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Foto: Guiliano
Banda.
Já montou a sua?
Giuliano Martins
Revista Inverso
Fotos: Guiliano
Revista Inverso
diu montar um estúdio para ensaiar e gravar as empresas divulgam seu nome em iniciativas
com sua banda e, a partir daí, estendeu essa op- politicamente corretas, recebendo descontos
ção, abrindo o estúdio para outras bandas terem através das leis de incentivos culturais, e os mú-
a mesma oportunidade, a um valor mais justo sicos recebem por seu trabalho divulgado.
com o bolso do músico. “Quem é músico sabe a A Estereoterapia se beneficiou disso. Além
dificuldade que é fazer o seu som. Desde ter um de disponibilizar todo seu material anterior-
instrumento, passando pelo processo de grava- mente produzido, lançou, este ano, seu primei-
ção, até a divulgação do seu trabalho”, avalia. O ro single virtual através da plataforma da Trama.
resultado disso são todos os horários do estú- Para Rusmont, principal compositor da banda,
dio fechados, e muita experiência adquirida. a iniciativa serviu tanto financeiramente, quan-
to para a promoção do novo material. “Fizemos
My Space e as novas gravadoras apenas uma pequena tiragem para poder fazer
divulgação nos shows”, observa o músico que
Outro aspecto da divulgação pela inter- acredita no poder dos novos caminhos traçados
net não está apenas na possibilidade de expo- pela tecnologia. “Além de fazer interagir bandas
sição global. Toda a estrutura de promoção de de vários locais do país, proporcionando até
um artista, que geralmente estava associada as um intercâmbio entre elas, divulga e expõe seu
grandes gravadoras, está nas mãos dos próprios trabalho”. A mesma observação é completada
músicos, ou de pequenos selos musicais que se pelo baterista da banda Filha Solteira, Eduardo
especializaram neste tipo de suporte as bandas. Dubowski referindo-se ao My Space: “É livre.
(veja na página 18 matéria sobre selo especializado Tanto pra quem cria, como para quem baixa. A
na divulgação de bandas). facilidade de alguém te ouvir, ver, saber onde
Atualmente, essa badalação será seu próximo show, ler sobre
está quase sempre associada ao My A atual cena você e poder criar um vínculo, em
Space, site de relacionamentos es- qualquer lugar do mundo. Imagina
pecializado em divulgação musical, musical está isso há dez anos, teria que ter um
tendo adeptos em todo o mundo, e
que no Brasil recebeu uma versão em associada ao álbum, cartaz, release, passar seu
telefone”, avalia. Eis o novo cami-
português, devido ao grande núme-
ro de cadastrados. Raul Lorenzeti,
My Space nho da música, aproximar o artista
de seu público através de apenas
guitarrista da banda Filha Solteira, alguns cliques.
vê esse “espaço” como a nova grava-
dora dos músicos: “É legal pela praticidade. A
gente ainda não tinha o álbum prensado, então,
por enquanto, a ‘nossa cara’ tanto pra merca-
do, festival e público é o site”. O músico crê nas
utilidades fornecidas, pois há ferramentas para
postagem de vídeos, fotos, release, bem como
o blog, e contador de visitas. “Você fica meio
maravilhado e assustado quando vê que já escu-
taram sua música mais de 700 vezes, ou que há
pessoas na Suécia ouvindo o nosso som”, admi-
te Lorenzeti.
Algumas gravadoras, com visão mais aber-
ta à produção musical, encontraram um meio
termo entre o lucro e o investimento em artis-
tas dentro do mercado virtual. A gravadora Tra-
ma apostou na internet. Seu braço digital en-
cabeçou uma idéia interessante ao possibilitar
que qualquer banda criasse um perfil no site e
disponibilizassem material para download. Os
artistas são remunerados – conforme o número
de músicas baixadas – por empresas associadas
ao portal. Com isso, todos ganham: a gravadora
pode redirecionar seu capital de investimento,
Revista Inverso
Saindo da garagem...
Alberto Filho
Revista Inverso
Foto: Divulgação
Da Cana ao Açúcar
Gleice Bernardini
Jaú é muito conhecida por sua indústria
Você já reparou como cada vez mais ban- de calçados e de etanol. Com larga produção de
das independentes gravam cd’s? E que esses cd’s cana-de-açúcar, fornece o açúcar e o álcool para
já não são vendidos apenas nas “barraquinhas” o estado desde o tempo do Império. Seus monu-
dos shows? É isso mesmo. Hoje em dia, está mentos e prédios históricos que cativam os turis-
cada vez mais fácil produzir, divulgar tas e trazem investimento para cidade
e vender cd’s com selos independentes. começam a dar lugar a uma nova fonte
Você vai a uma loja ou visita um site co- de renda: a música.
nhecido e lá está o cd da banda que você Existem centenas de bandas in-
viu ontem na balada. dependentes na região, todas buscam
A produção independente su- sair do chamado circuito “alternati-
perou a fase “alternativa” – divulgação vo” e encontrar o seu “lugar ao sol”.
boca a boca e venda de mão em mão - As bandas de “garagem” agradecem
ambicionando fatias cada vez maiores e o surgimento do selo independente
Jaú
artisticamente mais importantes na pro- GATO CARTEIRO - Histórias elé- Engenho, pois somente através deste,
dução, divulgação e comercialização de tricas de um cuco maluco, segundo podem mostrar o seu trabalho.
CDs e DVDs. É esse o papel que o Selo
CD Sentindo a necessidade de or-
Musical Engenho faz. ganizar e profissionalizar o cenário da
música de Jaú e região, Alexandre Ometto, Beti-
nho Padrenosso e Dany Kamada, criaram o Selo
Engenho. O primeiro trabalho foi o lançamento
Revista Inverso
da coletânea Subindo a A transforma-
Ladeira, em outubro de ção da cana em açúcar
2004 que vendeu 1.700 foi rápida. “ Era como
cópias em 6 meses, o que uma cooperativa en-
corresponde aproximada- tre bandas, onde se
mente a 1,4% da popula- dividiam experiências,
ção da cidade. contatos e também as
Assim como a cana contas a pagar”, brinca
passa pelo engenho para Dany Kamada, diretor
Lençois Paulista virar açúcar, as bandas uti- administrativo do selo. Bauru
KRUSTIN - Fique pra vencer, se- MOVEOVER - Ir Além, primeiro
gundo CD lizam o selo para mostrar O sucesso foi tanto que CD
seu trabalho. Fazendo o o selo já vendeu 16 mil
papel de pai da banda, a produção da Engenho cópias entre coletâneas e os álbuns das bandas Os
realiza atividades que vão desde o acompanha- Patrões (Jaú), Move Over (Bauru), Mandrake
mento da gravação – parceria com o estúdio (Jaú), Krustin (Lençóis Paulista) e Jet Set (Cam-
Faro Fino - a produção e o encaminhamento do pinas), além dos 4 mil singles do Vambora, Gato
cd para a prensagem até o trabalho de pós-lan- Carteiro e Overjoy (todas de Jaú).
çamento, com assessoria de imprensa e distribui- O que o selo quer é chamar a atenção do
ção do trabalho no mercado, ou seja, o selo plan- público para o interior, saindo um pouco do eixo
ta, cuida, corta, moí e faz o açúcar, ou melhor o Rio – São Paulo. “Precisamos mudar isso, fazer
cd. Após esse processo os cd’s com selo Engenho com que as pessoas olhem para o Interior. Talen-
são divulgados e distribuídos pela Tratore, que se to, as bandas têm de sobra. Precisamos fortalecer
auto intitula - a distribuidora dos independentes. nossa região, criar um circuito entre as cidades
O engenho começou daqui e virar referência
com uma idéia pequena, quando o assunto for
mas que não quer se res- música”, defende Ka-
tringir apenas ao interior. mada.
“No início as bandas aju- Fora o selo, o En-
daram o Engenho a nas- genho produz progra-
cer. Continuam ajudando mas de rádio, uma série
o Engenho a se fortalecer. de shows de bandas
Sabem que quanto mais independentes, intitu-
Jaú
Campinas forte estiver o selo, melho- lado Projeto Garagem, OS PATRÕES - Cobaia, segundo
JET SET - Ultravioleta, segundo
CD res serão os frutos. O ob- o Portal Engenho - que CD
jetivo inicial era organizar traz informações sobre
o nosso pedaço e colocá-lo num circuito. A idéia os serviços do selo musical e da Engenho Produ-
é expandir, dando passos do tamanho de nossas ções - e a produtora Engenho - responsável pelo
pernas, sem cometer loucuras” diz Alexandre agendamento dos shows, pela organização de
Ometto , um dos fundadores do selo e que toca eventos, a facilitação de intercâmbio e a produ-
na Mandrake, uma das bandas do Engenho. ção do Festival Subindo a Ladeira. Eles contam
Já sobre o profissionalismo e a produção ainda com a parceira dos Estúdios Faro Fino e
Ana Alice Gallo, jornalista e baterista da banda com o trabalho da Tratore que divulga os cd’s.
Milhouse explica que “Quando os cd’s do Enge- * Os cd’s são de bandas do selo Engenho.
nho caíram na minha mão
pela primeira vez, foi im-
possível resistir à tentação
de ouvi-los, já que a apre-
sentação era impecável. A Links Relacionados:
sonoridade, idem: você
www.engenho.art.br
pode não gostar do som, www.tratore.com.br
mas a produção não deve http://credencialtosca.blogspot.com
Jaú em nada. E os caras ainda www.tropicalnet.fm.br
MANDRAKE - Mandrake, primeiro contam com um profis-
www.radiopatrulha.com.br
CD
sionalismo administrati-
vo que você duvida que seja verdade”. Fotos: Divulgação
Revista Inverso
Estréia de suingue Lados Distintos
Filha Solteira Estereoterapia
Filha Solteira - Lado A, Lado B,
Lado C - 2008
2008
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
(Download gratuito)
(Download gratuito)
http://www.tramavir-
http://www.myspace.
tual.com.br/estereote-
com/filhasolteira
rapia
Giuliano Martins Giuliano Martins
Balanço. Este é termo que serviria para As composições do single Lado A, Lado
resumir o trabalho de estréia da banda Filha B, Lado C da banda Estereoterapia têm balanço
Solteira. As cinco faixas do álbum homôni- radiofônico, refrões chiclete e melodia assoviá-
mo contêm suingue brasileiro, numa mistura vel, e é justamente nestes elementos que o perfil
de ritmos que vão de funk ao samba-rock, do sonoro se refina, e não cai na mesmice. Pois, es-
baião ao rock, sendo que o importante é o re- tas características que geralmente afetam a qua-
sultado dançante e não o gênero a que isso pos- lidade de uma composição, aqui só adicionam,
sa ser creditado. devido à originalidade das composições serem
As influências são distintas, indo de tão ímpares. Sua beleza se manifesta na singe-
Mundo Livre S/A a Metallica, e talvez por isso leza da melodia e nos detalhes da estrutura dos
mesmo, o resultado é tão instigante. As letras arranjos, um pop-rock eficiente. Ao mesmo
também não deixam a festa de lado, e falam de tempo, as três composições são distintas amos-
leveza, bebida, folia e alegria. É produto para tras da capacidade da banda de não se prender a
contagiar o ambiente. A música ‘Mais uma pra um formato musical de audição fácil, ou gosto
dançar’ já é hit no circuito universitário. duvidoso. É para ouvidos apurados.
Jackson do Pandeiro tem sua valorização diminuída na música brasileira perante os artistas da bossa
nova. Sendo seu nome uma unificação entre o estrangeiro e nacional, em sua originalidade mais fiel, sua
música poderia muito bem atender aos conceitos bossa novistas. Mas, não é este o caso. Pois, o próprio
entoava que “só ponho bebop no meu samba quando o Tio Sam pegar no tamborim, quando ele pegar no
pandeiro e na zabumba, quando ele aprender que o samba não é rumba”.
Na bossa nova, os artistas não esperaram que o Tio Sam pegasse no tamborim. Eles acabaram botan-
do o bebop no samba, fazendo o país, e o mundo, engolirem um pseudo-jazz, disfarçado de MPB.
A letra é da música ‘Chiclete com Banana’, de autoria de Gordurinha e Almira Castilho, que somada
a musicalidade de Jackson, demonstra como a bossa nova não soube valorizar as estruturas harmônicas
e melódicas da música brasileira. Construíram sua base sobre a égide do jazz, gênero americano. O con-
ceito de Jackson foi seguido por artistas no país, que conseguiram grande repercussão dentro e fora das
terras tupiniquins: Alceu Valença pegou o forró de Luiz Gonzaga e misturou com os shorts das meninas,
e atiçou Oropa, França e Bahia; Lenine ao consumir e mastigar Aipim junto com Coca-Cola incitou toda
a Europa com seu som caracteristicamente brasileiro e contemporâneo; e Chico Science que botou dis-
cman no caranguejo em meio ao caos da lama, fez as regiões ao sul do país reverenciar a cultura do man-
gue. A música desses artistas foi digerida, e resultou em uma nova identidade musical da era globalizada,
onde a fusão do original com o importado não é apenas mais um produto corriqueiro dentro do cardápio
exótico do consumo mundial, assim como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro botaram o coco para ra-
lar, levando para o país inteiro um som genuinamente brasileiro.
Enquanto houver o valor supra-estimado da bossa nova como característica da genuína música bra-
sileira, precisaremos de mais 50 anos para valorizar o que é de raiz e o que pode até ter influências de
outras culturas, mas desde que seja utilizado para criar algo caracteristicamente brasileiro.
Revista Inverso