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1 MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

Atualmente, as práticas de controle de pragas se baseiam, principalmente, na uti-


lização de produtos quı́micos, ocasionando inúmeros problemas ao meio ambiente e afe-
tando de forma direta e indireta a saúde humana. A degradação ambiental causada pelo
uso indiscriminado de pesticidas prejudica espécies que não são alvos, principalmente ini-
migos naturais e polinizadores, desequilibrando assim os ecossistemas. Ainda, o acúmulo
de resı́duos no ambiente pode causar o desenvolvimento de indivı́duos resistentes aos
inseticidas (GALLO et al., 2002).
Deste modo, o surgimento de diversas pragas resistentes a pesticidas, o ressurgi-
mento de pragas primárias, o surgimento de pragas secundárias e os efeitos adversos sobre
os inimigos naturais das pragas são alguns dos fatores que contribuı́ram para o surgimento
de estratégias de controle, baseadas no Manejo Integrado de Pragas.
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) surge justamente para tentar reduzir estes
problemas. Segundo Kogan (1998), o MIP pode ser definido como um sistema que é
baseado no uso de técnicas de controle, isoladamente ou associadas harmoniosamente,
com o objetivo de reduzir o uso de pesticidas, priorizando outras alternativas de controle,
como por exemplo o controle biológico ou o melhoramento de plantas. Assim, para que
as estratégias de controle tenham sucesso é necessário ter o conhecimento dos aspectos da
população e também é preciso considerar os aspectos ambientais.
As principais etapas para a implantação do MIP são:

1 - Avaliação do ecossistema
Nesta etapa, é feito o reconhecimento das espécies com potencial para causar da-
nos econômicos, e uma vez reconhecidas, proceder a correta identificação taxonômica e
também o estudo de sua biologia e ecologia. Ainda, é importante reconhecer os inimigos
naturais, pois estes são responsáveis por manter o equilı́brio populacional das pragas, e
desenvolver técnicas de criação ou produção das espécies de controle para que posterior-
mente serão liberadas ou pulverizadas.
Outro fator que deve ser observado nesta etapa são os efeitos do clima sobre a
cultura e sobre os insetos e seus inimigos naturais, bem como fazer o acompanhamento do
desenvolvimento da planta e sua suscetibilidade, nos diferentes estágios de crescimento,
ao ataque dos insetos-praga.

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Por fim, faz-se necessário o acompanhamento da propagação das espécies de insetos-
praga que estão relacionadas de forma mais direta com a cultura e de seus inimigos na-
turais.

2 - Tomada de decisões
No MIP, temos três conceitos importantes para a definição da relevância da po-
pulação de insetos como pragas, que são: nı́vel de dano econômico (NDE), o qual é definido
por representar a menor densidade de insetos praga a partir da qual o controle torna-se
econômico; o nı́vel de controle (NC), representa a densidade populacional da praga onde
medidas de controle devem ser adotadas para que o NDE não seja atingido e o nı́vel de
equilı́brio (NE), que representa a densidade média populacional de insetos por um longo
perı́odo de tempo, onde não ocorrem mudanças permanentes no ambiente.
A partir destes conceitos, podemos classificar as pragas em: não econômicas ou
não-pragas, quando a densidade populacional das mesmas raramente atinge o NDE; oca-
sionais ou esporádicas, este tipo de praga a densidade populacional ultrapassa o NDE
somente em condições especı́ficas; perenes ou normais, a densidade populacional das pra-
gas atinge o NDE com frequência e as pragas severas ou nocivas, quando a densidade
populacional sempre está acima do NDE, caso medidas de controle não são tomadas.
A tomada de decisões em relação ao controle deve ser adotada levando-se em conta
os aspectos econômicos da cultura e a relação custo/benefı́cio do controle da praga. Deste
modo, é necessário ter um bom conhecimento do valor estimado da produção, o custo dos
sistemas de controle a serem adotados e também a estimativa dos danos econômicos.

3 - Estratégias de controle
A principal estratégia de controle do MIP é atacar o inseto-praga e ”esconder”ou
fortalecer a planta e para alcançar este objetivo devemos selecionar o(s) método(s) mais
apropriado(s) para fazer o controle da(s) praga(s). Dentre os principais métodos podemos
citar (GALLO et al.,2002):

* Método de controle mecânico: controle que consiste na coleta e destruição


dos insetos-praga nas diversas fases do seu desenvolvimento. São utilizados em casos
especı́ficos;

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* Método de controle cultural: é baseado no emprego de certas práticas cultu-
rais para o controle, baseando-se nos conhecimentos ecológicos e biológicos das pragas.
As práticas mais usadas são: rotação de culturas, aração do solo, destruição do restos
de cultura, consórcio de culturas, podas, adubação e irrigação entre outros sistemas de
cultivo;

* Método de controle por resistência de plantas: faz o uso de plantas que são
melhoradas geneticamente ou que possuem caracterı́sticas genéticas especı́ficas o que as
torna resistentes quando atacadas por determinadas pragas;

* Método de controle fı́sico: consiste na utilização de barreiras fı́sicas com o ob-


jetivo de diminuir os nı́veis populacionais da(s) praga(s), incluindo práticas como fogo,
drenagem, inundação ou alteração na temperatura, entre outras;

* Método de controle biológico: ocorre de forma natural e consiste no controle


realizados por inimigos naturais do inseto-praga. É um dos mais antigos métodos de
controle de pragas;

* Método de controle quı́mico: consiste na aplicação de inseticidas para fazer o


controle populacional das pragas. É o método de controle mais utilizado na maioria dos
problemas envolvendo pragas.
Neste trabalho destacaremos o método de controle cultural, principalmente o
consórcio de culturas e o método de controle por resistência de plantas.

1.1 Método de controle cultural

Este método busca manipular o ambiente de cultivo para tentar impedir o de-
senvolvimento das pragas. Podendo ser alcançado reduzindo-se a capacidade suporte do
ecossistemas, através da ruptura das condições necessárias ao desenvolvimento da praga
e com a descontinuidade espacial. Ao contrário do controle quı́mico, o controle cultural
é um método usado para impedir o estabelecimento de uma praga e desta forma deve
ser considerado como a primeira alternativa de defesa contra essas espécies (PICANÇO,
2010).

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1.2 Método de controle por resistência de plantas

A resistência de plantas a insetos consiste basicamente de caracterı́sticas genéticas


que são herdadas pela planta, que fazem com que a mesma diminua o crescimento de
populações de insetos e seja menos danificada do que outras plantas suscetı́veis, que estão
nas mesmas condições (GULLAN e CRASTON, 2007).

Para Lara (1991) esta resistência é relativa, pois uma planta pode ser resistente
em determinadas condições e pode manter ou não essa caracterı́stica em outras condições.
Ainda, destacou que a resistência de uma planta está diretamente ligada com o inseto, ou
seja, uma planta pode ser resistente a determinada espécie mas suscetı́vel a outras.
De acordo com Gallo et al. (2002) e Lara (1991), existem três tipos de resistência
a insetos, que são: resistência do tipo não-preferência, resistência do tipo antibiose e
resistência do tipo tolerância. Muitas vezes esses tipos de resistências não ocorrem de
forma isolada, podendo assim as plantas desenvolverem qualquer combinação com essas
três caracterı́sticas.

* Resistência do tipo não-preferência: Também conhecida como antixenose. Este


tipo de resistência caracteriza-se pelo fato de a planta ser menos utilizada pelo inseto
para alimentação, oviposição e abrigo do que outras plantas nas mesmas condições. Isso
se deve por vários fatores que incluem defesas quı́micas e fı́sicas das plantas e deste modo
impedem a colonização e alimentação dos insetos. A diferença deste tipo de resistência
para os demais é que neste caso, existe uma resposta do inseto em relação à planta,
enquanto que nos outros casos existe uma resposta da planta em relação a atividade dos
insetos;

* Resistência do tipo antibiose: Este tipo de resistência ocorre quando o inseto se


alimenta de forma natural da planta e esta exerce um efeito adverso sobre o desenvolvi-
mento do mesmo. Alguns destes efeitos podem estar relacionados com a mortalidade nas
diferentes etapas de desenvolvimento dos insetos, redução no tamanho, peso e também
no tempo de vida. Os fatores da antibiose incluem toxinas, inibidores de crescimento,
redução nos nı́veis de nutrientes e altas concentrações de componentes vegetais de difı́cil
digestão;

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* Resistência do tipo tolerância: Envolve apenas caracterı́sticas das plantas e assim
depende apenas da capacidade das mesmas para superar os danos causados pela ali-
mentação do inseto. Uma planta é considerada tolerante quando ela sofre poucos danos
quando comparada com outras que estão nas mesmas condições de infestação de insetos,
sem afetar o comportamento ou a biologia do mesmo.

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