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ACREDITEM

Antnio Torrado
escreveu e
Cristina Malaquias ilustrou

31 de Maro
Dia Mundial da Terceira Idade

Era uma vez uma senhora que tinha trs ces. Um era
j velhote. Outro, assim assim. O terceiro era um cachorro
ladino, que nunca estava quieto.
Os trs da mesma raa. No me perguntem qual, porque
nisso de marcas de ces e raas de automveis perdo!
de raas de ces e marcas de automveis sou muito igno-
rante.
O co velho, deitado no capacho da entrada, vendo o
mais novo a correr atrs de uma aranha, de uma borboleta,
at da prpria sombra, comentava para o co do meio:
Tambm j fui assim.
No acredito latia o cachorrinho, sem deixar de
correr. Tu nunca brincaste.
Brinquei, podes estar certo. E, s vezes, ainda me
apetece. Se no me sentisse to pesado, ainda te apanhava.
No acredito insistia o cachorrinho, de riso nos
dentes muito brancos.
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Mas deves acreditar aconselhou o co do meio.
Ns que somos mais velhos, j fomos to ligeiros como tu.
No acredito teimava o cachorrinho, sempre a correr.
Como que havemos de convenc-lo que j passmos
pela idade dele e que ele h-de chegar nossa?
perguntou o co do meio ao co mais velho.
Vai ser difcil concluiu o co velhote, sem se
despegar do capacho.
A senhora, dona dos trs ces, que toda esta conversa
ouvira ou adivinhara, trouxe um lbum de fotografias,
poisou o cachorrinho no colo e mostrou-lhe:
Este o retrato do velho Piloto, quando ainda s comia
sopinhas de leite. A fotografia est tremida, porque ele era
um vivo demnio. Nunca se cansava de correr.
No acredito protestava o cachorrinho, no colo da
dona.
Pginas adiante, a senhora apontou outro cozinho de
grandes olhos brilhantes e orelhas espetadas:
Este o Xana, quando veio c para casa, dentro de um
cestinho. Era um brincalho.
No acredito esbraveja o cachorro, no colo da dona.
E sem querer saber de mais histrias antigas, o cozinho
soltou-se das mos da dona e desatou a correr.
No acreditava, no acreditava, no acreditava que
aqueles dois cozarres sisudos, muito dignamente
sentados nas patas traseiras, j tivessem sido como ele. Era
mentira. Era impossvel. Era um disparate. No acreditava,
pronto.
Mas, com o tempo, acabou por acreditar...

FIM

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