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Porque eu recebi do Senhor o ensino que também vos transmiti: que o Senhor
Jesus, na noite em que foi traído, tomou pão; e, havendo dado graças, o partiu e
disse: Tomai, comei. Isto é o meu corpo que por vós é partido; fazei isto em
memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o
beberdes, em memória de mim. Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes
este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. De modo que qualquer
que coma este pão e beba este cálice do Senhor indignamente, será culpado do
corpo e do sangue do Senhor. Portanto, examine-se cada um a si mesmo, e assim
coma do pão e beba do cálice. Porque o que come e bebe, não discernindo o corpo,
juízo come e bebe para si. Por isso há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos
que dormem. Mas se nos examinássemos bem a nós mesmos, não seríamos
julgados. Mas sendo julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para que não
sejamos condenados com o mundo. Assim que, meus irmãos, quando vos reunais
para comer, esperai uns pelos outros. Se alguém tem fome, coma em sua casa,
para que não vos reunais para juízo. As demais coisas as porei em ordem quando
chegar.
Dos relatos dos Evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) sabemos que, no
contexto de uma ceia pascal, Jesus tomou pão, deu graças a Deus, o partiu e o deu
aos seus discípulos dizendo "Isto é o meu corpo." Também agradeceu pelo cálice de
vinho, e lhes mandou beber. Mateus e Marcos nos informam que o Senhor disse
"Isto é o meu sangue do pacto..."
Os católicos romanos crêem que as palavras de Cristo devem tomar-se num sentido
completamente literal, ou seja, que Jesus verdadeiramente transformou o pão e o
vinho em Seu corpo e Seu sangue, Sua alma e Sua divindade.
1. Os próprios textos têm várias indicações que mostram que não deve interpretar-
se como uma transubstanciação literal do pão e do vinho na carne e no sangue do
Senhor. Quando, segundo Lucas, o Senhor disse "Isto é o meu corpo que por vós é
dado. Fazei isto em memória de Mim", a crucificação não havia ocorrido ainda, e
portanto Jesus estava a referir-se a um acontecimento ainda futuro. O mesmo é
verdade acerca do vinho, uma vez que o Senhor disse que o seu sangue haveria de
ser derramado (ou seja, não havia sido derramado ainda durante a última ceia).
Alguém também se poderia perguntar como é que o sangue haveria de ser
literalmente bebido e literalmente derramado, ao mesmo tempo e no mesmo
sentido. Também segundo o relato de Marcos (seguido também por Mateus), Jesus
lhes deu a beber do cálice enquanto Ele mesmo se absteve de beber então do que
chamou, naturalmente, "o fruto da videira". Destas palavras do próprio Senhor
sabemos que o vinho continuava sendo vinho, e não se havia tornado sangue como
o afirma a doutrina romana. Finalmente, segundo o relato de Lucas, em vez de
dizer-se que o vinho é o sangue do Senhor, Jesus diz que o cálice é "o Novo Pacto
em meu sangue". Obviamente o cálice não é o Novo Pacto, mas o representa; de
igual modo o vinho não é o sangue, mas o representa.
2. O mero facto de os discípulos terem comido o pão e terem bebido o vinho sem
protesto nem objecção é em si mesmo um poderoso indicador de que não
entenderam literalmente as palavras do Senhor. Beber sangue estava
absolutamente proibido para um judeu, e os Apóstolos levavam a sério a Lei (cf.
Actos 10:9-16 e 15:19-29). Certamente Jesus saberia melhor do que qualquer
teólogo se os seus discípulos necessitavam de maior explicação acerca de um acto
que, por sua própria natureza, tinha obviamente de ser tomado em sentido não
literal.
3. As consequências práticas derivadas por Paulo certamente não exigem um
entendimento literal das palavras da instituição da Eucaristia. É um facto que, para
o Senhor, as questões espirituais eram de importância primária; Jesus ensinou que
o ódio não era melhor do que o homicídio, e a luxúria não era menos do que o
adultério. Portanto, não há dificuldade alguma em admitir que podem derivar-se
consequências graves de participar indignamente da Eucaristia sem necessidade de
supor a transformação física do pão e do vinho na carne e no sangue de Jesus.
4. Jesus disse: "Eu sou a porta das ovelhas"; "Eu sou o caminho", "Eu sou a videira
verdadeira", "Eu sou o alfa e o ómega". Sem dúvida que todas estas são
evidentemente imagens. Não deveria ser menos evidente que o chamado a
participar da carne e do sangue de Jesus é uma imagem de uma realidade
espiritual e não deve de ser entendido em sentido grosseiro. Quem não entendeu
isso? Os pagãos que criam que os cristãos praticavam o canibalismo.
O resultado de tudo isto é o fortalecimento espiritual das nossas vidas tanto como
crentes individuais como no nosso carácter de membros do Corpo de Cristo.
Fernando D. Saraví