Você está na página 1de 10

O AMOR A DEUS NAS ESCRITURAS

Mateus 22:35-38
“e um deles, doutor da lei, para o experimentar, interrogou-o, dizendo: (36)
Mestre, qual é o grande mandamento na lei? (37) Respondeu-lhe Yeshua1:
Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de
todo o teu entendimento. (38) Este é o grande e primeiro mandamento.”

Se em qualquer igreja, perguntássemos às pessoas se amam a Deus, não tenho


quaisquer dúvidas de que todos os presentes diriam um imediato e retumbante
“SIM!”. Não tenho igualmente quaisquer dúvidas de que, para a grande
maioria, essa resposta seria sincera. A mesma resposta poderia ser até obtida
fora de um ambiente religioso, como por exemplo, num simples inquérito no
meio da rua. Muitos, estou certo, dariam a mesma resposta.

No entanto, nesta como em outras coisas, nós estamos condicionados pelo


significado atribuído aos termos pela sociedade em que estamos inseridos.
Seria bom se os crentes nas igrejas fossem de algum modo diferentes, pelo
menos no que toca aos termos usados na Palavra de Deus, mas infelizmente,
para a esmagadora maioria deles, isso não é verdade. A sociedade ocidental
é fruto dos valores greco-romanos criados e difundidos por essas duas grandes
civilizações do passado. As Escrituras, porém, foram escritas num contexto
hebraico, por hebreus, para hebreus. A forma de pensar hebraica e
naturalmente a sua cultura e linguagem, são radicalmente diferentes das
nossas e quando tentamos interpretar palavras e expressões constantes na
Palavra de Deus, à luz dos nossos valores ocidentais, podemos despistar-nos a
grande velocidade. E o que é trágico, é que na maioria das vezes, nem nos
apercebemos.

A própria estrutura da língua hebraica é radicalmente diferente das nossas


línguas ocidentais. Enquanto que as línguas ocidentais assentam em
substantivos bem definidos e com significados limitados, a língua hebraica (e
de uma maneira geral, todas as línguas semíticas) assentam em verbos em que
cada um pode ter uma pluralidade de significados. Só por aí já se pode
imaginar o quanto se pode perder numa tradução, mas não é esse o nosso
tópico aqui. A língua hebraica é uma língua de acção, não de ideias ou
conceitos. A maior parte das palavras que para nós são substantivos que
traduzem uma ideia ou conceito, em hebraico são verbos (ou têm uma forma
verbal) e traduzem ou são indissociáveis de uma acção. Tal é o caso com a
palavra “amor”.

                                                                                                               
1  Yeshua  é  o  nome  original  de  Jesus.  O  Seu  nome  nunca  se  pronunciou  “Jesus”  mas  sim  

Yeshua  que  é  a  forma  curta  em  aramaico  do  nome  hebraico  Yehoshua  que  significa  
“Salvação  de  Yah”.  
Por tudo isto não devemos assumir que a definição que Deus tem de “Amor” é
idêntica à que nós herdámos na cultura romântica e sexualmente obcecada e
perversa em que estamos inseridos e para a qual amor é um sentimento, uma
emoção ou mesmo um acto carnal – pensemos por exemplo na expressão
“fazer amor”. De uma coisa podem ter a certeza: quando disse acima que a
palavra “amor” espelha uma acção, não é o acto físico da relação sexual que
tenho em mente. Por outro lado, devemos deixar que as Escrituras se
interpretem a elas próprias, pois quando procuramos definições para termos
bíblicos fora da Bíblia somos capazes de chegar a conclusões não-bíblicas. Por
isso, talvez seja interessante e prudente, ver o que Yeshua entenderia por amar
a Deus antes de voluntariarmos uma resposta à pergunta acima enunciada.

Na realidade o amor bíblico espelha muito mais do que uma mera emoção,
sobretudo quando falamos do amor a Deus, que é o nosso tópico neste artigo.
E, como já dissemos acima, ele traduz ou está associado a uma acção.

A palavra hebraica para “amor” é a palavra “ahav”. Infelizmente a simples


definição desta palavra pouco nos ajuda a entender como ela é usada na
Palavra de Deus, uma vez que a sua aplicação vai do nobre e sublime amor
ao degradante e profano. Ao mesmo tempo e ao contrário do que acontece
com a nossa palavra “amor” que habitualmente traduz o expoente máximo de
um dado sentimento ou emoção, a palavra hebraica “ahav” (bem como o
seu substantivo “ahavah”) abrange todo um conjunto de termos que passam
por “gostar”, “respeitar”, “agraciar”, etc. O mesmo se passa com a palavra
grega “agapao” (e com o seu substantivo “ágape”) que foi usada para a
traduzir. Muito mais podemos e devemos retirar do contexto em que ela é
usada nas Sagradas Escrituras do que de uma estrita definição (algo que
nunca é simples de fazer com a língua hebraica dada a multiplicidade de
significados que uma dada palavra pode assumir).

Muitos cristãos sabem que o amor é uma acção e não apenas uma emoção e
que fazer boas acções e sermos “bonzinhos” é a forma que temos de amar a
Deus e ao próximo. Será?...

Se assim for o que nos distingue dos pagãos que fazem boas acções, ou das
boas acções de ateus e agnósticos? E que dizer desta passagem?

Mateus 7:21-23
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele
que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. (22) Muitos me dirão
naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu
nome não expulsamos demónios? e em teu nome não fizemos muitos milagres?
(23) Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós
que praticais a iniquidade.”

Claramente, estes “muitos” que reclamarão ter feito grandes e meritórias obras
em nome de Yeshua, terão uma grande decepção. Claramente, então, amar
a Deus é mais do que ser ser “bonzinho” e mais do que uma mera emoção.
Kol-­‐Shofar  –  A  Voz  da  Trombeta   2  
www.kol-­‐shofar.org      
Yeshua rejeitará estas pessoas porque eles praticam a iniquidade. Iniquidade é
mais uma daquelas palavras que são lidas frequentemente nas igrejas mas
cujo significado é em grande medida ignorado. De acordo com o Dicionário
da Língua Portuguesa da Porto Editora, iniquidade tem os seguintes
significados:

1. qualidade do que é iníquo


2. falta de equidade; injustiça
3. perversidade; corru(p)ção nos costumes
4. ação iníqua; crime

Quando analisamos as definições assinaladas, claramente prevalece a ideia


de transgressão.

A palavra que se encontra no grego é a palavra “anomos” que basicamente é


a palavra “nomos” (lei) antecedida do prefixo “a” que significa “ausência de”.
“Anomos” significa portanto, sem lei ou transgressão da lei e por isso foi
traduzida para português por iniquidade que, no seu significado de injustiça e
crime, significa o mesmo.

Assim, poderíamos legitimamente traduzir o versículo 23 da seguinte forma:

Mateus 7:23
“Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que
transgredis a Lei (ou “vós que andais sem Lei).”

A estes, Ele nem sequer conhece – o que significa que não tem qualquer
relação com eles.

Mas, poderão perguntar, o que tem isto a ver com o amor a Deus. Muito!
Vejamos algumas passagens que nos mostram o que Deus ama.

Salmo 11:7
“Porque YHWH2 é justo; ele ama a justiça; os retos, pois, verão o seu rosto.”

Então, ao contrário, dos que andam sem Lei e com quem Ele não tem
qualquer relação, os retos (que guardam Lei) são os que verão o Seu rosto. Isto
não é de surpreender pois a passagem diz que YHWH ama a justiça.
Continuemos com mais passagens:

Salmo 33:5
“Ele ama a retidão e a justiça…”

                                                                                                               
2  Esta  palavra  é  o  tetragrama  que  consiste  no  Nome  de  Deus  e  que  foi  abusivamente  

substituído  na  maior  parte  das  traduções  pelo  termo  “SENHOR”  (em  maiúsculas).  Para  um  
trabalho  mais  completo  sobre  o  Nome  de  Deus  consultar  o  trabalho  “O  Nome  Santo  do  
Todo-­‐Poderoso”  
Kol-­‐Shofar  –  A  Voz  da  Trombeta   3  
www.kol-­‐shofar.org      
Salmo 37:28
“Pois YHWH ama a justiça e não desampara os seus santos…”

Agora é caso para perguntar: se Deus ama a justiça (e obviamente estamos a


falar da justiça de Deus e não da dos homens), como ou em que é que se
traduz a Sua justiça? A resposta é-nos dada múltiplas vezes na Palavra de Deus:

Salmo 119:142
“A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a verdade.”

Isaías 42:21
“Foi do agrado do Senhor, por amor da sua justiça, engrandecer a lei e torná-la
gloriosa.”

Isaías 51:4
“Atendei-me, povo meu, e nação minha, inclinai os ouvidos para mim; porque de
mim sairá a lei, e estabelecerei a minha justiça como luz dos povos.”

Isaías 51:7
“Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a minha
lei…”

Nitidamente a justiça de Deus que Ele tanto ama, encontra-se expressa na Sua
Lei, i.e., na Sua Torá3.

Isto contraria muitos que defendem que a Lei de Deus foi abolida ou pregada
na cruz, mas agora que vimos isto vejamos o que o próprio Yeshua disse:

João 14:15
“Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.”

Por aqui vemos como é que o amor se traduz em acção – se amarmos a Deus,
guardaremos os Seus mandamentos – é uma relação de causa e efeito. A
causa é o amor, o efeito é a obediência. Se amarmos o nosso Pai Celestial,
certamente seremos obedientes. A clausula inversa seria: “se não guardares os
meus mandamentos, então é porque não me amas.” E, na realidade, Yeshua
disse exactamente a mesma coisa uns versículos mais à frente:

João 14:21, 23-24


“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama;
e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei
                                                                                                               
3  A  palavra  habitualmente  traduzida  por  Lei  no  chamado  “Antigo  Testamento”  é  a  palavra  

hebraica  “Torá”  que  significa  primariamente  “instrução”  ou  “ensinamento”.  Só  num  sentido  
secundário  é  que  tem  o  significado  de  “lei”.  Seria  muito  mais  dificil  defender  que  a  Lei  foi  
abolida  se  a  palavra  Torá  tivesse  sido  traduzida  por  “ensinamento”  e  não  por  “Lei”.  
Convenhamos  que  dizer  que  os  ensinamentos  de  Deus  foram  abolidos,  não  caíria  bem.  
Kol-­‐Shofar  –  A  Voz  da  Trombeta   4  
www.kol-­‐shofar.org      
a ele… (23) Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o
amará, e viremos a ele, e faremos nele morada. (24) Quem não me ama, não
guarda as minhas palavras…”

Amor, para Deus, é muito mais que uma emoção e muito mais do que ser
“bonzinho”.

Amar a Deus é obedecer aos Seus mandamentos – ou seja à Sua Palavra – à


Sua Torá.

Isto encontra-se expresso até mesmo no texto dos 10 mandamentos:

Êxodo 20:6
“e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus
mandamentos.”

Quando obedecemos à Sua Palavra demonstramos o nosso Amor por Ele.


Quando desobedecemos ou ignoramos, demonstramos que na verdade não
O amamos apesar do que possamos dizer em contrário.

É por isso que Yeshua diz…

1João 5:3
“Porque este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos; e
os seus mandamentos não são penosos.”

2João 1:6
E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos. Este é o
mandamento, como já desde o princípio ouvistes, para que nele andeis.

Não se trata de mandamentos novos mas dos que ouvimos desde o princípio.
Não estamos a falar dos mandamentos de Yeshua por oposição à Torá.
Mandamentos de Yeshua? Não existe tal coisa. Toda a Torá é de Yeshua, pois o
mesmo YHWH que estava em Yeshua foi o mesmo que estava no Sinai com
Moisés e que lhe deu a Torá. Toda a Torá é da Sua autoria e é eterna como já
vimos acima no Salmo 119:142.

Vejamos mais ainda... Recorda-se da passagem de Mateus 7:23 segundo a


qual Yeshua nem tampouco conhecia os que praticavam a iniquidade, i.e.
aqueles que transgrediam a Lei? Vejamos agora quem é que ele conhece:

1João 2:3-6
“E nisto sabemos que o conhecemos; se guardamos os seus
mandamentos. (4) Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus
mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade; (5) mas qualquer que
guarda a sua palavra, nele realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E
nisto sabemos que estamos nele; (6) aquele que diz estar nele, também deve
andar como ele andou.”

Kol-­‐Shofar  –  A  Voz  da  Trombeta   5  


www.kol-­‐shofar.org      
E como é que ele andou? Guardando os mandamentos, obviamente.

Esta ligação entre o amor a Deus e a obediência esclarece porque é que


tanto Yeshua como os fariseus do seu tempo afirmavam que amar a Deus
sobre todas as coisas era o maior dos mandamentos. Porque obviamente se
amarmos a Deus de todo o nosso coração, alma e entendimento, iremos
necessariamente obedecer aos Seus mandamentos.

Deuteronómio 11:1
Amarás, pois, a YHWH teu Deus, e guardarás as suas ordenanças, os seus
estatutos, os seus preceitos e os seus mandamentos, por todos os dias.

Satanás promoveu e depois tirou partido da nossa ignorância e criou uma


teologia segundo a qual proclamar, ensinar e obedecer aos mandamentos de
YHWH não é uma demonstração de Amor mas sim de legalismo.

Quem o faz é apelidado de legalista e Fariseu… mas Yeshua não chamou


legalistas aos Fariseus… Ele chamou-lhes “hipócritas” o que é bem diferente.

Mateus 15:8
“Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim.”

Mateus 23:1-4
Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos, dizendo: (2) Na cadeira
de Moisés se assentam os escribas e fariseus. (3) Portanto, tudo o que vos
disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque
dizem e não praticam. (4) Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os
põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem
movê-los.

O que Ele está a dizer é para fazermos o que eles diziam quando liam a Torá da
cadeira de Moisés todos os Shabbats nas sinagogas mas para não sermos
como eles que liam os mandamentos mas não os praticavam, antes
inventavam as suas próprias leis – a chamada Lei Oral. É a estas adições à
Palavra de Deus que Ele se referia quando disse:

Mateus 16:6
“…Olhai, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus.”

Sem a Torá não compreenderíamos a vinda de Yeshua, a Sua santidade – que


por definição consiste em viver pela Torá – a necessidade da Sua morte, nem
tão pouco apreciaríamos a graça e misericórdia de Deus. Sem a Lei escrita por
Moisés, como saberíamos o que é o pecado? E sem o conhecimento do
pecado como teríamos consciência da necessidade de salvação?

É por tudo isto que Yeshua também disse:

Kol-­‐Shofar  –  A  Voz  da  Trombeta   6  


www.kol-­‐shofar.org      
1João 3:4
“Todo aquele que vive habitualmente no pecado também vive na rebeldia, pois o
pecado é rebeldia.”

E uma vez mais convém esclarecer a tradução pois uma vez mais também a
palavra acima traduzida por rebeldia é “anomos” que significa sem Lei, pelo
que poderíamos traduzir este versículo da seguinte forma:

1João 3:4
“Todo aquele que vive habitualmente no pecado também transgride a Lei (Torá),
pois o pecado é transgressão da Lei (Torá).”

Pois é... Ora aí está um conceito de que se fala abundantemente nas igrejas –
o conceito de pecado. Mas seja honesto, em quantas dessas igrejas é que se
explica que pecar é transgredir a Lei? De uma maneira geral fala-se do
pecado da mesma forma que se fala do amor, como um conceito vago que
poucas ou nenhumas vezes é explicado em termos concretos. Sim, pecar é
transgredir a Lei de Deus, a Sua Torá da mesma forma que amar a Deus é ser-
Lhe obediente e guardar os Seus mandamentos, a Sua Torá.

O cúmulo de todas as ironias, é que ao reduzir a Lei de Deus a nada, como a


maioria das igrejas cristãs faz hoje em dia, elas estão a reduzir a nada o amor a
Deus que tanto advogam.

Muitos dizem que a Lei já não tem validade hoje que estamos debaixo da
graça de Deus. Sem querer entrar no conceito de graça, que é
suficientemente lato para motivar outro artigo, digamos apenas que a Graça
de Deus é a expressão do Seu amor por nós enquanto que a obediência aos
Seus mandamentos é o nosso amor para com Ele. Ao dizer tais coisas estamos
de facto apenas a dizer que só nos interessa o amor de Deus por nós mas amá-
Lo de volta é algo que não nos passa pela cabeça.

Vejamos algumas das palavras mais bem conhecidas de Yeshua mas que são
igualmente das mais ignoradas:

Mateus 5:17-19
“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas
cumprir. (18) Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem,
de modo nenhum passará da lei um só i ou um só til, até que tudo seja
cumprido. (19) Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor
que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos
céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino
dos céus.”

Pois, a última vez que olhei, os céus e a terra ainda aí estavam e de igual modo
ainda nem tudo do que os profetas anunciaram foi cumprido. Como tal a
conclusão só pode ser uma: Nada passou da Lei – NADA! Ah sim, há coisas que

Kol-­‐Shofar  –  A  Voz  da  Trombeta   7  


www.kol-­‐shofar.org      
não se nos aplicam mas isso temos de ver caso a caso e não cabe no âmbito
deste artigo fazê-lo. Cabe no entanto no âmbito deste artigo despertar as
consciências para o que significa “Amar a Deus”.

Actos 13:22
“…levantou-lhes como rei a David, ao qual também, dando testemunho, disse:
‘Achei a David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração…’”

Quem não gostaria que Deus pensasse o mesmo de si? Quem não gostaria de
ser um homem ou uma mulher segundo o coração de Deus? Certamente
todos quereriam isso. Mas a frase não termina aí. A frase completa é:

“Achei a David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda
a minha vontade.”

Querem saber o que é ser um homem segundo o coração de Deus? Leiam o


Salmo 119 escrito por este mesmo David e que exalta sobremaneira a Torá de
Deus.

Tomemos como exemplo um pequeno trecho desse Salmo, escrito por este
mesmo homem que foi “segundo o coração de Deus”.

Salmo 119:44-45; 47-48


“Assim observarei de contínuo a tua lei, para sempre e eternamente; (45) e andarei em
liberdade, pois tenho buscado os teus preceitos… (47) Deleitar-me-ei em teus
mandamentos, que eu amo. (48) Também levantarei as minhas mãos para os teus
mandamentos, que amo, e meditarei nos teus estatutos.”

Como? Então este homem que era “segundo o coração de Deus” era alguém
que amava a Lei/Torá de Deus e a observava continuamente? Mais... então
esta Torá que muitos dizem ser de servidão e um jugo pesado é descrita por
David como sendo uma Lei de liberdade4?

Isto não é algo que se ouça muitas vezes dos púlpitos, pois não?

Infelizmente não. É por isso que este discurso não é popular nas igrejas, mas
como disse Pedro “Importa antes obedecer a Deus que aos homens.”

Ainda há muito pouco tempo assisti a um estudo numa igreja cujo tema era
precisamente este – o amor. Por incrível que pareça, o estudo, que durou
cerca de uma hora fez-se sem citar nenhuma das passagens referidas neste
trabalho que equacionam o amor a Deus com a obediência aos seus
                                                                                                               
4  Talvez  assim  seja  mais  fácil  entender  que  Tiago  1:25  nos  está  a  falar  da  Torá  e  não  de  

qualquer  outra  lei  que  supostamente  a  substituiu:    


 
“…aquele que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela persevera, não sendo
ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será bem-aventurado no que fizer.”
Kol-­‐Shofar  –  A  Voz  da  Trombeta   8  
www.kol-­‐shofar.org      
mandamentos e sem fazer qualquer relação ainda que breve entre estas duas
coisas. Durante essa hora foi apregoado um conceito vago e idílico de amor
com muito pouca aplicação prática.

Vejamos mais algumas passagens:

Eclesiastes 12:13
“Este é o fim do discurso; tudo já foi ouvido: Teme a Deus, e guarda os seus
mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem.”

Provérbios 28:9
“O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei (Torá), até a sua oração é
abominável.”

Romanos 3:31
“Anulamos, pois, a lei (Torá) pela fé? De modo nenhum; antes estabelecemos
a lei.”

Lucas 8:21
“Minha mãe e meus irmãos são estes que ouvem a Palavra de Deus e a
observam.”

Por último, não esqueçamos as palavras de YHWH, dadas através do profeta


em:

Isaías 8:16,20
“Ata o testemunho, sela a lei entre os meus discípulos… (20) À Lei e ao
Testemunho! se eles não falarem segundo esta palavra, nunca lhes raiará a
alva.”

O amor bíblico, ou pelo menos o amor a Deus, não é apenas um sentimento ou


emoção - é uma escolha, uma opção e, em última análise uma acção e um
modo de vida. Não é automático nem “à primeira vista,” mas requer opções
por vezes difíceis para as nossas vidas. Se queremos amar a Deus, se de facto
queremos que isso seja verdade nas nossas vidas, temos de Lhe obedecer. É
nisso que consiste ser santo ou separado para Deus. Quanto maior a fé, maior a
obediência, maior o amor e quanto maior o nosso amor por Ele, maior a nossa
obediência e consequentemente a nossa separação do mundo. Se não O
amamos, não O respeitamos e somos rebeldes e desobedientes à Sua
vontade. Se, porém verdadeiramente O amarmos, desejaremos com alegria
fazer a Sua vontade, vontade essa expressa desde o início na Sua Torá.
Conforme vimos, se afirmamos ter a Yeshua como nosso exemplo, devemos
andar como Ele andou e Ele foi fiel à Torá de Seu Pai. É nisso que Ele é o nosso
exemplo!

Kol-­‐Shofar  –  A  Voz  da  Trombeta   9  


www.kol-­‐shofar.org      
Deuteronómio 6:4-6

Ouve, ó Israel; YHWH nosso Deus é o único YHWH. (5)


Amarás, pois, a YHWH teu Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma e de todas as tuas forças. (6) E estas
palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;

Note que mesmo na passagem que Yeshua citou, a consequência natural e


esperada de amarmos a Deus de todo o coração, alma e forças, é ter as
palavras que Ele ordenou – i.e., a Sua Torá – no nosso coração.

E você, ama a Deus?

Rui Quinta
Lisboa, Julho de 2010

Kol-­‐Shofar  –  A  Voz  da  Trombeta   10  


www.kol-­‐shofar.org      

Você também pode gostar