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Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul

Campus Virtual

Atividade de Avaliação a Distância 1

Disciplina/Unidade de Aprendizagem: História Militar Brasileira: Período Republicano


Curso: Especialização em História Militar
Professor: Luiz A R Nascimento
Nome do aluno: Carlos Augusto Lara Silva
Data:

Orientações:
 Procure o professor sempre que tiver dúvidas.
 Entregue a atividade no prazo estipulado.
 Esta atividade é obrigatória e fará parte da sua média final.
 Encaminhe a atividade via Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA).

CONTEXTO

Estude o livro didático, particularmente as Unidades de 1 a 3. A partir daí, escolha


uma das revoltas internas ocorridas no período compreendido entre a Proclamação da
República (1889) e o início da Era Vargas (1930). Busque dados sobre a revolta
escolhida com o objetivo de “apresentar um estudo sobre o evento sob a ótica dos
aspectos militares”.
A revolta escolhida terá seu estudo dentro dos aspectos militares que ela
apresentou. A escolha recairá, preferencialmente, sobre revoltas com uma duração
prolongada, as quais serão capazes de oferecer uma reflexão maior sobre suas causas e
oferecer consequências mais tangíveis para seu estudo. O aluno (a) terá a liberdade de
escolher seu tema e seu enfoque, não perdendo de vista os aspectos militares do evento.
EXECUÇÃO

Construa o seu estudo dentro do modelo contido nestas instruções. Redija dentro
das regras previstas nas ABNT NBR 6023, 10520, e 14724. O estudo se constituirá em
três partes:
a) Introdução - contextualizar o conflito e apresentar o seu objetivo de pesquisa;
b) Desenvolvimento - apresentar:
1) um resumo das forças em conflito;
2) mapa (s) com a localização do evento;
3) imagens do evento;
4) armamentos utilizados no evento; e
5) cronologia dos eventos da revolta.
c) Considerações Finais - apresentar as consequências dessa revolta para a
História Militar do Brasil.
d) Referências – incluir a fundamentação para a pesquisa: artigos; livros;
monografias; dissertações; teses; sites; etc.

REGRAS ESPECÍFICAS DE REDAÇÃO:

1) não redigir seu texto na primeira pessoa (singular e/ou plural);


2) não empregar aliterações (exemplo: desenvolvimento do planejamento);
3) não empregar EXPRESSÕES ATEMPORAIS (nunca, sempre, atualmente,
hoje, ontem, nos nossos dias, amanhã, etc);
4) não utilizar frases com sujeito OCULTO;
5) não redigir parágrafos com menos de QUATRO linhas;
6) não redigir parágrafos com mais de SEIS linhas;
7) não utilizar locuções verbal (união de dois ou mais verbos). Exemplo: não
redigir VÃO IR, mas sim IRÃO;
8) não utilizar GERUNDISMO (exemplo: estar aguardando);
9) redigir parágrafos com recuo na primeira linha;
10) não utilizar frases com sujeito INDETERMINADO;
11) não utilizar frases com erros de concordância;
12) não utilizar ATRAVÉS no lugar de POR MEIO DE;
13) não utilizar REGIONALISMOS;
14) não utilizar GÍRIAS;
15) não iniciar frases com pronome do caso OBLÍQUO, seguido (ou não) de
verbo.
16) não redigir frases com erros de ortografia;
17) não redigir palavras com erros de acentuação gráfica;
18) não redigir frases com uso de EXPRESSÕES IMPRÓPRIAS, de cunho
ofensivo ou preconceituoso;
19) não citar itens por meio de “bolinhas” ou outras ilustrações disponíveis no
editor de textos; e
20) iniciar a primeira linha do parágrafo com pelo menos 1 um) centímetro de
recuo.

AVALIAÇÃO

a) Introdução: 1 (um) ponto);


b) Desenvolvimento: 5 (cinco) pontos;
c) Considerações Finais: 1 (um) ponto;
d) Referências, com todas as chamadas feitas no texto do trabalho: 1 (um) ponto;
e) Conformidade às ABNT NBR 6023, 10520 e 14724: 1 (um) ponto; e
f) Conformidade às Regras Específicas de Redação: 1 (um) ponto.

PRAZO DE ENTREGA

a) prazo: entrega até 10 de fevereiro de 2017 (sexta-feira);


b) prazo-limite: 13 de fevereiro de 2017 (segunda-feira)
c) observações: a entrega da AD além do prazo, até o prazo-limite, sofrerá o
desconto de 1 (um) ponto após finalizada a correção. A AD entregue além do prazo-
limite terá sua correção feita, mas receberão nota 1 (um). AD não entregue receberá a
nota 0 (zero).
d) o limite final de entrega da AD é a véspera da finalização da UA.
AVALIAÇÃO

ITEM CRITÉRIO VALOR PONTOS


01 Introdução 1,00 1,00
02 Resumo das forças em conflito 1,00 0,50
03 Mapa (s) com a localização do evento 1,00 0,00
04 Imagens do evento 1,00 1,00
05 Armamentos utilizados no evento 1,00 0,50
06 Cronologia dos eventos da revolta 1,00 0,00
07 Considerações Finais 1,00 1,00
08 Referências 1,00 1,00
09 Conformidade às ABNT NBR 1,00 1,00
10 Conformidade às Regras Específicas de Redação 1,00 1,00
TOTAL PARCIAL 10,00 7,00
TOTAL GERAL 7,00

Parabéns pela abordagem desse capítulo difícil de nossa historiografia. Caso seu
TCC seja nesse tema sugiro pesquisar também o livro DIÁRIO DE CAMPANHA de
Euclides da Cunha.
Não existe um item específico Resumo das forças em conflito.
Não existe Mapa (s) com a localização do evento.
Não existe um item específico Armamentos utilizados no evento.
Não existe um item específico Cronologia dos eventos da revolta.
Sugiro fazer o recuo da primeira linha do parágrafo com a régua disponível no
editor e texto. Visa aperfeiçoar seu trabalho.
Conforme ABNT NBR 14724 são REFERÊNCIAS, não REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS.
Sugiro colocar o nome completo da editora (Biblioteca do Exército) não Bibliex.
Visa aperfeiçoar seu trabalho.
Guerra de Canudos : resistência no Nordeste brasileiro
1. Introdução
O estudo da História e da História Militar de uma nação possibilita o
entendimento de sua cultura estratégica, ou seja, a capacidade que cada povo tem de
reagir ou adaptar-se a determinada situação. A História Militar brasileira está repleta de
exemplos que confirmam essa exposição. Em 1630, ainda colônia de Portugal, ao ser
invadida pela Companhia das Índias Ocidentais, que no contexto da Guerra dos 30 anos
europeia resolvera trazer a guerra para o solo brasileiro, vê a “nação” levantar-se contra
o invasor.
Nesta ocasião, o “povo brasileiro” demonstrou, de forma clara, a sua cultura
estratégica. Emboscadas, ataques indiretos ao inimigo e resistência, forma brasílica de
lutar. O holandês, que no contexto da época havia aperfeiçoado a guerra e tinha um dos
melhor exércitos do mundo, não sabia como lidar com o desconhecido. Porém, a
importância de conhecer a História para não cometer erros futuros muitas vezes é
negligenciada. Nas palavras de Clausewitz : “Os exemplos históricos esclarecem tudo;
possuem, além disso, um poder demonstrativo de primeira categoria [...]. Isto verifica-
se na arte da guerra mais do que em qualquer outro campo.” (CLAUSEWITZ, 1979,
p.191)

O Exército Brasileiro, entre 1896 e 1897, deparou-se com o mesmo


desconhecido que rechaçou as tropas estrangeiras há 300 anos. No interior da Bahia, a
mesma cultura estratégica brasílica incorporou-se a um bando de sertanejos, que mal
armados e vestindo farrapos, conseguiu se contrapor às tropas do governo. Em quatro
expedições, o governo da recém proclamada República, buscou a vitória sobre os
sertanejos de Canudos, concretizando assim, mais um episódio da História Militar
Brasileira.

2. Análise do conflito
O contexto do Brasil na época de Canudos era assolador. A crise na economia
vinha se alastrando durante a Monarquia e veio a consolidar-se com a República. O
nordeste há muito havia deixado de ser o centro econômico da nação e o café,
particularmente de São Paulo, fez aumentar ainda mais a discrepância social do sertão
em relação às áreas mais desenvolvidas da República.
Neste contexto conturbado surge Canudos, um epicentro de crença e mágoa, no
interior de Bahia. À frente da nova sociedade encontrava-se Antônio Conselheiro, um
homem que talvez seja o arquétipo perfeito para a compreensão dos outros habitantes da
cidade : homem sofrido, que aspirava à uma vida melhor. O sertanejo, após desavenças
familiares, começa a sua peregrinação pelo sertão, sempre acompanhado de uma fé
inquebrantável, ajudando na construção de igrejas e cemitérios. Em sua aventura pelas
terras áridas do nordeste brasileiro, Conselheiro se converte em uma espécie de
libertador divino, faltaria apenas a morada terrestre, o bastião da liberdade almejada.

2.1 O surgimento da cidade


A região escolhida por Antônio Conselheiro, conhecida como Canudos, era uma
antiga fazenda de gado às margens do Rio Vaza-Barris. Em seu ápice a cidade pode ter
habitado um total de 25 mil pessoas, o que a converteria na segunda cidade mais
populosa do estado da Bahia. O contingente de excluídos que acompanhava Conselheiro
era constituído, basicamente, dos sertanejos que viviam nas redondezas, incluídos aí ex-
escravos. Nas palavras de Oliveiras Litrento :
Na verdade, Canudos, entre os afluentes efêmeros do Vaza-Barris, havia se
transformado num templo. A velha fazenda de gado, que tanto havia
prosperado, tendo para ela convergido populações sucessivas de vilarejos
\vizinhos e até de cidades distantes, aceitava, agora e constantemente, os
contingentes de Inhambupe, Tucano, Cumbe, Itapicuru, Bom Conselho,
Natuba, Massacará, Monte Santo, Geremoabo, Uauá, Entre Rios, Mundo
Novo, Jacobina, Itabaiana.(LITRENTO, 1998. p.95)

Imagem 1 : casa típica da cidade de Canudos


Fonte : Canudos : Imagens da Guerra, 1997, p.39

2.2 Entre a cruz e a espada : quem eram os combatentes ?


Os aspectos que contribuíram para a preocupação dos governantes em relação a
Canudos podem ser interpretados de diversas maneiras. Primeiramente, a nova cidade
pregava a igualdade entre os habitantes, existia direito à terra, moradia. Outro fator foi o
êxodo repentino de milhares de famílias da região para Canudos, o que acarretou o
esvaziamento de mão de obra em alguma propriedades e consequentemente causou
desagrado nos grandes proprietários rurais.
Outro indício, este aumentado durante a guerra, era que a cidade era uma
espécie de Centro de uma Revolução Monarquista, que iria alastrar-se por todo o Brasil.
Portanto, é certo afirmar que foram vários os motivos que culminaram para o início do
conflito.
O Exército Brasileiro, apesar de estar presente nos principais acontecimentos
políticos da época, estava muito aquém de uma força profissional. À época de Canudos
não havia coesão entre os oficiais e praças e o treinamento era muito insuficiente.
Porém, um dos sistemas que mais contribuiu para ineficácia inicial do exército foi a
logística.
A possibilidade de um conflito prolongar-se durante muito tempo sempre estará
ligada ao grau de adestramento e disponibilidade de material, entretanto, antes do
Marehal Bittencourt somar esforços à luta, esse sistema era praticamente inexistente e
mal organizado. Falta de munição, alimentação escassa e fardamento inadequado são
evidências claras encontradas na tropa em 1896 e 1897.
Do outro lado do conflito estavam os sertanejos, pessoas simples, mal armadas,
mal vestidas e sem uma força regular instituída. Todos os homens eram aptos à luta.
Para contrapor as assimetrias evidentes, os sertanejos souberam aproveitar o
conhecimento da região e a adaptação ao terreno praticamente inóspito do sertão. Para
Euclides da Cunha : “A natureza toda protege o sertanejo. Talha-o como Anteu,
indomável. É um titã bronzeado fazendo vacilar a marcha dos exércitos”. (CUNHA,
2002, p. 245)
3. Início do conflito : da madeira ao fogo
Aliado aos incentivos já citados que levaram à invasão de Canudos, está um
incidente envolvendo Antônio Conselheiro e um comerciante de madeira localizado em
Juazeiro. O líder da cidade havia encomendado um lote de madeira com objetivo de
terminar a construção da Igreja Nova, tendo pago antecipadamente a encomenda.
Porém, o comerciante teria se negado a entregar o insumo. Os fatos que se sucederam a
partir deste momento iriam marcar as páginas da História do Brasil e do Exército
Brasileiro.
3.1 A primeira expedição
Com o descumprimento do comerciante de Juazeiro, surgiu a ideia de que os
sertanejos iriam revidar, provavelmente com a invasão da cidade. Diante dos boatos, o
Dr. Arlindo Leoni, Juiz de Direito de Juazeiro, solicitou ao Governo da Bahia uma força
policial para prover a segurança da cidade, porém a polícia estava desfalcada e o
governador transferiu a solicitação ao General Frederico Solón, comandante do 3º
Distrito Militar. Coube ao tenente Manuel da Silva Pires Ferreira o comando da tropa de
apoio. Estava formada a primeira expedição.
Em 04 de novembro a expedição parte em direção de Canudos, porém esses
primeiros combatentes não chegariam nem próximo ao objetivo, pois conselheiristas
transmutariam as estradas desertas em campo de batalha. No dia 19 de novembro a
expedição chega a Uauá, lugarejo habitado em sua maioria por adeptos de Antônio
Conselheiro, distante 193 quilômetros do ponto de partida. Oliveiros Litrento relata a
dificuldade enfrentada pela tropa :
Aquela marcha até Uauá, de sete dias, dificílima pelo desconhecimento do
local, vinda de Juazeiro, já distante, não apenas através do áspero solo
pontiagudo era agravada ainda pela falta absoluta de apoio do Governo
estadual. A terra calcinada envolvia os expedicionários com o calor cada vez
mais quena força, extenuadíssima, encontraria, em Uauá, jagunços que a
esperavam para aniquilá-la.(LITRENTO, 1998, p.111)
O tenente Pires Ferreira e a expedição estacionaram no terreno de Uauá para o
merecido descanso, enquanto em sua volta os sertanejos orquestravam a primeira de
muitas emboscadas. No dia 21 uma força de 500 sertanejos, agora transmutados em
guerrilheiros, foram de encontro à tropa, em sua maioria armados de facões, porretes e
espingardas de carregamento pela boca.
Apesar de efetivo inferior, os militares tinham vantagem em armamentos, porém
a tática dos sertanejos causou um impasse que seria recorrente nas próximas expedições
: o aperfeiçoamento da guerra brasílica, a guerrilha sertaneja. Diante de tais
acontecimentos, e com um saldo de oito militares mortos, o tenente, acertadamente,
opta pelo regresso a Juazeiro. Estava terminada a primeira expedição. A guerra estava
apenas começando.
3.2 A segunda expedição
Após a derrota da primeira expedição, outro fator passou a contribuir para a
necessidade da destruição de Canudos : a honra do exército havia sido manchada. O
comandante escolhido para a nova missão foi o Major Febrônio e estava constituída de
mais de 600 homens, provenientes do 9º, 26º e 33º batalhões reforçados por uma força
policial baiana.
A artilharia teria a sua primeira participação, pois os militares conduziram dois
canhões Krupp 7,5. A infantaria também recebeu um reforço : duas metralhadoras
Nordenfeld. Todo esse aparato, na visão dos militares da época, seriam suficientes para
conseguir a almejada vitória sobre uma cidade habitada por sertanejos sem treinamento
militar.
No dia 12 de janeiro de 1897 a Segunda Expedição parte para Canudos. O
comandante da missão, envolto em um otimismo exacerbado, havia deixado parte do
carregamento de munições em Queimadas. O sofrimento causado pelo itinerário quente
e desgastante foi o mesmo vivido pelos primeiras militares a adentrarem o sertão. Mais
uma vez Euclides da Cunha descreve, com bastante clareza, o martírio da tropa :
Caminhavam vagarosamente. Atulhavam as primeiras ladeiras cortadas a
meio encosta. Seguiam devagar, sem aprumo, emperradas pelos canhões
onde se revezavam soldados ofegantes sem auxílio aos muares impotentes à
tração vingando aqueles declives. (CUNHA, 2002, p.265)
Neste cenário aterrador, ao transpor a estrada do Cambaio, surgem os guerrilheiros,
como fantasmas, conduzindo mais uma bem-sucedida emboscada. Após reorganização
inicial a artilharia fez a sua primeira aparição, causando espanto nos sertanejos. Após 5
horas de combate, a tropa consegue obter o controle da localidade e decidi acampar às
margens da lago do Cipó, distante apenas dois quilômetros de Canudos. Ao amanhecer
o acampamento se transformaria.
Na manhã do dia 19 de janeiro a tropa acordou sob uma calmaria suspeita e um arraial
quieto, sem sinal do “inimigo”, diferente do relatado pela primeira expedição. Os
acontecimentos seguintes são narrados da seguinte forma por McCann:
Ao primeiro disparo do canhão, os sertanejos, que em silêncio durante a
noite haviam cercado os soldados, pularam de seus esconderijos e
arremeteram em direção às fileiras de praças, gritando e brandindo barras de
ferro, foices, forcados e facões. (McCann, 2009, p. 71)
Os sertanejos, claramente, sabiam usar o que hoje por convenção é chamado de
estratégia indireta. O objetivo das operações guerrilheiras sempre foi desgastar o
oponente até o sacrifício máximo. Acalmada a emboscada, os guerrilheiros atacavam de
longe, aproximam-se com zombarias e provocações. Mais uma vez era a Guerra do
Sertão que havia obtido o êxito, pois a Segunda Expedição, impossibilitada de reagir,
inicia a sua retirada.
3.3A terceira expedição : do otimisno à fuga
A arte da guerra dos sertanejos ia obtendo êxitos a cada fase do conflito e as
forças federais perdiam sua credibilidade a cada derrota. O militar escolhido para ser o
comandante da Terceira Expedição, não lutaria apenas pela vitória militar, mas também
pela honra do Exército Brasileiro. Coronel Moreira César, que já havia certa fama no
meio militar, foi o nome escolhido. A expedição iria agora com 1300 militares, oriundos
do 7º Batalhão de Infantaria, 9° de Cavalaria e uma bateria de artilharia.
A nova “cruzada” partiu de Salvador no dia 7 de fevereiro de 1897 com as
principais falhas que as duas expedições antecessoras haviam demonstrado. Seja por
alta confiança na vitória ou pela falta de treinamento, o comandante simplesmente
descartou as informações das outras expedições, o que poderia ter sido usado em seu
favor. Após uma marcha que evitou caminhadas rápidas, a expedição alcança, em 2 de
março, o Rancho do Vigário, localidade a 19 quilômetros de Canudos.
A localidade serviu de descanso para a tropa e no dia 4 de março a guerra
voltaria a fazer parte do cotidiano daquela região. Após receber alguns ataques
guerrilheiros , a Coluna inicia o ataque à cidade. Canudos dessa vez seria “visitada”
pelos soldados, porém a cidade se converteria em um labirinto, causando o
desaparecimento da ordem e da disciplina das formações. Já dentro da cidade, os
soldados acabaram se transformando em alvos fáceis para os conselheiristas.
O Coronel Moreira César tentou de todas as maneiras organizar a tropa, porém
mais uma vez os soldados habituados a uniformes e formaturas estavam envoltos no
combate irregular. Em uma manobra em busca de organização o comandante da missão
foi atingido. Era o fim da Terceira Expedição. Euclides da Cunha narra o ato do chefe
expedicionário : “E descia. A meio do caminho, porém, refreou o cavalo. Inclinou-se,
abandonando as rédeas, sobre o alção dianteiro do selim. Fora atingido no ventre por
uma bala.”(CUNHA, 2002, p.330)
O segundo na hierarquia era o coronel Tamarindo que assumiu a tropa já
praticamente com sentimento de derrota. Ao cair da noite, os corneteiros tocaram a
retirada, pois na época a arte da guerra prescrevia apenas o combate à luz do dia. A
imagem do acampamento era desastrosa. Coronel Moreira César agonizava antes de sua
morte, centenas de soldados gemiam de dor e os médicos empreendiam um trabalho
hercúleo para, no mínimo, tentar diminuir o sofrimento dos combatentes.
Na madrugada, sob o terreno que havia prometido sagrar-se vitorioso, morre o
coronel Moreira César. A única opção que restou para o novo comandante,
considerando a tropa mal treinada e a falta de motivação, foi a retirada definitiva. Às
seis da manhã dá-se início a retirada, que se transformaria em uma desastrosa fuga sem
comando e controle. Frank D. McCann ilustra com clareza a situação aterradora :
Os que carregavam as macas abandonaram os feridos, depressa alcançados
pelas facas dos inimigos, que também mutilaram e queimaram o corpo de
Moreira César. O capitão Joaquim Quirino Villarim lutou sozinho até o fim.
O capitão José Agostinho Salomão da Rocha, com meia dúzia de homens,
tombou defendendo os quatro Krupps que davam a única cobertura aos
soldados em fuga. ( McCann, 2009, p.76)

A Terceira Expedição estava derrotada e havia fortalecido os sertanejos, pois na fuga


vários militares deixaram o equipamento para trás. Carabinas, fuzis, munições,
mochilas e os canhões serviram para o rearmamento dos conselheiristas. Os mortos que
ficaram para trás foram alinhados na estrada, como simbolizando a morte que havia se
tornado uma atividade corriqueira no sertão.
3.4 A quarta expedição : a Guerra Total
A derrota da expedição de Moreira César acirrou os ânimos da República. A
ideia de um reduto monarquista no interior do Brasil expandiu e diversos incidentes
ocorreram no Rio de Janeiro, como : o assassinato de Gentil José de Castro e destruição
de diversos jornais na capital. O comando da nova expedição coube ao General Arthur
Oscar, então comandante do 2º Distrito Militar, que instalaria seu quartel-general em
Queimadas.
A nova expedição utilizaria militares de diversas unidades do Brasil. Rio de
Janeiro, Pernambuco, Maranhão, Paraíba e Rio grande do Sul cederam soldados à nova
cruzada. Na análise de Euclides da Cunha em relação aos integrantes :
Deslocaram-se batalhões de todos os Estados : 12º, 25º, 30º, 31º, 32º do Rio
Grande do Sul; o 27º, da Paraíba; o 34º, do Rio Grande do Norte; o 33º e o
35;, do Piauí; o 5º, do Maranhão; o 4º, do Pará; o 26º, de Sergipe; o 14º e o
5º, de Pernambuco; o 2º do Ceará; o 5º e parte do 9º de Cavalaria, Regimento
de Artilharia da Capital Federal; o 7°, o 9º e o 16º, da Bahia.(CUNHA,2002,
p. 225)
O 7º Batalhão de Infantaria, após ser reorganizado e reforçado, voltaria ao teatro
de operações. A expedição foi dividida em duas colunas de quatro brigadas cada uma.
A primeira coluna seria comandada pelo General João da Silva Barbosa e a segunda
pelo general Cláudio do Amaral Savaget.
A estratégia utilizada pelo comando foi diferente, pois as colunas seguiram por
caminhos diferentes e somente se agrupariam para o ataque. A primeira coluna partiu
pelo caminho de Monte Santo e a tropa do General Savaget, após agrupar-se em
Sergipe, partiu em direção a Canudos via Jeremoabo. A logística mais uma vez
influenciaria no desempenho dos militares. A segunda coluna havia realizado um
planejamento mais apurado em relação a suprimento, o que iria confirmado no próprio
terreno.
A coluna do General Savaget chegou à fazenda Cocorobó em 25 de junho e
travou seu primeiro contato com a guerrilha. Os conselheiristas haviam organizado a
defesa partindo de elevações rochosas, transformando as rochas em uma fortaleza
natural. Após um impasse causado pela bem organizada defesa, o comandante decidi
por uma manobra ousada : os sertanejos iriam ser desalojados pelas baionetas do
Exército Brasileiro. A fazenda distava oito quilômetros de Canudos, e a segunda coluna,
no dia 27 avistou Canudos.
A tropa que estava sob o comando do General Barbosa havia chegado, no dia
27, com certa tranquilidade até o monte de Favela, de onde se avistava o arraial. Nesta
localidade a tranquilidade se transformaria em desastre. O primeiro combate travado
pela coluna custou a vida de muitos oficiais e praças. Após a reorganização, os militares
ocuparam uma posição mais vantajosa, porém o impasse já havia se instalado. Os
sertanejos ocuparam uma posição entre as duas colunas, isolando o apoio entre os
generais.
A munição estava se esgotando devido à falta de disciplina de tiro dos soldados
e ,demonstrando mais uma vez a falta de planejamento, o restante das caixas haviam
permanecido nos acampamentos base, com o comboio de suprimentos. A coluna do
General Savaget ainda dispunha de ração e munição e acabou se transformando na
derradeira esperança da primeira coluna. O General Arthur Oscar, que havia
permanecido com a primeira coluna, envia mensageiros ao General Savaget solicitando
ajuda.
O comandante da segunda coluna, tendo como única opção viável, empreende o
flanqueamento da cidade e consegue restabelecer o contato com a tropa do General
Barbosa. O cenário era dos piores possíveis, pois a primeira coluna já estava sem
munição e sem rações para alimentação da tropa. A situação tática também não era
favorável : agora as duas colunas estavam dentro do cerco dos sertanejos.
A situação dos sitiados era penosa e a indisciplina crescia na medida que a
comida escasseava. No dia 13 de julho os Coronéis Medeiros e Caldas retornam à
posição com suprimentos dando nova esperança aos atacantes e um ataque foi planejado
para o dia 18. Nas palavras de McCann : “Seria um ataque em massa de 3349 homens
organizados em cinco brigadas, com uma unidade de cavalaria e um destacamento de
artilharia levando dois Krupps de 75 mm.” ( MCCANN, 2009, p.91)
O ataque rompe o cerco e ocupa uma parte da cidade, porém o custo foi
altíssimo. O avanço causa mais de mil baixas entre os militares e aumenta o sofrimento
dos já desgastados soldados. Os sertanejos, agora sitiados, utilizariam, de forma
frenética, a estrategia do desgaste, pois após o ataque de 18 de julho a troca de tiros foi
constante. No dia 24, os sertanejos atacaram as linhas em busca do resgate da
mobilidade, porém foram rechaçados. Diante do novo impasse, o comandante da
expedição solicita reforço imediato.
Em agosto ocorre um fato que mudaria o curso dos combates : Marechal
Bitencourt, ministro da Guerra chega a Monte Santo e inicia o planejamento e
reorganização das operações de suprimento. Outro objetivo do ministro era sitiar
totalmente a cidade e cortar a possibilidade de abastecimento dos sertanejos.
Durante o mês de agosto os reforços chegam ao teatro de operações e em 11 de
setembro o arraial se encontrava praticamente cercado. Em 27 de setembro chega mais
um reforço importante : o General Carlos Eugênio, irmão de Arthur Oscar, comandando
uma brigada. Na manhã de 1º de outubro a artilharia inicia o bombardeio da pequena
parcela da cidade não ocupada. O fim estava próximo.
Imagem 2 : destroços da Igreja Nova

Fonte: Canudos : Imagens da Guerra, 1997, p. 61


Os guerrilheiros que restaram assistiram ao triste fim de uma ideia que no
principio seria de igualdade e prosperidade. No dia 3 de outubro a utilização de
dinamite mostrou a intenção de realmente apagar da história o reduto monarquista que
iria se alastrar por todo o Brasil. Não havia mais resistência. O desconhecido havia
perdido a guerra.
4. Considerações finais
Entender o porquê uma missão aparentemente simples se tornou uma guerra
sangrenta não é uma tarefa simples. A Guerra de Canudos deve ser entendida como um
conflito irregular, onde a ortodoxia militar, presente no inicio da Republica, não sabia
como lidar. A arte da guerra do século XIX era quase científica, tendo como baliza os
ensinamentos de grandes generais.
Do outro lado do conflito estavam os sertanejos, guerrilheiros, jagunços e
conselheiristas, homens e mulheres do sertão. Para eles a arte da guerra era a prática, o
resultado no campo de batalha. Os partidários de Canudos lutavam por sua existência,
pois para eles a derrota seria a desaparição da cidade. Eles estavam certos. As
assimetrias de organização, tecnologias e de efetivos foram contrapostas no campo de
batalha.
Portando, como fenômeno social a guerra cumpriu seu objetivo de existência.
Colocou em confronto religião, política e classes sociais. Os erros existiram, entretanto,
devem ser entendidos no contexto geral do conflito. Abusos ocorreram entre as duas
partes, contudo, a guerra havia se tornado tão dramática, que episódios assim foram
incorporados em sua essência.

5.Referências bibliográficas
ALEXANDER, Bevin. A guerra do futuro. 1 ed. Rio de Janeiro: Bibliex, 1999. 224 p.

CUNHA, Euclides Da. Os sertões. 5 ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. 596 p.

LITRENTO, Oliveiros. Canudos: Visões e Revisões. 4 ed. Rio de janeiro: Bibliex,

1998. 262 p.

MAGNOLI, Demétrio. História das Guerras. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2015. 479 p.

MCCANN, Frank D.. Soldados da pátria: História do exército brasileiro 1889-1937. 1

ed. Rio de Janeiro: Bibliex, 2009. 706 p

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