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Bougamn We “Solow eHesnnl tn: Rucllbin Ga Ores GScder wh F Slab Nre Sobre Alguns Temas em Baudelaire I 108 WALTER BENJAMIN seja assim, que, em outras palavras, as condigées de receptividade da poesi tenham tornado mais desfavoréveis, € demons- trado por trés fatos, entre outros. Primeiro, porque o lirico deixou de ser considerado como poeta em si, Néo é mais “o aedo”, como Lamartine ainda 0 fora; adotou um dé um exemplo conereto desta especi térico, mantém 0 publice, ex officic Segundo, depois de em massa da poesia 7? que estabelece a linha ia, decorrente das duas primeis it esquivo mesmo em relagio & lirica que the fora transmitida do passado. O periodo em quest pode ser fixado a partir do meio do século dezenove. ‘SOBRE ALGUNS TEMAS 105 relag6es com a investigasao cientifica. Orienta-se pela biologia. (que_a estrutura da meméria € considerada estrutura filoséfica da experiéncia. Na 6 matéria da tradiggo, tanto na vida pri . Forma-se menos com dados isolados ¢ 1, por certo, qualquer intengiio de especificar icamente a meméria, Ao contrério, rejeita qualquer deter- ac ica da experiéncia, evitando com isto, acima de daquela experiencia, da qual se originou sua indspita, ofuscante da época da industrializacao em ‘Os olhos que se fecham diante desta experiéncia de natureza complementar na forma por assim dizer de sua reprodugio espontinea. A filosofia de Bergson € uma tentativa de detalhar ¢ fixar esta imagem reproduzida, Ela oferece assim indiretamente uma pista sobre a experiéncia. que se apresenta aos olhos de Baudelaire, sem distorgées, na figura de seu leitor. Big jere et Memoire define o caréter da experiéncia na durée se sente obrigado a con- adequado de tal expe- ibém uum eseritor quem colocou & prova Bergson. Pode-se considerar a obra de Proust, Em Busca do Tempo Perdido, como a tentativ tificialmente, sob as condigGes sociais stuais, a ‘como Bergson a imagina, pois cada vez se poderd ter menos esperangas de realizé-la por meios naturais.* Proust, aliés, nfio se furta ao debate desta questio em sua obra, intro- duzindo mesmo um elemento novo, que encerra uma erftica imanente a Bergson. Este nfo deixa de sublinhar 0 antagonismo existente entre a vita activa e a especifica vita contemplativa, + No ensaio freudiano os conceitos de lembranga ¢ meméria nfo apre- sentam distingSes semfinticas relevantes para o presente contexto, 106 WALTER BENIAMIN SOBRE ALGUNS TEMAS 107 . No entanto, sugere que o recurso fluxo da vida seja uma questio de terminologicamente rgente, A meméria pura — a mémoire pure — rgsoniana se transforma, impressos em m pandes tiragens. Nenhum leitor ente de algo que possa informar a outro. anos, a cidade de Combray, centre as diversas formas da comu- ‘uma parte de sua inféncia, Até aque fia da experiéncia. Todas essas formas, por sua vez, se distinguem da narragio, que ¢ uma das mais antiges formas de comunics- iro no vaso da argila. 0s ito volumes da obra de Proust nos dio idéia das medidas, necessérias & restaurago da figura do narrador para a atuali- misséo com extraordinéria coeréncia, infcio, com uma tarefa elementar: fazer € de seu campo objeto, isso no sabemos. E é questiio de sorte, com ele antes de morrermos ou se jamais 0 ica por coat do acaso, se cada individuo izé-la. No contexto destas reflexdes forja o termo imagem de si mesmo, e se pode ou no se it “ito tr ‘marcas da sit ‘apossar de sua propria experiéncia. Néo é de modo algum te ey Ce atte do individu evidente este depender do acaso. As inquictagdes de no r ide iencis ide interior néo tém, por nature ido. One ‘hd experiéncia no sentido ividual com outros do passado coletivo. Os cultos, rimoniais, suss festas (que, possivelmente, em parte alguma da obra de Proust foram mencionados), produziam reite- clementos da membtia, Provo- momentos ¢ davamthe ‘acontecimentos do ambito conde pudessem afetar a expe do leitor. Os principios da fe 108 WALTER BENJAMIN mw Na busca de uma definicfo mais concreta do que um subproduto da it meméria da inteligé jo proustiana entre as lem- ‘A fungo da meméria — em processos estimuladores esté reservada a ““o que devem ser entendidos como diversos da consciér 8° de manciras diversas, represen- tandoos, de preferéncia, por melo dos membrot do corpo bumano, for ‘SOBRE ALGUNS TEMAS 109 segundo Freud, 0 consciente como tal néo registraria absoluta- ‘mente nenhum trago mnem6nico. Teria, isto sim, outra fungo de agir como protesfo contra estimulos. “Para o fungéo estar empenhado em preservar de energia nele operantes contre por conseguinte, destrutiva das aga destas energias se faz 3 4 atuais de existéncia, (Este interesse, aliés, ele conseguiu conciliar ‘que permaneceu puramente rica. {i no tinico autor que se reporta direta- fadas a rigor — escreve Valéry — as impressées das surpresas; so o testemunho de uma humano... A lembranga é... um fendmeno elementar que pretende nos conceder tempo para organizar” a recep¢o do Jendo incansavelmente das imagens mnemSnicas neles contidas e de famente, elas penetzam ro consciente independentemente de deste, desde que uma coxa, um rego ou uma omoplata 8 do corpo & um du temps perdu, ual ‘assume involuntariamente, na cama, uma possi ‘uma vez no patsado. A mémoire invofontaire dos ddos temas favoritos de Proust. ( recher tomo I: Du coté de chez Swann, id, ib. 110 WALTER BENJAMIN estimulo — tempo “que nos faltou inicialmente”."* A recepgio do choque ¢ atenuada por meio de um ento no controle dos estimulos, para 0 qual tanto 0 sonho quanto a lembranga podem ser empregados, em caso de ni ie. Via de regra, no entanto, este treinamento — assim supde Freud — cabe a0 consciente desperto, qu. ria sua sede em uma camada do c6rtex ida pela agéo dos estimulos que pro- Psio as condigées adequad: amortecido e apar que 0 provoca 0 ca vivida em sentido restrito. E, incorporando evento a0 acervo das lembrangas consciente: para a expetiéncia poética. ores, novamente a Valéry. As consideragdes Valéry sobre Baudelaire se complementam lencial. Proust escreveu um ensaio sobre Bau- de Baudelaire (Situagao de Baudelaire) léssica introdugao a As Flores do Mal, escrever: “O problema deve ter-se apresentado a Baudelai seguinte forma — tornarse um grande poeta, sem se tornar um Lamart verdade, 0 proprio Baudelaire. Era a sua razio Causa estranheza falar de razio de Estado, com relagio a um poeta. Mas implica algo notével: a emancipagio A produgéo poética de Baudelaire do. Ele entreviu espacos varios nos ‘Sua obra néo 86 se permite caracterizar da mesma forma que qualquer outra, mas tam- se entendia como tal. SOBRE ALGUNS TEMAS a Vv mais constante deve ser a presenca resse em proteger contra os estimulos; cle operar, tanto menos essas ver o desempenho caracte fungdo de indicar a0 acontecimento, as custas 9, uma posiggo cronolégica exata na ipenho méximo da reflexso, qui Se ndo houvesse reflexéo, 0 ou (na maioria des vezes) desagradével prodt velmente, sobressalto que, segundo Freud, sanciona a falha da 20 choque. Baudelaire fixou esta constatagio na Nadar descreve o seu andar abrupto2 registra tipos traumatéfilos. Baudelaire abrag ou m, ‘a0 choque. Quando descreve seu io nu ore em que Paris esté dormin: 12 WALTER BENTAMIN apara seus préprios golpes”.™ Envolvido nessa estranha esgrima, Baudelaire se retratou na estrofe inicial do poema O Sol; talvez 4 Gnica passagem de As Flores do Mal que 0 mostra no trabalho postico. longo dos subsrbios, onde nos pardisiros Persianas acobertam bei Buscando em cada canto os acasos da rima, Tropesando em palavras como nas calgadas, Topando imagens desde hé muito jé sonhadas.”23 ferait leur vigueur?” ‘que meu sonho ensaia a aguada como praia ico alimento que as fard radiosas?"™ Necessério actescentar ainda 0 célebre inicio do poema: “La servante au grand coeur dont vous étiez jalouse.” (“A ama bondosa de quem tinhas tanto citime.”)% SOBRE ALGUNS TEMAS a3 Fazer justiga a essas leis ocultas, também fora da poesia — cis 0 propésito a que Baudelaire se entregou em O Spleen de aris, seus poemas em’ prosa. Na dedicat6ria da coletinea a Arstne Houssaye, redator-chefe da Presse, ele diz: “Quem dentre ‘és j no terd sonhado, em dias de ambigfo, com a maravilha de uma prosa poética? Deveria ser musical, mas sem ritmo ou , bastante flexivel e resistente para se adaptar as emoydes que devemos entender propriamente por tais pode pensar em nenhuma classe, em nenhuma estruturado, Nao se trata de outra coisa senfo & uma multidio amorfa de passantes, de simples pessoas nas multidao, cuja existéncia Baudelaire jamais esquece, tomada como modelo para nenhuma de suas obras, mas 3pressa em seu processo de criago como uma imagem ocul- la mesma forma que também a representa a imagem oculta ima. Nela, a imagem do esgrimista po- que desfere destinam-se a abrit-the de Baudelaire — uma ilusio que, de resto, continua atuando até hoje. ‘© unanimismo de Jules Romain 6 um de seus mais admirados frutos tardios. m4 WALTER BENJAMIN v ‘A multidio — nenhum tema se impés com maior 108 literatos do século XIX — comecava a se articular como piiblico em amplas camadas sociais, onde a leitura havia se tornado hébito. Tornou-se comitente, pretendendo se reconhecer ‘no romance contemp. 0s mecenas nas pinturas da Idade Média, re exigéncia por toridade 8 . a descrigao que Engels faz desta ma: ‘em suas primeiras obras prenuncia, ainda que timidament dos temas marxistas. Na Situagdo da Classe Operdria na Ingla- ferra encontrase: “Uma cidade como Londres, onde se pode 5, neles adormecidas, permaneceram ina- © proprio tumulto das ruas tem SOBRE ALGUNS TEMAS 4s mesmas qualidades e aptiddes, ¢ com o mesmo interesse em serem felizes?... E no entanto, passam correndo uns pelos ‘outros, como se néo tivessem sbsolutamente nada em comum, ‘ver uns com os outros; e, no entanto, o ‘nico acordo tre eles € 0 de que cada um conserve o lado da calsada para que ambas as correntes da multidao, de io se detenham mutuamente; e, no entanto, po no ocorre a ninguém conceder ao outro um olhar seat indiferenga brutal, esse isolamento insensivel de cada individuo fem seus interesses privados, avultam tanto mais repugnantes € fofensivos quanto mais estes individuos se comprimem num exiguo espaco”. ssa descrigfo € notavelmente diversa daquela encontrada nas ‘obras do género dos pequenos mestres franceses — um Gozlan, ‘um Delvau ou um Lurine. Faltamthe a desenvoltura e @ graga ue se move o fldneur em meio & multidéo ¢ que 0 folhe- Itido de forma desagradével. © incorrup ‘com o tom antiquado ¢ constitu © autor provém de uma Alemanha ainda provinciana; talvez no tenha confrontado jamais a tentagio de se perder em uma torren- te humana. Quando, pouco antes, de sua morte, Hegel chegou massa é de tal forma intrinseca que em vio ua descrigdo. Assim, seus mais importantes -2 so encontrados sob a forma d temas quase Desjardins dectara com argécia, a ele “interessa mais imprimir a 116 WALTER BENJAMIN imagem na meméria, do que enfeitéla © cobri-la”* i Brocerenae4, tata om Az Flores do Mal, como em 0 Spleen le Paris, um tema equivalente aos afrescos urbanos, em que ‘4 nas ruas desertas qualquer ", que Hugo pressente na Paris + Tico do método de Rabie 6 ; se poema Londres, que desreve a ciado oo vnt'© qt las, pore cont deelodanen (os seguintes versos: sale com “Eofim, um smostoado de cis, sombi, em Povo negro, vivendo © morrendo em siléncio. ces ct a8 mares segundo isinto B esendo stro oro para bem pert 0 mal fo cil toning Lazare tml fe O Creptxlo Vepertnetaudcirane do segs Junto ao fogo, & tarde, 20 pé da bem-amada." Compare-se est Comparese este com o final da oltavaestote d 5 de Newcastle, “E muis de um que sonhava no fundo ‘Com as doguras do lar, com o olho oon Enconta no venue Josiomo um to em Barbier, P. 2048.) — Com alguns poucos retoques magist fra A Sha donate mo tale Shomer at SOBRE ALGUNS TEMAS ar noturna. Mal o olhar de Baudelaire cai sobre as pranchas dos ‘atlas de anatomia expostos & venda sobre os cais empoeirados do Sena, e j&, sobre essas folhas, a massa dos defuntos toma imperceptivelmente o lugar onde antes se viam esqueletos disper- soe Ursa massa compacta avansa nas imagens da Danga Ma- abra, Destacarse desta grands massa com 0 pasto que no Nenhuma expressio, nenhuina palavra designa a multidio no soneto A uma Passante, No entanto, o seu desenvolvimento re- inteiramente nele, do mesmo modo como 0 curso do ve- spende do vento. “a rua em tomo era um frenético alarido. Toda de luto, alta ¢ sutil, dor majestosa, Uma mulher passou, com sua mio suntuosa Erguendo e sacudindo a barra do vestido. Pernas de estétua, erathe a imagem nobre ¢ fina. Qual bizarro basbaque, afoito eu the No olhar, oéu livido onde aflora # vent ‘A dogura que envolve ¢ 0 prazer que assassina. Que luz... ea noite apés! — Efémera beldade Cujos olhos me fazem nascer outra, vez, Nao mais hei de te ver senéo na eternidade? Longe daquil tarde demais! nunca talvez! Pois de ti jé me fui, de mim tu jé fugiste, ‘Tu que eu teria amado, 6 tu que bem o vise!” + A fantasmagoria, onde aquele que espera passa o tempo: & Venez fs, que 02° Império simula sos perisienses como . ‘peel de mosaics s6 uns poucos. E por 80 0 apareeem na obra de Baudelaire. us WALTER BEN[AMIN Envolta no véu » misteriosa em seu ar taciturno a0 ‘uma desconhecida 4 a entender é tado em uma io que fascina o habitante da cidade grande — longe ter na multidéo apenas uma riv uum elemento the € trazida pela prépria mul la metrépole & um amor no ta. E uma despedida para s Ssoneto apresenta a 4 de uma catéstrofe. Porém, jiu também o amago de seu senti- corpo em um espasmo — qual beatitude daquele que é invadido ram acontecer numa cidade gran wudet, nfo quer dizer muito, Afinal, que causa uma assim 0 olhar do de um amor como s6 0 habitante das grandes cidades experimenta na forma em que Baudelaire o captow pi ia, © desse amor, nfo raramente, se poderé dizer que frustraram a sua realizagao, mais do que # negaram.* * © tema do amor & mulher que passa 6 tratado num dos primeiros oer George. © decisivo, porém, The esc a vous, levada pela multiddo. Chega clegia. Os olhares do poeta, como deve confessar fe ‘imidos de desejo/antes de ousarem mergulhar nos George, Hymnen Pilgerfohrien Algabal, Berlim, 1922, p. 23) ‘lo deixa ‘nenhuma divide de que tenha olhado fando rmuther que passe, SOBRE ALGUNS TEMAS 9 VI Entre as concepgdes mais antigas do tema da multido, pode-se mei ‘uma influéncia to profunda quanto sutil sobre a criagao A pega € intitulada O Homem da Multidao. Londres € 0 cenério; 0 narrador, um homem que, 2 cada minuto; e, a0 serem acesos os bicos de gis, duas densas correntes de transeuntes passavam se empurrando pelo café, Nunca antes me sentira em condigées semelhantes, como aquela ida a conter 0 seu curso; a moldura que envolve a cena exige ser contemplada. quada”“© Ainda mais surpreen- dente € a do da multidio segundo seu modo de movi- joria dos que passavam parecia gente satisfeita cconsigo mesma, e bem instalada na vida. Parecia apenas pensar 120 WALTER BENJAMIN portanto, em que nfo conhecia Poe. “Cada um, nos acotovelando sobre , Egofsta e brut enlameia, stead. esoreena foportunidade de suprimir te Brumaire des Louis Bona ‘SOBRE ALGUNS TEMAS m Nao se pode qualificar de realistca a cena que Poe projetou. ‘uma imaginagio propositalmente desfigurante que fa 0 texto daqueles costumeiramente recomendados como ide um sealismo socialista. Barbier, por exemplo, que ¢ ‘um dos melhores representantes deste socialismo, coisas de maneira menos estranha, escolhendo mesmo tum objeto mais transparente — a massx dos oprimidos, que no € 0 assunto tratado em Poe. Esse tem a ver com “as pessoas”, da multidio das metrépoles que se tornou determinante para Baudelaire. Se sucumbia’& violencia com que ela o atraia para ndo-o, enquanto fldneur, em um dos seus, mesmo sensagdo de sua natureza inumana. fa, quase no mesmo instante, isolar-se dela. Mistura-se a jamente, para, inopinadamente, arre- messila no vazio com um olhar de desprezo. Esta ambivaléncia igo de cativante, quando ele a confessa com reservas. se deva a ela o charme quase insondével de seu Crepis- culo Vespertino. Vit Baudelaire achou certo equiparar o homem da multidio, em cujas pegadas 0 narrador do conto de Poe percorre a Londres hotura em todos os sentidos, com o tipo do fldneur."* Nisto no podemos concordar: 0 homem da multidio le 0 comportamento tranqiilo cedeu lugar 0 mania- wportamento podese, antes, inferir o que sucederia wuando Ihe fosse tomado o ambiente ao qual per- Se algum dia esse ambiente Ihe foi mostrado por Londres, fente ndo foi pela Londres descrita por Poe. Em compa va Paris de Baudelaire guarda ainda alguns tragos dos ethos bons tempos. Ainda havia balsas cruzando o Sena onde vrais tarde deveriam se langar os arcos das pontes. No ano da ‘morte de Baudelaire, um empresério ainda podia ter @ idéin m2 WALTER BENIAMIN SOBRE ALGUNS TEMAS 1 de fazer circular quinhen tantes abastados. Ainda s. se subtrafa da vista rio confessa, iniciar seu visitante nos “principios ede observar”,M* que consiste na capacidade de se rego- quadros vivos, como se buscava fazer na época do ** A interpretagio se faz sob a forma de alforismos texto pode ser considerado como’ uma tenta- Qe prin de espaso livre e nfo os outros se ocupem de seus no fundo, o individuo s6 pode rome tal da norma, La onde a vida priv conhecido Paris ou Londres, se houvesse visado & represer da massa como tal, néo se teria fixado, entio, em uma dos lampides a gis. Néo teria, de resto, havido ne- cessidade desses temas para elementos sinistros que outros retratistas da cidade beram. Aqui seria opor- tuna uma observagio de Hei softia muito. dos olhos nna primavera” — escreve a Varnhagen um correspondente, ‘vida destas russ, dnicas no género, me excitava xdmirago; em contrapartida, nessa ocasifo, Heine * £ notével como se chega a esta confistéo. O primo estar olhando de épera idén- sia cenas de género. © emprego deste instrumento corresponde ma posse de suas novas faculdades. A téenica da pintura expres- de captar a imagem no tumulto das manchas de tinta seria, reflexo das experitncias tornadas familiares aos olhos do habi- fs grandes cidades. Um quadro como a Catedral de Chartres, de que parece um formigueiro de pedras, poderiailustrar esta supo- tres figuras), que mantém sua cabeca erguida em direglo a0 sudelaire, que conbecia este conto, extrai da observasdo de Hoff. ‘mann uma variante no verso timo de Os Cegos, desmentindo sua edifi- ceagdo moral: *... que buscam estes cegos ver no ef". (p. 343) 16 WALTER BENJAMIN ‘SOBRE ALGUNS TEMAS ws acentuou, significativamente, 0 horror que se mesclava a este tna multidio como em um tanque de energia elétrica. E, logo centro cosmopolita. depois, deserevendo a experiéncia do choque, ele chama esse . hhomem de'““um caleidosespio dotado de consciéncia”.* Se, em Poe, os passantes langam olhares ‘ainda aparentemente despropo- vu sitados em todas as diregdes, os pedestres modernos so obriga- despertava medo, repugninicia e submeteu, assim, o sistema sensorial a’um treinamento de natu- ‘ago do operdrio, independentemente da sua vontade. E escapa dele da mesma forma arbitréria. “Todas as formas de produgéo fa... — escreve Marx — tém em comum o fato de que nao € o operério quem utiliza os meios de trabalho, mas, 20 contrério, so os meios de trabalho que utilizam 0 operdrio; ‘ontudo, somente com as méquinas é que esta inversio adquire, tecnicamente, uma realidade concreta.”” No trato com a mé quina, os operirios aprendem 2 coordenar seu “proprio movi, Mento 20 movimento uniforme, constante, de um auténomo” * da pritica. Esta, decisiva apenes para o trabalho encontrava aplicagio na manufatura. Com base quer setor da produgio encontra da cxperiéncla uma forma técnica que Ihe corresponds; © monte, este setor a aperfeigoa”. & certo que cle a cristaliza 125 WALTER BENJAMIN Nele a pré serve para nada.* O que a com seus brinquedos oscilantes, © operdrio ndo-especializado na tuiré por vezes toda uma >» Na qual o homem do povo se ; Prosperava nos perfodos de expressar de forma automética, Seu comportamento é uma rea- Go a choques. “'Se eram empurrados, cumprimentavam graves aqueles que os tinham empurrado ¢ pareciam muito embaraga- ie” Kx A vivencia do cl sentida pelo transeunte na multidio, correspond a “vi do operdrio com a méquina. Isso ‘ainda nfo nos permite supor que Poe possuisse uma nogio do proceso de trabalho industrial. Baudelaire, em todo caso, estava * Quanto mais curto 6 0 tempo de adestramento do operério industrial, tanto (© dos militares. Talvex faga parte da preparacio dda produgéo para o da destruiclo. SOBRE ALGUNS TEMAS wa ‘bem longe de tal nosio, Estava, porém, fascinado por um pro- cesso, emf que o mecanismo reflexo © ‘acionado no operdrio pela maquina pode-ser exeminado mais de perto n0 individuo ocioso, falho os jogos de azar? Alsin esclarece: “O conctito... do jogo. .. encerra em si o traco de que uma partida nio depende edente. .. © jogo ignora totalmente qual- a Méritos adquiridos anteriormente no sto cor 5, € 6 nisto que o jogo se distingue do og ia rapidamente a importincia do as (qual se apdia o trabalho”. Ao dizer estas in tem em mente o trabalho altamente diferenciado servar certos tragos do artesanal, da mesma forma trabalho intelectual); no é 0 mesmo dos operdrios de ainda 0 dos ndo-qualificados. 2 verdade que ‘Seu gesto, acionado pelo processo de sparece também n0 jogo, do jogo de seu precedente imedisto, a jornada ‘assalariado representa, a seu modo, um correspon ‘do jogador. Ambas as ocupagées estio igualmente ‘outro pela desconfianga em relagdo ao par- tm terceiro por um surdo desespero; um quarto, por sua Crania de discutir; outro, ainda, se prepara para deixar este 128 WALTER BENJAMIN mundo. Hé algo de comum oculto nos varios comportamentos: as figuras em questio demonstram como o mecanismo, a que se entregam os jogadores dos jogos de azar, se apossa deles, corpo ¢ alma, de tal forma que, mesmo em sua esfera pessoal, nio importando quéo apaixonados eles possam ser, nfio podem atuat seniio automaticamente, Eles se comportam como os passantes cia de autématos ¢ se asse- ticias de Bergson, que lic completamente a prépria meméria, Nao parece que Baudelaire fosse adepto do jogo, ainda que hhaja encontrado palavras de simpatia e até de homenagem para * © tema tratado por ele no poema das a cada ano nas mesas de jogo da Europa. . . isto suficiente para formar um povo romano e uma his romana? Mas € exatamente isto! Pois se cada homem ce como um romano, a sociedade burguesa procura ‘desromanizé- 10’ © por esta razio foram introduzidos os jogos de 10, OS romances, a pera italiana e os ic em que Baudelaire pretende ver 0 hersico, “do modo como nossa época 0 encerra”3* Se examinamos o jogo de azar nfo tanto sob o ponto de vista técnico quanto pelo psicol6gico, entio a concepgao de Baudelaire se mostra ainda mais significativa. O jogador parte do principio do ganho — isso € o bio. Seu empenho em vencer inheiro no poderd ser considerad deito sentido do termo. Talvez imbuido de a uma determinagio obscura. Em todo caso, ele néo se encontra SOBRE ALGUNS TEMAS. 129 fem condigées de dar & experiéncia a devide importincia.* O desejo, 20 contrério, pertence & categoria da experiéncia. “Aqui- Jo que desejamos na juventude, recebemos em abundancia na idade madura”, escreveu Goethe. Na vida, quanto mais cedo alguém formular um desejo, tanto maior ser4 a possibilidade de que se cumpra. Quando se projeta um desejo distante no tem- Po, tanto mais se pode esperar por sua realizacio. Contudo, 0 que nos leva longe no tempo ¢ a experiéncia que o preenche ipitando-se na infinita distancia do espaso, se transformou no simbolo do desejo realizado. A bolinha de marfim rolando para a préxima casa numerada, a préxima carta em cima de todas as outras, € a verdadeira antitese da estrela ca- dente. © tempo contido no instante em que a luz da estrela ccadente cintila para uma pessoa é constituido da mesma matéria do tempo definido por Joubert, com a seguranga que lhe é peculiar: “O tempo — escreve — se encontra mesmo na eterni- destr6i; aperfeigoa, apenas”.® £ 0 contrério daquele tempo infernal, em que transcorre a existéncia daqueles a quem nunca jogo de azar prende-se, na verdade, a0 fato de que € o préprio jogador quem dé as cartas freqtientador ‘incorrigivel da Loteria nfo estard sujeito & m que se dedique aos jogos de azar, em sentido rest © recomesar sempre ¢ a idéia regulativa do jogo (como a do trabatho assalariado) e adquire, por isso mesmo, 0 seu exato ft e su do de emprestar aos acontecimentos um cardter de choqué, de subtratos contexio da experiéncia. Para a burguesia, mesmo os aconfecimentoé politicos adquiriam facilmente a forma de eventos & mesa de jogo. 130 WALTER BENJAMIN significado, quando, em Baudelaire, o ponteiro dos segundos — 4a Seconde — entra em cena como coadjuvante do jogador. “Recorda: o Tempo & sempre um jogador atento Que ganha, sem furtar, cada jogada! Ba lei.” Em um outro texto é 0 préprio Sat quem ocupa o lugar do ponteiro dos segundos imaginérios.*' Aos seus dominios também Pertence, sem divida alguma, o antro taciturno, para onde o Poema O Jogo relega aqueles que sucumbiram ao jogo de azar. “Bis a cena de horror que num sonko noturno ‘Ante meu claro olhar eu vi se desdobrando, Eu mesmo, posto a um canto do antro taciturno, Me vi, sombrio e mudo, imével, invejando, Invejando a essa gente a pertinaz paixio.”® © poeta nfo toma parte no jogo; esté em seu canto, nio mais feliz do que eles — os que estéo jogando: Também ele é um hhomem espoliado em sua experiéncia — um homem moderna. ‘Apenas recusa o entorpecente com que os jogadores procuram embotar 0 consciente, que os tornou vulnerfveis & marcha do Ponteizo dos segundos.* * 0 eleito entorpecente aqui tratado 6 cronologicamente especificado, dda mesma forma que o sofrimento que ele deve aliviar. O tempo € 0 tecido no qual as fantasmagorias do jogo sfo urdidas. Gourdon escreve eu me concedesse me custaria mil outros prazeres... Tenho os prazeres no espirito, © nio pretendo ‘SOBRE ALGUNS TEMAS wt “E me assustel por invejar essa agonia De quem se lanca numa goela escancarada, | - E que, jé farto de seu sangue, trocaria ‘A morte pela dor e o inferno pelo nada! Nestes siltimos versos Baudelaire faz da.impaciéncia 0 subs- ‘rato da paixdo lidice. Ele 0 encontrou em si préprio em sua condigao mais pura. Sua irascibilidade possuia 0 poder de ex- ressdo da Iracundia de Giotto, em Pédua. x Se damos crédito a Bergson, a presentificagéo da durée (du- ago) é que libera a alma humana da obsessio do tempo. Proust simpatiza com esta crenga e, a partir dela, criou os exercicios, através dos quais, durante toda a sua vida, procurow trazer & luz 0 passado impregnado com todas as reminiscéncias que Colocando de lado a literatura erudita sobre as correspon- dances (que séo patrimOnio dos misticos; Baudelaire chegou até Gourdon, Les faucheurs de nuit. Joueurs et Joueuses, is) Anatole France, em suas belas notas sobre 0 jogo, txireids de Le Jrdn @peure rd de Epicure), apeeaia © ett to de forma andloga. 132 WALTER BENJAMIN elas por intermédio de Fourier lr), Proost nfo dé muita importncia i as nt lo Cor mespondocis, comega assim: templo onde vivos pilares io raro insélitos enredos; ‘Como ecos longos que & distancia se matizam Numa vertiginosa e ligubre unidade, Tao vasta quanto a noite e quanto a claridade, s sons, as cores © os perfumes se harmonizam."* em fstabelece aqui sltima conclusdo de sabedoria: “Tudo squilo que produziu grande efeito, na verdade ni pode mais absolutemente ser Em sua relagio com a natureza, 0 belo pode ser definido como aquilo smanece esenciaimente idéntico a si mesmo quando 134 WALTER BENJAMIN “O mar, que do alto céu a imagem devolvia, ’ Fundia em mistioos ¢ hieréticos rituais As vibragées de seus acordes orquestrais A cor do poente que nos olhos meus ardia. All fol que vivi. .."97 Que a vontade restauradora de Proust permanega cerrada nos limites da existéncia terrena, “...Vem ver curvarem-se os Anos passados nas varandas do céu, em trajes antiquados” ‘um porto repl chamas © mastros’.”® Estas palavras séo uma epigrafe declarada & obra Stn Soap a SE SOBRE ALGUNS TEMAS 135 morar; o spleen Ihe opie a turba dos segundos. Ele é seu sobe- ano e senhor, como o deménio € 0 senhor das moscas, Na série de poesiasspleen encontrase O Gosto do Nada, em que se Ie: “Perdew a doce primavera o seu odor!” Neste verso Baudelaire afirma algo extremo com extrema dis- ctigio; ¢ isto 0 torna inconfundivelmente seu. O desmoronamento mereé do qual se encontra o melancélico, “O Tempo dia a dia os ossos me desfruta, Como a neve que um corpo enrija de torpor,” 136 WALTER BENJAMIN Estes versos se seguem imediatamente aos citados acim. No spleen, 0 tempo esté reificado; os minutos cobrem © homem depara com este sentimento nos domingos; Baudelaire o tem avant 1a lettre em wm dos poemas-spleen. “Os sinos dobram, de repente, furibundos E langam contra o cél um uivo horripilante, Como os espfritos sem pétria © vagabundos Que se poem a gemer com voz recalcitrante.””* Os sinos, que outrora anunciavam os dias festivos, foram excluidos do calendério, como os homens. Eles se assemelham as pobres almas que se agitam muito, mas néo possuem nenhuma clelo dos astros esté em harmonia absolita com este movimeat com um anélogo. E eu media dessa forma a iregularidade dé cari 0 sobre a lareira e dos relégios de bolso das pessoas presentcs. Seas fiquetaques ‘me enchiam os ouvidos. Os minimos desvios do rites Getto... me afetavam, da mesma maneira que me afronta a violasio da verdade abstrata entre os homens.” (Poe, op. cit, p. 62, p. 3360) ‘SOBRE ALGUNS TEMAS. 37 .P vyers0s de O Gosto do Nada, que se acrescentam 08 outros jé citados. “Contemplo do alto tera esérica ¢ sem cor, E nem procurou mais o abrigo de uma gruta.” XI Se chamamos de aura as imagens que, sediadas na mémoire involontaire, tendem a se agrupar em toro de um objeto de ercepsio, entdo esta aura em tomo do objeto corresponde & propria experigncia que se cristaliza em um objeto de uso sob a forma de exercicio. Os dispositivos, com que as cfmeras © as aperethagens anélogas posterores foram equipedas, ampliaram conquista para a sociedade, na qual o exercicio se atrofia. * 0 declinio da experiéncia se manifesta em Proust no &xito completo ‘SOBRE ALGUNS TEMAS consegue se saciar ao ver uma pintura, uma fotografia significa, antes, o memo qo line pas «fone os Be pr pela “estupidez da grande massa’, “Esta ideal que the fosse digno e correspondesse sua natureza... ‘Um deus vingativo ouviu-thes as preces e Daguerre se tornou seu profeta.”” Nao obstante, Baudelaire se esforcou por ter uma visio mais conciliadora. A fotografia pode se apoderar, sem ser molestada, das coisas transit6rias, que tém o direito “a um lugar natureza com o homem. Quem é visto, ou acredita estar sendo (© momento em que isto sucede, por sua vez, nflo mais se repete. 6 edo argittice'da bea de Prout so basis cisto: cada uma das situagdes, nes quais o cronista 6 bafejado com o hilito do tempo perdido, te toma, por isso, incompardvel e destacada da seqiéncia do tempo. ““O homem o cruza em meio a um bosque de segredos Que ali o espreitam com seus olhos familiares." 1 desereveu assim: *Quanto mais de perto se olha uma SOBRE ALGUNS TEMAS mt Quanto mais consciente disso foi Baudelaire, tanto maior seguranga com que inscreveu em sua obra poética o declinio da aura, Isto aconteceu de forma cifrada; encontrase em quase s 5. Fasci- nado por esses olhos, o sexo, em Baudelaire, se dissociou de Eros, Se os versos de Goethe em Ansia bem-aventurada “Nenhuma distincia te impede De vir voando, fascinado”, so vélidos para a descriclo cléssica do amor, saturado com a experiéneia da aura, entio dificilmente haveré na poesia lirica ‘yers0s que to decididamente Ihes fagam frente quanto 0s baude- Inirianos. que se seguem: “Eu te amo como se ama a abGbada noturna, © tnga de tristeza, 6 grande taciturna, E mais ainda te adoro quanto mais te ausentas E quanto mais pareces, no ermo que omamentas, Moltiplicar irdnica as celestes Iéguas Que me separam das imensidées sem trégua.”” Umm olhar poderia ter efeito tanto mais fascinante quanto mais profunda fosse a distancia daquele que olha ¢ que foi superada nese olhar. Esta distincia continua intacta nos olhos que refle- tem o olhat como um espelho. Estes olhos, por isso mesmo, nada conhecem da distincia. Baudelaire incorporou sua brilhantez polida a. verso engenhoso: Mergutha os olhos nos olhos fixos Das Satiresas ou das Nixes. Satiresas e nfiades nfo mais pertencem & familia humans. Encontram-se A parte. Batudelaire introduziu na poesia, de forma we WALTER BENJAMIN memordvel, o olhar carregado de distincia como um olha fiar9! Ele, que no constituiu famflia, dotou a de uma textura impregnada de promessas rent presa de olhos desprovidos de olhar e se abandona, s sua mercé. “Teus olhos, cuja luz recorda a dos lampejos E dos ritilos teixos que ardem nos festejos, Exibem arrogantes uma vi nobreza."”? ““A estupidez — escreve Baudelaire em uma de suas pri ublicagdes — 6 freqiientemente um ormamento da bel sracas a ela que os olhos sSo tristes e transhicidos como ‘nos sombrios, ou tém a calma untuosa dos mares tropi esses olhos ganham vida, entéo é a vida da fera esprei Presa e, simultaneamente, acautelando-se. (Assim também pros- tituta, espiando os transcuntes e, ao mesmo tempo, vigilante devido & policia. © tipo fisionémico produzido por este modo de vida, Baudelaire 0 reencontrou nos numerosos desenhos con- sagrados por Guys as prostitutas. “Ela fixa os olhos no horizonte, hhaviam chegado 20 ponto de serem obrigadas rem ‘mutuamente, por longos minutos ou mesmo horas, sem se diri- girem’ a palavea.”95 © olhar prudente prescinde do sonho que divaga no longinquo, podendo chegar a sentir algo como prazer na sua degradaséo. A curiosa citagio absixo deveria talvez ser lida & luz desta con. cepsio. No Saldo de 1859, Baudelaire passa em revista os qua. dros de paisagem para concluir com uma confissio: “Eu gostaria de ter de volta os dioramas com sa me . SOBRE ALGUNS TEMAS us Sine i ‘i toe de me impor uma ilusio dil, Prefiro olhar alguns cenérios teatro, nos quais encontro, tratados habilmente em trégica con- cisdo, os meus mais caros sonhos. Estas coisas, porquanto absolu- tament , estfo por isso mesmo infinitamente mais préximas ‘concisio trdgica”. Baudelaire insiste no fascinio da dis © avalia uma paisagem diretamente pelo padréo das. “‘Vaporoso, o Prazerfugiré n0 horizonte Como uma sifide por trés dos bastidores.’ xIL As Flores do Mal foram a tiltima obra lirica a exercer influén- mais ou menos retrtas de uma lingua. A isto se acres- cente ainda que Baudelaire concentrou sua forca criativa quase Inteiramente neste livro. E, finalmente, nfo se pode refutar 0 fato de que alguns dentre os seus temas considerados na pre- sente andlise colocam em questio a possbilidade mesma de uma poesia lirica, Estes trés fatos determinam Baudelaire historica- mente. Eles mostram com que firmeza Baudelaire assumia sua causa. Estava plenamente cOnscio de sua missio. E de tal modo que designou como sua meta “criar um padrdo”.™ E via nisso 1 condigio para todo e qualquer Irico futuro. Tinka pouco prego por aqueles que no se mostravam & altura dela, “Tomais caldo de ambrosia? Comeis costeletas de Paros? Quanto se aga por uma lira na casa de penhores?”™ O lirico de auréola “4 WALTER BENJAMIN para publicagSo”, E permaneceu até hoje despercebido na lite- ratura sobre Baudelaire. “— Ora, ora, meu carol O senhor! Aqui! Em um local mal aauréola ¢ pedir a0 comissério que a recupere. — Por Deus! Néo! Sinto-me bem aqui. Apenas o senhor me reconheceu. De resto, entedlase glia, Alem dito aprae o pensemenio que a ae °° dso: Baudelaire assinala esta experiéncia, entre todas as + 2 bem possivel que © motivo para esta prosa teaha sido um choque topic, Tanto mas eveladore 6 forma que o,rescona obra do ‘SOBRE ALGUNS TEMAS 4s que fizeram de sua vida aquilo que ela foi, como 0 critério verdadejro ¢ insubsttufvel. Para ele bavia se spagado a ilusio ccéu do Segundo Império como “sto em smote Notas 1. Chasis Baudelaire, As lores do Mal, tad. Ivan Junqucrd, Rio de Jeno, Nove Pet, 93, 2" de, p10 (Os poems ded Fre ‘haba, Fala do ume Teoslo compentatGla ao Kolletivmensch (sr bu: ‘mano coletivo). Diz Jung: "O Kollektivmensch ameaga sufocar 0 individuo, 6 WALTER BENJAMIN aquele individuo em cuja responsabilidade repousa, enfim, pode parecer um insiante, preechida por usa vida pelclegceintensa, (N. do RT), A la recherche du temps perdu, tomo 1: Du coté de , P69. Der berraschie Psychologe. Uber Erraten und Vers- orginge, Leiden, 1955, p. 152. J, Jenseits des Lustprinzips, Viens, 1923, de Phtinte. Petit manuel de Vhomme élégant, Pats, 1923, p. 239. SOBRE ALGUNS TEMAS “7 "22. Cf. Firmin Mail, La ctf des intelotul, Pais, 1905, p36 52, Freich Engl, De Lage der arelenden Klas en England Nach cigner Anschauung und authentischen Quellen, Leipzig, 1848, 2° ed., P. 36s. ‘33. Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Werke. Vollsténdige Ausg, durch ‘einen Verein von Freunden des Verewigten, Tomo 19: Briefe yon und an Hegel. Ese por Ku Hea Leipzig, 1887, 2° parte, p. 257. bert’ Intéreurs, avis, 192, p. 22. 47. Volley, Cahier B 1910, Paris, p. 886. 48. UL, p. 355. 49, Karl Marx, Das Kapital. Kritik der politischen Okonomie. Unge- ‘irate Ausgabe nach der 2. Aufl. von 1872, Ed. Karl Korsch,, tomo 1, 48 WALTER BENJAMIN SOBRE ALGUNS TEMAS 49 Encyclopédie frangalse, tomo 16: Arts et atures dans la société contemporaine I, Paris, 1935, fasc. 16/045/6. fl. Proust, A la recherche du temps perdu, tomo 8: Le temps hhandechrifichen Nachlasses yon Emst Heilbron,

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