Você está na página 1de 3

ROMANCE DO CARCARÁ Pra salvar essa rainha Fura pedra, quebra pau

MISTERIOSO Consumida de amargura Vai por baixo das montanhas


(Beto Brito – poeta popular). Sem vontade pra viver Pra ser fogo, falta um grau
Ele então, quis socorrer Faz buracos de minhoca
Essa linda criatura. Com a sua grande broca
No sertão da Paraíba Reforçada dos cambau.
Um brilhante fazendeiro Só não tinha como ir (...)
Trabalhou a vida toda Que distância sem igual! Bem distante, Bastião
Pra juntar muito dinheiro Dez mil léguas de estrada Contemplava o seu invento
Da riqueza foi refém Pra chegar no seu quintal Tanque cheio, ficou pronto
Pois, queira ir além E depois, no entretém Esperou parar o vento
Conquistar o mundo inteiro Derrotar Pedro Totém Pra sair comendo terra
O pai dela, gênio mal. Foi pra baixo de uma serra
Onze filhos, ele tinha Pra testar o seu rebento.
Desses onze, bem contados Num leilão de ferro velho
Uma única mulher Bastião foi se inscrever Deu potência nos motores
Seus cabelos cacheados Comprou hélice quebrada Conferiu a gasolina
Olhos verdes, bem profundos Um engenho sem moer Escutou um ronco forte
Sem igual nos sete mundos Uma casa de farinha Dois estrondos na turbina
Azuzinhos, encantados! Várias penas de galinha Fez a broca rasgar chão
Um motor que viu ferver. Dos faróis, grande clarão
Tão bonitos são de um jeito Culminou com a buzina.
Que, dos cinco continentes Vinte rolos de arame
Vinham homens milionários Trinta aros de pneu Já estava lá no bucho
Para ver os dois pingentes Fuselagem de foguete Sob a terra remexendo
No seu quarto preparado Um capô que retorceu A poeira foi tão grande
Belamente decorado Oito tanques de carreta Que viu tudo escurecendo
Sucumbiram inocentes. Onze rodas de lambreta Começou bem a viagem
(...) Nove prelos de museu. Segurou na fuselagem
Qualquer rei que conseguisse Carcará tudo comendo.
Contemplar sem perecer Onze máquinas de gelo (...)
Os seus olhos, ganharia Trinta e nove de fumaça Quatro dias sob a terra
Como prêmio pra viver Dez funis pra trocar óleo Já causava confusão
Sua mão em casamento Cem mil quilos de vidraça Lá embaixo perfurava
A partir desse momento Oitocentas arruelas Lá em cima, furacão
Muita gente foi lhe ver. Três mil gonzos e tramelas A cidade balançava
(...) De um trem, toda carcaça. Prédio grande desabava
Dez milhões em diamantes Muitas fendas pelo chão.
Para ver o seu sorriso No final desse Projeto (...)
Bela Deusa, o nome dela Fez um bicho curioso Fez a rota mais profunda
A visão do paraíso Duas asas bem fornidas Para a terra não gemer
Cinco reis já tinham vindo Bico longo, sinuoso Viu a lava de um vulcão
Um a um viu sucumbindo Parecendo uma corveta Começando estremecer
Mas sabiam do aviso. Já nasceu que nem cometa Avisou, mandou a foto
(...) Carcará Misterioso. Que um grande terremoto
Sete anos completou Preparava pra moer.
Sem um par pra essa dama Maquinário do futuro
Solidão por companhia Plumas negras na barriga Já passaram cinco meses
Muito triste em sua cama Sei turbinas sob as asas Nas profundas abissal
O seu pai enriquecendo Outro igual, se tem me diga! Sua nave não parava
A beleza revendendo Só lhe falta mais um teste ] O desgaste deu sinal
Sem consolo nesse drama. Pra depois ir pro Nordeste Um pneu ficou no aro
(...) Nessa hora, façam figa. Precisava de um reparo
Bastião Evangelista Pra chegar no seu final
Fez promessa pra o santo Ao contrário doutras naves (...)
Implorando pelos céus Não trafega pelo céu Remexeu no seu bisaco
Pra chegar naquele canto Seu caminho é pelo bucho Procurando ferramenta
Ouro muito não guardava Dessa terra, rastro e véu Encontrou um alicate
Mas na sorte se agarrava Nas profundas, mangangá De seis pontas, feito venta
Coma fé, amor e pranto. Invisível Carcará Distorceu os parafusos
Corta e faz um escarcéu. No escuro, sem os fusos
E assim, determinado Toda cor era magenta.
Começou sua procura Diamante no seu bico
Com seu olhar de laser Se você me prometer No lugar de trinta reis
No motor viu o estouro Que não grita novamente Convenceu outros quarenta
Começou a consertar Eu devolvo a sua voz Implorou a dezesseis
Amarrou tudo com couro E assim, vamos em frente Que voltassem pra seus lares
Carcará parou porquê Essa chuva que não molha Pois, cruzara sete mares
Numa rocha foi bater Porque morre quem a olha? Pra chegar a sua vez.
Quando viu, era de ouro. Conte-me, fico contente! (...)
Escondido no seu quarto
Derreteu, pôs no motor Com o quarto muito escuro Pedro falso, preparava
Religou, quase não pega Bastião nem viu a cor O veneno no cristais
Retomou sua viagem Dos seus olhos, pois senão Sorridente já estava
Nesse lar de cabra-cega Morreria com a dor Bastião rasgou o chão
Viu um túnel sob o mar Queis abrir uma janela Carcará, o seu Pavão
O Canal do Panamá Mas Totém, velho querela Num estrondo lhe acertava
Dentro dele se escorrega Foi chegando sem pudor.
Esguichou a manivela
Sob as águas do Atlântico Bastião logo se esconde Com o ouro derretido
Carcará-submarino Pedro entra com vontade Envolveu o corpo dele
Atravessa e faz buraco Ordenando, diz pra Deusa: Que ficou endurecido
Mais ligeiro que menino - Amanhã, outra metade Num segundo transformado
Quando corre atrás de gato Do reinado desse mundo Em estátua, num estado
Mais cruel que carrapato Vai querer, por um segundo Com o diabo parecido.
Na barriga do canino. Ver seus olhos de bondade. (...)
Informada, a multidão
Onze meses, finalmente -Faça como eu lhe mandei: No terreno já dizia:
Da partida triunfal Você usa a vestimenta - Morreu junto com o ouro
Sem fazer poeira, chega Enfeitiçada com cristais Era isso o que queria!
Bem debaixo do quintal Vem o rei, lhe cumprimenta, Serafim foi avisar
Da fazenda de Totém Vai beijar a sua mão Os irmãos pra brindar
Bastião, agora tem Nessa hora, de raspão E saudar aquele dia.
Que traçar o seu final Você sopra e acalenta! (...)
(...) A estátua como ouro
Bastião vai enfrentar O veneno dos cristais Para os pobres derreteram
Sem ter medo de morrer Invisível, assoprado A cidade ficou rica
O vilão de Bela Deusa Cai nos olhos, vai na veia Com a paz que mereceram
Que lhe fez tanto sofrer Num segundo é afetado A família de Totém
Pra mudar o tal feitiço Estremece o coração Foi unida para o bem
Que descamba no toitiço Por aí não tem perdão Vida nova conheceram.
De quem paga pra lhe ver. Morte certa do coitado.
Com um mês desse conflito
Carcará rugiu potente Bastião, descobre tudo Afinal, lindo momento
Fez um túnel sem atrito Uma lente especial A igreja preparada
Foi sair dentro do quarto Na retina para Deusa Pra ouvir em juramento
Bela Deusa deu um grito Não passar por esse mal Bela Deusa e Bastião
Bastião, jogou um pó Seu olhar sempre sereno Sol e Lua do Sertão
Cala-voz que deu um nó Não sabia que o veneno Universo em casamento.
Nesse gesto tão aflito. Do vestido era letal. (...)
Bem, amigos obrigado!
Sua voz, então sumiu Bastião já desvendou Eu lhes digo, sempre assim
Ele disse: - Sou do bem Todo enredo da tramoia: Toda vez virá o fim
Vim aqui pra lhe salvar - Esse velho vai provar Onde a grana for legado
Mal não faço pra ninguém Seu veneno de jiboia Basta-me o seu agrado
Eu preciso que me entenda Vou armar a minha isca Raramente quero mais
Vim de longe, nessa fenda Na proeza desse pisca Invoquei meus ancestrais
Pra vencer Pedro Totém. Meu cavalo vem de Troia. Tem um fundo de verdade
(...) Todo ouro com maldade
(...) Bastião pagou em ouro Obscura nós, mortais!!!

Você também pode gostar