Você está na página 1de 69
007 m anf Bulllog BUeW eu J0SSeL01d :eIPEUELO = euoisi 8p osinD, “ SU Op OpeISsy Op @1Se0J0N Op [BUoIBey SpePIS/OAIUN Osun ep ogsnjouog ep oYreqesL. SOSSWd SJL Jd OVIOFY WN NdA VC OVSYALY ¥ OLISad ONVT VLLWO DOS MOTIVOS “Escrever 6 como dar sangue, s6 vale a pena quando cortamos as veias” Urbano Tavares Rodrigues Escrevemos porque nos falta o tempo de purgar a grande dor coletiva ena poesia que fazemos trazemos nossa esperanga rediviva. Fazer versos & mais que manifesto: Hoje, é briga e testemunhos. um cerrar de punhos eum grito de protesto. Cantemos, pois, com a certa convicgo De que calar € mais tragico e atroz. Infeliz o que sabe a cangao E, no entanto, emudece @ voz Anténio Alberi Maffi SUMARIO INTRODUGAO Bao) 1 A AMERICA LATINA DITATORIAL....... i a ame, 2.0 GOLPE MILITAR BRASILEIRO E SUAS IMPLICAGOES 12 3 ARESISTENCIA AO REGIME MILITAR E A REPRESSAO. 21 4A VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONARIA E SUA ATUACAO NO BRASIL 26 5 A ATUACAO DA VPR NA REGIAO DE TRES PASSOS : eis 0) 5.1 DO PROTESTO A RESISTENCIA - 1964-1968. 30 5.2 DA MILITANCIA A OPCAO PELA LUTA ARMADA - DO POC A VER _ 1968 1970. Ec 5.3 A BASE DE TREINAMENTO E APOIO LOGISTICO DA VPR EM TRES PASSOS — 1969-1970 35 5.4DA PRISAO E DA TO! = margo de 1970... ener 40 5.5 DO JULGAMENTO E CONDENACAO - agosto de 1971 52 5.6 DA LIBERDADE VIGIADA AO EXILIO— 1972-1973 ene CONCLUSAO .... cso ae 2 eee BIBLIOGRAFIA.. 60 ANEXO A — Mapa do Rio Grande do Sul 61 ANEXO B — Poesia Precariedade 63 65 ANEXO C — Poesia Cicatrizes... ANEXO D - Depoimento de José Bueno Trindade ....... : 69 ANEXO E—Depoimento de Ademar Andolhe. ANEXO F — Era para ser pescaria, mas néo era ANEXO G ~ Guerrilha na fronteira, ANEXO H — Aclara-se a situagtio ANEXO I~ Terrorismo nao compensa. ANEXO J—Reneu Mertz em liberdade ANEXO L - Operag Arrastio ANEXO M ~ Certiddo de 02.04.1998. ANEXO N ~ Certiddo de 01.07.1998 ANEXO O ~ Mandado de citagéi... ANEXO P—Depoimento de Alberi Maffi ANEXO Q — Requisigiio para solicitagao de beneficios.. ANEXO R- A volta, por cima IIL ANEXO S ~ A volta, por cima IV qe 15 1 19 81 83 85 87 89 91 95 102 105 107 INTRODUCAO A historia € feita por personagens famosos e anénimos que, por sua atuago, provocam modificagées em seu curso. Esses personagens sto motivados por necessidades sociais, econdmicas e/ou politicas que, por sua menor ou maior preméncia, provocam atuacées diferenciadas. Durante as décadas de 1960 e 1970, o Brasil e muitos outros paises da América Latina foram politicamente dominados por govemos militares que primavam pela intolerancia a qualquer tipo de oposicao. O periodo ditatorial brasileiro, especificamente, iniciado com o golpe militar de 1964, tolheu a liberdade politica e cultural do pais, provocando varias formas de resistencia. Nesse periodo, formaram-se, no Brasil, muitas organizagées de resisténcia a0 regime militar, que agiam clandestinamente ¢ atuavam das mais diversas formas. Entre essas organizagées, estava a Vanguarda Popular Revolucionaria — \VPR — que unia militantes de todo o Brasil. A VPR atuou em grande parte do pafs, inclusive no Rio Grande do Sul também na regiéio de Trés Passos. A sua atuagao nessa regiéio deveu-se ao fato de ser geograficamente estratégica para eventuais fugas de militantes que necessitassem alcangar a Argentina pela Barra do Turvo. © trabalho sobre a atuagéo da Vanguarda Popular revolucionaria nessa regido pretende resgatar e compreender a resisténcia ao regime militar realizado nesse espaco do Rio Grande do Sul e colaborar com a ampliagéo da compreenséo da historia regional. No capitulo |, apresento a contextualizagao do Brasil com a América Latina mostrando que o golpe militar ndo foi uma peculiaridade brasileira, mas, sim, mais uma pega no intrincado quebra-cabegas que os Estados Unidos montaram nesse pedaco de chéo, que sempre encararam como quintal seu, a fim de proteger seus interesses imperialistas. © Capitulo Il, trata do golpe militar brasileiro, apontando, principalmente, suas implicagées politicas, culturais, sociais e econémicas, além da influéncia norte-americana sobre os militares brasileiros. © capitulo Ill dé conta da resisténcia do povo brasileiro ao regime militar @ da represso sofrida pelas pessoas que se posicionavam contra a ordem estabelecida, No capitulo 1V, abordo a atuag&o da Vanguarda Popular Revolucionéria no Brasil e, finalmente, no Capitulo V, conto a histéria da atuagao dessa organizago na regio de Trés Passos-RS, através do depoimento de um de seus membros, 0 senhor Anténio Alberi Maffi ) ) > a ° o ° ° Nos Anexos desie trabalho, poderéo ser encontrados mapa da regido de atuagéo da VPR, depoimentos, documentos relatives @ prisdo do entrevistado, recortes de jomais da década de 1970 que mostram a forma como a imprensa conduzia a opinio publica, mandado de citago, requisigo para recebimento de beneficios de indenizacéo por danos morais, fisicos e psicoldgicos, referentes ago movida por Antonio Alberi Maffi contra o Estado brasileiro e, também, recortes de jomais mais atuais falando dos acontecimentos da regiéo trés- passense, na década de 1960 e 1970. 1A AMERICA LATINA DITATORIAL = Nas décadas de 1960 e 1970, em clima de guerra fria, pretendendo manter © controle sobre as regides alinhadas com o capitalismo © preocupados com a - influéncia da revolugdo cubana de 1959 sobre os povos latino-americanos, os Estados Unidos da América apoiaram golpes militares em varios paises da ‘América Latina. No Cone Sul, os golpes sucederam-se como que num rastilho de pélvora, com a béngdo do Tio Sam. Segundo Raul Ryff, secretario de imprensa de - Joao Goulart: © caso brasileiro foi etapa fundamental, ponto de partida, da ampla e profunda limpeza de drea na América Latina, planejada em Washington. Seguiram-se as derrubadas, por métodos quase idénticos, dos govemos democréticos do - Unuguai, Chile e Argentina, eleitos pelo povo. Nesses paises, do mesmo modo que no Brasil, instalaram-se no poder ditaduras militares que logo empreenderam feroz & cruel repressfo, ao mesmo tempo que escancaravam as 5 portas @ voracidade inesgotavel das multinacionais (RYFF, apud PILETTI, 1996, P. 292). Conforme Alain Rouquié, para os EUA, os investimentos militares pretendiam transformar os exércitos latino-americanos em guardas nacionais a A servigo das peripécias esiratégicas dos norte-americanos na contengéo do avango das idéias capitalista. 10 comunistas e dos interesses do pais lider do muni livre ‘A diplomacia da troca militar apresenta-se mais como um substituto da intervengdo direta dos EUA. O que, alids, ficou muito claro no Brasil do governo Goulart © no Chile de Allende: porque tanto no Brasil de antes de 1964, como no Chile do inicio dos anos 70, 0 govemo de Washington, depois de instaurar um bloqueio invisivel ao redor dos governos considerados hostis aos interesses. norte- americanos, teve o cuidado de manter e mesmo aumentar a ajuda militar. © embaixador Lincoln Gordon, servindo em Brasilia sob 0 governo trabalhista de Jango, reconhecia que a assisténcia militar fora um meio capital para estabelecer relagbes mais estreitas com 0 pessoal das forgas armadas e um elemento importante para influenciar em um sentido pré- EUA os militares brasileiros (...) fator essencial para limitar os excessos esquerdistas do governo Goulart (Rouquié, 1984, p. 167). pa No Paraguai, o golpe militar j4 ocorrera em maio de 1954, liderado pelo general Alfredo Stroessner. O discurso em defesa da “democracia’ e contra o perigo do “expansionismo comunista” foi utilizado pelo Departamento de Estado norte-americano para justificar a derrubada dos govemos nacionalistas em El Salvador, Peru, Equador, Guatemala, Republica Dominicana e Honduras, no periodo de 1961 a 1963" Em 1964, 0 golpe aconteceu no Brasil, derrubando 0 governo de Joao Goulart e na Bolivia, depondo o presidente eleito Vitor Estensoro. Em junho de 1973, 0 alto comando das forgas armadas instalou oficialmente a ditadura no Uruguai e, em setembro, o general Augusto Pinochet liderou 0 golpe que depos 0 presidente socialista Salvador Allende e iniciou o regime ditatorial no Chile. - “tronicamente, nos paises ditatoriais da América Latina, a palavra mais utlizada fol “democracia’. in ‘A Argentina de Isabel Perén n&o ficou fora da corrente dominadora dos illitares: em margo de 1976, Isabelita foi derrubada € 0 controle do pais passou a \ ser de uma junta militar. Essas ditaduras arrastaram-se, grosso modo, até os anos de 1980 61990, manchando os pordes dos quariéis de sangue e impregnando suas paredes de gritos de dor dos perseguides e torturados. Todos os regimes militares latino- americanos se caracterizaram pela arbitrariedade, pela represséo pela violencia, 2. O GOLPE MILITAR BRASILEIRO E SUAS IMPLICACOES No dia 31 de margo de 1964, 0 governo norte-americano prontificou-se a enviar armamentos e munigdes aos militares brasileiros golpistas, caso os grupos de esquerda esbogassem uma reagdo organizada. Era a chamada “Operagao Brother Sam” e consistia no envio as costas brasileiras de um porta-avides de ataque pesado, destréieres de apoio, petroleiros bélicos, navios de munig6es e navios de mantimentos; avides transportando armas e munigées, avides de caga, avides-tanques e um posto de comando transportado deveriam se deslocar para 0 Rio de Janeiro. O objetivo de toda essa aparatosa operagdo era dar apoio logistico, material e militar aos golpistas. No entanto, esse auxilio no foi necessério: o presidente brasileiro retirara- se de Brasilia em 1° de abril, refugiando-se no Rio Grande do Sul, permitindo, assim, que o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarasse vaga a presidéncia (inconstitucionalmente, pois o presidente encontrava-se em territorio nacional) e desse posse a Ranieri Mazzilli, presidente da Camara de Deputados. Segundo Flavio Tavares, jomalista do jornal Ultima Hora’, que presenciou a cena Mas sem a participagao do Parlamento, sem sua conivéncia com 0 movimento militar, a formalizagao ou legalizacdo do golpe teria sido dificultosa. A oposic&o udenista tumultuou tanto € to habilmente tudo entre 31 de margo e 1° de abril de 1964 que nessa Ultima noite o senador Auro Moura de Andrade — presidindo o Congresso - abriu a sesséo comunicando que “o presidente da republica deixou a sede do governo!” ©, de imediato, sem nenhum debate, deliberacéo ou votacdo, simplesmente declarou vaga a Presidéncia da Republica. No ato, convocou o presidente da Camara do Deputados, Ranieri Mazzi, para assumir a chefia do governo e encerrou a sesso desligando os microfones. Tudo tinha durado menos de 90 segundos (Tavares, 1999, p.151) No dia 4 de abril, alegando querer evitar derramamento de sangue brasileiro numa guerra civil, Goulart exilou-se no Uruguai Consolidada a vitéria da revolugéo de 1964, os EUA prontamente felicitaram os militares brasileiros por “terem derrubado o presidente e defendido a Constituigo’. O embaixador norte-americano Lincoln Gordon chegou a proclamar que “a revolugao de 1964 foi um produto 100% brasileiro” Apos 0 sucesso do golpe que derrubou o presidente Jodo Goulart, foi instalado um govemo ditatorial chefiado pelos militares, no Brasil Esse governo militar procurou reprimir as oposigSes, formadas por politicos @ intelectuais nacionalistas, padres progressistas, estudantes ¢ lideres sindicais. Para reprimir todos os que se opunham ao governo, os chefes pollticos militares precisavam de poderes cada vez maiores, ou seja, precisavam tornar legal seu poder autoritario. Para isso, langaram mao de Atos Institucionais. 70 Jommal Uitima Hora era 0 dnico jornal que apolava as reformas de base do governo Jango. Promulgados ao longo dos mandatos presidenciais dos generais Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967) e Artur da Costa e Silva (1967-1969), os ‘Atos Institucionais tornaram ilegais os partidos politicos e todos os meios de ‘oposig&o ao governo, esvaziando os poderes Legislativo e Judiciério. As cassagSes @ punigées constituiram parte essencial da estratégia revolucionéria, permitindo afastar da maquina estatal todos os individuos idenfificados com o antigo regime. A primeira onda de punigbes comegou antes mesmo da posse de Castelo Branco. No dia 9 de abril, os militares editaram 0 Al- 4, que suspendia temporariamente a imunidade parlamentar © as garantias constitucionais da estabilidade e da vitaliciedade, além de estabelecer eleigbes indiretas para presidente da Republica. Até dezembro de 1964 foram cassados quatro governadores, quatro ministros, dois senadores, cinqUenta e cinco deputados federais, trinta e quatro deputados estaduais, catorze prefeitos e dez vereadores. Ao todo, duzentos & trinta € cito politicos, com ou sem mandato, foram cassados naquele ano. Outras cento e quarenta e cinco pessoas também tiveram seus direitos politicos suspensos. As demais esferas do poder publico também foram afetadas. Foram afastados quarenta e nove juizes, mil quatrocentos e oito funcionarios e mil cento e \qlienta e dois militares. Fora do aparetho estatal, foram atingidos sindicatos & organizag6es estudantis. Estima-se que, nos primeiros meses apés o movimento militar, cerca de cingdenta mil pessoas tenham sido presas pelo novo governo. Em 1966, cento e cinguenta e quatro pessoas tiveram seus direitos politicos suspensos. No ano seguinte, mais citenta e seis pessoas foram cassadas. 15 ‘Até 0 final do ano de 1968, doze deputados federais foram cassados @ 0 Congresso foi fechado. No ano seguinte, mais trezentos € trinta e trés politicos tiveram seus direitos cassados e 0 Congresso permaneceu fechado até outubro, quando foi reaberto para eleger Médici® Isso sem comentar, € claro, 0 enorme ntimero de jovens militantes que foram presos arbitrariamente alé o final da ditadura. Através do Al , de outubro de 1965, os partidos politicos foram extintos foram criados apenas dois: 0 Movimento Democrético Brasileiro (MDB), para representar a oposigao“, e a Alianga Renovadora Nacional (Arena), que era o partido da situagdo. Gragas ao Al-3, de fevereiro de 1966, os brasileiros perderam o direito de eleger os goveradores e seus vices, os prefeitos das capitais e das areas consideradas de seguranca nacional Com o ALS, de dezembro de 1968, fechou-se 0 cerco politico, concentrando 0 poder de maneira absurda nas maos do presidente. A partir de entéo, escancarava-se a supremacia do Executivo sobre o Legislative e 0 Judiciério: 0 presidente adquiriu 0 direito de decretar 0 recesso do Congress Nacional, das assembléias legislativas e das camaras de vereadores; de decretar interveng&o nos estados, municipios e territorios; cassar mandatos e suspender direitos politicos; decretar estado de sitio e confisco de bens. Em termos econémicos, os militares trataram de recuperar a credibilidade do pais junto 20 capital estrangeiro, a custa de adog&o de medidas recessivas no * Dados retirados da Folha de Sao Paulo, 27/3/94. Sao dados restrltos a0 periodo 1964-1968, nao contabilizando, portanto, todos os cassades do periodo militar. ‘A crlagdo de um partido de oposigso fazia parte da estratégia dos militares, que pretendiam dar cara de democracta ao regime ditatorial implantado por eles. 16 mercado intemo, como a contengéo de saldrios € de subsidios as pequenas e médias empresas. Dessa politica econémica resultou a concentragéo de renda nas maos do Estado e de alguns grupos de brasileiros poderosos, ligados &s multinacionais, ‘A maioria do povo ficou sem ter acesso aos beneficios do progresso econémico. Modemizou-se 0 pais, mas 0 povo ficou excluido do desenvolvimento, suas condig6es de vida nao melhoraram. Enquanto crescia 0 capitalismo excludente, crescia também a insensibilidade diante dos problemas sociais da maioria Acentuou-se a concentragao de terras nas m&os de uma reduzida minoria de latifundidrios que passaram a ocupar praticamente a metade de todas as terras agricolas disponiveis. Boa parte desses latifindios ainda hoje ¢ improdutiva ou est4 voltada para culturas de exportaggo, como a soja, fazendo com que milhdes de brasileiros passem fome, embora vivamos num pais de imensas potencialidades agricolas. ‘Além disso, persistiu, nesse periodo, o terrivel problema do descaso pela educag4o geral do povo®. Milhdes de criangas continuaram sem freqdentar a escola por ndo existirem vagas suficientes. Os governos militares deixaram como heranga o rebalxamento da educago publica e o esvaziamento do ensino critico, voltado para a formagdo da cidadania, na medida em que exigiam das escolas dos professores um ensino voltado para a concordancia com 0 que acontecia para a ignorancia do que de fato se passava. Qualquer tentativa de andlise era * Paulo Freire ¢ seu método de alfabetizagao popular foram expulsos do Brasil e foi adotado 0 esquema Mobral, que nao se preacupava com a alfabetizagao efetiva, mas, sim, com a mera decodificagao de simbolos. = o > ° ° ° ° ° ° ° ° . ° ° ° > . . im - ° 7 vista como subverséo ¢ rebeldia, sujeita a prisdo. Por isso temos, até hoje, os chamados “filhotes da ditadura” que, de tanto terem a visdo hist6rica bitolada naquela época, no conseguem nem perceber 0 que se passou, achando que “aquela época era boa, no tinha corrupgao, nem badema, nem confuséio de um monte de partidos...” Um grupo interessante de brasileiros, de tao moldado que foi ao sistema, ainda acredita que sO conseguimos progresso em meio ao siléncio amordagado. © custo social foi impagavel: a concentragéo de renda acentuou-se, os ricos ficaram mais ricos e os pobres, mais pobres. Com a desculpa de “primeiro fazer crescer 0 bolo para, depois, repartilo’®, os militares cuidaram do crescimento do PIB e descuidaram do povo. A inflagao bateu recordes hist6ricos, gerando um periodo de favorecimento @ especulago financeira em detrimento dos investimentos na produgdo. O endividamento extemo brasileiro cresceu de forma espantosa e incontrolével, atingindo cifras astronomicas. As empresas multinacionais ampliaram sua atuagdo no mercado brasileiro, concentrando seus capitais nos setores mais importantes da economia. O conjunto dessas empresas 6 responsavel por fabulosa remessa de lucros a suas matrizes no exterior. 1930-19 Durante o mandato do general Emilio Garrastazu Médici (1969-4970), a censura aos meios de comunicagdo e a repressao crescentes levaram a esquerda revolucionéria a optar pela luta armada contra a ditadura. Um rigoroso esquema de seguranga foi montado para combater “atos terroristas" isolados, como segiiestro de embaixadores estrangeiros, assaltos a bancos e depdsitos de armas. ° Frase atribuida a Delfim Neto. ) ) 393 999999009 939393939 3939393 18 A guerrilha perdeu a guerra para os militares. Favorecidos pela ampla disponibilidade de capital no mercado mundial e pelo apoio, nem sempre velado, do governo de Washington, os generais brasileiros derrotaram a oposigao armada, a0 mesmo tempo que se empenhavam na concretizagéo de grandes projetos econémicos, como a abertura da rodovia Transamazénica, entre 1970 e 1972, e a construgao da hidrelétrica de Itaipu, no rio Parané, em sociedade com o governo do Paraguai (1973). Portanto, a vitéria da repressdo coincidiu com a vitoria do modelo econémico articulado pelo governo militar e apoiado pelo capital externo. Na década de 1970, o Brasil chegou a crescer 11% ao ano © “milagre econémico brasileiro, contudo, foi breve. A primeira alta generalizada dos pregos do petréleo, em 1973, provocou uma subita retragdo no ‘comércio internacional, com reflexos especialmente negativos para os paises dependentes do capital extemo. O gover encontrava cada vez mais dificuldades para pagar as importag6es e financiar a construgao de enormes estradas, pontes, hidrelétricas e outras indistrias de base. Recorreu, ento, a novos empréstimos © emissées de moeda, numa orescente perversa espiral inflacionaria, Os militares comegaram a perder 0 embasamento econdmico com o qual justificavam o arrocho politico e social. No Ambito cultural, a repress&o foi muito intensa, para impedir manifestagSes contrarias 4 ordem estabelecida pelos militares. Nesse periodo, a imprensa e as artes em geral sofreram rigorosa censura, que impedia a livre informagdo e cerceava as manifestag6es culturais. ) ) » o ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° 19 os textos, jomais, o8 censores ficavam na redago e liam todos Em muitos antes de serem impresses. Qualquer informagéo que eles julgassem inconveniente era sumariamente cortada. No lugar dos trechos censurados, 00 jomais publicavam textos que possibiitassem aos leitores saber que ali no pode ser publicado um artigo, uma foto ou uma noticia. Estado de Séo Paulo, por receitas culinérias. exemplo, publicava poemas de Camées; 0 Jornal da Tarde, Outros jomais aproveitavam a previsso do tempo para dar 0 alerta: o fempo apresenta-se instavel, nuvens negras no horizonte © @ pesada presséo ‘atmosférica mostram tempestades a vistal No period do govemo Médici, a censura intensificou seu controle: peas teatrais”, filmes nacionais e estrangeiros, misicas e livros foram proibides. Varios autores foram, inclusive, enquadrados na Lei de Seguranga Nacional por desrespeito 4 censura®. 1A preocupagéio com a seguranga expressou-se, também, na criagao do Servico Nacional de Informagées (SNI), que montou uma vasta rede de agentes secretos € informantes, abrangendo centenas de milhares de pessoas. OS agentes de informagéo espalharam-se pelos quatro cantos do terterio nacional, infitrando-se em 6rgos publicos, empresas, sindicatos, escoles, bares, edificios, etc. A inseguranca tomou-se companheira de todas as horas! Porém, durante os anos de ditadura militar sempre houve luta contra 0 regime e pela volta da democracia politica, na qual os cidados brasileiros pudessem de novo escolher diretamente seus governantes influir nos destinos do pais. 7 nausve a pega infanti“Aprendiz de Felicero” de Marta Clara Machado e “Homem nde entra’, de Cidinha Campos. + chico Buarque de Holanda, Talguara e Luis Gonzaga Jini foram os mais atingidos. > » a ° ° ° ° ° ° 20 A primeira tase dessa luta, que foi de 1964 a 1968, fol de oposigao pacifica ‘ao govemno, através do Congresso Nacional e das varias organizagbes da sociedade civil. A segunda fase foi do Al-5, em dezembro de 1968, a posse de Geisel na presidéncia da Republica, em margo de 1974, e caracterizou-se pela luta armada de varios grupos contra 0 governo ditatorial, através da guerrna urbana e rural, j4 que toda contestagdo pacifica era violentamente impedida, Finalmente, nos tiltimos onze anos de ditadura, @ luta voltou a ser pacifica: os sindicatos e outras organizagées sociais voltaram a se articular e passaram a reivindicar anistia aos perseguidos politicos e eleigdes diretas para todos os niveis. ‘A crise econémica, a pressdo popular e as divergéncias entre os proprios militares, levaram o quarto presidente militar, general Emesto Geisel (1974- 1979), a rever 0 modelo politico-econdmico instituido pela Revolugao de 64. Iniciou-se, ent&o, um processo controlado de abertura politica. ‘Seu sucessor, Jodo Batista Figueiredo (1979-1985), foi o ultimo presidente militar. Em 1979, ele decretou anistia aos presos e exilados politicos © a abertura do regime, 0 que permitiu a formagao de novos partidos. Em janeiro de 1985, a nag&o assistiu a escolha do civil Tancredo Neves” para a presidéncia da Repiblica, ainda pelo Colégio Eleitoral. O povo brasileiro s6 votou de forma direta para presidente, outra vez, em 1989. ° Presidente que ndo chegou a assumir, pois morreu, Em seu lugar, assumiu seu vice José Samey. , 3 A RESISTENCIA AO REGIME MILITAR E A REPRESSAO © regime instaurado em 1964 n&o foi aceito passivamente pela nagdo.Durante todos esses anos, amplos setores da populagdo — politicos, trabalhadores, estudantes, organizagdes da sociedade civil - opuseram-se a0 governo € lutaram contra a repressdo e pela defesa dos ideais democraticos. Conforme Flavio Tavares”: “Dai em diante, 0 caminho para aderir ou participar da resisténcia tomou-se cada vez mais curto e natural. De fato, no fiz uma opgo politica: tive uma reagao moral...” (Tavares, 1999, p.165). Nesse processo de resisténcia, de luta contra o regime militar,centenas de pessoas morreram ou desapareceram. © Congresso Nacional tentou fazer frente @ prepoténcia do governo, No final de 1968, votou contra a licenga para que o executivo processasse 0 deputado Marcio Moreira Alves, acusado de ofender a honra das Forgas Amadas. A resposta do governo foi a decretagéio do AI-5 e o fechamento do Congreso por quase um ano. " Jornalista do Jomal Uitima Hora, ativista de esquetda, perseguido, preso e torturado pela itadura. 22 Os trabalhadores, por sua vez, também resistiram fazendo greves e varios movimentos. Qs religiosos dominicanos estiveram na primeira linha da resistencia da Igreja Catdlica. Varios foram presos, torturados, acusados de ligacdes com “grupos subversivos” Com a intervengéo do governo nos sindicatos e a extingao dos partidos politicos, no entanto, os estudantes assumiram o principal papel na luta contra 0 regime militar e 0 imperialismo norte-americano. Em marco de 1968, um estudante secundarista, Edson Luis da Lima e Souto, fol morto durante uma passeata no Rio de Janeiro. Seu funeral transformou-se em ato piblico contra o regime, mobilizando, no més de junho, cerca de cem mil manifestantes entre mes, estudantes, intelectuais, politicos e artistas. Por ordem do Conselho de Seguranga Nacional, centenas de lideres estudantis foram presos, entre eles os presidentes da UNE e UEEs, Em Sao Paulo, cerca de novecentos estudantes vindos de todo pais, foram presos durante um Congresso Nacional de Estudantes, em Ibiina, S40 Paulo" Com o aumento da repressdo, os lideres estudantis tinham cada vez mais dificuldades para mobilizar a populagao € os préprios estudantes. Por isso, eles passaram a optar pela luta clandestina contra a ditadura. Influenciados pela revolugdo socialista de Cuba, algumas centenas de estudantes, intelectuais, operdtios € militares menos graduados resolveram aderir a luta armada contra o regime. " Dentre os presos, encontrava-se José Dirceu, entéo presidente da UNE, que elegeu-se, depois, deputado federal pelo PT -SP e que, atualmente, é 0 ministro chefe da Casa Chill da Presidéncia da Repablica. Pewee ySSeeUETUUD u ee er ITE 23 A partir de 1968, surgiram diversas organizagSes clandestinas, algumas resultantes de divises do Partido Comunista. Entre outras podem ser citadas: Vanguarda Armada Revolucionéria ~ Palmares (VAR ~ Palmares), Vanguarda Popular Revolucionéria (VPR), Comando de Libertagéo Nacional (Colina), Movimento Revolucionario 8 de Outubro (MR — 8). Essas organizagies eram lideradas muitas vezes por militantes politicos de esquerda, como Carlos Marighella, ex-deputado federal, ou por militares. Entre estes, destacou-se 0 Capitéo Lamarca, que fugira de um quartel do Exército, em Osasco, S40 Paulo, com um caminhdo carregado de armamentos. Esses movimentos tentaram a guerilha urbana. Varios diplomatas estrangeiros foram sequestrados e trocados pela libertagéo de presos politicos, que, por sua vez, eram enviados para fora do Brasil. Foi o caso, por exemplo do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, seqiestrado em 1969, em troca da liberdade de quinze presos politicos, que foram mandados para México™. ‘Alem deste, foram seqUestrados, em 1970, os embaixadores da Alemanha e da Suiga e 0 consul do Japto, chamando a atengao da opinido publica intemacional para a repressao politica no Brasil Paralelamente, iniciaram-se assaltos a bancos a fim de conseguir dinheiro para financiar a luta armada. Apesar de alguns éxitos iniciais, a guerrilna urbana mostrou ser uma estratégia falsa, frustrada, no encontrando apoio no conjunto da populacao, que via os guertiheiros como terroristas ameagadores (até porque a propaganda divulgada pelo governo colaborava pra isso). Flavio Tavares descreve a sensaga0 de desamparo num trecho de seu livro: Heiss ean Re ae Entre os presos libertados estava Flavio Tavares. : 24 Tinhamos entregado tudo a4 causa da nossa “utopia popular’, inclusive a vida. Nem sequer tinhamos consciéncia dessa generosidade que, as vezes, se confundia com uma doagdo aventureira ou uma bravata de jovens, entremeada de gente madura, alguns até quase ancios, Mas € 0 povo? Onde estava 0 povo, depositario ¢ objetivo dessa sacrificada luta pela utopia? O povo tinha desaparecido... (Tavares, 1999, p. 47), Na luta antiterrorista, 0 Exército criou duas organizagbes especiais: 0 Departamento de Operacées Intemas (DO!) e os Centros de Operagao e Defesa Interna (COD)). As atividades dos DO!-CODIs desarticularam a guerritha urbana e levaram a morte muitos militantes de esquerda. Os grupos guerrilheiros foram dizimados, e varias centenas de pessoas morreram ou desapareceram, vitimas da repress policial e militar. A guerrilha voltou-se, entdo para 0 campo. Exatamente: a guerrilha rural também foi tentada. Dois episédios merecem destaque: um deles é 0 que envolveu 0 foco guerrilheiro do Capitéo Lamarca, no Vale da Ribeira, no sul de S40 Paulo. Milhares de soldados foram mobilizados para combater 0 grupo, que ndo tinha mais que uma dezena de guerrilheiros, mas ‘que conseguiu furar 0 cerco e fugir. outro episodio foi o da guerriha que se desenvolveu na regiéo do Araguaia (Tocantins, Para e Maranhao) entre 1969 e 1974 e da qual participaram cerca de setenta revolucionarios'®. Aproximadamente vinte mil militares foram mobilizados para combaté-los, em operagdes que contaram com a atuagdo de para-quedistas da Forga Aérea e que exigiam até mesmo a construc de estradas. Saldo final: quase todos os guerrilheiros foram mortos. E, até 1996, Dentre os revolucionarios, vale destacar a participacdo de José Genoino (um des poucos ‘sobreviventes), candidato ao governo de So Paulo nas eleigdes de 2002 e atual presidente do PT. 25 seus corpos continuavam desaparecidos, apesar da luta dos familiares para localizé-los. ‘A maioria dos presos era submetida a cruéis torturas para confessar 0 nome de seus companheiros de luta e os planos da organizagéo a qual pertenciam, além de locais de encontros e quantidade de armas que possuiam Em Sdo Paulo, chegaram a ser presos muitos religiosos, acusados de colaborar com os subversivos. Um deles foi o Frei Tito, barbaramente torturado e que, posteriormente, acabaria suicidando-se na Franca. De acordo com Flavio Tavares: A tortura — como ameaga — ndo é uma invengdo a esmo e, nela, nao ha qualquer acaso. E um sofisticado método de incriminagao da vitima e nisso esta a sua l6gica e, por isso, se recorre a ela e € ela a deusa absoluta dos déspotas. Primeiro se tortura ou ameaca. Depois se interroga. A logica 6 precisamente esta: destruir 0 prisioneiro e tomar natural 0 medo. O interrogatorio guiado pelo terror e pelo medo é que no tem légica humana. O que se pode tirar de uma pessoa desfeita, sem animo, sem metas e sem 8, que sentiu o gosto ou pressentiu o delirio da destruigéo ou da morte? O que se tira de um derrotado absoluto? Talvez algo de verdade, sim, mas muito mais a fantasia delirante sobre algum dado verdadeiro e isolado que n&o representa verdade alguma, muito menos uma revelago merecedora de investigagdo (Tavares, 1999, p. 219). 4 A VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONARIA E SUA ATUACAO NO. BRASIL, Dentre as muitas organizagdes de resisténcia a ditadura, merece destaque a Vanguarda Popular Revolucionaria — VPR. Essa organizagao nasceu, em margo de 1968, de um grupo basicamente paulista, vinda da fuséo de uma ala esquerda da POLOP (Organizagdo Revolucionaria Marxista de Politica Operaria), composta de estudantes, intelectuais e exmilitares que se orientavam pelo prisma guerilheiro cubano e que criticavam seus dirigentes por excesso de teoricismo e auséncia de aco, e remanescentes do projeto de criagdo do MNR — Movimento Nacional Revolucionario. A partir de dezembro de 1868, a organizago receberia ‘© nome de VPR, j4 contando com a participagéo de um grupo de militantes de Osasco, que se caracterizava pela sua condicao de operarios-estudantes. No decorrer de 1968, a VPR assaltou o Hospital Geral do Exército & realizou um atentado a bomba contra o Quartel-General do Il Exército, ambos em defonarge ‘S40 Paulo, demstando a tética de enfrentamento aberto No mesmo ano, em outubro, membros da VPR participaram da execugéo do oficial norte-americano Charles Chandless, suspeito de ser agente da CIA. Para janeiro de 1969, estava preparada uma grande operagéo que envolvia © oficial Carlos Lamarca. O mesmo deveria se retirar de sua unidade (0 4° Regimento de Infantaria, em Quitatina, Osasco), levando consigo uma grande quantidade de armamentos. No entanto, a operacdo foi percebida pela repressdo e teve que ser realizada emergencialmente, ndo atingindo seu objetivo pleno quanto ao nimero e qualidade dos armamentos. O ciclo de pris6es que se seguiu comprovou a tese de alguns membros da VPR que julgavam a ago inoportuna. Em abril de 1969, a VPR fundiu-se com o Colina, de Minas Gerais, formando a VAR ~ Palmares (Vanguarda Armada Revolucionaria Palmares). Em setembro, no entanto, houve nova disseng&o, ocasionando o ressurgimento da VPR que contaria, ent&o, com grupos atuantes no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul O principal lider desta nova constituigao da VPR era 0 Capitéo Lamarca, que pregava a luta armada, especialmente na Area rural, como forma de resistencia ao regime militar, relegando a segundo plano 0 trabalho politico e a formagao de bases. Amaioria dos militantes dirigiu-se ao Vale da Ribeira, no sul de Sao Paulo, onde foi montada uma area de treinamento de guerrilha. Em fevereiro de 1970, em fungo da priséo de um militante que conhecia a localizago da area, a VPR seqllestrou o consul japonés e obteve, em troca da sua libertag4o, a soltura do militante Mario Japa e de mais um pequeno grupo de presos politicos que foi mandado para o México. Mesmo superado este episédio, a area foi localizada em marco e 0 Exército realizou uma intensa campanha militar, realizando o cerco da regio. Sob o 28 comando de Lamarca, alguns guerrilheiros que permaneciam na rea conseguiram furar o cerco e fugir para a capital paulista. No entanto, as baixas da VPR foram consideraveis. Além disso, a descoberta do cadaver do policial Alberto Mendes Junior, morto na érea do Vale da Ribeira, exacerbou a imagem negativa da organizag&o diante da opinigio publica, gragas a campanha promovida pelos meios de comunicagao. A VPR, em S&o Paulo, ficou desarticulada e a maior parte dos que restaram dirigiu-se para o Rio de Janeiro. Ali, realizaram mais dois sequestros, em 1970: em cooperag&o com a ALN, seqiestraram o embaixador alem&o, Von Halleben, conseguindo a libertagéo de quarenta presos politicos que foram levados para a Argélia, e o embaixador suigo, Giovanni Enrico Bucher, pelo qual foram trocados mais setenta prisioneiros, que foram enviados para o Chile. AS operag6es, apesar do sucesso aparente, debilitaram muito a organizagéo, que saiu das negociagées desgastada e com tensées intemas. Outrossim, as freqdentes prisdes ¢ a falta de reposigao de militantes por caréncia de trabalho de recrutamento constante, culminaram com a saida de Lamarca e de outros militantes, que se ligaram ao MR-8. Uma ultima tentativa de rearticulacdo da VPR, liderada por dirigentes exilados, foi frustrada pela atuagao do agente duplo Cabo Anselmo que provocou uma verdadeira chacina, em Pemambuco. Dos varios nuicleos da VPR, um deles atuou no Rio Grande do Sul, tendo entre seus militantes membros ilustres como Jodo Carlos Bonna Garcia’, Félix Elemento de ligag&o entre o niicleo da VPR de Porto Alegre e de Passo Fundo. 29 Silveira da Rosa Neto"®, Bruno Piola, Roberto De Fortini'* e Carlos Aratijo'”. Uma das ramificagdes da organizacao instalou-se na regio de Trés Passos, na Barra do Turvo com 0 Uruguai, contando com a atuag&o de militantes da regido (nao tao famosos, mas néio menos ilustres ou maltratados pelo regime) como o Dr. Reneu Mertz € 0 jovem estudante Antonio Alberi Maffi. 'S Membro do comando regional da VPR, que participou, dentre outras agées, da tentativa frustrada de seqiesiro do cdnsul americano Curtis Cutter, em Porto Alegre. ‘Bruno Piola e Roberto De Fortini eram italianos naturalizados brasileiros. O tiltimo citado era coordenador da Base da VPR, na Regio do Alto Uruguai. 7 Ex-deputado estadual pelo PDT e ex-companhelo de Dilma Roussef, também militante da VPR, indicada para ocupar o cargo de ministra de Minas e Energia, no governo Lula. 5 A ATUACAO DA VPR NA REGIAO DE TRES PASSOS 5.1 DO PROTESTO A RESISTENCIA - 1964-1968 “Tendo tudo para contar, sempre quis esquecer” (Tavares, 1999, p.11) E a partir do depoimento de Antonio Alberi Maffi, que foi resgatada a historia da atuag&o da VPR na Regio de Trés Passos, mostrando-nos como, apesar da opressdo ditatorial, as organizagbes planejavam agdes e buscavam espago para lutar pela volta da democracia e pelo direito de falar e agir. Nos primeiros anos apés o golpe , que os militares insistiam em denominar de Revolugéo de 31 de Margo — a Redentora -, 0 Brasil vivia uma realidade marcada de expectativa quanto aos rumos do novo regime. Adolescente, oriundo de familia de agricultores do interior de Braga, Antonio Alberi Maffi cursava o ginasio na cidade de Passo Fundo, quando assistiu pela primeira vez um movimento de tropas militares. Era marco de 1964. Morava 9.0.0.0.0.0.9:3-9:9:9-3:9-39999 31 préximo ao quartel da Brigada Militar quando govemador do Estado, ldo Meneghetti, em fung3o do golpe de estado, deixou Porto Alegre e passou a governar daquela cidade interiorana, mais precisamente daquele quartel. O movimento de efetives da Brigada © do Exército era Intenso em toda a cidade, especialmente naquele quarteirso. Sem entender direito, ° jovem Alberi percebia em muita gente contrariedade e sinais de repulsa pela inédita movimentacao. 0 em casa de um tio, ferroviario brizolista E foi assim que, resi convicto, o rapaz comegava a tomar contato com a politica. Estudava num dos melhores colégios particulares da cidade, o Instituto Educacional (IE), gracas a ajuda financeira do entéo Deputado Estadual Darcilio Giacomazzi (PTBIMDB), cassado em 1969 © Instituto Educacional de Passo Fundo, ligado 2 Igreja Metodista, tinha em seu corpo docente alguns professores americanos. © aluno Alberi teve, sempre, uma ativa participag#o na escola : lideranga de aula, clube literario, grémio estudanti. Todos os anos, realizava-se um concurso de oratéria; evento tradicional na escola ¢ na cidade. Os primeiros classificados nas escolas participavam, como seus representantes, na competigaio em ambito municipal. Na eliminatéria do IE, os participantes, na sua totalidade, trataram de temas tradicionais e amenos. O discurso de Alberi foi um libelo & Guerra do Vietnd. Denunciava 0 imperialismo norte-americano @ © brutal massacre desencadeado contra 0 pove vietnamita, soliderizando-se com a luta hertica daquele povo asiatico. Ganhou o concurso, mas foi proibido pela direge de representar 0 Colegio n° ambito municipal. A Unido Passofundense de Estudantes, promotor de certame, n&o aceitou. Participou, entéo, a revelia da diregdo, e ganhou novamente. Houve ampla divulgago peta imprensa local. Noutro dia, Alberi procurou a dirego da Escola para entregar-ihe 0 troféu, que foi recusado. O troféu foi deixado exposto na sala do Grémio Estudantil A partir desse episédio, 0 Alberi intensificou sua participaco no movimento estudantil. Ele lia muito. Habito adquirido no seu tempo de seminarista. Em razdo disso, argumentava com firmeza € facilmente convencia e mobilizava os colegas Suas ages, no entanto, resumiam-se a protestos, pichagdes, panfletagens, convocagao de greves e passeatas. De um modo geral, reproduziam o que se passava no Brasil e no resto do mundo. Toda esta movimentacéo da juventude brasileira, no campo da cultura e da politica, era um espelho refletindo os processos comandados pelos jovens do mundo inteiro. No Brasil, como no resto do mundo, o Movimento Estudentil explodiu em 1968. As manifestagdes de protesto, por serem violentamente reprimidas pela forga policial, provocavam reagdes da sociedade em geral. Na “Passeata dos 100 mit’, ‘como ficou nacionalmente conhecida, realizada em 26 de junho, no Rio de Janeiro, as pessoas desfilavam aos brados de “Abaixo a Ditadura” ou “Povo unido, jamais sera vencido”. De bragos dados com estudantes, os organizadores, caminhavam —atistas, _intelectuais, parlamentares, religiosos...(Colling, 1997, p. 37). Em Passo Fundo, 0 movimento secundarista, comandado pela Unido Passofundense de Estudantes (UPE) , estava na vanguarda das manifestacées Com uma postura mais firme © combativa, de certo modo, determinava as agdes do movimento universitario. Destacavam-se na lideranga do Movimento Estudantil, naquela época, Solon Viola e Bona Garcia, ambos dirigentes da UPE. O grupo liderado por Solon ligava-se & Ago Popular, mais sintonizada com a corrente religiosa da esquerda 33 ns Foi, porém, através de Bona Garcia que Alberi passou a militar no POC — Partido Operario Comunista — convidado a dele fazer parte logo apés 0 episédio do discurso. 8.2 DA MILITANCIA A OPGAO PELA LUTA ARMADA - DO POC A VPR 1968-1970 Escancarada, a ditadura firmou-se. A tortura foi seu instrumento extremo de coergéo e 0 exterminio, 0 ultimo recurso da repressdo politica que 0 Ato institucional n° 5 libertou das amarras da legalidade. A ditadura ‘envergonhada foi substituida por um regime a um s6 tempo anarquico nos quartéis ¢ violento nas prises. Foram os anos de Chumbo. (Gaspari, 2002, p.13) A primeira reuniao do grupo, como militantes do POC em Passo Fundo, antecedida de esquema de seguranca, foi no meio do mato. a Do nucleo principal, participavam: Bruno Piola, Bonna Garcia, Roberto De do Rio Uruguai. Fortini, Belmor Palma, Luis Carlos de Oliveira, Eden Pedroso, Leopoldo Feldens e outros. Quase todos, mais tarde, estariam compondo os quadros da VPR , participando, inclusive, da base implantada na regio de Trés Passos, 4s margens A partir desse momento, na condigao de membro atuante de uma organizago de esquerda, com agdes na sua maioria desenvolvidas de forma A clandestina, houve um redimensionamento na vida de Alberi. A necessidade de conciliar a participago no movimento estudantil com o cumprimento de tarefas 34 mais amplas do ponto de vista politico-ideolégico, determinou bruscas e inesperadas rupturas de ordem pessoal e social Sob a orientagdo da diregdo estadual do POC, passaram & execugao de algumas atividades na cidade e na regido: pichagdes de muros, impressao @ distribuiggo de panfletos por ocasiéo de eventos significativos como dia do trabalho, independéncia, eleig6es, etc, intitulados: “Contra o arrocho”, “Abaixo a ditadura’, “Estudantes e operarios contra a ditadura’, “O povo no poder’, etc. A distribuigo era feita sempre a noite, sob esquema de seguranga, preferenciaimente, em bairros e vilas populares, portas e patios de fébricas, frente 1a colégios @ faculdades, comités @ entidades de classe. A impress4o desse material era feita de forma artesanal, utiizando-se de um “reco-reco", 0 que demandava noites e noites de trabalho. Além disso, os jovens ativistas promoviam reunides regulares, para leitura e discusséo de documentos, jomais, revistas e periédicos, sobre a conjuntura nacional ¢ intemacional. Ainda no que tange & formago tedrico-ideologica dos quadros do Partido, tornava-se obrigatéria a leitura de alguns livros. Foi dai o aprofundamento de Alberi nos classicos do marxismo-leninismo. Com razoavel bagagem literaria e filoséfica, debrugou-se, com afinco, nas leituras de Politzer (Principios fundamentais da Filosofia), Engels (A origem da familia, da propriedade privada e do estado), Marx (O capital), Lenin (obra completa), passando por Gramsci, Luckécs, Marcuse; sem esquecer de Regis Debray, Mao, Guevara, Marighella. Convictos da obrigaggo de fazer politica de forma continua e permanente, em todo tempo e lugar, passaram a um trabalho de convencimento e cooptacao, cada qual em seu setor de trabalho, de estudo ou convivéncia. Alugaram uma casa, situada numa vila operdria, onde Alberi foi morar, que servia como “apareiho” do partido. ‘Ao aprofundar as discussdes e a andlise sobre a situac&o politico- institucional do pais, concluiram que havia necessidade de avangar mais no combate 4 ditadura Passaram a questionar as posigées do partido, principalmente 0 ndo engajamento do POC as agées armadas urbanas e rurais. Parecia, para eles, de uma clareza absoluta que o combate a ditadura sO seria eficaz se travado de forma mais firma e revoluciondria. Em outras palavras: pela luta armada, Da ruptura com o POC a ida para a VPR- Vanguarda Popular Revolucionéria ~ foi um curto passo. O elo de ligacdo do grupo de Passo Fundo com a diregao da VPR, em Porto Alegre, foi feito por Bona Garcia que jé atuava na capital do Estado. 5.3 A BASE DE TREINAMENTO E APOIO LOGISTICO DA VPR EM TRES PASSOS 1969-1970 Com os olhos de hoje é facil afirmar que 0 foco guerrheiro foi um gesto romantico, uma experiéncia bucdlico- revolucionaria ou uma aventura pouco condizente com a realidade ao seu redor. (Até mesmo porque, nés fomos os derrotados @ qualquer teoria é irrefutavel para explicar a derrota). Era impossivel, no entanto, perceber isso antecipadamente, com os olhos da época. A globalizaczo daqueles anos era o exemplo de Viena em armas desafiando a maior poténcia militar do mundo, ou a 1999909909 ,90 99999990 36 Revolugéio Cubai@ @ 70 milhas de Miami, (...) Eram aqueles anos em que o Che Guevara salu de Cuba e esteve em “nenhuma parte”, armas #4 M&o pelo Congo. Ou, depois na Bolivia, quando’ - moro ~ Passou a estar em todas as partes. Nas barricadas dos €Sludantes no maio de 1968, na Franga, na Alemanha, no Néxico ou nas maiores cidades do Brasil, A globalizacéio de ontem n&o era a do ansioso consumo irrestrito de hoje, Mas estavamos também globalizados naqueles anos 60, quando esta palavra nem sequer era usual. A capacidade 4¢ indignar-se invadia o globo, nos globalizava. Gesto rofantico ja sabiamos que era,.mas € por que ndo ? (Tavares 1999, p.188) A regiéo de Trés Passos foi escolhida para a impantagao de uma base de treinamento © de apoio logistico" as agdes da VPR, }9F sua localizacdo estratégica: divisa com a Argentina e proxima ao Paraguai, com jsssibilidade de desiocamento terrestre ¢ fluvial para ambos os lados. Os jovens ativistas no atentaram para um fator, porém. A de ser uma area “visada’ por ter sido palco, em outras ocasi6es, de enfrentamentos com 0 poder central Por ali passara @ Coluna Prestes. Ainda existe na regido vestigio.¢ memoria dos embates revoluciondrios dos seguidores do “cavaleiro da esperanca”. Mais recentemente, acontecera é frustrada a¢éo guertilheira do Cel. Jefferson e Sgt® Alberi, sacudindo a rragiao; ensejando, segundo alguns, por reagdo © precaugéo, a instalagéo em Trés Passos de um qwartel da Brigada Militar. * Segundo Aurélio, ogitica é a parte da arte da guerra que trata de: a) projeto e desenvolvimento, obtengo, armazenamento, transporte, distribuigao, reperagée, manutengo ‘evacuagdo de material (para fins operativos ou administratives);b) recrutamento, incorporacao, instrugdo e adestramento(..), evacuacao e deslocamento de pesscat;c0 aquisigao ou construceo, reparagio, manutengao e operacéo de instalagdes e acessorios destinados a ajudar 0 desempenho de qualquer funcao militar. 9909099989 SSS99 999999 37 Um dia antes de Guevara sumir de Havana, o ex-sargento da Brigada Militar, Alberi Vieira dos Santos, um dos exilados mais corajosos, radicais ¢ faladores de Montevidéu, foi a ‘Atlantida ver se conseguia algum dinheiro com Brizola e ‘saiu sem tostéo, a pé. Encontrou-se depois com 0 ex coronel Jefferson Cardim, parente remoto de Castelo Branco, que fora ligado 20 PCB,(...)Cardim decidira que, @ despeito das grandes insurreigdes planejadas no Uruguai, se ninguém fizesse nada antes do dia 31 de marco de 1965, quando o regime militar completaria um ano, ele iria em frente, com o que tivesse. (...) Sem nenhum apoio de Brizola, 0 grupo saiu no dia 18 de margo. (...) Entre © momerito em que ele encontrou o sargento Alberi, no dia I ide margo, e @ hora em que o caminhao entrou no Brasil, no dia 9, passaram-se menos de 144 horas. Os guerrilheiros subiram para norte e no dia 25 acercaram-se da cidade gaticha de Trés Passos. (Gaspari, 2002, p.191) ‘Apesar dessas circunstancias, teve inicio a implantagao da base na regio. Havia necessidade de cooptagao de pessoas com lideranga local, impvidas e temerarias. Optou-se por Reneu Mertz, por sua notéria capacidade aglutinadora. A organizagao Vicejou em nossas plagas, como plantinha tenra, praticamente inofensiva, mas de grande repercussao, como Se vera a seguir , e que marcou indelevelmente nao s6 Trés Passos, como a sociedade regional. (José Bueno Trindade, em artigo anexado: A volta por cima It) Chegaram a conclustio que o melhor seria, por questGes légicas © estratégicas, constituir uma companhia de pesca que serviria de “fachada’ para as ag6es da organizacéo. Apos detalnados e minuciosos estudos, observando-se a topografia e geografia regional, decidiram que a companhia pesqueira concentraria suas atividades no Rio Uruguai, preferencialmente na confluéncia de outro rio, € abaixo do Salto do Yucumé, permitindo, com isso, a mais ampla mobilidade. Optou-se pela “Barra do Turvo", no distrito do Alto Uruguai. Uma casa foi alugada na cidade de Trés Passos, para servir de sede da Sociedade Pesqueira Alto Uruguai, bem como de ponto de referéncia e contato. 38 Criada e instalada a sociedade de pesca, para Ié afluiram quase todos os quadros da VPR de Passo Fundo que, gradativamente, foram incorporando-se as atividades como “pescadores ou funcionérios”. Essa circunstancia, algumas vezes, dificultava um pouco as afividades estritamente politicas ou operacionais (reunides, treinamentos, etc.). Por outro lado, propiciava importante € valiosa integragéo com os outros pescadores e a populacdo ribeirinha, constituida basicamente de assalariados rurais, pequenos agricultores e “chibeiros* Com recursos financsiros oriundos das ages de expropriacio e repassados pelo comando regional, foram adquiridos barcos, barracas, ferramentas, apetrechos de pesca e algumas viaturas, incluindo-se um caminhdo frigorifico (furgo) que demonstrou, depois, ser muito importante para o esquema de transporte da organizagéo. Ao mesmo tempo, foi instalada uma base em Imbituba (SC) que, ligada a ‘Trés Passos, possibilitaria importante ligacdo e intercambio com Passo Fundo e Porto Alegre. Alberi esteve nessa base com Roberto De Fortini, la permanecendo por cerca de trinta dias. Compravam e vendiam camarao... Estavam vivendo os primeiros meses de 1970... No ano anterior, acontecera o primeiro seqiestro de diplomata, o embaixador americano Charles Elbrick, trocado por 15 miltantes de esquerda. Nova Constituigéo. Reaberto, o Congreso elege Médici. Marighella morto em ‘S40 Paulo, Por todo o pais recrudescem as agdes armadas, e aumenta a repressdo. Mais de 100 assaltos e explosées, matando 15 guardas e policiais. Na esquerda, morrem I7 mnilitantes, afora os desaparecidos. As dentincias de tortura chegam a 1027 ...(Gaspari, 2002, p.470) Na regio de Trés Passos, continuava o trabalho militante, aliado as atividades legais. Estivera em Trés Passos ¢ na base da Barra do Turvo, Félix Silveira Neto (‘Femando") acompanhado da companheira “Madalena’. A partir de entéo, aumentando a precaucdo, passaram os alivistas a usar “codinomes* nas atividades, contatos ou informes sobre @ organizag4o. Alberi era o 0 “Paulinho”. Em conseqtiéncia da chegada dos companheiros de Porto Alegre, os membros atuantes na regio ampliaram suas atividades as margens do Rio Uruguai e adjacéncias, instalando pequenas bases de apoio, inclusive em territério Argentino. Foram feitas escavagées para abrigar mantimentos, medicamentos e armas, Estava criada e montada uma estrutura que permitiria receber e abrigar companheiros de qualquer parte do pais, dando-Ihes cobertura condigdes para que, se necessario, deixassem o pals (pensavam, inclusive, no proprio Capitéo Lamarca). A Sociedade Pesqueira ampliava suas atividades, tornando-se, por algum tempo, auto-sustentavel. Traziam camaro e peixes do mar, de Imbituba (SC) que, agregados aos extraidos do rio Uruguai, eram comercializados nos mercados consumidores de Trés Passos ¢ regido. O mais importante nisso tudo foi que acertaram 0 fomecimento de peixes para o quartel da Brigada Militar. Periodicamente, as viaturas da organizagao adentravam os portées do batalhao para fazer a entrega da mercadoria. A medida em que se tomavam mais conhecidos, passaram a circular com certa desenvoltura pelas dependéncias do quartel, Principalmente o Roberto de Fortini que, por ter sido vendedor-viajante, inclusive na regio, tinha muita facilidade de comunicag&o e relacionamento. Com seu jeito simpatico e bonach&o de italiano bem falante, ia granjeando a simpatia e fazendo amizade entre oficiais e sargentos. Isso Ihe permitiu, inclusive, a jo de algumas armas junto aos militares. Além do acesso facilitado, em 40 pouco tempo, tinham um aprecidvel levantamento sobre o quartel, suas dependéncias, pontos estratégicos, funcionamento da guarda, numero de efetivo e armamento... Mais tarde, apés sua priséo, fez-se forte terrorismo psicol6gico, junto a tropa, dizendo que estava nos planos da guerrilha, entre outras acées, a “tomada’ do quartel com a conseqliente morte de militares. Tudo transcorria conforme o planejado, embora os acontecimentos no resto do pais motivassem certa preocupacao, colocando-os em alerta Era margo de 1970... Eis que Plinio Machado, comerciante e proprietério de terras na Barra do Turvo, estranhando a movimentagao do pessoal, inclusive indmeros “caboclos’ ribeirinhos, e das conversas indiscretas, veio ao quartel da Brigada, comunicando a azafama 0 Cel. Bonilla, que sucedeu ao Cel. Soveral no comando. O comandante agitou-se pressurosamente e passou a efetuar prises, entre as quais de Alberi Maffi e Reneu Mertz. Era margo de 1970. Auge e climax da ditadura militar, recém empossado na presidéncia da Repiblica o Gal. Médici. Perseguigées, prises, torturas desencadeadas em todo 0 Brasil. Bonilla desempenhava 0 papel de um “pro-Cénsul” romano nestas paragens, acima da lei e das autoridades constituidas; ole era o “Poder’ incontestavel’. (José Bueno Trindade, em artigo anexado: A volta por cima IV) 5.4 DA PRISAO E DA TORTURA - margo de 1970 “Hoje n&o estou preso, nem derrotado, nem sozinho, Na minha parede nao hd grades e ndo hd paredes no meu mundo. Hoje sou o que penso ser, ndo o qué sou." (Tavares, 1999, p.273) 4l Vinte € nove de marco de 1970. Um Domingo. E néo por ser domingo, mas Alberi no lembra exatamente a razo, nao estava em Trés Passos. Avisaram-no, em Braga, que o Reneu e mais algumas pessoas do Alto Uruguai haviam sido presas e encontravam-se no quartel da Brigada em Trés Passos. Afinal, tinham um razoavel esquema de comunicagao e informagées. Na madrugada do dia 30, 0 Alberi, utiizando-se de estradas e caminhos secundarios, a fim de evitar barreiras policiais, foi a Passo Fundo para avisar ao pessoal de Id sobre a pris4o dos companheiros. Antes, porém, inteirara- se em,Trés Passos, sobre as circunstaéncias da priséo do grupo, obtendo a informagao de que a suspeita era a de que a sociedade pesqueira estaria encobrindo efou envolvida em atividades de contrabando. Descartave-se, portanto, a hipétese de subversdo. Por enquanto.. contato de Alberi em Passo Fundo era o Bruno Piola, num esquema pré-convencionado. Discutiram muito com os companheiros de | sobre a melhor altemnativa a ser tomada frente a situacSo. Alberi expés a sua intengao de voltar a Trés Passos e, dependendo da circunstancias, apresentar-se as autoridades, diminuindo ou dirimindo, com isso, as suspeitas sobre o grupo e a atuagao da sociedade pesqueira. Os companheiros estavamconfiantes de que, persistindo a tese de contrabando, seria facil safarem-se e, assim, preservar a estrutura e 0 trabalho desenvolvido na regido. Mais tarde, perceberiam quo ingénuo e primario fora tal raciocinio. E inegavel afirmar que, naquele momento, pesou muito o espirito de solidariedade ¢ companheirismo em relagéo ao grupo detido, especialmente a forte amizade do Alberi com o Reneu, 2 Deciséo tomada, retomou Alberi para Trés Passos. Antes de chegar, contudo, foi preso, na manha de 31 de margo (ironia...}, na cidade de Braga, por efetivos da Brigada Militar, sendo imediatamente conduzido ao quartel de Trés Passos, No dia seguinte, teve inicio o inquérito, conduzido pelo Tenente Alvaro Raul Ferreira. Como previam, as perguntas todas tinham como objetivo principal desvendar a suspeita de contrabando. Procurava 0 oficial, no seu interrogatério, ‘exaustivamente conduzido, fazer com que caissem em contradiges. Era muito interessante e oportuno, para 0s militantes, naquele momento, que © inquérito prosseguisse pelo maior tempo possivel nessa linha, Para tanto, procuravam dar respostas, sempre que possivel, evasivas ou duibias. Assim procedendo, dariam tempo e condigSes para que os companheiros ainda em liberdade, e a propria organizagéo, tomassem as medidas e decisdes que julgassem mais cabiveis e ‘oportunas , frente aos fatos. Ressalte-se que, nesse periodo, afora alguma pressdo psicolégica, nao sofreram nenhuma espécie de violéncia fisica. O Alberi e o Reneu circulavam com certa liberdade em algumas dependéncias do quartel, acompanhados apenas por um guarda. Faziam as refeigdes no cassino dos oficiais. Os demais presos enconiravam-se num alojamento, sob a custédia de alguns sentinelas. Reproduzia-se, também ali, o preconceito e discriminagéo de classes. Inesperadamente, tudo mudou. Fim de abril, inicio de maio, impossivel precisar. De certo apenas que era (outra vez) num domingo, quando mergulharam no infero. Chegou ao quartel uma equipe do CIE - Centro de Informagies do Exército - , posteriormente Do Codi, vinda do Rio do Janeiro, ao que se soube. Comandavam-na dois oficiais 093:3990090D 9999939999999009 43 (presume-se que eram coronéis, embora sempre atuassem @ paisana) especialistas em tortura. Valiam-se de codinomés “Malhdes' e *Cabral’. Primeiras ages dos esbirros: imediato e total isolamento de todos os presos e incomunicabilidade com qualquer pessoa de dentro ou de fora do quartel, inclusive familiares ou advogados Reneu e Alberi compartihavam do mesmo aposento: um quarto improvisado como cela. Subitamente, Alberi foi jogado, aos socos e pontapés, para uma sala ao lado, Nunca esqueceu a primeira frase dos carrascos: “acabou afesta, comunista, filho da puta! “ Anoitecia... naquele domingo. A partir daquela noite, e por tantas outras, pesadas e intermindveis, conheceram - e padeceram - , indistinta e inapelavelmente, a brutalidade dos pordes da ditadura brasileira. Das suas trevas, no tinham a minima idéia... Eles, sonhadores de um tempo de luz. Nas primeiras sessbes, nus e encapuzados (quase semre algemados) foram impiedosamente agredidos com empurr6es, chutes, pancadas, socos e pontapés por todo 0 corpo. No meio de tudo, gritos, ofensas, escarnio, seguidos pele aplicagao do famoso “telefone” ~ prética de tortura que consiste na aplicagao de fortes tapas, com as maos abertas, nos ouvidos do torturado, provocando terrivel sensacdo de tonteira e ensurdecimento. Nao demorou muito para a bérbarie adquirir requintes de crueldade foram submetidos aos choques elétricos. Fios eram amarrados nos dedos, nas orelhas e nos érgéos genitais e ligados a urna maquininha denominada ‘maricota” que, acionada, provocava crescentes choques, aumentando de intensidade a medida que nela se imprimia mais velocidade. Os choques perpassavam pelo corpo, rasgando musculos e nervos, corroendo, esmigalhando, destruindo fisica € psicologicamente o prisioneiro. Muitos desmaiavam (...O choque elétrico néo se aplica com intengées assassinas, mas para triturar 0 prisioneiro, esmigalhé-lo, reduzindo-o a uma condi¢ao de inferioridade ¢ impoténcia absoluta, fisica e psicolégica) Angustia enorme era procurar descobrir quem estava sendo torturado. Tentavam imaginar pelos lancinantes gritos de dor e pedidos de cleméncia quem era a vitima da vez. Quanto e o que queriam os carrascos? No inicio, ao berros, perguntavam: “Quem so 0s outros?”, “Aonde estéo 7", “Nomes, queremos os fomes!" E, obsessivamente : "As armas, cadé as armas, onde esto as armas?” Na tortura, procuravam, primeiro, desmontar o preso e arrancar as confiss6es mais imediatas € praticas, © interrogatério continuava depois, durante o dia, para tomar continuo 0 suplicio. Passados alguns dias de total e absoluto terror, supliciados militantes ou Bo, visio que, para os esbirros da ditadura, a principio, todos faziam parte da “base guerrilheira’, a tropa de choque da tortura anunciou sua retirada, prometendo voltar em breve para continuar “o trabalho". Entregaram aos presos algumas folhas de papel para que cada um escrevesse a “sua histéria” na organizagao, que deveria ser entregue ao Cel. Riograndino Bonilla, comandante do quartel e que, entdo, presidia o IPM. O tenente Alvaro fora afastado das investigagées, queimado, por haver insistido na tese do contrabando. Aquelas alturas, ficava dificil saber quem tinha sido feito prisioneiro, 0 que cada um tinha falado, quem ainda estava em liberdade, enfim. Acontecia, muitas vezes, de aguentarem horas e horas de tortura, negando ou escondendo 45 alguma informag&o, omitindo algum nome, quando , desgracadamente, a repressao ja sabia Até hoje no esté muito claro como foi, realmente, que “caiu” a base de ‘Trés Passos. Uma verso que circulou, mais tarde, seria a de que fora encontrado um mapa no Vale do Ribeira, onde a VPR manteve, por algum tempo, sob o comando direto de Lamarca, um foco guerrilheiro. Nesse mapa; estaria assinalada a regio de Trés Passos. Essa hipétese parece improvavel, embora nao tenha sido de toda descartada. No livro “A ditadura Escancarada’, encontramos: “Fora das matas do Ribeira a guerrilha era outra. Em Brasilia o lider do governo na Camara dos Deputados, Raimundo Paditha, falava de sete soldados mortos e um oficial aprisionado. A TV Globo informava que fora descoberto outro campo de ‘reinamento na fronteira com a Argentina. — cfe. Telegrama da agéncia Prensa Latina, de 8 de maio de 1970". (Gaspari, p. 198) Outra hipétese: com a tentativa frustrada de seqtiestro do cénsul americano em Porto Alegre, muitos companheiros foram presos, inclusive alguns que sabiam e até estiveram na base de Trés Passos. Hoje, isso nao tem muita importancia. A verdade 6 que naquela época foram caindo todos e em varios lugares. A VPR intensificava suas agées em todo o pais Na regio, desencadeou-se uma brutal repress contra os que eram contrarios @ ditadura ou até mesmo ousassem, simplesmente, question4-la. Ser suspeito, bastava para ser alvo da perseguigdo. Foram feitas inimeras pris6es. O ) ) ° ° 46 quartel do 7° BPM fervilhava. Em meados de maio, uma nova leva de presos foi levada para o batalhdo. Entre eles, Roberto De Fortini. A imprensa noticiava segundo os “releases” que Ihes eram fornecidos pelos militares. Com a versao e interesse destes. Na sua edi¢ao de I6 de maio de 1970, 0 jomal “O Observador’, de Trés Passos, estampava em primeira pagina : PRESO ROBERTO DE FORTIN! — RAMA SUBVERSIVA DESMANTELADA -— Aclara-se a situag&o—". Relacionava, ainda, os presos no quartel de Trés Passos e transcrevia materia do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, sobre o movimento guerriheiro desta regio (material anexo). Enquanto isso, voltava a barbérie ao interior do quartel De volta, 08 algozes do CIE reiniciavam o seu “trabalho”. Embora quase ninguém escapasse @ sanha ensandecida dos torturadores, Roberto De Fortini, por sua condigao de chefe do movimento, foi o que mais sofreu torturas nessa ocasiéo. Foi muito valente, no entanto, o italiano. De Fortini, embora néo tivesse uma grande formagéo.tedrica, fora sempre um grande estrategista, aliando prética e competéncia a uma apurada capacidade de lideranga, Dentre os presos, nesse periodo, encontrava-se o advogado José Bueno Trindade, lider politico e democrata, mas que nada tinha a ver com a VPR. Seu Unico crime era o de ser amigo e companheiro partidario (MDB) do Reneu, na. Camara de Vereadores. Torturado psicologicamente, portou-se com altivez. Em depoimento, posteriormente, diria: Desencadeou-se neste municipio e na micro regio uma raivosa represséo contra aqueles contrarios a ditadura militar imperante. Varios foram presos, inclusive o 7 depoente-declarante, por um periodo menor, de vinte e cinco dias. Precedentemente a represséo trouxe a Trés Passos 0 DOI-CODI, para arrancar confissdes dos detidos. Alberi e Reneu passaram trés dias algemados, alvo de cruel tortura, principalmente a noite, quando eram levados para @s obras do quartel do 7° BPM, entdo fora da cidade. As torturas, a0 que se sabe, entre outros barbaros métodos, faziam-se com a famosa “maricota’. Depois, j4 no més de maio de 1970, quando também o declarante se encontrava preso politicamente, mais uma vez chegou a Trés Passos 0 DOI-CODI. Comegaram as torturas contra os presos a noite, elas vinte © uma horas e se prolongaram até o amanhecer do dia seguinte. Ouvia-se a pergunta obsessiva: "Onde esto as armas?” em face da resposta negativa, corria solta @ tortura, ouviase gritos lancinantes, cessando momentaneamente pelo desmaio dos torturados. Essa foi a noite de “So Bartolomeu", pelo massacre dos opositores do mal-fadado regime, opressor e desumano”. (Depoimento anexado) Foi nessa noite que aconteceu um fato insdlito. Enquanto ouvia os gritos dos companheiros sendo torturados e sentado a um banco no corredor, proximo @ sala dos suplicios, ao lado de um dos torturadores ("Malhdes", possivelmente), Alberi aguardava a vez de ser levado de novo para a tortura. De repente, o oficial levantou-se, car jou alguns passos em direcdo a alguns guardas, deixando no banco, 20 alcance da méo do Alberi, sua pistola. “Nos primeiros dias de prisdo tortura, a ansia de livrar-se é tanta que no se percebem as armadilhas...” (Tavares, 1999, p. 45). Aquela pistola, ali propositadamente deixada, era a sua sentenga de morte, Se a apanhasse, certamente teria sido fuzilado © estaria montado 0 quadro: tentativa de fuga e reac&o armada. E assim, sucessivamente, noite apés noite, foram arrancando as confissées necessérias, complementadas pelos depoimentos escritos durante o dia , para formatar a dentincia constante no IPM oficialmente presidido pelo Cel Bonilla remetido posteriormente & Justiga Militar. 48 Findo 0 proceso inquisitério, foram indiciados @ denunciados: Roberto Antonio De Fortini, italiano, naturalizado brasileiro, vendedor-viajante, 33 anos; Bruno Piola, italiano, naturalizado, contabilista, 32 anos; Anténio Alberi Maffi, brasileiro, universitario, 20 anos; Belmor Carlos Palma, brasileiro, universitario, 28 anos; Sérgio Guimarées Siqueira, brasileiro, vendedor ambulante, 19 anos; Reneu Geraldino Mertz, brasileiro, cirurgido-dentista, 30 anos; Addo Dias Machado, brasileiro, protético, 34 anos; Jaime da Silva Ramos, brasileiro, pedreiro, 36 anos e Luis Carlos de Oliveira, brasileiro, estudante, 18 anos. Alguns dias depois foram transferidos para a cidade de Santa Maria a fim de aguardar instrugéo do processo e julgamento pelo Conselho Militar da 3° Auditoria da CJM Fomos divididos em dois grupos: Roberto De Fortini, Bruno Piola, Belmor Palma, Luis Carlos e Alberi Maffi ficaram no quartel do 3° BCCL,,unidade do Exército, a cinco quilémetros da cidade; Reneu, Sérgio Guimaraes, Adao Dias e Jaime Ramos, foram alojados numa Companhia Militar a uns 500 metros do Batalnao. No segundo dia, o comandante do quartel reuniu a tropa no patio, em frente a cela em que estavam Alberi e seus companheiros, e fez uma longa prelegao, alertando os militares sobre os perigos traigoeiros da subverséio, chamando a atengéo e pedindo redobrada vigilancia porque naquela unidade militar estavam presos alguns dos mais perigosos terroristas do pais. Fazia parte da psicologia de mando e controle hierarquico nos quartéis. “...Eramos apresentados como a personificagao do terror absoluto € isso provocava panic’. Um exemplo disso, era o aparato formado (soldados com fuzis ou metralhadoras) la vez que Ihes levavam a comida ou quando os levavam (duas vezes por ) ) » ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° 49 semana) para tomar sol. Somente quem esteve preso pode avaliar a importancia que representa o sol para o prisioneiro. Naquele clima de terror, porém, 0 que seria um dos momentos de prazer, tomava-se motivo de pavor e medo. ‘Seguiram-se longos e interminaveis dias de cArcere. Tudo era regulado controlado. Nao podiam ouvir radio, sequer ler jornais ou revistas, Muito mais tarde, tiveram acesso, controlado e censurado, a livros. Puderam ter contato pela primeira vez com advogados. O consulado italiano havia contratado dois advogados famosos de Porto Alegre para a defesa de Bruno ¢ De Fortini. Gragas ao apoio de amigos de Trés Passos, liderados por Benjamim da Silva Osério (advogado, outrora também perseguido pela ditadura) tiveram a sua disposigo (Reneu e Alberi) os inestimaveis servigos do casal de advogados, de Santa Maria, Drs. Flavio e Norma Cassel (amigos do advogado Adeimo Genro, pai de Tarso Genro). Nao era facil, entéo, conseguir quem se dispusesse a defender presos politicos. Temeraria e perigosa tomava-se a tarefa. No raras vezes 0 regime confundia a defesa com 0 engajamento as idéias e & causa do prisioneiro. Interessante observar que, por todo esse tempo estiveram presos ilegalmente, contrariando as mais elementares normas do direito. No Boletim Regimental n° 126-70, de 07 de julho de 1970, do 7° BPM, encontra-se lavrado 0 seguinte despacho: “ll - Decretago de Priséo Preventiva - Comunicagéo — Transcrig&o— O Exmo. Sr. Juiz Auditor da 1*Auditoria da JME, através do oficio n° 285/70, datado de 26 de junho pipassado, comunicou que naquela data, por solicitagéo do Cel. Riograndino Menezes Bonilla, encarregado do IPM, foi decretada a priséo preventiva dos civis.....(seguem-se 0 nomes). 50 De margo a junho de 1970, estiveram praticamente “sequestrados” pelas forgas militares. Grande parte do tempo - € 0 tempo na prisdo parece eternizar-se — gastavam em longas conversas, reminiscéncias e, principalmente, discusses sobre politica. Aproveitavam para fazer uma ampla revisao critica de sua ago, sua luta, seu sonho abortado de fazer a revolugdo © construir uma sociedade mais justa, livre e igualitaria, Discutiam muito sobre o caminho para o socialismo. Quando, em setembro, Salvador Allende foi eleito presidente do Chile, analisaram bastante a possibilidade de se alcangar 0 socialismo pela via eleitoral democrética, Foi a mais extraordinéria sacudida em suas concepgées. ( Mais tarde, exilados, assistiriam , em Santiago, 0 bombardeio do palécio La Moneda e a morte do presidente que simbolizava a esperanca libertaria dos povos latino- americanos). Revisaram alguns conceitos, reafirmaram outros. Em suas refiexGes sobre a questo da luta armada, surgia, pela primeira vez como possibilidade, o combate a ditadura de maneira diversa da que haviam tentado @ fracassado. Pessoalmente, Alberi continuava a acreditar que a derrota era passageira e momentanea. Renovados, feita a necesséria autocritica, retomariam mais tarde, juntamente com o povo (no seu segmento mais sofrido e espoiiado) a reconstrugo e consolidag&o da democracia, das liberdades e da justiga social. A par das discussdes, buscavam todas as formas possiveis para suportar a solidéo. Com o Fortini e 0 Bruno, aprenderam um pouco de italiano; francés com 0 Belmor, que dominava razoavelmente 0 idioma. Alberi escreveu muitas poesias que se perderam depois nas andangas fora do pais, no periodo de exilio. As visitas, escassas e controladas, para qualquer um dos presos, eram SI motivo de profunda satisfagao para todos, porque levavam noticias do mundo la de fora. Aprenderam uma forma de ludibriar 0 controle e a vigilancia: orientaram as pessoas que os visitavam para levarem frutas, alimentos, bolachas, etc, sempre enroladas em jornais do dia ou que contivessem informacées importantes para eles. Assim, ficavam a par, embora precariamente, dos acontecimentos no pais. Havia ainda alguns, no corpo de guarda, que ligavam 0 radio com mais volume e assim, eventualmente, ouviam noticiarios. Um soldado (nunca souberam ‘© seu nome), devia ser simpatizante, porque sempre que encontrava-se de sentinela postava-se embaixo da janela com seu radinho e sintonizava em todos 0s noticiarios da hora, arriscando-se a ser descoberto e punido. Demonstragéo genuina de solidariedade ¢ companheirismo. ‘A maior ou menor opressdo dependia muito do humor do oficial do dia do comandante da guarda. Havia 0s duros e os mais camaradas. Destes, alguns conversavam por longo tempo com os detidos sobre os mais diversos assuntos. Havia até, poucos é claro, os que se aventuravam a falar sobre politica Era dezembro de 1970, Abruptamente, foram separados de cela. Alberi ficou por alguns dias sozinho em uma cela ao lado. Roberto De Fortini e Bruno, foram retirados. A VPR seqiiestrara o embaixador suigo Giovanni Bucher pelo qual exigia a libertago de 70 presos politicos. Souberam, depois, que os companheiros haviam sido levados a Porto Alegre e ap6s banidos para 0 Chile. O Bruno levando consigo a esposa Geni e as filhas Tatiana, Cétia e Bruna, Quebrada momentaneamente a rotina e passado o medo de represdlias, a0s poucos retomaram 4 normalidade -anormal- da cadeia Aguardavam o juigamento. 5.5 DO JULGAMENTO E CONDENAGAO - agosto de 1971. “A justiga Militar brasileira, conforme demonstrado nesta pesquisa do Projeto Brasil Nunca Mais, tinha plena consciéncia da aplicaco rotineira de sevicias durante os inquéritos, e ainda assim atribuia validade aos resultados destes, apoiando neles seus julgamentos.” (Relatério BNM, 1985) Era 30 de agosto de 1971 A sala de audiéncias e julgamento da Auditoria Militar, em Santa Maria, estava lotada. Muitos familiares e amigos dos presos, aguardavam nao menos angustiados a sentenca a ser proferida pelo Conselho Militar. Forte esquema de seguranga dentro e fora do prédio. Excluidos do julgamento, por terem sido banidos, Roberto de Fortini e o Bruno Piola, sentaram-se os demais frente ao conselho de sentenga. Apés muitas horag de acusag6es por parte da promotoria militar e defesa corajosa de seus advogadbs, 0 presidente do Conselho Militar, formado por cinco oficiais superiores do Exército, finalmente ditou a sentenga. Transcrigéo de matéria publicada, em primeira pagina, no jomal *O Celeiro”, de Trés Passos, em sua edigao de 4 de setembro de 1971 : Na auditoria da Terceira Regiéo Militar em Santa Maria, foram julgados no dia 30 de agosto proximo-passado, o Dr. Reneu Gerldino Mertz, cirurgiao-dentista e mais 6 pessoas, todas acusadas de pertencerem 4 Pesqueira Tréspassense, com atividades subversivas. Foi um longo processo e que acabou no dia 30 quando os envolvidos foram levados a julgamento. O Dr. Reneu , por falta de provas, foi absolvido 53 por 5a 0, tendo sua defesa sido feita pela advogada Norma Cassel. Jaime Silva Ramos, residente em Passo Fundo, sem profiss40 definida, também foi absolvide. Os outros cinco réus : Ado Dias Machado, protético, residente em Passo Fundo, condenado a 3 anos de prisdo; Belmor Palma, universitario, de Passo Fundo, a 3 anos; Luis Carlos da Silveira, estudante em Passo Fundo, a 3 anos; Sérgio Guimaraes Siqueira, vendedor ambulante em Passo Fundo condenado a 3 anos e, Anténio Alberi Maffi, universitario, natural de Braga, a 3 anos © 3 meses de priso (material anexado). Ap6s © julgamento, humithados e ofendidos, foram recolhidos as suas celas, Todos os presos de Passo Fundo solicitaram sua transferéncia para aquela cidade, no que foram atendidos apés alguns dias. Para ficar mais proximo da familia ¢ dos amigos, Alberi solicitou, através do seu advogado, permissdo para cumprir o restante da pena no Presidio Regional de Trés Passos. Traumatizado pela passagem no quartel da Brigada Militar, no queria voltar para aquele lugar de triste memoria. O pedido foi deferido pelo Juiz Auditor e, ainda em setembro, foi transferido para o presidio de Trés Passos. Nele, conviveu com as mazeles do sistema carcerério brasileiro. Com direito a cela especial, pela minha condig&o de preso politico, abdicou dessa ilusoria regalia, preferindo dividir com outros dois presos comuns uma pequena cela como as outras do presidio, compartihando, por mais de um ano, as degradantes e abjetas condigdes de nossas prisées, a 54 5,6 DA LIBERDADE VIGIADA AO EXILIO — 1972-1973. “Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que n&o ha ninguém que explique e ninguém que néo entenda.” Cecilia Meireles- Como a Iei permitia conceder aos presos que mantivessem bom comportamento, a concessio do livramento condicional, Alberi solicitou esse peneticio, através do advogado, a justiga militar em Santa Maria Era 07 de outubro de 1972. Estava o Alberi conversando, como costumeiramente fazia, aos sabados de manha, com um pastdr da IECLB, amigo do Reneu que era membro dessa igreja, quando the chamou o administrador do presidio, entregando-the, para que Jesse, um documento com o timbre da Justiga Militar. Era o alvaré de soltura. Finalmente a liberdade. Mesmo que condicional @ vigiada, era a liberdade. Indescritivel a sensagao de sentir-se livre. A situagéo no pais continuava muito tensa e preocupante. Muito mais dificil para eles, ex-presos politicos e recém saldos da prisdo. Até 0 término da pena, era obrigado a apresentar-se, de tempos em tempos , @ Justiga Militar. Era uma esquisita situagdo de estar livre, mas permanentemente vigiado. Sufocante sensagdo de perseguigao e medo, As pessoas tinham receio de conversar com ex-detentos. Brasil continuava convulsionado. A guerritha no Araguaia, mantida pelo PC do B era violentamente reprimida; guerrilheiros eram sumariamente fuzilados. Censura e repressdo cada vez mais coercitiva aquela e violenta esta. Ao findar 0 ano de 1972 havia no pais um saldo de 58 mortos, 18 desaparecidos e 5 suicidas, 3 enforcados na cadeia. As organizagdes de esquerda na sua quase totalidade estavam desmanteladas. Qualquer contato poderia significar a morte. No primeiro semestre de 1973, com poucas variaveis, persistia idéntica situago. Médici comunicou ao Gal. Geisel que ele seria 0 seu sucessor. A partir de julho, finda em definitive a sua pena, n&o havendo mais necessidade de apresentar-se as autoridades, Alberi resolveu deixar o pais. O Chile com sua experiéncia socialista atraia grande maioria da esquerda brasileira. L4 estavam também alguns dos companheiros da VPR. De forma extremamente cuidadosa e sigilosa, Alberi estabeleceu alguns contatos, munindo-se ge alguns enderegos e pontos no exterior e, clandestinamente, deixou o pais. Depois de passar, incégnito, pelo Uruguai e pela Argentina, chegou, em fins de agosto, em Santiago capital chilena. Primeiro a encontrar: Bruno Piola e sua familia. Ficaria em sua casa até a manh& do golpe sangrento de 11 de setembro que sepultaria tragicamente, com o presidente morto, uma das mais fantasticas e maravilhosas experiéncias de construgo socialista em curso na América Latina 56 Comecava entdo a amarga experiencia de percorrer caminhos estranhos, em terras desconhecidas, na condig&o de exilado. A primeira e mais perigosa aventura: com a capital chilena transformada em campo de guerra, Alberi caminhou, disfargada e cuidadosamente, no primeiro momento em que os golpistas suspenderam, por uma hora, 0 toque de recolher, dirigindo-se, com Bruno e sua familia, para a embaixada italiana. Chegando a embaixada, foram recebidos pelo proprio embaixador e informados de que a determinacao do governo da Italia era que fossem acolhidos somente italianos e seus descendentes. O embaixador ligou, entéo, para o seu colega, embaixador mexicano, e foi informado de que a embaixada do México estava concedendo asilo a todo e qualquer cidadéo Jatino-americano. Alberi conseguiu entrar na ‘embaixada mexicana minutos antes de a mesma ser cercada pelos carabineiros, forga policial chilena. N&o fora isso, talvez no estivesse concedendo este depoimento hoje. E ai foi, mundo afora. Do Chile para o México; depois para Bélgica, mais tarde Argentina e, finalmente, em 1974, com a propalada “abertura”, de volta ao Brasil. Mais ou menos um ano de périplo, sobrevivendo a algumas situagdes absurdas, dificeis; infinitamente interessantes, porém. As feridas e as cicatrizes abertas, ainda sangrando... » pe9SO99399999999 CONCLUSAO, ‘Ao remexer 0 bati do Golpe Militar desencadeado em margo de 1984, no ha como fugir da sensagdo de perplexidade. Essa perplexidade advém da constatago de que o Golpe aconteceria inevitavelmente, mesmo que 0 nosso presidente, Jodo Goulart, tentasse resistir. O Golpe nao foi uma idéia cevada exclusivamente pelos militares: foi uma estratégia geopolitica, tutelada, ainda que de longe, pelos estados Unidos da America. Se 0 presidente ©,0 povo tentassem resistir, sé mudaria uma coisa: teriamos muito sangue derramado, porque haveria, com certeza, uma guerra civil, com os norte-americanos ajudando a matar o povo brasileiro. Além dessa constatag&o, outra estarrece-me: a de que a maquina montada pela ditadura era perfeita. Havia uma engrenagem t&o bem encaixada, tao bem azeitada, que nao havia possibilidade real de ludibriéa ou enfrenté-la com sucesso. Seus sistemas de treinamento, informagao, seguranga, tortura, interrogatério, eram assustadoramente bem organizados. 58 Em fung&o dessas constatagées, é que néo me admiro da quantidade de gente que foi presa, torturada, investigada. Nenhuma organizacao montada pelos nossos jovens idealistas e lutadores seria capaz de derrotar, efetivamente, toda uma operago minuciosamente elaborada. Nao me admiro, mas deploro miseravelmente que tenhamos perdido tantos meninos e meninas, para esse monstro chamado repressao. E ainda a partir dessas constatagbes, que admiro mais os grupos que se mobilizaram, corajosamente, para lutar contra a ordem estabelecida pelos militares. N&o eram “louquinhos desvairados’, eram pessoas arraigadas aos mais belos ideais de justiga, pondo em risco a sua juventude e a sua vida, em prol da causa democratica Eram jovens que largavam o conforto de suas casas, para viver Perigosamente. Eram jovens que estudavam com afinco, que se embasavam solidamente, para enfrentar o grande desafio do idealismo versus capitalismo. Eram politicos, militares, profissionais liberais, religiosos, operarios, colocando em risco seus empregos e suas familias, por uma causa, Grandes lutadores. Grandes “Davis” lutando contra Golias. E a minha titima constatagdo ¢ a que me entristece mais: a de que os militares devoiveram 0 govemo aos civis, néo apenas gragas a resisténcia. Eles nos devolveram 0 poder, quando seu modelo econémico falhou e no havia mais justificativa plausivel para a ditadura, Na verdade, entregaram aos civis um pais com gravissimos problemas econémicos, com o qual nem mesmo eles sabiam o que fazer. Entregaram-nos 0 nosso pais maltratado, simplesmente, porque quiseram devolver. 59 Isso desmerece a luta? Jamais. Que moral teria um povo que apanha calado? Que n&o luta por seus direitos? Se nossos jovens nao tivessem esperneado tanto, a comunidade intemacional jamais ficaria sabendo do verdadeiro holocausto existente por aqui. Se tivéssemos nos conformado, talvez a ditadura no durasse vinte, mas, sim, trinta anos... BIBLIOGRAFIA ARNS, D. Paulo Evaristo (prefaciador). O Perfil dos Atingidos. Petrépolis: Vozes, 1988 ARNS, D. Paulo Evaristo (prefaciador).Brasil: Nunca Mais. Petropolis: Vozes, 1985. COLLING, Ana Maria. A Resisténcia Das Mulheres A Ditadura Militar No Brasil Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997. DARAUJO, Maria Celina e CASTRO, Celso. Democracia E Forcas Armadas No Cone Sul. Rio de Janeiro: FGV, 2000. GARCIA, J. C. Bona e POSENATO Julio. Verés Que Um Fitho Teu N&o Foge A Luta. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1989 GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada. Sao Paulo: Cia das Letras, 2002. GASPARI, Elio. A Ditadura Escancarada. Sao Paulo: Cia das Letras, 2002 LANGGUTH, A. J. A Face Ocuita Do Terror. S80 Paulo: Circulo do Livro, 1978 PILETTI, Nelson. Historia do Brasil. So Paulo: Atica, 1996 TAVARES, Flavio. Memérias do Esquecimento. $40 Paulo: Globo, 1999. VARGAS, Indio. Guerra E Guerra, Dizia O Torturador. Rio de Janeiro: Codecri Ltda, 1981 FONTE ORAL: MAFF, Anténio Alberi. 53 anos, Braga, Rio Grande do Sul. 139999999000999899965805656 13930993 ) > PARAGUA! SANTA CATARINA, ARGENTINA, “aR 282 (Sho Borla (jee {Caxias URUGUAl o | aNOT: — N210 ‘Tres Passos, 7 de maio de 1970 Era para ser pescaria, mas nao era. 0 Poderia ser contrabando, mas nao era. 0 Era subversado ; seus amigos c vem-na comunidade que a Bm sctembro, mais ou menos, de Sryannrom com suas alitudes de oveluas, oo ofBe Reaoa Sera, dentinia e. vere Wer tol procurado por clemoatos esta Stor Nerd pagan ame, rane pesos hos, passrouseo congelado Pare. extere-| Tae sonoar no Gragual ¢ abastecer | Bite g Teeeplny de peixes, fako gos &) pacoudendo, contudo, Jobos ierozes. Nao estavam a servigo de aue patria mas sim, fo comuniamo internacional que os finan- Cleva, Teairam nus patria e fam ¢ nko vendiam peixes. Apepas| tg de gue foi apreendido um caminhilo ~ ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° ° Pes Be‘Vanena Santo sparecerar alguus que) carregad ae armas e munigtes. esting aa eerie eation side, comprads "de | Gar ae. guerninciros de Tree Basson (m8- Poros pescadorer. Dinheiro no faliars & Cimpeésa. On peteudo-poaradores eran r-| Jiseate pegos, cm ath, Surgirarh as BUS- Fees, Fotam. cicadas ae prieoes, De| Ioislo-e negetiva peremptoria, bra pesce- fia, Mas a evidénels doe fatos provava fue jamais poderie s6lo, Nuo era pescs- fis, Habele nterzogatbrios rovelaram. a verdade. Esteve montado na barra do Tur- Yo.um APARELHO subversive fazendo Porte dss gongs que agealtavam. Danaos, Fequesttsvemaavtoridedes ©. estouravam Dombas terroristaa. As peseoas gue lida~ Yam qo Inquerito flearam estarrecidas bada pasco que novas verdades foram sdr- findo. A subversko, acoberiade por firme Peoqucira. erescia eurdamente sob os olhos fin poptlaeao ordeire da regido, cepecisk mente Trég Passos. Fol duro acrediter. A) andlite das peas envolviiss 20g878 2) mono tte don fates pera, (rang Faclocinio de qualquer um. Mus os fatos, 8 contlesdea, as interligagdee comprovedss alam mals forte que as suposicdes. Os mapas © og planos revelam que o terror © a morte ge revelariem tambem nesta re- gibo. Os participastes do movimento ter- Torisia ne pensaram em suas femilias, Je, eomo autentice novelo, vai rev fe ume evidenoia) Segundo ge apurou os vereaiores Renew Meriz ¢ Jose Bueno Trindade te- rao es mandalos cassados, © Inquérito ainda nfo fol e1 cada passo covas verdades. Talvez ainda teabamos semanas de surprosas desagra- Gavel Novos elementos Yao 32 fos jf apurados. As autoridades fortes e trebalhando com atinco np escla- Gade dos que querem ver um Brasil mais Drasilelro e maie de todos ¢ printeipaimex- te longe do COMINTERN(comunismo in- ternacional). Aguardemos os fatos ¢ quem viver verd. Nada mais concrto do. que sm [Ui ato, ou muitos alos. Némero 19 = 0 OBSERVADUR — 16 de maio de 1970 Pagina 9 Lnprensa Argentina relata guerra nafeotera camo Parana eta Calvi regtao do Alto Brasil de 6/5/70 ¥ |ros brasileiros_se_refu, faze i ires/@™ na regido de Missio cubmaeetpe rere Altes laos, Segundo o relato be Iheiros brasifeiros éatari-|!° meuos um guezrilheiro am agindo na regido fron-| COUsegulu éste intento teirica entre Parande San-|UM DISFARCE ta Catarina, motivando a|:Segundo os relatos. os Militares brasileiros con- seguiram deter um cami ahio que aparentemente levava instrumentos de formagocs a "alguns vi jantes procedentes do Rra-| cimento.”" Sil” e acrescenta que as] A atividade guerrilheir auteridades da Gendar-|se concentraria na loc meria Nacional ndo_pre taram qualquer esclare- mobilizagao de lérgas’ d Exéreito e do Corpo di Fuzileiros Navais, segua do informou de ‘Posadas © correspondente do jor-|pesca, masque na verda~ nal La Prensa, de Bunos)de transportaya um ver- aires }dadeiro arsenal, Um dos Do lado argentino, efe-|yuerrilbeirss Tugiu e, a0] tivos da Gendarmoria es-\ que tudo indiea, refugiou- tariam exercendo i se em territézio argentino. vigilénoia na trout La Preasa atribui as in- CCCCCCCEECCOECEE CECEECEOCOOCEOOCCOOCOOCOOCCSOORS D 9999999 9993999999999999999999399998939993999399999 SEMANARIO Independenie de Reglto Cceelre do stad Cireulagto: | Mao 10 — Namero 19: BY sone a Foi cl inevat tog dae ee octane 8 Hii fnmtey ne Atto U. | tamonte, oui ah dete olemontes [a ea date Brain cnn ver mals cla" sagt» a8 al -strtisien va a8 in Sigs de wan ed Ores Mes auucrlna ae a seivos oomannda, pel inuteta ite. pe Bis fen vet, itosrandtiaa) Bligsion shit come] Piste de ae Bele ton Eielvernn a Ppacanga Ractonel, 0 i Be owe eer cone ore shits ner ainer tar, ghost =| bestlic"etputarieveta Benarx), provem de Ut Tomine 2 lem por Tisgslvade 9 Aesalid a a, Sequetro.a AU finden e Atos, d¢ tao. e fe 9 novinesto encoder festa Compania Oc; PaRtddiOpetirts Go-| Alling Aro Stump, 7 fame, tg qunrtel ecue-|organizacto: foe ogra unscl-|elnan Fs omer ent as lates, em te de tate es moo eres. no vous: Petco, Gaal SC, wrar| f Smeg Ga cSaralis| ined OWeahn ues eorteedl cts Or Caregen uonmala ns aD a de.Porlini Trama Subversiva Desmantelata Aclara-se a: Situagao ‘iio diilmarties, Joke fn-| Trindade, atm de Joke Oc, Painddapetien P| Aran Arg vet tata Mara, eone Pola nt unit: Aa Urauyal 0 00 noua, treat an Stl Rana | | Tatra 28 oo sagen tt Anta Apne tighn-Ton[eimar carion Pa, sle[endidne ¢ rm, novel Ae Rina No-[yeroto. Machado, Praca] Tato Pon sist tuenntenm ne . ‘Ninel i iran Novtzald_¢ Pav-|imattae remand inveieo 49 Knarignes DOR otedon_« livern | Antonio Aieilen fife) rasta prentdt depettoue deste wannicint 8 Ieuinoie Albert M iran, to Tee Totentinn Nimes Mentel-| tide 1 pote iyal Metta. azite oes pnttenct mre os Fe at et tenen Te: [mennvertmentian aulieert SeIUIeT aarti, sombl von in Tea Pas a en Tun PIES]. Enconteam aa prone Mt Ieerun de Pov rine Seten. 860 rihz stkedvor,varinrinn, ya: i bilveira Senta tietens) [le omecA~ ‘ysfwid. ADnLAR Alggeieeacis Nol BORIS B= Compont 80 por: BREITENBACH 3 HARTMANN LTDAL Th. PAGA 3 Neorg ia auditoria de Tercedra: Regido Militar an Senta Ma~ tis, foram fulgados no - dia 30 de agdato préxime-passaio, 9 De. Raneu Chviiaino Here, clrurgtio~dentisea e male 6. patacas, todas pertencerem a Pera a Paszense, com atividades sub Wernivas, Foi um longo pro= eenso * que acabou ne dia 30 quando on venvolvidos foram. levados @ Sulgamento. 0 Dr. Renau Geraldine Mertz, por falte de provas, foi absolvi por 5 a 0, tendo aua defe~ a8 pido feita pala advogada” Norma Cassal, Jaime Silva Ra reaidaute em Pagso Fun= + sem profiaséo definide , fm foi absolvide, Os ou~ réus: Addo. Dias Machads, te cx Passo Pundo, condenado 3 anos e a3 anos de" pris Aly univ Carlos Palma, univer: de Braga getudante em Passo Fundo, te: priszo, 3 anos; "Luiz Carlos de Sil~ veira, estudante em Passo Min 9 pr, Siqueira, € ‘obaticty-residen= en Passo, Fundo, condenado ..a- Antonio Alberi: Mati natural, 45 ands @ 3 meses Terminado o julgamento ! Reneu Geraldino Mertz “do, a 3 anos; Sérgio Guimei™ foi. pésto em Lberdade, vendedor ambulente’ vendo chegado a Tras Passos, ce em companhia de seus. familia Tes, Bo dia 1? de satembro, 9 Jovem Jaime Silva, ab~ Solvido, fot colocado em 1i~ berdade ao ancérrarem-se o# trabalhos do juri. Os demais terao que cumprir a pana que’ ‘Ines foi inposta pela Audito. tha Militar de © ata GMardaT hab COOCOCCCOCOCOCOCOSSE D9 O08S999999999999999999999999999999999993999999996 ng, are aacoma: — OPERAGHO ARRASTAO Ovigem 1220 Classifienciin: Dituaio 2M! aes Refordineia : PB 35 ¢ INFORMA 39/74, dw 12 RGIS. Roca Anexos , Informagio nt! ‘Informe n.t_(W10/H Pedido de Buson n- (.Atinds,.¢.m0,eie...de 19__ Zl) — © Conavcanste 0 pedido, infor ea Paionidede 12 Renew Geacldno Mentz, rnténiv Lenictuh, Rober 4o Mie Fontini, *iizilo Abert Maffi, Gelmon Cantos Pima, > Gane Pidla, Colet Fenctenceifer, Fionwante Gongatves Leite Prioridade 2: Jose Cuero Trindade, Pee heels Ge Benjenin da Sélva einiv, Taulo Muasi (Turguinho ~ atuasmen~ te Paegne), Ontando Jacob delinozo; Prioridede 3: Celso Spenote, Carlos (astanha, Woudi Roctrigua Guvinels Teidorste Machado, Juanez Mozart Ribei~ 20, Joao Artiriv Jaques (Jazues), Ivan Ceciliano Roopide Mux” nes, Ratmunds Dennelles Harida, Lino Schnidt, Eugebio Doanelts des, Ety Jooe Lepce, Eley Vieira dos Santos, Réberto Rudelfo * Cardoso Etlert, Joao Faaneisco da Silva Sobninko Judiciéria Mil MANDADO DE CITACKO Auditor da 38 Aud: Cireunsericio Judiciéria yirtude de lei, etc... MANDO ao Oficial de Justiga desta Auditoria, a que for és te apresentado, indo por mim assinado, que se dirija ac local de prisio, nesta Guarnigfo, onde se encontram recolhidos ao xadréz, e af CITE: ROBERTO ANTONIO DE FORTINI, BRUNO PIOLA, AivTOuTO ALBERT VAFFI, BSINMOR CARLOS PALMA, SERGIO GUIMARKES SIQUEINA, 3ENBU GERAL- DINO NSRTZ, ADKO DIAS MACHADO, JAIME DA SILVA RAMOS e LUIZ CARLOS D4 OLIVSIRA, para no dia dezoite (18) de setembro préxino, 3s treze (. 13,00) horas, comparecerem na sede desta Auditoria, site & Avenida Rio Branco, n? 195, em Santa Maria, RGS, a fim de serem qualifica- dos e interrogados e se verem processar, como incursos nas sangdes dos artigos 23, 24, 25, h2, 43, 45 e 46, do Decreto lei 898, de 29 de setembro de 1969, combinados com o artigo 53, do Cédigo Penal Mi liter, sendo que ROBERTO ANTONIO DE FORTINI, ainda em o disposto no artigo 49, incise III, do diploma que define e regula os crimes con tra a Seguranca Nacional, de que sio acusados em virtude da seguin- te demincie oferecida,pelo Fepresentante do Ministério Piblico Mili tar: "EXMO, SR. DR, JUIZ AUDITOR Da 38 AUDITORIA. A Procuradoria da gustica Militar, junto a esta 38 Auditoria, por seu representant! egal no fim accinado, no uso das atrituicdes que Ihe so assegure— @ espethada no inclusg 1.P.M. de n® 2.317, ven oferecer ia contra 1, - ROBSRTO AN NIO DE FORTINET ali casado, de 33 anos de idade, filho de Noe de Fortini e Dalla Costa de Fortini , de profissio comerciante-viajante, residente e domici liedo na cidade de Passo Fundo, neste Estado, a rua Tiradentes, n®? 519; 2. - BRUNO PIOLA, de nacionalidade itallana, casado, natural di Vicenza, ita. filho de Arturo Piola e de Assunta Piola, de pro - fissio ¢ontabilista, residente e domiciliadg na cidade de Passo Fun: i o do mesmo nome, neste Estado, a rua Bleutério, n®li2z-a ANDGIIO ALBERT MAFF, brasileiro, solteiro, com a idade de 20 anos, estudante, filho de Iufs Maffi é Inés Maffi, natural dg Passo Fundd, neste Estado, residente e domiciliado em Braga, Parana h.~ BELNOR CARLOS PAIMA, brasileiro, solteiro, com a idade de 28 anos, estudante, filho de arthur Palma e de Germana Crévelli Palma, natue ral de Casca-RG, residente e gomiciliado na cidade de Passo Fundo, neste Estado, 4 rua Jodo de Césaro, n9 553, munic{pio do mesmo nome 5. ~ SERGIO CUIMARARS STOURIRA, brasileiro, solteiro, com 19 anos a8 idade, filho de Francisco Siqueira @ de Ambrusing Guimaraes Si- gueira, natural de Passo Fundo, neste Estado, onde é residente e do miciliado, 4 rua Gal. Osério, n9 1.75, de profissdo motorista; 6. RENEU_GER. INO MERTZ, brasileiro, casado, com 30 anos de idade,fi- iho de Teotonio Mertz .e de Anita Mertz, de profissao eirurgigo den- tista, natural de Carfzinho-RB, residefite e domiciliado.na cidade de Tras Passos, ngste Estado, munic{pic do mesmo nome» & rua Antd- nio Goncalves de Oliveira, s/n; 7. ~ ADKO DIAS MACHADO brasileiro das jem 3. puduoria ae 3.* Circunscrigéo Judiciéria Militer casedo, com 3 anos de idade, filho de Deociécio Severino Machado ¢ Jae Julieta Dias Machado, natural de Iagoa Vermelha-RS., de profissgo protetico, residente e domiciliado na cidade de Passo Fundo, municf- bio de mesuo none, a rua Minas Gerais, n? 712; 8. - JAL® DA SILVA AWOS, brasileiro, solteiro, com 36 anos de idade, filho de Osdrio da Silva Ramos e de Natalina da Silva Ramos, naturel de Passo Fundo- RS., residente ¢ domiciliado na Barra do Turvo, Alto do rio Urugual, municipio de Trés Passos, neste Estado, de profisséo pedrsiro; 9.- LUIZ CAIn0$ DE OLIVSIRA, brasileiro, solteiro, de 18 anos de idade, ffilho de Leuro Rodrigues de Oliveira e de Angela de Oliveira, natu- Irzl de Passo Fundo-Rs., de profissdo motorista, residente e domicili lado na cidade do municfpio acing referido, & rua de mesmo nome, n® 296. Comungando os mesmos petal ia com exgegdo de Reneu_ Geraldino iertz e Jaime da Silva Ramos, desde 1,968 até dezembro de 1.969, ins ttalaram uma célula atuante e de larga aco do Partido Opergrio Comu- Inista, na cidade de Passo Fundo neste Estado, sob orientacdo des di- regdes regional e nacional daguela agremiag30 de existéncia ilegel ¢ de fins subversivos, cedendo-lhe seu integral concurso pera organiza lla e fazé-la funcionar, como, efetivamente, o fizeram. Levando, es- sim, @ cabo seus objetivos criminosos, no apenas promoveram reunices| lclandestina em locals diversos, inclusive as margens do Alto Uruguai nas, einda, efetuaram a impresgao e distribuicio de panfletos de in- citamento 2 luta de classes e a,animosidade destas contra os Poderes Constitufdos, intitulados "Operdrios no Poder", "Abaixo 2 Ditadurale "Abaixo o arrécho", de preferéneia nos bairros e vilas, por ocasigo Has eleigdes municipais de 1.968 e no dia 12 de maio de 1.969, além de pixamentos de ruas, com os conhecidos chavoes comunistas, confeci lonados na residéncia do denunciado Bruno Piola, auciliedo éste pelos lco-denunciados Sérgio Guimaraes Siqueira, Belmor Palma, Luiz Carios de Oliveira, Addo Dias Machado e outros ndo identificados. Bm vrinc£ pios de janeiro do corrente ano, em virtude de divergéncias surgidas, os denunciatos integrantes do mencionado Partido Omrario Comunista, lavés alguns contatos pré-coivenciunado:, ontiaram en ligegio com Fe- Silveira Neto, chefe regional da organizacao terrorista Vanguar- da Popular Revolucionaria - VPR. - e decidiram participar dos quadray de militantes desta, engrossando, assim, suas fileiras e pondo-se, imediatamente, ao seu servico destinado 2 promover a insurreicao ar- Pafs. Como resultante dessa adesé0, j2, entao, sob a ori decendo ordens de Felix Silveira Neto, o denuncizdo Rod e Fortini, decidin, com seus companheirgs, decidiu fundar_a e Fesqueira Alto Uruguai, com sede em Trés Passos e com acdo Uruguai, com a aparente finalidade de explorar a indistria e ia pesca, pois gue, em verdade, tinha por objetivo essect naquela regiao, que possufa como base central a "Barra » wm centro de treinamento de guerrilhas, pera o que ntavam, ainda, com o imediato concurso de elementos esvecializados ©, para 1g, afluiriam posterjormente, inclusive o proprio ex-capi- tao Carlos Lamarca. Contando com elevados recursos financeiros, for- necidos pelo Comando Regional da VPR., através de Félix Silveira Ne- to, 0s denunciados Roberto Anténio de Fortini e Bruno Piola recebe~ ram vultosas somas destinadas &@ aquisiczo de armas e munigao na Ar- rentina e no Peraguai, bem como'o grupo todo, entrosado numa hierar- quia para-militar, passou ao trabalho de instalac&o do centro de eu rilha, atraindo alguns pescadores para despistar, no local, e adja- céncias, supra aludido, deslocando para o mesmo vigturas, barracas, ferramentas, barcos e apetrechos de pesca. Logo apos, vieram as ar- mas e munigodes, seguidas de trabalhos de elaboragao de cédigos, le temento de regizo, instalac&o de pequenas bases, inclusive no terri- tério argentino, ,escavagdes para abrigar mantimentos, medicementos armamento, supervisionados tudo isso, finalmente, pela visite de Fé- lix Silveira Neto, de codinome "Fernando", acompanhado de uma jovem charade "Madalena” que, com aquéle, procedeu a0 "batismo" dos compo- mentes do grupo, atribuindo a cada um tarefas e ordenando exerc{cios se adestrarem nesse mister, além de codinomes Conhecidos demasiadamente os objetives da 1 ue pertenciam os denunciados, cuj da nas investigagdes colhi dg Poder pela violéncia, zpregoando a lute métodos terroristas, impossivel negar 2 a > ponde em cheque a Segurance Nacional e a prépria 8 social. Sobram razées suficientes para co aguilats delituosa dos denunciados que, filiados a organizacSes espurias, de cunho supinamente subyersivo, uniran, os esforcos > |fazerer propaganda de incitamento & luta de classes e de animosidiade| -~ |destas entre ci e contra os Poderes Constitufdos, praticando atos jestinsdog a provocar a guerra revolucionéria e tentando subverter dem polftica e social, promovendo-a insurreigdo ermada no F ra atingir a derrubada das instituigées néle vigentes. (s ddcumentos expressivos cue instruem os autos inclusos, tem assim os g nsfo de ermamento, materiais diversos, viaturas e, 2! indo ermgs de uso privativo das Forgas Armadas, livros de contelide ideoldgico marxista-leninista, tudo confort: elaragées confessas dos proprios denunciados, impden ed >; ? reeponsabilidade criminal judicialmente. Incorrerem, assim, os q sengoes dos arts. 23, ae 25, W2, 43, 45 e LE do De- 5 29 de setembro de 1.969, combinados com o art. 53 zd g tar, sendo que Roberto Antonio de por he! ver prowiovido a‘organizacdo da base de treinamento de a, di ° a atividade dos demais, infringiu, ainda, 0 4 en a III, do diploma gue define e regula os Se] mal. B, para que sejam criminalmente 05 nados, vem a Procuradoria oferece nelados acima qualificados, ins ompetente ag&o penal, raz’o vorque reque: a de revelia, viren r. rin da_.° Ciyeunserigiio Judiciéria Militer no lugar denoni- 4 efpio de Trés Passos, neste Sstcdo, w - Domingos Limfo Amaro Santana, brasileiro, cas ada Militar do Estsdo, servindo no 79 Ba T, sediado jen Trés passos, onde e resident e fie. Ja serviu como testemunha des decl. dos acusedo: ce 20 gue dos autos consta, a respeito Jos fatos rados nfo foram ouvides os implicados Joio Carigs Bonna Garci: lix Silveira Neto e Joao Goes, bem como dao not{cias da oc: de mumerario, de origem escuse, em nome de Bruno Piola, no Sahla, agéncia de Passo Fundo, neste Estado, 2len do ai a periculosidade dos denmciados, motive porque riai a) seja decretada g prisdo preventivg dos acussd se da Justiga e para resguardo da ordem publica; b) s. iix Silveira Neto, Joo Carlos Bonna Garcia e Joo Go tos, vertidos no presente Inquérito, encaminhando-se o do @ autoridade do mesmo encarregada; c) seja ordenaca do dinheiro denositado na Agéncia do Banco da Bafa, em Pa em nome de Bruno Piola; d) sejam solicitadas informacdes a Comercial, sediada em Pérto Alegre, sdbre a avertaco de contrzto dal Sociedade Pesqueira Alto Uruguai, bem assim junto 2s Sxatoria Este- dual e Coletoria Federal, no que tange ao registro ou inscrieo da Gesma, pera efeito de tributagao; e) uma vez que deu entrada nesta Aucitoria de um I.P.M. f la Brigac Ben, sdbre os mecmos Banco da @ certeza @ Procurado: teres-| 2999999999993 99099099070000>D ihe If) sejam colicitadas informagées, junto as 1a. @ Za. Auéltorias des- | isa Cireunserigdo Judiciaria Militar, no sentido de esclarecerem se | d los ora denunciados se encontram respondendo @ processo pelos mesmos ratos ventilados no anexo 1,P.M. e em que dispositivos foram enqua- irados; ¢) sejam reouisitgdas as testemunhas arroledas, yara virem ac por perante éste Juizo, ja que residente foram da sede déste, propor eionando-se, com a necessaria antecipagdo, os meios de deslocamento jas mesmas, uma vez que, fece & natureza dos fatos, a sua oit Drecatéria nom senpre facilita o esclarecimento de certos aspects ue cercem aqueles. esses térmos, protestendo a Procuradoria pelo a 2 dentineia contra os denunciados e contra quaisquer outra: Jicadas nos acontecimentos em tela, caso, para tanto, sur jam elementos novos, requer 0 recebimento da presente para os fins 4 ‘ireito. Fede deferimento. Santa Maria, 29 de Julho de 1.970-(a) Ante Guimarées, 22 substitute d3 Procurador da 3@ Aucitoria di en exercfeio."0 QUE SE CUMPRA, NA FORMA DA 181. Dado e pa iitamento sta cidade de Santa Maria, na sede da Terceira Audito: ITerceira Circunseri io Judiciaria Militar, aos trinta e um (31) ca Jdo FE Osto do Edin ! de mil noyecentos e setenta (1970). fu, — rp Escrivdo que mandei detilografar e subse 38 Auditoria da 3.9 Circunscrigéo Judiciéria Militer

Você também pode gostar