Você está na página 1de 2

4

CONTEÚDO

PROFº: NETO
07 Estrutura Política na 1ª República
A Certeza de Vencer KL 280408
A Revolta de Canudos religioso. Enquanto nas regiões imigrantistas a liberdade de impulsionou para uma vida de andanças pelo sertão
A Proclamação da República, em 1889, justificada culto integrava ortodoxos, judeus, budistas, xintoístas, hindus, cearense.
Fale conosco www.portalimpacto.com.br

por todo um discurso recheado de justiça, direitos, muçulmanos e outros demais pequenos credos, no interior do O fato é que em 1874 parece ter iniciado suas
igualdade, não modificou a condição de vida da maioria Brasil a religiosidade católica permaneceu firme e forte nas pregações nas zonas áridas da Bahia e de Sergipe, e
da população brasileira, especialmente os residentes nas crenças e esperanças dos sertanejos. A região nordeste é um desde logo já era seguido por centenas de pessoas. O
áreas rurais, que constituíam na ocasião a maioria da ótimo exemplo de como essas manifestações cristãs Conselheiro parece ter iniciado sua “missão” através da
sociedade. O latifúndio ocupava a maioria das terras populares eram ativas e presentes no cotidiano de milhares construção de pequenas capelas, igrejinhas, muros de
agricultáveis e que nem sempre eram cultivadas, a de homens e mulheres. Assolada permanentemente por cemitérios e pequenos tanques d’água. É um benemérito
predominância era de propriedade improdutivas, penosos surtos de secas, a região interiorana caracteriza-se, dos sertões que rapidamente passa a pregar as escrituras
pertencentes a oligarquias poderosas e muito importantes até hoje, pela condição de precariedade em que vivem os bíblicas e arrastar uma multidão de pessoas que passam
para o novo regime. Sob a autoridade do coronel, habitantes. Uma região castigada pela pobreza e por histórias a segui-lo.
submetida à manipulação, havia uma população de vida inseridas na miséria, na fome, no descaso das O importante é que a população o via como uma
miserável, submissa, explorada até as últimas autoridades públicas, na marginalização social. espécie de “santo”, cuja missão era anunciar os tempos
conseqüências. Esse panorama não era diferente no fim do século XIX. futuros. Nas pregações do Conselheiro sempre estavam
A legislação existentes no Império, e reforçada com Entre 1877 e 1879, o sertão nordestino foi castigado por uma presentes premolições catastróficas em relação ao
a República, não garantia as mínimas condições de vida: das mais difíceis secas dos século XIX, que arrastou para as mundo; a seca seria um sinal divino para anunciar o juízo
salário, comida, remédios, justiça, eram coisas que valas secas da miséria milhares de pessoas que perderam final. Portanto, era tempo de purificação, de oração, de
existiam apenas para favorecer os ricos fazendeiros. Em plantações, os poucos animais que ainda restavam e até a resignação para a espera do Messias.
casos de litígios pela posse da terra, invariavelmente, a lei própria dignidade da vida. Aqui está o núcleo do que chamamos Messianismo.
ficava ao lado dos poderosos. A República, além de não Essa “grande seca”, como foi chamada pelos O fim do século estava se aproximando e com ele o dia
resolver as menores questões sociais, ainda reforçou o sertanejos, levou muitos sertanejos a migrarem para a em que o Messias, Jesus Cristo, iria descer à terra para o
poder das oligarquias quando estabeleceu o voto aberto, região sudeste, aonde a lavoura cafeeira se expandia e último julgamento. Essa crença no retorno do messias era
na Carta de 1891. criava expectativas de dias melhores para os nordestinos apropriada pela população como uma verdade infalível,
Isolados, esquecidos, desprezados pelas grandes que lá chegavam. Porém, os sertanejos pobres que inquestionável. E o arauto, o profeta escolhido por Deus
autoridades da República a massa rural muitas vezes permaneceram em sua terra natal passaram a fortalecer para tão importante informação era justamente Antônio
rebelou-se e pela força das armas resistiu: na segunda ainda mais suas esperanças com base na extrema Conselheiro. O fim do século não era coincidência para os
metade do século. XIX, no Império e na República, religiosidade cristã que passou a se expandir pela região fiéis que associavam o término do século XIX com o fim
bandos de cangaceiros, formados originalmente por através de diversas pregações de profetas que do mundo. Essa concepção chamamos de Milenarismo,
excluídos da terra, assaltavam e pilhavam propriedades e antecipavam a destruição do mundo e seu renascimento. que fortaleceu ainda mais a religiosidade popular no
até cidades no Nordeste, por outro lado, e não poucas nordeste.
vezes, milhares de miseráveis reuniam-se em volta de Cabe aqui uma outra idéia: por que um beato e não
beatos, criando movimentos religiosos e ameaçando as um padre poderia der o profeta dos sertões? Os beatos
estruturas formais de dominação social. eram vistos como pessoas abençoadas e bem mais
O flagelo da seca, que matou milhares de pessoas presentes no dia-a-dia das camadas pobres do que os
entre 1877 e 1879, constitui outro componente dramático clérigos. A Igreja Católica não possuía uma presença
no quadro de sofrimentos da região: queda da produção significativa na vida desses sertanejos, mas missões
agrícola, perda do gado, estagnação das ainda esporádicas lembravam-nos que existia uma Igreja. Esta
rudimentares formas de exploração econômica, aumento ausência levou a proliferação de vários profetas que
da exploração das massa rurais. Não são muitas as passaram a pregar a doutrina cristã sem a autorização da
alternativas- a morte determinada pela seca ou a busca Igreja, passando mesmo a serem combatidos pelos
de melhores condições em outros lugares. clérigos.
No mesmo momento em que esse quadro terrível se
passa no Nordeste, duas outras regiões explodiam em Canudos à oeste. Repare no tipo de moradia do arraial de 2.2 - O Imaginário do “Belo Monte”: os conselheiristas
riquezas: o sudeste com as vastas plantações de café e a Canudos. Casas precárias não escondiam a situação de e a idéia do paraíso.
Amazônia, onde as imensas plantações nativas de extrema miséria dos habitantes da cidade. In: ALMEIDA, Mas, o que queria o profeta e seus seguidores? No
seringueiras faziam surgir um novo "Eldorado". Cícero Antônio F. de. Canudos: Imagens da Guerra. Rio de imaginário religioso das pregações do Conselheiro o
1- “O SERTÃO VAI VIRAR MAR E O MAR VAI VIRAR Janeiro : Lacerda Editora/ Museu da República, 1997. objetivo das andanças pelo sertão era atingir uma terra de
SERTÃO”: O MESSIANISMO EM CANUDOS Um rico imaginário bíblico lido pelos olhos de onde “corria um rio de leite e eram de cuzcuz os seus
“A bons seis meses que por todo o centro desta Província religiosos que não eram ligados à Igreja Católica passou barrancos”, segundo o relato de um missionário que
da Bahia chegado; (diz ele), da do Ceará infesta um a compor o dia-a-dia do sertão da Bahia, Pernambuco, visitou o arraial pouco antes de sua destruição.
aventureiro santarrão que se apelida por Antônio dos Sergipe e Ceará. A isso muito se deveu a peregrinação O profeta e seus seguidores buscavam atingir uma
Mares: o que, à vista dos aparentes e mentirosos dos chamados “beatos”, espécie de profetas do sertão terra bastante parecida com o paraíso que Deus revelara
milagres que dizem ter ele feito tem dado lugar a que o que, acreditava a população, eram homens santos a Moisés na ocasião da fuga dos hebreus do Egito. Ou
povo o trate por S. Antônio dos Mares.” mandados pelos céus, profetas que tinham o poder de seja, baseado nas escrituras bíblicas, Antônio pregava a
(O Rabudo – Estância, 22 de novembro de 1874. Primeira notícia prever o futuro, uma esperança da ressurreição de um existência de uma nova Canaã no sertão, local aonde
publicada em jornal sobre Antônio Conselheiro) novo sertão. A saída para a miséria do povo passou a estaria o paraíso para os puros e seguidores fiéis da
Desde o início da colonização portuguesa na estar nas esperanças geradas das pregações desses religião e das leis divinas. Lá, os conselheiristas deveriam
América foi dada uma grande importância às práticas sacerdotes leigos. construir uma cidade que chamaria-se “Belo Monte”.
religiosas no Novo Mundo, até porque a Igreja estava Portanto, as peregrinações tinham uma finalidade
unida ao Estado na conquista e colonização do território. 2.1 - As pregações de Antônio dos Mares: o que era erguer uma comunidade em algum lugar do
Dessa forma, o cristianismo passou a se constituir em messianismo/milenarismo do “Conselheiro” no sertão interior nordestino. O Belo Monte estava longe de ser
cultura erudita no mundo colonial e imperial, uma religião nordestino. pura imaginação da cabeça do profeta e de seus
oficial que o Estado sempre protegei e incentivou. Um dos beatos mais famosos que destacaram-se no seguidores, era um lugar absolutamente real, bastava
A proclamação da República em 1889, modificou cenário seco do nordeste foi Antônio Vicente Mendes encontrá-lo.
bastante essa realidade. Preocupados com a chegada dos Maciel, conhecido por Antônio dos Mares, Antônio Nos primeiros dias de julho de 1893, Antônio
estrangeiros – muitos não eram católicos – o governo Conselheiro, Bom Jesus Conselheiro, Santo Antônio Conselheiro e seu séquito de fiéis fixaram moradia em
decretou por afirmar um regime leigo, ou seja, um Estado que Aparecido, Santo Conselheiro e outros demais nomes.
VESTIBULAR – 2009

uma região chamada Canudos, que era uma fazenda


passava a se desatrelar da Igreja Católica, quebrando, assim, Pelo sertão baiano, na região de Canudos, era mais abandonada em uma área extremamente árida localizada
uma relação de séculos de união através do padroado real. conhecido como Antônio Conselheiro. às margens de um rio quase seco, o Vaza-Barris, na
Entretanto, dizer que o Estado separou-se da Igreja Sua história hoje é bem documentada. Nascido na freguesia do Cumbe, Bahia. Lá a comunidade começou a
institucionalmente não quer dizer que a população se apartou cidade de Quixeramobim (Ceará) em 1830, Antônio era erguer uma cidade enorme que chegou a abrigar uma
completamente da religiosidade cristã e passou a professar filho de comerciantes. Casado por duas vezes, Antônio população de 25 mil habitantes, o que tornou o arraial a
outros credos. A cultura erudita, ao longo de um processo de teve uma grande decepção amorosa que o fez segunda maior cidade de toda a Bahia, inferior somente à
séculos de relações com outras religiosidades, constituiu-se desequilibrar sua vida familiar e, provavelmente, o capital, Salvador
em cultura popular, profundamente marcada pelo sincretismo
FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!!
Fale conosco www.portalimpacto.com.br

“As casas acumulam-se em absoluta desordem, uma outra grave acusação: Canudos poderia ser um conselheiristas que por três vezes venceram as tropas
completamente isoladas, algumas entre quatro vielas reduto monarquista. legalistas, afirmando fama de independentes no sertão.
estreitas, unidas outras, com as testadas voltadas para todos SOBRE A REPÚBLICA Derrubar Antônio Conselheiro e seus seguidores
os pontos, cumeeiras orientadas em todos os sentidos, num “É evidente que a República permanece sobre um princípio passou a ser uma questão de honra para os coronéis, o
baralhamento indescritível, como se tudo fosse construído falso e dele não se pode tirar conseqüência legítima: governo baiano e o governo estadual. Vejamos uma
rapidamente, vertiginosamente, febrilmente(...)”. sustentar o contrário seria absurdo, espantoso e síntese das três principais batalhas:
(Euclides da Cunha. Os sertões) singularíssimo; porque, ainda que ela trouxesse o bem para o  Primeira Expedição: organizada pelo governo da
No centro do arraial estava a Igreja Central e também país, por si é má, porque vai de encontro à vontade d Deus, Bahia, essa expedição foi liderada pelo Tenente Manuel
moradia do Conselheiro, a Igreja do Bom Jesus, e ao redor com manifesta de sua divina lei. Como podem conciliar-se a da Silva Pires Ferreira. Com uma força de
dela se espalhavam centenas de pequenas moradias feitas lei divina e as humanas, tirando o direito de quem tem para aproximadamente 120 homens, a campanha foi
de barro e taipa e cobertas com palha. Alguns cronistas que dar a quem não tem? Quem não sabe que o digno príncipe, o surpreendida pelos conselheiristas no povoado de Uauá,
visitaram o arraial tiveram péssimas impressões de sua senhor Pedro 3o, tem poder legitimamente constituído por
onde a jagunçada colocou os soldados para correr em
organização (ver quadro), entendendo que não existia Deus para governar o Brasil? “
(ANTÔNIO CONSELHEIRO. “Prédicas”) meio à vivas ao “Bom Jesus Conselheiro”;
qualquer organização; era a visão do caos completo.  Segunda Expedição: fruto da associação entre os
Lá a comunidade passou a sobreviver através de Essa idéia caiu como uma bomba entre os círculos
governos da Bahia, Sergipe e Alagoas, essa campanha
uma pequena plantação de mandioca, da criação de políticos da Bahia e do próprio Rio de Janeiro, pois, não
comportou aproximadamente 625 homens comandados
animais como cabras e bodes e a tecer cestos de palha devemos esquecer que o regime republicano tinha sido
pelo major Febrônio de Brito. Mais uma vez a tropa é
que eram negociados com as vilas e povoados vizinhos. proclamado recentemente, e o Conselheiro e seus
surpreendida próximo ao arraial, em um local chamado
Quanto mais tempo o Belo Monte se sustentava “fanáticos” seriam agentes de forças políticas e militares
Tabolheirinhos de Canudos depois da Lagoa do Sangue,
mais atraía fiéis para o arraial. Começaram a chegar à favoráveis à restauração da monarquia e lutadores da
sofrendo sua segunda derrota;
cidade não somente pessoas pobres, mas também destruição da república.
 Terceira Expedição: os remanescentes da segunda
comerciantes começaram a aderir ao carisma de Antônio Esses argumentos tinham bases fundadas nas próprias
expedição são fortalecidos com mais soldados
Conselheiro e até cangaceiros passaram a integrar a palavras do beato Conselheiro que, em alguns
provenientes das tropas federais sob a liderança do
comunidade de Canudos, o que levou a uma maior pronunciamentos públicos e em seus escritos sobre a religião
temível republicano o Cel. Antônio Moreira Cézar,
complexidade das relações sociais e de trabalho dentro e a política dos sertões (as Prédicas) criticava
conhecido por “corta cabeças”. Abrigou 1.300 homens,
do arraial. Essa grande afluência de sertanejos começou veementemente a República, associando-a ao anticristo, ou
terceira derrota, com a morte do “corta-cabeças”
a despertar problemas junto aos coronéis da região, o que seja, ao demônio e à maldade (ver quadro ao lado).
decapitado pelos conselheiristas. A imprensa carioca
representou o fator central do início da Guerra de Para o Conselheiro, a República seria demoníaca
noticia Canudos como um reduto monarquista;
Canudos. por ter rompido os santos laços de fidelidade à Igreja
 Quarta Expedição: o governo federal reuniu a maior
“Para que V. Sa. Saiba que é Antônio Conselheiro, basta
Católica, separando-se dela e reduzindo seu papel social.
tropa proveniente de vários estados do país, inclusive do
dizer que é acompanhado por centenas de pessoas, que Embora não fosse clérigo, “Antônio dos Mares” combatia
Pará, chegando ao numeroso contigente de 10.000
ouvem-no e cumprem suas ordens de preferência às do a separação entre Igreja e Estado e principalmente as
homens liderados pelo Comandante-em-chefe Arthur
vigário desta paróquia (Itapicuru). O fanatismo não tem “novidades” criadas pelos republicanos, como por
Oscar de Andrade Guimarães. Armados com
limites, assim é que, sem medo de erro e firmado em fatos, exemplo o casamento civil. Como poderia um sacramento
instrumentos bélicos potentes de grande destruição, como
posso afirmar que adoram-no como se fosse um Deus vivo. religioso ser ministrado por juizes? Aos olhos do
os canhões alemães Krupp, o Exército arrasa o arraial
Nos dias dos sermões e terço, o ajuntamento sobre a mil Conselheiro e da religiosidade popular dos sertanejos,
completamente, levando a população masculina quase a
pessoas. (...) Cumpre dizer que Antônio Conselheiro, que isso era inadmissível.
veste uma camisola de pano azul, com barbas e cabelos extinção. O Conselheiro faleceu de problemas intestinais
SOBRE O CASAMENTO CIVIL
longos, é malcriado, caprichoso e soberbo.” antes do término do conflito e teve seu corpo exumado
“A religião santifica tudo e não destrói coisa alguma, exceto o
(Correspondência do Chefe de Polícia do Ceará ao chefe de polícia da das ruínas da Igreja do Bom Jesus na praça central da
pecado. Daqui se vê que o casamento civil ocasiona a
Bahia. IN: Aristides A. MILTON. “A Campanha de Canudos”. Revista
nulidade do casamento, conforme manda a santa madre cidade. No fim da guerra, uma chacina. Degolamentos em
Trismestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de grande número (a “gravata vermelha”). A opinião nacional
Janeiro, Imprensa Nacional, 1902, p.16) Igreja de Roma, contra a disposição mais clara do seu
ensino“ (ANTÔNIO CONSELHEIRO. “Prédicas”) que aprovava a luta com os supostos monarquistas
CANUDOS E O REPUBLICANISMO NOS SERTÕES: A condenou a mortandade dos sertanejos.
QUESTÃO DA CIDADANIA Por outro lado, o beato criticou publicamente o
regime republicano por associar ao novo regime a culpa A guerra demonstrou a existência de dois “brasis”
O caso de Canudos também envolve uma questão dentro do Brasil, pois o abismo que existia entre a cidade
muito importante, a religiosidade em confronto com a pelo aumento da miséria material dos sertanejos. Há u
fato que ilustra bem isso: em 1893, na vila do Soure, e o campo foi ressaltada pelas imagens de pobreza e
estrutura de poder local dos coronéis. Na realidade, a miséria no solo seco do interior da Bahia. Os canudenses,
comunidade agreste do Belo Monte começou a despertar nordste baiano, Conselheiro e seus seguidores
despedaçaram tábuas municipais onde figuravam os na realidade, são parte de uma história em que a
a preocupação dos mandatários locais, os coronéis, República não conseguiu transformar a realidade de
principalmente quando o arraial começa a tomar impostos estabelecidos pelas autoridades locais. O ato de
rebeldia foi também praticado em outras localidades. dificuldades sociais em que estavam inseridas milhares
proporções de grande aglomeração urbana. de pessoas pobres do interior do país.
Os impostos, portanto, eram as culpas de uma
3.1 - Canudos como “desordem” para os coronéis República que ao invés de trazer a bonança trouxe
baianos somente mais e mais miséria para o povo. Daí em diante,
O crescimento de Canudos passou a ser vista pelos o profeta e seus asseclas passaram a ser associados
coronéis como o crescimento de um a grande desordem pelas autoridades públicas e militares como desordeiros e
dentro do sertão baiano; um ajuntamento que não está bandidos.
subordinado às leis, às autoridades públicas e até mesmo A critica à República foi rapidamente apreendida
não se subordina ao poder republicano. Para os pelos políticos locais e estaduais como uma defesa
latifundiários, o próprio Antônio Conselheiro era um monarquista. Mas, será que o Conselheiro era mesmo
criminoso que já habia sido preso anteriormente acusado monarquista? Certamente não! Suas falas estão
do assassinato de sua própria mãe, em outras palavras, marcadas por uma profunda religiosidade e não por
ao invés de “santo”, o Conselheiro seria um bandido a disputas políticas. O discurso monarquista foi muito mais Foto do cadáver exumado de Antônio Conselheiro, tirada por Flávio de
insuflar os ingênuos sertanejos à revolta, à desordem uma estratégia utilizada pelos poderosos da região para Barros, quatorze dias após a morte do líder de Canudos. In: Op. cit.
contra os poderosos da região (ver quadro ao lado). incentivarem a destruição do arraial entre 1896 e 1897. A falta de cidadania é um elemento central na
O crescimento populacional do arraial de Canudos compreensão da história de Canudos. A marginalização
se devia essencialmente à migração de trabalhadores das A GUERRA DE CANUDOS E O FIM DE UM SONHO...
social e material levou essas pessoas a fortalecer o único
fazendas para o Belo Monte, o que passou a levar os O crescimento de Canudos como um reduto
significado certo para eles, a religiosidade. A visão mítica
latifundiários a criticar o Conselheiro. Era um agitador, um monarquista caiu como uma bomba na capital da
e cristã serviu como um fator de solidariedade ao mesmo
“malcriado”, um “soberbo”, por achar-se mais poderoso república. A imprensa ainda ajudou a colocar mais “lenha
tempo que contribuía para a resignação diante do destino
que o coronelismo baiano. na fogueira” insuflando a opinião pública a acreditar que o
das secas e da miséria. O Conselheiro modificou essa
Nesse sentido é que começou a se formar um Conselheiro fosse um agente perigoso que estaria pronto
forma de pensar ao vislumbrar uma terra prometida sem
ambiente de desordem em relação ao ajuntamento a derrubar o novo regime. Os “jacobinos” passaram a
fome e sem miséria.
humano de Canudos, o que levou os coronéis baianos a pressionar o presidente Prudente de Morais a tomar
Quantos milhares de pessoas ainda estão na mesma
comunicarem às autoridades públicas a alta alguma providência para dispersar a população da região
situação? Lutas e lutas pela terra ainda nos fazem ver Canudos
“periculosidade” a que estava exposta a região sertaneja. do Vaza-Barris. Era o início de uma das mais sangrentas
VESTIBULAR – 2009

como um marco na história brasileira do fim do século XIX...


Passou a ser prioridade para os coronéis dispersar os páginas da história da Bahia...
fiéis conselheiristas de sua cidade para evitar novos O governo começou a organizar uma série de BIBLIOGRAFIA COSULTADA
prejuízos para a lavoura e para o poder local. campanhas militares que tinham como meta destruir a CALASANS, José. “Textos”. In: Dossiê Canudos. Revista da USP
no. 20, Dez/Jan/fev 1993-94, São Paulo.
cidade do Belo Monte e levar a população canudense a QUEIRÓZ, Maria Isaura Pereira de. “D. Sebastião no Brasil”. In:
Canudos como “movimento” anti-republicano:
retornar às suas terras. Entretanto, as campanhas Dossiê Canudos. Revista da USP no. 20, Dez/Jan/fev 1993-94, São
Entretanto as disputas em torno da região de Paulo.
mostraram-se frustradas frente à tenaz resistência dos ALMEIDA, Cícero Antônio F. de. Canudos: Imagens da Guerra. Rio
Canudos entre os coronéis e o Conselheiro passou por de Janeiro : Lacerda Editora/ Museu da República, 1997.

FAÇO IMPACTO – A CERTEZA DE VENCER!!!

Você também pode gostar