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Matrícula: 8082-9 1º ano

A Química Forense por trás das câmeras

No último episódio de um seriado policial, Greg Sanders e Sara Sidle, juntamente


com o resto da equipe, evidenciaram concentrações elevadas de metais nas mãos de um
suspeito e segundo as análises, determinaram a origem e o fabricante da munição
disparada, pista essencial para desvendar o roubo das drogas.

Freqüentemente mostrada na televisão e no cinema, a Ciência Forense tem


fascinado bastante a sociedade. Ela é a junção de um espectro amplo e variado de
matérias, entre elas a Química, a Física e a Biologia, aplicada pelos peritos criminais em
suas investigações.

A Química Forense é um ramo de destaque da Ciência Forense, pois é ela que


permite, com o entrelaçamento de diversas técnicas, aos investigadores constatarem e
descobrirem evidências de disparos, porte e uso de entorpecentes ou materiais
controlados, explosões e falsificações. Tudo através de uma tecnologia sofisticada, como o
cromatógrafo líquido de alta eficiência (HPLC) acoplado a um espectrômetro de massa
com a tecnologia triplo-quadrupólo.

Uma das tarefas mais rotineiras de um perito criminal é o exame residuográfico,


teste usado para a constatação de disparos. Como os projéteis e a carga de
espoletamento freqüentemente têm chumbo em sua composição, é feito o teste
colorimétrico. Primeiramente, um esparadrapo coleta em áreas de maior incidência aos
gases e partículas residuais do disparo no suspeito. Depois, aplica-se rodizonato de sódio,
cuja fórmula está apresentada abaixo, associado a uma solução tamponada com ácido
tartárico e bitartarato de sódio no esparadrapo. Na presença de chumbo, ele fica com uma
coloração azul-violeta ou rósea intensa.

Rodizonato de sódio (C6O6Na2)


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Como o teste anterior tem chances de erro consideráveis, pode ser utilizado um
espectrômetro de massa por plasma, que faz um exame dos resíduos da carga de
espoletamento, identificando traços de chumbo (Pb), antimônio(Sb) e bário(Ba). A partir
deste método, torna-se possível o rastreamento do fabricante da munição. Foi assim que
os peritos da série fizeram para resolver o problema.

Agora, se os agentes quisessem detectar a presença de materiais voláteis ou


substâncias de uso controlado como o ácido nítrico (HNO3) e solventes, teriam que apelar
para a cromatografia de coluna gasosa. A cromatografia de coluna é uma técnica poderosa
na separação de misturas, fornecendo resultados quantitativos e qualitativos de maneira
rápida através da comparação do tempo de eluição das substâncias da mistura a ser
analisada com de amostras padrão. O tempo de eluição é o tempo que a substância leva
para percorrer o tubo do cromatógrafo, impregnado com uma substância que possui
alguma afinidade com os compostos.

Na cromatografia de coluna gasosa, temos o particionamento da mistura gasosa,


previamente vaporizada, entre uma fase móvel gasosa inerte ao composto, hélio ou
nitrogênio, e uma fase estacionária líquida, que reveste um tubo de sílica, Teflon®, aço ou
cobre de 3,0mm de espessura que retarda o tempo de passagem das substâncias de
maneira não uniforme. Isso permite uma análise com precisão na ordem de picogramas.
Esta precisão só é alcançada com a ajuda de uma microsseringa controlada
eletronicamente.

Quando a amostra suspeita não for estável em sua forma gasosa, pode-se
empregar a cromatografia líquida de alta eficiência. Ela funciona com o mesmo princípio da
cromatografia gasosa, entretanto com uma fase estacionária sólida e uma móvel líquida.

Bebidas falsificadas são avaliadas com este tipo de cromatografia. Elas são um
caso usual no dia-a-dia do cientista forense. O tipo de falsificação mais comum é a diluição
da bebia original, levando em uma identificação de congêneres (substâncias que dão o
gosto e sabor da bebia) semelhantes, porém em menor concentração no gráfico da
cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC).

No caso de suspeita de praguicidas, remédios e restos de explosivos, a mesma


técnica de cromatografia é feita, porém em um aparelho mais sofisticado: o HPLC
acoplado a um espectrômetro de massa triplo-quadrupólo, citado anteriormente. Ele
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consegue limitar a faixa do peso molecular a ser analisado, visto que pode ser encontrada
uma grande variedade de compostos em uma única amostra.

Existe ainda mais uma técnica de cromatografia que é empregada na identificação


de drogas: a planar de camada delgada (CCD). O aparato utiliza uma fase estacionária
sólida de sílica gel, celulose ou alumina, com espessura de 0,25 ou 1,0mm, depositada em
uma placa de vidro impregnado com sulfato de cálcio, que melhora a aderência do material
depositado. A fase móvel líquida fica contida em um recipiente de vidro fechado para
saturar o ambiente junto com a placa que é posicionada em pé, dentro do recipiente em
contato com o líquido. A amostra é aplicada na placa a 1,0cm do nível da fase móvel. A
partição ocorre em virtude da diferença de afinidade delas com a fase sólida.

A identificação da cocaína ou anestésicos locais é feita por uma reação com


tiocianato de cobalto (Co(SCN)2 ), que deixa a solução azul (ocorre a precipitação da
cocaína) . Se a solução descorar com a adição de ácido clorídrico, pode-se descartar a
presença de cocaína na amostra. Caso o resultado dê positivo, continua-se a bateria de
testes, reagindo solução com hidróxido de potássio, dissolvendo-a em metanol e
clorofórmio e depois aplicando agentes reveladores, como o cloreto de platina e o reagente
de Dragendorff. Faz-se, então, a cromatografia de camada delgada.

Vale lembrar que, apesar de se poder analisar todo tipo de droga com uma
cromatografia gasosa, a construção do laudo por duas vias é mais confiável e elimina
qualquer tipo de erro laboratorial.

Os vestígios latentes de um crime só podem ser avaliados em um laboratório se são


identificados e coletados antes. Por isso, o luminol é um composto muito útil na
reconstituição do crime. Para que se torne quimio-luminescente em contato com a
hemoglobina do sangue, o luminol, cuja fórmula estrutural está apresentada abaixo,
precisa ser ativado antes, com uma solução oxidante, geralmente peróxido de hidrogênio
em meio básico. O luminol reage com o ânion hidróxido e depois com o oxigênio da
decomposição do peróxido, liberando gás nitrogênio. O resultado é um ácido em estado
excitado que volta para o estado fundamental emitindo um fóton.
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Luminol (C8H7N3O2)

Como se pôde perceber, a era dos crimes insolúveis já foi ultrapassada com o
avanço do ser humano na Química Analítica. No campo da ciência forense, ela ajuda na
formulação de laudos para a defesa e acusação.

Com a curiosidade de se saber como os peritos agem no mundo real saciada,


podemos retornar ao sofá e aproveitar mais um bom filme policial. Pensando em como
seria manusear aparelhos de alta tecnologia e, acima de tudo, contribuir para que a justiça
seja feita e a integridade social preservada.

Fontes consultadas:

http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc07/atual.pdf

http://www.quimica.ufpr.br/eduquim/eneq2008/resumos/R0453-1.pdf

http://www.colegioetapa.com.br/redacao_opq

http://www.peritocriminal.com.br/residuostrad.htm

http://www.polcientifica.sp.gov.br/sptc/instCrim.aspx

http://www.quimica.net/emiliano/artigos/2007fev_forense3.pdf

http://kmistry.info/2007/10/dragendorff-reagent/

http://pt.wikipedia.org/wiki/CSI:_Crime_Scene_Investigation

http://en.wikipedia.org/wiki/Forensic_science

http://en.wikipedia.org/wiki/Duquenois-Levine_reagent

http://en.wikipedia.org/wiki/Luminol

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