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Uma questao de sentido Hans Ulrich Gumbrecht responde critica de Andrea Daher a seu novo livro Hane Urrich Gumbrecht aditima edicgo de Pro sa & Verso, Andrea Daher, uma colega da UFRI, resenhou a tra- ducio para o portugués de meu livro *Producao de presenca” (Contraponto/PUC-Rio, trade ‘gaode Analeahel Soares), che gou a uma conclusao devasta- dora: “é uma teoria em pleno de Sastre”. Bem, tais palavres $6 ppoderiam feir um autor que, co mmo haveria de ser, leva Sens Ie ros a sério, se bem que, como ‘quoro insist a resenbista tonha, O direto de fazélo, sendo ease ‘um slatoma do bom funciona ‘mento do espaco pablo. Nao respondo portanto porque qual ra diseutir o deito de Andrea Daher de achar e deserever me livro como tio “devastador". ‘Mas seria interessante para 0s leltores de sua resenha, © de ‘meu livro, mesmo para os leit res de 0 GLOBO que no este jam intereseados nem no meu = ‘yo, net na resenha, compreen= der que a base em que se funda ‘ue erica tem un dupio sent {o, de que a resenista 120 pas rece conscionte “Aticulada como tn dares. nha,essabase die que “toda too. via serve & lglca da significa ‘Bo Dello, as teens sho ne ‘essariamente constitutvas de slgaiieagio — isso élncontesti- ‘el para aqudlas artcuiade por palavras (por exemlo, ns cléa- ‘as socials, nas humanicodes © has artes) mas é igualmente ‘verdadero para 28 que se ar ‘clam por numeros equagoes (oas eigncias naturals, por ‘exemple, pois ners e equ ‘ces tambem so significa ‘de signicacdes. Crso que, nes te seitdo, mesmo 0 mau lve tem o staius de uma "teoea", pos, naturale ineviavelnente, desenvolve um argumento € luna deserigao com palaras, ot Seja, com concatto.Econtudo, lum ero terzivel — erro em que nao 6 Anda Daher cal — per sar que, em consequéncl, as teorias sé possam Idk com foe rnémenos que si0 “constituidos Ge signiicacio™. Obviamente, no € assim porque. por um lat ‘Go, reconhecemes como “teo- fac" mulkas desorgces abstrae tas de fenomenos das ckncias naturals; ¢, a0 mesmo tempo, sabemos que tais fendmenos (pensesenafisia nuclear oun ‘quimica organica) nao sao fun- dlanentalmente constttos de tlguleagso. So por nossos e=- forgosem etal teria, cles 2 tomam descritos e exprestos por conceltos De to, conto, Ostendmenes naturals nao cr tem primariamente signifies. fbes-Esea 6a razo mesina por {ue em primerolugar tentelar- ticular meu ponto de Viste por paras e sigificacdes. em ver 4, por exam, dangar (), ou exelusivamente =personiican- do” minha posicio. £, portantc, verdade que ao nivel do que es tow descrevendo, defend qe 4s humanidades ea artes m0 fe concentra toe nos lene rence constitldos de signica- ‘lo sendo que incluem certos Jenémenos que (acredito) per fencer 20 que chamamos “cle {ura’ sem que elas mesinos ee Jam consttuids de signfengso exemplo: a qualidade central das voves ao Tella um poeta ‘ona apresentagao deuma pee 1). Essa pode ser uma alogagio relatiamenteInofensiva, mas ‘penso que era (€ ainda €) neces sla porque, no a diferenga da propria resents, as humane dado eas ates, em sua come: nitia histéria,tém confundido sue autodescricio como disci plinas cujo centro Eocupado pe [a “Interpretacao", com a tarela de focarem exclusiamente 08 fenomenos dotzdes de signiica. (80. Creio que sco é um erro; a8 Thumanidades e a as artes no cGevern encerrarse al embora, por outro lado, seria de-um com- pleto ridiculo argumentar que ‘as humanidades nao dam com, fendmenos de signficacio. Estou consciente que essa é ‘uma resposta muita seca e me ‘deseulpo por isso. Mas, tendo ‘ahonra de vir com Irequencia, ‘20 Brasil e af dar cursos, no poderla delxar esse equivoco ‘sem uma réplica pibliea, Ha outras passagens na re. senha relerida que me parece ram estranhas. Em vez de lhes edicar uma resposta detalhar da, as assinalo de passagem. A rosenhista parece reseentirse Ge uma carta (e deliberada) “iaelidade” em meu estilo in- telectual. que. embora eu sea professor ha mals de 40 anos, procura nao ser rigidamente academico. Essa 62 ra240 por ‘que relirorme a certos autores ‘como “amigos” (quando de fa to o sie). Els por que, para fefeito de clarezs, enfatiaa cer. tas difereneas; € porque nao vito usar muitas vezes exem- plos de minha (por certo bar nal vida cotidiana. O tom da resenha torna-se um tante mais agressivo e levemente problemitico quando Andrea Daher parece insinuar que tal (pata ela) devastadora teoria 6 poderia surgir e encontrar aceltagao na Calornia (onde tenho de fate ensinado por mais de20 anos; enos Estedos Unidos, de que sou cidadio). Se a resenhista sente tal afink- ade, assim como muitos cole {gas no Brasil, penso que seria necessério transformar sua impressdo em um argumento expleito (de minha parte, pos so comcerteza ndover tals all- hidacles entre certss teorias € certos contextos nacionals).A resenhista segue adiante suge- indo que minka cara apare- cer napgina de roste do livro Sum atoagressivo que, pensa, se ajusta com 0 que juga ale nalidade de minha teorla. £ verdade que tenho a cara que tenho © que nio resisti & pro posta das editoras americana brasileira de que minha foto aparecesse na capa de um Ik ro chamado “Produgao de presenga”. Talvez isso tenha ‘sido um erro, mas no creio ‘que, mesmo tendo sido, tenha dalgurn valor sintomatologico para minta teoria "Acabo com um tom eoneila- torio. A resenhista eomega por ‘caracterizar meu ivro como umn “panfleto neossubstancialista. Posso, a verdade, simpatlzar ‘com of dols termos. Se um pan Hleto gum texto abstrato com al- uma forca polémica, fui bem compreendio. E. embora nun ‘eatenha tido a iniencao progra matica de ser chamado de “eossubstancialsta’, ¢ verda- de que quero trazer de volta ‘conceltas como 0 de “substan ‘ea para as discusses illo ‘eas @ culturals Pols, inssto, & lum equiveco erer que as hums nidades e as artes devam lidar ‘exclusivamente com fendmenos cconstitufds de signlicacao & rio com fendmenos baseados na substancla. ‘HANS ULRICH GUMBRECITT€ ‘iste, autor de “Proust de procera’, ere ours. Trdugdo (4 Luiz Cosa Lina

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