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Fundação Helena Antipoff. Faculdade de Letras. Ibirité. Minas Gerais. Brasil.
CEP: 32400-000. E-mail: rodriguescosta@hotmail.com.
A primeira vez que publiquei este livro quinze anos atrás, dei-lhe um
título obscuro: Ódio da poesia. Pareceu-me que a verdadeira poesia
só poderia ser alcançada pelo ódio. A poesia não possui nenhum
significado poderoso a não ser pela violência da revolta. Mas a
poesia apenas alcança essa violência pela evocação do impossível.
Quase ninguém entendeu o significado do primeiro título, é por isso
que eu preferi finalmente chamá-lo de O Impossível. (BATAILLE,
1971, p. 101)
Talvez, por isso, não seja estranho que Bataille aborde a questão
da identidade em um texto ao qual dá o título de “Sacrifícios”. Ao longo
da leitura desse texto, não encontramos qualquer referência explícita aos
rituais de sacrifício. O tema do texto perpassa pela noção de identidade,
de um eu que se debruça sobre o vazio ante a iminência da morte. Na
verdade, o que Bataille faz, ao abordar a experiência do eu e de sua
improbabilidade, é discutir de que forma a morte não se opõe à
existência, já que “a aproximação da podridão liga o eu-que-morre à
nudez da ausência” (BATAILLE, 1973, p. 87). Se o eu se projeta para
fora de si, criando, assim, o objeto de sua paixão, em oposição a esse
objeto está a catástrofe, pois “o pensamento vive a aniquilação que o
constitui como uma vertiginosa e infinita queda, e assim não tem somente
a catástrofe como seu objeto, sua estrutura é a catástrofe, ela se absorve
no nada que a suporta e ao mesmo tempo deixa escapar” (BATAILE,
1970, p. 94). O sacrifício seria, portanto, o momento em que, para o eu-
que-morre, é revelada a existência ilusória do eu, a inutilidade dos objetos
que o rodeiam, como se tivesse diante dele “os preparativos de uma
execução, já que a existência das coisas não pode fechar a morte que ela
traz, mas que ela mesma se projetou nessa morte que a encerra”
(BATAILE, 1970, p. 96). A destruição do eu é o sacrifício que o liberta.
Nesse sentido, a irrealidade do mundo deve ser corroída, para que a
natureza da existência esteja em concordância com a natureza extática do
eu-que-morre.
A forma como Bataille articula esse tipo de sacrifício em sua obra
se faz a partir da unificação entre aquele que sacrifica, o sacrificador, e o
que é sacrificado, a vítima. A aspiração de Bataille por “inventar uma
nova forma de crucificar a si mesmo” (BATAILLE, 1973, p. 257) se dá
como resposta a duas opções frente ao sacrifício: “a tragédia propõe ao
homem identificar-se com o criminoso que mata o rei; o cristianismo
propõe identificar-se com a vítima, com o rei destinado a morrer”
(BATAILLE, 1995, p. 196). A saída para essa antinomia, Bataille a
pé de whisky
pé de vinho
pé louco para esmagar
ó sede
insaciável sede
deserto sem saída (BATAILLE, 2008, p. 34)
comigo tu rasgarás
teu coração amado de pavor
teu ser estrangulado de tédio
tu és amiga do sol
não há nenhum repouso para ti
teu cansaço é minha loucura (BATAILLE, 2008, p. 49)
INSIGNIFICÂNCIA
Adormeço
a agulha
de meu coração
choro
uma palavra
Abstract: The poems of the french thinker Georges Bataille affirm a place of
indistinction, where words are dispersed, when they obliterate the sense, to become
parodies of themselves. Think the poetry in these terms is not articulate it more as a
dialogue between man and the world, but as the work in the service of despair, in the
sense that the word can only be used according his own loss. Thus, the subject who
writes the poem not only destroys the functional sense of the words, but also it
suicides at the instant that its action leads to exclusion, a non-place in the
community. The writing of Bataille thus forms a kind of cancerous text, which words
are multiplied, when they disperse themselves in their wounds, in the cuts which are
opened on the page. Therefore, this paper aims to examine how Georges Bataille's
poems create a disorder that points to an unnamed place where the senses are lost,
since the poem is brought to a condition of sacred object, at the instant who sacrifices
it leads us to the unknown, the anguish of a naked, from which death opens itself
sovereign, immune to any project or moral scheme.
BIBLIOGRAFIA
BILLES, Jeremy. Ecce monstrum: Georges Bataille and sacrifice of form. New
York: Fordhan University Press, 2007.
FRAZER, Sir James George. O Ramo de ouro. Prefácio: Professor Darcy Ribeiro.
Tradução: Waltensir Dutra. Zahar Editores, 1982.
IRWIN, Alexandre. Saints of the impossible: Bataille, Weil, and the politics of the
sacred. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2002.