessirias 0 fle, Findmend sempre aparece & eu apaceementa, A relagio entre os a as condigies 4 i = 1 fenbmenos recebe 0 nome de Hei (algumas leis sio deseritivas, outras Sé0 causais) d, O cenhecimento cientifico faz previsées Cam a ajauda cas leis, a cléncia faz previsies _A previsio (nada tendo com a adiimhagio) & mats eficaz e mais Liitada que a "predipio" Peis els supde 0 domumo completo de um processo, vale dizer, 0 conhecimento de uma causa e de um efeito. os eclipses $30 previstos, ¢ prevista = trajetna de um missil, ete A simples “predicao" (sobre os astras, sobre o preco do petraleo, etc} indo estabelece elo necessario entre uma causa e um efsito. Sua amplitude é infinita: pode-se prever tamo @ morte de um lider politico quanto o casamemto de uma estrela de cinema, E aula a confianga que ne'a pode ser depositada (CF MC. Bartholy, Zee science, eprwemologie gnénérale, Magnard, 1978). Assim, podemos definir o conhecimento cientifice come a representaso causal oe _¢ objetiva da reatidade. Ora, se 2 ; realidade pode ser "representada", é porque existe “Independenternente (e antes) de toda representacio’ a realidad existe “fora” do conhectmento que : “temas dela, Em soguida, se o conhecimanio ciertifice € uma representacao dessa realidade reexistente. nao pode ser essa realidade. E por isso que existe representagdes da realidade “Pensemos nessas ropresentac6es universais que sZo os mitos. Os homens sempre representaram 0 mundo, A partir do século XVI a ciéncia aparece como o novo tipo de representagéo do mundo.” Mas trata-e de uma represertagio causal: "todo fata tem urna causa”, quer dizer todo fato ¢0. causa dé um fendmeno & 0 coni fame sos vale dizer, reproduzt-lo, pelo menes em pensamento Mas 2 ciéncia nio admite a causalidade transcendente, situzndo 2 causa do feiémenio considerado fora do mundo sensivel. a tenpestade & a manifestagio da colera dos deuscs. » Também nao aceita a causalidade substancial, consistindo em nemeat © que vemos acreditando ‘éo explicado. A causalidade, para ser cientifica, precisa liger um fonémeno real 2 outro fendmeno real. ademais, 6 indispensavel que 2 ligago entre os 6 mos seja suficientemente clara para que possamos comproendé-la e para que possamo reproduzr o fenémeno, pelo meios ‘em pensamento, Portanto, a causalidade, para ser cientfica, deve ligar us fenémeno real a um ‘Outro fendmeno real de tal maneir que tal hgagdo nos permita compreender a acio da causa sobre 0 efeito, de tal modo que possamios, pelo menos em pensamento, reproduzir o eftito pastinds da causa, Assim, a demarche (0 caminho) que vai da causa ao cfcito deve satisfazer as exigéncias da azhe: deve ser ooerente. Por isso dizemos que 0 discurso cientifico deve ser Wégico: uma vex admitidas suas premissas, no podemos nesar suas conclusSes. Veamos um exemplo conereto do conflito entre 9 modo Objetiva € 0 Subjetive (do senso eomum) de perceber as coisas Numa sala, o terndmzre texistia uma temperatura de 200, Ao colocar a mdo numa mesa de madeira, sitto-e moma Se 2 penve sobre o marmite, sinto-s meio fria Aprendemos na escola quo 2 madoira o 9 marmors tém a mesma temperatura, OQ marmore, melhor condutor de calor, absorve o calor de minha mio, por 1580, parece mais frio. A madeira, absorve rapidamente o calor da mio: por issa, parece mats quertte O que percebo, nio a temperatura da mesa ou do mirmore, mas uma propriedade mais abstrata. 2 condutibilidade termica da madeira e do mirmore Una barre de ferio me parece anda mas fina. pois 0 ferro melhor condutor do calor A sensasio que sinto esta em coatiadie2e com o resultado da medida da temperatura. Ha um conflito entre 05 dados subsetrves ¢ @ andlise crentifica do fenémeno que caracteriza essa expenincia, cujo instnumenta de medida ¢ 0 termametto, € que 03 dados dos sentidos (aqus, tocar) esto em confirto com a explicacéo cientifica Em sua interpretagio da avahiagao subjetiva da temperatura, 0 cientista rejerta o testemuntno dos sentides. O sentido do “tocar” no nos di a temperatura do objeto, Indica outra coisa A verdade dos scntides € rejeitada A ventade sobre @ mundo que nes cerca ¢ totalmente ciferente dequilo que nos mostrans os sentides {G2 subjetividade), A aparSncia subjetiva ¢ lusona. Deve ser reyetada. Ha uma epasigo entre © que ‘vem da sudjetividade (do acesso 20 murda palos sentidos) e 0 que resulta da demarche ci (do esfarco de representacae do mundo}. O que podemas ceduzir per 6 com NDSSOs.sentidos, experimentamos com nassas crtoydes ¢ Nossos afkxos, $6 tem. valor de verdade para nés; trata-se de uma opinite subjetiva, sem nenbvuma objetividade, A nogdo ide cbjenvidade, 20 contrario, nos ensina que a realidade nuca 0 que nds porecbemoes com nosz0s sentidos: as detomminagSes geométticas ¢ matematices que o cientista use ndo sto produtos da subyetividade, sacibett 26 pa thos Texto 3: OS TIPOS DE CIENCIAS A ciéncia.é um moda de conhecimento erftico 2) de um lado, exerce um contiole sobre suas plognas demarches ¢ utiliza cuténes _piectsos de validacdo. b) do outro, clabora_métodos pemrindo-the extender, de mode sistematico, 0 campo de sou saber A demarche ciontifica , 20 mecme tempo, reflexiva ¢ progressna Seus principios organzadores ndo the so fomecidos por tama instincis exterior E ela mesma que elabora sous crtenos de validade © os metados de su Pesquisa As idéias, of Critérins e 05 principios wilizados na demarche cientifica sao chamados € Dressupostos O estado desses “pressupostos” ¢ danommado 3 busta dos fundamentos. © corpus ztual dos conkecimentos cientificos & composto de txts grupamentos: I. 0 grupamento légico-formal é constituide pelas ciéncias formais (a logica ¢ as mateméticas) oa, simplesmente, pela ciéncia dos sistemas formais. tecrias léyicas. teories matematicas © suas respectivas consideragdes metatedricas, 2 0 grupamento fisico-fsiokigico © constituido pelas ciéncias ‘empirico-formais, construidas sobre o modelo da Fisica visam 2 realidade empirice, mas se exprimem na Imguagem logico-formal, conheciias pelo nome dé ciencias da natureza ou ca “realidade” (natural ow humana), opdem-se as ciéncias da pura idealidade matematica ¢ da puta projetividade discursiva da logica, 3 © grupamemto psico-antropoligico, hermenéutico ou interpretativo, é composto pelas ciéncias do homem, englobando es céacias humanas as ciéacias Fociais: todas visam, de um modo ou de outro, a realidade humana epreensivel ¢ registrave! nas ages e nas obras humanas. 1 O tipo légico-formal é 0 das matemati Tanto as teorias matematicas ‘quanto as teorias logicas poder ser erigidas em sistenias formais A idea de “sistema formal” da uma formiulagdo mats precisa a idéia de demeusiracde, A demonstrago constitui a base do principal crntério de validagio nas ciGncias formats é aecitivel o que & demoustravel. Assim, demonstrat uma proposigéo significa ligé-la, por uma série de ctapas, cada uma consistinds na aplicaggo de uma regra previamente reconhecida Estas etapas sfo articuladas entre si numa argumentacio A valdade de unig demonstracao depende da valitade das regras ¢ dos axiomas que ela utiliza Nos dias de hoje, o crnérios witimo de validacao ¢ a nio-contradirio ~ 2. © tipo empirico-formal por exceléncia & 9 dx fisica, Diferenternente das cidncias logico- formais, que descobrem seu cbjeto construinde-o, a fisica se relacions com um abjeto exterior, dado na expenéncia empirica: a realidade material ou natural considerada em sue manifistagSes no vives, Mos ela recorte a constsruSes teéricas andlogas as das ciéncias formas, ¢ utiliza amplamente a5 teorias matemticas. Possui um componente tedrico de naturera formal e um ‘componente experimental de natureza empirica Do ponto de vista metedologico, a quesido fundamental ¢ a da articulacio entie esses dois componentes. 0 critério de validagae dessas ciéncias ¢ complexo: coraporta, 20 mesino tempo, elementos formais a prior: (ndo-contradigio, ‘compatibilidade eatre teorias) ¢ elementos cmpiricos a posteriori, como o fomecide_pela “expenéncia. a 3. As ciéncias humanas eolocam um problema especial: elas se interessam pelos sistemas de comportamentos e d2 ages individuats e coletives, nos quais desempenha um papel importante & “Higuificacao (suacSes. condittas). Ha duas tendéncias’ a) alguns decidem colocar catre paréntescs essas significagdes ¢ tomar como modelo inspiredor o das ciéacias da natureza, notadamente © da de ongem tesfita, toma-Se possivelreaicar o controle enipirico sem fazer uso das significagdes, b) cos adnifom que € posive! se eaborar uma andise fevando em conia as sgnificagbes, no se 9 sentido imanente das agoes, das snstieugdcs, 233 obras, dos processes culturais ¢ soziss. 0 mitode prvilegiado ¢ 0 bermenéutico ou interpretative (tambéin Hhamads, par cporicis ao "ewplicatwe", de “eomsprecnsive") os efeitos vels 50 ¢ dos. cams ur texts 2 ser dacifigde ou decocficado Nas ciénctss humana. ‘otadamente na pstcandlise a kemenSizica copstitui wma won merphetatwa permininds se Vancular cartes fendimemos visivels a proacssos no perdeptveis que os tomam compreensivets ou _mitelagivens Texto 4: A ORIGEM DAS CIENCIAS HUMAN A possibilidade de um recoahecimento objetivo da realidade humana se efirmou, no Ocidente, bem antes dos tempos modermos Os filcsofos gregos yi refieuram sobre a realidade humana € elaboraram certa “antropologia” ou estudo das diversas culturas © cwilzagdes Todavia, a tomada de consciéncia de uma exiggncta metodoidgica de comunto ¢ a formago de disciplinas auténomas 56 aparecem no inicio da era modema, Porque somente nessa épcca (da revoluge cientifica) se afirma e se impde o livre exercicio de um sabsr do qual o hommem é, 20 mesmo tempo o sujerto € 0 objeto Aé 0 século XVI, 2 totalidade do unrverso do diseurso cientifico € regide pelo esquema da astro-biologia. Segundo cssa representagdo global, o dominio terrestre ¢ considerado como inferior ace astres-deuses @ cofre sua infludncia tranccerdante sua dotorminagio rege a totalidade dos fenémenos 2 dos acontecimentos aqui de baixo O mmcrocosmo terrestre reflete ¢ imita 0 macrocasmo dos astros-deuses A “ciéncia" dos horoscopos decifra, no ceu, os segrodos da terra e dos homens A astrologia ea alquimia so as disciplmas-chave de toda inteligibilidade na ordem da biotogia ¢ da medicina, bem como na oidem hisionca Existe uma espécie de predestinagio geral que prcibe, 20 dominio human, constinur um domimo idcpendente ¢ regico por lexs especifias. Este pressuposto astrolégice eo podereso que e recpeitads pela prépria cultura erst’ Porque Fornece ¢ unico modelo disponivel de racionaitdade ngorosa © pensemento escolastioo se contenta em superpor, a cosmclogia pag, os imperatives da revelacdo judzico~nst2. Lm Deus criador & onipotente preside a0 ordenamento universal Os mesites ctistos e mugulmanas (Tomas de Aquino, Alberto Magnotc) sio os figis executores testamentérios do pensamento grego (de ‘Anstiteles), Até a revolugio gabileana (século XVIN), a ordem da vida, as motivagdes, os comportamentes € ¢ devir da histéria se percabidos como os sub-produtos de uma escatologia {estado dos fins tltimos dohomem e do mando) No século XVII, Pascal ¢ Malebranche empregam a expresso "cidneias humanas" com uma ‘conotacio pejorativa, por oposicao as “ciéncias civinas", Com Galileu, as coisas mudam. Com sua luneta (1609), ele explora pela primeira vez © céu, att catio dominio resorvado dos astréloges. Observande satélites girando em tomo de Jupiter, compreende que deve ocorrer © mesmo com a ua, com 2 terra e com © sol, Nio se trata de uma simples descoberta, mas de uma revolugio na ordem do pensamento. As simpatias © antipatias, as afinidades e as analogias sobre as quais se furdava a operacdo do magico s80 bands do canine da pesquisa, docavante ficenda submetido as ciscrplinas da Razio (es qualidades sensivets so proscatas} O Universo se apresenta, doravante, ‘sob a forma dz wm continue fisice de extensdo undevinida, no interior do qual os fatos fisicos se condicionam uns sos outros em vieud> de nocessidsdes puramante materinis © logicamente demonstravers Conga, emo, a impor-se um novo tipo de ciéncia O saber tradicional, conservado nos livros € fazendo autoridade, cexeado de uma aurea de segredo e de sagrado, do lugar a eugéncis de_um corhccimento sacional, cbjetive, exsto, vertfcavel ¢ umversal O mundo do “mais cu menos” € substituido pelo universo da precisao. A verdad deve de ser objeto de contemplacio Deve ser constituila pela tora da demonstracie Doravante, "coniiecer" passa a sigraficar med, espenmentar, provar. Instaura-s¢ um novo regime da verdade A revohipao gahleana destro: aanvigo sistema de valores sem propor um novo A verdade downnverso é indiferente & reaiidade do omen) Esta dissociagie de "verdade'e da “realdade” acorteia uma dicotoma do ser humsno erdadio em egpinto de um umverso intchigivel mas un (regido por nommas rigotosas ¢ umpassiveis), devendo viver num minds aproximatwve end perdem seu scatido os imperatives da cléncia E nesse contexto que irdo sungir as cxincias humanas Dous ndo mtervem sig ne universo do discurso cientifico, deravante detentor de sua autonomia de gestio Com a retirada de Des, desaparece o papel da wologia, que garantia a unidade do sabor tradicional, cujos ramos se ordenavam seguade a peispeciiva de grande desimo da Crago - Os tg grandes eixes epistemolégicos, sobre 08 quais sc censtitecam as cincias humanas, fora. © eixo da ciducia Figorosa, o cixo da biologia ¢ 0 vixo da cultura ¢ da historia (ver meu uiroduyida as cncxis arianas, Sie Paulo, Letras e Letras, 19901) Texto 5: A CIENCIA E O SENSO COMUM © senso conmmum é um conjunto dz opines e de vatores caractenstices daquilo que é ‘correntememte aceito em determinado meio social. Consists numa séne de ctengas admitidas peles membros de determinada sociedade © que seriam pantilhadas por tedo ser racioual. Para ‘compreendermos a5 relagaes entre o "senso comum" ¢ o conhecumiento cicutifice, vejamos alguns dos principies elaborados por Bachelard (Zz formation de esprit secennifique, Vein, 1938) Sua posigéo é a de que a einers deve romper com o sense comum, cam © conhecimento imediato, com a sensa¢do, com a percepgdo: “ela nfo @ © pleonastia da expenéncis” Pelo contran, ela se constrdi contra a experiencia, contra a percepydo. contra teda saber stuitiva, Ela € uma operacdo especificamente intelectual que tem uma hist6ria, mas no possut “origens” ela & 2 génese do Real, mas sua propria génese ndo pode ser narrads, poss ne é a fiutificago de um. pré-saber Ele se constitui instaurando uma reptara com a epinife (ona). Para produzir um sober poritivo, deve negar um psoude-taber antenor O conhecimento cientifico se afirma sempre contra um preconcelto, Opée-s? 20 corhecimento indadual (opiniio, sonsag0, subjetividade) Enquanto a citneia busea causas éficientes, a opmiao vat direto as causas finats: Elucidemos 1850 com os ths principios 1. © PRIMADO TEORICO DO ERRO, Segunco Baciiclard, a objeuvidade de uma rdera sera mais clara e dictmta na medida em qus aparecer sobre 1m finds de eros mais profindos dversos. Para 2 salvanggardar o valor de uma sdom obyetiva, precisamos recoloca-la dentro do circulo das ilusdes imediatas. E preciso errar para se stingtr_uin fim. Por isso, toda objetivagio procede de urna eliminago de eizos subjeavos. Isto é mais uma cucstéo de direko que de fate, A vyeidade 59 adquire seu sentido completo no tézmmne de umia polérmica, Néo ha verdades primeiras. S6 custom erros primeiroz, A mass importante stividade do eujsito é 2 d2 se enganar Quante mais complate for seu erro, mag riea sera cus experiéncin A eepeniencia ¢ justamenie a Kembranca dos err0s retificados. O ser puro ¢.0 sor dasilndsdo. 2. A DEPRECIACAO ESPECULATIVA DA INTUICAQ. No ducr de Bachelard, "as tntuigaes so mutta iteis: servem para ser cestmnidas” Isto pode ser dto de outra forma’ "Em todas as cireunstincias. 0 imediato deve dar lugar co constnuido". "Todo dado deve ser encontrado como resultado" Enguaato a intuigdo net 4a 9 todo unt unico sfbar, a rofleva se detem diate de ama dificulsde paracular A intuigi © de bea fe iimgswis}. = Roz30 ede mite Ou melhor. nda tem fe" pensa destruindo, enniquocendo-se com aquilo que abandona Toda reftexdo sistematica procede de um espirito de contradisdo, de uma descenfianca em relacio acs dades tmediates. 3. A POSICAO DO OBJETO COMO PERSPECTIVA DAS IDEIAS, Ainda segundo Bochelard, "nés compreendemos 0 real na medida em que o organizamas. . Nosso pensamento vai ‘0 real, ndo parte dele", © mais rexl 6 sompre o mais retificndo, 0 ma:s distenciado das noes primeiras ‘Qual o atcance desses principios” Nam certe sentido, constitai uma baralidade dizer que 3 Ciixicia expuisa o ero, toma o lugar da rgnordneia, Ora, 2 wmnorarcia nao é a simples privacie do saber correspondcate; e © arre no é um simples acidente lamentavel, O espirto (a Rezo) ¢ pura poténcia de erro; 0 arto possui ums fuaeao positiva na génese de saber, a ugiorancia no é uma especie de lacuna ou de auséncia ela tom 2 vtalidade do instinto OG mportante é dizer a cidncia se faz contra o imedinto, contra as sensacies (impressées, expeniéncias mediatas ¢ stvadas, percepgoes) A evidincia primeira no ¢ ume verdad fundamental, fendmeno imediate no € 0 fenémeno imporante. A argicia (sagociade) critica no & uma consequéncis da cigncia, mas sua propria esséacia A ruptura com 0 passedo dos conecites, a polémica ¢ a diakética é 0 que encontramos no final da andlise dos mcios do saber A recusa é a mola propulsora do conhocimento: "9 atomo ¢ exatamentsa a soma das criticas As quais se submete sua primes imagem’. A ciéneia nfo eapta nem captura o Real Els incica a diveydo e a organizagao intelectual segundo as quais podemos ter a seguranca de que nos aproximames do real Nao hi real antes da ciéncia mem fora dela: “O Real nunca é 0 que poderiames acreditar, mas sempre e que deveriames ter peasado” E os concees ctentificos ndo sto cetilogos de sensagSes nem réplicas mentais de esséncias. Texto 6: POR UMA RAZAO ABERTA Desde Pascal, sabemos que a Razio tem razies que a Raziio desconhece: a do Coracéo, por exemplo. Precisamos da Rasio para efetuar a passagem entre as coisas do coracde e as coisas dz Tazo, Precisamos usé-la para demonsirar que ela ndo existe, n¥o $ onipotente, possa! limites. ‘Vejamos alzumnas definigdes: CIWF 25. d, palop ane RAZAO metodo de conhsermente fundaiia no caicuto ¢ na jouica (na orjeem, rae quer dizer calculo, discutso), empregado para resolver prot ToISratlos ao espimo, em fimgSo dos dados caracterizando unia situag3o ov um fendmeno A Razio cao ¢ um dado natural (contrariamente 2 wteligincia), mas um conyunto construdo 46 procedimentos, de Tapras © de_coerpdes, Esta constnagig teve lugar Se haoas “PoRSMGhe oma historia ea rerio, igada a hatona do Gcidente, 2 historia de uma cultura (greco-romana e judaico-cista) nascida no micio do século XVI Soha uma Razo {como nos mostra a valtdade universal das lois centificas). Mas ela pode se exprimir sob formas diversas O swwewlar da Razio ¢ compativel com o plural das racionalidades. O que é particular ac Ocidente ¢. por conseguints, a forma de racionatidade tipicn donosse cultura, 60 racionalisma RACIONALISMO: [) E uma visio do munca afirmando o perferte acordo entre o racional (coerénciaye a tealidade de_yniserso (exclat do real @ wrraefoaal € 6 a-racional), 2) E uma guca afirmando que #5 agées humanas ¢ as soowaces bawnas podein e Gevern ser racicnats em seu principio, em suas condutes ¢ em sua Sinalideds - Numa palavra, o racionahsmo ¢ a crenga “segundo 4 qual todo objeto pork scr peusad < toy problem pode set resold por um bow uso dh Raaio £ 0 fate de eriar a Rasio (sab fe Grate ccidetal a razfo eventfca) em SistoTA absoluto Neste sentido, 0 racionalssmo condnz ac cientificisma {veremas) RACIONALIDADE: Consiste no estabeiscimerto de uma adeguacéo entre uma coeBacia lgica {desentwa, explicatva) ¢ wma realidad smmunica_ ~ RACIONALIZACAO: Consisic na construgie de uma viedo cocrento ¢ globalizadora de mundo, mas a parte de dados parciais ou de um principig unico 2 visio ce um fnice aspecto das coisas (© rondimento, por evemplo), 9 explicagio em firng3o de vim unico fator (0 ceondmiC0, por eK), OU a ceranga segundo 2 qual os males da humanrdade so dovides @ uma tunica causa, constituem racionalizaggas. Neste sentido, "a ractonalizzco pode, a partir de uma proposiqdo inicial totalmente absurds ou fantasmatica. edificar ume consteuggo ‘oka @ dela deduzir todas as consequiucias priticas"(E. Mocie). - Em sea sentido psicanciitice, = racionalizagdo & um mecanisme de_defesa_suravis do_qual se prcende otfcar « etztcar meionsimente aiiudes ¢ me 1s real VY as desajos mnconscientes “ac {a mentira, por ex ) A fistona do racionalismao esti hgada A historia da cigncia ocidcatal Sabenos que © ractonalismo sistematico conduziy a er105, @ excetsos ¢, mesmo, a delirios, ¢ © cientificismo chegou a cegueias totalmente contririas 20 espirite cientifico Em geral, aesumiram a forma do reducionismo: tooria procurande explicer um fenémeno complexo reduzindo~o 2 sous elementos mais eumples, ex. reduga do mentai a processes fisico-quimicos: reduce da inteligéncia a um sistema do asssociagées ou de reflexes. do comportamento individual & leis soviologicas, redusdio das leis da oryanizacio social 4s les da fistologia, da etiologte das doenyas mentais 2 quimica do cerebro, a tzoria que prevente que as difesenas morais ¢ soviais cxtre of homens sie explicdvers por psewdo-difurengas ganéticas (teoria racista) Temos 2i exereseincias do racionalismo (raga vem de rato) ¢ do cientificismo bioldgice Donde 9 necessidade de uma “critica” da Razdo (deternitnar scus fimdamentos ¢ seus limites, para que nio os exceda, nao decrape nem dehirey. Ent nosso século, Backelard foi o primeira a elaborar tal eritica, a partir de uma triplice enguete 2 Uma historia da razio, Esta hixone pods ser itd © rec = porat da histone das ciéneise Nao ee trata de ums histéna sumplss, Slucionista e progressiva, mas de ums hustoria complexa, plural, fragmentada, reolzta de rupturas ¢ dofosegons N3e possut um "sentido" linico ou ultimo, Nao desemboca em neniiuma “hyao" mors] ow poles Dela se pads tirar una, politica da raze. Porque a raza possut desattos © so desorn relagio a eles Assim, pata que @ alquunia se decida a crder o lugar a quimuca, @ preene gue os deiatios (filosoficos ow ‘eligiosos) da alqunua apareyem como politica © social leceressnntes que os da quimica (conguista do mundo pela burgu: exdints) Porasto, os procecmentas da Rario devern sempre sor relacionados com sous d2satios, # estos, coi 0 contexte politica Uma psicanilise da razao. O que impede o deseavolsimento da razio (» das ekacias) sf0 0s ebstdculos oriundos do imagingrio (conjusto de ceprescmagées. crencas, eoseies @ sentumentos através dos quais 0 mdividuo v8 a realidade ¢ a ss mesmo) Nio se trata de elumunar o imagmamo {pois é cle que alimenta o progtesso), mas de faze bom uso d. tomar uma distdrcia ericiea fem relagio a ele. E 3 psicandlise que permite so tomar essa clisténcia Donde a importincia de se psicanalizi-o, c Uma espectrografia dos idolos foriaces peta razao. Em seu sentido reiigioso, o idolo ide eidolon’ imagem, fantasma, simulacro) 2 uma representacdo plastica de uma arvmdade filosoficameate, constitui um evo engaance falsa aparéncia da verdade: aossas idsias sho idolos, na medida em que consttuem poténcias do imaginaria, Por isso, 2s rdvias clentificas precisam passat por uma catarse da linguagem (himpar ¢ tinguagem. purficar 0 discurso, formalizar as roposigaes: 0 erro da flosofia anaiitica foi o de co limttar a reso, 0 de crer que a anilise podia tomar o lugar da filosofia, a0 mves de considerd-ta apenss como uum meio. um instrumento). Nio se trata de nos situarmos fora da Filosofia para Tazermos episteroiogta Na final do século XVIH, os sucessos da fisica permiteni se conesber um unnverso determinista totalmente uneligivel ao calzulo. Um deménio idea), wnagmade por Laplace, podvita deduzir todo estado presente ou futuro desse universa, O racionaitsmo dispSe de uma visio do mundo comportando identidade do real, do racioaal, do ealeulavel, da qual se cxcluin toda desordem, toda subjetividads A Razio se converte no grand mito unificador do saber. da ettca e da politica Todos quesem viver segundo a razio, repudisndo os apelos ca patnfio, da fe das emoees. & sociedade pretende se organizar segundo a razia, isto €, segundo 2 ordem ¢ a harmania. Tratase de uma razio liberal, o bomem podendo optar. abo so pelo despots esclarecido. mas pela democracia ¢ a liberdade permitinds & razdo coletiva exprimsr-se e & rasBo mdividual éesebrochar- O OBSTACULO EPISTEMOLOGICO Texto ‘Se procurarmes as condigoes psicologicas do progresso da ciéncia, logo chegaremos a convicgio de que o problema do conbecimento cientifico precisa ser posto em termes de obstaculo. Por “ebstéculo epistemologico", Bachclard (La formation de esprit svientifigue, Vein, 1938) designs as resisténcias ¢ mércigs ao, ato mesmo de conhecer, levando 9 “espinto” a aceitar apenas 0 ee, the ¢ familar, facil G29 que o impedia. por sss mesmo, de alevarse - espirtaaimente e de punficar-se a fim de responder as mcyancias,de um conhecimento abjetivo, F no eta mesmo de conhiccer gue ariarevem. par unt especie de necessicdade fiancroma, “ Be % rewurdin ¢ nermurbaydes Bal erue descetroremos casas ie estugeatyin eae regressiin: 6 al gue descobriremos canvas de inércia ys teamremnes de oN aC} semaingwces (@ 13) Engin primpica Ginidnita), as gpmorabeagies Frtte estes obsticulos, Bacholard ena 3 ox apressadas. a armadilha das palavras, a necesendade od? umende ¢ ve aniafade. a “swhisio substancialisia” ou as projordes aninustas (9 aximsino e a crenca segundo a qual a naturega & -eqida por alas ou espisios, 2nilogos 2 vomtade humaea) Ae cede: a uma espontancidade ‘gnnadots, 0 prnsamento se bloqueta 2 52 condona a nd ating seu cbjcro : Segundo Bachelard (sinter v adapto seu texto, 9 conbecimm no do real e mia luz que set prota sombra em algum lugar Ele ss Fecorrentes. Ele nunca & 0 gue podina3i9s ack i 2 pongagn Veltanda sobre um passaco de erres, encontranios s verdade him serdadeue arvependumeato wntelectual. De 4 fato, conhecemos contra. um_conbecomento antcnot, destrumi conbecmiite: mal feitas NBO Partimas do zero Nao fazemos tabilus raver dos conhecimentos was Diante do real, o que ~ sy, acteditamos saber claramente, ofisea c que devenames saber Ao cenddatar-se a cultura ‘entities, © espirtio munca @ joven. E ors mocma bastante velho, gos tom a dade do seus preconceitos Aceder & ciéncia, § rejuvenescer-se cspintustmente, © ae0t3F uma mutacto que contradiz um passado : Tanto cm sua necessidads de acabamento quanto om sea pracipic, a ciéncia se opde tadiealmente i opinifio (dora). Se, em alrum pouto. che la, § por mazdes diferentes das que fundam a apmye. Sendo assim, “de direte”, a Opinio eta sempre errada. Ela pensa , mad alias. la nfo pensa Apinas traduz nocascui ales ex conhusimentoe E aa dosignar os ebjetos por sua utiiade, ele se mpede de conhecé-Ios Nada pod> ser fundado a2 opmsdo. Em primero lugar, precisamos destruida. E 0 priacizo obsiaculo 2 ser ultrapassado. Q.esbinia cieatifica nos yoipede de termos uma opinide sobre questiies que ndo compiocademey yeu sabemes fomular footy pe a yorstsino ‘A chamada opiniio piblica nada mas ¢ qu 9 pexsagento dommaniz, mum empe.ou quia sociedatle_determnades, sebrs_as quasides polnicas. cconenucss, socwus, culturals, moras, e Ela se forms. cssencialinente, por imitagio ¢ interacio social, segundo a cendigio. © 0 Meio sociais dos induviduos O eonformismo vs condigdo fundamental ds opinido piibliea ao procurar ser roconhaeide coma alguém, como pessoa, o ndividus e levada 9 ser e a compertar-se come todo munds Em razio da evolucdo democratica, confermds 9 opto politica uma lmportiners muito grande (consultas eletors, arogagaada polaica, publieudade. ete} € 40 prourcsso tecnoldzica que crtou podiases melos de comumcarlo, prucura-se cada vez meas combivcer a cpinide dos individues com precisio. 4 medida das opimides ¢ feta pelos métodos de sordagen: ‘Quanto 2 episteme, trataese d> uni temo grave fe 6 saber ob, mats precisamente. © conhecimento racionsh para destgnar a “eiéneia’. por oposicae a “tecté”, que designa es coakectmentos postvos ligadas as praticas Foi reintroduzide na tmgaazem flosdtica por Michel Foucault Wes rouss er tes choses) para designar o espaco historicamente situade no qual st reparte © eonjunto dos enunceados que se referem a terrtorias empinces consutundo © objeto de unt corhectmento pace (aio cientifice). Em outras pala:ras. a episterme donyy:a © modo pameular come se artioula © saber de uma epoca historica E estsnor a cifaen, es a conchctona e constitu s2u “solo, conferinde uma unidade subjacent? as doferentes ciscmlmas Quanda passames de uma fepisteme 4 seguinte, hi um fendmeno de rupnie Mas ha una ceetGncia no interior Ge cada cpisteme. Assim, a do Renascimento ¢ caractertzada pelo voncesto semelhanga (para se constrvir 0 sober, provure-se decifiar as analogies eatre as cosas) A da idade cléssica valoriaa as identidades «as diferensas, pois ¢ » hustoncicsde que se toma Faidadors do conhecimento, com 3 Formiagao dae eigncias humana: Fazet 9 arqucologia de ura epistont: e doscobnr as regras de ‘organizagio que sustentam os enuscrzdos quo se referom ans torreanes empinicos que fornzem 0 cobjote de um conhecimento positive poder de previsio, sp: mal iuzacio, rossi dade ds “ross Ya aplcagdes, compost dade com “cemcs principios ou com um saber adquincis, o atords obtida extre os espe O saber é assunlnds 4 eigncia, qualificads de rcional = ob=na A okt opomos tdo 9 que podemes reagrupar sob as denominagdes a opinides ou de juizas de valor. “saberes” subjetives, Deste modo, constiuimos uma murslha entre a pratica ciewtfica 2 raco o que se diz, se escreve ou se pensa no exterior das cidnciss No fundo, esta divisdo racteal entre a cigacia (abjetiva) c as ‘opmides (subjeuvas) tem servido para a desqualificagic daquilo que nie merece © nome do *ciéncia”, a subjeuvidade € 05 yuizas de velor E pars 2 cesqualificagio dos semtimentos, das necessidades, dos desejos, do indwviduo, do sua vida, etc, face as exigéncias "obyetivas” da roalidade" Assim, a oposigla entre 0 saber objetivo e as opmées sudjetvas pemmitends tracat uma linha de demares¢ao eatre 0 que pork ser ace:to © o que deve ser r@jeitade por agueles que detim o poder que o saber Ihes confere Vejamos os principals imperatives do saberiabjetive © universal} que decidem o que deve ser acento ¢ 0 que precisa set rejenado 2. devemos nos ater 20 que € observivel © que no é cbse ae nas decisdes a serom tomadas, nfo podemos levar er conta (gers s seyguranga, para a defosa, para ‘a cxpanséo econdmica, para a ordem, para a selapo escolar, ofc } os smitinwentos @ as descjos das pessoas pertencem ap domino da trrenlidade subjewva, no somente a vida “interior"(semimentos, deseyos. necessidades), mas tudo 0 que diz respoce aos meressos individuals das pessoas (inclusive sua vida e sua morte) b devemos nos ster wos fates Deveings afastax 3, "yuizos de valor" que questionsm os fitos avalsados pelo poder. Essos yuizos deve ser rejettades & thule de “opines subjetivas", desprovidas de reaksma e de obyctividade © devemox nos ster A realidade Prover madanicgas que Podei_e quando. sip prévtracadas na “ieelidedr’ estabe antealsia {mpedir tais mudangas e agsr em contends @ devemios nos ater a0 que é cficleate N39 poxcmas gevita” o wleal eontemplatg da sacia A caincin produtora de rquezas dv Francie Bacon tomou-se 2 podorosa aliads da produgio snducinal El se metamorfoseia progressivamente em toeialaga, num discurso sobre as técnicas, pretendendo «or operatona (cficaz) toda 1ealudad2 que nq concoms, direta ou ndiretamente, para 2 plodugie, o que nie pode ser vali abildade, (tachada de wrealiadad> € devemos nos ater ao que € cientffica e objetivo Tudo 0 gus gscana ao saber cigmifica $ Fora das ciéncias $6 hi tagarclices ¢ cpindes svbjeusas Q cotulo “cientifico” gra: todo “saber” umiverstino ¢ ecodémco. vale. dizcr, o “saber” IRSUEGIE mattucionalizado pelos detenters da poder E tude o quo se diz fora decse saber metrtucionattzads e considerado como nao-

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