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Mateus 22:35-38
“e um deles, doutor da lei, para o experimentar, interrogou-o, dizendo: (36)
Mestre, qual é o grande mandamento na lei? (37) Respondeu-lhe Yeshua1:
Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de
todo o teu entendimento. (38) Este é o grande e primeiro mandamento.”
1
Yeshua
é
o
nome
original
de
Jesus.
O
Seu
nome
nunca
se
pronunciou
“Jesus”
mas
sim
Yeshua
que
é
a
forma
curta
em
aramaico
do
nome
hebraico
Yehoshua
que
significa
“Salvação
de
Yah”.
Por tudo isto não devemos assumir que a definição que Deus tem de “Amor” é
idêntica à que nós herdámos na cultura romântica e sexualmente obcecada e
perversa em que estamos inseridos e para a qual amor é um sentimento, uma
emoção ou mesmo um acto carnal – pensemos por exemplo na expressão
“fazer amor”. De uma coisa podem ter a certeza: quando disse acima que a
palavra “amor” espelha uma acção, não é o acto físico da relação sexual que
tenho em mente. Por outro lado, devemos deixar que as Escrituras se
interpretem a elas próprias, pois quando procuramos definições para termos
bíblicos fora da Bíblia somos capazes de chegar a conclusões não-bíblicas. Por
isso, talvez seja interessante e prudente, ver o que Yeshua entenderia por amar
a Deus antes de voluntariarmos uma resposta à pergunta acima enunciada.
Na realidade o amor bíblico espelha muito mais do que uma mera emoção,
sobretudo quando falamos do amor a Deus, que é o nosso tópico neste artigo.
E, como já dissemos acima, ele traduz ou está associado a uma acção.
Muitos cristãos sabem que o amor é uma acção e não apenas uma emoção e
que fazer boas acções e sermos “bonzinhos” é a forma que temos de amar a
Deus e ao próximo. Será?...
Se assim for o que nos distingue dos pagãos que fazem boas acções, ou das
boas acções de ateus e agnósticos? E que dizer desta passagem?
Mateus 7:21-23
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele
que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. (22) Muitos me dirão
naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu
nome não expulsamos demónios? e em teu nome não fizemos muitos milagres?
(23) Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós
que praticais a iniquidade.”
Claramente, estes “muitos” que reclamarão ter feito grandes e meritórias obras
em nome de Yeshua, terão uma grande decepção. Claramente, então, amar
a Deus é mais do que ser ser “bonzinho” e mais do que uma mera emoção.
Kol-‐Shofar
–
A
Voz
da
Trombeta
2
www.kol-‐shofar.org
Yeshua rejeitará estas pessoas porque eles praticam a iniquidade. Iniquidade é
mais uma daquelas palavras que são lidas frequentemente nas igrejas mas
cujo significado é em grande medida ignorado. De acordo com o Dicionário
da Língua Portuguesa da Porto Editora, iniquidade tem os seguintes
significados:
Mateus 7:23
“Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que
transgredis a Lei (ou “vós que andais sem Lei).”
A estes, Ele nem sequer conhece – o que significa que não tem qualquer
relação com eles.
Mas, poderão perguntar, o que tem isto a ver com o amor a Deus. Muito!
Vejamos algumas passagens que nos mostram o que Deus ama.
Salmo 11:7
“Porque YHWH2 é justo; ele ama a justiça; os retos, pois, verão o seu rosto.”
Então, ao contrário, dos que andam sem Lei e com quem Ele não tem
qualquer relação, os retos (que guardam Lei) são os que verão o Seu rosto. Isto
não é de surpreender pois a passagem diz que YHWH ama a justiça.
Continuemos com mais passagens:
Salmo 33:5
“Ele ama a retidão e a justiça…”
2
Esta
palavra
é
o
tetragrama
que
consiste
no
Nome
de
Deus
e
que
foi
abusivamente
substituído
na
maior
parte
das
traduções
pelo
termo
“SENHOR”
(em
maiúsculas).
Para
um
trabalho
mais
completo
sobre
o
Nome
de
Deus
consultar
o
trabalho
“O
Nome
Santo
do
Todo-‐Poderoso”
Kol-‐Shofar
–
A
Voz
da
Trombeta
3
www.kol-‐shofar.org
Salmo 37:28
“Pois YHWH ama a justiça e não desampara os seus santos…”
Salmo 119:142
“A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a verdade.”
Isaías 42:21
“Foi do agrado do Senhor, por amor da sua justiça, engrandecer a lei e torná-la
gloriosa.”
Isaías 51:4
“Atendei-me, povo meu, e nação minha, inclinai os ouvidos para mim; porque de
mim sairá a lei, e estabelecerei a minha justiça como luz dos povos.”
Isaías 51:7
“Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a minha
lei…”
Nitidamente a justiça de Deus que Ele tanto ama, encontra-se expressa na Sua
Lei, i.e., na Sua Torá3.
Isto contraria muitos que defendem que a Lei de Deus foi abolida ou pregada
na cruz, mas agora que vimos isto vejamos o que o próprio Yeshua disse:
João 14:15
“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.”
Por aqui vemos como é que o amor se traduz em acção – se amarmos a Deus,
guardaremos os Seus mandamentos – é uma relação de causa e efeito. A
causa é o amor, o efeito é a obediência. Se amarmos o nosso Pai Celestial,
certamente seremos obedientes. A clausula inversa seria: “se não guardares os
meus mandamentos, então é porque não me amas.” E, na realidade, Yeshua
disse exactamente a mesma coisa uns versículos mais à frente:
hebraica
“Torá”
que
significa
primariamente
“instrução”
ou
“ensinamento”.
Só
num
sentido
secundário
é
que
tem
o
significado
de
“lei”.
Seria
muito
mais
dificil
defender
que
a
Lei
foi
abolida
se
a
palavra
Torá
tivesse
sido
traduzida
por
“ensinamento”
e
não
por
“Lei”.
Convenhamos
que
dizer
que
os
ensinamentos
de
Deus
foram
abolidos,
não
caíria
bem.
Kol-‐Shofar
–
A
Voz
da
Trombeta
4
www.kol-‐shofar.org
a ele… (23) Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o
amará, e viremos a ele, e faremos nele morada. (24) Quem não me ama, não
guarda as minhas palavras…”
Amor, para Deus, é muito mais que uma emoção e muito mais do que ser
“bonzinho”.
Êxodo 20:6
“e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus
mandamentos.”
1João 5:3
“Porque este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos; e
os seus mandamentos não são penosos.”
2João 1:6
E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos. Este é o
mandamento, como já desde o princípio ouvistes, para que nele andeis.
Não se trata de mandamentos novos mas dos que ouvimos desde o princípio.
Não estamos a falar dos mandamentos de Yeshua por oposição à Torá.
Mandamentos de Yeshua? Não existe tal coisa. Toda a Torá é de Yeshua, pois o
mesmo YHWH que estava em Yeshua foi o mesmo que estava no Sinai com
Moisés e que lhe deu a Torá. Toda a Torá é da Sua autoria e é eterna como já
vimos acima no Salmo 119:142.
1João 2:3-6
“E nisto sabemos que o conhecemos; se guardamos os seus
mandamentos. (4) Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus
mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade; (5) mas qualquer que
guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E
nisto sabemos que estamos nele; (6) aquele que diz estar nele, também deve
andar como ele andou.”
Deuteronómio 11:1
Amarás, pois, a YHWH teu Deus, e guardarás as suas ordenanças, os seus
estatutos, os seus preceitos e os seus mandamentos, por todos os dias.
Mateus 15:8
“Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim.”
Mateus 23:1-4
Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos, dizendo: (2) Na cadeira
de Moisés se assentam os escribas e fariseus. (3) Portanto, tudo o que vos
disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque
dizem e não praticam. (4) Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os
põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem
movê-los.
O que Ele está a dizer é para fazermos o que eles diziam quando liam a Torá da
cadeira de Moisés todos os Shabbats nas sinagogas mas para não sermos
como eles que liam os mandamentos mas não os praticavam, antes
inventavam as suas próprias leis – a chamada Lei Oral. É a estas adições à
Palavra de Deus que Ele se referia quando disse:
Mateus 16:6
“…Olhai, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus.”
E uma vez mais convém esclarecer a tradução pois uma vez mais também a
palavra acima traduzida por rebeldia é “anomos” que significa sem Lei, pelo
que poderíamos traduzir este versículo da seguinte forma:
1João 3:4
“Todo aquele que vive habitualmente no pecado também transgride a Lei (Torá),
pois o pecado é transgressão da Lei (Torá).”
Pois é... Ora aí está um conceito de que se fala abundantemente nas igrejas –
o conceito de pecado. Mas seja honesto, em quantas dessas igrejas é que se
explica que pecar é transgredir a Lei? De uma maneira geral fala-se do
pecado da mesma forma que se fala do amor, como um conceito vago que
poucas ou nenhumas vezes é explicado em termos concretos. Sim, pecar é
transgredir a Lei de Deus, a Sua Torá da mesma forma que amar a Deus é ser-
Lhe obediente e guardar os Seus mandamentos, a Sua Torá.
Muitos dizem que a Lei já não tem validade hoje que estamos debaixo da
graça de Deus. Sem querer entrar no conceito de graça, que é
suficientemente lato para motivar outro artigo, digamos apenas que a Graça
de Deus é a expressão do Seu amor por nós enquanto que a obediência aos
Seus mandamentos é o nosso amor para com Ele. Ao dizer tais coisas estamos
de facto apenas a dizer que só nos interessa o amor de Deus por nós mas amá-
Lo de volta é algo que não nos passa pela cabeça.
Vejamos algumas das palavras mais bem conhecidas de Yeshua mas que são
igualmente das mais ignoradas:
Mateus 5:17-19
“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas
cumprir. (18) Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem,
de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja
cumprido. (19) Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor
que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos
céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino
dos céus.”
Pois, a última vez que olhei, os céus e a terra ainda aí estavam e de igual modo
ainda nem tudo do que os profetas anunciaram foi cumprido. Como tal a
conclusão só pode ser uma: Nada passou da Lei – NADA! Ah sim, há coisas que
Actos 13:22
“…levantou-lhes como rei a David, ao qual também, dando testemunho, disse:
‘Achei a David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração…’”
Quem não gostaria que Deus pensasse o mesmo de si? Quem não gostaria de
ser um homem ou uma mulher segundo o coração de Deus? Certamente
todos quereriam isso. Mas a frase não termina aí. A frase completa é:
“Achei a David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda
a minha vontade.”
Tomemos como exemplo um pequeno trecho desse Salmo, escrito por este
mesmo homem que foi “segundo o coração de Deus”.
Como? Então este homem que era “segundo o coração de Deus” era alguém
que amava a Lei/Torá de Deus e a observava continuamente? Mais... então
esta Torá que muitos dizem ser de servidão e um jugo pesado é descrita por
David como sendo uma Lei de liberdade4?
Isto não é algo que se ouça muitas vezes dos púlpitos, pois não?
Infelizmente não. É por isso que este discurso não é popular nas igrejas, mas
como disse Pedro “Importa antes obedecer a Deus que aos homens.”
Ainda há muito pouco tempo assisti a um estudo numa igreja cujo tema era
precisamente este – o amor. Por incrível que pareça, o estudo, que durou
cerca de uma hora fez-se sem citar nenhuma das passagens referidas neste
trabalho que equacionam o amor a Deus com a obediência aos seus
4
Talvez
assim
seja
mais
fácil
entender
que
Tiago
1:25
nos
está
a
falar
da
Torá
e
não
de
Eclesiastes 12:13
“Este é o fim do discurso; tudo já foi ouvido: Teme a Deus, e guarda os seus
mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem.”
Provérbios 28:9
“O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei (Torá), até a sua oração é
abominável.”
Romanos 3:31
“Anulamos, pois, a lei (Torá) pela fé? De modo nenhum; antes estabelecemos
a lei.”
Lucas 8:21
“Minha mãe e meus irmãos são estes que ouvem a Palavra de Deus e a
observam.”
Isaías 8:16,20
“Ata o testemunho, sela a lei entre os meus discípulos… (20) À Lei e ao
Testemunho! se eles não falarem segundo esta palavra, nunca lhes raiará a
alva.”
Rui Quinta
Lisboa, Julho de 2010