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CONTEÚDO

PROFº: NETO
03 ABOLIÇÃO, REPUBLICANISMO E CRISE IMPERIAL
A Certeza de Vencer KL 200208
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O movimento republicano apesar de unificado em seu projeto final, não contou com um sentido de unidade ideológica na
condução do movimento e dos debates teóricos e ideológicos verificados em seu interior. Desta forma, pode-se verificar três grandes
grupos de propostas no interior do movimento republicano nacional:
a) O Positivismo: contou com uma ampla adesão dos militares e possuía um grande divulgador na Escola Militar: o coronel e professor
Benjamim Constant.
O positivismo em três palavras:
Corrente filosófica criada na França no início do século XIX, por Auguste Comte. O princípio básico do positivismo sustenta-
se na idéia de que “a sociedade só pode ser convenientemente organizada através de uma completa reforma intelectual do homem”.
Segundo Comte “todas as ciências e o espírito humano como um todo desenvolvem-se através de três fases distintas: a teológica, a
metafísica e a positiva”. Para o pensador na fase teológica o homem só consegue explicar os fenômenos naturais através das idéias de
deuses e de espíritos. Na fase metafísica, a idéia de subordinação do homem ao sobrenatural é destruída e a imaginação é substituída
pela argumentação na explicação dos fenômenos da natureza. Na última fase, o estado positivo, tanto a imaginação quanto a
argumentação ficam subordinadas à observação científica (positiva).
Do ponto de vista político, os positivistas negavam a luta de classe, (e este foi o principal alvo da crítica marxista) por
isso afirmavam que “só há progresso quando as classes estão irmanadas”. Um dos fundamentos da ideologia positivista baseia-se na
ordem e progresso, segundo Comte: “o progresso provém da ordem e aperfeiçoa os elementos permanentes de qualquer sociedade: família,
religião, propriedade, etc.”
No Brasil, os positivistas influenciaram politicamente as classes médias e seu principal representantes no debate republicano:
os militares do exército. Foi no exército que desenvolveu-se a idéias de salvação nacional, ou seja a noção de que cabia ao exército a
missão de proteger o país dos vícios e da degradação política, visão aliás reproduzida em outros momentos da vida política nacional.
Na análise positivista, o exército simbolizava a ordem sob a qual se eriegeria o progresso (daí o lema da bandeira: ordem e progresso), a
solução política para o país seria a adoção de uma república ditatorial, chefiada, logicamente pelos militares. Os positivistas desejavam
uma república moralizadora sem corrupção política, dirigida de forma autoritária e patriótica.
O positivismo tinha muita forte do Rio de Janeiro (com os militares) e entre os republicanos gaúchos. Não são muito claros os
motivos pelos quais os gaúchos eram fortemente positivistas, mas acredita-se que concorreu para isso a forte tradição militar naquela
região e o fato de que os gaúchos formavam uma minoria que precisavam de uma forte doutrina que lhes desse forte grau de coesão
interna.
b) O Liberalismo: seguindo a tendência do liberalismo norte americano. Os liberais associavam a república a um modelo
representativo, eletivo, gerido por uma constituição de caráter liberal, que assegurasse a liberdade dos indivíduos e o critério de
igualdade perante a lei e a justiça. Este modelo defendia a adoção de um modelo político composto por um presidente (eleito por
sufrágio universal) que governaria em harmonia com o Congresso Nacional e o Senado. Esta proposta tinha muita forca entre os
integrantes do Partido Republicano Paulista (PRP) e entre os políticos mineiros.
c) O Jacobinismo: faziam clara alusão ao jacobinismo francês. Lopes Trovão e Silva Jardim, seu maiores referenciais, defendiam uma
república popular e democrática. Este grupo aproximava-se dos setores mais populares das cidades do Rio de Janeiro (maior força) e
em São Paulo. Para os jacobinistas a república deveria ser fruto de um movimento revolucionário que promovessem as mudanças nas
estruturas sociais. Falavam em democracia social, melhoria efetiva para os negros (entregues à sua própria sorte após a abolição),
condições de vida digna para os trabalhadores urbanos e melhoria das condições de vida para os mais carentes. No interior do Partido
Republicano, eram representados pelos republicanos radicais ou revolucionários, conforme veremos a seguir.
5- A Construção do Ideário republicano
Grande parte do ideário republicano no Brasil foi divulgado no interior do Partido Republicano. O Partido Republicano surgiu de
uma dissidência surgida no interior do Partido Liberal, tornando-se de fato um partido republicano em 1870, tendo na sua fundação muitos
advogados, médicos, engenheiros, jornalistas, fazendeiros e negociantes. Já neste ano foi lançado um manifesto, que definia a finalidade do
novo partido:
• Extinção do Senado vitalício, do Conselho de Estado e do Poder Moderador,
• Separação entre igreja e Estado,
• Eleições diretas,
• Instalação de um regime republicano federativo que asseguraria a autonomia das províncias, conforme segue trecho abaixo:

MANIFESTO REPUBLICANO:
(Publicado em A República jornal carioca de tendência republicana)
A centralização, tal qual existe, representa o despotismo, da força ao poder pessoal que avassala, estraga e corrompe os caracteres, perverte e
anarquiza os espíritos, comprime a liberdade, constrange o cidadão, subordina o direito de todos ao arbítrio de um só poder, nulifica de fato a soberania
VESTIBULAR – 2009

nacional, mata o estímulo do progresso local, suga a riqueza peculiar das províncias, constituindo-as satélites obrigados do grande astro da corte - centro
absorvente e compressor que tudo corrompe e tudo concentra em si - na ordem moral e política, como na ordem econômica e administrativa. [...]
O regime de federação baseado, portanto, na independência recíproca das províncias, elevando-as a categoria de Estados próprios, unicamente
ligados pelo vínculo da mesma nacionalidade e da solidariedade dos grandes interesses da representação e da defesa exterior, e aquele que adotamos no nosso
programa, como sendo o único capaz de manter a comunhão da família brasileira. [...]
Somos da América e queremos ser americanos.
Fonte: A República, Rio de Janeiro, 03/12/1870.

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A partir daí o republicanismo foi tomando corpo no país, com o surgimento de diversos PR’s nas províncias. Em 1873, na
Convenção de Itu, interior de São Paulo, foi criado o maior propagandista da causa republicana: o Partido Republicano Paulista (PRP),
que juntamente com o Partido Republicano Mineiro (PRM) dominou a vida política nacional por toda a primeira república. Pode-se
falar de uma forte presença da classe média nos diferentes PR’s, mas em São Paulo, desde cedo, ficou marcante a presença dos
cafeicultores na condução do movimento. No interior do Partido Republicano, haviam duas correntes de pensamento: os republicanos
evolucionistas e os revolucionários.
a) Os evolucionistas ou históricos: acreditavam que a monarquia sofreria um constante desgaste, até ser naturalmente substituída pela
república. Esta tese aproximava-se do ideal de república proposta pelos oligarcas de São Paulo. Um dos nomes fortes da corrente
evolucionista era Quintino Bocaiúva, que assumia claramente uma postura moderada na defesa da ordem e de “conquistas graduais”:
“a república, como nós a queremos [...], tem de ser e deve ser um governo de liberdade, de igualdade e de fraternidade, de justiça,
de paz, de progresso e de ordem, de garantias para todos os direitos e de respeito para todos os interesses legítimos. Nossa ordem de idéias e
nossa propaganda tem sido uma propaganda de princípios e não uma propaganda de ódios. Temos visado e visamos a transformação social
pacífica e legal, pelo esclarecimento da opinião pública e pelas conquistas graduais efetuadas no domínio da consciência nacional”.
b) Os radicais ou revolucionários: associavam a república à participação popular, feita de forma revolucionária, desta forma eram
diferentes dos evolucionistas, pois desejavam apressar a criação da república no país. Os radicais falavam nas mudanças que o país
necessitava da seguinte maneira:

“a nação brasileira pede reformas e a monarquia é incapaz de decretá-las; e quando não vem a reforma que é a revolução
governamental; é mister que se faça a revolução que é a reforma popular!”.
(PESSOA, R. Carneiro, A Idéia Republicana no Brasil através dos Documentos)
Silva Jardim, um dos mais ardorosos radicais falava da seguinte maneira: Quase tudo do que precisamos é importado. O
escravo se tornou o novo miserável! Não há empregos! Não há obras em benefício da população! Não sobra dinheiro. Só para o leite
dos seus recém nascidos, a família imperial recebe o suficiente para sustentar dez famílias modestas por dez anos! Haja leite! E as
despesas com palácios? E as roupas importadas? A Monarquia é um sistema de governo muito caro, e com vergonha da nossa pobreza.
Tanto que nem quer saber dela. Então, por que não ficamos com a República - que eles dizem não prestar, mas e mais barata?! Porque a
República é o governo do povo! E o próprio povo cuidando do que é seu, da coisa pública. Mas não conseguiremos isso de graça. Se a
revolução abolicionista fez-se nos quilombos e fazendas, a revolução política precisa ser feita nas ruas; e em torno dos palácios do
Imperador e de seus Ministros. Só os homens do povo podem governar os povos! Só os homens do povo podem erguer um governo do
povo! E para isso, não podemos hesitar. Se o Conde d'Eu tentar hesitar, que seja expulso do país...ou mesmo executado! O povo no
poder! Todo rigor contra a Monarquia parasita! Isso é a República!

6- O sentido do golpe
A república brasileira surgiu de um golpe militar que articulou entre si as aspirações de três grupos sociais. A elite civil
formada pelos oligarcas do café de São Paulo; a elite militar, que contou a adesão da alta cúpula do exército e os setores médios
urbanos. A monarquia estava desgastada sem apoio nas suas bases, perdera o apoio do exército, da Igreja, do setor economicamente
mais dinâmico da sociedade (cafeicultores de São Paulo) e criticada pelas populações urbanas. Ademais estava profundamente abalada
pelo conjunto das transformações que marcava o final do século XIX no país e para as quais não conseguia estabelecer respostas. Desta
forma, pode-se afirmar que a república representou a afirmação política das elites agrárias nacionais, em conformidade como o
exército, que garantiu a vitória do movimento através de uma conspiração golpista.

7- A memória do republicanismo no Brasil


O movimento republicano no Brasil contou com uma sólida alegoria em torno da imagem dos militares e da presença destes
no movimento republicano. Articuladores do golpe, passaram para a maioria dos livros didáticos com uma mescla de exaltação e
“garbo cívico”. Esta exaltação, entretanto, não foi gratuita. Os militares foram vistos como esteio da nação, tendo sua imagem associada
a um ideal épico de liberdade, inerente a própria movimento republicano. Esta visão foi reforçada pelos livros didáticos, pelas festas
cívicas (feriado do 15 de novembro, por exemplo) estátuas públicas, ruas (Belém por exemplo é a única cidade em que Deodoro é um
“generalíssimo”) e monumentos, que consolidaram esta visão no imaginário social brasileiro.
Além da figura de Deodoro, recuperou-se a imagem de Tiradentes e acabou por consolidar um outro militar nacional, Duque
de Caxias. O caso de Tiradentes é singular. Sabe-se que na época da Inconfidência Mineira Tiradentes foi visto e interpretado como o
traidor do monarca e por isso merecedor da condenação e esquartejamento. A república brasileira retirou Tiradentes do ostracismo e
elevou a categoria de herói nacional em face da carência de um herói para o movimento.
No debate em torno do imaginário republicano uma outra imagem foi apresentada ao país: a figura feminina da república:
Marianne: “pelos republicanos era apresenta como deusa e mulher ideal, condutora do povo, figura maternal; pelos monarquistas transformava-se
em imagem ameaçadora, associada à desordem, pouco respeitável, frívola, ‘uma mulher de vida airosa..’, de acordo coma fala de um conservador”
(Martins, p. 13).
Marianne foi o símbolo do republicanismo francês e representava a alegoria feminina da república em clara oposição à figura
masculina do monarca. Sua alegoria povoou o imaginário republicano nacional e foi um dos símbolos mais recorridos e utilizados
pelos republicanos nacionais. (veja mais sobre Marianne no texto complementar).
A noção de que povo assistiu bestializado ao nascimento da república não explica de um todo a leitura da sociedade sobre o
movimento republicano. Percebe-se que esta imagem de bestializados foi construída a partir dos conceitos de cidadão e cidadania que
os homens letrados tinha na época, envenenada pelos valores da sociedade européia. Os republicanos procurarem ver no homem
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brasileiro a figura do cidadão francês (um ativo cidadão provido de cidadania), ou dizendo de outra forma, desejavam transformar o
“súdito da coroa no cidadão republicano”.
Explicando melhor, queremos aqui discordar da tese corrente de que a população brasileira assistira “bestializada” o
proclamar do movimento republicano no país, e convido você a aprofundar esta importante análise com a leitura de nosso texto
complementar.

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