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FLS._______

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO
4ª VARA FEDERAL DE SÃO JOÃO DE MERITI
Av. Presidente Lincoln, 911, Vilar dos Teles, São João de Meriti, RJ - Fax (21) 3218-5542 - email: 04vf-sj@jfrj.gov.br

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Processo n.º: 2010.51.10.003958-6
CONCLUSÃO

2 0 1 0 . 5 1 . 1 0 . 0 0 3 9 5 8 - 6
Nesta data, faço estes autos conclusos
a(o) MM(a). Juiz(a) da 4a Vara Federal de São João de Meriti/RJ.
São João de Meriti/RJ, 08 de julho de 2010
ALEXANDRE MARTINS DA
CONCEICAO

ANDREIA AZEVEDO
Diretor(a) de Secretaria

DECISÃO
PROCESSO Nº : 2010.51.10.003958-6
IMPETRANTE : ESTADO DO RIO DE JANEIRO
IMPETRADOS : DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL E UNIÃO
JUIZ FEDERAL : FABRÍCIO ANTONIO SOARES

Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, objetivando


provimento jurisdicional no sentido da suspensão da ordem emanada da autoridade coatora
de paralisação de retirada e transporte de material argiloso para utilização na obra
emergencial de remediação da área degradada do lixão do Município de Paracambi.
Como causa de pedir, aduz que a referida obra estava sendo realizada com o
objetivo de proteger e resguardar de contaminação o sistema de captação de água da
Estação de Tratamento do Guandu, que abastece aproximadamente 70% (setenta por cento)
da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Sustenta que, embora os impactos ambientais sobre a área tenham se iniciado
há algum tempo, o fato é que, recentemente, a situação da referida área passou a tomar
proporções alarmantes, sendo certo que, após a ocorrência de chuvas torrenciais, o referido
lixão foi intensamente afetado, com um incremento nos riscos de contaminação da água e,
consequentemente, de paralisação no abastecimento na cidade do Rio de Janeiro. Em razão
disso, o poder público buscou realizar uma obra emergencial, a fim de solucionar o
problema, tendo em vista que o Município de Paracambi não dispunha de condições
financeiras para arcar com o custo da aludida obra.

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Afirma, entretanto, que, em 14 de maio de 2010, o representante da empresa


Norsan Engenharia e Tecnologia Ambiental Ltda., empresa escolhida pelo Estado para
realização da aludida obra, Sr. Tiago Otacílio de Alfeu Junior, foi preso em flagrante pelos
crimes previstos nos artigos 2º, da lei nº 8.176/91 e 55, da lei nº 9.605/98, sob a alegação de
que estaria remediando o lixão sem licença de operação com material retirado da Jazida do
Morro da Mangueira. Desta forma, houve a formalização de prisão, com nota de culpa, sob
o fundamento de suposta extração irregular do produto mineral (saibro), sem autorização do
DNPM e licença de operação do INEA. Em razão disso, o representante legal da indigitada
empresa somente foi liberado após assinatura de termo de fiança. Ato contínuo, houve a
lacração das máquinas e veículos que estavam operando e transportando material argiloso
da Jazida do Morro da Mangueira, para fins de utilização na obra emergencial de
remediação da área degradada do lixão do Município de Paracambi.
É o relatório. Passo a decidir.
No caso vertente, verifico dos documentos colacionados aos autos que a obra
emergencial que estava sendo realizada teve a coordenação, supervisão e fiscalização do
Estado do Rio de Janeiro, por intermédio da Secretaria de Estado de Ambiente (SEA), com
amparo, ainda, na autorização ambiental de lavra do Instituto Estadual do Ambiente
(INEA), com o escopo de realizar ações emergenciais na área do vazadouro municipal de
resíduos urbanos no Município de Paracambi.
Nesse quadro, sem querer adentrar a questão penal, que será devidamente
analisada pela Justiça Federal, competente para processar e julgar as infrações penais
praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, entendo, neste juízo superficial, que o Delegado de
Polícia Federal não detém, a princípio, atribuição para paralisar a referida obra, porquanto
tal questão se insere no âmbito do poder de polícia ambiental, de índole, portanto,
puramente administrativa. Isto porque eventual sanção administrativa é consectário do
poder de polícia regulado por normas administrativas, deduzindo, daí, que a interdição da
obra não seria questão afeta à atribuição da Polícia Federal.
Some-se a isso que a aludida obra teria por fito proteger da contaminação o
sistema de captação de água da estação de tratamento do guandu, que abastece
aproximadamente 70% da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Daí a necessidade a

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priori de tal obra, razão pela qual se conclui que a sua paralisação pode trazer impactos
ambientais mais profundos e mais drásticos do que eventual questão que adentre a seara
penal. Portanto, presente o periculum in mora, dada a possibilidade de grave dano
ambiental, o que, inegavelmente, poderá prejudicar a qualidade de vida das comunidades,
caso ocorra a contaminação do sistema de abastecimento de água.
Frise-se que a realização da obra emergencial de que trata esta ação teria sido
precedida de autorização ambiental do Instituto Estadual do Ambiente (INEA). Nesse caso,
em princípio, tal órgão seria mais capacitado a melhor examinar os riscos ambientais que
poderão advir do que a autoridade policial responsável pela interdição da obra. Presente,
assim, o fumus boni iuris.
Em adição, consta dos autos autorização de lavra da Secretaria Municipal de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável para retirada de material terroso a ser
realizado pela empresa Norsan Engenharia e Tecnologia Ambiental Ltda., que foi
contratada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro através da Secretaria de Estado do
Ambiente, no Morro da Mangueira, de propriedade da Prefeitura Municipal de Paracambi,
de sorte que possa ser utilizado em serviço emergencial de remediação do lixão municipal,
conforme processo administrativo nº 1893/10.
Em remate, a própria legislação de regência não cria, em tese, óbice à retirada
do material de que trata a ação, a teor da dicção do artigo 3º, §1º do decreto-lei nº 227/67,
que aprovou o código de mineração, que trago à colação:

“Art 3º Êste Código regula:


I - os direitos sobre as massas indivídualizadas de
substâncias minerais ou fósseis, encontradas na superfície ou no
interior da terra formando os recursos minerais do País;
II - o regime de seu aproveitamento, e
III - a fiscalização pelo Govêrno Federal, da pesquisa, da
lavra e de outros aspectos da industria mineral.

§ 1º. Não estão sujeitos aos preceitos deste Código os


trabalhos de movimentação de terras e de desmonte de materiais in
natura, que se fizerem necessários à abertura de vias de transporte,
obras gerais de terraplenagem e de edificações, desde que não haja
comercialização das terras e dos materiais resultantes dos referidos
trabalhos e ficando o seu aproveitamento restrito à utilização na
própria obra. (Incluído pela Lei nº 9.314, de 1996)”

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Logo, a conclusão é pelo acolhimento do pedido de liminar.


Pelo exposto, defiro o pedido de liminar, no sentido de determinar à autoridade
coatora, ou a quem lhe faça as vezes, que suspenda a ordem de paralisação de retirada e
transporte de material argiloso para utilização na obra emergencial de remediação da área
degradada do lixão do Município de Paracambi, de modo a permitir a retomada da referida
obra.
Intime-se a autoridade coatora, para que tome ciência do inteiro teor desta
decisão, cumprindo-a. Notifique-a para que, querendo, preste informações, no decêndio
legal, a teor do artigo 7º, inciso I, da lei nº 12.016/09.
Dê-se ciência ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada,
enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito.
Após, ao MPF, para que, querendo, ofereça parecer.
Tudo feito, voltem-me os autos conclusos para sentença.

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