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Consideraes
Caeiro na sua poesia (que era a sua prpria vida) nunca se preocupou com a
objectividade das coisas. Para ele no existia uma verdade concreta, mas
apenas a verdade dos sentidos, ele pensava com os olhos. Campos
caracteriza-o como uma "alma abstracta e visual at aos ossos" e isso era
mesmo o que ele era.
Para Caeiro, a realidade era o que vamos e por isso tudo era abstracto, nada
tinha um significado concreto que pudesse ser definido e objectivado. Para
Caeiro a metafsica era uma iluso dos crebros doentes e, ele preferia olhar
a pensar.
Ora ser abstracto no quer dizer que se seja subjectivo. Numa certa
perspectiva, a inteligncia, o querer compreender tudo, que pode ser
subjectivo. Campos considera, no ltimo verso, que Caeiro estava num foro
(numa condio, num lugar) acima da inteligncia subjectiva, que tudo quer
apreender e fazer levar razo cientfica concreta. Caeiro estava acima da
inteligncia, porque ele vivia pela intuio natural, ele era parte da prpria
Natureza e, por isso, no tinha de a compreender, mas apenas de a ver.
Por que que me deste a tua alma se eu no sabia que fazer dela
Como quem est carregado de ouro num deserto,
Ou canta com voz divina entre runas?
"Quarto com inmeros espelhos fantsticos que torcem para reflexes falsas
uma nica anterior realidade que no est em nenhuma e est em todas", a
obra heteronmica de Fernando Pessoa apresenta, pois, um dilogo de
imagens-seres, auto e hetero-retratos numa galeria de interferncias
mltiplas, porm de harmnica unicidade.