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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO
2ª VARA DO TRABALHO DE TANGARÁ DA SERRA
RTOrd 0000165-31.2017.5.23.0052
RECLAMANTE: ROZILENE ALVES DE SOUZA
RECLAMADO: 2. M. M. CONSTRUTORA E TRANSPORTES LTDA - ME,
TANGARA DA SERRA PREFEITURA MUNICIPAL

SENTENÇA

1) RELATÓRIO

Trata-se de Reclamação Trabalhista ajuizada por ROZILENE


ALVES DE SOUZA, no dia 02/03/2017, em face da empresa 2. M. M. CONSTRUTORA E
TRANSPORTES LTDA. e do MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA.

Alega a RECLAMANTE que foi admitida pela 1ª RECLAMADA no


dia 03/08/2015, para a função de serviços gerais, tendo prestado serviços de limpeza sempre
em favor do 2º RECLAMADO.Sustenta ter sido comunicada da dispensa sem justa causa no
dia 01/10/2016, cumprindo aviso prévio até o dia 01/11/2016, sem qualquer redução na
jornada. Postula basicamente o pagamento de verbas rescisórias e de uma indenização por
danos morais. Dá à causa o valor de R$ 60.000,00 (ID 8307f14).

Com a inicial, vieram os documentos de IDs 123e9fe até 0046cf2.

Devidamente notificada, o 2º RECLAMADO apresentou


contestação e cópia do contrato firmado com a 1ª RECLAMADA. Suscitou preliminar de
ilegitimidade passiva e, no mérito, pugnou pela improcedência da demanda (ID 9ddb761).

Foi remetida notificação postal à 2º RECLAMADA, no endereço


constante dos cadastros públicos, mas o AR retornou com a informação de mudança de
endereço (ID 0cf0598). Assim, foi expedido o pertinente edital para notificação da empresa (ID
bb96040), mas, ainda assim, esta quedou-se inerte e não apresentou qualquer manifestação
nos autos.

Na audiência inaugural, a RECLAMANTE inicialmente requereu a


decretação da revelia da 1ª RECLAMADA. Após, restou frustrada a conciliação e foi recebida a
contestação e o documento apresentado pelo 2º RECLAMADO, sobre os quais a

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RECLAMANTE se manifestou na própria audiência. Além disso, foi colhido o depoimento


pessoal da Autora e ouvida uma testemunha por ela apresentada (ID ed11037).

Sem mais provas, foi encerrada a instrução, permanecendo as


partes inconciliáveis.

2) FUNDAMENTAÇÃO

2.1) DO SANEAMENTO DO FEITO

No dia 16/04/2017, após o retorno negativo do AR relativo à


notificação postal da 1ª RECLAMADA, a RECLAMANTE apresentou petição, requerendo a
notificação por edital, alegando que não obteve informação sobre um endereço distinto. Tal
petição foi juntada sob o ID 7ed7c21.

Naquele mesmo dia, juntamente com a referida petição, a patrona


da RECLAMANTE também trouxe aos autos um suposto documento, sob o ID c1a3525. Ocorre
que tal documento, o qual possui 186 páginas, encontra-se completamente em branco,
constando apenas o ID e a assinatura digital da referida advogada.

Assim, considerando que a referida juntada, a qual acredito que


tenha ocorrido por problemas no sistema eletrônico da Justiça, tumultua a análise do feito,
notadamente quando se baixa o arquivo processual completo no formato ".pdf", promovo a
exclusão do referido documento, trazido sob o ID c1a3525.

2.2) DA INCOMPETÊNCIA MATERIAL

A RECLAMANTE postula a condenação dos RECLAMADOS ao


cumprimento da obrigação de efetuar o recolhimento das contribuições previdenciárias
incidentes sobre os salários pagos durante o contrato de trabalho.

Ocorre que a competência material da Justiça do Trabalho, em


relação às contribuições previdenciárias, possui natureza executiva e acessória, podendo esta
Especializada apenas executar as contribuições incidentes sobre as verbas objeto de sentenças
condenatórias ou de acordos homologados (art. 114, VIII, CF e Súmula Vinculante n. 53 do
STF).

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Ante o exposto, declaro, de ofício, a incompetência material


da Justiça do Trabalho para extinguir, sem resolução do mérito (art. 485, IV, CPC), o
pedido de condenação dos RECLAMADOS ao cumprimento da obrigação de efetuar
os recolhimentos das contribuições previdenciárias não recolhidas no curso do
contrato de trabalho.

Diante da alegação de que não havia recolhimento das


contribuições previdenciárias, e tendo em vista que os holerites juntados pela Autora
demonstram o respectivo desconto, expeça-se ofício à Polícia Federal para apurar
eventual prática do crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A, CP).

2.3) DA ILEGITIMIDADE PASSIVA

O 2º RECLAMADO suscita preliminar de ilegitimidade passiva.

Alega que apenas contratou a 1ª RECLAMADA para prestar


serviços, nos moldes da Lei n. 8.666/93, não tendo qualquer relação jurídica com a
RECLAMANTE. Sustenta que o contrato administrativo isenta o MUNICÍPIO das obrigações
trabalhistas dos empregados da contratada. Alega, ainda, que o interesse individual não pode
ser sobrepor ao interesse público para onerar o erário e que eventual condenação afrontaria o
princípio da legalidade.

Passo à análise.

A análise dos argumentos apresentados pelo 2º RECLAMADO


revela que todos se relacionam-se ao mérito da demanda. A apreciação acerca da presença, ou
ausência, de responsabilidade do MUNICÍPIO constitui questão de mérito e todos os
argumentos serão analisados no momento oportuno.

A legitimidade passiva, assim como as demais condições da ação,


deve ser examinada de forma abstrata, à luz das assertivas trazidas pelo Autor na petição
inicial, por aplicação da teoria da asserção. Tendo o Autor apresentado causa de pedir suficiente
para cada uma das pessoas inseridas no polo passivo, haverá pertinência subjetiva para a
causa, não havendo que se falar em ilegitimidade ad causam.

No caso em apreço, a RECLAMANTE afirmou claramente na


petição inicial que sempre prestou serviços em favor do 2º RECLAMADO. Logo, à luz da
referida teoria, resta clara a pertinência subjetiva do MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA.

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Rejeito a preliminar.

2.4) DA REVELIA DA 1ª RECLAMADA

Na audiência inaugural, diante da ausência da 1ª RECLAMADA, a


RECLAMANTE requereu a decretação da revelia, com a consequente aplicação da pena de
confissão ficta.

Passo à análise,

Inicialmente, foi realizada tentativa de notificação da empresa via


postal, no endereço indicado por ela no contrato administrativo e que também consta do sítio
eletrônico da Receita Federal (IDs 374b599, bdc92e8 e 9ddb761, pag. 19).

Diante do retorno negativo do AR (ID 0cf0598), com a indicação de


mudança de endereço, foi realizada a notificação por edital, nos termos do art. 841, §1º, da
CLT (ID bb96040), constando expressamente a advertência no sentido de que "a ausência
injustificada implicará revelia e confissão quanto à matéria de fato exposta na ação".

Contudo, mesmo assim, a 1ª RECLAMADA não compareceu à


audiência inaugural, não tendo também apresentado qualquer manifestação nos autos.

Ante o exposto, e considerando os termos do art. 844 da CLT,


decreto a revelia da 1ª RECLAMADA, aplicando-lhe a pena de confissão quanto à
matéria de fato apresentada na petição inicial.

Importante esclarecer que a confissão quanto à matéria de fato não


impede a formação do convencimento do magistrado em relação às questões de direito e
tampouco impede a devida apreciação dos elementos de prova constantes dos autos.

Por fim, importante destacar que, salvo quanto ao pedido de


responsabilidade subsidiária, a defesa genérica apresentada pelo 2º RECLAMADO não tem o
condão de afastar a confissão ficta ora reconhecida, pois, em relação às verbas pleiteadas, o
MUNICÍPIO basicamente se limitou a dizer que não manteve relação de emprego com a
RECLAMANTE e por esta razão não pode ser responsabilizado pelo pagamento.

2.5) DAS VERBAS RESCISÓRIAS

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A RECLAMANTE alega que foi admitida pela 1ª RECLAMADA no


dia 03/08/2015, para exercício da função de serviços gerais, tendo prestado serviços sempre
em favor do 2º RECLAMADO, mais especificamente fazendo a limpeza da Escola Municipal
Professora Jucileide Prachedes, na zona rural do Município.

Segue a RECLAMANTE narrando que, no dia 01/10/2016, recebeu


aviso prévio verbal, tendo prestado serviços por mais 30 dias, até o dia 01/11/2016. Afirma que
não houve qualquer redução de jornada durante o suposto aviso prévio trabalhado. Sustenta
que, ao final do aviso prévio, a 1ª RECLAMADA simplesmente desapareceu, não pagando as
verbas rescisórias pertinentes.

A RECLAMANTE ainda informa que, em janeiro de 2016, durante


as férias escolares, foi orientada pela 1ª RECLAMADA a ficar em casa, retornando ao trabalho
apenas no 1º dia útil de fevereiro. Alega que, ao retornar ao trabalho, foi obrigada a assinar um
holerite relativo ao mês de janeiro/2016, sem ter recebido qualquer remuneração relativa a tal
mês.

Passo à análise.

Diante da revelia e confissão da 1ª RECLAMADA, reputo


verdadeiras todas as alegações referidas acima, as quais foram trazidas pela Autora na petição
inicial.

Ressalte-se, novamente, que o 2º RECLAMADO, ao contestar o


pagamento das verbas rescisórias, limitou-se a sustentar a ausência de sua responsabilidade na
qualidade de tomador de serviços. Logo, sua contestação não tem o condão de afastar a
presunção de veracidade dos fatos narrados na petição inicial.

Assim, reputo que o contrato de trabalho foi extinto sem justa


causa, no dia 01/11/2016, último dia trabalhado, e que a obreira não recebeu as verbas
rescisórias pertinentes.

Ressalto, apenas, que, em relação ao aviso prévio dado


verbalmente no dia 01/10/2016, é evidente a sua nulidade, pois não houve a redução da carga
horária prevista no art. 488 da CLT, frustrando a finalidade do instituto, qual seja, a de
possibilitar ao empregado a busca por um novo posto de trabalho.

Reputo verdadeira, ainda, a alegação de que a obreira foi obrigada


a assinar o holerite de janeiro/2016 sem o pertinente recebimento da remuneração. O fato de
não ter havido prestação de serviços por causa das férias escolares não afasta o dever de

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pagamento da remuneração, pois a não prestação dos serviços se deu por opção do
empregador, que poderia perfeitamente ter realocado a obreira para outro local de trabalho ou
ter concedido suas férias durante o referido período.

Contudo, como visto, a 1ª RECLAMADA não adotou nenhuma


dessas opções. Simplesmente recomendou que a obreira ficasse em casa, não lhe pagou a
remuneração respectiva e ainda a obrigou a assinar um recibo de pagamento.

Ante o exposto, julgo procedentes os pedidos, para condenar


a 1ª RECLAMADA a pagar à RECLAMANTE as seguintes verbas:

a) remuneração integral relativa ao mês de janeiro de


2016;

b) remuneração integral relativa ao mês de outubro de


2016;

c) saldo de salário de 1 dia, relativo a novembro de


2016;

d) aviso prévio indenizado de 33 dias, com a


consequente projeção do contrato de trabalho para o
dia 04/12/2016;

e) férias integrais 2015-2016 + 1/3;

f) férias proporcionais (4/12) + 1/3; e

g) 13º salário proporcional (11/12).

Para fins de liquidação, a Contadoria deverá considerar uma


remuneração mensal no valor de R$ 1.061,56, composta por salário base (R$ 937,93),
gratificação de assiduidade (R$ 36,15) e salário família (R$ 87,48), conforme holerites relativos
ao ano de 2016 juntados aos autos.

2.6) DAS MULTAS DOS ARTS. 467 E 477 DA CLT

Considerando que, conforme já destacado, as verbas rescisórias


não foram pagas dentro do prazo legal de 10 dias estabelecido no art. 477, §6º, da CLT,
torna-se devida a multa prevista no §8º da mesma norma celetista.

No mesmo passo, tendo em vista que as verbas rescisórias


incontroversas não foram pagas na primeira audiência, torna-se devida também a multa

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prevista no art. 467 da CLT. Frise-se que, diante da confissão ficta aplicada à 1ª RECLAMADA,
todas as verbas rescisórias deferidas na presente Sentença são incontroversas.

Ante o exposto, julgo procedentes os pedidos para condenar


a 1ª RECLAMADA ao pagamento das multas previstas no art. 467 (a incidir sobre
todas as verbas deferidas no tópico anterior) e no art. 477, §8º, da CLT (no valor de
um salário contratual, R$ 937,93).

2.7) DO FGTS + 40%

A RECLAMANTE afirma que a 1ª RECLAMADA não recolheu o


FGTS durante o contrato de trabalho. Assim, postula o pagamento pertinente, inclusive da
multa de 40% prevista no art. 18, §1º, da Lei n. 8.036/90.

Diante da revelia e confissão da 1ª RECLAMADA, reputo


verdadeira a alegação de descumprimento das obrigações relativas ao FGTS, ressaltando que
não há, nos autos, qualquer prova em sentido contrário.

Ante o exposto, julgo procedente o pedido para condenar a


1ª RECLAMADA ao pagamento do FGTS não recolhido no curso do contrato de
trabalho (de 03/08/2015 a 04/12/2016), bem como da multa fundiária de 40%
sobre a totalidade dos depósitos.

Para fins de liquidação, a Contadoria deverá considerar a


remuneração trazida nos holerites juntados aos autos, utilizando, para os meses sem holerites,
a remuneração do mês mais próximo com holerite.

2.8) DO DANO MORAL

A RECLAMANTE postula o pagamento de uma indenização por


danos morais, no valor total de R$ 40.000,00, englobando danos compensatórios e danos
punitivos, sob os seguintes fundamentos: não recolhimento do FGTS e das contribuições
previdenciárias; não pagamento das verbas rescisórias; e não pagamento do salário de
janeiro/2016.

A obreira afirma que, por causa dos fatos relacionados ao mês de


janeiro e ao aviso prévio, passou a ser alvo de chacotas entre amigos e familiares. Alega, ainda,

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que, por causa do não pagamento do salário no mês de outubro de 2016, não conseguiu pagar
a mensalidade da faculdade, tendo que renegociar a dívida e passando constrangimento em seu
ambiente de estudo.

Passo à análise.

Em sua moderna acepção, o dano moral é entendido como aquele


dano que atinge direitos da personalidade do indivíduo, direitos estes que não possuem
conteúdo patrimonial. Assim, no contexto das relações de trabalho, há dano moral quando
violados, por exemplo, bem jurídicos como a honra, a privacidade, o nome ou a imagem do
trabalhador.

Havendo violação a tais bens jurídicos, surge para o agente


agressor o dever de reparação, nos termos do art. 5º, X, da Constituição Federal, normalmente
cumprido por meio do pagamento de indenização capaz de compensar o dano causado. Nesse
ponto, o art. 927 do Código Civil é claro ao dispor que aquele que, por ato ilícito, causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, fica obrigado a repará-lo.

Inicialmente, não vislumbro danos morais nos casos de não


recolhimento do FGTS e do INSS. O FGTS sequer fica disponível ao trabalhador no curso do
contrato de trabalho. Além disso, o seu não recolhimento causa apenas prejuízos materiais ao
obreiro, não violando seu patrimônio imaterial. Quanto às contribuições previdenciárias,
constituem crédito da União, e não do trabalhador, de modo que nem mesmo o seu patrimônio
material é atingido.

Quanto ao inadimplemento das verbas rescisórias, entendo que, em


regra, não há que se falar em danos morais em tal situação. O mero inadimplemento, por si só,
não é capaz de atingir os direitos da personalidade do trabalhador.

Contudo, em certos casos, o inadimplemento das verbas rescisórias


pode atingir, ainda que de forma indireta, o patrimônio imaterial do trabalhador, dando ensejo à
indenização por danos morais. Isso se verifica, por exemplo, quando o obreiro, por não receber
as verbas rescisórias corretamente, não consegue honrar seus compromissos, ocorrendo a
inscrição de seu nome nos serviços de proteção ao crédito ou a suspensão no fornecimento de
serviços essenciais como água e energia elétrica.

Assim, para que seja possível a condenação do empregador ao


pagamento da indenização, não basta o mero inadimplemento das verbas rescisórias. É preciso
que o trabalhador afirme e comprove que, por não ter recebido as verbas tempestivamente,

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teve atingido algum de seus direitos da personalidade, tais como a honra e a imagem.

No caso em apreço, a RECLAMANTE afirmou claramente que, por


causa do não pagamento do salário de outubro de 2016, mês do suposto aviso prévio, não
conseguiu pagar a mensalidade da faculdade, passando constrangimentos no ambiente de
estudo. Tal afirmação foi comprovada pelos documentos de ID bd7169c e pela oitiva da
testemunha, a qual afirmou que, "por não ter recebido as verbas rescisórias, a reclamante
atrasou o pagamento das mensalidades da faculdade".

Vislumbro, portanto, a ocorrência de dano moral nesse caso. A


ilicitude patronal colocou em xeque todo o esforço da trabalhadora para obter um diploma de
graduação e melhorar seu currículo para alcançar postos de trabalho melhor remunerados. É
inegável que tal situação abalou a integridade psíquica da pessoa humana, trazendo-lhe
incerteza sobre o futuro de seus estudos. Além disso, abalou também a própria integridade
moral da obreira, pois passou a ser vista como inadimplente no seu próprio local de estudo, o
qual frequenta cotidianamente.

Do mesmo modo, vislumbro a ocorrência de dano moral pelo não


pagamento do salário de janeiro de 2016, o qual, vale frisar, não foi pago até o presente
momento.

É inegável que o não pagamento do salário pelo empregador causa


flagrantes prejuízos à integridade psíquica do trabalhador, o qual se vê impossibilitado de se
organizar financeiramente e passa a ter sérias dificuldades em garantir sua própria subsistência
e a de sua família.

Frise-se que, nos termos do art. 7º, IV, da Constituição Federal, o


salário constitui meio de subsistência do trabalhador e é através do salário que o obreiro obtém
os bens da vida reputados fundamentais, tais como saúde, educação, moradia, transporte e
lazer (art. 6º, CF).

Logo, o não pagamento do salário coloca em xeque o próprio gozo


desses direitos fundamentais, atingindo diretamente a dignidade do trabalhador e dando
ensejo, portanto, ao pagamento de uma indenização por danos morais.

Trata-se de dano in re ipsa, que independe de prova cabal acerca


de sua ocorrência, pois o só fato do inadimplemento salarial por longo prazo, aliado aos
reiterados atrasos, já permitem concluir pelos danos aos direitos da personalidade do
trabalhador. Nesse sentido, aliás, é a jurisprudência do E. Tribunal Regional do Trabalho da 23ª

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Região, conforme cristalizado na Súmula n. 17, in verbis:

DANO MORAL. RETENÇÃO E ATRASO SALARIAL. A retenção


salarial ou seu atraso por mais de 90 (noventa) dias configura dano
moral independentemente de prova.

Importa salientar que, no caso do não pagamento do salário de


janeiro de 2016, a conduta patronal é dotada de um maior grau de reprovabilidade, pois veio
acompanhada de uma imposição para que a obreira assinasse o holerite daquele mês, mesmo
não recebendo qualquer remuneração. Tal circunstância, certamente, influencia no quantum
indenizatório a ser estipulado por este Juízo.

Ante o exposto, e com fundamento nos arts. 186 e 927 do Código


Civil, julgo parcialmente procedente o pedido para condenar a 1ª RECLAMADA ao
pagamento de uma indenização por danos morais, no valor ora arbitrado em R$
5.000,00 (cinco mil reais), reputado razoável diante do grande período de inadimplemento
salarial, da gravidade do descumprimento e do caráter pedagógico e punitivo da indenização
por danos morais.

2.9) DA RESPONSABILIDADE DO 2º RECLAMADO

A RECLAMANTE alega que foi admitida pela 1ª RECLAMADA no


dia 03/08/2015, para exercício da função de serviços gerais, tendo prestado serviços sempre
em favor do 2º RECLAMADO, mais especificamente fazendo a limpeza da Escola Municipal
Professora Jucileide Prachedes, na zona rural do Município.

Postula, assim, com amparo na Súmula n. 331 do TST, a


responsabilidade subsidiária do MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA.

Em resposta, o 2º RECLAMADO alega que contratou a 1ª


RECLAMADA para prestar serviços, nos moldes da Lei n. 8.666/93, não tendo qualquer relação
jurídica com a RECLAMANTE. Sustenta que o contrato administrativo isenta o MUNICÍPIO
das obrigações trabalhistas dos empregados da contratada. Alega, ainda, que o interesse
individual não pode ser sobrepor ao interesse público para onerar o erário e que eventual
condenação afrontaria o princípio da legalidade.

Prossegue afirmando que não causou nenhum prejuízo de ordem


financeira ao obreiro e que efetuou todos os pagamentos do contrato de prestação de serviços
oriundo do processo licitatório. Sustenta que não houve falha na fiscalização, pois todos os

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pagamentos foram precedidos da comprovação da regularidade do FGTS e do INSS dos


trabalhadores.

Por fim, afirma que não pode ser responsável pelo FGTS, pois seus
servidores são estatutários, e que a CLT expressamente exclui a incidência da multa do art. 467
sobre as pessoas de direito público. Alega que não pode ser condenado a pagar uma multa por
atraso de um pagamento ao qual não estava obrigado, sob pena de violação do princípio da
pessoalidade da pena.

Passo à análise.

Nos termos do item V da Súmula n. 331, "os entes integrantes da


Administração Pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do
item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º
8.666, de 21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais
e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre
de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente
contratada".

Assim, nos casos em que o tomador de serviços é um ente


integrante da Administração Pública, como no caso em apreço, sua responsabilidade subsidiária
não decorre simplesmente do inadimplemento das obrigações trabalhistas pela prestadora. Para
que haja responsabilização do ente público, deve restar demonstrada sua conduta culposa no
cumprimento do dever de fiscalização previsto na Lei n. 8.666/93.

No caso em apreço, entendo que houve confissão ficta do


MUNICÍPIO quanto à ausência de fiscalização adequada. Ouvida em audiência, a preposta do
ente público disse que não tinha conhecimento do contrato firmado entre as reclamadas, não
sabendo dizer sequer se havia um fiscal indicado para o referido contrato. Disse, ainda, que não
conhecia as pessoas chamadas Zélia Maria dos Santos Vettore e Mônica Debo, as quais constam
do contrato administrativo como as supostas fiscais (vide ID 9ddb761, pag. 29).

Conforme previsão do art. 843, §1º, da CLT, o preposto deve ter


conhecimento sobre os fatos da causa. Não tendo tal conhecimento, atrai a aplicação dos art.
385 e 386 do CPC, os quais preveem que, quando a parte, sem motivo justificado, deixa de
responder ao que lhe for perguntado, pode ser aplicada a pena de confissão.

Além da própria confissão, destaco que, conforme afirmado pela


testemunha, uma funcionária da prefeitura chamada Sara enviou um e-mail para a Diretora da

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escola em que a RECLAMANTE trabalhava, determinando que houvesse trabalho normal no


mês de outubro/2016. Ocorre que, no referido mês, a obreira estava cumprindo o aviso prévio e
fazia jus à redução da jornada prevista no art. 488 da CLT.

Tal circunstância demonstra que não havia a devida fiscalização do


contrato administrativo em relação às questões trabalhistas. O MUNICÍPIO sabia que o
contrato estava terminando, tanto que outra prestadora assumiu logo em seguida. Mesmo
assim, ignorou o direito dos trabalhadores à redução da jornada durante o aviso prévio,
determinando que houvesse trabalho normal.

Vale destacar ainda que o MUNICÍPIO disse em sua contestação


que já efetuou todos os pagamentos para a 1ª RECLAMADA. Isso revela que o ente público,
mesmo tendo ciência do término do contrato administrativo, e também dos términos dos
contratos de trabalho, efetuou o pagamento da última fatura mesmo sem a comprovação de
regularidade da empresa quanto à verbas rescisórias.

Importante destacar que a cláusula de isenção eventualmente


prevista no contrato administrativo produz efeitos apenas entre os contratantes, viabilizando o
exercício do direito de regresso, não podendo produzir efeitos perante terceiros. Logo, trata-se
de cláusula contratual ineficaz perante a RECLAMANTE, não isentando o MUNICÍPIOdo
pagamento dos débitos trabalhistas ora reconhecidos.

A alegação segundo a qual a condenação do ente público


representaria prevalência do interesse individual sobre o interesse coletivo igualmente não
merece acolhimento. O princípio da primazia do interesse público deve ser ponderado com os
demais princípios de nosso ordenamento, notadamente o valor social do trabalho, não se
podendo admitir que a coletividade se beneficie da exploração da mão de obra de um
trabalhador sem se responsabilizar pelas obrigações trabalhistas, obrigações estas que foram
descumpridas por deficiência de fiscalização do próprio poder público.

O mesmo se diz em relação à alegação de suposta violação à


legalidade, pois o art. 71 da Lei n. 8.666/93 isentaria o ente público de toda e qualquer
responsabilidade. Tal norma prevê apenas que a transferência da responsabilidade não decorre
do simples inadimplemento, mas certamente não impede que se responsabilize o ente público
nos casos em que atue com culpa na fiscalização deficiente do contrato.

E não se trata, é importante frisar, de violação ao princípio da


pessoalidade da pena. A pena, no caso, a responsabilidade, está sendo imposta ao ente público
por uma conduta culposa sua, e não apenas por causa de uma conduta ilícita da empresa

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contratada. Inexistente, portanto, qualquer violação ao art. 5º, XLV, da Constituição.

Quanto à alegação de que o MUNICÍPIO não poderia responder


pelo FGTS porque seus servidores são celetistas, destaco apenas que não se está reconhecendo
vínculo da obreira com o ente público. O que se reconhece é apenas a sua responsabilidade
subsidiária e nesse ponto pouco importa o regime jurídico dos servidores municipais.

Por fim, quanto à alegação de que a própria CLT afastaria a


aplicação da multa do art. 467 da CLT às pessoas jurídicas de direito público, observo que tal
afastamento ocorre apenas quando o ente público atua como empregador, como ocorre em
alguns municípios celetistas. No caso em apreço, porém, o MUNICÍPIO tem apenas a
responsabilidade subsidiária, devendo responder por todas as obrigações derivadas do contrato
de trabalho.

Nesse sentido, aliás, é a jurisprudência do C. TST, conforme revela


o item VI da Súmula n. 331, segundo o qual "a responsabilidade subsidiária do tomador de
serviços abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período da
prestação laboral". O que importa é que a obrigação tenha origem na prestação de serviços que
beneficiou diretamente o tomador, independentemente de se tratar de obrigação envolvendo
parcela salarial, indenizatória ou mesmo extracontratual.

Ante o exposto, julgo procedente o pedido para condenar o


2º RECLAMADO, de forma subsidiária, ao pagamento de todas as verbas deferidas
na presente Sentença.

2.10) DA JUSTIÇA GRATUITA

Considerando a declaração de hipossuficiência apresentada pela


RECLAMANTE no ID 54da14e, afirmando que não tem condições de arcar com as despesas
inerentes ao processo sem prejuízo do sustento próprio e da família, concedo-lhe os
benefícios da justiça gratuita, nos termos do art. 790, §3º, da CLT.

2.11) DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Considerando a existência do jus postulandi na Justiça do Trabalho


(art. 791, CLT), e tendo em vista que a RECLAMANTE não se encontra assistida pela entidade

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sindical de sua categoria, não há que se falar em honorários advocatícios.

A contratação de advogado particular constitui apenas opção da


trabalhadora, e não imposição legal, razão pela qual não se justifica a condenação das
RECLAMADOS ao pagamento dos honorários do profissional escolhido.

Assim, e com amparo no entendimento trazido nas Súmulas n. 219


e 329 do TST, julgo improcedente o pedido relativo aos honorários advocatícios.

2.12) DOS JUROS E DA CORREÇÃO MONETÁRIA

Para fins de liquidação, a Contadoria deverá observar a correção


monetária nos moldes do art. 39, caput,da Lei n. 8.177/91, utilizando a Taxa Referencial - TR
acumulada no período compreendido entre a data de vencimento de cada obrigação e o seu
efetivo pagamento.

Deverá, ainda, observar os juros de mora simples, pro rata die, de


1% (um por cento) ao mês, contados da data do ajuizamento da ação e incidentes sobre as
parcelas já corrigidas monetariamente, nos termos do art. 39, §1º, da Lei n. 8.177/91, do art.
883 da CLT e da Súmula n. 200 do TST, observando-se seu propósito meramente indenizatório
(OJ n. 400, SDI-1, TST).

Frise-se que os juros de mora incidem sobre o valor bruto da


condenação corrigido monetariamente, observada a dedução prévia dos valores relativos às
contribuições previdenciárias, conforme previsão da Súmula n. 11 do TRT-23.

Quanto à indenização por danos morais, deverá observar o teor da


Súmula n. 439 do C. Tribunal Superior do Trabalho.

2.13) DOS RECOLHIMENTOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS

Os recolhimentos fiscais e previdenciários deverão ser efetuados


pelos RECLAMADOS, ficando autorizada a dedução da quota-parte da
RECLAMANTE,consoante previsão da OJ n. 363 da SDI-1 do TST. Para tanto, deverá ser
observado o teor dos itens II e III da Súmula n. 368 do TST, nos seguintes termos:

"II - É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das


contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do
empregado oriundo de condenação judicial, devendo ser

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calculadas, em relação à incidência dos descontos fiscais, mês a


mês, nos termos do art. 12-A da Lei nº 7.713, de 22/12/1988, com
a redação dada pela Lei nº 12.350/2010.
III - Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de
apuração encontra-se disciplinado no art. 276, §4º, do Decreto n º
3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991 e determina que
a contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja
calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art.
198, observado o limite máximo do salário de contribuição".

Para fins do art. 832, § 3º, da CLT, não haverá incidência de


contribuições previdenciárias sobre as parcelas de natureza indenizatória, assim consideradas
aquelas previstas no art. 28, §9º, da Lei n. 8.212/91.

3) DISPOSITIVO

Ante o exposto, nos autos do processo movido por


ROZILENE ALVES DE SOUZA em face da empresa 2. M. M. CONSTRUTORA E
TRANSPORTES LTDA. e do MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA, decido:

a) declarar, de ofício, a incompetência material da


Justiça do Trabalho para extinguir, sem resolução do
mérito (art. 485, IV, CPC), o pedido de condenação
dos RECLAMADOS ao cumprimento da obrigação de
efetuar os recolhimentos das contribuições
previdenciárias não recolhidas no curso do contrato de
trabalho;

b) rejeitar a preliminar de ilegitimidade passiva do 2º


RECLAMADO;

c) no mérito, julgar PARCIALMENTE PROCEDENTES os


pedidos para condenar a 1ª RECLAMADA e, de forma
subsidiária, o 2º RECLAMADO a pagarem à
RECLAMANTE as seguintes verbas:

(i) remuneração integral relativa ao mês de


janeiro de 2016;

(ii) remuneração integral relativa ao mês de


outubro de 2016;

(iii) saldo de salário de 1 dia, relativo a


novembro de 2016;

(iv) aviso prévio indenizado de 33 dias, com a


consequente projeção do contrato de trabalho
para o dia 04/12/2016;

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(v) férias integrais 2015-2016 + 1/3;

(vi) férias proporcionais (4/12) + 1/3;

(vii) 13º salário proporcional (11/12);

(viii) multas previstas no art. 467 e no art. 477,


§8º, da CLT;

(ix) FGTS não recolhido no curso do contrato


de trabalho (de 03/08/2015 a 04/12/2016),
bem como da multa fundiária de 40% sobre a
totalidade dos depósitos;

(x) indenização por danos morais, no valor ora


arbitrado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Julgo improcedentes os demais pedidos.

Concedo à RECLAMANTE os benefícios da justiça gratuita.

Juros e correção monetária nos termos da fundamentação.

Recolhimentos fiscais e previdenciários nos termos da


fundamentação.

Expeça-se ofício à Polícia Federal, com cópia desta


Sentença, para apurar eventual prática do crime de apropriação indébita
previdenciária (art. 168-A, CP).

Os valores objeto de condenação devem ser apurados


mediante liquidação por cálculos, na forma do art. 879 da CLT, acrescidos de juros e
correção monetária.

Os anexos cálculos de liquidação elaborados pela


Contadoria integram a presente Sentença para todos os efeitos legais, refletindo o
quantum debeatur, sem prejuízo de posteriores atualizações, ficando as partes
expressamente advertidas de que, em caso de interposição de recurso ordinário,
deverão impugná-los especificamente, sob pena de preclusão.

Custas processuais a serem pagas pelas RECLAMADAS, no


valor total de R$ 464,66, sendo R$ 371,72 relativos às custas do processo de
conhecimento (art. 789, CLT) e R$ 92,93 relativos às custas da liquidação (art.
789-A, inciso IX, CLT).

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Intimem-se as partes.

Quanto à intimação da União, observe-se o teor da Portaria


TRT SECOR n. 02/2015.

TANGARA DA SERRA, 4 de Julho de 2017

LUIZ FERNANDO LEITE DA SILVA FILHO


Juiz(a) do Trabalho Substituto(a)

Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a:


[LUIZ FERNANDO LEITE DA SILVA FILHO] 17052508005435100000012712254

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/ConsultaDocumento/listView.seam

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