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DOCUMENTO DA COMISSÃO POLÍTICA

Sobre a crise
e os meios de a vencer
23 MAIO 2010

Este é um documento num contexto de subida acentuada


de trabalho, debatido PARTE I dos défices públicos em resultado da
em reunião alargada Elementos de análise crise, contribui para a subida dos juros,
o que só acentua, num ciclo vicioso, o
da Comissão da crise e do risco de
risco da dívida soberana, e (2) o próprio
Política do Bloco recessão ou depressão BCE financiou a 1% bancos comerciais,
de Esquerda. O seu que depois compram títulos da dívida
O Wall Street Journal revelou, a 26
objectivo é promover soberana a juros muito mais altos (da
de Fevereiro deste ano, alguns deta- Grécia chegou a 10%, de Portugal che-
o conhecimento lhes de um encontro em Nova Iorque gou a 6%), embora os grandes bancos
detalhado das medidas entre representantes de alguns hed- europeus tenham actualmente menos
que estão em curso e ge funds, bancos de investimento e apetite pelos títulos da dívida. De uma
discutir a melhor forma outras sociedades financeiras, em que forma ou de outra, o capital consegue
de as combater. pontificavam o fundo de George So- rendas elevadas, sem risco significativo.
ros e a Goldman Sachs. A economia da Assim, as dívidas públicas tornaram-se
Grécia teria sido definida como o alvo o maior mercado financeiro global, ul-
mais vulnerável, segundo o jornal. Seja trapassando as Bolsas como lugar de
verdade factual ou simplesmente uma determinação dos rendimentos de ca-
lenda conspirativa, o facto é que, nos pitais.
finais do ano passado e depois sobre- Esta transformação é muito im-
tudo entre Março e Maio, os ataques portante e demonstra os riscos reais
especulativos que se multiplicaram de uma globalização desvastadora.
contra o euro, a partir da dívida sobera- Como o Bloco de Esquerda tem ana-
na da Grécia e depois de Portugal e da lisado nas suas últimas Convenções,
Espanha, foram sistemáticos e, sobretu- este processo de globalização finan-
do, foram bem sucedidos. ceira é também um processo de alar-
O processo de transferência de gamento da exploração absoluta: os
valor seguiu duas vias muito simples: trabalhadores, além do trabalho não-
(1) a pressão dos fundos especulativos pago, financiam ainda a acumulação
que operam nos mercados financeiros, de capital pelas transferências através
DOCUMENTO DA COMISSÃO POLÍTICA DO BLOCO DE ESQUERDA [1]
de impostos e pela diminuição do sa- tivos influenciam a política do euro. sequências. A primeira é  a forte ten-
lário indirecto com a desagregação Desta forma, estes países deixam de dência recessiva, ancorada nas políticas
dos serviços públicos. O agravamento ter política cambial e monetária pró- monetárias e fiscais, com a austeridade
de impostos e redução imediata e me- pria e as autoridades europeias são que procura garantir a transferência rá-
diata dos salários, para pagar os juros limitadas na determinação do curso pida de valor para os capitais especu-
da dívida, é uma das formas dessas no- do euro, pois dependem do sistema lativos. A segunda é ainda mais amea-
vas transferências. financeiro internacional. Assim sendo, çadora: estamos a voltar às condições
todos os ajustamentos económicos de 1930, com mercados desregulados
Assim, a globalização entrou em têm que se fazer por via do trabalho que resistiram às ligeiríssimas pressões
crise com a recessão de 2007-9 e, des- (salários, emprego e impostos). Ou para maior controlo público.
de então, sucederam-se duas fases seja, a política da União Europeia não Enquanto a UE atira para 2014 as
distintas de reestruturação do capital é recessiva por escolha dos adminis- primeiras medidas efectivas de con-
financeiro: tradores do BCE ou sequer pelos seus trolo dos movimentos de capitais pa-
> A Fase 1 da crise (2007 e 2008), estatutos: é recessiva pela natureza da ra os offshores, estes continuam a ser
que começa no Verão de 2007 e vai até relação económica que representa e protegidos pela generalidade dos go-
ao colapso do banco norte-americano está estruturalmente à disposição da vernos: por exemplo, o governo portu-
Lehman Brothers, desencadeou uma finança. guês acabou de retirar as Ilhas Caimão
resposta imediata com a intervenção Acresce que, perante a crise da da lista dos “maus” offshores, porque
de Estados, refinanciando os bancos globalização, as próprias medidas que evidentemente são o entreposto pa-
com activos tóxicos, nacionalizando procuram assegurar os rendimentos ra o dinheiro que circula a partir da
alguns e protegendo outros. Com essa do capital financeiro são recessivas. Madeira. As práticas de acumulação
intervenção maciça evitou-se o efeito Com aumento de impostos e dos juros gananciosa resistiram muito bem: o
dominó de 1929. O BCE financiou ban- e com redução dos salários, reduz-se governo prometeu o fim de bónus nas
cos comerciais europeus para rees- a procura interna (e a procura externa empresas participadas, mas a propos-
truturarem os seus activos. Os bancos em termos agregados dada a replica- ta nem foi admitida à votação, dada a
europeus deixam de investir nos EUA ção nacional destas políticas com es- indignação dos accionistas e dos visa-
e canalizam parte dos fundos para tí- cala europeia) e portanto as empresas dos. E a banca portuguesa vangloria-
tulos de dívida dos países periféricos produzirão e venderão menos, aumen- se de continuar a pagar cerca de 10%
europeus. tando a capacidade produtiva instala- de IRC. O financiamento público da
> A Fase 2 (2010) é marcada pelo da não utilizada e logo o desemprego. banca, por via de avales e garantias
aumento dos défices públicos, em re- Todas estas medidas têm um efeito que em 2008 e 2009 asseguraram o
sultado da crise, e pelas consequentes cumulativo, porque o consumo cons- seu acesso aos mercados internacio-
acrescidas necessidades de financia- titui 60 a 70% da procura interna e vai nais a juros baixos, nunca teve contra-
mento. Os bancos europeus, num con- reduzir-se, ao mesmo tempo que a pro- partidas reais.  
texto em que aumenta a percepção do cura de bens de investimento também
risco soberano e com os seus balanços se reduz para níveis medíocres (cai 17% GRANDES ESTRATÉGIAS
só parcialmente recompostos, deixam em Portugal do início de 2009 ao fim EM CONFRONTO
de comprar dívida soberana da peri- de 2010, segundo a previsão do BdP):
feria com a mesma intensidade. Isto todas medidas agravam a corrida para Partamos então destes riscos reces-
favoreceu o ataque especulativo em a recessão, seja pela redução dos ren- sivos e desta transferência de valor pa-
curso desde Janeiro de 2010. dimentos do trabalho, seja pela redu- ra o capital financeiro para podermos
Mas, ao mesmo tempo, estas su- ção do investimento público e privado. usar um critério rigoroso de avaliação
cessivas fases da crise da globalização O risco de aproximação de uma longa das diversas estratégias possíveis que
financeira na Europa demonstraram a depressão com deflação é por isso bem estão em conflito. São essencialmente
fragilidade do Euro. Existe o entendi- real. três:
mento, sobretudo entre a burguesia Por outro lado, a pressão para o au- 1. O euro como instrumento de
alemã, de que, como moeda de refe- mento dos juros da dívida e a descida preservação da financeirização coloca-
rência para pagamentos internacio- do rating dos bancos comerciais deter- da em risco pela actual crise
nais e de reserva de valor, o euro exige mina que o custo do crédito seja cada 2. A desagregação do euro
uma disciplina monetária imposta a vez maior, e por isso será racionado. Os 3. A luta social como motor da re-
todos os países. Ora, dado que a forma bancos portugueses estão já a quadru- forma da arquitectura europeia para
predominante de financiamento das plicar o spread dos novos empréstimos enfrentar o plano europeu de austeri-
dívidas públicas é por via dos merca- e a reduzir o acesso. Essa contracção do dade como mecanismo de transferên-
dos financeiros, mesmo as economias crédito acentuará a recessão à escala cia para o capital financeiro.
mais fortes ficam sujeitas a condicio- europeia. Vejamos estas estratégias uma por
namentos: esses mercados especula- Temos por isso duas grandes con- uma. 
[2] 23 MAIO 2010
1] O Euro disciplinado para sus- Bloco e uma parte das esquerdas euro- países do euro torna-se muito elevado.
tentar a financeirização sem fim e o peias têm proposto. Mas essa resposta A política recessiva e o saque que
saque das economias europeias não ocorreu e, pelo contrário, o governo institui é uma grave ameaça ao movi-
Esta é  a estratégia do governo alemão e a Comissão estimularam a es- mento operário e popular. O Bloco de
Merkel, que arrasta consigo a Comis- peculação. Depois, instituíram um me- Esquerda tem como certo que a apli-
são Europeia e, no caso do governos canismo de coordenação que, agora, é cação plena desta política representa-
Sócrates, com o apoio do PSD e CDS: o mais poderoso que a Europa já teve: ria uma derrota muito profunda e um
um Pacto de Estabilidade com sanções o plano de 750 mil milhões com regras recuo para a luta social, em particular
mais fortes, a intervenção directa da draconianas contra as economias (ver para o movimento sindical e para a es-
União (isto é, do governo alemão) no abaixo). A União Europeia procura as- querda política.  
controlo dos orçamentos nacionais, o sim salvar os sistemas financeiros: de 7
condicionamento de ajudas a medidas milhões de milhões de euros de dívida BLOCO CONTRA
drásticas de desvalorização do salário pública da zona euro, cerca de um terço O PLANO EUROPEU
e de aumentos de impostos, de cortes está nos activos dos bancos. Esta é uma O governo apresentará uma pro-
nas despesas e privatizações. Como gigantesca operação de resgate do sis- posta de lei com o Plano europeu e o
nos anos 30, a redução do salário nomi- tema financeiro, na Fase 2, porventura plano de austeridade num mesmo pa-
nal é a solução imposta: são para já 5% a maior da história do capitalismo. cote. Neste caso, já não estamos a falar
em Espanha e 14% na Grécia, e são 5% Mas não é certo que este Plano Eu- de qualquer empréstimo de emergên-
em Portugal previstos até 2013, mais ropeu seja uma resposta suficiente pa- cia, mas sim das condições de um plano
o efeito dos impostos (efeito imediato ra a crise da zona euro, mesmo com a orçamental impondo medidas a toda a
em Portugal de 2,5%). transferência de valor que assegura. De zona euro e, em particular, aos países do
De facto, a Grécia é meramente um facto, esta política agrava estrutural- sul. Por outro lado, se no caso da Grécia
pretexto, e é por isso que a atitude da mente os problemas destas economias, votámos apenas a autorização de endi-
Comissão e do Conselho são tão reve- porque não se obtêm ganhos de com- vidamento para o empréstimo, agora
ladoras da sua estratégia fundamental. petitividade por via da redução salarial. estão em debate medidas inaceitáveis,
A economia da Grécia representa 2,5% Por isso, a estabilidade do euro está tanto pelas medidas de austeridade que
do PIB europeu e 3,8% da dívida total, sempre ameaçada: se as economias aí se definem como pela intromissão na
e portanto pesa pouco. A coordenação não crescem, todo o ajuste fiscal reduz capacidade de cada Estado conduzir a
de políticas europeias podia facilmente a procura e portanto resulta em reces- sua política económica, mesmo nos já
garantir uma resposta contra os espe- são; se há a curto ou médio prazo nova estreitos limites do Pacto de Estabilida-
culadores, com medidas como as que o recessão, o risco da exclusão de alguns de e Crescimento.

O fundo europeu
O fundo de 750 mil milhões de euros inclui uma parti- situação de incumprimento que afectaria fortemente os seus
cipação do FMI de um terço, imposta pela Alemanha, próprios bancos (que reforçaram, a partir de 2007, os seus in-
como condição para a sua viabilização. A posição da vestimentos em dívida pública de países periféricos). Assim,
Alemanha teve com objectivo forçar a aceleração dos o empréstimo à Grécia, este novo fundo e a decisão imposta
processos de ajustamento orçamental com medidas ao BCE de comprar dívida pública nos mercados secundários,
adicionais (o pacto PS-PSD em Portugal). cumprem uma função muito importante de salvação da banca
alemã (e francesa).
Além disso, com a criação do Fundo são introduzidas altera- O Plano inclui três verbas. Em primeiro lugar, o Mecanismo
ções importantes na relação entre as instituições europeias de Auxílio Mútuo (60 mil milhões), financiado por emprés-
e os Estados nacionais. A mais importante dessas alterações timos obrigacionistas a contrair pela Comissão Europeia.
é a que estipula que uma maioria dos Ministros das Finanças Criado para países não membros do Euro, é agora estendido
possa alterar os orçamentos aprovados pelos parlamentos aos países da zona euro, mas é duvidoso que tenha alguma
nacionais, e que existe um visto prévio dos projectos de Orça- realidade financeira. Em segundo lugar, uma verba de 440
mento antes de serem discutidos nos parlamentos nacionais. mil milhões, com um veículo estruturado constituído a par-
Para além dessa alteração, a Alemanha está a pressionar os tir de contribuições dos Estados-Membros, proporcionais às
Estados-Membros para consagrarem constitucionalmente li- suas participações no Banco Central Europeu. A contribuição
mites para o Défice e a Dívida Pública (já defendido em Portu- do Estado português é de 1,75% (portanto cerca de 7,7 mil
gal pelo PSD e CDS, e agora pelo ministro Luís Amado). milhões, ou seja quase 5%do PIB). Finalmente, 250 mil mi-
Não se julgue, porém, que as pressões da Alemanha resultam lhões são financiamento do FMI, o que mostra a fragilidade
do seu menor interesse neste plano de intervenção. Pelo con- da resposta europeia e o interesse dos EUA na estabilização
trário, o Estado alemão não tem nenhuma vantagem numa monetária europeia.

DOCUMENTO DA COMISSÃO POLÍTICA DO BLOCO DE ESQUERDA [3]


O Bloco de Esquerda vota contra durante trinta anos. Na década de 70
este Plano Europeu e as suas condi- do mesmo século XIX repetiu-se esta
ções. O Bloco apresentará um projec- situação. Claro que a interdependência
to de resolução em alternativa, rejei- económica era muito distinta da actual,
tando a submissão dos Orçamentos e era maior a protecção de cada uma
a visto prévio, propondo a solidarie- das economias que cessava pagamen-
dade europeia com um sistema de tos. Apesar disso, houve casos em que
empréstimo à taxa de juro da dívida os credores responderam com a guer-
soberana do país credor e a emissão ra: a ocupação militar do Canal de Suez
de dívida europeia para financiar nos finais século XIX, o ataque à Vene-
projectos para a criação de emprego zuela em 1902-3 e a acção militar dos
e políticas sociais. credores contra a Nicarágua em 1909.
As economias mais poderosas utiliza-
2] A desagregação do euro ram outros recursos para reestruturar
Alguns economistas de esquerda as suas dívidas externas: Keynes cita os
apresentam as seguintes alternativas: casos da Bélgica, Alemanha, França e
ou temos um “euro mau”, que impõe a Itália, que fizeram empréstimos na sua
austeridade, ou um “euro bom”, que de- própria moeda e a desvalorizaram de-
la nos protegeria, ou a saída do euro. E pois, prejudicando assim os credores, o
concluem que, sendo a primeira alter- que aconteceu também com os EUA e o
nativa a pior, e a segunda requerendo Reino Unido. Noutros casos, a negocia-
uma difícil convergência política à es- ção permitiu desvalorizar a dívida: em
cala europeia, restaria a terceira. Acon- 1953, a República Federal da Alemanha
tece, no entanto, que uma forma sinis- conseguiu um desconto de mais de
tra desta alternativa pode vir a ocorrer metade na sua dívida externa, com no- UMA DIFERENÇA
mais por força da imposição da Alema- vas condições (entre elas, o serviço da COM O PCP
nha do que por vontade soberana dos dívida não podia ser mais do que 5%
povos, se uma nova recessão dificultar das exportações). Na mesma década, a O PCP, nas páginas do “Avante!”, criti-
a disciplina orçamental na actual zona Áustria e a Grécia renegociaram as suas ca o Bloco por não ter recusado a lei
euro, com acréscimos de impostos e dívidas. Em 1971, a Indonésia fez um do primeiro empréstimo de emergên-
queda de salários. No entanto, a con- acordo semelhante. E, recentemente, cia à Grécia. De facto, aprovámo-lo,
tinuidade da actual arquitectura mo- uma das primeiras vitórias políticas do sabendo que nessa lei portuguesa
netária europeia acentua as probabili- Bloco foi impor no parlamento ao go- não se impunha nenhuma condição à
dades de um cenário de desagregação verno Guterres a anulação de grande Grécia e que assim não contribuímos
para o defaulta do Estado grego, que
da zona euro, mais não seja porque se parte da dívida de Moçambique. Mas
cessaria os seus pagamentos, in-
perpetuam as assimetrias que deram em todos os casos as economias do-
cluindo dos salários.
origem a uma acumulação que agora minantes permitiram ou favoreceram Mas a divergência com o PCP é mais
se revela insustentável em défices e ex- esses acordos. profunda: o voto do PCP é determina-
cedentes comerciais, sem que existam O exemplo mais recente é o da Ar- do pelo apoio ao KKE, que na Grécia
mecanismos viáveis para os atenuar. gentina, que conseguiu reestruturar defende desde sempre a saída do
Esses economistas comparam o parte da sua dívida, mas que sofreu um euro e da União Europeia. Ora, o PCP,
risco da saída do euro com outros pro- ajuste brutal com a desvalorização da que nunca propôs nem propõe essa
cessos históricos de cessação de pa- moeda e portanto também dos rendi- solução, coloca-se numa posição es-
gamento de dívidas externas. Houve mentos internos, a começar pelos salá- tranha: vota para que o Estado portu-
de facto muitos casos de cessação, ou rios. A economia argentina recuperou guês ajude a impor a saída da Grécia
do euro, mas não quer que o mesmo
suspensão, ou reestruturação dos pa- mais recentemente, depois de um do-
aconteça no nosso caso.
gamentos da dívida externa, mas esses loroso processo de ajustamento.
Este é um debate irrelevante. A op-
exemplos demonstram precisamente Vejamos a esta luz o caso da Grécia. ção que se discute em Portugal, en-
porque é que esta alternativa é tão difí- Se a Grécia saísse do euro em resposta tre os partidos de esquerda, não é a
cil. No século XIX, quando da recessão e às pressões da União Europeia, deveria saída do euro, mas sim a criação de
crise das bolsas em 1825, ocorreu uma desvalorizar imediatamente a sua nova alternativas para políticas de criação
forte queda dos preços das matérias- moeda, e de modo muito importante. de emprego e de decisão democráti-
primas, arruinando as economias de Mesmo que nacionalizasse os bancos ca contra a especulação financeira, a
países produtores, e alguns Estados e controlasse os fluxos de capitais pa- partir da recusa do plano de austeri-
da América do Sul, bem como o Méxi- ra o estrangeiro, como teria que fazer dade europeu.
co, suspenderam os seus pagamentos para poder proceder à transição com
[4] 23 MAIO 2010
menores custos, so- a globalização re-
freria dois impactos almente existen-
recessivos cumula- te – somos euro-
tivos: primeiro, des- peístas contra a
valorização com au- globalização fi-
mento do custo das nanceira, porque
importações, com a só vencendo a
consequente perda globalização fi-
de capacidade de nanceira podem
compra dos salários; ser impostos os
depois, novo agra- direitos do tra-
vamento do défice balho e pode ser
pela queda de re- combatida a for-
ceitas fiscais. Na me- ma actual da ex-
dida da fragilidade ploração.
dos sectores produ- Assim, o Blo-
tivos e exportadores co deve reforçar
A GRÉCIA TEM SIDO PALCO DE FORTE RESPOSTA SOCIAL
da economia grega, o combate con-
a resposta ao seu tra as instituições
grande défice da balança corrente se- 3] Enfrentar o Plano europeu de e as políticas da União Europeia quanto
ria provavelmente mais austeridade. austeridade para defender o salário à resposta a esta recessão e quanto às
Só uma economia que exporta muito e emprego novas medidas de austeridade. E, nas
pode beneficiar imediatamente da des- Existe um terceiro campo de alter- medidas concretas, diferenciamos os
valorização (a Grécia “importa” turismo, nativas, que assenta numa estratégia campos em que queremos que haja
que representa 20% do seu PIB, mas a de interligação de lutas europeias con- solidariedade e políticas comuns euro-
imagem de instabilidade poderia com- centrada em políticas económicas e so- peias, e os campos em que queremos
prometer parte dessas receitas). É por ciais para o emprego e na abertura de que haja mais liberdade de decisão na-
tudo isto que a escolha política é tão espaço para políticas nacionais contra cional para proteger a criação de em-
determinante: os sectores dominantes a globalização. prego e encontrar soluções viáveis para
da burguesia grega vão procurar a todo Essa estratégia exige duas clarifica- as economias em maior dificuldades.
o custo manter-se no euro. ções, que vão no sentido da política que
A ideia de uma aliança do movi- o Bloco sempre tem defendido. A pri- O Bloco tem promovido ou
mento popular com a burguesia gre- meira é que não temos qualquer con- apoiado várias iniciativas de coope-
ga para a saída do euro e uma solução fiança nas políticas e nas instituições ração com partidos das esquerdas
“nacional” é irrealizável e prejudi- que dirigem a União, nem qualquer da Grécia, de Espanha e de outros
cial. A interdependência económica expectativa na sua reforma ou na sua países, através de comícios conjun-
determina uma integração crescente capacidade de enfrentar a crise: como tos (Atenas, Madrid) e acções de
das burguesias nacionais (sobretudo se escreveu atrás, estas instituições são solidariedade com a Grécia. Essas
os sectores ligados à finança e ao co- promotoras da crise e da transferência iniciativas vão ser alargadas, com
mércio externo) e transnacionais e, de valor do trabalho para o capital. Só a uma semana europeia de solidarie-
por isso, a burguesia grega não fará mobilização pode travar a actual ofen- dade com os trabalhadores da Gré-
mais do que agarrar-se ao euro e ten- siva contra o mundo do Trabalho. Sem cia (em que se realizará um comício
tar impor a austeridade ao seu povo. a refundação da Europa como um pac- em Lisboa, com o Synaspismos) e
A esquerda tem que disputar em pri- to para o emprego, substituindo estas depois com um comício em Berlim,
meiro lugar as alternativas nacionais regras e estas instituições do PEC e do em Junho. O Bloco colaborará com
que são europeias. Tratado de Lisboa, não haverá política as distintas iniciativas e propostas
O risco está  ainda noutro lado: europeia para responder à crise e ha- que reforcem a solidariedade com os
quem pode querer impor uma fuga em verá sempre políticas europeias para trabalhadores gregos e que comba-
frente - com a exclusão de alguns paí- agravar a crise. Sem esta alternativa, a tam a imposição das condições dos
ses do euro, ou um euro a duas veloci- política europeia será incapaz de res- mercados especulativos. 
dades (que significaria o mesmo) - é a ponder à crise e multiplicará as políti-
Alemanha, se as circunstâncias levarem cas que a vêm agravando. Esta é a política que responde à cri-
Merkel a preferir os custos da crise aos A segunda clarificação decorre se com uma perspectiva europeia. Mas
custos da sustentação da moeda única. desta: a nossa defesa da dimensão não temos ilusões sobre as relações de
E isso seria péssima notícia para os tra- europeia da luta social e política que forças: não existe nenhum governo que
balhadores.  define a esquerda é contraditória com defenda tal perspectiva, e as conver-

DOCUMENTO DA COMISSÃO POLÍTICA DO BLOCO DE ESQUERDA [5]


O plano de austeridade
do PS e do PSD
DO LADO DA RECEITA: mais). O que significa condenar alguns serviços públicos
> Aumento do IRS: +1% para os rendimentos à desagregação.
superiores ao salário mínimo, +1,5% para os rendimentos
superiores a cinco salários mínimos, +1,5% para as taxas O PACOTE RECESSIVO NO SEU
liberatórias. Este aumento, para além de praticamente CONJUNTO: PEC 1 E PEC 2
não conter progressividade (o que significa que a taxa Estas medidas e aquelas que já  constavam do PEC
aumenta mais em termos relativos para os escalões mais 1 (privatizações, congelamento de salários, etc.), aliadas
baixos), contém uma penalização igual ou superior aos aos recuos na política de investimento público, consti-
rendimentos do trabalho em relação aos rendimentos de tuem o mais forte pacote recessivo a que temos assistido
capitais tributados em IRS. nas últimas décadas. De acordo com o INE, a procura pri-
> Aumento de 1% do IVA: também aqui, o aumento vada interna foi o factor mais relevante nos tímidos sinais
da taxa reduzida é mais significativo em termos relativos de retoma que se registaram no primeiro trimestre de
e tem um impacto social muito maior. 2010, e será a primeira a ser afectada. Em contrapartida,
> Aumento do IRC: +2,5% da taxa legal para gran- os resultados líquidos que a banca mantém, mesmo em
des empresas e banca. A medida é positiva mas convém tempo de crise, são totalmente inúteis para a recupera-
ter em conta que falamos de taxas legais. ção da economia. A banca mantém uma política usurária
no crédito ao consumo e ao investimento, ou seja, é uma
As medidas fiscais são aquelas em que o governo
parte do problema da recessão.
tem assentado a ideia de que os sacrifícios são distribu-
Assim, se a política de elevação da tributação da ban-
ídos igualmente por todos. Esta é a ideia que é mais im-
ca sempre fez sentido, essa política tem hoje uma per-
portante contestar porque reside numa tripla falácia. Em
tinência particular porque é a única forma de mobilizar
primeiro lugar, os rendimentos do trabalho vão ser pena-
recursos que, em caso contrário, são totalmente inúteis
lizados duas vezes, através do aumento nas taxas de IRS
do ponto de vista da dinamização da economia.
mas também dos aumentos do IVA. Depois, o aumento
da taxa de IRC é corroído pela relação entre taxas legais
e taxas efectivas, nomeadamente no sector da banca. Fi-
HAVERÁ PEC 3, E BEM DEPRESSA
É por isso que este programa de austeridade, apesar
nalmente, a justiça fiscal implica concentrar a obtenção
do seu radicalismo, não será ainda o fim da linha. O agra-
de receita onde os rendimentos são maiores, deixando
vamento da recessão terá impactos do ponto de vista do
de fora aqueles que já suportaram outras medidas de
austeridade no passado presente e longínquo. crescimento, criação de emprego, receita fiscal, despesa
com prestações sociais e ajustamento orçamental. Não é
DO LADO DA DESPESA: de prever que o ciclo vicioso termine por aqui. Aliás, o ar-
> Redução de 150 milhões nas indemnizações gumento do Governo - “todos estão a fazer sacrifícios” - é
compensatórias para as empresas públicas – trata-se falso. Se o plano de austeridade e as suas consequências
ou de uma desorçamentação da dívida, passando-se dé- nos rendimentos e direitos do trabalho apostam num
fice para as contas das empresas públicas e aumentando crescimento movido a exportações, como tem afirmado
os custos dos transportes, como já foi anunciado. o Governo, a aplicação de programas semelhantes por
> Corte de 100 milhões nas transferências para as essa Europa fora deixa a economia portuguesa sem gran-
autarquias. Aqui trata-se de um corte efectivo imediato. de parte dos seus mercados de exportação. A crise é um
> 5% de corte nos salários de políticos e gestores ciclo vicioso.
públicos, mas a medida não abrange gestores de empre- Por isso, a estagnação da economia portuguesa de-
sas privadas, incluindo as participadas pelo Estado. Não terminará  a incapacidade de sustentar o pagamento
está prevista nenhuma medida de tributação extraordi- agravado da dívida, e levará o governo a novos aumen-
nária desses rendimentos. tos de impostos ou novas reduções dos salários. No prazo
> Congelamento das admissões na Função Públi- político de que ainda dispõe, que é o do Orçamento para
ca e generalização da regra de 1 entrada para 2 saídas (ou 2011, o governo trará um PEC 3 agravado. 

[6] 23 MAIO 2010


gências entre a social-democracia e o das dívidas nacionais. A admissão, em
liberalismo são estruturais, mesmo que desespero, da possibilidade de compra
alguns partidos por vezes delas se dife- de dívida pública pelo BCE, bem como
renciam (o SPD alemão não aprovou o a admissão da possibilidade de um
Plano Europeu da senhora Merkel … e empréstimo obrigacionista, demons-
de Sócrates ou Zapatero). Não haverá tra como esta proposta é correcta.
aliança de governos do Sul da Europa Desta forma, os Estados manteriam a
para reformar o euro. sua responsabilidade sobre a sua dívi-
Devemos por isso sublinhar a im- da, mas esta seria paga aos juros mais
portância de outras dimensões do vantajosos e em condições negociadas,
combate à globalização financeira, vencendo a chantagem dos mercados
nomeadamente de meios de acção financeiros.
que permitem escolhas económicas > Contra o congelamento dos or-
para a criação de emprego. Com a ac- çamentos comunitários, exigido pelos
tual arquitectura monetária europeia, a grandes da Europa, a esquerda deve
competição económica tem sido orga- ferenciação entre dois sectores da eco- defender o seu reforço substancial,
nizada em torno do esfarelamento dos nomia: o primeiro, promovido por uma orientando-o para políticas de coesão
direitos laborais, que facilita a quebra política de industrialização que expor- social em escala europeia. A exigên-
da relação entre a evolução do salário te, e portanto defenda a economia das cia de uma componente europeia de
real e a produtividade. Nesta corrida pressões externas melhorando a balan- segurança social, complementar dos
para o fundo, a Alemanha, precisa- ça comercial, e o segundo, um sector sistemas nacionais, e a criação de um
mente a economia mais forte, tem sido protegido de serviços públicos de qua- fundo permanente de apoio aos traba-
“bem sucedida”, graças à compressão lidade, desmercadorizando a produção lhadores vítimas de despedimentos co-
salarial. de bens comuns, e que constitui a única lectivos, são as propostas que podem
A primeira e principal é  a defesa possibilidade sustentada de criar em- dar corpo e expressão concreta a esta
e extensão do contrato de trabalho. A prego.  viragem.
contratualização do trabalho, deter- A quarta é a regulação europeia dos > Contra a liberdade de circulação
minando um salário independente da mercados financeiros (taxação das tran- de capitais, defendemos ainda o con-
conjuntura financeira imediata e da sacções financeiras, aumento do peso trolo do sistema financeiro e medidas
especulação, e ainda a instituição da da banca pública e controlo de capitais de força contra a especulação e os
protecção social, tem não só um efeito para fazer face a ataques especulativos) offshores, que devem ser interditados.
redistribuidor da riqueza como nenhu- e alteração do papel do BCE, que deve- > Imposição de uma taxa sobre
ma outra política jamais alcançou, como ria guiar a sua política monetária pela transacções financeiras: uma taxa de
tem ainda o efeito de estabilizador au- criação de emprego. 0,1% sobre transacções financeiras re-
tomático da economia no seu todo, por presentaria receitas de 920 mil milhões
via da sustentação da procura. O contra- de euros, mais do que o total do plano
to de trabalho, o salário, a redução da
precariedade e a defesa da segurança
PARTE II europeu. E com justiça. 

social devem ser os pontos fulcrais da Elementos 2. Nunca perder de vista que o
acção económica de uma estratégia al- de resposta política inimigo também está no nosso pró-
ternativa com viabilidade. De facto, a fle- prio país.
do Bloco
xibilização do trabalho, essa “demolição A política baseia-se sempre numa
metódica da relação salarial fordista” co- estratégia e na visão clara da relação
São dois os nossos focos de aten-
mo lhe chama Frederic Lordon, acentua de forças. Por isso, partimos de uma
ção e de resposta, sendo o segundo
a mercadorização do trabalho, ao passo constatação: se é  indispensável esta
desproporcionadamente mais impor-
que o contrato a combate. dimensão europeia da recusa do pla-
tante para a agitação e para a mobili-
A segunda é  a defesa de políticas no de austeridade e de apresentação
zação. 
fiscais autónomas. O aumento das recei- de alternativas consistentes, a força do
tas fiscais é a única resposta possível à Bloco deve estar concentrada no movi-
1. Uma resposta europeia consis-
bola de neve da dívida e, portanto, aos mento de resposta e contestação que
tente contra a nova recessão.
mercados financeiros. E é uma questão determine a relação de forças, a partir
No plano europeu e com o quadro
essencial de democracia económica de uma situação inicial desfavorável,
anteriormente apresentado, insistimos
contra uma das formas mais violentas para todas as soluções que estejam em
nas seguintes propostas:
de acumulação, a via da evasão ou dos disputa.
> Um sistema de emissão de dívida
benefícios fiscais. Desse modo, tornamos claro que o
europeia, de que uma parte pudesse
A terceira é uma estratégia de di- inimigo também está no nosso próprio
ser trocada por 10 ou 15% dos títulos
DOCUMENTO DA COMISSÃO POLÍTICA DO BLOCO DE ESQUERDA [7]
país, que não transigimos com alianças corta a relação umbilical entre os ban- multiplicação de forças. Nesse contex-
comprometidas que desarticulam a cos e especulação imobiliária, aumenta to, o Bloco escolherá no seu tempo
capacidade de combate dos trabalha- o valor real do salário e das pensões, re- próprio as formas de confronto com o
dores à espera de uma burguesia na- constrói a relação de vida nas cidades, governo, seja através de uma moção de
cional que, de facto, é parte integran- cria emprego. censura ou da exigência de uma mo-
te da especulação financeira contra a 3. Ainda para limitar o endivida- ção de confiança, e da apresentação de
economia nacional e portanto contra o mento e relançar a poupança interna, propostas alternativas que confrontem
salário e o emprego. Respondemos por o banco público devia enfrentar as os partidos, o PS e a sua aliança com o
isso ao PEC 1 e 2 – e ao PEC 3 que vem respostas especulativas dos bancos co- PSD e mesmo com o CDS, com as pro-
a caminho – com uma política socialis- merciais: este é o momento de a CGD messas eleitorais e com a crise social
ta que procura influenciar a massa dos desferir um golpe duro na banca co- que a sua governação está a provocar.
trabalhadores e a opinião pública. mercial, ganhando partes de mercado
com juros não especulativos. Em toda esta intervenção, sabe-
VENCER A IDEOLOGIA 4. Ao mesmo tempo, o Estado de- mos sempre distinguir entre as bata-
DO “SACRIFÍCIO” via atacar a banca comercial com o lhas de trincheira e as batalhas de mo-
Em conclusão, sublinhamos três estímulo à poupança, promovendo vimento. De trincheira são os debates
orientações fundamentais. um empréstimo interno com o relan- acerca da protecção social aos pobres,
A primeira é  disputar a opinião çamento dos certificados de aforro, em aos desempregados, e a qualificação
pública, para evitar o isolamento da condições melhores do que os depó- do investimento público: respondemos
luta dos trabalhadores. O que está em sitos a prazo propostos pelos bancos com propostas, com informação, com
causa é vencer a estratégia do medo, privados. debate, enfrentamos os preconceitos
que levaria à aceitação de todos os “sa- 5. São necessárias medidas em re- e os avanços das ideologias reaccioná-
crifícios” em nome do risco internacio- lação aos mercados financeiros, como rias. Mas batalhas de movimento e de
nal – essa é a propaganda do PS e do o controlo de movimentos internacio- contra-ataque é a informação acerca
PSD. Se esta ideologia do sacrifício ven- nais de capitais. das desigualdade, dos bónus, da acu-
cer, o movimento dos trabalhadores é 6. Retomamos a proposta do Im- mulação de fortunas, da exploração do
derrotado neste confronto. posto sobre as Grandes Fortunas, para trabalhador, da especulação financeira,
Assim, o Bloco reforça a sua agita- financiar a segurança social. da forma como os bancos enriquecem
ção sobre os prémios milionários, os 7. Finalmente, o investimento pú- com a especulação contra a economia
bónus de favor, a acumulação da bur- blico deve ser defendido e qualificado, portuguesa. Em todos esses terrenos,
guesia ascendente e dos boys, porque com prioridades claras. O Bloco propõe queremos criar agenda política, de-
é a melhor forma de combater a ide- a prioridade da reabilitação urbana, terminar o debate nacional, tomar a
ologia do sacrifício. Damos tudo por com os seus efeitos na redução do en- ofensiva, propor medidas que ganhem
tudo na denúncia das transferências dividamento, na criação de emprego apoio social, fazer maiorias no país, iso-
de rendimentos para a especulação e na redução de custos da habitação. lar os partidos de direita e o governo,
e para a ganância e fazêmo-lo com Ao mesmo tempo, temos recusado e enfraquecer as medidas de austerida-
casos e nomes. Os militantes devem recusamos qualquer recuo nos investi- de, fazer crescer a força da esquerda.
estar conscientes de que o aprofunda- mentos previstos que criem emprego e Não descuramos por isso, também,
mento dos argumentos, dos exemplos sublinhamos que a ofensiva ideológica a resposta ao pilar da “cooperação es-
e dos números do saque à economia contra o investimento público é uma tratégica”  que é  o Presidente: a nossa
portuguesa, são o melhor serviço que das frentes principais dos ataques da apresentação do projecto das uniões
a agitação popular pode fazer contra a direita. de facto, vetado por Cavaco Silva e que
austeridade. A terceira orientação insiste na deve agora ser imposto pelo parlamen-
A segunda orientação é a apre- acumulação de forças para a luta ge- to, sublinha como as correntes ideoló-
sentação de medidas concretas e neralizada. As dificuldades das últimas gicas mais reaccionárias desprezam os
consistentes, como as “15 medidas greves são notórias, mas a resposta po- direitos das pessoas e a necessidade de
alternativas ao PEC”, ou as nossas pro- lítica da manifestação de 29 de Maio uma política de democracia que inclui
postas orçamentais. Assim, insistiremos pode e deve criar um novo contexto todos os direitos. O debate presiden-
nas seguintes propostas: para o confronto com os pacotes de cial deve sublinhar essas diferenças e a
1. Pacote financeiro: taxa efectiva austeridade. A unificação da luta com sua força depende da apresentação de
de 25% de IRC para a banca, imposto a perspectiva de uma greve geral, a ser uma visão alternativa ao situacionismo
de 75% sobre bónus especiais; taxação convocada pelos sindicatos no tempo económico, com propostas contra a di-
das transferências para a Madeira e ou- da mobilização social mais forte, é por tadura dos mercados financeiros e da
tros offshores. isso o caminho que deve ser seguido. austeridade e em defesa do trabalho,
2. Medidas para limitar o endivida- Uma greve forte implica um movimen- do salário, do emprego e dos serviços
mento: o plano de reabilitação urbana to de base, a criação de confiança, a públicos.

[8] 23 MAIO 2010

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