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Coleção Memórias da Figueira
Volume: I
Editora – AVBL
2009
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
ISBN: 978-85-98219-49-3
03-06-09 CDD-869.93
DE PÉS E A FERROS
ISBN: 978-85-98219-49-3
EDITORA AVBL
www.editora.avbl.com.br
e-mail: editora@avbl.com.br
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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“De Pés e a Ferros”
Coleção Memórias da Figueira - I
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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ÍNDICE
- AGRADECIMENTOS 6
- PALAVRA AO LEITOR 7
- MEMÓRIAS DA FIGUEIRA 11
- A idade da figueira 13
- A chegada dos colonos alemães 14
- O PROGRESSO CHEGOU 83
- Nasce a primeira criança na nova Colônia 86
- A navegação pela Lagoa 91
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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- “Te amo mais do que tudo no mundo...” 100
- Leite é que não falta... 102
- CONCLUSÃO 140
- DADOS BIOGRÁFICOS DE JOSÉ FELICIANO (...) 141
- DADOS BIOGRÁFICOS DE FRANCISCO DE (...) 142
- FONTES DE CONSULTA 144
- NOTAS EXPLICATIVAS 145
- FIGURAS em “De pés e a Ferros”. 149
- COLEÇÃO MEMÓRIAS DA FIGUEIRA 150
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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AGRADECIMENTOS
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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PALAVRA AO LEITOR
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Observem que Drummond (1981) registra, na
minha compreensão, um toque de ficção espetacular em
“Contos Plausíveis”:
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Observei, por exemplo, duas corujas que ali
haviam estabelecido habitação. Além do ninho, elas
encontraram nessa árvore alimento, que consistia na
caça a morcegos que à noite ali circulavam, além dos
figuinhos, que amadureciam no outono.
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heroísmo de todos os colonos pioneiros que acreditaram
na idéia, esta Colônia não teria nascido.
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MEMÓRIAS DA FIGUEIRA
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Figura 1: O autor conversando com a figueira
(Fotografia de Cristiane Müller Sounis Saporiti, 2008.
Arte final do autor, 2009).
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Finalmente captei algumas palavras. A figueira dizia: -
“Amigo, o que fazes aqui, com esse livro e essa caneta?”.
A idade da figueira.
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Ela continuou: - “Ora. Carrego, registrada em
minha memória, a memória de minhas antepassadas. É
do tempo quando aqui somente viviam aqueles que
vocês chamam de índios. Eles moravam aqui e se
entendiam muito bem conosco, procurando a harmonia
com as árvores, com o rio... Enfim, com toda a natureza.
O entendimento dos índios a nosso respeito, e o nosso
sobre eles, era de verdadeira amizade. Depois vieram
pessoas de outros lugares. Gente que chegou para logo
enxotar os índios. Os habitantes nativos não souberam
mais, desde então, qual o lugar que ainda era deles. Os
invasores, não só agrediram os índios... Eles agrediram
tudo, a floresta, o rio, os bichos e, tudo o mais...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Acho que fiquei um pouco ruborizado com essa
indiscrição. Eu nem imaginava que eu fora tão desatento
com a amiga figueira. Mas o que ela dizia, era verdade.
Minhas idas ao Sítio da Figueira haviam sido, sempre, em
razão de Doris. Estava interessado em cativar o coração
dela, com os meus agrados. Eu vinha com rosas e
abraços apaixonados...
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SEMEAR OU PERDER A SEMENTE
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Pinheiro. Em minhas andanças por esta região eu vi um
lugar muito mais propício para receber as vossas
lavouras. Trata-se do vale do rio Três Forquilhas.
Pretendo assentá-los lá...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Vemos o jovem pastor Carlos Leopoldo Voges
parado numa clareira recentemente aberta. Podem ser
vistos troncos de árvores seculares derrubadas,
colocados à margem da trilha principal que vem da Lagoa
Itapeva e segue na direção da Serra do Pinto.
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A choupana3, com cobertura feita com folhas de
palmeira, devia medir em torno de 7 x 5 metros, sendo
considerada espaçosa, naquela situação inicial e precária.
Aquele era o local escolhido por Voges, para a realização
do primeiro culto da colonização alemã luterana, de Três
Forquilhas.
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Philipp Jacob Feck (na época assinava Veeck), com
esposa Dorothea Niderauer (grávida de sete meses). Dr.
Elias Zinckgraf, médico e solteirão. Jacob Menger e
esposa Dorothea Sperling (grávida de três meses).
Johann Peter Jacoby, a esposa Bárbara Helbig (grávida
de três meses). Jacoby estava acompanhado de filhos de
matrimonio anterior: Margarida (nove anos), Johann
Peter (sete anos), Ana Cristina (cinco anos), Ana Izabel
(quatro anos); Ana Catarina (três anos) e Paulo (onze
meses). Paul König estava sozinho, pois deixara a
esposa, grávida de oito meses, no acantonamento dos
imigrantes no Presídio das Torres, aos cuidados da
mulher de Friedrich Eigenbrodt.
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caingangues tinham sido decisivos para o trabalho de
edificação das choupanas. Somando todos, o culto
natalino contara com a participação de mais de setenta
pessoas. Algo extraordinário para aquela realidade.
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O pastor trajava casaco e calça de cor escura,
bem ao estilo dos clérigos daquele tempo.
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Catharina fizera vinte e três anos de idade e,
recentemente, casara diante do pastor Voges, em São
Leopoldo (RS). Ela se dispusera a acompanhar o marido,
no sonho de participar da construção de uma Colônia
Alemã na região de Torres, no litoral norte do Rio Grande
do Sul. Catharina era uma mulher de traços bem suaves,
esbelta e cabelos castanho-claros que lhe caíam até além
dos ombros, em cachos naturais. Chamava a atenção a
sua extrema palidez, fato que acentuava ainda mais a
cor de sua pele, tão branca. Os seus olhos eram
marcantemente verdes. Trajava um vestido longo, de cor
azul (aliás, todas as mulheres trajavam vestidos longos,
pois era o costume da época) e, tomando a flauta para
inicialmente dar o tom, conduziu o cântico, onde
sobressaía a bela e melodiosa voz do pastor.
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inchadas, em meio a grandes sofrimentos físicos, foi
tomado pela emoção. Lágrimas deslizaram pela sua face,
pois era muito emotivo, externando com facilidade seus
sentimentos, sem nenhum constrangimento.
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Christian Mauer levantou-se e pediu permissão ao
pastor para cantar um hino natalino que ele aprendera
em sua terra natal, na Comunidade Luterana de
Bischmisheim, intitulado: “Ao pé da manjedoura”, com a
música do grande compositor alemão, Johann Sebastian
Bach. Num lindo solo, porém, acompanhado pela
flautista, ele cantou de modo muito inspirado, que tocou
no fundo do coração de todos os presentes.
Reunião de colonos
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haviam trazido da Europa, entre elas a aveia e o trigo,
além de outros cereais.
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dar aos colonos lotes em condições para neles praticar a
agricultura”.
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do pastor Voges. Depois irei para Torres, para ver a
possibilidade de estabelecer uma navegação e transporte
de pessoas e de mercadorias de lá até Três Forquilhas,
pelas águas da Lagoa”.
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presença dele é de cuidar, exclusivamente, da saúde de
todos. E eu tenho sido um paciente constante. Recebo
cuidados quase que diários. Foi por este motivo que exigi
a vinda dele e ordenei a morada dele nas imediações da
minha propriedade”.
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mesmo em áreas ainda pequenas, façamos lavouras de
sementes dos produtos que já chegamos a conhecer aqui
no Brasil, sementes de milho, de mandioca, de feijão e
cana-de-açúcar, em mutirão. À medida que cada família
vier, terá suprimentos disponíveis. Sou de opinião que o
milho, a mandioca e cana-de-açúcar são bons alimentos,
não só para os animais mas, também para todos nós,
conforme hoje ainda nos será dado experimentar, com
essa gostosa carne, tendo mandioca e farinha de
acompanhamento”.
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metros do rancho do Bobsin. Todo este trecho de terras
não serve para a atividade agrícola. É uma área bem
grande pois, em linha reta, é uma extensão de
aproximadamente 1.000 a 1.500 metros e, que
continuará sendo terra nacional.”
A Ceia de Natal
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Enquanto aguardavam o assado, a conversa girou
sobre as aventuras e desventuras vividas por eles.
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estabelecer na nova área de colonização em Três
Forquilhas.
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A história que Bobsin contara, despertara ainda
mais a curiosidade de todos. O pastor interveio e disse: -
“Bobsin. Acredito que a sua história é muito interessante
para todos nós. Não sabemos direito o que ainda poderá
estar à nossa espera, nesta nossa nova Pátria. Façamos
votos que aqui reine a tolerância religiosa, para um bom
entendimento com todos, principalmente com os
católicos, que, conforme já nos é dado ver, mandam em
todas as coisas, aqui no Brasil. Por este motivo,
aproveito para dar-vos um conselho pastoral, com toda a
humildade. Isso também vale para o Bobsin, para o
Mauer e para outros que, já sabemos, trazem em suas
origens espirituais, a marca do evangelismo que sofreu
até duramente, com os católicos da Europa. Ou então,
lembro aqueles dentre nós, que trazem ascendência
judaica que esconderam essas origens no passado,
tornando-se luteranos. Aqui ninguém tem um passado de
huguenote. Aqui ninguém tem ligação com os legais
piedosos8. Não temos nem judeus e nem gentios e,
muito menos reclusos, que foram tirados de prisões da
Europa. Quero que saibam o que falei ao Coronel Paula
Soares, na presença do Imperador D. Pedro, lá em
Torres. Eu disse que tanto eu como toda a nossa
Comunidade, somos da confraria da fraternidade de
cristãos – Fraternité–Egalitè-Liberté. Pude notar que o
Imperador ficou muito satisfeito com as minhas
declarações. Por isto tenho tanta segurança em vos
solicitar, para que todos guardem muito bem o que digo.
Somos todos cristãos, da fraternidade e da paz. E você,
Bobsin, por favor, continue na sua história, se quiser,
pois o assado da carne ainda não está no ponto, para ser
servido”.
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Bobsin continuou: - “O terror dos campos da
Itapeva era, na verdade, um touro xucro. Tratava-se de
um animal muito agressivo que costumava atacar os
viajantes desprevenidos, conforme fomos avisados.
Mesmo os tropeiros ou viajantes mais corajosos, que já
andaram por estas paragens, costumavam fazer voltas,
para não encontrá-lo outra vez. O animal, no passado, já
ferira seriamente diversos cavaleiros e até cavalos, que
precisavam fugir à galope, para escapar da morte.
Quando vínhamos, minha mulher, na companhia do meu
sogro e dos Jacoby que estão aqui e não me deixam
mentir, decidi que não devíamos fazer aquela volta, para
desviar do touro. Tomamos o caminho que nos conduziu
diretamente até os domínios do selvagem animal. E o
confronto aconteceu. Quando deparei com o touro,
enquanto mulheres e crianças, aos gritos se apinhavam
sobre as carretas, me postei bem no caminho do animal.
Esperei calmamente. E, o animal veio de cabeça baixa,
bufando e babando... Quando estava para me lançar, o
agarrei pelos chifres... Com um forte safanão, o derrubei
sobre o solo, deixando-o de patas para o ar. Foi aí que os
soldados missioneiros, que nos acompanhavam, vieram
me ajudar. Manearam o animal com seus laços e, ali
mesmo o sangraram. Vejam que não fui eu o matador.
Não sou açougueiro. Não tenho vocação para tal
profissão. Eles é que acabaram com o terror daqueles
campos. E, a fama quem levou? Me chamam agora de
imigrante mais forte do que um touro”.
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Eles não tinham pratos e nem talheres disponíveis
neste local. Utilizaram folhas de taioba9, colhidas nas
margens do rio, que os índios já haviam providenciado
com antecedência, a pedido de um soldado que revelara
ter experiência com a vida simples das matas. Cada um
foi recebendo uma porção de carne e outra de mandioca.
Algumas mulheres, para alimentar os filhos menores,
cortavam nacos de carne, com as unhas e dedos, e a
colocavam na boca dos pequeninos. Uma cena que
merece registro, pela singeleza do momento e pela
refeição tão solidária, como comunidade em formação.
Hora de dormir
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próximo do secular cedro, onde, um pouco mais distante,
até os índios e os soldados já haviam se acomodado,
acendendo uma fogueira. Os Jacoby, Schütt, Justin, o
König, o Eigenbrodt e agrimensor Voss também
decidiram permanecer no local, para pernoitar. Alegaram
que a distância deles, a ser percorrida era dificultada por
um passo de rio que teriam que cruzar e não desejavam
fazer isto, à noite. Além disso, alguns viajariam já no
amanhecer, para Torres e, assim, poderiam sair juntos,
deste local.
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Até pegar no sono, Voges se manteve entretido
neste pensamento: - “Deve-se à visão do Coronel Paula
Soares e a sua coragem, de decidir por algo novo e
diferente, que o surgimento da Colônia Alemã de Três
Forquilhas vai se concretizando. Ele quebrou, quase no
sigilo completo, um projeto oficial do Governo da
Província. Paula Soares merece ter o seu nome gravado
com letras douradas, como o artífice e o verdadeiro
criador desta nossa Colônia Alemã Protestante de Três
Forquilhas”.
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MELHOR SERIA IR PARA A GUERRA...
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Beck, Valentim Becker, João Wolff, Ernst Friedrich
Hildebrandt, João Jorge Lorey, João Jacob Müller,
Henrique Berghahn, Hans Thron Stollenberg e Nicolau
Schmitt.
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- “O que disseram?”. - Quiseram saber König,
Jacoby e o pastor, pois que estiveram ausentes de
Torres.
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Mittmann quis saber: - “O que este coronel tem a
ver com a nossa prática religiosa? Não nos foi dito que
temos liberdade de crença? Não bastaria marcar o culto,
como algo que nós queremos e nós realizamos?”.
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atentos. Sabemos que ainda teremos diante de nós
muitos problemas, até que cada família esteja instalada
em sua terra e tenha finalmente a sua própria casa”. - O
pastor voltou-se então a Paul König e falou como se
estivesse confidenciando um segredo, mas falou alto,
para todos ouvirem: - “Estou muito seguro de que
Mittmann é um homem de fé e de grande valor, pela sua
firmeza e convicção. Vocês ainda haverão de constatar,
nos próximos anos, o papel que ele poderá e deverá
desempenhar em favor da manutenção da fé evangélica
em nossa igreja, que está surgindo em Três Forquilhas”.
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Os colonos, enquanto aguardavam, olhavam
admirados para os dois enormes canhões, postados,
apontando para o mar. Recordavam ainda do dia 5 de
dezembro, quando os mesmos haviam sido ativados,
para saudar a chegada do Imperador D. Pedro I. Haviam
sido tantos tiros que ninguém conseguira contá-los.
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língua alemã. Em contrapartida receberá aula da língua
nacional”.
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mais resistente ao tempo”. Voges escreveu: Stein e o
coronel acrescentou: Pedra.
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- “Para casa no estilo enxaimel, não. Aqui eles
costumam fazer muita casa de pau-a-pique, ou taipa de
barro...”. - Respondeu ele.
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Três Forquilhas, tenho colocação para eles aqui em
Torres, junto ao meu destacamento militar.
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empresas devem receber preferência por um local
apropriado, junto às águas do rio”.
O Culto do Preparo
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O altar estava montado sobre um tablado de
madeira, sendo visível para todos. Uma cruz de madeira
fora erguida no lado direito do altar. Sete archotes
estavam acessos, três em cada lateral e um logo atrás do
altar, fixados em postes, iluminando o cenário. Quando o
pastor se postou atrás do altar, para dar início ao culto,
fez-se um silêncio profundo. Os olhos de todos estavam
como que pregados no pastor e no altar.
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era ainda bem mais conhecido que o anterior e muitos
dos presentes, mesmo sem hinário, acompanharam,
cantando com voz firme e forte. O hino ecoou pelo
espaço...
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Estava aí a boa notícia que eles esperavam
escutar. Diversas mães e crianças seguraram firmemente
uns as mãos dos outros. Parecia uma corrente de fé e
oração. E o pastor continuou: - “O povo de Deus não
teve permissão para vir e avançar direto para alcançar a
terra prometida. Foi uma jornada que durou quarenta
anos. Tempo de preparação... Tempo de enfrentar o
deserto, tempo de enfrentar duras provas, enfrentar
desânimo, impaciência e até a incredulidade. Por isto
peço que ouçam com muita atenção a palavra de Deus
que vos trago nesta noite. Ouçam o texto de Josué,
capítulo 1 versículos 1 a 18”.
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já agora e sempre. No Evangelho de Lucas 18, Jesus
manda < orar sempre e nunca desfalecer >. Isto
também é perseverar. A oração é como uma alavanca
poderosa. A oração é capaz de mover montanhas, falo
das montanhas que, nesta hora, se acumulam em vossos
pensamentos, as montanhas do desânimo, as montanhas
da impaciência ou mesmo a pior de todas, que é a
montanha da incredulidade. Por isto realizamos este
culto, para orar pedindo que Deus nos mostre o modo
correto de perseverar. Finalizo com as palavras que Deus
falou a Josué quando disse < Não te mandei eu? Esforça-
te e tem bom ânimo; não pasmes nem te espantes,
porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que
andares > ”.
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Nisto, os primeiros acordes das rabecas11
começaram a soar. As vozes dos cantores iniciaram
numa espécie de louvação sobre o nascimento de Jesus e
sobre a visita dos Reis Magos. Os colonos alemães nada
entendiam, mas o canto era envolvente.
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desses mantimentos, em caso de uma colheita bem
sucedida. Jacoby falou sobre a ferraria já em
funcionamento, sobre a saúde do Comandante Schmitt e
a presença do médico, Dr. Elias. Finalmente Catharina
pediu a palavra e falou sobre a maravilhosa noite de
Natal que ela tinha vivenciado, bem junto à floresta,
rodeada de índios, que pareciam encantados pelo som da
flauta. Falou então sobre a forte saudade que lhe ia no
fundo da alma, saudade da mãe, saudade da irmã
Elisabeth, elas que pareciam inseparáveis. Catharina não
conseguiu se dominar e começou a chorar. Diversas das
mulheres presentes também se contagiaram com o choro
e a acompanharam com soluços e pranto.
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“DE PÉS E A FERROS...”
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König foi procurar, imediatamente, o pastor: -
“Pastor Voges, a criança nasceu. O médico disse que ela
está fraca. Será que precisamos batizá-la agora?”.
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mesmo seguiu com o Imperador para a guerra da
fronteira? O que se faz com um padrinho ausente?”.
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Figura 7: Professor pensativo.
Fonte: Fotomontagem do autor, 2009.
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Engel levantou-se e foi a procura do pastor Voges.
Chegando perto da casa onde Voges e o casal Petersen
moravam, perguntou a um vizinho, igualmente sentado
na soleira da porta, sem fazer nada: - “Me diga. Você viu
o Voges por aí? A casa parece que está fechada!”.
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Voges examinou o professor, curioso, imaginando
que este homem certamente viera por algum motivo
muito importante, e perguntou: - “Professor Engel,
aconteceu alguma coisa lá no nosso acantonamento?”.
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Paula Soares quando viu o pastor perguntou: -
“Pastor, veio para as nossas aulas de alemão e
português?”.
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lista do material que ele necessita, para o trabalho com
as crianças”.
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UM TEMPORAL QUE TRAZ UM PRESENTE
VALIOSO
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Os curiosos se reuniram na praia, para ver o navio
distante. Podia-se ver que um dos mastros estava
danificado, com algumas velas sem amarras. O Coronel
Paula Soares se dispôs a socorrê-los, no que lhe fosse
possível. Um grupo de soldados saiu em direção da
floresta, distante, para cortar a madeira que se fazia
necessária para a substituição do mastro danificado.
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“Sou o reverendo Mathias Main. Estou concedendo apoio
para a British and Foreign Bible Society que contratou
esta embarcação. O nosso objetivo é o de conhecer
algumas comunidades evangélicas do Brasil e oferecer-
lhes o nosso serviço de difusão da Bíblia Sagrada e da
tradução para as mais diversas línguas faladas no
mundo”.
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possam colaborar com este serviço missionário, de levar
a luz da palavra divina para quem não tem recursos ou
para quem ainda não conhece a Bíblia Sagrada”.
- “Agora?”.
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Residência: Colônia Alemã Protestante de
São Pedro de Alcântara das Três
Forquilhas – Torres – Província de São
Pedro do Rio Grande do Sul – Brasil
Informações adicionais:
Fonte: AFV
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Texto da Carta do P. Voges à Sociedade
Bíblica - (Traduzida do alemão)
Vossa Excelência:
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A COLÔNIA DE SÃO LEOPOLDO, na
Província do Rio Grande do Sul, de 12 léguas
quadradas, tem 308 famílias, 1130 almas. Destas,
apenas 52 famílias, 230 almas professam a
religião católico romana.
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Para os REGIMENTOS ALEMÃES, por falta
de pregadores evangélicos não está contratado
um pregador (capelão).
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V. Exa. E mui respeitável British and
Foreign Bible Society se dignam a me oferecer um
número maior de Bíblias para as Comunidades
Alemãs no Brasil, se delas eu necessitar. Aceito a
oferta benévola, pedindo mais 800 Bíblias e 800
Novos Testamentos.
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Sagradas Escrituras também nos pobres
portugueses. É que na cadeira dos apóstolos e dos
profetas estão assentados líderes cegos que não
possuem a maneira de pensar dos apóstolos.
Entre a grande maioria dos sacerdotes, no Brasil,
raras vezes se consegue um Novo Testamento e
muito menos ainda uma Bíblia inteira. Entre os
leigos nem se acha um Novo Testamento nem
uma Bíblia inteira. Só um rosário. Existe pois,
muito mais é ignorância e superstição.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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7º Cada colono recebe 3 cavalos, 1
vaca com bezerro, 2 bois de canga, porcos,
gansos e galinhas.
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virgem, ocupada por índios. Ele fala também sobre a
construção do templo evangélico de sua Comunidade. Ele
descreve aquilo que é o seu grande sonho. Cita que a
obra é feita com a mais bonita madeira de cedro.
Naquela data, ao redigir a carta, o templo de madeira era
ainda um projeto, apenas autorizado por Paula Soares,
sem o início das obras. O que, na verdade, existia, era
uma rústica choupana de palha de palmeira.
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carreteiros. Precisaríamos de um transporte alternativo e
prático”.
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Voges não pregou no ano novo, com tanta ênfase, sobre
o perseverar? Pois é... Acredito agora que perseverar é
também manter a minha esperança”.
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As palavras de Niederauer estabeleceram um
breve silêncio. Voges quis saber: - “Para o seu irmão
Philipp Niederauer, algum recado?”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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de falar a respeito disso durante o culto, na noite de 31
de dezembro?”.
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O PROGRESSO CHEGOU...
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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- “Que gente estranha!”. - Disse Elisabeth, a
mulher do Comandante. - “Eles tomam banho todos os
dias. Será que não ficam doentes com isto?”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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O pastor Voges ouviu, compreensivo, e
respondeu: - “Eu já sabia da sua ligação especial com o
Coronel Paula Soares. Bem compreendo que a nossa
presença aqui, pode ser considerada como sendo
privilegiada...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Elisabeth Schmitt olhou para a barriga da
Dorothea, esposa do Feck e falou: - “Olhem para a
Dorothea. Ela deve estar bem perto de dar a luz. E o que
faz o marido? Ele fica aí assustando a mulher com
histórias de bichos que comem crianças...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Dr. Elias Zinckgraf continuou fazendo uma
observação cuidadosa da paciente e falou: - “O parto
está próximo. Poderá ocorrer ainda durante esta noite.
Sem tardar, amanhã cedo, a senhora já terá a criança
nos braços”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Dorothea seguiu as instruções. Ele ordenou a
repetição do mesmo procedimento, por uma dezena de
vezes. Quando o médico constatou que as contrações de
Dorothea aumentavam, ele pediu: - “A senhora não está
disposta para cantar um pouco ou assobiar?”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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estou ficando cansada. Está me dando sono... O que
significa isso?”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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chuvas eventuais. Sobrou apenas um cantinho para mim,
onde durmo à noite”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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A navegação pela Lagoa
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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- “Você já teve contato com a navegação pela
Lagoa?”. - Quis saber Voges.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Figura 09: Voges e Petersen em Três Forquilhas.
Fonte: Gravura elaborada pelo autor, 1974.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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que a minha Catarina é parente da Catharina do
Niederauer: Aquela é uma Diehl...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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O PASTOR ESTENDE A MÃO AO PADRE
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Torres seja salutar e o ajude na melhoria da saúde. Além
disso, na minha botica, que funciona aqui no Baluarte
Ipiranga, temos bons medicamentos e um bom boticário,
para tratar do mal do frei”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Se estamos indo para uma Colônia distante de Torres, é
certo que ficaremos bastante isolados e longe deles...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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rumo do acantonamento, onde desejava resolver mais
algumas coisas, antes de voltar para Três Forquilhas.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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- “Nada tema, pastor”. - Continuou Jasper. -
“Posso contar com a sua discrição e a sua intervenção,
para a minha inclusão entre os colonos protestantes?”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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- “O meu nome precisa estar incluído na sua
relação para que a minha família possa ser movimentada
para aquela área de colonização. Estarei aproveitando o
deslocamento para Três Forquilhas, para, depois, sem
mais tardar me fixar no referido Sangradouro. Tenho a
quantia necessária, em dinheiro, para adquirir aquela
pequena propriedade”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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venha o que Deus nos conceder, pois o nosso amor será
o mesmo, seja menina, ou seja, menino...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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- “Querida, não vamos falar de morte. Falemos de
vida... Falemos de amor...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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aguardavam a chuva passar. Petersen também
aproveitou o calor para secar a roupa de Catharina.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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E a senhora Niederauer continuou: - “Trouxeste a
tua flauta? Quero que o meu bebê possa escutar desde já
os sons de música e canto...”. - Catharina Petersen
mostrando a flauta, foi e abraçou fortemente a prima,
com muito carinho.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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o nosso fogão...” Paul König voltou até o lado de fora do
rancho, lembrando que era preciso colocar no pasto, a
vaca que trouxera. Dirigindo-se aos vizinhos, que ainda
lá se encontravam, disse: - “Agora temos aqui mais uma
vaca leiteira. Vai sobrar leite todos os dias, para quem
necessitar...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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O aspecto da Colônia já começava a dar os nítidos
contornos de um início de colonização. As diversas
choupanas em diferentes pontos das trilhas, nos núcleos
estabelecidos, davam sinal da presença dos
desbravadores. Algumas lavouras podiam ser vistas.
Alguns animais pastando, bois, vacas e cavalos. No
núcleo sudeste podia ser ouvida a bigorna do ferreiro,
com as marteladas fortes desferidas sobre o ferro em
brasa.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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NASCE O PRIMEIRO HOMEM DA COLÔNIA
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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- “Um banho por dia, é bom. É necessário lavar
demoradamente todo o corpo do bebê, para então trocar
a água da gamela. Nunca guarde a água para ser usada
num outro banho e muito menos para o outro dia. Já
ouvi falar de mães que por comodismo guardavam a
água para os próximos dias... Imaginem o estado de tal
água, onde certamente nem se via mais o bebê, no meio
da sujeira... Penso que foi daí que veio aquele ditado
‘não jogue fora o bebê, junto com a água do banho’. Se
diziam isso, então é porque nem mais conseguiam ver
um bebê, em meio da água turva”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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já aprendi diversas coisas. Talvez vocês não imaginam,
mas aprendi muito, foi no contato que tivemos com
aqueles índios, que vieram construir as nossas
choupanas... Observei o costume que eles tem com a
limpeza. Notei como interrompiam o trabalho, de vez em
quando, iam até o rio para mergulhar na água, e
voltavam. Num dia muito quente que tivemos, eles
entraram na água doze vezes! Sim, eu contei, só naquele
dia, foram se banhar doze vezes! Percebi também que
são muito mais saudáveis do que nós, que viemos da
Europa. Penso que deveríamos nos render ao hábito
deles, mesmo que tem gente que os chamam de
selvagens ou de bichos do mato...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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- “Que Deus então seja gracioso com o nosso
menino”. - Disse Philipp.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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por isto fazendo deste um momento ainda mais solene e
festivo.
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A Colônia ganha mais vida
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Depois desbordaram para a direção do Pântano do
Espinho, para em seguida encontrar a trilha que
margeando o rio, alcança a sede da Colônia.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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O construtor Gross foi o seguinte sorteado com
um lote de terra no lado sudeste, sendo abraçado pelo
Jacoby, Justin, König e Schütt. Martin Schneider pegou o
lote no núcleo sede, como vizinho de Mittmann. O
ferreiro Johann Andréas Sparremberger pegou o lote que
ficava diante do cemitério, junto ao passo. Ele aproveitou
para fazer pilhéria com Mittmann, dizendo: - “Também
serei dono de uma porteira. Se você tentar escapar e ir
para a Serra, terá que sair pelo passo, diante de minha
ferraria. E quem quiser enterrar um falecido terá que,
primeiro, ferrar seus cavalos comigo...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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que merece ser registrado. A nossa Colônia ganhou
vida... Com a chegada destas famílias já podemos dizer,
agora, que a Colônia passou a existir, de verdade. Não é
mais a simples teimosia deste que vos fala... Quero
finalizar, dizendo ao nosso amigo e diretor da colonização
Coronel Paula Soares que nossos corações estão cheios
de gratidão. Conte com a nossa estima e a certeza que
pode contar conosco, sempre que a nossa força e o nosso
empenho lhe foram necessários, para o sucesso desta
colonização”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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comunitárias, da Alemanha. A igreja estava agora com
mais apresentação. Não pisavam mais sobre o chão
batido. Havia um assoalho, feito com tábuas de canela.
Portas e janelas também já haviam sido colocadas.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Santo Sacramento do Batismo. Serão batizadas mais
duas crianças, nascidas há poucos dias. Vamos ter
também diante do altar todos os pais que neste ano
batizaram suas crianças, para que a Comunidade reunida
veja essas crianças para que as acompanhem com as
suas orações. E, finalmente, teremos o Santo
Sacramento do Altar, a Ceia do Senhor. A Comunhão do
Altar é para sabermos que Deus está conosco. Jesus
derramou o seu sangue na Cruz para termos vida com o
Pai Celestial. Ele vem repartir tudo o que tem, conosco,
para nos alimentar e nos saciar da sede e da fome mais
profundos. Jesus age em nosso favor também agora e
sempre. Digo para aqueles, que vem desabafando
comigo sobre as sensações que encontraram aqui na
floresta, a certeza que precisamos ter, para superarmos
a sensação da solidão, neste estado de isolamento, que é
tão real desde que aqui nos estabelecemos, deve ser a
presença real do Deus vivo. Ele nos ajude e nos fortaleça
nesta esperança e na fé, para podermos perseverar no
amor, de uns para com os outros. Deus vos abençoe
ricamente, com a Sua Santa Palavra. Amém”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Após a realização do sacramento do batismo, o
pastor declamou: - “Olhem aqui para estas crianças,
vejam nelas uma semente do amanhã... Não se
desesperem, nem parem de sonhar. Não se entreguem,
se renovem com as manhãs. Deixem a luz do sol brilhar,
no céu do vosso olhar. Tenham fé na vida, tenham fé no
amor e tenham fé no que virá!”
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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comparecer pelo fato de ainda se encontrarem no
acantonamento de Torres.
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Comandante Schmitt interveio: - “Por que estaria
eu lhe fazendo concorrência? Não poderá estar
acontecendo o contrário, pois tenho bem menos
fregueses que você e o Jacoby e não me queixo”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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vir para Três Forquilhas. Ele prefere nem receber seu lote
aqui, pedindo para sairmos e tentar melhores
possibilidades de prosperar, em São Leopoldo, ou Campo
Bom ou outro lugar”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Paul König levantou-se: - “Vocês já devem saber
que sou padeiro. Mas, nem penso fazer pão. Notei que
cada família prepara o seu. Nesta situação só me cabe
cuidar de minhas lavouras e criação. Espero que
tenhamos uma boa colheita neste ano. Fico agradecido a
Deus pela terra boa... Fico agradecido a Deus pelas
colheitas que já tivemos... Fico agradecido a Deus pelos
vizinhos e amigos, que são tão importantes como o pão
de cada dia sobre a nossa mesa”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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estava ocorrendo nesta reunião e falou: - “Preciso ainda
tratar com vocês a respeito do trabalho pastoral em
nossa igreja. O nosso amigo pastor Voges veio até a
minha casa, avisar que ele terá que se ausentar por pelo
menos dois meses. Ele pretende casar, em Campo Bom,
no começo do próximo ano...”. Muitos dos presentes
interromperam o Comandante para dar vivas, de alegria,
pela notícia. Schmitt continuou: - “Peço que o pastor
explique para todos a respeito do atendimento que será
proporcionado aos membros, durante a ausência dele”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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colocadas no altar, assim elas serão repartidas entre
todos. Cada chefe de família pode tirar seu bilhetinho e,
começando pelo menor número, um após o outro, pode
passar diante do altar e escolher um produto. O último
terá que se contentar com o que sobrar”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Emilia disse: - “Nesses poucos meses, ele ocupou
um lugar muito especial em nossos corações. Nós o
amamos tanto. Queremos criá-lo com os cuidados
necessários, para que encontre a saúde e uma vida boa”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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durante algumas semanas, para assistir aquelas
famílias... Além disso, ele pretende ter encontros com o
coronel, para saber o que está atrasando a vinda de
outras famílias...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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confessamos: - Não importa onde, exatamente, estejam
os nossos anjinhos queridos. A verdade é que sempre
estarão conosco, em nossos corações e no nosso
pensamento, porque a verdade é: - nós os amamos
muito, enquanto Deus os deixou confiados aos nossos
cuidados”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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ou então não está grávida, sobrarão poucos, como o
velho Marlow e o velho Sparremberger?”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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criança, daqui há pouco”. - Dirigindo-se ao médico, ele
pede: - “Dr.Elias, o senhor pode vir comigo? A Frau
Hellwig já se encontra lá, para servir de parteira, mas ela
acha que o parto não vai ser fácil...”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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meio a vida rude e difícil, desse mato em que viviam. Dr.
Elias continuou falando: - “Catharina, pense neste parto
como se fosse um arranjo de notas musicais que você vai
executar em sua flauta, num culto de festa e alegria. A
tua criança precisa ser uma obra de arte, da tua e do teu
marido, pois juntos, com amor encomendaram esta vida
preciosa que agora precisa vir à luz”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
130
parto difícil. Ela fez questão de acompanhar os hinos ao
som de sua flauta. Serviram de padrinhos o cunhado
pastor Carlos Leopoldo Voges e Elisabetha Diefenthaler, a
irmã de Catharina, ainda residente em Campo Bom e que
em breve haveria de casar com o pastor.
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A TERCEIRA LEVA DE COLONOS
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132
pelo meu irmão. Somos sócios no comércio. Precisamos
ficar juntos”.
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Uma carta ao Imperador
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
134
Paula Soares, apontando para a casa de telhas do
Dr. Elias Zincgraf, continuou: - “Quanto às telhas, não é
viável fazer o transporte através de carretas, desde
Torres, pelo caminho arenoso. Conseguimos trazer
apenas algumas cargas de telhas. Foi possível a
construção das casas do Comandante Schmitt, dos
comerciantes Niederauer e Jacoby e do médico Dr. Elias.
Foram quatro casas... Podem notar que são de pau-a-
pique, pois que tijolos ainda não estão disponíveis. Sei
que isto gera descontentamento. Porém afirmo que estou
fazendo muito empenho para que as maiores
necessidades, de todos, sejam atendidas”
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
135
aquela área não agradou a ninguém. Por isto parti para o
plano de radicá-los, aqui, neste vale do Três Forquilhas.
Permiti que o Comandante Schmitt viesse, em fins do
mês de dezembro de 1826, com o seu grupo de
desbravadores e pioneiros, para aqui abrir roçados de
lavouras e dar ajuda ao trabalho do agrimensor. Vocês
precisam reconhecer que estão em melhor situação que
os católicos que ainda aguardam providências. Estejam
seguros que os poucos protestantes que ainda restam em
Torres, em breve haverão de estar convosco.”.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Texto da Carta ao Imperador D. Pedro I
(Tradução do original em francês)
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Ao mesmo tempo, atrevemo-nos fazer,
também, um pedido à Vossa Excelência: na nossa
Colônia não existe nenhum entendido em ferro ou
madeira; somos obrigados a mandar fazer fora os
nossos utensílios, com muito incômodo e
despesas.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
138
abandonar suas propriedades para sair, e voltar a São
Leopoldo.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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CONCLUSÃO
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
140
DADOS BIOGRÁFICOS DE JOSÉ FELICIANO
FERNANDES PINHEIRO: o idealizador da Colonização
Alemã no Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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José Feliciano Fernandes Pinheiro tornou-se o
Visconde de São Leopoldo. Faleceu em 6 de julho de
1847, em Porto Alegre.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
142
Alegre, no ano de 1849. Já no ano seguinte voltou a
contrair matrimonio com a Sra. Rita Edalina dos Santos.
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FONTES DE CONSULTA
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Carlos H. Hunsche, que esqueceu de mencionar a origem
da mesma.
NOTAS EXPLICATIVAS
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
145
por volta de 1900, quando foi derrubado e transformado
em madeira, portanto 7 anos após a morte do pastor.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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movimento pietista, liderado pelo conde Nikolaus Ludwig
von Zinzendorf. (Nota do autor).
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
147
diferença". Há muitas espécies da banana nativa e uma
delas, talvez a mais saborosa, é por isso chamada no sul
de banana da terra, ou, para outros, de banana-maçã.
Talvez essa fosse a que os índios chamavam
pacovamirim, que quer dizer pacoba pequena, do
comprimento de um dedo, apenas mais grossa.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
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Figura 4: Página – 23. Pastor Carlos Leopoldo Voges na
Colônia de Três Forquilhas. Fonte: Arquivo da Família
Voges. O ano da foto é desconhecido.
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“De Pés e a Ferros” – Elio Eugenio Müller
149
COLEÇÃO MEMÓRIAS DA FIGUEIRA
Autor: Elio Eugenio Müller
Volume 1:
“De pés e a Ferros”
O nascer da Colônia de Três Forquilhas.
Volume 2:
“Sangue de inocentes”
Episódio da Revolução Farroupilha.
Volume 3:
“Dos bugres aos pretos”
A tragédia de duas raças.
Volume 4:
“Amores da Guerra”
Histórias da Guerra do Paraguai.
Volume 5:
“Face Morena”
A miscigenação na Colônia de Três Forquilhas.
Volume 6:
“Os Peleadores”
Um episódio da Revolução Federalista.
Volume 7:
“E a vida continua...”
O drama humano diante do flagelo da epidemia.
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